MAIN MANAGEMENT PRACTICES WITH EQUINE NEONATES TO MINIMIZE FAILURE IN THE PRODUCTION SYSTEM: LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10428541
Talita D’Paula Tavares Pereira Muniz1
Antônio Brito da Silva Filho2
Illanna de Souza Lima Brandão 3
Jorge Eduardo Cavalcante Lucena 4
Resumo
A neonatologia equina tem por finalidade estudar as primeiras semanas de vida dos recém-nascidos equinos afim de garantir melhores condições funcionais possíveis e reduzir possíveis taxas de mortalidade neonatal. Os cuidados com o neonato equino devem ser iniciados a partir da confirmação da gestação. Torna-se, então, importante proporcionar à égua um bom manejo, no período gestacional, visando a geração de um potro saudável. Cuidados com o neonato são imprescindíveis, especialmente nas primeiras horas de vida para identificação de possíveis anormalidades, visto que muitas vezes os sinais clínicos podem não ser facilmente identificados. Objetiva-se realizar uma revisão de literatura sobre as principais práticas de manejo realizadas no pós-parto e nos manejos sanitário e alimentar com os recém-nascidos equinos a fim de minimizar as falhas ocorridas no sistema de produção. Conclui-se, portanto, que o manejo adequado antes, durante e após o parto garante boas chances para um desenvolvimento saudável do potro, reduzindo custos com tratamentos e com boas perspectivas acerca de seu futuro.
Palavras-chave: Cavalos. Cuidados. Mortalidade neonatal. Neonatologia. Potro.
1 INTRODUÇÃO
A produção de potros pode ser apontada como o principal propósito da criação de equinos. Desta forma, para que haja a maximização do potencial físico, faz-se necessário adequar o manejo em todas as fases de desenvolvimento do animal (MCGREEVY et al., 2010). Na criação de equinos uma das fases fisiológicas mais importantes é a gestação, que nesta espécie, em particular, pode iniciar no “cio do potro” até 15 dias pós-parto. Para ocorrer a concepção e o desenvolvimento normal da gestação é imprescindível que a fêmea esteja em boas condições corporais com alimentação equilibrada, garantindo com isto o sucesso da criação (LUIZ & SILVA, 2022).
O sucesso reprodutivo de uma égua já não pode ser julgado somente pela sua capacidade de conceber, mas sim em sua capacidade de produzir um potro viável. Avanços na medicina neonatal equina têm mostrado altas taxas de sobrevivência de potros, visto que a observação de determinadas doenças pré-existentes no útero facilita a intervenção precoce e consequente tratamento eficaz (LUIZ & SILVA, 2022).
Sendo assim, deve-se se atualizar acerca das informações completas sobre a égua e eventos próximos ao parto (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006), sabendo-se que a duração da gestação das éguas varia entre 320 a 345 dias, perfazendo onze meses. No terço final da gestação, as éguas prenhes devem ser apartadas em um piquete-maternidade limpo e adequado, para que se ambientem ao local e desenvolvam anticorpos colostrais específicos àquele ambiente, além de vacinação e desverminação adequadas (THOMASSIAN, 2005).
Apesar de possuir a quarta maior população de equinos do mundo, com cerca de 5,8 milhões de cabeças (IBGE, 2022), um dos entraves principais da equinocultura nacional é a mortalidade neonatal, atribuída, muitas vezes, a anormalidades cardiovasculares, termorreguladoras, metabólicas e pulmonares (SMITH, 2006). Um estudo realizado por Frey-Junior (2006), em Bagé no Rio Grande do Sul, verificou morbidade de 76,6% de neonatos com afecções neonatais e mortalidade de 2,5% destes neonatos infectados, elevando a importância, portanto, de uma adequada assistência aos neonatos equinos.
Diversas falhas podem acontecer no manejo com os neonatos equinos e, muitas vezes, estas decorrem da ausência de práticas simplificadas e corretas. Sendo assim, dentre os principais fatores que levam a falhas, destacam-se: inadequações nos cuidados pós-parto; em atividades no manejo higiênico-sanitário, compreendendo diversas afecções, tais como: Rodococose, Salmonelose, Sepse do Potro, síndrome cólica, dentre outras; e no manejo alimentar, esta última compreendendo desde uma alimentação desbalanceada até métodos de desmame inadequados, comprometendo o seu crescimento (SILVA et al., 2008).
Com o nascimento do potro, tornam-se necessários alguns esclarecimentos quanto ao tipo de manejo requerido e sua adequada forma de realizá-lo. Objetivou-se, portanto, realizar uma revisão de literatura na neonatologia equina destacando as principais falhas ocorridas no manejo com os neonatos equinos e suas principais formas de profilaxia e tratamento de afecções relacionadas.
2 METODOLOGIA
Esta pesquisa fornece uma revisão abrangente dos artigos científicos relacionados às principais práticas e cuidados no manejo com neonatos equinos visando minimizar as falhas no sistema de produção. As palavras-chave foram “neonato equino”, “neonatologia”, “potro”, “manejo”, “cuidados neonatais”, “práticas neonatais”. A estratégia de busca baseou-se nas bases de dados de PubMed/Medline, Scielo e Web of Science. Depois, estudos que atendessem aos critérios de elegibilidade com base nas principais aplicações de práticas e cuidados no manejo de neonatos em modelo equino foram usados para essa revisão.
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Neonatologia e principais características do período neonatal equino
A neonatologia veterinária é a ciência responsável pelo estudo das primeiras semanas de vida dos recém-nascidos. Apresenta-se em considerável desenvolvimento com objetivo principal de reduzir as taxas de mortalidade neonatal. Neste período, existem significativas adaptações para o neonato, como em relação ao meio externo e as acompanhadas pelo desenvolvimento, completo ou não, de funções vitais durante a vida intrauterina (RODRIGUES et al., 2010).
O período neonatal caracteriza-se por uma fase de adaptação fisiológica e metabólica, onde os sistemas necessitam adequar-se aos novos desafios da vida extrauterina. Após o nascimento, o neonato equino passa de um ambiente uterino extremamente favorável para um ambiente hostil com predadores e variações bruscas de temperatura (RIZZONI & MIYAUCHI, 2012). Familiarizar-se com o comportamento do neonato é essencial para o reconhecimento de alterações comportamentais, que em geral estão associadas a alterações sistêmicas. Se as alterações não forem identificadas rapidamente, isso pode comprometer tanto financeiramente como no desempenho de um futuro cavalo atleta. Inicialmente, é importante obter informações sobre a égua em relação aos períodos pré e pós-parto, avaliação dos sinais clínicos do neonato e acesso a testes laboratoriais (BARR, 2012).
O conhecimento da fisiologia, a avaliação do vigor do neonato e uma rápida intervenção, quando necessária, são essenciais para a redução da mortalidade neonatal. A simples utilização de escores de vitalidade neonatal pode orientar na escolha de medidas terapêuticas adequadas visando assegurar e aumentar a sobrevivência do neonato (LOURENÇO & MACHADO, 2013). A introdução de um índice similar ao de Apgar (utilizado na medicina humana) na medicina veterinária foi inicialmente descrita na década de 80 nas neonatologias equina, bovina e suína (CASTAGNETTI et al., 2010). O escore de Apgar (Tabela 1) é baseado em parâmetros vitais do recém-nascido. É realizado no primeiro, quinto e 10º minutos de vida do neonato, após o nascimento completo, que compreende a exclusão do cordão umbilical e da placenta e a desobstrução das vias aéreas superiores. Este intervalo de tempo foi determinado porque geralmente coincide com a depressão clínica máxima do recém-nascido (VERONESI et al., 2009).
Tabela 1. Escore de Apgar modificado para avaliação de neonatos equinos de um a cinco minutos após o nascimento
Fonte: Prestes & Landim-Alvarenga, 2006.
Um escore baixo no primeiro minuto muitas vezes deriva de uma depressão temporária, enquanto que um baixo escore aos cinco e 10º minutos implica geralmente em complicações de maior importância clínica (VERONESI et al., 2009). Franceschini & Cunha (2007) relataram uma diferença significativa no escore de recém-nascidos oriundos de parto normal no primeiro minuto de vida, que demonstravam maior vitalidade quando comparados aos recém-nascidos de cesariana, diferença que não se manteve no escore aos cinco minutos de vida.
Devido à sua utilidade para avaliação global e à confiabilidade para predição de sobrevida em curto prazo, o uso do escore adaptado tem sido introduzido na veterinária. A avaliação do escore recebeu algumas adaptações e um sistema de pontuação modificado foi estudado para que o método se tornasse útil também para os animais. O escore de Apgar tem como vantagem o fato de não apresentar nenhum custo em sua realização, podendo ser realizado mesmo em locais com menor infraestrutura (VERONESI et al., 2009). Pode-se também determinar valores hemogasométricos, o que permite a avaliação do equilíbrio ácido-base e de respiração neonatal, sendo de grande importância para a instituição de medidas corretivas precoces (GONZALEZ-LOZANO et al., 2012).
