REESTABELECIMENTO DA DIMENSÃO VERTICAL ATRAVÉS DA TÉCNICA DIRETA EM RESINA COMPOSTA ASSOCIADA A GUIA DE SILICONE TRANSPARENTE 

REESTABLISHMENT OF THE VERTICAL DIMENSION THROUGH THE DIRECT TECHNIQUE IN COMPOSITE RESIN ASSOCIATED WITH A TRANSPARENT SILICONE GUIDE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10609041


Ediana Amanda Piana1; Helena Pfeffer2; Victor Miguel Gonçalves Silva3; Renata Krutsch Bervian4; Gabriela Spanholi Tamagno5; Laura Kiraly Robles6; Leonardo José de Medeiros Piva7; André Luiz Micharki8; Fabiana Scarparo Naufel9; Rolando Plümer Pezzini10


Resumo

O presente trabalho constitui-se como um relato de caso em que a paciente apresentava perda de dimensão vertical de oclusão. Todos os dados e informações foram obtidos através de exame clínico e anamnese. A técnica apresentada consiste em uma das múltiplas opções para o reestabelecimento da dimensão vertical de oclusão, nessa técnica foram utilizados resina composta e um guia de silicone transparente. Com a técnica escolhida, obteve-se um bom resultado no que diz respeito ao custo em comparação a técnica indireta de aumento da DVO, sucesso em relação a estética e melhoria da qualidade de vida do paciente. Portanto, o caso relatado e informações da literatura explanadas corroboram para um melhor entendimento da importância em se reestabelecer a DVO e sobre as possibilidades de realizar uma reabilitação oral, utilizando como material a resina composta, que tem se mostrado satisfatória no que diz respeito às características de adesão, resistência e estética.

Palavras-chave: Aumento da dimensão vertical de oclusão. Levantes de mordida. Guia de silicone transparente. Técnica direta para aumento da DVO.

Abstract 

The present study constitutes a case report in which the patient presented loss of the vertical dimension of occlusion. All data and information were obtained through clinical examination and anamnesis. The presented technique consists of one of the multiple options for reestablishing the vertical dimension of occlusion, in this technique composite resin and a transparent silicone guide were used. With the chosen technique, a good result was obtained in terms of cost compared to the indirect technique of increasing the DVO, success in terms of aesthetics and improvement in the patient’s quality of life. Therefore, the reported case and explained literature information corroborate for a better understanding of the importance of reestablishing the OVD and about the possibilities of carrying out an oral rehabilitation, using composite resin as material, which has been shown to be satisfactory with regard to the characteristics adhesion, resistance and aesthetics.

Keywords: Increase in the vertical dimension of occlusion. Bite lifts. Transparent silicone guide. Direct technique to increase DVO.

Resumen 

El presente trabajo constituye un reporte de caso en el que el paciente presentó pérdida de la dimensión vertical de la oclusión. Todos los datos e información se obtuvieron a través del examen clínico y la anamnesis. La técnica presentada consiste en una de las múltiples opciones para restablecer la dimensión vertical de la oclusión, en esta técnica se utilizaron resina compuesta y una guía de silicona transparente. Con la técnica elegida se obtuvo un buen resultado en cuanto a coste frente a la técnica indirecta de aumento de la DVO, éxito en cuanto a estética y mejora en la calidad de vida del paciente. Por lo tanto, el caso reportado y la información bibliográfica explicada corroboran para una mejor comprensión de la importancia de restablecer la DVO y de las posibilidades de realizar una rehabilitación oral, utilizando como material la resina compuesta, la cual se ha mostrado satisfactoria en cuanto a las características adherencia, resistencia y estética.

Palabras clave: Aumento de la dimensión vertical de la oclusión. Levantamientos de mordida. Guía de silicona transparente. Técnica directa para aumentar DVO.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas a odontologia vem se desenvolvendo e ampliando seu rol de tratamentos e estes estão se tornando cada vez mais minimamente invasivos, os tratamentos restauradores indiretos, embora consagrados pela sua eficiência e sucesso clínico quando bem executados, vêm sendo cada vez mais vistos de forma crítica uma vez que apresentam a necessidade de um preparo mais invasivo e com maior desgaste da estrutura dental, assunto este que vem sendo tratado por Edelhoff e Ahlers (2018).

