USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS POR ACADÊMICOS DO CURSO DE MEDICINA DOBRASIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA

USE OF PSYCHOACTIVE SUBSTANCES BY STUDENTS IN THE MEDICINE COURSE OF BRAZIL: A SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW

USO DE SUSTANCIAS PSICOACTIVAS POR ESTUDIANTES DEL CURSO DE MEDICINA DE BRASIL: UNA REVISIÓN SISTEMÁTICA DE LA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10575627


Abelle Mariana Pimentel Meneses1
Carlos Camilo Magno de Souza2
José Lopes Pereira Júnior3
Maresa Coelho Barros4


Resumo

Introdução: Medicações psicotrópicas agem no sistema nervoso central alterando: humor/cognição do indivíduo, alguns com grande capacidade de gerar dependência química. Assim, o abuso desencadeia alterações de padrões adaptativos no cérebro, devido à influência direta de fatores genéticos, ambientais e de tolerância na resposta individual. A grande demanda, elevada carga horária e necessidade de bom rendimento na academia médica, ocasionam sintomas e patologias psiquiátricas, sendo comum o uso de psicotrópicos para prolongar sensação de analgesia, estimular o sistema recompensa e aumentar produtividade. Objetivos: avaliar evidências do perfil do uso de substâncias psicoativas por acadêmicos do curso de medicina do Brasil; pontuar a motivação para o seu uso, consequências, acesso e automedicação. Elencar sexo e faixa etária que mais utiliza substâncias psicoativas. Avaliar drogas psicoativas mais e menos utilizadas por estudantes da academia médica. Metodologia: Foi realizada uma revisão sistemática de literatura nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Lilacs, Medline, PubMed e Google Acadêmico. Foram selecionados como descritores em Ciências da Saúde (DECS) os termos “Psychotropic Drugs”, “Students Medical” e “Automedicação”, e “AND” como operador booleano. A população estudada inclui acadêmicos do curso de medicina do Brasil em artigos publicados no período de 2018 a 2022, em uso de psicofármacos. Resultados: Foram elencadas diferenças e semelhanças, entre o perfil de utilização de medicamentos psicoativos na área da medicina e mensurado perfil de acadêmicos de medicina que fazem uso, somados a motivação e consequências, além da forma de acesso e automedicação. Conclusão: Ambos os sexos realizam um consumo considerável, assim como, o uso de psicotrópicos por acadêmicos de medicina cresce de maneira gradativa ao longo dos anos do curso.
Unitermos: Psicotrópicos; Acadêmicos de Medicina; Abuso de Drogas.

Abstract

Introduction: Psychotropic medications act on the central nervous system, altering the individual’s mood/cognition, some with great capacity to generate chemical dependence. Thus, abuse triggers changes in adaptive patterns in the brain, due to the direct influence of genetic, environmental and tolerance factors on the individual response. The great demand, high workload and need for good performance in the medical academy, cause psychiatric symptoms and pathologies, being common the use of psychotropic drugs to prolong the sensation of analgesia, stimulate the reward system and increase productivity. Objectives: to evaluate evidence of the profile of the use of psychoactive substances. by medical students in Brazil; score the motivation for its use, consequences, access and self-medication. List sex and age group that most uses psychoactive substances. Evaluate psychoactive drugs more and less used by medical academy students. Method: A systematic literature review was carried out in the following databases: Virtual Health Library (VHL), Lilacs, Medline, PubMed and Google Scholar. The terms “Psychotropic Drugs”, “Students Medical” and “Self-medication” were selected as descriptors in Health Sciences (DECS), and “AND” as a Boolean operator. The studied population includes medical students from Brazil in articles published from 2018 to 2022, using psychotropic drugs. Results: Differences and similarities were listed between the profile of use of psychoactive drugs in the medical field and the measured profile of medical students who use them, in addition to motivation and consequences, in addition to the form of access and self-medication. Conclusion: Both sexes consume a considerable amount, as well as the use of psychotropic drugs by medical students grows gradually over the years of the course.

Keywords: Psychotropics; Medical Students; Drug Abuse.