A utilização da concentração de lactato no sangue como um bom indicador de prognóstico e de gravidade de doenças tornou-se uma prática comum na medicina equina, principalmente com a utilização de analisadores portáteis. Entretanto, são poucos os estudos publicados sobre o uso de analisadores portáteis em potros neonatos (CASTAGNETTI et al., 2010).
O exame clínico do neonato equino permite a identificação de sinais de imaturidade e de traumas que possam ter ocorrido durante o parto ou a presença de anormalidades congênitas (BARR, 2012). Em relação à maturidade, são considerados potros prematuros aqueles advindos de gestações inferiores a 320 dias; e potros dismaturos para aqueles potros que nasceram de gestações normais (330-345 dias) ou anormalmente longas (mais de 360 dias), apresentando sinais de imaturidade (GOMÉZ et al., 2008).
O conhecimento sobre o comportamento do neonato é essencial para o reconhecimento de alterações clínicas, que em geral, estão associadas a alterações sistêmicas. A rápida identificação dos sinais clínicos relacionados a qualquer afecção durante o período neonatal favorece o prognóstico, minimizando os prejuízos tanto financeiros quanto no desempenho de um futuro cavalo atleta (BARR, 2012).
3.1.2 Cuidados com o potro neonato
A avaliação do neonato equino logo após o parto é fundamental para se verificar a vitalidade do mesmo. Sendo assim, é possível o clínico discernir quando e qual procedimento mais adequado deve adotar (NOGUEIRA & LINS, 2009). No exame físico, ele pode apresentar sinais de imaturidade, presença de anormalidades congênitas ou de traumas que possam ter ocorrido durante o parto (CONSTABLE et al., 2017). A avaliação da circulação periférica é realizada inspecionando-se as mucosas, que devem ser normocoradas de coloração rósea e um tempo de preenchimento capilar (TPC) de até três segundos. Quanto às frequências cardíaca e respiratória, os valores iniciais variam de 60-120 (bpm) e 60-70 (mpm), respectivamente. No entanto, a frequência cardíaca logo após o nascimento está em torno de 40 a 80 bpm, ocorrendo aumento progressivo à medida que o potro começa a se agitar para ficar em pé, estabilizando-se, por seguinte, entre 70-120 bpm. A frequência respiratória, posteriormente, estabiliza-se entre 20 a 40 mpm (CONSTABLE et al., 2017).
Os neonatos são suscetíveis a variações da temperatura ambiente e não conseguem manter tão bem a homeotermia, visto que possuem poucas reservas calóricas, maior superfície corpórea em relação à massa e perda de calor por evaporação. A termoneutralidade é, então, mantida pelo reflexo de tremor (60%) e pelo metabolismo da gordura marrom (40%). A temperatura corporal, no geral, situa-se entre 37,2 a 38,8°C (CONSTABLE et al., 2017).
O auxílio ao neonato equino deve ser realizado caso não tenha rompido o cordão umbilical ou que o potro esteja coberto pelas membranas fetais. Vale ressaltar a importância de procurar manter a égua em decúbito lateral, o máximo de tempo possível, para que possa ocorrer a estenose fisiológica do cordão umbilical e, por seguinte, romper normalmente com a movimentação do neonato ou da égua. É importante desobstruir as narinas do potro, realizando movimentos de fricção com os dedos sobre o nariz (THOMASSIAN, 2005).
Além disso, prossegue-se o auxílio realizando a limpeza do potro com uma toalha limpa, enxugando-o através de fricções suaves sobre a região torácica, o que estimula a respiração. Realiza-se também o rompimento do cordão umbilical, de modo que o correto é fazer compressão do cordão no sentido do corpo do potro para promover a entrada de sangue do cordão para o potro. A seguir, aplica-se a pinça hemostática no cordão umbilical cerca de três dedos abaixo do umbigo, secciona-se o umbigo cerca de um dedo abaixo da pinça e por fim realiza-se a desinfecção do cordão umbilical imergindo-o em solução de iodo a 5% ou solução de clorexidine (THOMASSIAN, 2005).
A transferência de imunidade materna para o feto equino via uterina é impedida devido ao tipo de placenta da espécie, epiteliocorial difusa, que atua como uma barreira à passagem das grandes moléculas, as imunoglobulinas. Ressalta-se, portanto, que a transferência passiva via colostro é fundamental para a proteção contra infecções no período neonatal (CONSTABLE et al., 2017).
Sendo assim, sua alimentação deve ser iniciada o quanto antes, principalmente nas primeiras 6 a 12 horas de vida, que é o período no qual ocorre o pico de absorção de imunoglobulinas. Após esse período, a absorção dessas imunoglobulinas torna-se comprometida, em razão das modificações das células epiteliais do intestino e estas acabam não estando mais possíveis de absorver tais moléculas. Cerca de 24 horas após o nascimento, a taxa de absorção das imunoglobulinas contidas no colostro fica abaixo de 1%. O colostro é responsável pela transmissão da imunidade passiva através de anticorpos contra enfermidades nas primeiras semanas de vida, até que seu sistema imunitário possa iniciar a produção de anticorpos de forma competente. Este colostro deve ser avaliado tanto físico como laboratorialmente, sendo a avaliação física consistindo de observar coloração, consistência e gravidade específica. O colostro equino normalmente apresenta coloração amarelo-ouro cremoso, espesso e a gravidade específica é avaliada através do colostrômetro, indicando a concentração de IgG (imunoglobulinas de memória) (THOMASSIAN, 2005).
Em relação aos níveis de imunocompetência do neonato, trata-se de uma avaliação de deficiências na transferência de imunidade, em razão de agalactia da égua, ordenha precoce, ingestão de colostro de baixa qualidade ou até mesmo amamentação tardia por falha de manejo, má-absorção intestinal, presença de alterações congênitas, má formação dos membros, impedindo o potro de permanecer em estação (CONSTABLE et al., 2017). Estão descritos, no Quadro 1, os níveis de IgG e seus respectivos significados.
Quadro 1. Níveis de imunocompetência do neonato equino e seus respectivossignificados
Níveis de IgG | Interpretação |
< 200 mg/dL | Falência absoluta na transferência de imunidade |
200 a 400 mg/dL | Falência parcial na transferência de imunidade |
> 400 mg/dL | Transferência de imunidade adequada |
Fonte: Felippe, 2013.
Os métodos disponíveis para a medição de imunoglobulinas séricas variam de acordo com a sensibilidade e especificidade, tais como: coagulação de glutaraldeído, teste de turbidez de sulfato de zinco, teste de aglutinação de látex e o teste SNAP ELISA. Este último é amplamente utilizado na prática com moderada sensibilidade e alta especificidade, em comparação com o teste de imunodifusão radial que é considerado padrão (FELIPPE, 2013).
O mecônio, fezes eliminadas na primeira defecação, é eliminado em condições normais após a primeira mamada do colostro, nas primeiras horas após o nascimento (BARR, 2012), sendo o colostro um importante lubrificante além de atuar como estimulante para o trânsito fecal. Casos em que a eliminação não se inicie nas primeiras duas horas de vida do neonato ou estiver dificultada, pode-se realizar enema com solução de glicerina líquida neutra e água morna. Outro importante parâmetro é o tempo que o potro leva para urinar, onde, normalmente, deve ocorrer em até 12 horas após o nascimento (CONSTABLE et al., 2017).
É importante salientar que a maioria das afecções nesses animais é de ordem súbita e com sinais clínicos minimamente específicos, como: batimentos cardíacos e movimentos respiratórios variáveis, hipotermia, inatividade, hipoglicemia, fraqueza, retardo em se levantar ou mamar. Portanto, ao se decidir iniciar um tratamento em neonatos equinos com antibióticos, transfusão e/ou nutrição enteral, alguns aspectos devem ser analisados. Sabe-se que o ganho de peso do animal é alto nas primeiras semanas de vida, logo, é importante sempre procurar ajustar as doses dos fármacos às condições reais do paciente; o potro neonato apresenta maiores quantidades de fluido extracelular, como consequência, a concentração plasmática de certos fármacos é muito baixa (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).
Importante também ressaltar a imaturidade hepática e do trato gastrointestinal, no que concerne à metabolização e absorção dos medicamentos, pois apresenta alterações no pH gástrico e duodenal, alta capacidade de absorção, porém não possui flora bacteriana desenvolvida. Sendo assim, os fármacos devem ser ajustados corretamente (BARR, 2012).
3.1.3 Principais práticas de manejo com neonatos
A avaliação clínica dos neonatos equinos assim como a definição da conduta terapêutica adotada representam importantes desafios ao médico veterinário. A incapacidade em proceder ao exame físico criterioso, o horário recorrente dos partos das éguas (normalmente ocorre durante a madrugada) e devido à urgência clínica, associada muitas vezes à escassez do conhecimento técnico-científico em neonatologia veterinária, colabora com o diagnóstico impreciso e o tratamento empírico das afecções (SILVA et al., 2008).
