REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10514582
Dayana Passos Ramos¹;
Professor/Orientador: Dr. (a) Adriana Zampieri Martinati².
Resumo
O objetivo geral deste trabalho foi analisar o papel das Metodologias Ativas na promoção da aprendizagem de Arte. Os objetivos específicos foram: verificar o desenvolvimento de competências e habilidades colocadas pela BNCC; analisar o papel das Metodologias Ativas na promoção da Aprendizagem de Arte, identificar as metodologias ativas mais adequadas para o ensino nas aulas de Arte; entender como as metodologias Ativas podem contribuir nas aulas de Artes descrever práticas que envolvam as Metodologias Ativas e que podem facilitar a aprendizagem de Arte. Questiona-se: qual o papel das Metodologias Ativas no processo de ensino aprendizagem quando aplicada na disciplina de Arte? Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se como metodologia a Pesquisa Bibliográfica, por meio de uma revisão de literatura em livros, artigos, teses e dissertação acerca da temática em discussão: as metodologias ativas nas aulas de artes. Dessa forma, foi possível analisar a importante contribuição das metodologias ativas no ensino de arte que torna o estudante mais ativo, crítico, pensante e criativo, por meio da aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em problemas, sala de aula invertida ou design thinking, na qual desenvolvem a autonomia no processo de ensino e aprendizagem; assim como a aplicação dos métodos mais adequados para a disciplina.
Palavras-chave: Aprendizagem. Autonomia. Ensino de arte. Metodologias ativas.
ABSTRACT
The general objective of this work was to analyze the role of Active Methodologies in promoting Art learning. The specific objectives werw: to verify the developm of skills and abilities provided by BNCC; analyze the of Active Methodologies in promoting Art classes; understand how Active methodologies can contribute to Arts classes, describe practices that involve Active Methodologies in the teaching-learning. The question is what is the role of Active Methodologies in the research, Bibliofraphic Research was used as a methodology, through a literature review of books, articles, theses and dissertations on the topic under discussio: active methodologies in ats classes. In this way, it was possible to analyze the important contribution of active methodologies in arts teaching that makes the student more active, critical, thinking ande creative, through projec-based learning, problem-based learning, flipped classroom or design thinking, in which they develop autonomy in the teaching and learning process, as well as the application of the most appropriate methods for the discipline.
Keywords: Learning. Autonomy. Art teaching. Active methodologies.
1. INTRODUÇÃO
As Metodologias ativas podem desempenhar um papel fundamental na promoção da aprendizagem no ensino de Arte, que são abordagens pedagógicas que colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem, incentivando sua participação ativa e colaborativa. A arte oferece aos alunos a oportunidade de explorar e experimentar diferentes formas de expressão, desenvolvendo sua criatividade, habilidades socioemocionais e pensamento crítico.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) explicita:
Nesse sentido, as manifestações artísticas não podem ser reduzidas às produções legitimadas pelas instituições culturais e veiculadas pela mídia, tampouco a prática artística pode ser vista como mera aquisição de códigos e técnicas. A aprendizagem de Arte precisa alcançar a experiência e a vivência artísticas como prática social, permitindo que os alunos sejam protagonistas e criadores (Brasil, 2018, p. 193).
Como prática social, as metodologias ativas contribuem no processo de criação e protagonismo dos estudantes, ademais as mídias e tecnologias digitais podem colocar os estudantes em contato com experiências imersivas em museus, espetáculos e obras de arte espalhadas pelo mundo, contribuindo para o diálogo pluricultural, justificando a relevância da abordagem do presente tema.
Acredita-se que a temática escolhida para a construção deste estudo se justifica por se tratar de um estudo acerca de um modelo pedagógico relevante para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem e que servirá de suporte para a prática educativa docente, uma vez que a educação vem enfrentando inúmeros dissabores, por conta da ineficiência das propostas educativas aplicadas, as quais não buscam compreender a realidade dos educandos e muito menos proporcionam prazer durante o seu processo de formação.
Sendo assim, o problema desta pesquisa se resume no seguinte questionamento: Qual o papel das Metodologias Ativas no processo de ensino aprendizagem quando aplicada na disciplina de Arte?
O objetivo geral deste trabalho foi analisar o papel das Metodologias Ativas na promoção da aprendizagem de Arte. Os objetivos específicos foram: verificar o desenvolvimento de competências e habilidades colocadas pela BNCC; analisar o papel das Metodologias Ativas na promoção da Aprendizagem de Arte, identificar as metodologias ativas mais adequadas para o ensino nas aulas de Arte; entender como as metodologias Ativas podem contribuir nas aulas de Artes descrever práticas que envolvam as Metodologias Ativas e que podem facilitar a aprendizagem de Arte.
O trabalho é estruturado em sete capítulos. O capítulo 1 constitui a introdução no qual identifica-se os objetivos, justificativa e problema, enquanto o capítulo 2 é o metodológico, que enfatiza a metodologia de pesquisa utilizada no referido trabalho.
O capítulo aborda o conceito de Metodologias Ativas no contexto educacional, apresentando as principais características e princípios que norteiam essas abordagens pedagógicas, destacando o papel ativo do estudante no processo de aprendizagem. Também discute os benefícios das Metodologias Ativas na promoção do engajamento dos estudantes e no desenvolvimento de habilidades como a criatividade e o pensamento crítico. São apresentados diferentes tipos de Metodologias Ativas utilizadas no ensino, tais como: Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), Sala de Aula Invertida, Design Thinking, entre outras. Por fim, destaca-se os desafios enfrentados pelos professores no uso das tecnologias e a importância de desenvolver habilidades digitais para otimizar o uso dessas ferramentas no contexto educacional
O capítulo 4 enfatiza o uso das Metodologias Ativas nas aulas de Arte de como essas abordagens podem ser adaptadas ao contexto artístico, levando em consideração as particularidades dessa disciplina que serão apresentados exemplos práticos de como as Metodologias Ativas podem ser utilizadas para estimular a criatividade dos estudantes, promover o protagonismo e a expressão artística, e potencializar a aprendizagem significativa em Arte.