Resumen

Introducción: Los medicamentos psicotrópicos actúan sobre el sistema nervioso central, alterando el estado de ánimo/cognición del individuo, algunos con gran capacidad para generar dependencia química. Así, el abuso desencadena cambios en los patrones adaptativos del cerebro, debido a la influencia directa de factores genéticos, ambientales y de tolerancia en la respuesta individual. La gran demanda, alta carga de trabajo y necesidad de buen desempeño en la academia médica, provocan síntomas y patologías psiquiátricas, siendo común el uso de psicofármacos para prolongar la sensación de analgesia, estimular el sistema de recompensa y aumentar la productividad. Objetivos: evaluar evidencias del perfil de uso de Sustancias psicoactivas por estudiantes de medicina en Brasil; puntuar la motivación para su uso, consecuencias, acceso y automedicación. Enumerar el sexo y el grupo de edad que más utiliza sustancias psicoactivas. Evaluar las drogas psicoactivas más y menos utilizadas por los estudiantes de la academia médica. Metodología: Se realizó una revisión sistemática de la literatura en las siguientes bases de datos: Biblioteca Virtual en Salud (BVS), Lilacs, Medline, PubMed y Google Scholar. Se seleccionaron los términos “Psicofármacos”, “Estudiantes de Medicina” y “Automedicación” como descriptores en Ciencias de la Salud (DECS), y “AND” como operador booleano. La población estudiada incluye estudiantes de medicina de Brasil en artículos publicados entre 2018 y 2022, en uso de psicofármacos. Resultados: Se enumeraron diferencias y similitudes entre el perfil de uso de psicofármacos en el campo de la medicina y el perfil medido de los estudiantes de medicina que los consumen, además de la motivación y las consecuencias, además de la forma de acceso y automedicación. Conclusión: Ambos sexos consumen una cantidad considerable, así como el uso de psicofármacos por parte de los estudiantes de medicina crece paulatinamente a lo largo de los años de la carrera.

Palabras Clave: Psicotrópicos; Estudiantes de medicina; Abuso de drogas.

INTRODUÇÃO

Luna et al. (2018) afirma queo adoecimento psíquico em estudantes de instituições de ensino superior e o uso de substâncias psicoativas têm ganhado destaque em estudos atuais, de modo que na contemporaneidade o estilo e o ritmo de vida levam os indivíduos a vivenciar situações cada vez mais estressantes e difíceis.Simeão et al. (2022) relata que os diagnósticos como ansiedade e depressão são observados na maioria dos acadêmicos, que quando não tratados podem desencadear prejuízos maiores.

De acordo com Siebra et al. (2021), medicações psicotrópicas sãodefinidas como substâncias que agem no sistema nervoso central resultando em alterações no comportamento, humor e cognição do indivíduo, alguns desses com grande capacidade de gerar dependência química.

Luna et al. (2018) relata que os psicofármacos estão organizados em classes como: antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores do humor, ansiolíticos, hipnóticos e intensificadores cognitivos e estimulantes. Esses fármacos são utilizados para o tratamento de transtornos psiquiátricos, havendo influência de fatores genéticos e ambientais na resposta individual e quanto a sua tolerância.

Moraes et al. (2019) afirma que embora o ingresso no ensino superior promova sentimentos positivos devido ser considerado o alcance de uma meta vista como programada, pode ainda se tornar um período crítico, gerando sensação de vulnerabilidade para o início e manutenção do uso de psicotrópicos.

Santos et al. (2018) relata, a princípio, que a droga utilizada por estes acadêmicos não apresenta a função apenas de válvula de escape para efeitos imediatos e gerar sensações prazerosas, mas também é vista como forma de facilitar a integração em grupos sociais, de modo que torna maior a ideia de autoadequação, reduzindo os sintomas de ansiedade. Moraes et al. (2019) evidencia ainda que estes indivíduos começam a desenvolver a convicção de que são capazes de coordenar os eventuais problemas que podem surgir em decorrência ao uso indevido das drogas.

