DORES MUSCULOESQUELÉTICAS ASSOCIADAS AO TRABALHO AGRÍCOLA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

MUSCULOSKELETAL PAIN ASSOCIATED WITH AGRICULTURAL WORK: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10440571


Aline Magalhães Cotrim [1]
Beatriz Soares dos Santos [2]
Hyan Rocha Figueiredo [3]
Tarcísio Viana Cardoso [4]
Romeu Costa Moura [5]
Pablo Figueiredo Maciel[6]


Resumo

O trabalho agrícola requer atividades exaustivas e movimentos repetitivos, o que demanda esforços do trabalhador rural e pode gerar dores musculoesqueléticas. Mesmo em meio a era tecnológica, o trabalho manual ainda prevalece, expondo continuamente esta população específica a posturas corporais errôneas que por um tempo prolongado podem provocar impactos na saúde do agricultor. O objetivo deste estudo é revisar a literatura acerca das dores musculoesqueléticas associadas ao trabalho agrícola. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, onde foram realizadas as buscas nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Periódicos CAPES, PubMed e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). As buscas foram realizadas em inglês utilizando os seguintes DeCS/MeSH: “Rural Health” e “Musculoskeletal Pain”, associados pelo operador “AND”. Os critérios de inclusão foram: artigos originais, tempo de publicações entre 2003 a 2023, artigos em bases indexadas, e que especificasse a associação do objetivo com dores musculoesqueléticas. Ao todo encontrou-se 1.005 artigos, onde foram pré-selecionados 60 artigos utilizando tais critérios de inclusão, desses foram excluídos 23 artigos por estarem duplicados, resultando em 37 artigos para leitura completa, dos quais foram selecionados 19 artigos para a estratificação dos dados específicos. Com a análise dos estudos, ficou evidente que a população agrícola apresenta dores musculoesqueléticas e, em grande maioria, estão associadas à situação ocupacional. Destarte, mostra-se necessária a melhoria nos serviços de saúde pública, ações de vigilância em saúde do trabalhador, garantia de condições de trabalho e de campanhas para a aderência da população aos serviços ofertados, inclusive de prevenção.

Palavras-chave: Agricultores. Dor musculoesquelética. Saúde do trabalhador rural.

ABSTRACT

Agricultural work requires exhausting activities and repetitive movements, which demand efforts from the rural worker and can cause musculoskeletal pain. Even in the midst of the technological era, manual work still prevails, continuously exposing this specific population to erroneous body postures that, for a prolonged period of time, can cause impacts on the health of the farmer. The aim of this study is to review the literature about musculoskeletal pain associated with agricultural work. This is an integrative literature review, where searches were carried out in the following databases: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Periódicos CAPES, PubMed e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). The searches were performed in English using the following DeCS/MeSH: “Rural Health” and “Musculoskeletal Pain”, associated by the operator “AND”. Inclusion criteria were: original articles, publication time between 2003 and 2023, articles in indexed databases, and that specified the association of the objective with musculoskeletal pain. In all, 1,005 articles were found, where 60 articles were pre-selected using these inclusion criteria, of which 23 articles were excluded because they were duplicated, resulting in 37 articles for complete reading, of which 19 articles were selected for the stratification of specific data. With the analysis of the studies, it became evident that the agricultural population presents musculoskeletal pain and, in the great majority, they are associated with the occupational situation. Thus, it is necessary to improve public health services, worker health surveillance actions, guarantee working conditions and campaigns for the population to adhere to the services offered, including prevention.

KEYWORDS: Farmers. Musculoskeletal Pain. Rural health.

1 INTRODUÇÃO

O trabalho agrícola define-se como parte necessária do meio organizacional das produções agropecuárias, em que desempenha a forma de sustento de famílias no campo, além de obter cunho significativo para o desenvolvimento econômico rural e social (WANDERLEY, 2014; ELIAS et al., 2019; SANTOS et al., 2023). Aliás, Elias et al. (2019) e Santos et al. (2023) acrescentam a colaboração no crescimento sustentável através da produção de alimentos com o setor agrícola, sendo de suma importância para a segurança alimentar e nutricional.

Conforme Bang et al. (2021b), o trabalho agrícola exige esforços físicos, os quais podem acarretar no surgimento de dores. Grande parte das tarefas exigem trabalhos manuais pesados, movimentos por exemplo, de fletir e rotacionar o tronco, e levantar peso contribuem para o surgimento da dor lombar. Já os movimentos de escavação e transportar cargas por meio da força braçal levam a dores na cervical e nos membros superiores (BANG et al., 2021b). Ademais, na realização de outras atividades em que ficam em posições mais estáticas, adotando posturas errôneas por longos períodos, levam a graves problemas musculoesqueléticos, dentre eles, a dor (KAUR & VAISH, 2022).

Outro fator que contribui para o desenvolvimento de dores musculoesqueléticas é a falta de tempo de qualidade para descanso e recuperação, que como consequência pode resultar no aumento do estresse, evidenciando assim, os danos que a atividade agrícola pode acarretar na saúde (KIM & SHIN, 2011; LOBLEY, WINTER & WHEELER, 2019; WHEELER &

LOBLEY,2022). Ainda, Trask et al. (2014) afirmam que a população agrária possui menor acesso aos serviços de saúde, o que pode agravar ainda mais suas dores.

Sabe-se que, com o desenvolvimento da tecnologia, muitas funções são realizadas por máquinas, entretanto, aqueles que ainda utilizam o trabalho braçal desempenham um papel mais pesado e intenso (MIN et al., 2016). A propósito, quando comparado a outras ocupações, é visto que os agricultores estão mais propensos a desenvolverem dores musculoesqueléticas que são repercutidas por todo o corpo, sendo que os membros superiores costumam ser usados em movimentos repetitivos, além das posturas erradas, e do grande esforço físico (PHAJAN et al., 2014; MIN et al., 2016).

