CIÊNCIA E ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10437059


Altair José Fontana1
Anelise Francesquetto1
Fernanda Gheno1
Justiani Hollas1


CONSIDERAÇÕES INICIAIS

É notável que informações sobre a alimentação saudável são veiculadas na mídia diuturnamente, por isso, muitas pessoas já têm consciência do impacto que os alimentos desempenham na nossa saúde, tanto em aspectos físicos quanto mental. Dessa forma, esse assunto vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade, sendo discutido em vários ambientes de convivência, inclusive, nas escolas.

Durante o crescimento e desenvolvimento das crianças, principalmente na infância, é imprescindível que haja um acompanhamento dos alimentos consumidos, pois, a nutrição representa um papel importantíssimo neste período de rápidas modificações no organismo, que requerem um amplo fornecimento de energia e nutrientes. É nessa fase também, que se consolidam bons hábitos alimentares e o conhecimento do que são alimentos saudáveis, hábitos esses que podem persistir pela vida toda.

Neste sentido, salienta-se que a alimentação influencia no desenvolvimento e na aprendizagem. Segundo Cavalcanti (2009), a infância corresponde ao período de formação dos hábitos nutricionais da vida adulta. É nessa fase que se fundam as bases para uma alimentação balanceada e saudável. Com isso, a criança crescerá com bom desenvolvimento e capacidade de aprendizado, capacidade física, atenção, memória, concentração, e energia necessária para trabalhar o cérebro.

Uma alimentação saudável tem por objetivo garantir que o organismo receba todos os nutrientes dos quais necessita para crescer e se desenvolver, além disso é de extrema importância estar atento à variedade, quantidade, equilíbrio e segurança dos alimentos ingeridos. A partir dessas reflexões, parte-se do objetivo de discutir sobre a seguinte problemática: Qual a importância de abordar a alimentação saudável através de uma horta escolar e quais os temas que podem intensificar as discussões em sala de aula?

Para operacionalização do problema, buscou-se aporte na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que apresenta as competências que podem ser desenvolvidas na Educação Básica; em seguida, discute-se sobre fatores como a utilização de agrotóxicos, a importância das abelhas para a manutenção do ambiente, a produção excessiva de lixo e a necessidade da preservação ambiental, elencando esses temas com hábitos saudáveis de consumo alimentar e o desenvolvimento de hortas em escolas.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Horta escolar: uma possibilidade para o desenvolvimento de competências

Durante toda a história da humanidade a alimentação se faz presente, e nas últimas décadas tem ganhado importância em muitos estudos e reflexões, pois faz parte do desenvolvimento da sociedade como um todo e constitui-se como condição histórica. É neste cenário que a inquietação frente a alimentação de estudantes merece ser pensada e estudada, pois não restam dúvidas sobre a importância de boas práticas alimentares na promoção da saúde. Nessa perspectiva, o ambiente escolar mostra-se com um espaço privilegiado para possibilitar a melhoria da saúde e consequentemente de hábitos saudáveis, visto que as crianças passam boa parte de seu tempo nesse ambiente, se relacionando, convivendo, aprendendo e descobrindo-se.

As escolas públicas são locais que atendem grande número de pessoas vulneráveis em relação à nutrição e questões socioeconômicas, e por isso, deve-se ter uma maior atenção para as condições do alimento servido já que, muitas vezes, esse alimento é a única refeição consumida do dia pelos estudantes (BRASIL, 2006).

Com as constantes mudanças na sociedade e a complexidade das interações do ser humano com o meio ambiente, torna-se necessário promover espaços de aprendizagem, discussão e conscientização do papel de cada indivíduo neste contexto. Ao mesmo tempo, entender o compromisso do ser humano com as questões socioambientais, a alimentação saudável e o desenvolvimento das competências digitais, são algumas das habilidades que constam na BNCC, documento que orienta todo o trabalho que deve ser desenvolvido pelas escolas a fim de formar cidadãos críticos e responsáveis.