Porém, como afirma Lemos et al. (2018), os futuros médicos não estão imunes ao problema do abuso e da dependência de drogas. Luna et al. (2018) acredita que o uso indiscriminado de tais medicamentos é um problema de saúde pública, tendo em vista que os princípios ativos das substâncias psicoativas são potencialmente capazes além de gerar dependência, também reações adversas como alteração do sono, apetite, cognição, comportamento, funções motoras e autônomas de quem realiza o seu uso.

Segundo Moraes e Bernardina (2018), na prática, muitos psicotrópicos são utilizados sem prescrição médica, na tentativa de aumentar a sensação de bem-estar. Essa motivação acontece pelo indivíduo não considerar sua sintomatologia grave o suficiente para ir a uma clínica ou centro psiquiátrico, o alto custo das consultas em clínicas psiquiátricas; falta de confiança nos psiquiatras; falta de tempo; clínicas lotadas; experiências não satisfatórias; medo de julgamento; dificuldade de transporte, entre outros.

Segundo a Word Health Organization et al., 2017, a OMS, existe estimativa mundial de 264 milhões de pessoas com transtornos de ansiedade e 322 milhões referentes a depressão. Em relação aos transtornos de ansiedade, são mais comuns e debilitantes na infância e adolescência, com maior prevalência entre as mulheres. Outrossim, as taxas de prevalência de depressão variam de acordo com a idade, sendo mais prevalente no sexo feminino entre adultos jovens, onde 15 a 25% das pessoas podem apresentar crise depressiva pelo menos uma vez na vida, sendo o primeiro episódio, mais frequentemente, antes dos dezoito anos de idade.

Siebra et al. (2021) afirma que sofrimento psicológico dos acadêmicos, encontra-se associado a rotina de excesso de atividades, questões financeiras, estudantes que precisam conciliar trabalho e estudo, cobranças dos professores, dos familiares e de si próprio, alta carga horária de aulas, dificuldades de adaptação e o manejo do tempo para estudo e lazer relacionados à prática acadêmica dos estudos.

Segundo Moraes et al. (2019) o uso de fármacos psicoativos é comum entre os acadêmicos de medicina devido à grande demanda imposta ao longo da graduação. Assim, pontos importantes como a necessidade de um bom rendimento acadêmico, bem como a grande e variável carga horária de atividades, modificando o ciclo circadiano, são capazes de gerar aumento dos níveis de estresse nos estudantes.

A partir da complexidade do tema abordado, este estudo tem como objetivo identificar e analisar o perfil do uso de substâncias psicoativas pelos estudantes de Instituições de Ensino Superior do curso de Medicina do Brasil em artigos publicados no período de 2018 a 2022, visando discutir o tema e elucidar resultados sobre o uso desses medicamentos.

MÉTODO

Estratégias de Pesquisa

Este trabalho trata-se de uma revisão sistemática de literatura. Foram utilizadas como base de dados a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Lilacs, Medline, PubMed e Scholar google.

Possui como etapas imprescindíveis na formulação de uma pergunta de pesquisa a estratégia PICO: Paciente (P), Intervenção (I), comparação (C) e Outcomes/Desfecho (O). De modo que apresenta como questionamento “Qual o perfil do uso de psicofármacos por acadêmicos do curso de Medicina do Brasil?”. O questionamento foi estruturado como designado abaixo:

P – Estudantes de Medicina do Brasil.

I – Educação médica dentro do ambiente acadêmico.

C – Não é aplicável.

O – Prevalência do uso de psicofármacos e fatores motivadores.

Estratégia de busca

Foram selecionados os descritores por meio da ferramenta de descritores em Ciências da Saúde (DECS), apresentando os seguintes termos: “Psychotropic Drugs”, “Students Medical” e “Automedicação”. Para compor as expressões de busca, se utilizou o operador booleano “AND”.

Posteriormente, foi realizado o levantamento de artigos considerando a análise de título, resumo e assunto disponíveis. Como primeiro critério avaliativo (1), inclui-se artigos presentes no intervalo de ano de publicação dos últimos cinco anos (entre 2018 e 2022), que se encontram nos idiomas português, inglês e espanhol. O segundo critério utilizado para avaliação, se baseia na avaliação da presença e exclusão de artigos de revisão.