2. METODOLOGIA
A metodologia deste trabalho acadêmico é a Pesquisa Bibliográfica, por meio de uma revisão de literatura em livros, artigos, teses e dissertação acerca da temática em discussão: as metodologias ativas nas aulas de artes.
Lima e Mioto (2007, p.44) afirmam: “a pesquisa bibliográfica como um procedimento metodológico importante na produção do conhecimento científico capaz de gerar, especialmente em temas pouco explorados, a postulação de hipóteses ou interpretações que servirão de ponto de partida para outras pesquisas”.
Conforme Gil (2009), a pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese), por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica.
O presente estudo tem como finalidade apresentar as metodologias ativas que promovem a aprendizagem criativa em Arte, utilizando metodologias para incentivar o protagonismo dos estudantes, desenvolver suas habilidades socioemocionais, pensamento crítico e proporcionar experiências pluriculturais significativas.
3. Metodologias Ativas
A globalização transformou a forma de viver das pessoas e, desde então, mudanças vêm ocorrendo seja no meio social, político, econômico, religioso e principalmente no âmbito educacional, no qual se vivencia novas formas de ensinar e aprender por meios da variedade de recursos. Destaca-se nesse contexto as metodologias ativas, que segundo Santos (2019), possui como principal característica a postura ativa do aluno – que exerce autonomia no seu próprio processo de aprendizagem e o professor assume a postura de mediadora, problematizando a realidade por meio de um trabalho coletivo e colaborativo.
Para Bullara (2020, p. 32) “O conceito de metodologias ativas de aprendizagem não é necessariamente algo novo, mas vem ganhando destaque com grande proporção nas instituições de ensino.” De forma progressiva, as metodologias ativas passam a fazer parte do cotidiano de muitas instituições de ensino, desde à Educação Básica até o Ensino Superior.
Gewehr et al (2016) destaca que o termo metodologias ativo pode ser considerado uma novidade por muitos profissionais da educação. Isso não significa que os docentes desconheçam o princípio de um aprendizado ativo, tendo em vista que esses profissionais conhecem diferentes formas de ensino e aprendizagem.
Conforme aborda Berbel (2011), para almejar um resultado promissor utilizando as metodologias ativas é importante que os alunos demonstrem confiança em suas potencialidades, ouvindo, indagando, debatendo, fazendo acontecer e usando a criatividade.
O educador deve ser um facilitador nesse processo, aprendendo e ensinando juntos, pois por meio das metodologias ativas o aluno constrói o seu conhecimento junto a orientação do profissional da educação.
O trabalho com metodologias ativas rompe com o modelo tradicional de ensino e fundamenta-se em uma abordagem problematizadora, que guarda relação com uma metodologia voltada para o estímulo à pesquisa. Nesse modelo, o aluno é convidado à construção do seu próprio saber, cujo processo de aprendizagem se dá conforme as capacidades particulares de cada estudante, favorecendo uma aprendizagem com significado (Oliveira, Nóbrega & Cavalcante, 2023, p.2).
Sendo assim, percebe-se a necessidade de adequar-se ao atual cenário educacional, onde os recursos tecnológicos estão passando por atualizações a todo o momento. Como destaca Marques (2023, p.293): “A educação precisa acompanhar a transformação profunda porque o mundo está passando. Tem que ser híbrida, digital, ativa, diversificada, pois seus processos são múltiplos, híbridos, organizados e não organizados, intencionais ou não.”
Ainda se referindo a essas mudanças, identifica-se a variedade de dispositivos que contribuem para as diferentes áreas de atuação incluindo a educação, pode-se citar os aparelhos eletrônicos como smartphones, notebooks, tablets e computadores que junto à rede mundial de computadores estabelecem e influenciam no aprendizado.
Sendo um complemento além da sala de aula, como evidenciam Luchesi, Lara e Santos (2022, p. 11) “[…] as maneiras de ensinar e aprender e os modos como os sujeitos aprendem estão cada vez menos associados a processos que ocorrem exclusivamente em salas de aula tradicionais.”
Essas relações de aprendizagem despertam no aluno a liberdade e a autonomia para realizar suas atividades e o prepara profissionalmente para o futuro. No ensino da Arte, o aluno deseja realizar novas práticas, saindo do tradicional uso do papel e caneta. “São muitas as possibilidades de Metodologias Ativas, com potencial de levar os alunos a aprendizagens para a autonomia” (Berbel, 2011, p.30).
Aplicar as metodologias ativas não significa excluir o ensino tradicional, mas um complemento, adaptar-se.
São incontestáveis as mudanças sociais registradas nas últimas décadas e, como tal, a escola e o modelo educacional vivem um momento de adaptação frente a essas mudanças. Assim, as pessoas e, em especial, os estudantes, não ficam mais restritos a um mesmo lugar. São agora globais, vivem conectados e imersos em uma quantidade significativa de informações que se transformam continuamente, onde grande parte delas, relaciona-se à forma de como eles estão no mundo. Esse movimento dinâmico traz à tona a discussão acerca do papel do estudante nos processos de ensino e de aprendizagem, com ênfase na sua posição mais central e menos secundária de mero expectador dos conteúdos que lhe são apresentados (Diesell, Baldez et al Martins, 2017, p. 273).
