REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10573855
Thiago de Sousa Farias1, Bruno Felipe Ferreira Lopes2, Igor Rodrigues da Fonseca3 Marcos Farias Carneiro4, Jane Mayra Prates Costa5, Romário Alencar Silva6, Maria Diana Alves da Silva7, Kemici de Sousa Chaves8, Márcia Costa da Silva9, Ana Beatriz Alves Lopes10, Glória Aurenir de Lima Lopes Domingos11, Evellyn Serra Oliveira12, Elizângela Fernandes Brauna13, Raquel Chacon Medeiros14, Elielton Cavalcante Gomes15
RESUMO
A COVID-19 é um vírus pertencente a um grupo de agentes infeciosos responsáveis por causarem diversas manifestações clínicas. E após a sua disseminação o que levou a uma pandemia, inúmeros problemas tem surgido na área da saúde devido à crise sanitária mundial. Objetivou-se descrever as repercussões a longo prazo relacionadas com a saúde de pessoas que foram acometidaspelaCOVID-19. Trata-se de uma Revisão narrativa realizada a partir de um levantamento documental por meio da base de dados Biblioteca Virtual em Saúde. Elencaram-se trabalhos publicados entre 2020 e 2021, disponíveis na íntegra. A amostra final foi composta por oito estudos, que foram analisadas com argumentação crítica e reflexiva do conteúdo. Até o momento, existem indícios que a COVID-19 possui um elevado potencial para o desenvolvimento de sequelas a longo prazo para os indivíduos infectados pela doença. Sabe-se que essas consequências são passíveis de ocorrer nos sistemas corporais, incluindo o sistema cardiovascular, respiratório, musculo esquelético, gastrointestinal, nervoso, urinário e tegumentar. As manifestações variam quanto aos níveis de gravidade, podem ocorrer desde uma erupção cutânea até uma lesão no miocárdio.
Descritores: Long term effectc; covid; clinical manifestations.
INTRODUÇÃO
O SARS-Cov-2 é um vírus da categoria de Coronavirus, conhecidos por causarem doenças respiratórias, entéricas, hepáticas e neurológicas em humanos, mamíferos e aves. Com início da disseminação na China, em dezembro de 2019, o vírus atualmente tem se espalhado por todos os continentes e o mundo enfrenta uma crise sanitária. A pandemia da COVID-19 já apresenta até junho de 2021, 176.303.596 casos confirmados, incluindo 3.820.026 mortes notificados à Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021).
A apresentação dos sintomas pode ser de nível leve à grave, muitas vezes, a COVID-19 é confundida com uma gripe ou pneumonia leve. Os sintomas mais comuns são tosse, febre ≥ 37,8 Cº, dispneia, mialgia e fadiga. Para avaliar o estado de gravidade, o sistema respiratório do paciente adulto pode apresentar falta de ar ou dificuldade para respirar, ronco, retração sub/intercostal severa, cianose central, saturação de oximetria de pulso <95% em ar ambiente, taquipneia >30 mpm. Além do sistema cardiovascular com hipotensão (sistólica abaixo de 90 mmHg e/ou diastólica abaixo de 60mmHg) ou diminuição do pulso periférico (BRASIL, 2020).
Devido a essas características, o paciente poderá evoluir para um estado geral grave, o qual necessitará cuidados intensivos. Entretanto, com isso, surgirão complicações como a disfunção cerebral aguda, que foi altamente prevalente e prolongada em estudos realizados com pacientes criticamente enfermos. A justificativa também se dar pelo uso de benzodiazepínicos e a falta de visitação familiar foram identificados como fatores de risco modificáveis para reduzir a disfunção neurológica em pacientes com COVID-19 (PUN et al. 2021).
A infecção por SARS-CoV-2 também está associada a complicações extrapulmonares que podem continuar a incorrer em morbidade, incapacidade e mortalidade tardia em sobreviventes. Afetando os sistemas neurológico, cardíaco, gastrointestinal, hepatobiliar, endocrinológico, renal, hematológico e cutâneo, bem como os olhos, ouvido, nariz e boca (MARÍN, 2021).
Os estudos clínicos indicam que o vírus induz a complicações cardíacas como a miocardite aguda com mais frequência e gravidade, sendo necessário um monitoramento cardiovascular. Acredita-se que uma das fontes dessa complicação secundária a infecção seja atribuída pela infecção viral direta ao miocárdio ou pela resposta imune intensa em todo o corpo, os sobreviventes podem estar sob risco elevado de inflamação cardíaca. Além disso, problemas como endotelopatia e a ativação plaquetária podem ser fatores importantes na fisiopatologia da coagulopatia associada à COVID-19 (YOKOO et al., 2020; GUSHUA et al., 2020).