Uma educação de qualidade tem como intuito assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Desde 2000, houve um enorme progresso na promoção do acesso universal à educação primária para as crianças ao redor do mundo. Para além do foco na Educação Básica, todos os níveis de educação estão contemplados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que caracteriza como fundamental a promoção de uma educação inclusiva, igualitária e baseada nos princípios de direitos humanos e desenvolvimento sustentável. A promoção da capacitação e empoderamento dos indivíduos é o centro deste objetivo, que visa ampliar as oportunidades das pessoas mais vulneráveis no caminho do desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, o desenvolvimento das habilidades de cada indivíduo é fundamentada na BNCC, que elenca dez competências gerais a serem desenvolvidas. Dentre elas, considerou-se seis, que são: o Conhecimento; o Pensamento Científico, Crítico e Criativo; a Cultura Digital; o Trabalho e Projeto de Vida; a Argumentação e a Responsabilidade e Cidadania. Estas competências estão diretamente ligadas ao desenvolvimento de ações ambientais, o entender e explicar a realidade, colaborar com a sociedade, continuar a aprender, elaborar e testar hipóteses, fazer escolhas alinhadas à cidadania e ao seu projeto de vida com liberdade, autonomia, criticidade e responsabilidade.

Estes parâmetros também contribuem para o desenvolvimento da formação de cidadãos críticos, criativos, participativos e responsáveis, competentes ao se comunicar, sendo capazes de lidar com suas emoções, propondo soluções nas adversidades que se apresentam, tornando-se mais humano em seu pensar e agir. Dentro das dez competências gerais da BNCC, podemos trabalhar com atividades relevantes para a construção de uma horta escolar com a participação dos alunos de todas as séries e de forma interdisciplinar. Algumas sugestões para aplicação da horta podem abranger as competências da figura a seguir:

Fonte: https://medium.com/focoescola/desenvolvimento-das-competencias-gerais-bncc-674cd4b366b7. Acesso em: 20 out. 2023.

A partir da figura, realizou-se uma aproximação entre cada competência e a possibilidade do desenvolvimento de uma horta escolar:

1 – Conhecimento: Pode-se dizer que é fundamental, pois o conhecimento é algo que ninguém pode tirar de ninguém. Tratando-se de alimentação saudável nas escolas, como já mencionado, é na infância que se consolidam os bons hábitos alimentares e consequentemente, seguidos pela vida toda. É importante que isso seja trabalhado nas escolas pelo tempo em que os estudantes permanecem no ambiente escolar.

2 – Pensamento Científico, Crítico e Criativo: Com a ajuda da escola, que é o espaço de aprendizagem dos estudantes, pode-se através das hortas criar um espaço privilegiado para a alimentação e hábitos saudáveis, pesquisas e resoluções de problemas.

3 – Repertório Cultural: Os alunos  podem aprender sobre os diferentes tipos de terra, dos diferentes tipos de solo, da diversidade de mudas para cultivo, da época do ano em que se deve efetuar o plantio, e colocar a mão na massa de acordo com a cultura em que a escola está inserida, da sua cultura regional.

4 – Comunicação: É preciso que a abrangência seja muito grande e clara para que a proposta seja explicada e aplicada para os todos os alunos, desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, até o Ensino Médio. Também se faz necessário lembrar, se for o caso, das inclusões, sejam por deficiência auditiva, visual, motora ou cognitiva, pois um projeto bem amparado não deixa nenhum aluno de fora.

5 – Cultura Digital: Usar as tecnologias a nosso favor, trabalhar de forma mútua. Pode-se fazer vídeos na construção da horta e desenvolver um diário de bordo ou então, representar os resultados em planilhas eletrônicas com representações gráficas para exposição na escola, fazendo com que todos os alunos vejam que suas contribuições deram um bom resultado.

6 – Trabalho e Projeto de Vida: Através dos processos de aplicação e aprendizagem, fazer com que os estudantes compreendam a importância do todo para a vida pessoal e profissional, para toda a sua jornada.

7 – Argumentação: Conduzir os alunos sobre o assunto para que eles construam seus conhecimentos e compreendam a proposta, podendo sanar suas dúvidas no decorrer das aplicações. É importante que eles entendam de forma clara, pois há a possibilidade de repassarem em suas casas o que estão fazendo na escola.