O trabalho em sala de aula deve favorecer a autonomia, a criatividade, o incentivo à liderança, o trabalho em equipe, o efetivo exercício da teoria e prática. Corroborando com essa linha de pensamento Luchesi, Lara e Santos (2022) destacam que as metodologias ativas estimulam a autoaprendizagem, curiosidade, reflexão, pesquisa, tomada de decisões, argumentação, indagação e solução de problemas.
Segundo Iavelberg (2013-2014, p.54) “o ensino de arte está ligado à história da arte, da educação e da criança.” Na sala de aula ou nas atividades a serem desenvolvidas fora dela podem ser abordadas, segundo a autora, teorias e práticas com frutos de ideias, com abordagens política e social de diferentes épocas, conscientizando sobre o valor da memória e da origem e evolução da sociedade. Por meio das metodologias ativas o ensino da arte torna-se mais produtivo e atraente.
3.1 Tipos de metodologias ativas
Ao referir-se às metodologias ativas, deve-se compreender seus diferentes meios de aplicação. Entre os mais relevantes pode-se citar a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), sala de aula invertida, design thinking, gamificação e estudo de caso.
Segundo Oliveira, Nóbrega e Cavalcante (2023, p.3) “A aprendizagem baseada em problemas (ABP) é um método em que o estudante emprega a situação-problema, como um incentivo para aprender”. É com base no problema que os objetivos são traçados, bem como as formas de se obter as informações para explicá-lo. Na referida metodologia ativa trata-se de o aluno apresentar um diagnóstico, em seguida buscar uma solução.
Ainda se referindo à Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), a estratégia criada pela metodologia é formar estudantes “por meio da discussão e da resolução de problemas, que são construídos a partir do conhecimento prévio dos alunos e formulados pelos docentes, conforme as determinações curriculares” (Melo, Baggio et al Pinto, 2022, p.33). Destarte, promove a autonomia, autodidatismo, desenvolvimento de habilidades, boa comunicação, incentiva novas ideias e trabalho colaborativo.
Com relação à Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), Gouvêa, Dias e Cabrelli (2022, p. 26), estabelecem que “é uma metodologia de investigação pela qual os docentes incentivam os discentes na elaboração de projetos, com tarefas e desafios para solucionar determinado problema.” Essa metodologia tem como finalidade estimular o raciocínio, criar uma relação de direcionamento entre educador e educando e a motivação na resolução de situações.
Outra metodologia ativa utilizada é a sala de aula invertida que também é conhecida em inglês flipped classroom, trata do ensino híbrido, onde o aluno tem acesso prévio aos materiais de forma virtual e à realização de outras atividades em sala de aula. De acordo com Neto e Macedo (2022, p.52) “Na sala de aula invertida, o aluno estuda antes da aula, e a sala de aula torna-se o lugar de aprendizagem ativa e dinâmica.” Os autores ainda enfatizam as tecnologias como vídeos aulas de até 7 minutos, podcast, lousas digitais, fóruns, ambientes virtuais de aprendizagem, aplicativos e mídias sociais e demais mídias digitais podem ser inseridas dentro da sala de aula.
O estudo de caso é uma metodologia ativa em que, segundo Santos e Castaman (2022, p. 347) “O professor elabora e apresenta aos alunos a descrição de uma situação problema de contexto real, ou próximo da realidade, que envolve uma tomada de decisão.” É uma metodologia semelhante a outras, como a aprendizagem baseada em problemas, mas o estudo de caso trata de algo específico e deixa o aluno mais próximo da situação proposta.
Com relação à gamificação, Santos e Castamn (2022, p. 350) enfatizam que “[…] esta metodologia consiste em utilizar jogos ou games com um design lúdico, mas com a finalidade educativa.” Metodologia que está mais próxima de ser trabalhada no ensino da arte, uma vez que o jogo didático torna a aprendizagem mais dinâmica e produtiva, ou seja, elevando o interesse do aluno em aprender.
O Design Thinking (DT) segundo Funicelli (2017, p. 39) aborda que “o design thinking pode transformar o modo como se desenvolvem produtos, serviços, processos e, inclusive, estratégias”. Por meio dela trabalha-se a empatia, realização de testes, protótipos, ideias e decisões.
Percebe-se com frequência nas citações dos autores os benefícios que as metodologias ativas podem trazer, sintetizados na Figura 1:
Figura 1 – Características das metodologias ativas
Desse modo, o uso de metodologias ativas no ensino de arte traz inúmeros benefícios, uma vez que a disciplina oferece aos alunos a oportunidade de explorar e experimentar outras formas de expressão, imaginação, criatividade e autonomia.
3.2 Formação docente para o trabalho com as metodologias ativas
Com uma sociedade em seus diferentes setores cada vez mais modernas graças às tecnologias, observa-se nas instituições de ensino a necessidade de aprimoramento da formação docente com relação às tecnologias. De acordo com Santos (2019), os docentes devem acompanhar as atualizações do avanço tecnológico que passa por constantes mudanças. Esse acompanhamento é necessário para o profissional, para que possa pôr prática seu diferencial no processo de ensino e aprendizagem.