Para contornar tal situação, busca-se diferentes técnicas que sejam alternativas menos invasivas tais como os tratamentos restauradores diretos, os quais com o avanço das propriedades dos materiais têm se tornado cada vez mais uma boa opção (EDELHOFF & AHLERS, 2018).

Sabe-se também que quando há presença de inadequação na intercuspidação dos dentes pode culminar em distúrbios nos movimentos mandibulares e na postura mandibular que, em muitos casos, acarreta em uma posição articular não ideal, esse fenômeno é dirigido pelos mecanorreceptores do periodonto, que têm como uma de suas funções direcionar a mandíbula para a melhor relação das cúspides dentárias (VILLAÇA AVOGLIO, 2019).

Com isso observa-se a importância de uma relação correta da intercuspidação dentária que em casos de distúrbios pode ser alcançada com ajustes oclusais e ajuste da dimensão vertical de oclusão (DVO) através de técnicas restauradoras diretas ou indiretas.

Neste contexto o referido trabalho apresenta uma alternativa para o aumento da dimensão vertical de oclusão utilizando o tratamento restaurador direto associado ao uso da guia de silicone transparente, contando portanto com menor desgaste dental em comparação com as restaurações indiretas, maior facilidade na confecção devido ao guia de silicone transparente que se assemelha com um carimbo que mimetiza a anatomia oclusal dos elementos e devido a sua translucidez, que permite a correta passagem de luz pelo material, possibilitando melhor polimerização da resina composta.

2 METODOLOGIA 

O presente estudo trata-se de um relato de caso clínico com delineamento descritivo, de caráter narrativo e reflexivo, cujos dados são provenientes dos atendimentos realizados na clínica odontológica do programa de residência em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. 

A permissão do paciente para exposição deste caso e demais informações está documentada no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que passou por avaliação do Comitê de Ética da Plataforma Brasil nº 64598322.0.0000.0107.

3 RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 27 anos, compareceu a clínica odontológica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná com o desejo de melhorar a estética dos elementos dentais anteriores e adequação do meio bucal (Figura 1), na consulta inicial o paciente relatou “não gostar dos seus dentes da frente” e os definiu como “muito pequenos”, também relatou sofrer de apertamento dos dentes o que após anamnese e avaliação clínica constatou-se como o quadro de bruxismo cêntrico e notou-se através da associação do método de Willis e do teste fonético de Silvermann que a paciente apresentava diminuição da DVO.

Figura 1 – Aspecto inicial. 1a: Vista frontal, aspecto inicial. 1b: Vista lateral direita, aspecto inicial. 1c: Vista lateral esquerda, aspecto inicial. 1d: Vista oclusal superior, aspecto inicial. 1e: Vista oclusal inferior, aspecto inicial e nota-se na arcada inferior desgastes incisais e algumas restaurações em resina composta insatisfatórias.

O tratamento ortodôntico inicial foi proposto, porém a paciente apresentava resistência quanto a opção e optou por não fazer a ortodontia.  Assim, optou-se por fazer a técnica direta de aumento da DVO em todos os elementos dentários através de um guia de silicone juntamente com o material restaurador, que são as resinas compostas: Enamel A1 – Herculite Précis Kerr que foi escolhida devido sua resistência, entretanto outras resinas como a resina filtek z350  – 3M também poderiam ter sido utilizadas; MW Estelite Omega – Tokuyama, que é uma resina com boas propriedades estéticas conferindo translucidez a restauração e por fim, a resina Enamel BL L – Empress Direct da Ivoclar, pois a paciente desejava as cores mais claras possíveis para o seu caso.

Foi realizada a adequação do meio oral através da troca de todas as restaurações insatisfatórias em resina composta que a paciente já possuía, além de tratamento periodontal básico. 

