EFEITO DA MOBILIZAÇÃO NEURAL EM PORTADORES DE HANSENÍASE: UMA REVISÃO DE LITERATURA

EFFECT OF NEURAL MOBILIZATION IN LEPROSY PATIENTS: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10483084


Reisla Délis Silva de Almeida 1; Roberto Oliveira Guimarães 2; Samara Karine Carvalho Sena 3; Adriele Lins Silva 4; Ana Letícia Santos do Nascimento 5; Aretusa Lopes Cavalheiro 6; Carine Laura de Andrade 7; Juliana Araújo Brandão 8; Keyse Rafaela Nascimento dos Santos 9; Lilian Cristina Silva Santos Magri 10; Matheus Oliveira Nery de Freitas 11


Resumo

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, onde as vias aéreas superiores constituem, provavelmente, a principal porta de entrada e via de eliminação do bacilo. Os sintomas mais presentes dessa condição consistem em dor, choque à palpação, diminuição de força muscular e de sensibilidade no trajeto do nervo acometido. Indivíduos com outras síndromes que apresentam sintomas similares à hanseníase têm tido benefícios com a técnica de mobilização neural. Diante disso, objetivou-se realizar uma revisão de literatura com o intuito de analisar o efeito da mobilização neural em indivíduos portadores de hanseníase. Para tal, desenvolveu-se uma busca nas bases de dados Scielo, LILACS, Pubmed, PEdro, periódicos Capes, Google Acadêmico, utilizando os termos Mobilização Neural; Hanseníase; Doença de Hansen; Neural Mobilization; Leprosy. Foram selecionados estudos disponíveis na íntegra, no idioma português e inglês, com ano de publicação de 2000 a 2022. Assim, integraram quatro estudos que avaliaram o efeito da mobilização neural em indivíduos portadores de hanseníase, onde demonstraram que a técnica se mostrou benéfica para diminuir a percepção de dor; melhorar a sensibilidade palmar; a força de preensão palmar e dos membros inferiores; a função nervosa em membros superiores e inferiores; a qualidade de vida e, ainda, reduzir o grau de incapacidade física nos indivíduos acometidos pela hanseníase.

Palavras-chave: Mobilização Neural. Hanseníase. Grau de Incapacidade Física. Reabilitação. Fisioterapia.

1   INTRODUÇÃO

A hanseníase ainda é um relevante problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento (ARAÚJO et al, 2014). Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2019 foram notificados 202.185 novos casos de hanseníase globalmente, o que corresponde a uma taxa de detecção de 25,9 casos por 1 milhão de habitantes. Seguindo uma tendência observada nos anos anteriores, cerca de 80% dos casos novos do mundo ocorreram em apenas três países: Índia (56,6% dos casos), Brasil (13,8%) e Indonésia (8,6%), mostrando que há uma grande necessidade de controle da comorbidade e dos impactos gerados na saúde da população acometida (WHO, 2020; BRASIL, 2022).

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae (M. leprae), onde as vias aéreas superiores constituem, provavelmente, a principal porta de entrada e via de eliminação do bacilo. A transmissão ocorre pelo contato direto de pessoa para pessoa, e é facilitada pelo convívio de doentes não tratados com indivíduos susceptíveis (BRASIL, 2002; ARAÚJO, 2003).

O M. leprae afeta primariamente os nervos periféricos e a pele, podendo acometer também a mucosa do trato respiratório superior, olhos, linfonodos, testículos e órgãos internos, de acordo com o grau de resistência imune do indivíduo infectado. O comprometimento dos nervos periféricos geralmente é múltiplo e assimétrico, muitas vezes com presença de espessamento, dor e choque à palpação, associado à diminuição de força muscular e hipoestesia no território correspondente (BRASIL, 2022). 

Essa comorbidade, quando diagnosticada e tratada tardiamente, pode gerar graves consequências, como incapacidade física nos olhos, nas mãos e nos pés, podendo evoluir, inclusive, para instalação de deformidades decorrentes do comprometimento dos nervos periféricos. Nota-se que essa incapacidade física acomete aproximadamente 23,0% dos pacientes com hanseníase após a alta (GONÇALVES, SAMPAIO & ANTUNES, 2009; ARAÚJO et al, 2014)

Na evolução natural da doença, ocorrem inicialmente complicações da sensibilidade térmica: hiperestesia, seguidas de hipoestesia e, após algum tempo, anestesia. Em seguida, ocorre perda progressiva da sensibilidade dolorosa e, por último, da tátil (GOULART, PENNA & CUNHA, 2002; ARAÚJO et al, 2014). Em estágios mais avançados da manifestação clínica, encontramos o comprometimento neural troncular, capaz de trazer repercussões tais como parestesias – formigamentos, choques, câimbras – e paresias musculares, sendo observado, ainda, que a sintomatologia dolorosa está entre as mais incapacitantes da hanseníase (TRINDADE & NEMES, 1992; PUCCI, 2011; ARAÚJO et al, 2014).