Corroborando com essa linha de pensamento Oliveira, Nóbrega e Cavalcante (2023, p.4) enfatizam que o docente “valorize a pesquisa, como forma de ver e pensar a escola inserida em um contexto de avanço do conhecimento e de tecnologias que impõem, continuadamente, aos profissionais da educação, novas exigências para o exercício da prática docente”. A tecnologia é uma realidade considerável a número cada vez maior de pessoas e cabe formar um novo perfil docente diante desse novo cenário:
Assim, as contínuas e rápidas mudanças da sociedade contemporânea trazem em seu bojo a exigência de um novo perfil docente. Daí a urgente necessidade de repensar a formação de professores, tendo como ponto de partida a diversidade dos saberes essenciais à sua prática, transpondo, assim, a racionalidade técnica de um fazer instrumental para uma perspectiva que busque ressignificá-la, valorizando os saberes já construídos, com base numa postura reflexiva, investigativa e crítica (Diesell, Baldez et al Martins, 2017, p. 269).
Vê-se que essa exigência se expandiu de forma mais expressiva após a grave crise mundial causada pelo vírus da Covid-19, fazendo com que as escolas e universidades instaurassem o ensino remoto presencial e, para a continuidade dos processos educativos, os docentes foram “forçados” a utilizar as tecnologias digitais para a continuidade dos processos educativos. Hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da pandemia, mas todas as novidades que foram desenvolvidas de forma pujante durante esse período ficaram como novas formas de ensinar e aprender, abrindo as portas para novas formas de ensinar.
Posto isso, é necessário que o professor esteja preparado e capacitado para lidar com a dimensão de oportunidades que as tecnologias proporcionam na sala de aula, utilizando as metodologias ativas no ensino de arte. Ainda se referindo à formação docente Bullara (2020, p. 55) explica que “as transformações da sociedade contemporânea demandam sujeitos cada vez mais qualificados e profissionais com perfil inovador, autônomo e diferenciado. Isso tem colocado em questão os aspectos relativos à formação profissional.”
No entanto, ainda há muita resistência de professores em relação à utilização das tecnologias na escola, seja pela falta de conhecimento, insegurança, apego às práticas tradicionais de ensino, dentre outros. Essa condição pode ser modificada com o investimento na formação inicial e continuada de docentes.
4. O trabalho com as metodologias ativas nas aulas de artes
É fato que mudanças nas salas de aula estão ocorrendo de forma constante com a inclusão das TDIC Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (NTDIC), mas é importante ressaltar que esse recurso vem complementar o trabalho pedagógico e que a mediação do professor, que promove atividades intencionalmente planejadas, é de extrema relevância para garantir os direitos de aprendizagem e inclusão digital de todos: “A escola é um espaço importante não apenas para a construção de conhecimento como também para uma real compreensão e dimensão da democracia” (Castellar et al Moraes, 2016, p. 52).
Sendo assim se faz necessário que os profissionais da educação incorporem estratégias de ensino diversificadas, de forma a proporcionar um ensino mais significativo e atrativo ao estudante:
A educação vem apresentando mudanças e renovações a cada dia e em meio a isto o professor deve estar atento e se esforçar diariamente para segui-las, a fim de proporcionar uma estrutura adequada para o processo de ensino e aprendizagem. Neste contexto, o ensino da arte foi introduzido na escola, porém a formação de professores não acompanha tal ensino por não proporcionar ao formando uma educação mais complexa acerca do assunto (Rodrigues, Souza et al Treviso, 2017, p. 119).
É preciso, pois, que o ensino de arte esteja articulado com as demandas do mundo contemporâneo a fim de promover mais não apenas a expressão de sentimentos, mas a exteriorização de sentimentos e ideias críticas.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei 9394/96, de dezembro de 1996, estabelece que a disciplina Arte é um componente curricular obrigatório na Educação Básica. É importante reconhecer a relevância da disciplina na formação dos estudantes, uma vez que vai além da pintura, desenho, fotografia e gravura, envolve diferentes áreas como fatores culturais, históricos e a formação crítica, por exemplo. Assim como cada área do conhecimento tem suas particularidades, a disciplina de arte também tem suas abordagens específicas e junto com as tecnologias e as metodologias ativas, incentiva o aluno na aquisição do conhecimento na sala de aula.
Trabalhar com tecnologia e com metodologias ativas em sala de aula com a disciplina de arte requer um planejamento eficiente com o setor pedagógico para que essas metodologias sejam bem recebidas pelos estudantes e consequentemente obtenham produtividade. O Canal do Professor – Formação Continuada da Secretaria Estadual de Educação do Paraná – SEED/PR (2021) traz abordagens sobre metodologias ativas no ensino da arte no Estado do Paraná, e explica que por meio das metodologias ativas se consegue proporcionar na disciplina de arte um ambiente propício para práticas inovadoras de ensino e aprendizagem, assim como enfatiza que as metodologias ativas na disciplina de arte estimulam a criatividade, a descoberta, o interesse e a busca de novos conhecimentos.
Consoante com essa afirmativa, a pesquisa realizada no período pandêmico junto à uma turma dos anos finais do Ensino Fundamental envolvendo um projeto interdisciplinar no ensino de Arte e uso de metodologias ativas apontaram os seguintes resultados:
A defesa do uso de metodologias ativas e projetos interdisciplinares no ensino da Arte visa tornar o aprendizado mais interessante em vários aspectos e desenvolver várias habilidades cognitivas , motoras e visuais no aluno ,trazendo para o ensino da arte uma aula exploratória e dinâmica em que os alunos explorem o seu olhar crítico para Arte e se interessem pela sua cultura através da análise dos textos, documentários, vídeos e desafios colocados no projeto interdisciplinar (webquest), para promover a união entre teoria e prática, não sendo uma aula conteudista, mas também não só a prática pela prática, contudo uma aula dialética e exploratória estimulando a criatividade do aluno (Santos & Campos, 2023, p.9).