Iniciou-se com a moldagem da arcada superior com silicone de Adição Adsil HDX Putty Soft  – COLTENE, o molde obtido foi enviado ao laboratório de prótese dentária para montagem em articulador e enceramento de todos os elementos (figura 2), posteriormente foi confeccionado uma placa oclusal para a paciente fazer o uso durante 30 dias e assim aprovar a nova altura da DVO que foi de 2 milímetros nos dentes superiores e de 1 milímetro nos dentes inferiores, a tolerância da paciente com essa alteração foi bem aceita o que possibilitou dar sequência ao tratamento.

Figura 2 – Enceramento do caso.

Após a obtenção do enceramento a guia de escolha para esta técnica foi a guia de silicone transparente devido a capacidade da luz do fotopolimerizador ultrapassar este material com maior facilidade e assim polimerizar o material restaurador abaixo e também pelo fato da guia permitir a melhor cópia da morfologia estabelecida no enceramento, uma vez que esta guia não seria retirada de posição.

Contudo, a guia de silicone apresenta certa maleabilidade o que gerou uma insegurança por parte dos operadores pois poderia ocorrer possível modificação da sua posição durante a inserção na cavidade oral. A fim de contornar esse problema confeccionou-se uma placa de acetato com alívio interno que tinha como objetivo servir como moldeira individual devido sua maior rigidez (figura 3e).

A confecção da placa de acetato é demonstrada na figura 3d e 3e. O enceramento foi moldado utilizando silicone Adição Adsil HDX Putty Soft  – COLTENE, (figura 3a) a partir dessa moldagem confeccionou-se um novo modelo de gesso (figura 3b e 3c), não foi utilizado o enceramento inicial devido ao calor gerado pela plastificadora utilizada para a confecção da guia em acetato com alívio interno, pois esse calor danificaria o enceramento original.

Figura 3 – Confecção da placa em acetato. 3a: Molde do enceramento em silicone de adição. 3b: Confecção do modelo de gesso. 3c: Modelo de gesso cópia positiva. 3d: Confecção da placa de acetato sobre a guia de silicone de adição. 3e: Aspecto final da placa de acetato.

Com essa placa em mãos confeccionamos a guia de silicone transparente utilizando silicone elite transparent – Zhermack, este foi aplicado na placa de acetato na região de alívio deixada pelo silicone de adição e esta placa de acetato junto com o silicone transparente foi levada sobre o modelo com o enceramento original servindo assim como uma moldeira individual, como mostra na figura 4.

Figura 4 – Confecção da placa de silicone.

Na imagem 4a e 4b podemos observar a inserção do silicone transparente através de uma seringa com ponteira de auto mistura, na figura 4c visualiza-se a placa de acetato em posição juntamente com o silicone transparente sobre o modelo com o enceramento e por fim na imagem 4d apresenta-se as guias de silicone transparente finalizadas.

Durante a execução dos procedimentos clínicos constatou-se que a guia de silicone transparente não sofria alteração quando era levada em posição, logo a utilização da placa de acetato tornou-se dispensável. 

Após as guias confeccionadas, seguiu-se para o procedimento de elevação da dimensão em resina composta com isolamento absoluto do campo operatório, como visto na figura 5.

Na primeira sessão optou-se em fazer a arcada superior, iniciou-se com a profilaxia seguida de anestesia local utilizando articaíne 1:100.000 e isolamento absoluto do campo operatório com o auxílio do grampo 26 (figura 5a).

Foi realizado o condicionamento ácido (figura 5b), com exceção do canino esquerdo e direito, estes foram primeiramente confeccionados de forma provisória sem a aplicação de adesivo e antes do isolamento absoluto para servirem como guia de posicionamento da guia transparente, os demais elementos de 1 molar direito a 2 molar esquerdo foram condicionados durante 30 segundos com ácido fosfórico 37%, seguido de lavagem abundante.

Procedeu-se com aplicação do sistema adesivo Single Bond Universal – 3M que se destaca por sua versatilidade e boa resistência de união sendo assim de preferência do operador (figura 5c).