Dentre os diversos fatores que levam a falhas no manejo de potros neonatos, destacam-se os cuidados no pós-parto, no manejo higiênico-sanitário e alimentar.
3.1.3.1 Cuidados pós-parto
As primeiras horas de vida do potro são definitivas para sua sobrevivência, pois é nesse período em que ele receberá os cuidados essenciais. Nos primeiros minutos após o nascimento, caso o potro não se levante nem tente procurar os tetos, o colaborador que acompanhar a atividade deverá aproximá-lo da égua. No entanto, é importante ressaltar que este manejo só deve ser feito caso o potro não se manifeste, pois, a intervenção humana nesse momento poderá deixar o potro exausto e dependente, privando-o de seus instintos naturais (CONSTABLE et al., 2017).
É de suma importância que o potro faça a ingestão do colostro, pois as imunoglobulinas nele presentes têm absorção satisfatória no intestino, sendo esta diminuída gradativamente após as 12 horas do período pós-parto (CINTRA, 2011). Também é importante ter sempre um banco de colostro na propriedade em que se criam potros, visto que garantirão alimentação inicial para os animais órfãos recém-nascidos e sua chance de sobrevivência elevada (FRAPE, 2004). Inclusive, os devidos cuidados com o cordão umbilical e a eliminação do mecônio também devem ser tomados, como explicitado anteriormente (BECK & CINTRA, 2011).
Após os cuidados essenciais de um recém-nascido, o potro e sua mãe devem ser destinados para um piquete maternidade até completar sete a dez dias de nascido, e posteriormente para outro piquete com outros potros, adaptando-se a socialização do animal em grupo. A partir de então, torna-se necessário a observação frequente dos animais, monitorando-os, garantindo alimentação, manejo e saúde adequados (CINTRA, 2011).
3.1.3.2 Manejo sanitário
O manejo sanitário visa assegurar a saúde dos animais através de práticas de higiene, envolvendo não só a higiene com o animal, mas também com as instalações, equipamentos, assim como as medidas profiláticas a fim de evitar certas afecções (CONSTABLE et al., 2017). No que concerne à forma de criação, os animais que são criados na maior parte do tempo em liberdade possuem resistência superior aos animais embaiados, principalmente nos casos de doenças respiratórias (CINTRA, 2011). Simples práticas profiláticas como de manutenção higiênica dos equipamentos e instalações, assim como práticas de vacinação e desverminação devem ser realizadas. Além disso, todas as ações a fim de garantirem a saúde animal só serão efetivas em animais bem nutridos e desverminados (CONSTABLE et al., 2017). O Quadro 2 lista as principais vacinas recomendadas para potros, às quais devem ser iniciadas aos quatro meses de vida do animal.
A primeira desverminação inicia-se aos 30 dias, repetindo-se a cada 60 dias até o animal completar 6 meses, repetindo-se, posteriormente, a desverminação a cada três ou quatro meses. É importante desverminar os cavalos regularmente para que se diminua progressivamente o nível de infecção dos animais. Para desverminar, é preciso avaliar precisamente o peso do animal, para que se evite problemas com subdosagem ou desperdícios. O programa ideal de desverminação em uma propriedade deve ser estabelecido com base no nível de infecção inicial, grau de contaminação do ambiente, resultados de exames coproparasitológicos e nível de exposição a novos desafios (ALVES, 2004). O motivo de se fazer desverminação é reduzir ou eliminar a carga parasitária dos animais e evitar doenças e consequências graves e irreversíveis da passagem dos parasitas pelo organismo animal (ALVES, 2004).
A partir dos quatro meses, as vacinas podem ser iniciadas a fim de prevenirem contra diversas doenças, sejam elas de notificação obrigatória, zoonoses ou exclusivas da espécie. Na ausência de tal manejo, o animal fica comprometido a não expor todo seu potencial visto que está susceptível a infecções, desvalorizando o animal e acarretando graves prejuízos econômicos (CONSTABLE et al., 2017).
Além disso, uma das práticas higiênicas mais negligenciadas são os cuidados com os cascos. A inspeção e limpeza diária é o ideal, acostumando o animal a ser domado e manejado. É necessário observar a necessidade de realizar o casqueamento, pois é na fase de potro que se identificam a maior parte das alterações de conformação do sistema locomotor, visto que uma vez verificadas conformações deficientes dos membros dos potros, estes estão sujeitos a lesões musculoesqueléticas quando animais atletas (CINTRA, 2011). O casqueamento corretivo é bastante utilizado na criação de potros e iniciado normalmente aos 60 dias de vida, porém é importante estar seguro da real necessidade do casqueamento antes de procedê-lo, pois do mesmo modo que pode corrigir também pode agravar algum desvio ou inconformidade dos membros (PAGANELA et al., 2010).
Quadro 2. Recomendação de vacinação para potros.
Doenças | Primovacinação | Reforços |
Encefalomielite equina | A partir dos 4 meses | Após 30 dias – Anual |
Garrotilho | A partir dos 4 meses | A cada 6 meses – Anual |
Herpes vírus | A partir dos 4 meses | Após 30 dias – Anual |
Influenza | A partir dos 4 meses | Após 30 dias – Anual |
Raiva | A partir dos 4 meses | Anual |
Tétano | A partir dos 4 meses | Após 30 dias – Anual |
Fonte: Adaptado de Cintra (2011).
3.1.3.2.1 Principais afecções dos neonatos equinos
Neonatos equinos apresentam baixa eficiência imunológica, visto que não possuem imunidade humoral e a imunidade celular não está suficientemente estabelecida. Sendo assim, torna-se ainda mais importante a observação de sinais patológicos, sejam eles durante a gestação, no parto ou em eventos próximos ao parto, acompanhados de observação intensiva do neonato principalmente nos primeiros dias de vida. No entanto, várias são as enfermidades que acometem os neonatos até o 4º mês de vida (Quadro 3 – principais afecções bacterianas) (CONSTABLE et al., 2017).
Quadro 3. Principais afecções bacterianas correlacionadas com os neonatos equinos e suas principais características
Enfermidade | Etiologia | Epidemiologia | Sinais clínicos | Diagnóstico | Tratamento |
Rodococose | – Rhodococcus equi – Bactéria saprófita e telúrica bem adaptada ao TGI de equinos | – Cosmopolita – Morbidade variável, mort. 30% – Manejo e fatores ambientais: uso prolongado de determinada área para cria de potros; pobre cobertura de pasto; excesso de poeira, etc. | – Broncopneumonia piogranulomatosa, abscedação pulmonar em potros com 3 sem. a 5 m. – Outros: distúrbios extrapulmonares (artrite séptica, Osteomielite, etc) | -Isolamento microb. do aspirado traqueobrônquico; Radiografia e ultrassonografia | – Rifampicina + Azitromicina ou Claritromicina. – Duração: variável. Semanas a meses, normalmente. |
Salmonelose | – Salmonella sp: S. bongori e S. entérica | – Rota de infecção: fecal-oral – Contaminação ambiental, alimentar e/ou de equipamentos – Coprofagia: surtos em potros | – Neonato equino: uveíte, sinovite, osteomielite, meningoencefalite | – PCR, Cultivo microbiano e Biópsia da mucosa retal | – Fluidoterapia – Sulfa/trimetropim + aminoglicosídeos – Reposição da microbiota intestinal |
Sepse do Potro | – Bactérias: E. coli, Actinobacillus spp., Klebsiella spp., Streptococcus spp. – Fungos, Vírus (Coronavírus, Rotavírus, etc). | – Fatores maternos: distocia; placentite ascendente aguda ou crônica – Fatores pós-parto: falha na transferência da imunidade passiva – Manejo higiênico-sanitário deficiente na propriedade | – Prostração; Febre; Diarreia; Apatia; Desidratação; Movimentação incoordenada; Morte repentina | – Achados clínicos, isolamento do microrganismo (de articulações, por ex.) e cultura | – Sintomático: fluidoterapia, antibióticos de amplo espectro |
Fonte: Feary & Hansel (2006); Melo et al. (2007); Gómez et al. (2008); Sanchez et al. (2008); Gomes et al. (2010); Johns et al. (2011); Porto et al. (2011); Quinn et al. (2011); Giguère et al. (2011); Barr (2012); Constable et al. (2017).
A síndrome cólica em neonatos engloba uma série de enfermidades, como, por exemplo, retenção de mecônio, uroperitônio, úlcera gastroduodenal e obstruções intestinais com estrangulamento vascular. As doenças do trato digestivo são umas das de maior importância na neonatologia equina, principalmente devido às suas limitações para a realização de diagnóstico e às suas rápidas consequências patológicas causadas (THOMASSIAN, 2005). As principais alterações digestivas que englobam a síndrome cólica em neonatos equinos com suas respectivas características principais a fim de identificá-las, podem ser visualizadas no Quadro 4.