Dentre os sintomas musculoesqueléticos mais específicos, é possível citar: ombro, pescoço, punho, mão, cotovelo, parte superior das costas, lombar, joelho e tornozelo, sendo que os locais com maior predominância a dores musculoesqueléticas diferem de acordo as atividades mais executadas pelos agricultores, e vale ressaltar que a presença de dor não surgirá necessariamente em apenas um local, ou seja, pode afetar diversos sítios anatômicos (BANG et al., 2021b; KAUR & VAISH, 2022).

Segundo Bang et al. (2021a), devido às dores, os agricultores apresentam limitações leve a moderada em algumas atividades, tanto nas agrícolas quanto nas domésticas, tarefas como, sentar e deambular por um período longo, subir degraus, flexionar o tronco para levantar peso, agachar, realizar a colheita, entre outros.

Diante desse contexto, o presente estudo tem como objetivo revisar a literatura acerca das dores musculoesqueléticas associadas ao trabalho agrícola.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão integrativa de literatura. Conforme Souza, Silva & Carvalho (2010), as fases do processo de construção desse tipo de revisão, são: primeira fase – elaboração da pergunta norteadora; segunda fase – busca ou amostragem na literatura; terceira fase – coleta de dados; quarta fase – análise crítica dos estudos incluídos; quinta fase – discussão dos resultados; sexta fase – apresentação da revisão integrativa.

Os dados buscados para essa pesquisa foram coletados entre os meses de fevereiro e março de 2023 nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) (encontrados: 218 e selecionados: 7); Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

(LILACS) (encontrados: 15 e selecionado: 1); Periódicos CAPES (encontrados: 526 e selecionados: 14); PubMed (encontrados: 244 e selecionados: 8); Scientific Eletronic Library Online (SciELO) (encontrados: 2 e selecionado: 0). As identificações dos artigos ocorreram através dos seguintes descritores contidos no DeCS/MESH – (Descritores em Ciências da Saúde/Medical Subject Headings): “Rural Health” e “Musculoskeletal Pain”, onde foram pesquisados no idioma inglês e associados pelo operador booleano “AND”.

Os critérios de inclusão utilizados nesse estudo foram: artigos originais, tempo de publicações na série histórica entre 2003 a 2023, artigos em bases indexadas, e que especificassem a associação do objetivo com dores musculoesqueléticas. Já o critério de exclusão foi aplicado para artigos que se encontravam duplicados.

Por se tratar de uma pesquisa a partir de revisões em literaturas pré-existentes, não se fez necessária a submissão desse trabalho ao Comitê de Ética em Pesquisa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A figura 1 apresenta um fluxograma indicando o processo para seleção dos artigos incluídos no presente estudo. Ao todo, encontrou-se 1.005 artigos, onde, após a leitura de título e resumo foram pré-selecionados 60 artigos utilizando os critérios de inclusão, desses foram excluídos 23 artigos por estarem duplicados, resultando em 37 artigos para leitura completa e aprofundada, após essa fase, foram selecionados 19 artigos completos para a estratificação dos dados específicos por estarem completamente associados ao objetivo desse estudo.

Figura 1 – Fluxograma de seleção criteriosa de estudos para revisão integrativa de literatura

O quadro 1, apresenta os dados selecionados para compor esse estudo, onde contém as informações de: ano, título, autor (es), base de dados, local de estudo, resultados e considerações.

Além dos estudos selecionados para compor o quadro 1, também foram incluídos outros artigos nacionais e internacionais que não estavam indexados nas bases de dados, para complementação da discussão.