8 – Autoconhecimento e Autocuidado: É inenarrável que as redes sociais fazem parte da nossa vida hoje, mas como isso interfere nos nossos alunos? A busca pelo “padrão” estabelecido tem um preço muito alto e que muitos jovens estão dispostos a pagar para poderem se “encaixar”. Sem perceber, certas atitudes tornam-se em transtornos alimentares como a bulimia e a anorexia. A bulimia causa uma compulsão alimentar, ou seja, após uma alimentação a pessoa tenta eliminar as calorias ingeridas. Já a anorexia, por sua vez, é a restrição das calorias, não se alimentar. Em casos muito graves, esses dois transtornos podem vir a tornarem-se piores, desencadeando depressões e suicídios. A criação de espaços escolares como a horta e a construção do conhecimento sobre uma alimentação saudável, pode despertar nos alunos o conhecimento necessário para saberem o que é benéfico ou não para a saúde mental e física.

9 – Empatia e Cooperação: Respeitar o tempo da pesquisa, da criação da horta, do crescimento do plantio, colheita e consumo, afinal, é um processo demorado. Aprender a compreender o tempo que cada etapa leva para ser concluída e participar ativamente desses processos de aprendizagem.

10 – Responsabilidade e Cidadania: A partir das demais competências, saber gerenciar tudo, para realmente construir esse conhecimento, levando para toda a vida e espalhando aprendizado.

Em suma,

Utilizando o alimento como tema e a horta como espaço de experimentação, os educadores desenvolvem várias temáticas e atividades integradoras dos vários campos do conhecimento, que, certamente, contribui para novas aprendizagens, substituindo estes por alimentos orgânicos. (BARROSO, 2008).

A partir desses elementos e reconhecendo a escola como um espaço legítimo de aprendizagem, produção e construção de conhecimento, faz-se imperativo, acompanhar as diferentes transformações contemporâneas, adotando e simultaneamente apoiando as exigências interdisciplinares que hoje participam da construção de novos conhecimentos. Com isso, torna-se significativo acompanhar o ritmo das mudanças que operam em todos os segmentos que compõem a sociedade, pois o mundo está cada vez mais interconectado, interdisciplinaridade e complexo (THIESEN, 2008).

Em concomitância, observa-se que nas últimas décadas, a urbanização tem diminuído as áreas onde crianças e adolescentes podem brincar livremente e, desse modo, o pátio escolar representa, para muitos deles, o único espaço aberto e seguro para desenvolverem diferentes tipos de atividades. Assim, o pátio escolar, bem como áreas anexas, podem ser muito mais do que o local onde os alunos ficam durante o período em que eles não estão nas salas de aula. Pode ser utilizado, também, como um espaço para processo de ensino-aprendizagem e isso pode tornar-se um complemento significativo do que é ensinado nas salas de aula e vice-versa (GENTIL, 2011).

Neste sentido, o pátio escolar pode ser mudado e transformado, por exemplo, em uma horta que pode tornar-se uma excelente ferramenta didático-pedagógica, quando bem planejada e conduzida. O espaço da horta pedagógica é caracterizado como um local capaz de conectar as crianças aos fundamentos básicos do alimento que estão produzindo, e ao mesmo tempo integra e enriquece todas as atividades escolares, pois, aborda conceitos físicos, econômicos e sociais do ecossistema em que vivemos. Além disso, pode desenvolver nos alunos valores mais humanizados e a importância do trabalho em grupo, além de estabelecer relações saudáveis com o meio ambiente (ALCÂNTARA, 2012; GENTIL, 2011).

A horta na escola é como um laboratório vivo, que pode ser utilizada para promover pesquisas, debates e atividades de temas envolvendo a questão ambiental, ecológica, alimentar e nutricional, além de estimular o trabalho pedagógico dinâmico, participativo, e interdisciplinar, se tornando uma forma de educar para o ambiente, para a alimentação e para a vida, e que esteja em consonância com as diretrizes e competências estabelecidas pela BNCC. Entre alimentação adequada, aceitação e a realização de melhores escolhas, existe uma grande distância, que é diminuída quando a criança acompanha a produção e o desenvolvimento do próprio alimento (MORGADO; SANTOS, 2009).