Os demais artigos foram avaliados pelo terceiro critério (3), baseado na leitura dos resumos. Ocorreu a leitura dos objetivos e metodologia, como critérios de exclusão observou-se artigos que tratassem outro tema, bem como grupos que não fossem acadêmicos do curso de medicina do Brasil, trabalhos duplicados, que envolvessem testes em animais e revisão de literatura. Por fim, os resultados foram reunidos e realizada a leitura na íntegra, objetivando alcançar o que foi proposto por este trabalho.

Tabela 01. Critérios de inclusão e exclusão da seleção de artigos/estudos

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DA SELEÇÃO DE ESTUDOS  
  INCLUSÃO  EXCLUSÃO  
  Artigos publicados nos últimos 5 anos (2018 até 2022)    Artigos de revisão de literatura
  Artigos publicados nos idiomas inglês, português e espanhol    Artigos com foco em outro tema
  Operador booleano “AND”    Grupo de estudo que não fossem acadêmicos de medicina do Brasil  
  Descritores “Psychotropic Drugs”, “Students Medical” e “Automedicação”  Trabalhos duplicados  
  Trabalhos que envolvem testes em animais

Fluxograma 01. Fluxograma dos dados obtidos por meio da Base de Dados BVS

Fluxograma 02. Fluxograma dos dados obtidos por meio da Base de Dados PubMed

Fluxograma 03. Fluxograma dos dados obtidos por meio da Base de Dados Google Acadêmico

Fluxograma 04. Fluxograma dos dados obtidos por meio da Base de Dados Pubmed

Tabela 02. Corpus final da revisão sistemática de literatura

Autor/ Ano de publicaçãoPeriódico/ Local de estudoTipo de estudoAmostra (n)Objetivos
    Batista et al. (2022)    LILACS    Estudo transversal descritivo    n=131Avaliar o uso de substâncias psicoativas entre estudantes de medicina de uma universidade pública do semiárido brasileiro.
    Dias et al. (2018)    Google acadêmico    Estudo transversal    n=204Analisar o uso de substâncias psicoativas por estudantes da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
    Fasanella et al. (2022)    Pubmed    Estudo transversal analítico observacional    n=268Avaliar a prevalência do uso de psicofármacos , a adesão ao tratamento e as principais indicações clínicas e diagnósticas relacionadas ao uso de psicofármacos entre estudantes de medicina.
    Lemos et al. (2018)    Google acadêmico    Estudo epidemiológico de caráter transversal    n=2.160    Analisar o padrão local do consumo dessas substâncias entre graduandos de Medicina e contribuir na formulação de atividades preventivas.
    Luna et al. (2018)    Google acadêmico    Estudo transversal descritivo    n=200Avaliar a diferença no uso de drogas psicoativas entre os alunos do primeiro e sexto ano do curso de medicina de uma universidade do interior paulista, identificando os fatores biopsicossociais associados ao uso, compreendendo os fatores precipitantes e a ciência dos riscos de dependência.
    Moraes e Bernardina (2018)    LILACS    Estudo transversal de caráter quantitativo    n=148Determinar a incidência da automedicação em estudantes do curso de Medicina, evidenciando suas principais causas, os principais grupos de medicamentos utilizados nesta conduta e as consequências de seu uso irracional.
      Moraes et al. (2019)    Google acadêmico    Estudo transversal    n=320    Detectar a prevalência do uso de drogas psicotrópicas pelos estudantes de medicina, na Universidade Federal do Tocantins (UFT).
    Santos et al. (2018)    Google acadêmico    Estudo transversal descritivo    n=168    Traçar o perfil de consumo dos psicoativos entre os alunos do curso de Medicina de uma universidade federal para direcionar intervenções.
    Siebra et al. (2021)    Google acadêmico    Estudo transversal analítico com abordagem quantitativa    n=131    Avaliar o consumo de substâncias psicoativas entre os acadêmicos de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) com o intuito de contribuir para a formulação de atividades de prevenção.
    Simeão et al. (2022)    Google acadêmico    Estudo transversal descritivo    n=335    Avaliar a prevalência do uso de psicotrópicos entre estudantes de Medicina de uma Faculdade privada em Teresina-PI.