Figura 5 – Isolamento absoluto do campo operatório, condicionamento ácido e aplicação do sistema adesivo.

O adesivo foi aplicado de forma intercalada para que um elemento não ficasse aderido ao seu adjacente. Os elementos sem adesivo nessa etapa foram protegidos com fita teflon. Em seguida, a guia de silicone transparente foi levada em posição com a resina composta Enamel BL L – Empress Direct da Ivoclar e fotopolimerizada utilizando o Valo Grand da Ultradent. Os excessos foram removidos com brocas de acabamento e polimento da TDV e lâmina de bisturi nº 12. Posteriormente a área foi polida.

Figura 6 – Elementos isolados com fita Teflon, guia posicionada e pós imediato da restauração.

Em relação aos elementos anteriores, foram confeccionadas facetas a mão livre pois a técnica com a guia de silicone transparente não permite a estratificação, o que é um ponto negativo uma vez que o elemento dental fica com uma cor uniforme não condizendo assim com as diferentes nuances de cor do elemento dental natural. 

Na sessão seguinte foi realizado a confecção dos caninos de forma definitiva também utilizando a técnica a mão livre, no que se refere ao material utilizado, na face palatina utilizou-se a resina Estelite MW-Tokuyama, a camada de dentina com a resina Herculite DA1-Kerr e o esmalte vestibular com a resina Empress Direct  BL-L – Ivoclar. Na arcada inferior os mesmos procedimentos descritos acima foram realizados. O aspecto final após o procedimento restaurador pode ser observado na figura 7.

Figura 7 – Aspecto final após restaurações.

Após a realização dos procedimentos mencionados verificamos pontos positivos e negativos, os quais foram:

– Negativos: grande quantidade de excessos exigindo assim um excelente acabamento e polimento, essa etapa mostrou-se muito dependente do profissional cirurgião-dentista para que bons resultados fossem alcançados.

– Positivos: melhor tempo clínico comparando-se com a técnica restauradora direta incremental, o que seria um trabalho detalhado e dispendioso.

4 DISCUSSÃO

Para muitos a face é o componente mais importante da aparência física de uma pessoa, existem alguns fatores que envolvem as características faciais tais como a atratividade facial, o dimorfismo sexual, a juventude e a simetria. Nesse contexto destaca-se a forma do sorriso, pois esta exerce um grande papel na estética facial (KAYA et al., 2019).

Cruz et al. (2021) em seu trabalho observaram que com o passar dos anos existe uma crescente busca das pessoas em se enquadrar em um alto padrão estético do sorriso, sendo que esse desejo pode interferir diretamente na autoestima de muitos, concomitantemente a isto existe o desejo da aceitação social que em alguns casos, envolve também a necessidade de reabilitar alguma função perdida. 

Segundo Solow (2017), o objetivo da odontologia ideal é a estabilidade a longo prazo de todos os componentes do sistema mastigatório, sendo eles os dentes, o periodonto, os músculos da mastigação e a articulação temporomandibular (ATM). Esta estabilidade requer que todas as partes do sistema funcionem em harmonia sem o comprometimento de nenhum componente, exigindo o mínimo de manutenção ao longo do tempo. Sendo assim, o profissional que interfere nesse sistema deve buscar aliar a expectativa estética que o seu paciente possui com a preservação da função de cada componente do sistema estomatognático. 

 Síncrono a isso, de acordo com Maia et al. (2020), o dentista conhecendo a oclusão ideal pode identificar as principais alterações do sistema estomatognático, que são as chamadas interferências oclusais, sendo essas geralmente associadas a disfunções temporomandibulares e neuromusculares.

Logo, o cirurgião-dentista deve se esforçar para fornecer cuidados que proporcionem uma oclusão que minimize a força adversa nos dentes, caso contrário essa força adversa pode afetar todos os componentes do sistema (SOLOW, 2017).

