INCIDÊNCIA DE TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR EM ACADÊMICOS DE MEDICINA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10396307


Laura Sant’ Anna Sudario dos Santos¹
Ulisses Rezende Brandão2
Juliana Lilis da Silva2
Natália de Fátima Gonçalves Amâncio³


RESUMO:

Introdução: os transtornos mentais são condições clínicas que se manifestam por meio de modificações nos pensamentos, comportamentos ou emoções. A depressão é percebida nos estudantes como um dos transtornos mentais mais recorrentes, sendo o curso de Medicina o mais prevalente. Isso ocorre devido à extensa carga horária, redução das atividades de lazer, competição intensa entre os estudantes, exposição a situações de morte e sofrimento humanos, incertezas relacionadas ao futuro profissional, pressões pessoais e sociais e desafios financeiros, o que afeta esses acadêmicos em âmbito pessoal e profissional. Objetivo: analisar a incidência do Transtorno Depressivo Maior em acadêmicos de medicina e avaliar os fatores que desencadeiam tal condição durante a graduação, seus impactos na saúde e na vida profissional do estudante. Método: consiste em uma revisão integrativa da literatura, com busca abrangente nas bases de dados BVS, Google Scholar, SciELO, PubMed e EbscoHost. Utilizou-se da estratégia PICO, sendo a questão central: “Qual a incidência de depressão em estudantes de Medicina?”. Os critérios de inclusão foram artigos em português, inglês e espanhol, publicados de 2019 a 2023 nas plataformas citadas, encontrados com os descritores: transtorno depressivo maior, saúde do estudante, transtornos mentais, esgotamento psicológico. Como critério de exclusão, não foram utilizados artigos que não foram encontrados completos digitalmente e gratuitamente e artigos em que o título e o resumo não estavam de acordo com o tema. Resultados: a incidência de depressão nos acadêmicos de Medicina é maior quando comparada à população geral e aos outros cursos de graduação. A prevalência de depressão é maior no sexo feminino e existe uma variedade de resultados quanto ao período específico com maior incidência de depressão (ciclo básico, clínico e internato). Destaca também a relação das escolas médicas com o crescente índice de acadêmicos com sinais e sintomas depressivos, devido à carga horária e intimidação por docentes. Além disso, expõe uma relação dos sinais e sintomas com o uso irregular de psicotrópicos. Discussão: evidencia os fatores genéticos e socioambientais que são fatores de risco para o surgimento da depressão nos acadêmicos de Medicina, como histórico familiar psiquiátrico, insônia, desempenho acadêmico e desafios financeiros. Demonstra ainda fatores de proteção, como ser precedente da cidade onde estuda e morar com a família. Dentre as consequências estão uso irregular por automedicação de psicotrópicos e psicoestimulantes, ideação ou tentativa suicida e possível abandono acadêmico. Conclusão: este estudo destaca a importância de intervenções para promoção da saúde mental, como tratamento psicológico e exercício físico, nos acadêmicos de Medicina, visando reduzir a incidência de depressão adquirida na graduação e garantir o bem-estar biopsicossocial dos discentes.

Palavras-chaves: Depressão. Acadêmicos de Medicina. Transtorno Depressivo Maior. 

ABSTRACT:

Introduction: Mental disorders are clinical conditions that manifest themselves through changes in thoughts, behaviors or emotions. Depression is perceived among students as one of the most recurrent mental disorders, with the medical course being the most prevalent. This is due to the extensive workload, reduced leisure activities, intense competition between students, exposure to situations of human death and suffering, uncertainties regarding their professional future, personal and social pressures and financial challenges, all of which affect these students on a personal and professional level. Objective: To analyze the incidence of Major Depressive Disorder in medical students and assess the factors that trigger this condition during undergraduate studies, its impact on students’ health and professional life. Method: This is an integrative literature review, with a comprehensive search in the VHL, Google Scholar, SciELO, PubMed and EbscoHost databases. The PICO strategy was used, with the central question being: “What is the incidence of depression in medical students?”. The inclusion criteria were articles in Portuguese, English and Spanish, published between 2019 and 2023 on the aforementioned platforms, found with the descriptors: major depressive disorder, student health, mental disorders, psychological exhaustion. The exclusion criteria were articles that could not be found complete digitally and free of charge and articles in which the title and abstract were not in line with the topic. Results: the incidence of depression in medical students is higher when compared to the general population and other undergraduate courses. The prevalence of depression is higher in females and there is a variety of results regarding the specific period with the highest incidence of depression (basic cycle, clinical and internship). It also highlights the relationship between medical schools and the growing rate of students with signs and symptoms of depression, due to the workload and intimidation by teachers. It also exposes a relationship between signs and symptoms and the irregular use of psychotropic drugs. Discussion: This study highlights genetic and socio-environmental factors that are risk factors for the onset of depression in medical students, such as psychiatric family history, insomnia, academic performance and financial challenges. There are also protective factors, such as being from the city where they study and living with family. Among the consequences are irregular self-medication with psychotropic and psychostimulant drugs, suicidal ideation or attempts and possible academic dropout. Conclusion: This study highlights the importance of interventions to promote mental health, such as psychological treatment and physical exercise, in medical students, with the aim of reducing the incidence of depression acquired during undergraduate studies and ensuring the biopsychosocial well-being of students.

Key-words: Depression. Medical Students. Major depressive disorder.

RESUMEN:

Introducción: Los trastornos mentales son condiciones clínicas que se manifiestan a través de cambios en los pensamientos, el comportamiento o las emociones. La depresión es percibida entre los estudiantes como uno de los trastornos mentales más recurrentes, siendo el curso de medicina el de mayor prevalencia. Esto se debe a la gran carga de trabajo, a la reducción de las actividades de ocio, a la intensa competencia entre estudiantes, a la exposición a situaciones de muerte y sufrimiento humano, a las incertidumbres sobre su futuro profesional, a las presiones personales y sociales y a los desafíos financieros, todo lo cual afecta a estos estudiantes a nivel personal y profesional. Objetivo: analizar la incidencia del Trastorno Depresivo Mayor en estudiantes de medicina y evaluar los factores desencadenantes de esta condición durante los estudios de pregrado, su impacto en la salud y en la vida profesional de los estudiantes. Método: Se trata de una revisión bibliográfica integradora, con búsqueda exhaustiva en las bases de datos BVS, Google Scholar, SciELO, PubMed y EbscoHost. Se utilizó la estrategia PICO, siendo la pregunta central: “¿Cuál es la incidencia de la depresión en estudiantes de medicina?”. Los criterios de inclusión fueron artículos en portugués, inglés y español, publicados entre 2019 y 2023 en las plataformas mencionadas, encontrados con los descriptores: trastorno depresivo mayor, salud estudiantil, trastornos mentales, agotamiento psicológico. Los criterios de exclusión fueron artículos que no se pudieron encontrar completos digitalmente y de forma gratuita, y artículos en los que el título y el resumen no se ajustaban al tema. Resultados: la incidencia de depresión en estudiantes de medicina es mayor en comparación con la población general y otros programas de pregrado. La prevalencia de depresión es mayor en el sexo femenino y hay variedad de resultados en cuanto al período específico con mayor incidencia de depresión (ciclo básico, ciclo clínico y pasantía). También destaca la relación entre las facultades de medicina y el creciente número de académicos con signos y síntomas de depresión, debido a la carga de trabajo y a la intimidación por parte de los profesores. También muestra una relación entre los signos y síntomas y el uso irregular de psicofármacos. Discusión: Este estudio destaca factores genéticos y socioambientales que son factores de riesgo para el inicio de la depresión en estudiantes de medicina, como antecedentes familiares psiquiátricos, insomnio, rendimiento académico y desafíos financieros. También muestra factores protectores, como ser de la ciudad donde estudian y vivir con la familia. Entre las consecuencias se encuentran la automedicación irregular con psicofármacos y psicoestimulantes, la ideación o intentos suicidas y el posible abandono académico. Conclusión: Este estudio resalta la importancia de las intervenciones para promover la salud mental, como el tratamiento psicológico y el ejercicio físico, en estudiantes de medicina, con el objetivo de reducir la incidencia de depresión adquirida durante los estudios de pregrado y garantizar su bienestar biopsicosocial.