A transição do pulmão do feto, antes repleto de fluido, para um órgão que é responsável pela troca de gases é um processo rápido e complexo. Porém, essa transição pode ser dificultada por uma série de fatores, incluindo a prematuridade ou dismaturidade, asfixia perinatal, a aspiração de mecônio ou leite e infecção bacteriana, fúngica ou viral. Um sistema imunológico deficiente, a falha na transferência de imunidade passiva são fatores adicionais que predispõem o neonato equino a problemas respiratórios (GIGUÈRE et al., 2011). A detecção de doença respiratória no potro recém-nascido pode ser um desafio. No Quadro 5, encontram-se as principais afecções respiratórias, com suas respectivas características principais a fim de identificá-las.
Em relação às principais más formações congênitas, de incompatibilidade mãe-feto e outras causas infecciosas, pode-se observar no Quadro 6 com suas respectivas características principais a fim de identificá-las. E, por fim, no Quadro 7 estão listadas as principais deformidades articulares e processos infecciosos a estes relacionados em neonatos equinos com suas respectivas características principais a fim de identificá-las.
Quadro 4. Principais alterações digestivas que englobam a síndrome cólica em neonatos equinos e suas principais características
Enfermidade | Etiologia | Epidemiologia | Sinais clínicos | Diagnóstico | Tratamento |
Retenção de mecônio | Fatores epidemiológicos | – Mais comum: não admin. ou falha na ingestão do colostro – Outros casos: estreitamento pélvico (machos); ausência de abertura da ampola retal; agenesia de cólon | Tenesmo, rolamentos constantes, polaciúria, distensão abdominal, mucosas congestas, taquicardia, taquipneia, etc | Achados clínicos; palpação retal | – Enema com soro fisiológico com ou sem óleo mineral – Fluidoterapia |
Uroperitônio | – Ruptura da vesícula urinária – Outras causas: alt. congênitas, infecciosas ou traumáticas em ureteres e úraco | A ruptura ocorre por compressão que a vesícula urinária sofre no parto, ou por grande tensão sobre o cordão umbilical e úraco | – Disúria; polaciúria; taquicardia; taquipneia; depressão; anorexia; distensão abdominal e sintomatologia clínica de toxemia – Em alguns casos: convulsão, coma e morte por uremia | Achados clínicos, abdominocentese, bioquímica sérica | – Fluidoterapia – Cistorrafia |
Úlceras gastroduodenais | Desequilíbrio entre os fatores protetores e agressores da mucosa | Acometem potros lactentes (até 4 meses de vida) + tratados com fármacos anti-inflamatórios não-esteroidais ou submetidos a várias formas de estresse | – Desde úlceras clínicas (com ptialismo, por ex.) a úlceras obstrutivas (com estenose pilórica) | Achados clínicos; endoscopia | – Redutores da acidez gástrica – Protetores de mucosa – Ressecção cir. |
Fonte: Buchanan e Andrews (2003); Thomassian (2005); Reed et al. (2021). Obstrução intestinal com estrangulamento vascular | Ingestão de corpos estranhos | Potros de 2 a 4 meses, idade em que ocorre alteração na alimentação e desenvolvimento do intestino grosso | – Dores intensas e persistentes; atonia ou distensão abdominal | Achados clínicos | – Cirúrgico: ressecção do trecho intestinal comprometido |
Quadro 5. Principais alterações respiratórias em neonatos equinos e suas características
Enfermidade | Etiologia | Epidemiologia | Sinais clínicos | Diagnóstico | Tratamento |
Síndrome da asfixia perinatal | Falta de oxigenação celular, resultando em hipoxemia e isquemia | – Acomete potros no 1/3 final da gestação e no 1º mês após o parto – No pré-parto: insuficiência placentária, com comprometido fluxo sanguíneo uteroplacentário – No pós-parto: Hipoplasia pulmonar; hérnia diafragmática, etc | Variáveis: falhas renais; encefalopatia; transtornos cardiorrespiratórios; letargia; cianose e sintomatologia neurológica comportamental | Dados clinico-epidemiológicos | – Fluidoterapia – Anticonvulsivante – Antibioticoterapia |
Pneumonia | – Bacteriana: aspiração de fluido amniótico contaminado – égua com placentite bacteriana – Viral: Influenza equina, herpesvírus equino, etc – Fúngica: Candida albicans, Hystoplasma capsulatum (infecção uterina) | Situações de estresse com tais características de manejo: elevada lotação animal; transporte de potros; carência de vacinação da égua e de controle parasitário; falha na transferência da imunidade passiva | Febre; prostração; secreção nasal mucopurulenta; tosse; disfagia; abscessos submandibulares e ruídos pulmonares e traqueais | – Achados clinico-epidemiológicos – Isolamento do microrganismo | Sintomático: – Bacteriana: Antibioticoterapia – Viral: tratamento de suporte – Fúngica: Fluconazol ou Anfotericina B |
Aspiração de mecônio ou leite | – De mecônio: asfixia no pré ou no pós-parto de mecônio. – De leite: potros com fissura palatina; iatrogênica (colocação errônea da sonda nasogástrica, amamentação forçada com mamadeira) | Acomete potros nos primeiros dias de vida | – De mecônio: dificuldades respiratórias e até doenças neurológicas (encefalopatia neonatal). – De leite: regurgitação nasal de leite, auscultas pulmonar e traqueal anormais | – De mecônio: achados clínicos e radiográficos. – De leite: dados históricos; achados clínicos; endoscopia; radiografia | – De mecônio: limpeza das vias nasais com auxílio de tubo nasotraqueal; ventilação assistida (alguns casos). – De leite: terapia antimicrobiana de largo espectro; alimentação enteral |
Quadro 6. Principais más formações congênitas, de incompatibilidade mãe-feto e outras causas infecciosas em neonatos equinos e suas principais características
Enfermidade | Etiologia | Epidemiologia | Sinais clínicos | Diagnóstico | Tratamento |
Isoeritrólise neonatal | Incompatibilidade do grupo sanguíneo da égua com o do potro, levando a uma hipersensibilidade do tipo 2 | Acomete de 1 a 2% dos potros neonatos | Aparecem 2 a 24 horas após a ingestão do colostro, tais como: fraqueza, depressão, redução do reflexo de sucção, cansaço, palidez de mucosas, icterícia, taquicardia e taquipneia. Pode desenvolver septicemia e convulsões | Dados clinico-epidemiológicos | Necessário cessar imediatamente por 48hs a ingestão de colostro pelo potro, retomando a alimentação com o leite materno na proporção de 10% do peso corporal a cada 2hs. Fluidoterapia, antibioticoterapia, transfusões sang. |
Hérnia umbilical | Geralmente por processos hereditários, infecciosos ou traumáticos | Desenvolve-se em 0,5-2% dos potros. Fatores que predispõem o desenvolvimento de hérnias: tração excessiva do cordão umbilical; infecções umbilicais, por desinfecção incorreta ou não-realizada. | Aumento de volume na região umbilical, de temperatura, consistência e sensibilidade do saco herniário, muitas vezes com sinais de cólica | Dados clinico-epidemiológicos | Herniorrafia |
Onfaloflebite | Processo infeccioso das estruturas umbilicais causado, geralmente, por E. coli, Streptococcus zooepidermicus e Clostridium sp. | Logo após o parto, ocorre o rompimento do cordão umbilical e tem-se, assim, uma porta de entrada para diversos patógenos | O cordão umbilical apresenta-se enegrecido, com edema localizado e secreção purulenta. Pode-se ainda ter febre, diarreia, apatia | Dados clinico-epidemiológicos | – Tópico: antissépticos, antibióticos e curativos. – Sistêmico: antibioticoterapia |
Quadro 7. Principais deformidades articulares e processos infecciosos a estes relacionados, em neonatos equinos, e suas principais características
Enfermidade | Etiologia | Epidemiologia | Sinais clínicos | Diagnóstico | Tratamento |
Deformidades flexurais dos membros | Causas multifatoriais: doenças adquiridas pela égua durante a gestação que possam levar a deformidade flexurais no potro; deficiências nutricionais na égua; agentes teratogênicos; alterações genéticas; alterações neuromusculares, defeitos na formação de elastina; problemas relacionados à aderência das fibras de colágeno e deformidades adquiridas pelo potro nos dois primeiros anos de vida | As deformidades flexurais adquiridas ocorrem desde os primeiros dias até dois anos de vida. Têm maior incidência e se manifestam, geralmente, a partir da desmama, acometendo os dois membros anteriores dos potros | Hiperflexão e/ou hiperextensão dos membros. O tipo de deformidade é nomeado de acordo com a articulação envolvida, sendo classificada como deformidade contratural. Em muitos casos: somente falta de mobilidade da articulação ou da região articular | Achados clinico-epidemiológicos e palpação da área afetada | – Extensão manual forçada dos membros afetados pelo menos duas a três vezes por dia. – Anti-inflamatórios (Fenilbutazona), protetores de mucosa gástrica. Extensores de dedo e talas de gesso também podem ser benéficas. – Casqueamento corretivo e tratamento cirúrgico |
Poliartrite séptica e Síndrome da Osteomielite | – Streptococcus sp. – E. coli – Staphylococcus sp. – Clostridium sp. | Em neonatos, tem-se o risco de infecção articular maior no 1º mês de vida, devido a falha na transferência de imunidade passiva; e também cura inadequada do cordão umbilical | Claudicação, apatia, hipertermia, prostração, edema periarticular, dor nas articulações; distensão da articulação envolvida, fístulas e feridas secundárias | Achados clinico-epidemiológicos | Antibioticoterapia de amplo espectro e sistêmico também; drenagem (caso necessário) e repouso articular. Podem ser utilizados anti-inflamatórios esteroidais e condroprotetores |
3.1.3.3 Manejo alimentar
Dentre a reprodução e a genética, a nutrição é um ponto que se mostra igualmente importante aos demais e por isso deve ser dada uma atenção especial, sabendo-se que os outros pontos trabalham conjuntamente a fim de expor a grande capacidade potencial de desenvolvimento do animal (CINTRA, 2011). A deficiência nutricional afeta significativamente os ossos e as cartilagens, visto que quaisquer alterações na disponibilidade dos componentes que participam da estruturação do esqueleto ou de enzimas e hormônios alterará a síntese desses tecidos (FRAPE, 2004).
