FREQUÊNCIA E PERFIL DOS ÓBITOS POR SUICÍDIO NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS) ENTRE 2009-2019

Frequency and profile of deaths by suicide in the state of Mato Grosso Sul (MS) between 2009-2019

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10517873


Jerrison da Silva de Morais1;
Ana Claudia Nishihira Uehara2


Resumo

Analisar a frequência dos óbitos por suicídio e traçar um perfil sociodemográfico dos casos de suicídio no Mato Grosso do Sul entre 2009 e 2019. Trata-se de um estudo descritivo, transversal e de tendência temporal que incluiu todas as notificações de óbitos por suicídio de 2009 a 2019 no estado do Mato Grosso do Sul (MS). Os dados foram extraídos do banco de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), sendo categorizados em diversas variáveis. Foram incluídos no estudo todos os indivíduos, independente da faixa etária. No período do estudo (2009 a 2019), foram notificados no Brasil 121.540 óbitos por suicídio, sendo 2.489 (p=2,04%) no estado do Mato Grosso do Sul (MS). A maioria era do sexo masculino (p= 78,22%, n= 1.947) e com a faixa etária entre 15 e 34 anos (p=49,4%, n=1.229). Houve um predomínio da cor de pele parda (p=46,4%, n=1.156), em indivíduos sem cônjuge (55,6%), com escolaridade ignorada no momento do preenchimento da declaração de óbito (p=38%, n= 945) e o domicílio como principal local de ocorrência (p=59,8%, n=1.488). Observou-se maior frequência de lesões autoprovocadas intencionalmente por enforcamento, estrangulamento ou sufocação (76%) (p=76%, n= 1.885). Os resultados desse estudo reforçam o suicídio como um problema de saúde pública, fazendo-se necessário aprofundar as discussões no campo da saúde mental, vulnerabilidade social e da psicologia, buscando melhorias na qualificação e capacitação das redes de atenção em saúde para auxílio na redução das taxas de suicídio.

Palavras-chave: Suicídio. Causas De Morte. Violência. Notificação.

Abstract

To analyze the frequency of deaths by suicide and draw a sociodemographic profile of suicide cases in Mato Grosso do Sul between 2009 and 2019. This is a descriptive, cross-sectional and temporal trend study that included all notifications of deaths by suicide in 2009 to 2019 in the state of Mato Grosso do Sul (MS). The data were extracted from the Mortality Information System (SIM) database and categorized into several variables. All individuals were included in the study, regardless of age group. During the study period (2009 to 2019), 121,540 deaths due to suicide were reported in Brazil, 2,489 (p=2.04%) in the state of Mato Grosso do Sul (MS). The majority were male (p= 78.22%, n= 1,947) and aged between 15 and 34 years (p=49.4%, n=1,229). There was a predominance of brown skin color (p=46.4%, n=1,156), in individuals without a spouse (55.6%), with unknown education when filling out the death certificate (p=38%, n = 945) and the home as the main place of occurrence (p=59.8%, n=1,488). There was a higher frequency of intentional self-harm by hanging, strangulation or suffocation (76%) (p=76%, n= 1,885). The results of this study reinforce suicide as a public health problem, making it necessary to deepen discussions in the field of mental health, social vulnerability and psychology, seeking improvements in the qualification and training of health care networks to help reduce suicide rates.

Keywords: Suicide. Causes Of Death. Violence. Notification.

1. Introdução

O suicídio é um importante problema de saúde pública em escala global, com cerca de 800.000 mortes por ano1.  Além disso, calculou-se que cada morte por suicídio equivale a aproximadamente 20 tentativas de ato2. Em particular, representa uma das principais causas de morte entre adolescentes e adultos jovens com idade entre 15 e 29 anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve o suicídio como “um ato de matar deliberado” e que se situa no extremo do espectro contínuo dos comportamentos suicidas que incluem ideação suicida, tentativa de suicídio e suicídio em si1.

Entre 2010 e 2019, ocorreram no Brasil 112.230 mortes por suicídio, com um aumento de 43% no número anual de mortes, de 9.454 em 2010, para 13.523 em 2019. A análise das taxas de mortalidade ajustadas no período demonstrou o aumento do risco de morte por suicídio em todas as regiões do Brasil3.