Palabras-clave: Depresión. Estudiantes de Medicina. Trastorno depresivo mayor.

1 INTRODUÇÃO 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental compreende o aspecto do bem-estar subjetivo, da autonomia, da competência e do potencial de auto realização intelectual e emocional. Nesse viés, os transtornos mentais são condições clínicas que se manifestam por meio de modificações nos pensamentos, comportamentos ou emoções, muitas vezes causando sofrimento pessoal e prejuízo no funcionamento psicológico. Essas condições não apenas afetam o indivíduo que as vivencia, como também podem ter impactos adversos nas pessoas que fazem parte de seu convívio social (CASSOL et al., 2021).

De forma mais específica, analisando as estatísticas dos transtornos mentais no Brasil, segundo a OMS, cerca de 5,8% da população brasileira sofrem de depressão – o que resulta em aproximadamente 11,5 milhões de casos. A origem dessa condição é complexa, envolvendo múltiplos fatores, incluindo disfunção de neurotransmissores como dopamina, noradrenalina e serotonina. Além disso, é influenciada por fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Ela se manifesta através de sintomas como tristeza, a maior parte do tempo, perda de prazer, alterações no sono e no apetite (OLIVEIRA, 2019).

Dentre os brasileiros, a depressão vem se manifestando nos estudantes como um dos transtornos mentais mais recorrentes, trazendo diversos prejuízos à formação profissional deles (SOUZA et al., 2022). No âmbito de prevalência em cursos superiores, o de Medicina demonstrou-se mais vulnerável, sendo que cerca de 52,0% dos estudantes dos cursos médicos são atingidos pela depressão (PIRES; SOUSA, 2022). 

Como justificativa para o alto índice de depressão entre acadêmicos de Medicina, estudos indicam o ambiente psicologicamente adverso criado pelas faculdades, o que é refletido na extensa carga horária, escassez de tempo para atividades de lazer, competição intensa entre os estudantes, exposição a situações de morte e sofrimento humanos, desafios financeiros, incertezas relacionadas ao futuro profissional, pressões pessoais e sociais (MAIA et al., 2020).

A partir dos dados da OMS expostos anteriormente, justifica-se esse presente estudo de revisão literária devido ao impacto causado pela depressão nos estudantes de medicina, o que prejudica vários aspectos de suas vidas, incluindo a atuação como profissionais. Nesse sentido, em estudos posteriores, pode ocorrer uma intervenção nas causas e nos agravantes dessa situação.

Diante do exposto, esse estudo em forma de revisão literária tem como objetivo analisar a incidência do Transtorno Depressivo Maior em acadêmicos de medicina, além de avaliar os fatores que desencadeiam tal condição durante a graduação e seus impactos na saúde e na vida profissional do estudante.

2 METODOLOGIA 

O presente estudo consiste de uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.

Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa utilizou-se da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte questão central que orientou o estudo: “Qual a incidência de depressão em estudantes de medicina? ” Nela, observa-se o P: estudantes de medicina; I: depressão; C: não houve objeto de comparação; O: incidência.

 Para responder a esta pergunta, foi realizada a busca de artigos envolvendo o desfecho pretendido utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medicine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram: transtorno depressivo maior, saúde do estudante, transtornos mentais, esgotamento psicológico. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se os operadores booleanos “and”, “or” “not”.

Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed), EbscoHost.  

A busca foi realizada no mês de agosto de 2023. Como critérios de inclusão, limitou-se a artigos escritos em português, inglês e espanhol, publicados nos últimos cinco anos (2019 a 2023), que abordassem o tema pesquisado e que estivem disponíveis eletronicamente em seu formato integral, foram excluídos os artigos em que o título e resumo não estivessem relacionados ao tema de pesquisa e pesquisas que não tiverem metodologia bem clara.