Magalhães (2003), indica que utilizar a horta escolar como estratégia para estimular o consumo de feijões, hortaliças e frutas, torna possível adequar a dieta das crianças. E as hortaliças produzidas na horta fazem muito sucesso entre os alunos, quando presentes na alimentação escolar. Já oficinas culinárias, para fazer saladas, sopas, sanduíches naturais e sucos mistos de vegetais e frutas, são estratégias eficazes para promover uma melhoria na aceitabilidade desses alimentos que costumam ser os campeões de rejeição.

Um pouco sobre os agrotóxicos e a importância das abelhas

O uso dos agrotóxicos na produção agrícola é uma realidade presente em praticamente todos os países. A alimentação está diretamente ligada aos agrotóxicos, por isso, sugere-se a utilização desse tema na sala de aula desde os Anos Iniciais da Educação Básica. O Brasil é um dos países que mais faz uso de agrotóxicos na produção de alimentos. Quando utilizados de forma inadequada e em grande quantidade podem gerar problemas de saúde às pessoas que os aplicam e também aos consumidores. Em contato com o meio ambiente, poluem o solo, lençóis freáticos e contaminam os animais, podendo resultar na morte de abelhas, principal inseto responsável pela polinização. Conforme Aragaki (2019), 70% das abelhas já foram mortas devido ao uso excessivo de agrotóxicos.

O professor Tiago Maurício Francoy, do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e especialista em abelhas, (2019) explica que “O que acontece é que as abelhas precisam buscar néctar e pólen das flores e elas acabam visitando as plantações, e esse uso de agrotóxicos, que aqui no Brasil está se tornando cada vez mais intenso e prejudicial, acaba por levar à morte essas abelhas”.

As abelhas são responsáveis pela polinização de muitas plantas que produzem alimentos saudáveis, como frutas, verduras e legumes. Além disso, as abelhas produzem mel, própolis e geleia real, que são produtos naturais com propriedades nutritivas e terapêuticas. A alimentação saudável depende da preservação das abelhas e da biodiversidade que elas sustentam. Por isso, é importante proteger as abelhas de ameaças como o uso de agrotóxicos, a destruição de habitats e as mudanças climáticas.

Uma colméia possui mais de 20000 abelhas e é capaz de produzir em torno de 50 kg de mel por ano. Por isso, são considerados os animais mais importantes do planeta Terra. São animais que trabalham na produção de alimentos devido ao trabalho de polinização, gerando milhões de reais na balança comercial do Brasil. Portanto, não podemos andar na contramão destruído a natureza, podemos preservar e produzir de forma sustentável.

Segundo o documentário “Mais que Mel” (2014), “existe uma região da China que com o uso excessivo de certos agrotóxicos todas as abelhas morreram e atualmente a polinização é feita pelo homem de forma artificial”. Acredita-se que no momento em que as abelhas forem extintas da face da Terra a humanidade só conseguirá sobreviver por apenas mais quatro anos. Sendo assim, o sistema agrícola precisa continuar produzindo para garantir a segurança alimentar dos animais que fornecem a gordura e proteínas a população mundial, então, é preciso pensar alternativas com tecnologias capazes de tornar as atividades agrícolas mais sustentáveis. Precisamos pensar também novas possibilidades que reduzam significativamente o uso dos agrotóxicos mais perigosos para a saúde da vida animal, vegetal e ambiental.

Há indícios que o consumo excessivo de produtos com agrotóxicos, podem causar doenças, tais como: autismo, mal de alzheimer; TDAH – transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em crianças, entre outras doenças generalizadas em todo organismo humano. Em (2015) a ONU afirmou que os agrotóxicos são responsáveis por 200 mil mortes no mundo por intoxicação aguda a cada ano, e aponta que mais de 90% das mortes ocorreram em países em desenvolvimento e só no Brasil são 20 mil casos, além disso, coloca como mito a ideia de que pesticidas são vitais para garantir a segurança alimentar.