Quadro 1 – Apresentação dos dados selecionados para o estudo

AnoTítuloAutoresTipo de estudosBase de dadosLocal de estudoResultadosConsiderações
2003The impact of physical work exposure on musculoskel- etal symptoms among farmers and rural non- farmers. A population- based studyHolmberg et al.Estudo de coorte transversal de base populacionalPeriódicos CAPESSuéciaOs agricultores relata- ram valores significa- tivos altos sobre os não agricultores em relação aos sintomas musculoesqueléticos na região lombar (67,7% – 57,7%) e do quadril (31,7% – 21,6%). Além disso, em outros quesitos, como, carga de trabalho, sono, carga horária de serviço e posicionamento de trabalho difíceis, os agricultores apresentaram relativamente uma maior porcentagem do que os referentes, já em tempo de férias e realização de atividade física de lazer houve um percentual menor. No entanto, relacionadas aos problemas no pescoço e nos ombros o grupo de não agricul-tores    obteve maior prevalência.Diante dos estudos houve maior prevalência de dores musculoesqueléticas em agricultores na região do quadril e da lombar do que nos não agricultores, mesmo levando em consideração as exposições de trabalho físico.
2005Low back pain comorbidity among male farmers and rural referents: a population- based studyHolmberg et al.Estudo transversal de base populacionalPubMed, Biblioteca Virtual em Saúde e Periódicos CAPESSuéciaO presente estudo contou com a participação de homens rurais que possuíam trabalho em lavouras e referentes que possuíam outra forma de trabalho. 64% dessa população estudada relatou lombalgia al- guma vez, sendo mais presente o relato de lombalgia nos agricultores. A prevalêcia da lombalgia também foi associada a relatos de sintomas em pescoço, mãos, qua- dris e joelhos.No estudo foi observado uma associação de lombalgia com distúrbios tanto digestório e respiratório, e febre. Sendo a presença dos distúrbios responsáveis pelo aumento do dobro da prevalência dessa dor.
2009Musculoskel- etal pain in women working in small-scale agriculture in South AfricaNaidoo et al.Estudo de coorte transversalPubMed e Periódicos CAPESKwaZulu- Natal, África do SulA idade avançada, levantar cargas maiores que 5 kg, trabalhar com as mãos acima da altura do ombro, agachar, ajoelhar, flexionar o tronco repetidamente por dia foram associadas as dores musculoesqueléticas. No total as mulhe-res que relataram as dores em um dos desfechos crônicos em estudo foram no percentual de 67%, e 28% apresen- taram em todos os três abordados. Em 12 meses a prevalência de dor variou de 63,9% a 73,3%, já as que apresentaram dor crônica específica em um período superior à de 3 meses variou de 42,8% a 48,3%.Existe uma pequena quantidade de alternativas para serviços na comunidade, e a agricultura é a maior opção de renda fami- liar, com isso, obje- tivando diminuir a prevalência de dor nesta população de estudo, pode inserir intervenções ergonômicas para uma mudança de comportamento, além de incluir técnicas e ferramentas de trabalho a- primoradas e adaptadas.
2012Prevalence of musculoskel- etal disorders among farmers: A systematic reviewOsborne et al.Revisão sistemáticaPubMedMulticêntrico (Norte da Itália; Estados unidos; Inglaterra; Nova Zelândia; Suécia; Holanda; Finlândia; Gana, África; Irlanda; Iowa, EUA; Kansas, EUA; Sul da Austrália;Texas, EUA)No final foram usados 24 artigos, dentre eles, observou-se que a lombalgia é a mais comum dos distúrbios musculoesqueléticos acometidos nos agricultores. Havendo uma prevalência de 68,3% para 81,3% com uma estimativa geral agrupada de 75% para ao longo da vida, já as citadas em um ano tiveram um percentual variável de 4,2% a 77% com pre- valência agrupada geral de 47,8%. Além disso, o sexo feminino apresentou aproximadamente 10% a mais que o sexo masculino. Posteriormente a lombalgia, outros distúrbios musculoesqueléticos comumente dentre os agricultores foram nos membros superiores e membros inferiores.Diante dos resultados dessa revisão sistemática, foi concluído que há um índice elevado de prevalência de distúrbios musculoesqueléticos, sendo a mais comum a lombalgia, seguido pelas extremidades superiores e inferiores. E para demais partes do corpo existe uma variação entre os estudos devido à substancial heterogeneidade entre os estudos. Para maiores resultados significativos diante da pesquisa é necessário melhorias na qualidade metodológica e homogeneidade.
2012Work-related diseases of agricultural workers in South KoreaRohRevisão narrativaBiblioteca Virtual em Saúde e Periódicos CAPESCoreia do SulEm um dos estudos dessa revisão, com 138 participantes que reside em zona rural, 113 (81,9%) deles relatam possuir dor musculoesquelética, nas seguintes localizações do corpo: coluna lombar, escápulas, extremidades superiores, extremidades inferiores e articulação do joelho. Desses que possuem dor, 100 (88,5%) disseram que tem relação com seu trabalho na lavoura. Em outro estudo, que aborda sobre prevalência, mostra que os diagnósticos de doenças crônicas são 1,5 vezes maiores em agricultores (72,4%), em  relação  a  não agricultores (49,8%).É importante identificar as doenças derivadas do trabalho agrícola devido a fatores ocupacionais, e melhorar a saúde executando medidas apropriadas para essa população. Atualmente no nível de saúde pública, os acessos às doenças agrícolas são limitados. Muitas doenças agrícolas não possuem diagnóstico e tratamentos corretos.
2012Work safety climate, musculoskel- etal discomfort, working while injured, and depression among migrant farmworkers in North CarolinaArcury et al.Estudo transversalPeriódicos CAPESCarolina do Norte, Estados UnidosOs trabalhadores rurais percebem que a segurança no seu trabalho não era de qualidade, dos 300 participantes, 282 (94,4%) achavam que se expor ao risco fazia parte do seu trabalho e 283 (95%) deles acreditavam que se machucaria em breve, 40% deles relataram ter algum desconforto musculoes- quelético elevado, e 5% já ter trabalhado doente ou ferido. Ao correlacionar a segurança no trabalho com o desconforto musculoesquelético, foi percebido que ca- da aumento de 1 unidade no clima de segurança diminuía 12% nas chances de desenvolver desconforto musculoesquelético elevado.Foi mostrado que ainda é cobrado pouco treinamento de segurança para esses trabalhadores rurais, e que a má qualidade na segurança é associada a desconfortos musculoesqueléticos, e que muitos trabalhadores acabam aceitando a exposição ao risco, e acham que os regulamentos são desnecessários e colocam a sobrevivência da empresa em risco, mostrando um preocupante risco a saúde ocupacional dos mesmos devido a essas informações li- mitadas que chegam a eles.
2014A profile of farmers and other employed canadians with chronic back pain: a population- based analysis of the 2009- 2010 canadian community health surveysTrask et al.Estudo transversalPubMed e Periódicos CAPESCanadáOs agricultores com dor na coluna em comparação aos não agricultores, eram mais frequentes do sexo masculino, apesar dos distúrbios na coluna serem mais comuns em mulheres, e propensos a residir nas áreas rurais, além de ser considerávelmente mais velhos, isso mostra que a  força de trabalho agrícola está mais velha e vem envelhecendo. Também foi relacionado o aumento das chances de dor lombar naqueles com nível de escolaridade baixo, e observado que a população rural pode ter um acesso menor aos serviços de saúde para ajudá- los no que tange a melhora das dores na coluna.O Estudo mostra que os problemas de dores na coluna, apresentou-se como um grave problema tanto para agricultores, quanto para aqueles que não são. O estudo também traz que diferenças sóciodemográficas podem ter impactos nos  planejamentos de saúde, sendo o mais indicado que se empregue meios alternativos para a educação e promoção da saúde.