Após a etapa de levantamento das publicações, foram encontrados 40 artigos, dos quais foram realizados a leitura do título e resumo das publicações considerando o critério de inclusão e exclusão definidos. Em seguida, realizou-se a leitura na íntegra das publicações pré-selecionadas, atentando-se novamente aos critérios de inclusão e exclusão, sendo que 18 artigos não foram utilizados devido aos critérios de exclusão. Foram selecionados vinte e dois artigos para análise final e construção da revisão. 

Posteriormente à seleção dos artigos, realizou-se um fichamento das obras selecionadas a fim de selecionar a coleta e análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método.

A Figura 1 demonstra o processo de seleção dos artigos por meio das palavras-chaves de busca e da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão citados na metodologia. O fluxograma leva em consideração os critérios elencados pela estratégia PRISMA (Page et al., 2021).

Figura 1 – Fluxograma da busca e inclusão dos artigos

Fonte: Adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic review and Meta-Analyses (PRISMA). Page et al., (2021). 

3 RESULTADOS 

A Tabela 1 sintetiza os principais artigos que foram utilizados na presente revisão de literatura, contendo informações relevantes sobre os mesmos, como os autores, o ano de publicação, o título e os achados relevantes.

Tabela 1 – Fatores relacionados ao transtorno depressivo maior em acadêmicos de medicina encontrados nas publicações do período de 2019 a 2023.

4 DISCUSSÃO 

No presente estudo foi possível verificar a prevalência e os fatores agravantes do transtorno depressivo maior em acadêmicos de Medicina. Os artigos selecionados demonstram que os índices de depressão são maiores nos estudantes de Medicina, mais especificamente nas mulheres, do que no restante da população em geral, sendo que o mesmo ocorre quando comparados aos acadêmicos de outros cursos. Por outro lado, verifica-se que a prevalência de depressão é maior entre estudantes do período pós pandemia do COVID-19 quando comparados aos estudantes do período anterior (SOUZA et al., 2022). Ademais, PIRES e SOUSA (2022) afirmam ainda que, estudantes de método ativo possuem maiores chances de desenvolverem transtornos mentais durante a graduação, dentre eles o transtorno depressivo maior. Portanto, este estudo revela a necessidade de projetos de prevenção de transtornos e promoção da saúde mental por parte das escolas médicas em direção aos alunos, visando reduzir a taxa de prevalência de depressão adquirida durante a graduação pelos acadêmicos de Medicina.

Dessa forma, é importante encontrar o período (ciclos básico, clínico e internato) de maior incidência de sinais e sintomas depressivos para que as intervenções propostas sejam de fato efetivas. Com base nos estudos mais recentes, como MIJATOVIY (2023), é possível concluir que desde o início do curso ocorre uma queda na saúde mental do estudante, porém, a situação sofre um pico de piora durante o internato, o que é justificado através da extensa carga horária, proximidade com o final do curso, prova de residência e introdução no mercado de trabalho. Além disso, nesse período os estudantes detêm mais conhecimentos, o que explica o elevado índice de automedicação através de psicotrópicos (SILVA et al., 2023), sendo seu uso irregular um fator de agravamento dos sintomas depressivos (FASANELLA et al., 2022). 

A princípio, a maioria dos artigos utilizados citam a ansiedade, a insônia, a busca por melhor desempenho cognitivo e acadêmico, as dificuldades na dinâmica familiar, o estresse, o medo, o sentimento de impostor e o cansaço como causas reconhecidas da depressão em acadêmicos de Medicina. Fatores de risco mais específicos foram encontrados, como a condição socioeconômica do estudante, incluindo dificuldades financeiras e não contribuir na renda familiar (CARLOS et al., 2023), além de fatores de proteção à saúde mental, como ser precedente da região onde estuda e morar com a família (FASANELLA et al., 2022). É importante salientar que todo esse sofrimento do acadêmico de Medicina e do médico é naturalizado pela sociedade, o que, de acordo com NEPOMUCENO, SOUZA e NEVES (2019) os leva a negligenciar a própria saúde devido à negação do médico como ser humano vulnerável, ou seja, suscetível a desordens físicas e psíquicas assim como qualquer outra pessoa. Nesse viés, fica evidente que o meio possui grande influência na saúde mental no indivíduo, podendo ser fator de risco ou protetor quando se trata do transtorno depressivo maior.