Percebe-se que arte é um elemento fundamental na formação crítica, com dimensão do conhecimento que envolve a criação, a crítica, a estesia, expressão, fruição, reflexão, aspectos históricos e as novas culturas. A arte trata-se de uma disciplina abrangente:
A relevância de introduzir o verdadeiro sentido das aulas de arte aos professores também se faz necessária quando se trata do aluno. Para tal, primeiramente é necessário que se aprofunde na cultura local e na diversidade encontrada em sala de aula para que a arte-educação tenha sentido e traga conceitos novos no cotidiano do aluno. (Rodrigues, Souza & Treviso, 2017, p.122)
Entre as atividades que podem ser realizadas por essas diferentes metodologias no ensino de artes na sala de aula é a exposição de artes em galerias digitais. Essa atividade traz a sensação para os alunos e demais membros da sociedade de que estão próximos às obras dos mais diferentes artistas. Além disso, é uma exposição que também pode ser acompanhada de casa, no trabalho ou na rua.
Mediante a exposição de artes em galerias digitais percebe-se diversos fatores didáticos como abordam Hildebrand e Gomes (2017, p. 1157), “de fato, ao acreditar que a leitura das imagens acontece no fruir, descrever, analisar, julgar, refletir e contextualizar quando é aliada à ação de se produzir regras, que são desenhos, sons, gestos ou falas ao jogar, verificamos uma interligação de experiências.”
A inclusão das tecnologias vem enriquecer o ensino de arte, seja por meio do celular, tablet ou computador aliado à internet. Por exemplo, é possível desenvolver artes com a plataforma Gal Shir e até fazer um tour em exposições e museus digitais e ter acesso a obras de arte que estão inacessíveis a maioria das pessoas.
Netto (2022) destaca que dentro do ensino de arte pode-se desenvolver nos estudantes, no âmbito da sala de aula com o uso das metodologias ativas, o protagonista no processo de aprendizagem, a autonomia, problematização da realidade e reflexão, trabalho em equipe, a inovação, colocando o professor como um facilitador nesse processo. Ainda sobre o papel do professor nessa atuação o autor enfatiza:
As tendências educacionais deste tempo indicam um deslocamento da figura do professor (responsável pelo processo de ensino) para o estudante (novo protagonista de aprendizagem), em aprendizagens que tenham sentido e que contribuam para desenvolver habilidades e competências aderentes ao processo de formação ao qual o estudante está vinculado (Netto, 2022, p. 2).
Além disso, Siolaril e Kruger (2018, p. 2) apresentam que “a Metodologia Sala de Aula Invertida pode contribuir na aprendizagem dos educandos, pois cria-se um estudo personalizado, utilizando da tecnologia, uma área muito explorada pelos alunos, podendo estimulá-los a ter maior participação em sala de aula.” Isso faz com que haja uma melhor interpretação das artes e culturas visuais, aprimorando o aprendizado na disciplina de arte com alunos com melhor capacidade de leitura, de contextualização e do fazer.
Destarte, entende-se que o trabalho com as metodologias ativas nas aulas de arte tem um potencial a ser explorado possibilitando um aprendizado significativo com o pressuposto de “uma prática pedagógica mais dinâmica, participativa, colaborativa, divertida, instigante e autônoma para o estudante, possibilitando-o uma aprendizagem significativa para a vida além da sala de aula” (Martins, Fernandes et al Pereira, 2020, p.1).
Reafirmando o que apresentam outros autores, “existem várias possibilidades de Metodologias Ativas, com potencial de levar os alunos a aprendizagem para a autonomia, e de um indivíduo crítico” (Borges e Alencar, 2014, p.130). A autonomia é um elemento importante, mas deve-se reforçar que o professor é um mediador nessa ação.
Segundo Rodrigues, Souza e Treviso (2017), resultam em melhores resultados entre arte e tecnologia, a pintura, escultura, música, teatro, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial, fotografia, arte gráfica, cinema, televisão, vídeo e computação. Ainda dentro das metodologias ativas pode-se propor em sala de aula a arte românica e gótica, incluído como um desafio para os estudantes a criarem projetos de arquitetura.
Outro benefício que pode ser criado a partir dessas ferramentas é a democratização dos museus no Brasil, também com a metodologia ativa “Aprendizagem Baseada em Problemas” a partir da criação de um QR code, uso do padlet, museu virtual que possibilitaria o acesso aos museus brasileiros diretamente da sala de aula e fora dela.
Conseguinte, Borges e Alencar (2014, p. 120) destacam sobre a problematização que está inserida dentro das metodologias “que tem como objetivo instigar o estudante mediante problemas, pois assim ele tem a possibilidade de examinar, refletir, posicionar-se de forma crítica.”
Segundo Castellar e Moraes (2016) as situações problemáticas, estudo qualitativo, tratamento científico e manipulação reiterada dos novos conhecimentos também podem ser trabalhados em sala de aula dentro das estratégias de aprendizagem investigativa e das metodologias ativas.
Portanto, para almejar o sucesso do ensino e aprendizagem na disciplina de Arte é importante estabelecer uma boa relação de convívio entre educadores e educando, assim como encontros com o setor pedagógico para acompanhamento das metodologias aplicadas em sala de aula que tem um dos objetivos a realização das atividades práticas que colaboram no processo de aprendizagem. Desenvolver o senso crítico, a empatia, ações colaborativas e solução de problemas também faz parte dessa construção.