2015Musculoskel- etal pain among Midwest farmers and associations with agricultural activitiesFethke et al.Estudo de coortePeriódicos CAPESRegião Centro-Oeste dos Estados UnidosO estudo obteve 518 participantes, dos quais 246 se inscreveram em fevereiro de 2014, compondo o grupo A, e 272 em agosto do mesmo ano, compondo o grupo B. A prevalência de 2 semanas de dor em todos participantes foram: de 172 (33,2%) em re- gião lombar, 160 (30,8%) em pescoço/ ombro, 112 (21,6%) em cotovelo / punho / mão, não sendo possível observar  diferenças significativas entre os grupos para as regiões  citadas. Foi possível observar as- sociações ajustadas estatisticamente significante entre lombalgia e a média de horas semanais dedicada a manutenção de equipamentos; dor no pescoço/ombro com à movimentação, carregamento, separação e ordenha de animais, além de papeladas e outras funções comerciais; e dor de cotovelo/punho/mão com manuseio manual de materiais e animais leiteiros.  O estudo      mostra várias atividades agrícolas que estão correlacionadas com a dor musculoesquelética em uma grande amostra de agricultores da região Centro-oeste dos Estados Unidos, fornecendo uma base para futuras pesquisas de intervenções direcionadas.
2016Farmers’ cohort for agricultural work-related musculoskel- etal disorders (FARM) study: study design, methods, and baseline characteristics of enrolled subjectsJo et al.Estudo de coorte prospectivoPubMed, Biblioteca Virtual em Saúde e Periódicos CAPESKangwon, Coreia do SulO estudo contou com 1.013 participantes, onde os tipos de agriculturas mais comuns do estudo foram: agricultura de sequeiro (41,5%), seguida da agricultura em estufa (30,7%), arroz  (15,5%) e pomar (12,3%). Do total de participantes, 925 deles relataram dor musculo- esquelética, onde a taxa de prevalência de 1 ano foram: dor lombar (63,8%), dor na perna / pé (43,3%), dor no ombro (42,9%),  dor  no punho / mãos / dedos (26,6%), dor no braço / cotovelo (25,3%) e dor no pescoço (21,8%).Nos diagnósticos médicos apresentados, as doenças musculoesqueléticas ficaram atrás somente das cardiovasculares.O estudo foi realizado com o intuito em avaliar o estado de saúde musculoesquelética e os fatores de risco sóciodemográficos nos trabalhadores agrícolas, onde foi identificado a região lombar como o local que eles mais relatam dor. Devido ao trabalho agrícola ser intensivo, os agricultores coreanos acabam sofrendo devido as difíceis condi ções de trabalho, trazendo o estudo infor- mações que contribuirão para o desenvolvimento de intervenções assertivas.
2016Prevalence and characteristics of musculoskel- etal pain in korean farmersMin et al.Estudo coortePubMed e Periódicos CAPESGangwon, Coreia do SulParticiparam do estudo 1.013 indivíduos, dos quais 479 eram homens e 534 mulheres, onde em comparação, elas são as que queixaram de dores com mais frequência e intensidade. Foi mostrado que 925 dos participantes apresentaram dor musculoesquelética, e a taxa de prevalência de 1 ano foram: região lombar (63,8%), perna / pé (43,3%),   ombro (42,9%), punho / mãos / dedo (26,6%), braço/cotovelo (25,3%) e pescoço (21,8%). Já em relação a frequência de dor diá-ria foram: pescoço (30,3%), ombro (42,8%), braço/cotovelo (41,0%), punho / mão /dedo (43,1%), região lombar (43,8%) e perna/pé (48,7%). Dados significativos, mostraram que foram encontradas dores musculoes- queléticas relacionadas ao histórico de lesões anteriores para pescoço, ombro, braço/cotovelo, punho/mão/dedo e região lombar.  O estudo      mostra que a maioria dos agricultores já provaram algum episódio de dor musculoesquelética, ficando evidente a necessidade de uma educação em dor para eles. Os resultados exibidos, expõe a necessidade de medidas de prevenção que devem ser cobradas, garantindo maior segurança a esses trabalhado- res.
2017The Global Spine Care Initiative: a systematic review of individual and community based burden of spinal disorders in rural populations in low and middle income communitiesHurwitz et al.Revisão sistemáticaBiblioteca Virtual em SaúdeMulticêntrico (Irã; China; Tailândia; Brasil; Índia, Burkina Faso; México; Líbano; Bangladesh; Nigéria; Etiópia; Tibete; Uganda; Moçambique; Gana; Rússia; África do Sul; Sudeste asiático; Sul da Ásia; Leste da Ásia; Ásia Ocidental; África; América do Sul; América Central)Os estudos com baixo risco de viés mostram que a prevalência de dor atual nas costas em brasileiros rurais com idade ≥18 anos foi de 39,3%; já em 3 meses em aldeões chineses foi de 38,4% e nos seringueiros tailandeses com idade de 15 a 60 anos foi 52,9%; nos produtores de arroz também na Tailândia com idade de 29 a 72 anos, a prevalência atual foi 49,1%, em 12 meses 56,2%, e durante a vida 77,4%. Também foi observado que no Líbano a lombalgia em 12 meses se mos- trou maior nos moradores rurais em comparado aos urbanos, e que a atividade física foi associada a menos dores nas costas em brasileiros rurais. Já com risco mo- derado de viés, a pre- valência de lombalgia atual foi de 34,1% em tibetanos rurais; em 12 meses foi de 6,11% na população rural de Bangladesh, 41,9% entre tibetanos rurais, 67,1% entre os agricultores nigerianos; também foi mostrado que a população rural adulta tem mais chance de ter lombalgia comparada com a urbana da província  de Jilin, China.Os resultados do estudo fornecem que os distúrbios da coluna são frequentemente comuns e aparcem em diferentes povos do mundo. E que as dores nas costas atingem mais mulheres e amplia com o avançar da idade. Devido a uma heterogenia de dados, nesse estudo não foi possível concluir de forma definitiva que a lombalgia atinge mais moradores rurais que urbanos.
2017Low back pain in farmers: The association with agricultural work management, disability, and quality of life in KoreanJo et al.Estudo transversalPeriódicos CAPESKangwon, Coreia do SulO estudo contou com a participação de 1.013 pessoas,  das quais 534 eram mulheres e 479 eram homens, onde foi considerada a lombalgia com duração de mais de uma semana ou com uma frequência maior que uma vez ao mês. Foi observado que a lombalgia obteve uma prevalência de 52,5%, e a incapacidade devido a essa dor afetava mais da metade dos participantes (55,3%). Foram associados de forma positiva com a lombalgia o sexo feminino, a idade avançada, história de cirurgia lombar e períodos de cultivo longos.Com o estudo foi  possível observar que a lombalgia afeta muitos agricultores coreanos, podendo levar a uma incapacidade e uma má qualidade de vida, onde fica evidente a necessidade de uma modi- ficação na gestão do trabalho rural, proporcionando horários de trabalhos mais condizentes, e ofer- tando exames de saúde com regularidade, como forma de combate.