Posto isso, levando em consideração o número de óbitos, mas principalmente a prevalência de infectados pela COVID-19, pautou-se a discussão sobre os efeitos a longo prazo em pessoas que foram acometidas pela doença.
OBJETIVO
- Descrever as repercussões a longo prazo relacionadas com a saúde de pessoas que foram acometidas pela COVID-19.
MÉTODO
Visando atingir o objetivo proposto pelo estudo, optou-se por realizar uma Revisão narrativa (RN). Esse método de construção literária permite publicações com a finalidade de descrever e discutir o estado da arte sobre um determinado assunto, possibilitando também uma discussão ampliada acerca da temática abordada (MARTINELLI & CAVALLI, 2019; ROTHER, 2007; ISER et al., 2020).
Para nortear esse estudo, adotou-se como pergunta norteadora: o que a literatura científica evidencia sobre as consequências a longo prazo na saúde de pessoas que foram infectadas com COVID-19? Quanto a coleta de dados, ocorreu em junho de 2021 e para a busca dos estudos, optou-se pela base de dados Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde (BVS), no qual foram utilizados os descritores “long term effectc”, “covid” e ‘clinical manifestations”, com a aplicação do operador booleano AND para o cruzamento destes. Elencaram-se como critérios de inclusão, trabalhos publicados entre 2019 e 2021, disponíveis na íntegra, escritos em português, inglês ou espanhol.
*Com base nos Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses (PRISMA)
Figura 1 – Fluxograma de seleção dos estudos que constituíram a amostra da RN.
RESULTADOS
Apresentaram-se os enunciados narrativos a partir dos enfoques sistêmicos do corpo humano, descrição das consequências a longo prazo para a saúde e as informações bibliográficas dos estudos selecionados. As repercussões clínicas são múltiplas e associam-se aos diversos sintomas e acometimentos relacionados à COVID-19.
Quadro 1 – Características dos estudos selecionados sobre as consequências ao longo
prazo a saúde de pessoas que foram acometidas pela COVID-19.
DISCUSSÃO
Nas proporções que a pandemia causada pelo coronavírus progride, existe uma preocupação crescente de que um número substancial de indivíduos infectados com o SARS-CoV-2 possa desenvolver sequelas de longo prazo, e quando ocorrem podem ocasionar um impacto significativo na qualidade de vida (SUN et al., 2021; SHAH et al., 2021).
Desse modo, a partir da análise dos estudos incluídos nessa RN, observaram-se que as repercussões do coronavírus a saúde transcorrem em diversos sistemas corporais. Por sua vez, as evidências científicas relaram que além das sintomatologias apresentadas pela maior parte dos indivíduos acometidos pela infecção, outro problema em iminência são as consequências futuras dessa doença.
Mesmo para as pessoas que possuem fatores de risco que elevam a gravidade da infecção pela COVID, a maior parte dos pacientes com essa patologia se recuperam. Ademais, além do dano potencial pulmonar a longo prazo, observam-se também impactos envolvendo o sistema neurológico. Vale salientar que boa parte das pessoas que se recuperaram da COVID-19 podem ter condições crônicas de saúde agravadas (BUTLER & BARRIENTOS, 2020).
Alguns mecanismos patogênicos que envolvem a infecção e o sistema nervoso central incluem encefalite viral direta, inflamação sistêmica, disfunção de órgão periférico (fígado, rim, pulmão) e alterações cerebrovasculares. Na maioria dos casos, as manifestações neurológicas da COVID-19 podem surgir da combinação desses mecanismos. Qualquer interação entre essas complicações colocam os sobreviventes da doença em risco elevado par danos neurológicos ao longo prazo, seja pelo agravamento de um problema neurológico já existente ou pelo início de um novo distúrbio, em particular a doença de Alzheimer (HENEKA et al., 2020).
A literatura aborda possíveis manifestações clínicas após a infecção causada pela COVID-19 envolvendo o sistema respiratório (dispneia e tosse), sistema cardiovascular (palpitações, aperto e dor no peito), sistema neurológico (comprometimento cognitivo, por exemplo, a “névoa do cérebro”, perda de concentração ou problemas de memória, cefaleia, distúrbio do sono, neuropatia periférica, vertigem, delirium, ansiedade e depressão), sistema gastrointestinal (dor abdominal, náusea, diarreia, anorexia e apetite diminuído), sistema muscular esquelético (dor muscular e nas articulações) e sistema tegumentar (erupções cutâneas) (SHAH et al., 2021). Tais informações citadas anteriormente corroboram com os achados desta pesquisa.
No sistema cardiovascular, o SARS-CoV-2 pode provocar sequelas diretas ou indiretas, envolvendo lesão do miocárdio, síndrome coronariana aguda, cardiomiopatia, cor pulmonale agudo (aumento do ventrículo direito), arritmias, choque cardiogênico e complicações trombóticas (DRIGGIN et al., 2020).