Entender a escola como o lugar em que o aluno organiza seu conhecimento, compreende os conceitos científicos e entende que esse conhecimento é um produto social tem sido um dos enfoques nos estudos de quem trabalha na área de Metodologia de Ensino (Castellar et al Moraes, 2016, p. 53).
O ambiente escolar é um espaço de construção de conhecimento e o trabalho realizado em conjunto com educando e educador por meio das metodologias ativas preparam cidadãos mais capacitados para o mercado de trabalho e como cidadãos por intermédio da disciplina de arte que abrange diversas ciências. O trabalho realizado em sala de aula tem como finalidade deixar as aulas menos expositivas e cansativas.
Logo, os estudantes estarão capacitados para desenvolver novas ações e se tornarão sujeitos ativos, assim como os professores terão seu conhecimento aprimorado e exercer atividades enriquecedoras na sala de aula, pois as metodologias ativas proporcionam trocas e incremento de conhecimentos independentemente da formação; sujeitos críticos, pensantes, participativos e propositivos.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A expressão “metodologia ativa” não está explícita na BNCC, mas está relacionada aos princípios de autonomia, protagonismo etc., para estímulo às práticas de criar, produzir, refletir, entre outras formas de expressar arte. Entre as habilidades baseadas nas metodologias ativas segundo a BNCC – Educação é Base, está a resolução de problemas, que pode ser realizada por meio de projeto propondo soluções, tal como investigar informações com criticidade, interagir e trabalhar em equipe, tomar decisões em equipe e sozinho, além da autogestão afetiva.
Bonato e Schneckenberg (2022) baseado na Base Nacional Comum Curricular, afirma que as metodologias ativas são uma forma de planejar o ensino que transcende ao que tem sido feito na educação ao longo dos anos, pois uma de suas finalidades é guiar o currículo de toda a Educação Básica brasileira, e tornar o aluno o protagonista do processo e do conhecimento.
O órgão ainda propõe a abordagem das linguagens no ensino de arte, na qual estão incluídas nas dimensões do conhecimento (tabela 1) e relacionadas com as artes visuais, música, dança e teatro que irá estabelecer o conhecimento de arte na instituição educadora.
Tabela 1 – Dimensões do Conhecimento
Dimensão | Descrição |
Criação | Trata-se da criação artística pelo aluno. |
Crítica | Refere-se como uma forma de expressar por meio da criação seus sentimentos, pensamento, conflitos, inquietações e opinião política, por exemplo. |
Estesia | A expressão por meio da sensibilidade do estudante, a qual envolve as emoções, intuição e intelecto, por exemplo. |
Expressão | Forma de exteriorizar ou manifestar por meio da arte, das vivências e materialidades. |
Fruição | Participação de forma a sensibilizar nas ações articulistas e culturais. |
Reflexão | Relaciona-se aos processos artísticos, criativos e culturais. |
Para melhor compreensão sobre a BNCC, refere-se a um material que deve ser atendido atenciosamente pelas instituições públicas e privadas no Brasil. A partir dele define-se os conhecimentos indispensáveis, atribuindo uma aprendizagem fundamental e igualitária. “Dessa forma, a escola é concebida como meio de equalização da distribuição do poder, e o processo educativo é visto como responsável pela socialização política e fornecedora das bases do conteúdo do próprio conhecimento” (Bonato et al Schneckenberg, 2022, p. 56).
Deve-se destacar ainda que a BNCC estabelece etapas para a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, na qual no ensino infantil propõe os Direitos de aprendizagem e desenvolvimento e campos de experiências; no ensino fundamental abrange as áreas do conhecimento, competências especificas da área, componentes curriculares e competências específicas de componente; para o ensino médio áreas do conhecimento e competências especificas da área.
Conforme Carvalho (2022), que aborda sobre o ensino de arte no novo ensino médio, a BNCC é um componente da arte focado nas linguagens das artes visuais, da dança, do teatro, do áudio visual, da música e das artes integradas que junto às metodologias ativas desenvolverão no estudante benefícios como a autonomia. Ainda para o autor “O professor de arte que conhece a BNCC e os eixos estruturantes não encontrará grandes dificuldades em inserir e promover os aprofundamentos em conhecimentos pertinentes ao seu componente curricular dos itinerários” (Carvalho, 2022, n.p.).
6. Relato de Experiência: “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada” em uma Abordagem Interdisciplinar
No contexto do currículo interdisciplinar da área de Linguagem, com foco nos temas de Saúde, Vida Familiar e Social, Diversidade Cultural, Ética e Cidadania, Gênero, Sexualidade, Poder e Sociedade, decidiu-se embarcar em uma jornada de aprendizado com os estudantes do 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública de ensino integral no município de Colatina, no estado do Espírito Santo, dentro do enfoque da metodologia Aprendizagem Baseada em problemas.
Souza e Dourado (2015, p.182) afirmam que:
A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) surge como uma dessas estratégias de método inovadoras em que os estudantes trabalham com o objetivo de solucionar um problema real ou simulado a partir de um contexto. Trata-se, portanto, de um método de aprendizagem centrado no aluno, que deixa o papel de receptor passivo do conhecimento e assume o lugar de protagonista de seu próprio aprendizado por meio da pesquisa.
Tomando como referência um problema real a partir de um contexto, a equipe optou por retratar um problema da contemporaneidade: a desigualdade social. Utilizou-se como fonte de inspiração o livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, de Carolina de Jesus.