2018Knee musculoskel- etal impairments and associated pain factors among rice farmersPuntumet akul et al.Estudo transversalPubMed e Periódicos CAPESKhon Kaen, nordeste da TailândiaParticiparam desse estudo 293 produtores de arroz, dos quais 201 apresentou dor em região de joelho, com uma prevalência de 68,6%. Fo- ram associadas de forma significativa com lesões de joelho, posturas que envolvia curvaturas no trabalho e torções por um tempo de ao menos 6 horas no dia, onde esse tipo de postura foi observado em mais da metade dos trabalhadores, dentre os tipos de lesões estão: na articulação do joelho, no músculo isquiotibial e quadríceps.O estudo mostra que há uma grande prevalência de produtores de arroz com deficiências musculoesqueléticas que atingem o joelho. Então através dos resultados obtidos, foi possível trazer informações para que os profissionais que irão cuidar da saúde desses trabalhadores, saibam como aconselhá-los sobre se prevenir.
2019Difference in health status of Korean farmers according to genderLee et al.Estudo transversalPubMed e Periódicos CAPESGyeongsang buk-do na Coréia do SulEsse estudo contou com uma participação de 436 indivíduos, onde nas suas comparações entre o sexo feminino e masculino, notou-se que as mulheres com dores musculoesqueléticas em ao menos um lugar do corpo eram de 67,2% do total delas, já os homens eram de 47% dentre eles. A comparação de dor para cada área do corpo foram: dor no pescoço estava presente em 5,4% dos homens e 12,1% das mulheres; nas mãos 4,0% neles e 19% nelas; a dor lombar nos homens eram de 24,8% e nas mulheres 40,1%, e nas pernas 25,7% deles tinham dor comparado a 37,9% delas; só não foram observadas diferenças nas dores de ombro e braço. No estudo, as agricultoras apresentaram maior tempo de trabalho, incluindo as atividades domésticas em comparação aos agricultores.Esse estudo comparou os agricultores e agricultoras em vários quesitos de saúde, e um deles foi a dor musculoesque- lética. Após a análise foi possível observar que as mulheres agrícolas possuem maiores riscos, e uma qualidade de saúde ruim na comparação de gê- neros. Ficando evidente a necessidade de programas de saúde adequados para essas agricultoras.
2021Activity limitation and disability due to pain in back and extremities in rural population: A community- based study during a period of twelve months in rural Gadchiroli, IndiaBang et al.Estudo transversal de base populacionalBiblioteca Virtual em SaúdeGadchiroli, ÍndiaDe 3.735 residentes das duas aldeias, 2.259 foram entrevistados, e dentre eles 1.247 participantes, ou seja, 55%, relataram ter sentido dor no dia da pesquisa. En- tre os 241 trabalhadores, os quais apresentavam dor nas costas, 46% demonstraram dificuldade leve, 60% moderada a grave e apenas 11% relataram não possuir incapacidade para realizar atividades agrárias, enquanto entre as 471 trabalhadoras, 43% demonstraram dificuldade leve, 64% moderada a grave e 12% eram totalmente incapazes de realizar atividades agrícolas.Diante do exposto, percebeu-se que nessa população há deficiência leve a moderada significativa e limitação de atividade, devido a dores nas costas e nas extremi- dades devido trabalho manual árduo, especialmente agrícola, sendo que em homens as deficiências agrárias são moderadas a grave.
2021Epidemiology of pain in back and extremities in rural population: A community- based estimation of age-and sex- specific prevalence, distribution, duration and intensity of pain, number of painful sites and seasonality of pain during twelve months in rural Gadchiroli, IndiaBang et al.Estudo transversal de base populacionalPeriódicos CAPESGadchiroli, Índia.Participaram da pes- quisa o total de 1.101 homens (49%) e 1.158 mulheres (51%). 66% dos homens e 86% das mulheres relataram ter sentido dor nas costas no período dos 12 meses, 63% dos homens e 78% das mulheres dor nas extremidades e 75% dos homens e 91% das mulheres dor nas costas/ extremidades. O estudo dividiu a faixa etária em 5 categorias, sendo observado que houve aumento da prevalência de dor com o aumento da idade, em todas as regiões do corpo. As re- giões mais acometidas pela dor foram a região lombar, joelho, pescoço, perna e região torácica.Diante do estudo foi possível analisar a epidemiologia de dores nas costas e nas extremidades, na população rural de Gad- chiroli. Foi identificada uma importante relação entre gênero e idade, e cronicidade no problema. O estudo fornece caminhos para intervenções, porém, para melhor explorá-las é preciso estudoscom mais popula- ções, e assim, melhor compreender os fatores de risco e as causas.
2021Back pain and musculoskel- etal pain as public health problems: Rural communities await solutionBang, Anand; Bhojraj & Bang, AbrayEstudo de prevalênciaBiblioteca Virtual em SaúdeGadchiroli, ÍndiaA partir da análise de 7 estudos comunitários de duas aldeias no distrito de Gadchiroli, observou-se uma alta prevalência de dores nas costas e nas extremidades, chegando a quase cinco em cada seis adultos nos últimos 12 meses. Em grande maioria a dor se apresentava como crônica, estando presente em várias regiões do corpo, havendo relação entre sexo, idade e ocupação agrária.É de extrema importância que a saúde pública crie meios para atender essa demanda, buscando o alívio dessas dores por meio de ações multidisciplinares, como disponibilizar analgésicos genéricos, atendimento fisioterapêutico e orientações  ergonômicas.
2022Prevalence of work-related musculoskel-etal disorders in women cultivatorsKaur & VaishEstudo de corte transversalBiblioteca Virtual em Saúde e LILACSAmbala, Haryana, Índia.Foram selecionadas 200 mulheres, dentre elas 94 estavam envolvidas na produção de arroz, 44 na produção de batata, 36 na de cana-de-açúcar e 26 na de couve-flor. 57% dessas mulheres sofreram distúrbios musculoesqueléticos na região lombar, vindo a sentir posteriormente dor nas articulações dos joelhos, articulações dos ombros, na articulação do cotovelo, dor no pulso/mão,  dor no pescoço, dor no tornozelo/pés, e pélvis/coxas e dor na parte superior das costas.Por meio do estudo, foi identificada uma alta prevalência de distúrbios e dores musculoesquelética em mulheres relacionadas ao trabalhado agrícola em Ambala (Haryana, Índia). As regiões do corpo mais afetadas são a lombar, joelho e ombro.
2022Health- related quality of life within agriculture in England and Wales: results from a EQ-5D- 3L self-report questionnaireWheeler & LobleyEstudo transversal/ surveyPeriódicos CAPESInglaterra; País de GalesAo todo participaram da pesquisa 15.296 pessoas, dentre elas 52% no momento de responder o questionário afirmaram que sentiram dor ou desconforto com intensidade moderada a extrema. Foi notável que a presença de dor e desconforto foi mais relatada nessapopulação pesqui-sada do que em relação à população geral da In- glaterra em todas as faixas etárias, sendo mais propenso em homens do que em mulheres.Diante dos resultados é possível identificar que diversos problemas de saúde mental e física afetam a população agricultora da Inglaterra, dentre eles a dor e o desconforto aparecem com grande ênfase em todas as faixas etárias, fazendo-se necessário intervenções para buscar o bem- estar dessa população.