Estudos têm mostrado que as taxas de suicídio do estado de Mato Grosso do Sul tem sido uma das maiores do país, ocupando o segundo lugar nos anos de 2000 e, de 2003 a 2006, quando ficou atrás apenas do Rio Grande do Sul. E o terceiro lugar em 2002 e 2007, ficando atrás do Rio Grande do Sul (que vem mantendo as maiores taxas), Santa Catarina e Roraima, respectivamente4.

Todo suicídio tem um impacto tanto no nível individual quanto no social. Os efeitos duradouros afetam particularmente as pessoas “deixadas para trás”. Estima-se que 60 pessoas sejam diretamente afetadas por cada morte por suicídio, incluindo familiares, amigos, colegas de classe e colegas de trabalho. Além disso, as pessoas enlutadas por suicídio têm um risco elevado de comportamento suicida e de serem afetadas por condições de saúde mental, como a depressão. Há também custos financeiros para aqueles que “ficam para trás”. O ônus combinado de custos e perdas de rendimentos incorridos por ausências por doença e licença por compaixão, bem como a perda do apoio financeiro do cônjuge ou pai que cometeu suicídio, constituem um fardo significativo para as famílias5.

Os médicos são treinados para avaliar aqueles com maior risco de fatalidade, com base em uma lista de fatores de risco conhecidos na comunidade. No entanto, somente esses procedimentos podem não ser úteis em ambientes clínicos. Autópsias psicológicas (nas quais familiares e colegas são entrevistados) são usadas para elucidar esses fatores de risco, geralmente eventos de vida recentes estressantes6,7

Estudar e compreender o fenômeno dos casos de suicídio são processos valiosos para a implementação de políticas públicas que acarretem o correto enfrentamento do problema e da sua prevenção. Nesse sentido, esse estudo tem por objetivo traçar perfil epidemiológico e a tendência temporal de mortalidade por suicídio na população do estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2009 a 2019.

2. Material e Métodos

Trata-se de um estudo descritivo, transversal e de tendência temporal que incluiu todas as notificações de óbitos por suicídio de 2009 a 2019 no estado do Mato Grosso do Sul (MS). 

Os dados foram extraídos do banco de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), sendo categorizados nas seguintes variáveis: sexo, idade, cor da pele, situação conjugal, escolaridade, fonte da notificação, causa básica do óbito, local e data de ocorrência, local de residência. Suas macrorregiões foram obtidas do censo populacional de 2010 e das estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para os demais anos.

TABELA 01. Características demográficas dos óbitos por suicídio no estado do Mato Grosso do Sul de 2009 a 2019.
VariáveisN%
Características das Vítimas
Sexo
Masculino1.97478,22
Feminino54221,72
Faixa Etária
5-14 anos1094,37
15-24 anos65726,39
25-34 anos57222,98
35-44 anos42016,87
45-54 anos30312,17
55-64 anos2078,31
65-74 anos1355,42
75 ou mais833,33
Ignorada30,12
Raça
Branca79031,73
Preta963,85
Amarela220,88
Parda1.15646,44
Indígena41316,59
Ignorada120,48
Escolaridade (Anos de estudo)
Nenhuma1255,02
1 a 3 anos2238,95
4 a 7 anos58023,3
8 a 1149619,92
12 ou mais1204,82
Ignorado94537,96
Estado Civil
Solteiro1.38355,56
Casado47319
Viúvo682,73
Separado20,80
Outro2269,07
Ignorado2108,43
Local de Ocorrência do Óbito
Hospital2409,64
Domicílio1.48859,78
Outro estabelecimento de saúde120,48
Via Pública1164,66
Outros63325,43
Fonte:  MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM

Foram considerados como suicídio os óbitos por lesões autoprovocadas intencionalmente, classificados como X60 a X84, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças, 10ᵃ Revisão (CID-10). Foram incluídos no estudo todos os indivíduos, independente da faixa etária.

Para contagem e análise dos dados, foram obtidos, para cada ano do calendário e compreendido no período avaliado, os coeficientes médios brutos de óbitos por lesões autoprovocadas intencionalmente, em cada sexo, sexo, idade, cor da pele, situação conjugal, escolaridade, ocupação, fonte da notificação, causa básica do óbito, local e data de ocorrência, município de residência. As taxas anuais de mortalidade foram calculadas para cada 100.000 habitantes. A análise compreendeu a descrição da amostra quanto a características dos casos e verificou-se a distribuição do método escolhido (causa básica) de acordo com o sexo das vítimas, por meio do teste do qui-quadrado, admitindo-se erro α de 5%, sendo considerados significativos valores de p < 0,05, para testes bicaudais.