Análise dos Dados

       Após a busca nas bases de dados com os descritores associados ao operador booleano, ambos mencionados anteriormente, foram encontrados um total de 642 artigos, sendo 168 na plataforma da BVS, 178 no PubMed e 296 no Scholar Google. Posteriormente foi aplicado o filtro referente a artigos que tivessem sido publicados apenas nos últimos 5 anos (2018 a 2022), havendo a redução de 53% dos trabalhos. Após selecionar os idiomas, restaram 206 artigos. Por meio da realização do terceiro critério de avaliação no qual é baseado na leitura dos objetivos e metodologias dos resumos, levando em consideração os fatores de exclusão como trabalhos que tratassem de outro tema, não apresentassem acadêmicos de medicina do Brasil como foco do estudo, trabalhos duplicados, que envolvessem testes em animais e revisões de literatura, obteve como resultado 10 artigos.

Perfil do uso de psicotrópicos:

       Foi observado que 69% dos estudantes realizam o uso de bebidas alcoólicas, seguido de tabaco (19,6%) e maconha (14,3%)8. Outro trabalho traz o álcool (95%) e o tabaco (30,3%) como às substâncias mais consumidas; apresentando logo em seguida anorexígenos ou estimulantes (20,6%), estando a maconha em quarto lugar (18,8%)7. Existem relatos de que os psicoestimulantes foram as drogas mais utilizadas pelos estudantes, representando, respectivamente 65% e 34%, acadêmicos do primeiro e sexto ano. Os antidepressivos são a segunda classe mais utilizadas, sendo 30% referentes ao primeiro ano do curso e 32% aqueles do sexto ano5.

       Uma elevada porcentagem (81,7%) dos entrevistados fazem uso de substâncias psicoativas, sendo o álcool a mais consumida (78,6%) seguida de ansiolíticos, hipnóticos e sedativos (29,8%)9, seguidas de cannabis (22,9%) e tabaco (21,4%). Frente ao exposto, outro trabalho traz cerca de 28,4% da sua população de estudo fazendo uso de antidepressivos, de ansiolíticos (4,9%) e estabilizadores de humor (3,8%)3. Existe a relação direta dos acadêmicos que utilizam psicotrópicos, com a predominância do uso de antidepressivos, sendo mencionados a fluoxetina e o clonazepam (37%), seguida de sertralina (10%)10.

Delineamentos de outra literatura menciona as substâncias psicoativas mais utilizadas por o perfil aqui estudado: álcool (92,8%), seguida do tabaco (39%)4. Ainda é observada a maior prevalência do uso de bebidas alcoólicas (80,20%), seguida de maconha (32,67%) e dos derivados do tabaco (31,70%)1. Outro autor relata que há predominância no consumo de álcool (67,65%) seguido do tabaco (9,8%)2.

       Há evidências de maior consumo de álcool pelo sexo feminino (49,5%), sendo o tabaco e estimulantes mais consumidos pelo sexo masculino (20,6% e 12,8%, respectivamente)6. No que se refere aos estudantes de medicina que fazem uso de psicofármacos no primeiro ano do curso, também é observada uma prevalência do sexo feminino (70%), enquanto os entrevistados do sexto ano a maioria são do sexo masculino (62%)5. Há pesquisa que traz 41,4% dos acadêmicos com preferência em fazer uso de psicotrópicos, havendo predominância de consumo pelo sexo feminino (66,5%)3.

O sexo feminino como  os principais usuários de psicofármacos (56%), ainda enfrenta dificuldades quanto a fidedignidade do estudo já que amostras pequenas não elencam prevalência significativa. Sob outra ótica, autras escritas relatam haver maior consumo por parte do sexo masculino (52,5%)10. Em consonância, outro estudo também relata predominância do sexo masculino tanto no consumo de álcool (36,27%) quanto no de tabaco (7,37%)2.