Os sintomas neurológicos apresentados nessa condição são bem semelhantes àqueles promovidos por síndromes nervosas compressivas. Essas síndromes ocorrem, frequentemente, em locais cuja mobilidade do nervo periférico se torna mais restrita devido à sua relação anatômica com outras estruturas (CABRAL, 2014). Desta forma, em algumas regiões, durante a atividade motora normal, os troncos nervosos sofrem maior estresse mecânico e, devido a presença da M. leprae, e para outros indivíduos, a presença de alterações biomecânicas associadas a atividades motoras vigorosas ou repetitivas, podem desenvolver um processo inflamatório nestas regiões em decorrência de microlesões (CABRAL, 2014).

Um recurso, não farmacológico, que tem se mostrado benéfico no tratamento de síndromes compressivas é a mobilização neural. Nesses casos, pesquisam mostram que indivíduos submetidos a essa intervenção apresentaram melhora da dor, aumento da amplitude de movimento e da força muscular e, ainda, melhora da funcionalidade (BRANCO, 2018; DOS SANTOS e METZKER, 2020; OLIVEIRA 2020; PEREIRA et al, 2023). A técnica tem o objetivo de restaurar o movimento e a elasticidade do sistema nervoso, propiciando retorno às suas funções normais (OLIVEIRA JUNIOR e TEIXEIRA, 2007).  

A mobilização neural parte do princípio de que um comprometimento na mecânica do sistema nervoso, envolvendo movimento, elasticidade, condução e fluxo axoplasmático, pode resultar em outras disfunções do sistema nervoso ou em estruturas que recebem sua inervação (DE OLIVERIRA JUNIOR & TEIXEIRA, 2007). Desta forma, o restabelecimento da biomecânica adequada, por meio de movimentos específicos associados a aplicação de uma força mecânica/tensão, permite recuperar a distensibilidade e a função normal do nervo. (DE OLIVERIRA JUNIOR & TEIXEIRA, 2007; SANZ et al, 2018; DOS SANTOS e METZKER, 2020).

Considerando as repercussões funcionais nos indivíduos com síndromes compressivas e sua similaridade com hanseníase, esse trabalho tem o objetivo de realizar uma revisão de literatura com o intuito de analisar o efeito da mobilização neural em indivíduos portadores de hanseníase. 

2   METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão de literatura, da qual foi discorrida de forma narrativa, compreendendo pesquisas e estudos que analisaram o efeito da mobilização neural em pacientes com hanseníase. A busca foi realizada no período de setembro a novembro de 2023 nas bases de dados Scielo, LILACS, Pubmed, PEdro, periódicos Capes, Google Acadêmico. 

Para identificação dos manuscritos, as palavras-chave utilizadas foram “Mobilização Neural”; “Hanseníase”; “Doença de Hansen”; “Neural Mobilization”; “Leprosy”. Os critérios de inclusão consistiram em estudos disponíveis na íntegra, no idioma português e inglês, com ano de publicação de 2000 a 2022. Foram excluídos resumos publicados em anais de congressos, estudos duplicados, artigos de opinião, portarias, editoriais e trabalhos que não abordavam a variável de interesse.

3   RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Integraram essa revisão quatro estudos que avaliaram o efeito da mobilização neural em indivíduos portadores de hanseníase, sendo que dois estudos (VÉRAS et al., 2011; VÉRAS et al., 2012) realizaram a intervenção em nervos dos membros inferiores e, os demais (CABRAL, 2014; SHAH et al., 2020) nos membros superiores. 

Os estudos selecionados na pesquisa, conforme os critérios de inclusão e exclusão mencionados acima estão descritos na tabela 1, organizado por autor e ano, título do estudo, objetivo e os desfechos significativos.

Tabela 1: Caracterização dos estudos sobre a mobilização neural em portadores de hanseníase (n = 4), 2023.