O trabalho agrícola é de extrema importância para o desenvolvimento rural e econômico, pois possui uma contribuição indispensável na produtividade alimentar, empregatícia e rentável (ELIAS et al., 2019; SANTOS et al., 2023). De acordo Min et al. (2016), a execução dos serviços agrários é bastante árdua, visto que, existe a realização de diversas atividades manuais, nas quais há uma carga de trabalho intensa exigindo muito esforço físico, além de manter-se na mesma postura por longas horas, consequentemente, havendo a probabilidade de acarretar dores musculoesqueléticas.

Souza et al. (2020) ainda acrescentaram no estudo efetuado na região Amazônica, Brasil (BRA), com 70 agricultores na cultura de dendê, que o trabalho no campo, além de exigir grande esforço físico, demanda da realização de contínuas caminhadas em percursos longos, e nos momentos de plantio e colheita da palmeira é necessário realizar diversos movimentos repetitivos, por exemplo, flexão de tronco, agachamento, abdução e adução do ombro.

Em visão complementar, Kaur & Vaish (2022) evidenciaram em sua pesquisa, realizada na cidade de Ambala, na Índia (IND), com 200 agricultoras, que há associação de posturas inadequadas e movimentos repetitivos com o risco de dor, onde por ser um país subdesenvolvido, o trabalho manual ainda é o mais utilizado, devido à falta de maquinários, trazendo riscos aos trabalhadores. Na mesma linha, outro artigo desenvolvido no Brasil, na região de Biguaçu em Santa Catarina, com 18 participantes, observou que os trabalhos manuais são os mais recorrentes, ou seja, sem o uso de equipamentos tecnológicos (FERNANDES et al., 2014).

A dor pode ser caracterizada a partir do seu local de origem, do tempo de duração, e dos seus mecanismos fisiopatológicos (MACEDO et al., 2020). Para o tempo de evolução, Bang et al. (2021b) na comunidade rural de Gadchiroli (IND), evidenciaram que a dor aguda e crônica foram maiores do que a subaguda tanto em homens quanto em mulheres nos 2.259 trabalhadores rurais com queixa de dores. No entanto, Naidoo et al. (2009), alertaram que grande parte das mulheres entrevistadas (67%) relataram sofrer de dores crônicas devido ao seu trabalho em KwaZulu-Natal, África do Sul.

Em levantamento, para as regiões mais acometidas pelas dores musculoesqueléticas, o trabalho realizado no estado da Carolina do Norte, Estados Unidos da América (EUA), citaram 8 locais do corpo, onde se relataram dor e desconforto (figura 2), que são: pescoço, ombros, cotovelos, punhos, mãos, lombar, joelhos e tornozelos (ARCURY, 2012).