       Dentre as faixas etárias que mais utilizam álcool e tabaco observa-se de 20 a 22 anos (42,2%) e (12,4%), respectivamente; observando maior prevalência entre 20 a 25 anos (6,9%) quanto ao consumo de estimulantes6. É apontado como faixa  etária com maior taxa de uso, a idade ente 19 e 22 anos10. Há estudos que não informaram qual o sexo e a idade apresentam maior prevalência no uso de psicotrópicos8 9. Uma pesquisa recente,  evidencia maior consumo na faixa etária entre 18 e 29 anos (88,1%)1.

       Foi percebida como característica, o maior consumo de álcool associado a estudantes de medicina do oitavo período (19,7%); dentre os referidos, aqueles que fazem maior uso de tabaco encontram-se no quarto e oitavo períodos (ambos representando 6%); enquanto o consumo de estimulantes tem maior preferência por estudantes do oitavo período (6,4%)6. Somado a isso uma pesquisa evidencia o maior uso de psicotrópicos nos dois primeiros anos do curso. Pirar literatura constata em seus resultados, que os acadêmicos do sexto ano consomem mais psicofármacos quando comparados aos acadêmicos do primeiro ano10. Outro autor encontrou achados semelhantes em seus estudos, havendo prevalência maior de consumo dessas substâncias nos últimos dois anos do curso (45%)3.

       Quanto a classe menos consumida, há dados que mencionam os opióides, representando cerca de 1,19%. Em contrapartida, há estudo relatando que as classes menos consumidas abrangem os sedativos ou barbitúricos e o crack, ambos representando 1,4%6. Há uma terceiro achado na literatura em que os autores descrevem em seu estudo a cocaína (coca, crack e outros derivados) sendo a substância menos consumida9.

Estimulantes do sistema nervoso central, como a anfetamina, representam apenas 2,7%3. Enquanto há pesquisas em que a cocaína é inserida como a droga menos consumida (2%)4. Há escrita que evidencia os opióides como a classe menos consumida (2%)1.

       A maconha apresentou-se como a droga ilícita mais consumida (25%)8. Duas pesquisas também confirmam ser a maconha a droga ilícita mais consumida, representando respectivamente, 14,4% e 19% a 26% nos estudos analisados4 6. Já outro questionário evidencia inalantes (6,9%)9.  Em consonância com os primeiros pesquisadores mencionados acima, recente estudo traz a maconha como a droga ilícita mais consumida (32,7%)1. Alguns estudos não relataram qual a droga ilícita mais consumida3 10.

   Quanto ao período e frequência do uso de substâncias é relevante mencionar que 81% da amostra de um estudo, demostra estudantes que já realizava o consumo de álcool em algum momento de sua vida enquanto 32,1% afirmaram já consumir tabaco; sendo este uma das únicas classes que apresentou correlação direta entre o grau de abuso e período de uso, além da cocaína e do crack8.

       Ao avaliar o uso de bebidas alcoólicas e o grau de dependência foi observado que a classe predominante refere consumo de baixo risco (67,3%), porém há uma parcela considerável que realiza um maior consumo sendo considerado risco elevado; A maioria ainda relatou que fazem isso com uma frequência mensal (49,14%), enquanto 39,65% informa consumir de duas a quatro vezes por mês e 11,21% de duas a três vezes na mesma semana8. 72,5% dos estudantes de um estudo afirmam terem utilizado substâncias psicoativas no último mês7.

       Em relação ao período de uso dos psicotrópicos por acadêmicos do primeiro ano do curso de medicina, Luna et al. (2018) observou-se a média de 20 meses, enquanto estudantes do sexto ano foram de 29 meses5. Enquanto um pesquisa diferente  elenca que com base em todas as substâncias pesquisadas, com exceção do álcool, notou-se a tendência ao uso esporádico, relatando baixas taxas de uso no período dos últimos 30 dias4.

       Outro levantamento de dados, porém, observou que o padrão de consumo dos acadêmicos que fizeram uso de substâncias psicoativas nos últimos 30 dias foi de 42,7%, sendo 19,8% nos últimos 12 meses, 20,6% em qualquer período da vida e 16,8% nunca utilizaram tais substâncias9.