Outras manifestações da infecção pelo SARS-CoV-2 estão relacionadas ao estado de hipercoagulabilidade causada pelo vírus, levando a lesão endotelial e inflamação vascular. Em unidades de terapia intensiva devido à imobilização prolongada é passível de ocorrências ligadas a eventos trombóticos venosos ou arteriais, sendo o tromboembolismo pulmonar o mais frequente. Além disso, uma parcela considerável dos infectados apresentam agravamento clínico de forma progressiva em relação a hipóxia, e por vezes a evolução acontece vertiginosa. Por sua vez, a hipóxia induzida pelo aumento de cálcio intracelular pode levar a apoptose dos miócitos, colaborando para o aumento de morbidade cardiovascular (RELLO et al., 2020; ZHENG et al., 2020; VICKERS et al., 2020).
Para mais, Gupta e colaboradores (2020) relatam que uma parte substancial dos pacientes positivos para a COVID-19 com a forma grave da doença, apresentam sinais de lesão renal, levando a complicações severas e estando associada a mortalidade. É sabido também das manifestações no sistema gastrointestinal, no qual, podem estar ligadas a uma duração mais longa da doença. Já as manifestações cutâneas incluem erupção cutânea eritematosa, urticária e vesículas (PAN et al.,2020; JIA et al., 2020).
Embora a COVID-19 seja uma doença relativamente nova pode-se especular algumas consequências a longo prazo, em consideração ao que já se sabe sobre os surtos anteriores de SARS- CoV. Em infecções relacionadas ao SARS ocorridas em tempos passados, quando realizado o teste da função pulmonar foi evidenciado que após 6 a 8 semanas depois da alta hospitalar mostrou padrão restritivo leve ou moderado, consistente com fraqueza muscular em 6% a 20% dos indivíduos (DAVIES et al., 2020; CHAN et al., 2003). Zhu e colaboradores 2020 ressaltam que as sequelas a longo prazo da COVID- 19 ainda não foram bem definidas clinicamente, todavia, as evidências de surtos anteriores da SARS confirmam comprometimento da função pulmonar e física, redução da qualidade da vida e sofrimento emocional.
CONCLUSÃO
A COVID-19 possui um potencial para o desenvolvimento de sequelas ao longo prazo para a saúde em indivíduos que foram acometidos pela infecção. As manifestações tardias da doença envolvem o sistema cardiovascular, respiratório, nervoso, gastrointestinal, músculo esquelético, urinário e tegumentar.
Existem restritas informações acerca dos mecanismos envolvidos nas complicações a longo prazo. Entretanto, a partir do que já se evidenciou sobre as repercussões a longo prazo de outras infecções envolvendo o coronavirus juntamente com os estudos atuais, pode-se confirmar que a COVID-19 incide nas consequências futuras para a saúde. Nesse contexto, destaca-se a necessidade de estudos que investiguem essa temática, em perspectivas longitudinal e/ou observacional.
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1Acadêmico de Enfermagem pelo Centro Universitário do Maranhão. Imperatriz- MA. thiagodesousafarias57@gmail.com
2Acadêmico de Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia. Senhor do Bonfim – BA
3Acadêmico de Enfermagem pela FACIMP – WYDEN. Imperatriz- MA.serafinsarcanjos@hotmail.com
4Acadêmico de Enfermagem pela FACIMP – WYDEN. Imperatriz- MA. marcosfariaspsn@hotmail.com
5Acadêmica de Enfermagem pela Unisulma. Imperatriz- MA. mayraprates36@gmail.com
6Acadêmico de Enfermagem pela FACIMP – WYDEN. Imperatriz- MA. r.alencar.s@outlook.com
7Enfermeira formada pela FACIMP – WYDEN. Imperatriz- MA. mdiana-23@hotmail.com
8Acadêmico de Enfermagem pelo Centro Universitário do Maranhão. Imperatriz- MA. kemici.chaves@hotmail.com
9Enfermeira formada pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. São Luiz-MA. marcia.mcsilva@hotmail.com
10Enfermeira formada pela FACIMP – WYDEN. Imperatriz- MA. anabeatrizlopes1@hotmail.com
11Enfermeira formada pela Faculdade Santa Maria- FSM. Cajareiras – PB. glorialopes2012@hotmail.com
12Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. São Luiz-MA. evellyn.serra@discente.ufma.br
13Enfermeira formada pela Universidade Estadual do Tocantins – UNITINS. Augustinópolis/TO. elis_ange_la@hotmail.com
14Enfermeira formada pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Niterói/RJ
15Enfermeiro pela Universidade Estadual do Ceará. Fortalezaz- CE. cavalcanteelielton@gmail.com