Figura 2 – Locais do corpo com relatos de dor e desconforto

Fonte: Domínio público (modificada)

Em conformidade com as regiões apresentadas, Jo et al. (2016) em estudo feito na província sul-coreana de Kangwon, exibiram que 925 participantes de um total de 1.013 relataram dor musculoesquelética dentro da prevalência de 1 ano, onde as seguintes áreas atingidas pela dor foram: lombar (63,8%), perna/pé (43,3%), ombro (42,9%), punho/mãos/dedos (26,6%), braço/cotovelo (25,3%) e pescoço (21,8%).

Concordando com o autor citado anteriormente, Fethke et al. (2015) dirigiram um estudo na região Centro-Oeste dos Estados Unidos, no qual também aponta a lombar como a parte mais acometida pela dor dentre as outras, onde foi relatada por 172 indivíduos de um total de 518, na prevalência de 2 semanas. Entretanto, no estudo, não foram abordadas as regiões de membros inferiores, citando apenas o pescoço/ombro com 160 afetados, e cotovelo/punho/mão com 112.

Também foram demostrados nos estudos realizados na área rural do município de Floriano Peixoto, no estado do Rio Grande do Sul (RS), Brasil, e Piedecuesta na Colômbia

(COL), que dentre todas as regiões citadas, a lombar foi a mais afetada pela dor (BIAZUS,MORETTO & PASQUALOTTI, 2017; MARADEI, JAIMES & SARMIENTO, 2019).

Porém, Vasanth et al. (2015), em Annamalai, Tamil Nadu (IND), com uma amostra de 195 arrancadoras de folha de chá, apresentaram um percentual de dor geral de 83,6% na prevalência de 12 meses, no qual o local do corpo mais acometido foi o ombro (59%), seguido pela região lombar (58%), pescoço (49,1%), joelho (43,9%), cotovelo (41,5%), região superior da coluna (37,3%), punho (25,9%), tornozelo (7,1%) e quadril (3,3%). Entretanto, na prevalência de 7 dias, o percentual de dor geral foi de 78,5%, onde a região lombar foi a mais afetada (52,8%), seguida pela de ombro (45,8%), pescoço (42%), joelho (38,2%), região superior das costas (26,8%), cotovelo (24,5%), punho (23,6%), tornozelo (6,6%) e quadril (1,9%).

Diante do que foi apresentado, Lee et al. (2019) apontam que as diversas culturas possuem dissemelhantes formas de cultivos, onde com isso pode haver diferenças na localidade relatada de dor, sendo a explicação para a ocorrência na mudança das regiões dolorosas, estando essas áreas associadas a postura adotadas no momento do trabalho.

Portanto, Holmberg et al. (2003), em pesquisa realizada nos municípios rurais da Suécia, com dois grupos distintos (1.013 agricultores e 769 não agricultores), abordam que para os sintomas musculoesqueléticos de pescoço/ombro, mão/antebraço, lombar, quadril e joelho foram observadas ligações com levantamento de peso, posições desagradáveis, carga de trabalho e vibrações. Além disso, Min et al. (2016), na província de Gangwon, Coreia do Sul (KOR), relataram que a parte de extremidades superiores estão relacionadas com movimentos repetitivos e manuseios.

Prosseguindo, no sudoeste de Kansas, em Missouri (EUA), na maioria dos casos as dores nas costas estavam relacionadas a movimentos repetitivos de levantamento de cargas, empurrar ou puxar, encurvar, torcer ou pegar, já no estudo da Ambala (IND), a dor lombar também está associada ao movimento de inclinação do tronco só que por longos períodos (ROSECRANCE, RODGERS & MERLINO, 2006; KAUR & VAISH, 2022). Conforme o autor do estudo anterior realizado na Índia em agricultoras, a região mais prevalente foi a lombar seguida pela de joelho, onde essa está associada a postura de agachar por tempos longos levando ao aumento da pressão articular. Ainda, para dor em joelhos em Khon Kaen, nordeste da Tailândia, Puntumetakul et al. (2018), relataram que mais da metade dos entrevistados realizavam movimentos de dobrar o joelho, flexionar e/ou torcer o tronco, andar e transportar pesos por um período de tempo de ao menos 6 horas por dia. Bang et al. (2021b), relataram em estudo na comunidade rural de Gadchiroli (IND), que carregar grandes pesos de lenha e terra por percursos extensos sobre a cabeça está associada ao aumento de cervicalgia.

Em relação a intensidade da dor, Wheeler & Lobley (2022), expuseram em seus resultados elaborados na Inglaterra e País de Gales, que pouco mais da metade dos entrevistados de um grande número de participantes (15.296) declararam sentir dor e/ou desconforto moderado ou extremo. Min et al. (2016) em estudo realizado na província sulcoreana de Gangwon, também apontaram que a intensidade moderada de dor musculoesquelética foi a mais frequente, sendo as partes mais acometidas, respectivamente: lombar, perna/pé, ombro, braço/cotovelo, pescoço e punho/mão/dedo.

Todavia, Bang et al. (2021b) na análise executada na comunidade rural indiana de Gadchiroli, encontraram que a intensidade de dor com maior constância nessa população foi a leve, contrapondo os achados dos autores anteriores, e como possível explicação, o escritor diz que a população rural dessa localidade pode estar possuindo mecanismos favoráveis de enfrentamento. Contudo, Biazus, Moretto & Pasqualotti (2017) apontaram uma variação entre as intensidades leve e moderada, nas quais foram as mais prevalentes nos dados coletados no Brasil, na comunidade rural de Floriano Peixoto (RS).