Tratando-se de potros, o manejo alimentar se inicia com a mãe, no terço final da gestação e, posteriormente, tem-se o desmame, que é um dos momentos delicados e importantes na criação de potros (CONSTABLE et al., 2017). O fornecimento de uma dieta balanceada à égua é indispensável, visando então um suporte nutricional adequado ao potro. As consequências de uma má nutrição ofertada aos potros podem ser graves, como por exemplo a alta incidência de deformidades ósseas, as conhecidas doenças ortopédicas do desenvolvimento DODs). Mesmo a genética sendo um fator importantíssimo na formação do animal, esta somente será expressada ao máximo se tiver aporte nutricional para tal, incluindo um manejo higiênico-sanitário adequado (CINTRA, 2011).
3.1.3.3.1 O colostro
O colostro é a primeira secreção láctea, constituído de leite e elementos do soro sanguíneo como as imunoglobulinas, principalmente a imunoglobulina G. O leite da égua é geralmente composto por 6% de lactose, 2,2% de proteína, 1,6% de gordura, 0,1% de cálcio e 47cal/100g, variando de acordo com a raça e a idade da égua, logo, são componentes essenciais ao potro (EBING & RUTGERS, 2006).
O mecanismo seletivo onde se tem transferência de IgG do sangue para a glândula mamária envolve vários fatores, desde receptores na membrana basal ou intercelular da célula acinar epitelial a controle hormonal na síntese e transporte de imunoglobulinas. A secreção de colostro, em si, é breve e o potro deve ingeri-lo nas doze primeiras horas de vida, o mais rapidamente, visto que a absorção intestinal após esse tempo não será viável (CONSTABLE et al., 2017).
3.1.3.3.2 Transferência de imunidade passiva
Para que o neonato esteja adequadamente protegido contra infecções, é necessária a ingestão do colostro e, consequentemente, absorção das imunoglobulinas que conferirão tal proteção imunológica ao animal. Porém, a concentração mínima dessas imunoglobulinas que garantam proteção depende de inúmeros fatores: inerentes ao meio ambiente, aos tipos de patógenos encontrados nesse meio, tipo de manejo e a qualquer tipo de estresse aos quais o animal seja submetido (AFIXEIRA et al., 2015).
As principais falhas na transferência da imunidade passiva em neonatos equinos estão listadas abaixo:
- Falha na produção de colostro: esta condição é relativamente rara, podendo acometer fêmeas primíparas por déficit no mecanismo de seleção de imunoglobulinas do sangue para concentração na glândula mamária (LUIZ & SILVA, 2022);
- Lactação prematura: relativamente comum, levando a uma baixa de imunidade nos potros. Esta secreção prematura perdurando por mais de 24 horas, reduz intensivamente a concentração de anticorpos destinados à proteção do neonato (LUIZ & SILVA, 2022);
- Ingestão de colostro tardia: ocorre nos casos em que a égua não permite que o potro mame, por diversos fatores, muitos deles comportamentais explicados por Grogan & McDonell, 2005, ou mesmo por fraqueza do neonato. Logo, potros que demoram mais de 12hs para ingerir o colostro têm sua absorção intestinal comprometida (FRAPE, 2004).
- Estresse e má absorção intestinal: Maiores níveis de cortisol, que é o hormônio relacionado a situações estressantes, não interferem diretamente na absorção de IgG pelo neonato equino. Na verdade, são fatores como o estresse térmico que resultam em fraqueza muscular, impedindo o animal de permanecer em estação e, consequentemente, contribuindo para menor ingestão de colostro (LUIZ & SILVA, 2022);
- Prematuridade e indução do parto: algumas éguas podem parir muito antes do tempo esperado, levando a um mecanismo fisiológico de seleção de imunoglobulinas prejudicado, não produzindo a quantidade necessária de colostro originando, assim, potros deficientes na proteção imunológica (CONSTABLE et al., 2017).
3.1.3.3.3 Amamentação e Desmame
Durante a fase de lactação, a égua deve ser mantida em dieta balanceada (relação pastagem versus concentrado) com suplementação mineral e, caso necessária, proteica. O sal mineralizado deve ser ofertado não só para a égua no final da gestação, mas também para o potro, sendo fundamental a regularização deste consumo adequado (CONSTABLE et al., 2017).
O momento certo do desmame é algo bastante variável, mas nos animais de vida livre o desmame ocorre sutilmente. Potros que apresentam crescimento superior ao padrão, devem ter o aleitamento cessado previamente a fim de evitar a postura de beberagem, que causa desvios ortopédicos. Porém, não existe uma época de desmame padrão para todos. Para se determinar o momento mais adequado tem que ser observado o interesse do potro em se alimentar de outros alimentos e digerir adequadamente. É o período mais crítico da criação e deve ser tratado com importância e responsabilidade, visto que o desmame pode ter consequências físicas e psíquicas indesejáveis no potro (McDONELL, 2013).
Métodos de desmame variam desde uma remoção abrupta do potro até métodos de separação mais graduais. O método de separação gradual remove o potro de todo contato físico, porém o potro fica próximo à égua, permitindo que ele a veja, cheire e ouça sua mãe. Após alguns dias lado-a-lado, as éguas são completamente removidas dos potros. Portanto, pode-se dizer que o estresse do potro é consideravelmente reduzido quando permitido o acesso visual e auditivo às mães. Uma vez desmamados, os potros devem ser alojados em piquetes ou currais com outros desmamados, iniciando a organização social destes (LUIZ & SILVA, 2022). Portanto, independentemente do tipo de desmame adotado, este deve ser feito respeitando a época ideal e utilizando as boas práticas de manejo (FRAPE, 2004; CINTRA, 2011).
3.1.3.3.4 Crescimento
Os potros atingem 80% de sua altura até a época de desmame, atingindo seu desenvolvimento corporal completo aos cinco anos, variando conforme sexo, raça e indivíduo (CINTRA, 2011; REZENDE et al., 2012). À medida que o animal se desenvolve, suas necessidades nutricionais se ampliam e seu organismo se torna cada vez mais exigente. Minerais como o cálcio, fósforo e cobre são importantes no crescimento do potro, pois participam da formação estrutural do organismo, estruturando a formação dos dentes, ossos e composição proteica dos músculos (REZENDE et al., 2012).
A importância de uma dieta balanceada, desde o início de sua vida, mantém a sua fisiologia em perfeita harmonia com suas necessidades, prevenindo futuras doenças ou desequilíbrios morfológicos. Tratando-se de doenças ortopédicas do desenvolvimento (DOD), em potros puro sangue inglês, Lins et al. (2008) observaram que tais problemas ortopédicos são mais frequentes em animais que recebem dietas desequilibradas nutricionalmente.
O início de um comportamento observador da mãe por parte do potro ocorre, principalmente, nos primeiros 20 dias pela manhã e ao anoitecer. Os potros tendem, então, a se alimentar juntamente com a mãe (CINTRA, 2011). Para auxiliar neste aprendizado, a alimentação no cocho ou creep-feeding pode ser uma alternativa viável, suprindo os déficits nutricionais da alimentação exclusiva com o leite materno. Neste sistema, é fornecida uma alimentação concentrada diferenciada específica para o potro, a qual é ministrada em um cocho cercado dentro do próprio piquete da mãe (FRAPE, 2004).
Estudos realizados em potros Mangalarga Marchador suplementados com sistema de creep-feeding durante o aleitamento, apresentaram melhor desenvolvimento e medidas morfológicas após a desmama; inclusive, foi descartada a possibilidade de que induz o desenvolvimento de possíveis doenças ortopédicas do desenvolvimento (REZENDE et al., 2012). As desvantagens desse sistema é a competição existente entre animais do mesmo grupo e que leva, consequentemente, a diferentes quantidades ingeridas do suplemento por animal (DITTRICH, 2016).