Na região Oeste de Santa Catarina o município de Anchieta tem um grupo de agricultores que preserva um banco de sementes para não deixar morrer a possibilidade de continuidade de muitas espécies, uma destas espécies é o milho crioulo. Com incentivo da prefeitura municipal existe uma feira das sementes crioulas e que tem sido um sucesso. A sociedade precisa compreender a importância de consumir produtos livres de agrotóxicos. Estas atitudes podem melhorar a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente. Segundo Nagib, “A base de toda a sustentabilidade é o desenvolvimento humano que deve contemplar um melhor relacionamento do homem com os semelhantes e a natureza”.

Possíveis soluções para melhorar as condições de vida da humanidade:

– Coibir o uso indiscriminado de pesticidas e agrotóxicos.

– Investir na agricultura familiar e técnicas de cultivo de orgânicos.

– Incentivar as famílias na construção de hortas com diversidade de verduras.

– Aumentar as campanhas incentivando a alimentação saudável.

– Introduzir no currículo escolar conteúdos em determinadas disciplinas com métodos de construção de hortas em pequenos espaços urbanos, cultivos de verduras e alimentação saudável.

– Incentivar a preservação e disseminação de sementes crioulas.

Alimentação saudável também é preservação da natureza

Outro tema fundamental que pode ser abordado em sala de aula é a preservação do meio ambiente, visto que, o Brasil é um país de enormes dimensões e com uma das maiores diversidades da fauna e flora do mundo. Estamos entre os 10 países que mais produzem alimentos de origem vegetal e animal. Precisamos continuar produzindo alimentos para sustentar a população interna e o excedente exportar para o mundo. Devemos continuar produzindo alimentos, mas criar mecanismos que respeitem o meio ambiente, com responsabilidade ecológica e que priorizem a sustentabilidade. Torna-se necessário preservar as matas, as águas, os animais, nossas principais riquezas.

Os danos ambientais são provocados no meio urbano com despejo de esgoto doméstico, dejetos industriais e pelo meio rural com o uso de agrotóxicos. Para Rios (2018, p. 63), “o esgoto doméstico é uma séria questão ambiental, uma vez que nem todas as residências têm acesso a um sistema de coleta adequado”. Neste sentido, todos são responsáveis pela preservação do meio ambiente. A ecologia começa em cada residência, como exemplos disso pode-se citar a necessidade da separação dos diversos tipos de lixos que são produzidos e também o controle do mosquito da dengue. Portanto, considera-se que “todos estamos no mesmo barco”, onde cada cidadão precisa ter consciência e responsabilidade ecológica. 

As chuvas das regiões centro-sul do país ocorrem graças aos rios voadores que se formam a partir da umidade da Floresta Amazônica e cada bioma brasileiro possui características próprias, e um depende do outro para que a vida continue prosperando.  A metade das espécies vivas do planeta estão na floresta amazônica, considerada a maior diversidade biológica, ocupando 49% do território brasileiro. Conforme dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação:

O Brasil possui 12% de toda água doce do planeta. Esta água é vital e importante nas atividades humanas. O uso da água no Brasil está distribuído da seguinte forma: 6% pecuária, 17% indústria, 23% uso doméstico e 54% na agricultura. O processo de irrigação, necessário para o sucesso da atividade agrícola, gera um grande consumo de água. A maior parte da energia elétrica que abastece residências provém das usinas hidrelétricas. (RIOS, 2018, p. 59).

Percebe-se que tudo está diretamente interligado na preservação da natureza e no desenvolvimento dos meios de produção. Ao se preservar as florestas consegue-se armazenar água e produzir oxigênio que é o elemento essencial para a preservação e continuidade da vida animal. Compreende-se que não adianta ter água em abundância se estiver poluída e imprópria para o consumo, pois a maioria da água potável consumida nas cidades passa por um processo de tratamento com a utilização de produtos químicos. Os elementos utilizados para eliminação de microrganismos nocivos à saúde são: sulfato de alumínio, cloreto de ferro, cloro e flúor, e assim, torna-se potável e própria para ser consumida.