Acerca da quantidade de locais acometidos pelas dores musculoesqueléticas, Brumitt et al. (2011) evidenciaram resultados obtidos no estado de Óregon (EUA), nos quais tais informações revelaram que dentro de uma amostra de 115 homens e de 24 mulheres, respectivamente 7,8% e 37,5%, declararam possuírem dores em duas ou mais áreas do corpo. Ademais, Bang et al. (2021b) exibiram dados coletados em Gadchiroli (IND), os quais demonstraram também resultados acerca do número de sítios anatômicos afetados pela dor, onde a partir de uma amostragem de 1.101 homens e 1.158 mulheres pertencentes às duas aldeias apontaram que, de uma a cinco partes do corpo obteve-se uma porcentagem de 50,3% em homens e 49,8% em mulheres, já de seis a dez locais ocorreram em 27,5% das mulheres e 17,2% dos homens, e em mais de dez locais o percentual foi de 13,2% nas mulheres e 7,7% nos homens.

A respeito da incapacidade e limitação devido as dores musculoesqueléticas, Biazus, Moretto & Pasqualotti (2017) no trabalho realizado em Floriano Peixoto (RS), Brasil, mostraram que dos 114 participantes, 76% deles relataram impossibilidade de trabalhar no último ano. Em mesma linha, Jo et al. (2017) também expuseram sobre a incapacidade devido as dores, porém, somente para dor lombar, onde 55,3% dos 1.013 indivíduos entrevistados relataram essa queixa, em Kangwon (KOR).

Ainda sobre a incapacidade e limitação pelas dores, Bang et al. (2021a) relataram sobre as dores nas costas, no estudo na comunidade rural de Gadchiroli (IND), em que dos 241 trabalhadores do sexo masculino que realizavam práticas agrícolas, 46% demonstraram dificuldade leve, 60% moderada a grave e apenas 11% relataram não possuir incapacidade; e em relação as 471 trabalhadoras, 43% demonstraram dificuldade leve, 64% moderada a grave e apenas 12% eram totalmente incapazes para a realização dos serviços agrícolas.

Sobre a busca pelos serviços de saúde, Maradei, Jaimes & Sarmiento (2019) apontaram que dos 81,9% trabalhadores de Piedecuesta (COL) que relataram sentir dor, poucos procuraram por esses serviços, no qual as dores nas costas foi o motivo mais frequente pelas buscas. De acordo com o estudo ocorrido em Gadchiroli (IND) foi abordado que a procura da comunidade rural pela unidade de saúde pública é baixa, sendo de 17% (BANG, Anand, BHOJRAH & BANG, Abhay, 2021). Diferentemente, Rocha et al. (2014) apresentaram que na pesquisa realizada nas regiões rurais brasileiras de Ilha dos Marinheiros e Uruguaiana (RS), um pouco mais da metade (57%) relataram buscar a unidade de saúde, mas ainda a opção de automedicar-se mostrou muito grande (77%), sendo o tratamento medicamentoso com prescrição médica buscado por apenas 18,5%.

Em complementação, Trask et al. (2014) no estudo realizado no Canadá relataram que o acesso a esses serviços para auxiliar essa população pode ser diminuído. Além do mais, Jo et al. (2017) reforçaram que exames de saúde não são realizados por pouco mais da metade dos participantes de sua pesquisa efetuada em Kangwon (KOR).

4  CONCLUSÃO

Com a análise dos estudos, ficou evidente que a população agrícola apresenta dores musculoesqueléticas e, em grande maioria, estão associadas à situação ocupacional.

Torna-se essencial fazer com que os agricultores entendam a importância de se cuidar e realizar exames frequentes para avaliar a sua condição de saúde, e além disso, faz-se necessário campanhas acessíveis de prevenção, para que haja diminuição nos eventos de dores musculoesqueléticas.

Destarte, mostra-se também necessária a melhoria nos serviços de saúde pública, ações de vigilância em saúde do trabalhador, garantia de condições de trabalho e de campanhas para a aderência da população aos serviços ofertados, inclusive de prevenção. Um dos pontos importantes e sugestivos, apesar de não ser foco no atual estudo, é a presença do profissional Fisioterapeuta no contexto da vigilância em saúde do trabalhador e na prevenção e tratamento dos distúrbios cinético-funcionais relacionados ao trabalho agrícola. Por fim, mostra-se necessária a realização de novos estudos que apontem tipos de cultivos específicos, para que possa ocorrer uma comparação mais fidedigna dos dados, além de englobar outras culturas que ainda não foram realizados estudos, com a finalidade de entender novas realidades e perspectivas.

REFERÊNCIAS

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  1. Fisioterapeuta, Centro Universitário FG – UniFG Campus Guanambi e-mail: fisioalinecotrim@gmail.com ↩︎
  2. Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário FG – UniFG Campus Guanambi e-mail: fisiobeatrizsoares@gmail.com  ↩︎
  3. Fisioterapeuta, Centro Universitário FG – UniFG Campus Guanambi e-mail: hyan.rf@hotmail.com ↩︎
  4. isioterapeuta. Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário FG – UniFG CampusGuanambi. Mestre em Saúde Coletiva e-mail: tarcisio.cardoso@animaeducacao.com.br ↩︎
  5. Fisioterapeuta. Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário FG – UniFG Campus Guanambi. Mestre em Terapia Intensiva e Especialista em Saúde Pública e-mail:romeu.moura@animaeducacao.com.br ↩︎
  6. Fisioterapeuta. Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário FG – UniFG Campus Guanambi. Especialista em Saúde Pública e em fisioterapia esportiva e atividade física e-mail:pablo.maciel@animaeducacao.com.br ↩︎