Figura 2 – Livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina de Jesus
Esse livro, uma obra impactante de reconhecimento internacional, que narra a vida de uma mulher moradora da Favela do Canindé, em São Paulo, nos anos 1950, revelou-se uma escolha poderosa para explorar questões sociais cruciais, entre outros aspectos, porque o principal objetivo era criar uma experiência de aprendizado significativa que enriquecesse as habilidades linguísticas, culturais, artísticas e tecnológicas dos alunos e, ao mesmo tempo em que os estimulasse a refletir criticamente sobre questões sociais urgentes, como a desigualdade social, o empoderamento feminino e a democratização das artes.
No caso do ensino de artes, os Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio (PCNEM) destacam que os alunos devem aprender as diversas linguagens artísticas, pois: “[…] podem aprender a desvelar uma pluralidade de significados, de interferências culturais, econômicas, políticas atuantes nessas manifestações culturais” (Brasil, 2000, p.50).
Quanto à clientela da unidade escolar escolhida, faz-se importante esclarecer que esta é composta principalmente por alunos de comunidades periféricas e vulneráveis, que têm acesso limitado à literatura e às artes plásticas, assim como a autora da obra escolhida. Conscientes dessa realidade buscou-se proporcionar a eles uma oportunidade única de explorar a literatura e as artes, abrindo novos horizontes e ampliando suas perspectivas.
Para atingir os objetivos, adotou-se uma proposta interdisciplinar que incorporou Língua Portuguesa, Arte e Tecnologia. O projeto foi dividido em três etapas, ficando a última e mais importante – como desafio maior para os educandos.
Dentro da ABP, além da identificação do problema, é preciso desvelá-lo em sua essência, para depois, propor possíveis soluções, como ilustra a Figura 3:
Figura 3 – Etapas da ABP
Para atendimento da segunda etapa, iniciou-se com a leitura e a discussão do livro por meio da metodologia ativa Tertúlia Dialógica Literária. Nesses momentos, os estudantes tiveram a oportunidade de confrontar suas realidades com a realidade da autora, refletindo sobre as semelhanças entre suas histórias e, por consequência, estimulando-os a vislumbrar um futuro mais promissor para suas próprias narrativas. Esse momento foi de vital importância para compreensão da problemática, pois contemplou a convergência ou divergência de opiniões, troca de experiências, momentos de escuta ativa e de fala, tornando o estudante como protagonista de seu processo de aprendizagem, em convergência com a BNCC: “A aprendizagem de Arte precisa alcançar a experiência e a vivência artísticas como prática social, permitindo que os alunos sejam protagonistas e criadores” (Brasil, 2018, p.193).
Ademais:
A opção por uma metodologia de aprendizagem centrada no aluno acentua a importância da ABP, vez que, por sua aplicabilidade, estaríamos possibilitando o desenvolvimento de atividades educativas que envolvem a participação individual e grupal em discussões críticas e reflexivas. Mesmo porque esse método compreende o ensino e a aprendizagem a partir de uma visão complexa e transdisciplinar que proporciona aos alunos a convivência com a diversidade de opiniões, convertendo as atividades desenvolvidas em sala de aula em situações ricas e significativas para a produção do conhecimento e da aprendizagem para a vida. Além disso, propicia o acesso a maneiras diferenciadas de aprender e, especialmente, de aprender a aprender (Souza & Dourado, 2015, p.187).
Posteriormente, nas aulas de Arte, os estudantes foram desafiados a criar obras de arte que capturassem as passagens do livro que mais os tocaram durante as tertúlias, de modo que uma única imagem conseguisse capturar a essência de Carolina Maria de Jesus e o impacto de sua obra na vida dos estudantes. Dessa forma, cada um dos estudantes experimentou diferentes linguagens artísticas, incluindo guache sobre tela, e exploraram a relação entre a cultura erudita e popular.
Tal perspectiva vem ao encontro do pensamento de Cunha (2012, p.186):
[…] acredito que tanto a Arte Contemporânea quanto os Estudos da Cultura Visual desestabilizam nossas certezas em relação àquilo que está dado como “verdade”, instigando-nos a pensar sobre os efeitos das imagens sobre nós. Ambas me cutucam a todo o momento, questionam sobre as banalidades e complexidades cotidianas, provocam deslocamentos conceituais e, por fim, estimulam tanto um pensamento crítico sobre meus saberes, quanto uma vontade de mexer, adulterar, editar, manusear imagens, dando outros significados a elas. As proposições das obras contemporâneas, não só no campo das Artes Visuais, se aproximam ao que teoricamente os Estudos da Cultura Visual vêm tensionando, discutindo, propondo como ferramenta analítica para pensarmos a vida contemporânea, a visualidade e a potência das imagens na constituição das formas de saber, poder, conhecer e formular “realidades”.
O grande desafio surgiu na última etapa: como democratizar a arte e a literatura numa sociedade tão limitada quanto à que os acolhe enquanto berço de vivências e formação identitária? Para isso, a tecnologia desempenhou um papel fundamental, permitindo que os alunos se dividissem em grupos para pesquisar possíveis soluções para as desigualdades sociais e criar apresentações. Todo esse trabalho resultou na exposição “Entre páginas e pinceis: encontro da literatura e da arte no Quarto de Despejo”, composta pelas produções dos estudantes e exposta em um mural virtual no Padlet (Figura 4) facilitando o compartilhamento e a reflexão.