Entre os indivíduos que fazem uso de psicotrópicos, 31,3% iniciaram antes de ingressar no curso de medicina, 10% no primeiro ano do curso, 13,8% no segundo ano e 16,3% no terceiro ano; observando que a prevalência do uso de tais medicamentos atingiu cerca de 45% dos acadêmicos de medicina nos últimos 2 anos do curso3. No que se refere a quando o uso de substâncias foi iniciado, 37% fizeram uso recente das medicações, sendo que 35% iniciaram antes de ingressar no curso e 24% corresponde aos que deram início após ingressar o curso10.

       Evidências sobre a duração do uso de drogas psicoativas mais prevalentes correspondem ao período de 1 a 3 meses bem como de 6 a 1 ano (40%); em que a maioria desses estudantes (87%) afirmam que apesar do tempo, não se consideram dependentes desses fármacos10. No entanto, outro autor avaliou a progressão da incidência do uso de psicofármacos dentro do curso médico estimando-se o crescimento de 27,1%3.

       Deve ser considerado o pensamento dos acadêmicos sobre sentirem-se menos vulneráveis ao abuso de substâncias, como o álcool, sendo um dos pontos motivadores e até de manutenção do uso6. Frente ao exposto foi observou que 48% dos acadêmicos da amostra do primeiro ano e 62% do sexto ano, afirmam que o curso é o principal motivo que desencadeia o consumo de psicotrópicos5. Um estudo concorda com os anteriores quando conclui que 58,8% dos indivíduos consideraram o curso como um fator precipitante para o uso de substâncias psicoativas9.

Uma pesquisa acredita que a motivação do uso de tais fármacos seja em decorrência ao extenso conteúdo curricular a ser estudado, buscando obter maior produtividade6. Em consonância, além de afirmar a dedicação de muitas horas de estudos como um dos motivos, também evidencia a rotina que envolve atividade de alta tensão e pressão psicológica, sendo os psicofármacos a válvula de escape para diminuir a ansiedade e preocupação gerada5.

É observado ainda que agentes estressores associados a ambientes festivos geram um universo propício a experimentação de psicotrópicos8. Somado a isso, há evidências que a imposição de ritmos intensos de vida associados à não demonstração de insegurança, tristeza e cansaço; necessidade de atender as exigências acadêmicas, dos colegas e da sociedade comprometem diretamente a qualidade de vida do acadêmicos5.

A literatura aponta o uso recreativo como principal motivo para uso de substâncias psicoativas (58,7%), seguida da vontade de relaxar (39,1%) e do estresse (28,7%); em que a maioria acredita que o modo de vida do estudante de medicina favorece ao consumo de tais drogas4. Há menção de além da carga horária integral e a necessidade de novos hábitos de estudos, a privação de atividades de lazer como o abandono de práticas de atividades físicas; havendo a renovação da angústia nos dois últimos anos do curso devido a obrigação de dedicação quase exclusiva a medicina9. Em acordo com o estudo anterior há dados que demostram que 57,7% do uso dessas substâncias é feito em decorrência da sensação de liberdade gerada e/ou curiosidade1.

Dos 84% dos indivíduos que relataram efeito positivo quanto ao uso da medicação, 46% utilizam em decorrência da ansiedade e 20% devido a depressão10. Como consequência, uma parcela dos indivíduos classificados como uso de risco, já relatam possuírem prejuízos em suas vidas8. Além disso, o consumo do álcool se associa desde a prejuízo das habilidades cognitivo-comportamentais e emocionais, dificuldade de aprendizado e até risco de acidentes e ocorrência de violências6.

       É considerado popular entre os estudantes da pesquisa a ocorrência de efeitos colaterais e risco de dependência após o uso dessas substâncias; além disso também observou o crescimento do consumo de substâncias psicoativas de forma gradativa, tendo em vista que os acadêmicos do sexto ano apresentaram maiores taxas, evidenciando assim a influência do curso sob a medicalização5.