3.2 Como evitar as falhas de manejo
Práticas profiláticas são vitais, visto que incluem diversos fatores a serem adotados na rotina do manejo com estes animais, desde o início da gestação até cuidados no pós-parto. Com a égua gestante, é imprescindível as práticas de vacinação e desverminação adequadas. É importante também fornecer proteção adequada contra as condições climáticas adversas, área limpa para a égua e o potro e ter conhecimento da história pregressa da égua (GROGAN & McDONELL, 2005).
É importante estar presente durante o parto, de modo que, ao surgirem problemas estes possam ser sanados imediatamente. No pós-parto, o exame do neonato é fundamental, visando a detecção precoce de problemas, facilitando a realização de cuidados veterinários fundamentais para a saúde geral do potro, visto que o estado de saúde do neonato pode modificar-se rapidamente (PIERCE, 2003).
A fim de conferir imunidade adequada ao animal, reforça-se a importância do fornecimento adequado do colostro. Cerca de 80% da proteína existente no colostro é de imunoglobulinas G. Estes componentes tem impacto significativo não só na maturação gastrointestinal, mas na imunidade neonatal (KNOTTENBELT et al., 2004). Caso não haja colostro equino disponível, as alternativas são os substitutos de colostro comerciais ou colostro bovino, no entanto, este último é normalmente pouco palatável para os potros e seus anticorpos colostrais podem não ser adequados para proteção do potro (CONSTABLE et al., 2017). Os substitutos do colostro comerciais têm a desvantagem de não possuírem componentes como a lactoferrina e fatores de crescimento, que se encontram no colostro natural e têm um papel importante também na imunidade do potro (KNOTTENBELT et al., 2004).
Uma alternativa para grandes produtores pode ser o estabelecimento de um banco de colostro para suprir as necessidades dos potros órfãos ou potros de cujas mães não tenham produzido colostro adequado (KNOTTENBELT et al., 2004). Pode-se colher aproximadamente 200-250 mL de colostro de uma égua, congelá-lo a -20ºC em pequenos recipientes (200-500 mL) e identificar com o nome da égua doadora, tipo sanguíneo, qualidade aferida (através de colostrômetro) e data de colheita (PARADIS, 2006).
Na medicina equina, substâncias derivadas do plasma sanguíneo de éguas doadoras possuem diversas utilizações, tais como: tratar a falha na transferência de imunidade passiva; sepse do potro; coagulopatias; como agentes antiendotóxicos e para fornecer suporte coloidal. O uso de plasma deve ser avaliado cuidadosamente antes da administração por ter potencial, embora raro, de reações adversas (TENNENT-BROWN, 2011). As éguas doadoras de plasma devem estar testadas para as doenças infecciosas equinas mais comuns e terem sido vacinadas antes da colheita de sangue para produção de plasma. A colheita, processamento e armazenamento do plasma deve ser feita com assepsia rigorosa para prevenir contaminação iatrogênica. A administração de 1 litro de plasma equino com concentração normal de imunoglobulinas G é, normalmente, o suficiente. Quando se utiliza plasma congelado, este deve ser aquecido em banho maria até atingir a temperatura ambiente, evitando ultrapassar 40ºC para não provocar a desnaturação das proteínas plasmáticas (PARADIS, 2006).
A administração de plasma hiperimune deve ser feita através da cateterização da veia jugular ou cefálica. O catéter é ligado a um sistema de infusão com filtro, que permite a remoção de debris celulares existentes. A velocidade inicial de infusão deve ser lenta (0,5 mL/kg de peso vivo em 10-20 minutos), observando-se, então, se o neonato apresenta alguma reação. A partir do momento que os sintomas aparecerem, tais como edema no peito e membros, fasciculações musculares, a transfusão deve ser interrompida imediatamente e deve-se procurar uma outra fonte de plasma. Caso nenhum sinal seja observado, pode-se aumentar a velocidade de administração até 40mL/kg/hora (PARADIS, 2006).
Logo, a utilização de plasma hiperimune por via intravenosa aos potros no primeiro mês de vida pode reduzir significativamente a ocorrência de diversas afecções, inclusive por Rhodococcus equi. Outras formas preventivas de se evitar a Rodococose incluem:
- Compostagem do esterco: O R. equi é saprófita do solo e pode ser encontrado em solos de pouca profundidade. É interessante realizar a remoção do esterco e, posteriormente, fazer compostagem deste, ao invés de apenas recolher e espalhar diretamente nas pastagens (CHAFFIN et al., 2000).
- Isolamento de animais afetados: Importante realizar não somente a apartação dos animais afetados, mas o impedimento de que animais sadios sejam alojados nestes mesmos piquetes posteriormente (CHICKEN et al., 2012).
- Densidade populacional: Acredita-se também que a densidade de cavalos, particularmente de éguas e potros, como também a frequente presença de éguas e potros transitórios, aumenta a probabilidade de infecção. A realização de rotação de piquetes também é recomendada, promovendo adequado crescimento da gramínea (MUSCATELLO et al., 2006).
- Ventilação: A inalação é considerada como o principal modo de transmissão, visto que um ambiente empoeirado foi associado a infecções por R. equi. Assim, melhorando a ventilação pode-se diminuir o risco de doenças respiratórias infecciosas. O simples fato de aplicar aspersores de água em pequenos piquetes pode reduzir a poeira (CONSTABLE et al., 2017).
Visando prevenir a Salmonelose, as seguintes medidas podem ser tomadas:
- Manejo higiênico-sanitário: Retirada periódica dos dejetos, desinfecção das instalações, adoção de piquetes-maternidade, correta ingestão de colostro pelos potros, corte e cura do umbigo dos mesmos e fornecimento de pastos de qualidade (CONSTABLE et al., 2017).
- Cuidados com o solo ou piso das baias: No caso dos estábulos e pastagem, não há nenhum procedimento ambientalmente seguro para a desinfecção do solo quando houver alojado um animal que esteja eliminando Salmonella sp, pois estes organismos infecciosos podem sobreviver no solo com fezes por mais de 5 anos (CONSTABLE et al., 2017). Nesse caso a única solução possível é remover parte do solo, 8-12 cm, sendo o ideal 20-30 cm. Deve-se ter cuidado com as camas de baias, por exemplo com maravalha, pois podem transportar o patógeno, devendo-se ser descartadas em locais em que os animais não tenham acesso ou em compostagens (DWYER, 2004).
- Vacina: No Brasil, estão disponíveis vacinas inativadas e atenuadas para imunoprofilaxia da Salmonelose em potros. Estão recomendadas as vacinas inativadas para a primovacinação em potros de três a quatro meses, reforço com 30 dias depois e revacinação anual. Apesar de praticamente não serem utilizadas no país, as vacinas atenuadas possuem como vantagens a indução de resposta imune humoral e celular (GYLES & FAIRBROTHER, 2022).
Tratando-se de Sepse do Potro, lista-se abaixo as principais medidas profiláticas relacionadas:
- Manejo higiênico-sanitário: Importante manter a égua nas instalações em que o parto ocorrerá, para permitir a produção de anticorpos frente a patógenos locais. Limpeza geral das baias, inclusive desinfecção precedente ao seu uso; e desinfecção do umbigo adequada (BARR, 2012).
- Fornecimento adequado da alimentação: observar se o potro procura a mãe para mamar o colostro e, somente se isto não ocorrer, ofertar com auxílio de mamadeira. Caso o potro esteja muito debilitado, utilizar uma sonda nasogástrica no neonato para que a alimentação possa ser fornecida (GOMES et al., 2010).
- Antibioticoterapia: Esta só deve ser iniciada se for confirmado um processo infeccioso, visto que o perigo de se desenvolver resistência microbiana é superior aos possíveis benefícios que sua utilização possa trazer (PATEL & SAIMAN, 2010).
Sobre a Síndrome Cólica, segue uma lista de medidas preventivas que podem ser adotadas:
- Retenção de mecônio: A principal causa de retenção de mecônio é a não-administração ou falha na ingestão do colostro. Sendo assim, torna-se imprescindível a correta administração deste, visto que é importantíssimo no processo de excreção destas primeiras fezes (REED et al., 2021).
- Uroperitônio: A ruptura de vesícula urinária é a principal causa de Uroperitônio nos potros, seja decorrente de alterações congênitas ou traumáticas, no momento do parto. Sendo assim, recomenda-se cautela quando, no parto, a égua necessitar de auxílio, visto que demasiada tensão sobre o cordão umbilical e o úraco podem tracionar e romper a vesícula urinária. Tais auxílios devem ser exclusivamente realizados por médicos veterinários (THOMASSIAN, 2005).
- Úlceras gastroduodenais: Deve-se tomar cautela na prescrição de drogas anti-inflamatórias não esteroidais, pois estas utilizadas em demasia podem sensibilizar a mucosa estomacal e predispor o neonato ao desenvolvimento de úlceras. Adicionalmente, mesma cautela deve-se ter quanto ao processo de desmame ou qualquer fator que venha a estressar o animal, predispondo, igualmente, ao desenvolvimento de úlceras (THOMASSIAN, 2005).