Ao mesmo tempo que o profissional deve fornecer cuidados para proporcionar uma oclusão ideal, existem diversos casos que requerem uma reabilitação oral em que há o desafio da falta de espaço interoclusal, de acordo com Rezende (2010). Posto isso, existe a necessidade de alteração da dimensão vertical de oclusão (DVO), essa alteração torna-se portanto uma escolha fundamental devido à necessidade de melhoria da estética, do suporte labial, da harmonia anatômica, melhoria da excessiva sobreposição vertical na zona anterior (overbite), criação de espaço interoclusal e para obter uma relação oclusal mais satisfatória. Contudo, alerta-se que mudanças repentinas ou descuidadas da dimensão vertical de oclusão podem ser potencialmente prejudiciais para alguns pacientes que podem ter adaptabilidade reduzida do sistema mastigatório. 

A DVO a ser alterada é definida pela distância entre dois pontos segundo Pineda Gómez, Ríos Szalay & Hernández Ayala (2018), esta distância não se perde, contudo, pode ser aumentada ou diminuída. Variando de acordo com a dentição atual, os autores também destacam a importância de estabelecer a provável causa ou causas do desgaste antes de realizar qualquer intervenção para melhorar a eficácia de qualquer tratamento restaurador.

Para mensurar a DVO existe um rol muito grande de métodos dentre os quais estão o método da deglutição, fonética, posição de repouso, força máxima de fechamento, registros pré extração, Willis, Landa, McGee, Hayakawa, conforto, cefalométrico, antropométrico e método craniométrico de Knebelman, entretanto nenhum deles pode registrar a DVO objetivamente (VILA-VÁSQUEZ, VERGARA-SARMIENTO & CRESPO-CRESPO, 2021; JÚAREZ, 2021; MORAES, 2018).

Rezende (2010) também adverte que alterações na DVO, sem um correto diagnóstico e não tomando as devidas precauções, podem causar uma elevação na força de mordida, apertamento dental, fadiga muscular, sensibilidade dental, muscular e articular, intrusão dental, fratura de porcelana, instabilidade oclusal e desgaste continuado.

Adicionalmente, Villaça Avoglio (2019) relata que os contatos oclusais inadequados dão origem a uma função adaptada da mandíbula e a resposta muscular compensatória, sendo a resposta compensatória mais comum a hipertonia envolvendo todos os músculos mandibulares.

Logo, é imprescindível que o cirurgião-dentista realize um correto diagnóstico e detalhado plano de tratamento, agrupando seus conhecimentos científicos e a percepção das diversas possibilidades de tratamento restaurador, bem como das necessidades funcionais do paciente, das características emocionais de cada indivíduo, da estética e dos recursos financeiros de cada paciente antes de qualquer tratamento reabilitador (CRUZ et al., 2021).

Uma vez detectada a necessidade de alteração da DVO, várias são as técnicas para que esta seja mensurada e alguns fatores podem ser considerados como etiologia da perda ou aumento da DVO, estes podem ser a perda da integridade do arco, restaurações iatrogênicas, atrição dental e mal-oclusão. Segundo o autor, dentre estes fatores a atrição dentária severa é uma das causas da perda de suporte posterior da oclusão e resulta diretamente na redução da DVO (REZENDE, 2010).

Morais (2018) sugere em seu trabalho uma associação entre a técnica de Willis, seguida pela aferição inicial da DVR e finalizando com o teste fonético para melhor segurança na determinação da DVO resultando assim em um valor mais confiável. 

Rezende (2010) pontua que a alteração da DVO pode criar espaço interoclusal para restaurações, quando está presente a redução da DVO, seja esta alteração por perda de estrutura dentária ou desgaste dental severo e o reestabelecimento da dimensão vertical de oclusão ideal pode gerar melhora na estética facial, melhorando o suporte labial, harmonia facial, lábios finos, “comissuras caídas” e queilite angular, quando esta dimensão se encontrava disfuncional. 