O propósito deste texto é dialogar sobre a alimentação saudável. Se olharmos de um ângulo maior percebemos sua relação com o homem na produção de alimentos e preservação da natureza, e esse entendimento passa pela educação. A crítica sem embasamento teórico adequado não leva a compreensão do objeto do conhecimento em estudo. Por exemplo, quando um ser humano vai à feira comprar verduras, ele tem conhecimento de como o alimento que vai comprar foi produzido? Que conhecimento precisa dominar para saber se o produto é orgânico?

A construção de uma horta em nossas casas pode passar pela educação escolar, resultado de estudos e práticas de conteúdos trabalhados nas aulas de ciências ou de projetos interdisciplinares no contexto escolar. Quando compreendemos o funcionamento do macrossistema e o sistema de produção nos tornamos mais conscientes da qualidade dos alimentos que consumimos. O professor de Ciências pode ensinar os alunos a plantar os temperos que a família consome diariamente em vasos, e assim, as pessoas que moram em apartamentos podem cultivá-los nas sacadas.

É preciso conhecer as técnicas e partir para a prática para compreender e aprender sobre Ciência. A escola é o lugar que o ser humano constrói seu conhecimento científico, levando-o a um nível de conhecimento mais elaborado. Conforme GALLIANO (1979, p. 19), “O conhecimento científico resulta de investigação metódica, sistemática da realidade. Ele transcende os fatos e os fenômenos em si mesmos, analisa-os para descobrir suas causas e concluir as leis gerais que os regem”. A construção do conhecimento científico no contexto escolar acontece também, por meio dos conhecimentos prévios que os seres humanos constroem nas interações e experiências cotidianas vividas. Para Harres, (2000, p. 58), “se o conhecimento é obtido pelo método científico, há que se ensinar o estudante a fazer boas observações e, por indução, chegar até as leis e princípios da natureza”. O bater de asas de uma borboleta na costa da África combinados com outros fatores como temperatura, umidade e pressão atmosférica pode desencadear um furacão de enormes proporções na costa norte do continente Americano.

Neste sentido, as ações que tomamos no presente poderão fazer diferença no futuro, sendo assim, fica a indagação: Quantas doenças posso evitar ao longo de minha vida se adotar uma alimentação saudável? Bons resultados aparecem quando colocamos em prática nossos saberes. As experiências vivenciadas em sociedade e os conhecimentos científicos apreendidos no ambiente acadêmico contribuem para melhorar a qualidade de vida da população.

O que podemos aproveitar nas hortas orgânicas em relação ao destino do lixo?

O projeto de horta nas escolas pode ser o balizador na abordagem de diversos temas, por isso, sugere-se também como tema de discussão e trabalho a produção de lixo e as possibilidades de descarte consciente. O descarte inadequado de resíduos, podem provocar graves consequências ao meio ambiente, pois muitos destes produtos são sintéticos, obtidos a partir de recursos naturais não renováveis que demoram muito tempo para se decompor no meio ambiente. O problema tende a se agravar com o aumento da população mundial, segundo Luciano (2021), estima-se que cada ser humano produz em média 379 kg de lixo por ano. Como resolver o problema do destino dos materiais sintéticos? A reciclagem ainda tem muito a evoluir para diminuir a poluição ao meio ambiente pelos mais diversos materiais que viram lixo, e ainda o país padece de políticas públicas, incentivos econômicos para que a reciclagem e o saneamento básico tornem-se realidade, e assim, reduzir os problemas ambientais.

Sendo assim, sugerimos algumas alternativas de reaproveitamento do lixo para diminuir os aterros sanitários, tais como:

1. Separar o lixo na sua origem para destinar de forma eficiente para a reciclagem;

2. Campanhas de conscientização quanto ao destino correto do lixo;

3. Incentivar a aprendizagem de construção de compostagem do lixo orgânico produzido em todas as residências do Brasil; a escola poderia ser a grande aliada no ensino a aplicação do processo de compostagem;

4. Nas aulas de ciências ou projeto interdisciplinar ensinar os alunos a fazer a compostagem, produção do adubo orgânico e aplicação prática na horta escolar que será construída e cuidada pelos alunos;

5. Fazer alunos e sociedade compreender que o lixo pode tem valor econômico quando destinado corretamente;

6. Incentivar o poder público municipal triturar galhos de árvores e resíduos orgânicos que poderão ser utilizados em compostagens e usados nas hortas escolares ou das comunidades;

7. Tornar viável o reaproveitamento da matéria orgânica agrícola como reciclagem de nutrientes para o solo;

8. Cobrar do sistema educacional formação continuada aos professores da área das ciências biológicas na construção de hortas escolares.