- Obstrução intestinal com estrangulamento vascular: Em virtude da causa mais comum de obstrução intestinal em neonatos ser a ingestão de corpos estranhos, é imprescindível, sendo assim, realizar manejo higiênico-sanitário adequado. Sendo assim, limpeza adequada das baias ou piquetes, evitando que o animal tenha acesso a objetos estranhos é recomendada (REED et al., 2021).
Dentre as principais afecções respiratórias, descreve-se as seguintes medidas preventivas:
- Síndrome da asfixia perinatal: Em razão desta Síndrome estar relacionada a fatores do pré-parto e do pós-parto, para ambas, a solução é simplesmente fornecer à égua alimentação adequada, visto que com esta síndrome podem-se desenvolver, consequentemente, anemia, hipoproteinemia e endotoxemia, alterando o fluxo sanguíneo. No pós-parto, tem-se a importância de adequado auxílio médico, quando necessário, principalmente na desobstrução das vias aéreas (BOFF et al., 2004).
- Pneumonia: Seja a pneumonia de causa bacteriana, viral ou fúngica, deve-se evitar alta densidade populacional; tomar cautela no transporte de potros evitando estresse; importante a égua ter seu calendário de vacinação e desverminação atualizados; atentar para a importância do colostro na conferência de imunidade ao potro; melhorar ventilação das baias e realizar isolamento dos animais acometidos (RIBAS et al., 2009).
- Aspiração de mecônio ou leite: Nos casos de aspiração de mecônio ou leite, adequado manejo higiênico-sanitário deve ser ofertado a fim de evitar que o animal entre em contato com estas fezes. Adicionalmente nos casos de aspiração de leite, pode-se evitar colocando a sonda nasogástrica (quando necessária) de forma correta, evitando falsas vias (SANCHEZ et al., 2008).
Nos casos de más formações congênitas, incompatibilidade mãe-feto e outras causas infecciosas, formas profiláticas são encontradas abaixo:
- Isoeritrólise neonatal: Para que os neonatos apresentem isoeritrólise, a égua deve ser pré-sensibilizada através do parto de um potro incompatível. No entanto, procedimentos que necessitem de transfusões sanguíneas e o desenvolvimento de anormalidades placentárias em que se tenha o derramamento de hemácias fetais poderão sensibilizar a égua a produzir anticorpos (LEWIS, 2000).
- Hérnia umbilical: Esta pode ter origem hereditária, traumática ou infecciosa e formas de se evitar tal enfermidade é ofertando um manejo higiênico-sanitário adequado e evitar, ao máximo, traumas que possam ocorrer frente a um manejo deficitário.
- Onfaloflebite: Importante a realização de desinfecção com solução de iodo a 5% logo após o corte do cordão umbilical (seja ele realizado pelo médico veterinário ou naturalmente, quando a égua se movimenta), evitando que sirva como porta de entrada para diversos patógenos (RODRIGUES et al., 2010).
E, por fim, as principais medidas preventivas para deformidades articulares e processos infecciosos, a estes relacionados, são:
- Deformidades flexurais dos membros: Vacinação das éguas durante a gestação é fundamental, visto que algumas enfermidades adquiridas pela mãe durante a gestação podem causar tais deformidades no potro. Deficiências nutricionais também estão associadas a ocorrência de tais deformidades, logo, uma dieta balanceada nutricionalmente deve ser ofertada à égua. Na maioria dos casos, as deformidades flexurais dos membros são adquiridas pelos potros no período de desmama. Sendo assim, torna-se imprescindível escolher um método de desmama adequado (CORRÊA, 2007).
- Poliartrite séptica e Síndrome da Osteomielite: Em virtude de a poliartrite séptica possuir como fonte primária a septicemia, seja decorrente de onfaloflebites, pneumonias ou diarreias de origem bacteriana, torna-se fundamental realizar um manejo higiênico-sanitário adequado, incluindo desinfecção do umbigo, fornecimento de alimentação adequada tanto para a égua como para o potro a fim de se evitarem afecções, quaisquer que sejam suas origens (REED et al., 2021).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os cuidados com o neonato equino devem ser iniciados a partir da confirmação da gestação, incluindo avaliação criteriosa da égua e do manejo a estes oferecido, evitando ao máximo falhas que possam comprometer a saúde destes. Tem-se o intuito, portanto, de garantir uma gestação tranquila e o nascimento de um potro saudável. As primeiras horas de vida de um neonato equino são determinantes para sua saúde, por isso que o manejo adequado é imprescindível, além do conhecimento do comportamento normal deste animal, possibilitando a identificação precoce de possíveis anormalidades. Portanto, a adoção de cuidados adequados com o neonato garantirá maiores chances de desenvolvimento saudável do potro, reduzindo custos de possíveis tratamentos e com boas perspectivas em relação às atividades que estes animais exercerão quando adultos.
REFERÊNCIAS
AFIXEIRA, Larissa Salles, et al. Falha de transferência passiva em potros: a importância da imunidade do colostro. R. Bras. Med. Equina, v. 10, n. 59, p. 20-22, 2015. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/vti-483027. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
ALVES B. R. C, et al. Sanidade em equinos; principais doenças e controle. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, 2004.
AUER, Jorge A; STICK, John A. Flexural deformities. In: Equine surgery. Sant Louis: Saunders, p.1150-65, 2006.
BARR, Bonnie S. Infectious diseases. In: Equine pediatric medicine. London: Manson Publishing, p. 52-56, 2012.
BECK, Sérgio Lima; CINTRA, André Galvão. Treinamento específico e/ou condicionamento físico. Araucária. (Manual de Gerenciamento Equestre). 2011.
BOFF, André, et al. Síndrome da asfixia no periparto: relato de caso. CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA. Anais XIV, Pelotas-RS, 2004.
BUCHANAN, Benjamin R.; ANDREWS, Frank M. Treatment and prevention of equine gastric ulcer syndrome. Veterinary Clinics North American: Equine Practices, v. 19, n. 3, p. 575-597, 2003. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14740758/. Acesso em: 14 de dezembro de 2023.
CANISSO, Igor F, et al. Isoeritrólise Neonatal Equídea. Revista Brasileira de Medicina Equina, v. 18, n. 3, p. 30-36, 2008.
CASTAGNETTI, Carolina, et al. Venous blood lactate evaluation in equine neonatal intensive care. Theriogenology, v. 73, p. 343-357, 2010. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19962183/. Acesso em: 14 de dezembro de 2023.
CHAFFIN, M. Keith, et al. Farm management practices associated with Rhodococcus equi pneumonia of foals. In: PROCEEDINGS. AM ASSOC EQUINE PRACT, EUA, Anais… EUA. p. 306– 307, 2000. Disponível em: https://www.ivis.org/sites/default/files/library/aaep/2000/306.pdf. Acesso em: 14 de dezembro de 2023.
CHICKEN, C, et al. Air sampling in the breathing zone of neonatal foals for prediction of subclinical Rhodococcus equi infection. Equine Vet J., v. 44, n. 2, p. 203–206, 2012. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22239721/. Acesso em: 14 de dezembro de 2023.
CINTRA, André Galvão. Genética x Alimentação x Manejo/Treinamento. In: CINTRA, A. G. O Cavalo – Características, Manejo e Alimentação. São Paulo: Roca, p.15-16, 2011.
CONSTABLE, Peter D., et al. Veterinary Medicine: A textbook of the diseases of cattle, horses, sheep, pigs and goats, EUA, Philadelphia: Saunders Elsevier, 2017.
CORRÊA, Rodrigo Romero Deformidades flexurais em equinos: revisão bibliográfica. Rev. Ciênc. Veter., v. 5, n. 5, p. 37-43, 2007. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/237287317_Deformidades_flexurais_em_equinos_revisao_bibliografica. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
DITTRICH, João Ricardo. Planejamento alimentar e nutricional da criação de potros. Revista Acad. de Ciênc. Equina, v. 1, n. 1, 2016. Disponível em: http://www.gege.agrarias.ufpr.br/grupeequi/racequi/artigos/2016/planejamento%20alimentar.pdf. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
DWYER, Roberta M. Environmental disinfection to control equine infectious diseases.Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v. 203, p. 531-542, 2004. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15519816/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
EBING, Pauline; RUTGERS, Karin. A preparação de laticínios. In: Série Agrodok, n. 36, p.14, 2006. Disponível em: https://www.agromisa.org/wp-content/uploads/Agrodok-36-A-prepara%C3%A7%C3%A3o-dos-lactic%C3%ADnios.pdf. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
FEARY, Darien J.; HASSEL, Diana M. Enteritis and colitis in horses. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 22, p. 437-479, 2006. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16882483/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
FELIPPE, Maria Julia B. Imunodeficiências Primárias em Equinos. Veterinária e Zootecnia, v. 20, p. 60-72, 2013. Disponível em: https://rvz.emnuvens.com.br/rvz/article/view/1511. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
FRANCESCHINI, Débora Thompson Biasoli; CUNHA, Maria Luiza Chollopetz. Associação da vitalidade do recém-nascido com o tipo de parto. Rev Gaúcha Enferm, v. 28, p. 324-330, 2007. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/23581. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
FRAPE, David. Equine Nutrition and Feeding. State Avenue: Blackwell Publishing Ltd, 636p, 2004.