   No que se refere a meios de obtenção de medicamentos, elevada percentagem (65%) dos acadêmicos do primeiro ano alegaram obter a receita dos psicofármacos que utilizam através de consultas médicas, 22% com familiares ou amigos e 13% de forma ilegal; Quanto aos estudantes do sexto ano, 64% informam adquirir a receita médica por meio de consulta médica enquanto 36% através de familiares e amigos5. Outros dados relevantes e dignos de menção são 30%de uma população que afirmam terem recebido receitas de seus pais, bem como de seus amigos3.

       Ainda assim, há a informação de que 90,7% receberam receitas inicialmente dos médicos que os acompanhavam regularmente e desses, 85,5% relatam ter sido acompanhados por psiquiatras, 12,4% por médicos de outra área e 2,1% por clínicos gerais3. Em contrapartida, outro estudo observou que 14% dos indivíduos realizaram automedicação10.

Substâncias consumidas

Prevalência do consumo em relação ao gênero:

Prevalência do consumo em relação ao gênero:

Primeiro ano do curso x Sexto ano do curso (Luna et al. 2018).

Frequência de uso:

Uso de psicotrópicos ao longo da graduação

Primeiro ano do curso x Sexto ano do curso (Luna et al. 2018)

CONCLUSÃO:

       Com base nos estudos avaliados, é possível perceber que o álcool e o tabaco são muitas vezes a porta de entrada para o uso de outros psicotrópicos; e embora considerados “menos agressivos” não devem ser subestimados. Observou-se também que o seu uso muitas vezes é motivado pela necessidade e forma de se integrar a um determinado grupo, o que pode justificar tais substâncias apresentam alta prevalência, além de outros fatores mencionados nos resultados das pesquisas como pressão psicológica, rotina exaustiva, extenso conteúdo curricular presentes no curso e subestimar os efeitos que podem ser causados pelos psicofármacos à longo prazo.

       Ademais, nota-se nos estudos avaliados que ambos os sexos realizam um consumo considerável, havendo variância quanto ao predomínio do público feminino e masculino de acordo com cada artigo. Em relação a faixa etária, a maioria dos acadêmicos que realizam consumo de substâncias psicoativas se enquadravam entre 20 e 25 anos. Ademais, a maconha foi considerada a droga ilegal mais consumida na maioria dos estudos, sendo o opióide e o crack menos consumidos pelos estudantes de escola médica. Tornou-se claro também que o aumento do uso de psicotrópicos por acadêmicos de medicina cresce de maneira gradativa ao longo dos anos do curso devido ao crescimento das exigências acadêmicas.

Além disso, quanto à forma de aquisição dos psicotrópicos, apesar da maioria dos acadêmicos que foram observados nos estudos receberem receitas a partir de consultas com médicos, uma grande quantidade revela obter por meio de familiares e amigos, caracterizando assim, a automedicação. Por fim, o uso, a subestimação e como consequência o abuso de psicofármacos; bem como os seus fatores desencadeantes devem ser tratados como prioridade nas escolas médicas, de modo que possa promover a conscientização da prevenção, consequências a longo prazo e manutenção do consumo de tais drogas.

REFERÊNCIA:

  1. Batista RSC, Freitas TBC de, Nascimento EGC do, Martins RR, Miranda FAN de, Júnior JMP. Uso de substâncias psicoativas entre estudantes de medicina em uma universidade do semiárido brasileiro. Medicina (Ribeirão Preto). 2022 May 4;55(1):e–184136. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-7262.rmrp.2022.184136.
  2. Dias CAG de M. Use of psychoactive substances among medicine students from the Federal University of Amapá, Amazon Region, Brazil, in 2018. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento [Internet]. 2020 May 25 [cited 2023 May 18];13(05):21–31. 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/health/medicine-students
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1Discente da Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí. – Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (FAHESP/ IESVAP). Parnaíba-PI, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9552-8120

2Docente. Mestre da Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí. – Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (FAHESP/ IESVAP). Parnaíba-PI, Brasil.

3Docente titulação da Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí. – Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (FAHESP/ IESVAP). Parnaíba-PI, Brasil.

4Discente Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí. – Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (FAHESP/ IESVAP). Parnaíba-PI, Brasil.