Figura 4 – Aprendizagem de arte em galerias digitais por meio do Padlet
Durante todo o projeto, avaliou-se continuamente o progresso dos alunos. Os critérios de avaliação incluíram a compreensão do livro, a qualidade das produções escritas nas legendas, a participação nas atividades de pesquisa para solução de problemas, a criatividade e expressão artística dos estudantes. Além disso, a capacidade desses construtores do conhecimento em desenvolver argumentos consistentes sobre as questões sociais abordadas no livro também foi avaliada.
Uma das realizações mais notáveis foi a exposição das obras de arte desse grupo no hall da unidade escolar, na Superintendência Regional de Educação e na Biblioteca Municipal, o que proporcionou uma oportunidade incrível para compartilhar suas perspectivas e promover a conscientização sobre as desigualdades sociais (Figura 5). O projeto foi concluído com a inscrição Prêmio SEDU Boas Práticas na Educação no estado do Espírito Santo.
Figura 5 – Exposição das obras de Arte na Biblioteca Municipal
Motivando o absorver lições inestimáveis, que agora carregam consigo em suas vidas e futuros estudos, também impulsiona e compartilha experiências transformadoras com a comunidade, destacando como a colaboração, a pesquisa e o uso das tecnologias, não só enriquecem suas próprias jornadas, como inspiram todos a sua volta a explorar conhecimentos mais amplos e alcançar conquistas verdadeiramente extraordinárias.
Outra forma que pode ser proposta aos estudantes seria a de resolução de problemas acerca da desigualdade social e a formação de grupos colaborativos. Uma das metodologias ativas relevantes é a ABP, que pode ser aplicada para a criação de diversas manifestações artísticas envolvendo a problemática da desigualdade social retratado na apresentação da canção “O pão de cada dia”, do Gabriel Pensador, criação de músicas ou peça teatral, como a versão teatral do livro (Figura 6):
Figura 6 – Livro Quarto de Despejo Teatro, de Edy Lima
Ao explorar “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” de forma interdisciplinar, conseguimos não apenas enriquecer o conhecimento dos estudantes, mas também estimular a empatia, a consciência crítica e a capacidade de agir em relação às questões sociais. Esse projeto demonstrou como a literatura e as artes podem ser poderosas ferramentas para a compreensão e a mudança social, incentivando com as lições que os estudantes levaram consigo para suas vidas e futuros estudos e dividiram com a comunidade. Para os estudantes, que têm acesso limitado à literatura e às artes, essa experiência se revelou especialmente enriquecedora, abrindo novas perspectivas e oportunidades de expressão num processo contínuo e necessário de acessibilidade aos vares saberes.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível compreender que a humanidade vive há anos usufruindo dos recursos tecnológicos e seria difícil imaginar como seria não viver sem ela, seja no trabalho, vida pessoal ou na escola/ universidade. Assim como a inclusão das tecnologias, o espaço de aprendizagem é beneficiado com a contribuição das metodologias ativas.
Levando em consideração os aspectos apresentados, conclui-se que as competências colocadas, a estrutura da BNCC que trata das metodologias ativas e da sua aplicação na disciplina de arte norteiam os profissionais da educação na disciplina, tal qual foi discutido nas dimensões do conhecimento (criação, crítica, estesia, expressão, fruição e reflexão). Como apresentado, as atividades podem ser realizadas por essas diferentes metodologias no ensino de arte na sala de aula em conjunto com os recursos tecnológicos.
O objetivo geral deste trabalho foi analisar o papel das Metodologias Ativas na promoção da aprendizagem de Arte. O trabalho em sala de aula deve favorecer a autonomia, a criatividade, o incentivo à liderança, o trabalho em equipe, o efetivo exercício da teoria e prática, quesitos explorados quando se utiliza as metodologias ativas, que estimulam a autoaprendizagem, curiosidade, reflexão, pesquisa, tomada de decisões, argumentação, indagação e solução de problemas.
O relato de experiência a partir do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, demonstrou um trabalho interdisciplinar e contextualizado, enriquecendo o conhecimento dos estudantes e estimulando a empatia, a consciência crítica e a capacidade de agir em relação às questões sociais, aspectos vitais na formação do cidadão contemporâneo.
O projeto envolvendo a aprendizagem baseada em problemas, além de possibilitar o acesso à diversas manifestações artísticas, permitiu que os estudantes democratizassem o acesso ao conhecimento e à inclusão digital, possibilitando-lhes a entrada em galerias digitais e a formação de grupos de pesquisa para buscar soluções para as desigualdades sociais, bem como criar apresentações utilizando recursos tecnológicos.
O tripé ensino de arte, tecnologia e metodologia é promissor, exige investimentos na formação continuada de docentes e ampliação da discussão em posteriores pesquisas na referida área.
REFERÊNCIAS
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¹Mestrado em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University). Especialização em Arte (UNICIB). Especialização Em Gestão Escolar Integradoras Supervisão, Orientação e Inspeção Educacional (UCAM). Especialização em Ensino Religioso (UCAM). Tecnóloga em Administração de Pequenas e Médias Empresas (UNOPAR); Especialização em Gestão Empresarial (UNESC) Licenciada em Pedagogia (UNOPAR). Licenciada em Artes Visuais (Claretiano). dpassosramos2019@gmail.com
²Doutorado em Educação (UFSCar). Mestrado em Educação (PUCC). Especialização em Atendimento Educacional Especializado na perspectiva da Educação Inclusiva (UNESP). Especialização em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação à Distância (UFF). Especialização em Educação Física Escolar (FEFISA). Licenciatura em Pedagogia (Uniderp). Educação Física (UNIMEP). Professora orientadora do curso de Mestrado em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University). Email: azmartinati@gmail.com