O lixo e a horta orgânica são dois conceitos relacionados à sustentabilidade e à preservação do meio ambiente. O lixo é o conjunto de resíduos sólidos que resultam das atividades humanas e que podem ser reciclados, reaproveitados ou descartados de forma adequada. A horta orgânica é um espaço onde se cultivam plantas sem o uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos ou transgênicos, garantindo alimentos mais saudáveis e nutritivos. Uma forma de integrar o lixo e a horta orgânica é a compostagem, que consiste em transformar os resíduos orgânicos em adubo natural para as plantas. A compostagem reduz a quantidade de lixo que vai para os aterros sanitários, diminui a emissão de gases de efeito estufa e melhora a qualidade do solo. Além disso, a compostagem é uma atividade educativa que pode envolver crianças, jovens e adultos na conscientização ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após essas explanações, é notória a relevância que uma horta escolar pode ter ao construir hábitos na vida cotidiana dos estudantes. Além de todas as competências já mencionadas anteriormente, pode-se trabalhar com temas relacionados às questões ambientais, a importância das singelas abelhas para o desenvolvimento da vida, a preservação da natureza, entre outros, ou seja, ensinar sobre o ciclo da vida. Vale salientar que este contexto incentiva toda a comunidade escolar a aprender e construir conhecimento. Sendo assim:

A aprendizagem é mais significativa quando motivamos os alunos intimamente, quando eles acham sentido nas atividades que propomos, quando consultamos suas motivações profundas, quando se engajam em projetos para os quais trazem contribuições, quando há diálogo sobre as atividades e a forma de realizá-las (MORAN, 2018, p. 6).

A preservação da natureza é um tema fundamental para a saúde humana e o bem-estar social. A degradação ambiental, causada pela exploração excessiva dos recursos naturais, pelo desmatamento, pela poluição e pelas mudanças climáticas, afetam diretamente a qualidade e a disponibilidade dos alimentos que consumimos.

Uma alimentação saudável depende de uma produção sustentável, que respeite o equilíbrio ecológico e a biodiversidade, que minimize o uso de agrotóxicos e que valorize os produtos locais e orgânicos. Além disso, uma alimentação saudável implica em escolher alimentos que sejam nutritivos, variados e adequados às necessidades de cada indivíduo, evitando o desperdício e o consumo excessivo de alimentos processados, ricos em açúcar, sal e gordura. Assim, a preservação da natureza e a alimentação saudável estão intimamente relacionadas, pois ambas contribuem para a promoção da saúde, da qualidade de vida e da cidadania. Tudo isso, vem ao encontro com o artigo 225 da Constituição Federal de 1988, …(BRASIL, [2016]), que diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Nunca é tarde demais para começar um novo projeto, principalmente no ambiente escolar. Vamos juntos fazer a mudança acontecer?

AGRADECIMENTOS

Bolsa Fumdes – UNIEDU para Pós-graduação do Estado de Santa Catarina, Brasil.

REFERÊNCIAS

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ARAGAKI, Calorine. Morte de meio bilhão de abelhas é consequência de agrotóxicos. 2019. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/morte-de-meio-bilhao-de-abelhas-e-consequencia-de-agrotoxicos/. Acesso em: 25 fev. 2022.

BARROSO, Najla Veloso Sampaio. Caderno III- Alimentação e Nutrição: Caminhos para uma vida saudável. Projeto Educando com a Horta Escolar. Disponível em:http://redesans.com.br/rede/wp-content/uploads/2012/10/horta-caderno3.pdf. Acesso em: 20 nov. 2023.

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1Universidade de Passo Fundo