FREY-JR, Friedrich. Índices epidemiológicos em Potros Puro Sangue Inglês, do nascimento até os seis meses de vida, na região de Bagé-RS. 2006.42f. Tese (Mestrado em Ciências) – Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2006.
GIGUÈRE, S, et al. Rhodococcus equi: clinical manifestations, virulence, and immunity. J Vet Intern Med, v. 25, n. 6, p. 1221–1230, 2011. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22092609/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
GOMES, Danilo Carloto, et al. Alterações patológicas em potros infectados por Actinobacillus equuli subsp. Haemolyticus. Ciência Rural, v. 40, n. 6, p. 1452-1455, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cr/a/4PzbXRJXSNBHXKXk5T8NjfS/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
GÓMEZ, M. Alonso, et al. Criterios de diferenciación entre potros sépticos y potros inmaduros. Revista Complutense de Ciencias Veterinarias, v. 2, n.2, 2008. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2961373. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
GONZALEZ-LOZANO, Miguel, et al. Vetrabutine clorhydrate use in dystocic farrowings minimizes hemodynamic sequels in piglets. Teriogenology, v. 78, p. 455-461, 2012. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22538006/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
GROGAN, Elkanah H.; MCDONNELL, Sue M. Mare and foal bonding and problems. Clin Tech Equine Pract, Elsevier Saunders, v. 4, p. 228-237, 2005. Disponível em: https://www.vet.upenn.edu/docs/default-source/research/equine-behavior-laboratory/mare_and_foal_bonding.pdf?sfvrsn=6e26e0ba_0. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
GYLES, Carlton L.; FAIRBROTHER, John M. Escherichia coli. In: Pathogenesis of Bacterial Infections in Animals. Estados Unidos: Wiley-Blackwell, 5th ed., p.117-161, 2022.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produção da pecuária municipal. 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/equinos/br Acesso em: 14 de dezembro de 2023.
JOHNS, Imogen C, et al. Presumed immune-mediated hemolytic anemia in two foals with Rhodococcus equi infection. J Vet Emerg Crit Care, v. 21, n. 3, p. 273–278, 2011. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21631714/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
KNOTTENBELT, Derek C, et al. Equine neonatology medicine and surgery. W.B. Saunders, Philadelphia, p. 369, 2004.
LINS, Luciana Araújo, et al. Abordagem das doenças ortopédicas do desenvolvimento (DOD) em potros puro sangue inglês do nascimento ao desmame em um haras no sul do Rio Grande do Sul. In: XVII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, Anais... Pelotas-RS, 2008.
LOURENÇO, M. L. G.; MACHADO, L. H. A. Características do período de transição fetal neonatal e particularidades fisiológicas do neonato canino. Rev. Bras. Reprod. Anim., vol. 37, p.303-308, 2013. Disponível em: http://cbra.org.br/pages/publicacoes/rbra/v37n4/p303-308%20(RB443).pdf. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
LUIZ, Felipe; SILVA, Luan Ricci. Diagnóstico de gestação em equinos. Revista Universo, v. 1, n. 7, 2022.
McDONELL, S. Organização social e comportamento natural de equinos – Informações básicas para médicos veterinários especializados em equinos. In: XIV Conferência Anual da Abraveq, Campinas. Revista Brasileira de Medicina Veterinária Mais Equina, v. 46, p.135-138, 2013.
MCGREEVY, Paul, et al. Equitation Science. Reino Unido: Wiley-Blackwell. 314 p., 2010.
MELO, Ubiratan Pereira, et al. Doenças gastrintestinais em potros: etiologia e tratamento. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 4, p. 733-744, 2007. Disponível em: https://revistas.ufg.br/vet/article/view/2695. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
MUSCATELLO, Glen, et al. Associations between the ecology of virulent Rhodococcus equi and the epidemiology of R. equi pneumonia on Australian thoroughbred farms. Appl Environ Microbiol, v. 72, n. 9, p. 6152–6160, 2006. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16957241/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
NOGUEIRA, Carlos Eduardo Wayne; LINS, Luciana Araújo. Neonatologia e Pediatria Equina. Pelotas: Ed. UFPel, v. 1, p.168, 2009.
PAGANELA, Júlio César, et al. Desvios angulares em potros da raça Crioula na região sul do RS do primeiro ao oitavo mês de vida sob manejo extensivo de criação. Revista Ciência Animal Brasileira, v.11, n.3, p. 713-717, 2010. Disponível em: https://revistas.ufg.br/vet/article/view/6361. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
PARADIS, Mary Rose. Equine neonatal medicine: a case based approach. Elsevier, EUA, p. 286, 2006.
PATEL, Sameer J.; SAIMAN, Lisa. Antibiotic resistance in neonatal intensive care unit pathogens: mechanisms, clinical impact, and prevention including antibiotic stewardship. Clin Perinatol, v. 37, n. 3, p. 547-563, 2010. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20813270/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
PIERCE, S. W. Foal Care From Birth to 30 Days: A Practitioner’s Perspective. In: PROCEEDINGS OF THE 49TH ANNUAL CONVENTION OF THE AMERICAN ASSOCIATION OF EQUINE PRACTITIONERS (AAEP), Anais… v. 49, p. 13-21, 2003.
PORTO, Ana Carolina Rusca Correa, et al. Rhodococcus equi parte 2 – imunologia e profilaxia. Ciência Rural, v. 41, n. 12, p. 2151-2158, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cr/a/nHWTWbBkxnYQPpks7YbWx6z/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
PRESTES, Nereu Carlos; LANDIM-ALVARENGA, Fernanda da Cruz. Obstetrícia Veterinária.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
QUINN, P. J., et al. Veterinary Microbiology and microbial diseases. Iowa: Wiley-Blackwell, 2011. 286p.
REED, Stephen M., et al. Medicina Interna Equina. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
REZENDE, Adalgiza S. C., et al. Nutrição de potros. Revista V&Z em Minas – Suplemento Especial, p. 33-39, 2012. Disponível em: https://crmvmg.gov.br/arquivos/Complemento%20especial.pdf. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
RIBAS, Leandro do Monte, et al. Fatores de risco associados a doenças respiratórias em potros PSI do nascimento ao sexto mês de vida. Ciência Rural, v. 39, n.6, p. 1789-1794, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cr/a/6B6hhmQbQFwtQXybK8CcTsx/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
RIZZONI, Leandro Becalete; MIYAUCHI, Tochimara. Principais doenças dos neonatos equinos. Acta Veterinaria Brasilica, v.6, n.1, p.9-16, 2012. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/vti-722120. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
RODRIGUES, Celso A., et al. Correlação entre os métodos de concepção, ocorrência e formas de tratamento das onfalopatias em bovinos: estudo restropectivo. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 30, n. 8, p. 618-622, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pvb/a/TRwkpj9KCDvy8GtjbqZcYmb/abstract/?lang=pt. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
SANCHEZ, L. Chris, et al. Factors associated with survival of neonatal foals with bacteremia and racing performance of surviving Thoroughbreds: 423 cases (1982-2007). J Am Vet Med Assoc, v. 233, p. 1446-1452, 2008. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18980499/. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
SILVA, Liege Cristina Garcia da, et al. Avaliação clínica neonatal por escore Apgar e temperatura corpórea em diferentes condições obstétricas na espécie canina. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias – RPCV, p. 165-170, 2008. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001827850. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
SMITH, Bradford P. Medicina Interna de Grandes Animais. Davis: Manole, 2006, 5th ed. 1728p.
TENNENT-BROWN, Brett. Plasma Therapy in Foals and Adult Horses. Compendium: Continuing Education for Veterinarians, University of Georgia, p. E1-E4, 2011. Disponível em: https://vetfolio-vetstreet.s3.amazonaws.com/f2/6e2eb0fa5b11e0bfb00050568d3693/file/PV1011_Tennent-Brown.pdf. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
THOMASSIAN, Armen. Enfermidades dos Cavalos. São Paulo: Varela, 2005.
VERONESI, Maria C., et al. An Apgar scoring system for routine assessment of newborn puppy viability and short-term survival prognosis. Theriogenology, v. 72, p.401-407, 2009. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0093691X09001563?via%3Dihub. Acesso em 14 de dezembro de 2023.
[1] Discente do Curso de Doutorado da Pós-graduação em Biotecnologia Animal da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus Botucatu, SP, Brasil e-mail: talita.muniz@unesp.br *Autor correspondente
2 Discente do Curso de Doutorado da Pós-graduação em Biocência Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife, PE, Brasil e-mail: antoniobrito.vet@gmail.com
3 Docente, Coordenação em Medicina Veterinária do Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU, Serra Talhada, PE, Brasil e-mail: illanna.brandao@hotmail.com
4 Docente Associado I da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE), Garanhuns, PE, Brasil e-mail: jorge.lucena@ufape.edu.br