AUTORES (ANO)TÍTULOOBJETIVODESFECHOS SIGNIFICATIVOS
VÉRAS et al. (2011)Avaliação da dor em portadores de hanseníase submetidos à mobilização neural.Avaliar o efeito da técnica de mobilização neural sobre a percepção da dor em portadores de hanseníase.Redução dos níveis de dor nos indivíduos portadores de hanseníase com lesão do nervo fibular comum que foram submetidos ao tratamento de mobilização neural.
VÉRAS et al. (2012)Electromyography function, disability degree, and pain in leprosy patients undergoing neural mobilization treatment.Avaliar o efeito da técnica de mobilização na função eletromiográfica, grau de incapacidade e dor em pacientes com hanseníase.Melhora da função neural, bem como dos níveis eletromiográficos de força muscular; redução do grau de incapacidade e da percepção de dor em pacientes com hanseníase.
CABRAL (2014)Análise da ação do tratamento de mobilização neural em pacientes com neuropatia hansênica.Analisar se a técnica de mobilização neural pode trazer algum benefício aos pacientes com alteração funcional decorrente da hanseníase.Melhora da qualidade de vida; da sensibilidade palmar; da força de preensão palmar e da percepção de dor em pacientes com hanseníase.
SHAH et al. (2020)Effect of neural mobilization on grip strength and nerve conduction in leprosy.Verificar o efeito da mobilização neural, como tratamento não farmacológico, na força de preensão e na função nervosa de indivíduos com hanseníase.Melhora da força de preensão e da condução nervosa em indivíduos com hanseníase.

 VÉRAS et al. (2011) avaliou o efeito da técnica de mobilização neural sobre a percepção da dor em portadores de hanseníase, com lesão do nervo fibular comum, com tempo de diagnóstico entre um ano e meio e dois anos, com fraqueza do músculo tibial anterior, com grau de incapacidade física 1 e/ou 2. A amostra contou com 56 participantes que foi randomizada em dois grupos: 27 participantes no grupo controle (GC) e 29 no grupo experimental (GE).  O GC consistiu em tratamento fisioterapêutico convencional com cinesioterapia e estimulação elétrica funcional, além de orientações de exercícios de alongamento e fortalecimento a serem realizados em domicílio. Já o GE consistiu na realização de mobilização das raízes lombossacrais e do nervo ciático com viés para o nervo fibular. Ambos os grupos foram submetidos à dezoito atendimentos, com frequência de três vezes na semana, totalizando 6 semanas. 

 Ao analisar os resultados intra grupo, pré e pós intervenção, nota-se que o GE apresentou redução significativa na percepção de dor. Ainda, ao se analisar intergrupo, este mesmo grupo (GE) também se mostrou com níveis de dor significativamente menores em relação ao GC, após a intervenção (VÉRAS et al., 2011). Esse é um importante achado visto que, uma grande parcela dos portadores de hanseníase apresenta diferentes tipos de queixas álgicas, sendo que em alguns indivíduos podem apresentar-se incapacitados, em consequência da dor, para desenvolver as atividades laborais e, até mesmo, as atividades de vida diária (PUCCI, 2011). 

 VÉRAS et al. (2012) realizou outras análises utilizando a mesma amostra, grupo experimental e grupo controle do estudo mencionado anteriormente (VÉRAS et al., 2011). Além da percepção de dor, que nessa publicação também expõe uma melhora no grupo que foi submetido a mobilização neural, foram examinados a função eletromiográfica do músculo tibial anterior e o grau de incapacidade física da população antes e após a intervenção (VÉRAS et al., 2012).

Em relação a função eletromiográfica do músculo tibial anterior, houve aumento significativo em ambos os membros – inferior direito e inferior esquerdo – bem como em ambos os grupos, mostrando uma melhora na função nervosa. Ao verificar a força no movimento de extensão horizontal e dorsiflexão plantar, foi constatado, também, aumento significativo nos membros inferior direito e esquerdo após a mobilização neural; e, quando comparado inter grupo pós intervenção, nota-se melhora significativa no grupo experimental. 