A reformulação oclusal deve ser precisa, sendo aditiva ou subtrativa, pode englobar as superfícies de mastigação dos dentes para criar um contato planejado que distribui de maneira adequada a força sobre os dentes e suas estruturas de suporte durante a função mandibular. Quando se trata de uma remodelação aditiva ela ocorre com adição de resina composta e restaurações convencionais para minimizar a invasividade do procedimento, tornando-o mais conservador para evitar anestesia local ou exposição da dentina (SOLOW, 2017).

Segundo Edelhoff & Ahlers (2018), quando é necessário um tratamento restaurador, esse deve ser precedido por um diagnóstico pertinente do desgaste do dente para verificar se um procedimento indireto é indispensável ou se um procedimento menos invasivo como um procedimento direto pode ser oferecido em seu lugar. Entretanto, não é indicado adiar a intervenção restauradora até que suceda o máximo de destruição do tecido duro, pois o esmalte residual pode ser usado para fornecer uma ligação adesiva segura e permanente para uma nova restauração e segundo os mesmos autores em casos de defeitos menores em pacientes mais jovens, se possível deve-se indicar as restaurações em resina composta e é através da técnica direta que devem ser fornecidas, pois são menos dispendiosas e permitem procedimentos minimamente invasivos.

De acordo com Loomans et al. (2018), em pacientes que apresentam desgaste dentário severo sugere-se uma reabilitação completa em uma dimensão vertical de oclusão aumentada e destaca-se em seus estudos que as restaurações diretas de resina composta mostram um sucesso de 94,8% e uma taxa de sobrevivência de 99,3% após um período de 3,5 anos.

No caso de utilização das resinas compostas para fechar diastemas, o tratamento é reversível, reparável e modificável, logo não há custo biológico, não é preciso o preparo dentário. Além disto, em comparação com as restaurações indiretas, remodelar os dentes e fechar diastemas com acréscimo de compósitos diretos atuais é vantajoso, principalmente no tratamento de dentes saudáveis em que uma abordagem de preservação máxima de tecido é imperativa (DA SILVA CAVALCANTE et al., 2021).

Podemos observar que na odontologia restauradora moderna o desenvolvimento de procedimentos adesivos levou a uma importante revolução cultural e metodológica. Da mesma maneira, a evolução dos materiais restauradores e sistemas adesivos influenciaram na abordagem da restauração de dentes posteriores, alterando consideravelmente o plano de tratamento e abrindo mais uma ampla opção de procedimentos reabilitadores (VENEZIANI, 2017; PEDROSO, 2022). 

Porém, segundo Rosin et al. (2022) apesar das resinas compostas tradicionais serem muito utilizadas, a técnica de inserção incremental pode gerar pontos negativos uma vez que sua realização inadequada pode levar a um vedamento marginal deficiente, uma resina subpolimerizada, ocasionando falha restauradora. 

Contudo, de acordo com Chesterman et al. (2017) a inserção de incrementos maiores de resina composta pode reduzir o tempo necessário em restaurações posteriores, corroborando assim na redução da sensibilidade técnica, todavia o material utilizado deve ser adequado para esta técnica, como é o caso das resinas bulk-fill em que os fabricantes defendem que a adição de um fotoiniciador altamente reativo, cujo o nome é Ivocerin, aumenta a profundidade de cura, apesar de que os materiais continuamente sofrem alterações nas suas composições, o que demanda do profissional constante estudo. 

Outro fator importante que ronda a reabilitação restauradora é a existência do desafio de tratar pacientes com desgaste dentário patológico, onde deve-se realizar restaurações mais conservadoras, pois essas dentições já perderam muito material biológico. Na maioria dos casos uma reabilitação completa deve ser realizada com aumento da DVO e idealmente as técnicas minimamente invasivas adesivas devem ser a primeira escolha (LOOMANS et al., 2018).

Simultaneamente, Borba (2021) relata que para que o sucesso do tratamento restaurador seja alcançado deve-se unir estética e saúde, e para tal é indispensável preservar os princípios periodontais, estando o posicionamento marginal das restaurações ou facetas diretamente ligado à saúde do periodonto. 