3. Resultados

No período do estudo (2009 a 2019), foram notificados no Brasil 121.540 óbitos por suicídio, sendo 2.489 (p=2,04%) no estado do Mato Grosso do Sul (MS), conforme mostra a tabela 01. Esse número representa proporcionalmente cerca de 1,5% do total de óbitos registrados no MS no mesmo período. A maioria dos indivíduos do sexo masculino (p= 78,22%, n= 1.947), com a faixa etária entre 15 e 34 anos (p=49,4%, n=1.229). Nota-se, porém, uma incidência significativa em idosos de aproximadamente 12,4%. Houve ainda um predomínio da cor de pele parda (p=46,4%, n=1.156), de indivíduos sem cônjuge (55,6%), de escolaridade ignorada (p=38%, n= 945) e, sendo o domicílio como o principal local de ocorrência (p=59,8%, n=1.488).

Ao categorizarmos os óbitos por Macrorregião do estado, notamos que as macrorregiões de Campo Grande e Dourados foram as que tiveram maior número de registros de óbitos por suicídio, representando cerca de 43,2% (n= 1.075) e 41,8% (n= 1.041) respectivamente. Já as outras duas macrorregiões que compõem o MS (Corumbá e Três Lagoas) representaram cerca de 15% dos óbitos (Gráfico 01).

Em relação à causa básica do óbito (Gráfico 02), observou-se maior frequência de lesões autoprovocadas intencionalmente por enforcamento, estrangulamento ou sufocação (76%) (p=76%, n= 1.885), seguida das outras causas de lesões autoprovocadas (p=17%, n=417) e de autointoxicação medicamentosa ou por outra substância (p=7%, n= 187).

Quando avaliados os números absolutos de casos e as taxas de mortalidade por 100.000 habitantes/ano, observou-se uma curva mista, com a maior variação de crescimento entre os anos de 2016 e 2017, em que o número de casos cresceu aproximadamente 16%. Em contrapartida, entre os anos de 2013 e 2014, houve uma queda de aproximadamente 10% nos óbitos por suicídio (Gráfico 03).

O coeficiente de mortalidade por suicido no MS variou de 7,5 a 9,8 óbitos a cada 100.000 habitantes, sendo o ano de 2010 e 2018, com o menor e maior coeficiente respectivamente. Apesar de observarmos uma queda em alguns anos, houve um crescimento significativo entre o início do período estudado e o final (Gráfico 04).

4. Discussão

Entre 2010 e 2019, ocorreram no Brasil 112.230 mortes por suicídio, com um aumento de 43% no número anual de mortes, de 9.454 em 2010, para 13.523 em 2019. A análise das taxas de mortalidade ajustadas no período demonstrou um aumento do risco de morte por suicídio em todas as regiões do Brasil, sendo a taxa nacional em 2019 de 6,6 por 100 mil habitantes.  Destacando-se as Regiões Sul e Centro-Oeste, com as maiores taxas de suicídio entre as regiões brasileiras3.

Nesse contexto, os resultados obtidos com o estudo seguiram a perspectiva nacional e demonstraram um aumento consistente nas taxas de mortalidade por suicídio nos últimos anos no estado do MS, com ênfase para o maior risco de morte em homens e pessoas na faixa etária de 15 a 39 anos. E, ao se traçar um perfil sociodemográfico dos óbitos por suicídio, encontrou-se ainda o predomínio de pessoas pardas, sem cônjuge, sendo o domicílio o principal local de ocorrência, e a lesão autoprovocada intencionalmente por enforcamento, estrangulamento ou sufocamento o meio mais empregado.

O suicídio apresenta diferenças importantes entre homens e mulheres, uma vez que se adotam comportamentos autodestrutivos congruentes com as peculiaridades de cada gênero11. Mundialmente os homens cometem suicídio de três a quatro vezes mais que as mulheres12, resultado semelhante ao encontrado neste estudo para o estado do MS.