Em casos avançados da hanseníase, pode ocorrer o comprometimento do nervo fibular resultando em uma diminuição de força muscular dos dorsiflexores plantares ou eversores do pé e, consequentemente, nota-se que o pé cai, instalando uma deformidade chamada de “pé caído” (ESTACIO, 2015). Essa condição propicia a compensação de articulações adjacentes levando à grande prejuízo da marcha do indivíduo. Dessa forma, o aumento da força do músculo tibial anterior encontrado por VÉRAS et al. (2012) previne a instalação do “pé caído” melhorando a funcionalidade dos indivíduos com hanseníase.

Ao observar o grau de incapacidade física (GIF), notou-se que apenas o grupo que realizou a mobilização neural teve melhora significativa, tendo uma regressão do GIF 2 para o 1 (VÉRAS et al., 2012). O formulário de avaliação neurológica simplificada, que resulta na classificação do GIF, é uma medida que indica a existência de perda da sensibilidade protetora e/ou deficiências visíveis, em consequência da lesão neural. O grau é obtido por meio de inspeção, exame da sensibilidade, da força muscular em olhos, mãos e pés (BENEDICTO, 2017). 

A classificação do GIF 2 é obtida quando há deformidade visível em algum desses segmentos mencionados anteriormente, sendo que, nos pés pode ser considerada a presença de artelhos em garras, reabsorção óssea, atrofia muscular, pé caído, contratura e ferida (BENEDICTO, 2017). O GIF 1 considera a paresia sem deficiências visíveis das pálpebras, das mãos e dos pés e/ou hipoestesia ou anestesia corneana, da região palmar e/ou plantar; já o GIF 0 é considerando quando a força e sensibilidade dessas regiões se apresentam preservadas (BENEDICTO, 2017).

GAUDENCI et al. (2015) observou em sua pesquisa uma relação de piora nos escores de qualidade de vida – nos domínios físico, psicológico e relações sociais – naqueles pacientes que eram classificados como GIF 2. Isso sugere que uma mudança de GIF 2 para o GIF 1, encontrado no estudo de VÉRAS et al. (2012), possa trazer repercussões benéficas na saúde dos indivíduos; uma vez que, estas incapacidades e deformidades podem acarretar alguns problemas, tais como diminuição da capacidade de trabalho, limitação da vida social e problemas psicológicos (BRASIL, 2002).

 O estudo de CABRAL (2014) corrobora com VÉRAS et al. (2011) e VÉRAS et al. (2012) ao também constatar uma melhora na percepção de dor, após a mobilização neural, nos pacientes portadores de hanseníase. Entretanto, no estudo de CABRAL (2014), na descrição do perfil amostral, não fica evidente em qual segmento do corpo os indivíduos apresentavam dano neural. O autor apenas descreve que incluiu na pesquisa pacientes que tivesse dano neural devido à hanseníase, independentemente de sua forma de apresentação clínica; com diagnóstico recebido da médica Dermatologista da Universidade em que se passou a pesquisa.

Dessa forma, não há como afirmar, mas infere-se que o acometimento neural dos participantes do grupo fosse no nervo radial, mediano e/ou ulnar, pois os instrumentos de avaliação utilizados no estudo, bem como as técnicas de mobilização neural, foram realizados nos membros superiores; sendo que a intervenção teve frequência semanal de 2 a 3 vezes; totalizando no mínimo 12 atendimentos, com duração aproximada de 4 a 6 semanas.

 CABRAL (2014) obteve outros resultados interessantes, além da melhora na percepção de dor: apresentou evolução positiva de todos os domínios do questionário de qualidade de vida SF-36 – capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, limitação por aspectos emocionais, saúde mental – mas significativamente, apenas no domínio dor; ainda, mostra melhora da força de preensão palmar, bem como da sensibilidade palmar, que esta se manteve mesmo após um mês de término da intervenção.

 Os achados de CABRAL (2014) são atraentes, no entanto, apenas 6 indivíduos participaram de todas as etapas do estudo até sua finalização. O autor desejou uma amostra de 15 pacientes, porém, iniciou o estudo apenas com 9, sendo que, destes, dois participantes abandonaram o tratamento e um foi excluído devido à precária condição de saúde. Diante disso, há necessidade da reprodução dessas etapas em uma população maior para consolidação desses achados. 

SHAH et al. (2020) desenvolveu uma pesquisa com uma amostra mais expressiva, sendo composta por 30 pessoas portadores de hanseníase com lesão do nervo mediano, fraqueza do músculo tenar da mão, com alteração de sensibilidade palmar e na face lateral das mãos, com paciente em tratamento ou que já tivesse alta medicamentosa, apresentando algum grau de incapacidade física na avaliação neurológica simplificada para mãos e pés. 