Segundo Xavier de Lima et al. (2016), outro fator de grande importância quando se fala do uso das resinas compostas é o grau de conversão, o qual diz respeito à quantidade de monômeros da resina composta que se convertem em polímeros. Este fenômeno está intimamente ligado ao processo de polimerização do compósito. A baixa conversão do compósito resulta na presença de monômeros livres, não reagentes, que podem ser dissolvidos em ambientes úmidos, culminando assim na degradação do material e comprometendo a longevidade da restauração. Portanto, de acordo com os autores o grau de conversão é de grande importância para auxiliar na investigação do desempenho mecânico da resina e na biocompatibilidade, pois esse processo está intimamente relacionado à resistência à fratura, à dureza e à solubilidade do material. 

Já no que diz respeito ao enceramento diagnóstico, ele nos permite ter melhor previsibilidade no tratamento, por meio do ensaio restaurador (mock-up), esse ensaio permite que o cirurgião dentista tenha maior previsibilidade do resultado final e menor probabilidade de erros em casos mais complexos. De acordo com os conhecimentos e habilidades do profissional, este ensaio com resina composta fotopolimerizável pode ser realizado sendo inserido diretamente sobre os dentes. A respeito da indicação do mock-up, os autores relatam que pode ser empregado em casos de facetas diretas, indiretas ou quando há necessidade de alteração de forma, comprimento ou posição do dente no arco, também abrange os casos em que apenas o aumento do volume dental é necessário, portanto é possível concluir que o ensaio restaurador é uma ferramenta auxiliar essencial e fundamental no diagnóstico e planejamento de tratamentos estéticos reabilitadores (CAMPOS, SANTOS & GARCIA, 2021).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O manejo e tratamento de pacientes acometidos por desgastes dentais, perda de dimensão vertical e interferências oclusais constituem um desafio ao profissional cirurgião-dentista, este deve realizar um excelente diagnóstico e optar por técnicas reabilitadoras que proporcionem resultado estético e funcional ao paciente respeitando todos os componentes do sistema estomatognático. 

De acordo com o presente estudo a restauração direta minimiza o desgaste de tecido dental, o que pode ser um ponto positivo para elementos patologicamente desgastados, também ressalta que a guia de silicone transparente vem a auxiliar no processo de fotopolimerização do material pois permite a passagem de luz, o que proporciona maiores chances de conversão dos monômeros e otimiza o tempo clínico, pois dispensa a necessidade de anatomização dos elementos pela técnica direta incremental, já que  estes recebem o desenho anatômico confeccionado no enceramento e transferido pelo guia de silicone transparente. 

Por fim, recomenda-se que mais estudos sejam realizados com o intuito de esclarecer sobre a porcentagem de infiltrações e fendas marginais que possam surgir após o aumento da dimensão vertical de oclusão utilizando a técnica restauradora com resina composta.

REFERÊNCIAS

BORBA, J. A. DE. Efeitos das facetas no periodonto: uma revisão integrativa. repositorio.animaeducacao.com.br, 2021.

‌CAMPOS, F. R. DA S.; SANTOS, T. H. DOS; GARCIA, L. O. R. APLICAÇÃO DO ENSAIO RESTAURADOR (MOCK UP) NO PLANEJAMENTO DE REABILITAÇÕES ESTÉTICAS. Ciência Atual – Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário São José, v. 17, n. 1, 8 jun. 2021.

CHESTERMAN, J. et al. Bulk-fill resin-based composite restorative materials: a review. British Dental Journal, v. 222, n. 5, p. 337–344, mar. 2017.

CRUZ, A. Í. et al. Troca de facetas em resina composta insatisfatórias, buscando adequação anatômica e estética: relato de caso. Research, Society and Development, v. 10, n. 14, p. e169101421740, 30 out. 2021.

DA SILVA CAVALCANTE, S. K. et al. O uso do ácido hialurônico associado ao fechamento de diastema para tratamento de black spaces: estudo de caso clínico. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 4, p. e6958–e6958, 30 abr. 2021.