Esse cenário muda quando se analisa o perfil das pessoas que tentaram, mas não tiveram o suicídio consumado. Um estudo realizado em Santa Catarina, Brasil, em que se buscou caracterizar as tentativas de suicídio e lesões autoprovocadas em adolescentes no período de 2014 a 2018, mostrou que a maior parte dos adolescentes que tentaram o suicídio eram do sexo feminino (73,4%), da raça/cor da pele branca (90,0%), solteiros (92,4%) e com ensino fundamental incompleto ou completo (80,8%). Dentre esses adolescentes os que apresentaram alguma deficiência ou transtorno, 96,8% foram caracterizados como portadores de transtornos mentais. Em relação a população adulta, a maioria das tentativas de suicídio foram de pessoas predominantemente do sexo feminino (68,1%), brancos (89,0%), casados ou vivendo em união consensual (49,8%), e com o ensino médio completo (37,9%). Os transtornos mentais apareceram em 98,5% dos adultos8.

 O coeficiente de mortalidade observado no presente estudo, considerando ambos os sexos, variou de 7,5 a 9,8 óbitos para cada 100.000 habitantes no estado do MS entre 2009 e 2019.

Um estudo publicado em 2019, em que se avaliou os óbitos por suicídio entre adolescentes brasileiros, observou um coeficiente de mortalidade por suicídio de 2,51 a cada 100.000 habitantes nessa fase da vida9.

A adolescência é um período de transição entre a infância e o início da idade adulta, caracterizado por grandes mudanças emocionais, sociais e físicas que ocorrem durante esse período crucial do desenvolvimento, o que pode facilitar o desenvolvimento de sintomas depressivos ou comportamentos suicidas devido à deficiência14

Entre 2000 e 2015, observou tendência de crescimento das taxas de óbitos de adolescentes de 10 a 19 anos por suicídio no Brasil, de 2000 a 2015. Isso ocorreu à custa do incremento na taxa de óbitos masculino nas regiões Norte e Nordeste. Entre a população feminina, houve tendência de diminuição na região Centro-Oeste, porém, quando se avaliou o Brasil como um todo, ocorreu oscilação nas taxas de óbitos por lesões autoprovocadas intencionalmente no período. A região Centro-Oeste, apesar de não ter apresentado tendência de aumento, revelou-se a região com maior taxa de óbitos por suicídio nessa população9.

A identificação precoce de indivíduos com maior vulnerabilidade para o suicídio é uma das ações mais efetivas em termos de prevenção do suicídio. Ademais, os fatores de risco para o suicídio compreendem: sexo masculino, conflitos familiares, abuso de álcool e outras drogas, grupos étnicos específicos, ausência de apoio social, abandono e características sociodemográficas desfavoráveis como desemprego e pobreza13.

Um dado preocupante observado no estudo, foi que aproximadamente 4,4% (n=109) dos óbitos por suicídio registrados no MS ocorreram na população abaixo dos 14 anos de idade, sendo notificados 3 óbitos em crianças entre 5 e 9 anos de idade. O comportamento suicida vem ganhando cada vez mais destaque na população infanto-juvenil. De 2009 a 2019, foram registrados 1.540 casos de suicídio em crianças com idade menor ou igual aos 14 anos e cerca de 8.069 em adolescentes de 15 a 19 anos. 

Segundo a OMS, os jovens estão entre a população de maior risco, já que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre as idades de 15 e 29 anos em todo o mundo16. Um estudo realizado nos Estados Unidos com 6.483 adolescentes de 13 a 18 anos e seus pais, constatou a presença de pelo menos um transtorno mental preexistente na maioria dos adolescentes com comportamento suicida, como: transtorno depressivo maior e/ou distimia, fobia específica, transtornos alimentares, transtorno desafiador opositivo, transtorno explosivo intermitente, abuso de substâncias psicoativas e distúrbios de conduta17.  

As informações sobre suicídio, seja por meio de sugestões sobre formas de praticar ou sobre prevenção, estão alarmantemente presentes nas buscas on-line dos brasileiros. Somada ao processo crescente do cyberbullying, essa modalidade de agressão e exposição criminosa pela internet serve de alerta para educadores, pesquisadores e especialistas da área da saúde e educação15.