Os participantes foram randomizados em: grupo controle (GC) composto por 15 indivíduos submetidos a fisioterapia convencional e o grupo experimental (GE) composto, também, por 15 indivíduos, sendo estes submetidos à fisioterapia convencional associado a mobilização do nervo mediano. Os integrantes de ambos os grupos foram submetidos à intervenção de 50 minutos, três vezes por semana, durante oito semanas. 

Antes da intervenção, o grupo controle e o grupo experimental não demonstraram diferença significativa na força de preensão manual e na função nervosa, no entanto, após a intervenção, podemos notar alguns pontos interessantes: em relação à força de preensão manual, quando analisado intragrupo GC e GE, observa-se um aumento significativo no grupo experimental comparado ao grupo controle. Ainda, quando o GE foi comparado ao GC quanto à diferença pré e pós-intervenção, observamos que existe uma diferença significativa. 

Ao analisar a função nervosa, tanto para a velocidade de condução nervosa e amplitude de potencial, observa-se o mesmo fenômeno: aumento significativo apenas no grupo experimental no pré e pós teste; e, quando se realiza a comparação entre grupos na diferença pré e pós-intervenção, também se observa aumento significativo.

CABRAL (2014) e SHAH et al. (2020) trouxeram dados de extrema relevância, uma vez que o aumento da condução nervosa em membros superiores, e aumento da força de preensão palmar, melhoram a movimentação da mão. Está, se apresentando íntegra e/ou funcional, permite que o indivíduo realize as atividades de vida diária – tais como tomar banho, vestir-se, alimentar-se – bem como, atividades instrumentais de vida diária – como preparar suas próprias refeições; separar e ingerir seus próprios medicamentos – proporcionando maior independência para o portador de hanseníase (SÁ, 2014). 

Para complementar a análise, destaca-se que SANTOS (2016) realizou uma revisão de literatura com o intuito de verificar a mobilização neural como recurso para avaliação e tratamento de pacientes com hanseníase. Em sua busca, foram incluídos apenas artigos originais publicados nas principais bases de dados, entre os anos de 2010 e 2014 e que estivessem disponíveis na íntegra. Como resultado, considerando a técnica como tratamento, e não avaliação, foram encontrados apenas dois artigos: o trabalho de VÉRAS et al. (2011) e VÉRAS et al. (2012). 

Após oito anos da realização da pesquisa de SANTOS (2016), o presente estudo buscou na literatura o efeito da técnica na mesma população, levando em consideração aqueles que foram utilizados como recurso para tratamento. Foram encontrados apenas quatro estudos, ou seja, dois a mais em relação aos resultados de SANTOS (2016), metade abordando os membros superiores e a outra metade os membros inferiores. 

Diante do exposto, uma vez que a hanseníase ainda é uma comorbidade altamente prevalente no mundo, nota-se a necessidade de maior investimento nos estudos abordando a técnica de mobilização neural nessa população, visto que se mostra como uma boa alternativa, não farmacológica, de baixo custo, capaz de gerar impactos positivos na saúde geral desse público.

4   CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dessa pesquisa, foi possível notar que a técnica de mobilização neural tem grande efeito na percepção da dor em indivíduos com comprometimento neural proveniente da Mycobacterium leprae. Ainda, foi possível observar melhora na sensibilidade palmar; na força de preensão palmar e dos membros inferiores; na função nervosa em membros superiores e inferiores; na qualidade de vida e redução do grau de incapacidade física nessa população.

Tais achados demonstram que, ainda que a técnica de mobilização neural impacte positivamente na vida dos pacientes com hanseníase, há necessidade de estudos com número maior de participantes, com diferentes graus de incapacidade física, para preencher essa grande lacuna do manejo da saúde desses indivíduos.

REFERÊNCIAS

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1 Fisioterapeuta da Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: reisladelis@gmail.com
2 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: roberto_rog@hotmail.com
3 Fisioterapeuta do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: samarakarinecs@yahoo.com.br
4 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: adri.linsh@gmail.com
5 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: leticiasantosphb@hotmail.com
6 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: aretusalc@hotmail.com
7 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: cariine.andrade@hotmail.com
8 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas de Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: juliana.abrandao@hotmail.com
9 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH. e-mail: rafaeladrk@gmail.com
10 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: lilian_magri@hotmail.com
11 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: matheusnery_6@hotmail.com