EDELHOFF, D.; M. OLIVER AHLERS. Occlusal onlays as a modern treatment concept for the reconstruction of severely worn occlusal surfaces. v. 49, n. 7, p. 521–533, 1 jan. 2018.‌

JÚAREZ, C. A. T. Métodos de determinação da dimensão vertical oclusal (dissertação). Intituto universitário de ciências da saúde CESPU.2021.

KAYA, K. S. et al. Assessment of facial analysis measurements by golden proportion. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 85, n. 4, p. 494–501, jul. 2019.

LOOMANS, B. A. C. et al. Clinical performance of full rehabilitations with direct composite in severe tooth wear patients: 3.5 Years results. Journal of Dentistry, v. 70, p. 97–103, mar. 2018.

MAIA, J. S. et al. RESTAURANDO A GUIA CANINA COM RESINA COMPOSTA: RELATO DE CASO. Ciência Atual–Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário São José, v. 15, n. 1, 2020.

MORAIS, E. C. C. DE. Métodos para determinar a dimensão vertical de oclusão: revisão de literatura. acervodigital.ufpr.br, 2018.

PEDROSO, J. R. et al. Guia canina – importância clínica. Research, Society and Development, v. 11, n. 1, p. e29911125058, 7 jan. 2022.

PINEDA GÓMEZ, A.; RÍOS SZALAY, E.; HERNÁNDEZ AYALA, A. Consideraciones para el incremento de dimensión vertical de oclusión. Reporte de un caso. Revista Odontológica Mexicana, v. 22, n. 4, 13 mar. 2018.

REZENDE, F. C. DE. Alteração da dimensão vertical de oclusão (DVO): quando e por quê? Disponível em: <https://www.oasisbr.ibict.br/vufind/Record/UFMG_580132e07ae05704cac65ca70e376cb7>. Acesso em: 29 jan. 2024.

ROSIN, M. et al. Resinas compostas: uma revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 11, n. 13, p. e257111335128, 6 out. 2022.

SOLOW, R. A. Clinical protocol for occlusal adjustment: Rationale and application. CRANIO®, v. 36, n. 3, p. 195–206, 11 abr. 2017.‌

VENEZIANI, M. Posterior indirect adhesive restorations: updated indications and the Morphology Driven Preparation Technique. The international journal of esthetic dentistry. v12, n2, 2017.

VILA-VÁSQUEZ, F.; VERGARA-SARMIENTO, P.; CRESPO-CRESPO, C. Vertical Dimension of Occlusion: A comparative study between Anthropometric and Knebelman’s craniometric methods. v. 34, n. 1, p. 43–49, 1 abr. 2021.

VILLAÇA AVOGLIO, J. L. Dental occlusion as one cause of tinnitus. Medical Hypotheses, v. 130, p. 109280, set. 2019.

XAVIER DE LIMA, A. L. et al. Evaluation of the degree of conversion of composite resins photoactivated in different curing times and power densities. RFO UPF, v. 21, n. 2, p. 219–223, 1 ago. 2016.


1Residente em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora pela UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: edianaamandapiana_97@hotmail.com;
2Residente em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora pela UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: helena_pfeffer@hotmail.com;
3Residente em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora pela UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: victor.miguell@hotmail.com;
4Graduada em Odontologia pela UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: renatakrutsch@gmail.com;
5Residente em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora pela UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: Gabi_spanholi@hotmail.com;
6Residente em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora pela UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: kiralyrobles@gmail.com;
7Residente em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora pela UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: leopiva9@hotmail.com;
8Residente em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora pela UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: andreluizmicharki@gmail.com;
9Doutorado em Odontologia pela USP. Docente do Programa de Residência em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora da UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: biberes@terra.com.br;
10Doutorado em Odontologia pela ULBRA. Docente do Programa de Residência em Reabilitação Oral – Prótese Dentária e Dentística Restauradora da UNIOESTE. Endereço: R. Universitária, 1619, Universitário, Campus de Cascavel. e-mail: rolando.pezzini@unioeste.br