Por outro lado, a população idosa também tem se mostrado um grupo com grande vulnerabilidade ao suicídio. Nossos resultados mostraram que dos 2.489 casos de morte por suicido no estado do MS entre 2009 e 2019, aproximadamente 12,4% (n=308) ocorreu em pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.

Globalmente, o suicídio na velhice afeta 27,45 indivíduos por 100.000 habitantes no grupo com mais de 70 anos e 16,17 indivíduos por 100.000 habitantes no grupo de 50 a 69 anos18

Dentre os principais motivos observados para a prevalência de ideação suicida nessa faixa etária, podemos citar o relato de isolamento social, a incidência de depressão e outros transtornos crônicos do humor, incapacidade funcional, o processo de adoecimento, a carga de comorbidades e hospitalizações e a sensação de peso para a família. O Brasil ainda carece de pesquisas que avaliem a magnitude do suicídio na terceira idade e os fatores de impacto para saúde e economia do país, visto que o país vem passando por um processo de transição demográfica, com o envelhecimento populacional cada vez mais consolidado, e, um estudo do aumento da carga de óbitos por suicídio em idosos forneceria indicadores que poderiam levar ao planejamento de estratégias e ações direcionadas à redução da prevalência de suicídio neste grupo populacional.

Na região Centro-Oeste, chama a atenção principalmente as taxas do estado do Mato Grosso do Sul, as quais figuraram acima dos 15 óbitos por 100 mil habitantes no ano de 2009 na população acima de 60 anos10

Esse problema deve ser foco de debates entre pesquisadores, governantes e profissionais de saúde mental para tentar frear as projeções alarmantes provenientes dos aspectos epidemiológicos e demográficos do suicídio na população idosa, uma vez que se possa predizer um crescimento significativo desta população em menos 30 anos.

Sendo o Mato Grosso do Sul um estado com forte produção agrícola, vale a pena ressaltar este estudo que identificou alta prevalência de óbitos por suicídio na população de uma macrorregião (Dourados) em que há um predomínio de produção agrícola. Essa associação, pode pressupor uma exposição crônica dessa população a inúmeros agrotóxicos, o que poderia acarretar maiores riscos de óbitos por suicídio nessa região. Já, outro estudo realizado no Mato Grosso do Sul, em 2005, também evidenciou um maior número de tentativas de suicídio e suicídio em áreas de alto consumo de agrotóxicos, em comparação com áreas de baixo consumo desses produtos19. Associação também levantada em um outro estudo realizado com populações rurais do semiárido no extremo norte de Minas Gerais, concluiu que as práticas agrícolas que implicam em exposição crônica a agrotóxicos se associam a maiores chances de ideação suicida, independentemente de episódios prévios de intoxicação aguda por agrotóxicos ou do uso problemático do álcool20.

5. Considerações Finais 

Dado o exposto, faz-se necessário salientar que, por se tratar de estudo realizado com dados secundários do Sistema de Informações sobre Mortalidade, a principal limitação refere-se à qualidade deles, haja vista que a subnotificação, que se dá por meio da inadequada coleta de dados por parte dos municípios, o preenchimento incompleto ou inadequado das declarações de óbitos e dos formulários dos sistemas de notificação do ministério da saúde, podem acarretar uma realidade mascarada sobre o perfil epidemiológico e as reais taxas de suicídio. Além do mais, os registros se baseiam basicamente em notificações de usuários do sistema público de saúde, podendo haver um cifra significativa de casos no setor privado que não são registrados no sistema de informação sobre mortalidade do ministério da saúde. Apesar disso, os resultados apresentados com o presente estudo retratam os dados oficiais dos sistemas de informações de saúde e apontam para a gravidade do problema.

Portanto, os resultados desse estudo reforçam o suicídio o como um problema de saúde pública, fazendo-se necessário aprofundar as discussões no campo da saúde mental, vulnerabilidade social e psicológica, buscando-se melhorias na qualificação e capacitação das redes de atenção em saúde em prol de preparar a equipe para fornecer um atendimento acolhedor e de qualidade, bem como educar a população sobre o tema, prioritariamente aqueles que estão inseridos nos grupos de riscos para o suicídio com intuito maior de redução dos comportamentos suicidas.

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1Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. E-mail do autor:Jerrison.moraiis@gmail.com;
2Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian – HUMAP