Somado a isso, é interessante observar que alguns fatores etiológicos são de muita importância para o desenvolvimento da depressão entre estudantes de medicina, como é o caso da história psiquiátrica familiar e da própria personalidade do acadêmico (CASSOL et al., 2021). Sob o mesmo ponto de vista, HEIMAN, DAVIS e ROTHBERG (2019) afirmam que a faculdade de medicina seleciona um subgrupo de pessoas que vêm de uma cultura familiar que cria o potencial para depressão, com altas exigências e expectativas e baixa sintonia emocional. Essa ideia é reforçada por autores ainda mais recentes, como CARLOS et al. (2023), que demonstram em seu estudo que indivíduos em risco estão se auto selecionando para o campo médico. Além disso, a instituição também é identificada como causadora dos transtornos mentais adquiridos durante a graduação, já que oprime seus alunos com cargas horárias exaustivas e uma enorme cobrança por excelência (FERREIRA et al., 2023). Sendo assim, este trabalho entende que além dos fatores socioambientais, sendo experiências pessoais de sofrimento físico ou psicológico, é possível afirmar que fatores genéticos influenciam nos crescentes índices de depressão nos acadêmicos de Medicina.

Como resultado, já que grande parte desses estudantes possuem depressão, o número relacionado a ideação ou tentativa suicida também é elevado.  Como prova disso, MAIA et al. (2020) encontrou que, como na depressão, as taxas de suicídio entre acadêmicos de medicina são maiores do que na população em geral e em outros grupos acadêmicos, o que corrobora com os dados encontrados pelo estudo realizado por PIRES e SOUSA (2022), em que foi identificado que 57,6% dos participantes apresentaram desejo suicida.

A Síndrome de Burnout é caracterizada como uma reação inadequada ao estresse emocional crônico, resultante da intensa e constante interação com outras pessoas, manifestando-se tanto no âmbito profissional quanto acadêmico, através de comportamento irritado e cansado, devido ao desgaste físico e emocional. O termo “Burnout”, traduzido do inglês como “queima após desgaste” sugere algo que deixou de funcionar devido à exaustão (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2019). Já a Síndrome do Impostor (SI), é percebida quando a pessoa duvida de suas próprias conquistas, mesmo com evidências contrárias a essa rotulação, apresentando um tipo de percepção ou sentimento de que seu êxito é consequência de fatores externos (OLIVEIRA et al., 2022). Apesar de esta não ser considerada uma doença e não estar no mais recente Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), estudos concluíram que a SI afeta os acadêmicos de Medicina, demonstrando também maior gravidade de sintomas depressivos nesses estudantes quando associados à SI (CAMPOS et al., 2022). 

Nesse viés, assim como a ideação ou tentativa suicida e o uso irregular por automedicação de psicotrópicos, é possível citar outras consequências do transtorno depressivo maior em estudantes de Medicina, dentre elas a Síndrome de Burnout, pois sintomas depressivos moderados a graves são identificados como fator de risco para desenvolvimento da síndrome (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2019), e a Síndrome do Impostor, que é vista como causa e consequência de aumento na gravidade de sintomas depressivos nesses acadêmicos (CAMPOS, 2022). Além disso, segundo GAUDENS et al. (2021), falta de interesse em participar das atividades diárias, conduta pouco profissional e até pensamentos de abandono da faculdade também podem ser consequências de tal realidade. Portanto, infere-se que o transtorno depressivo maior pode trazer resultados negativos para a vida pessoal e profissional do indivíduo.

5 CONCLUSÃO 

O presente estudo buscou analisar a incidência do Transtorno Depressivo Maior nos acadêmicos de Medicina, avaliando fatores de risco, agravantes, protetores e também os sinais e sintomas. Com base nos aspectos apresentados, é possível concluir que condições socioambientais e genéticas exercem grande influência na saúde mental no indivíduo, como fator de risco ou protetor, o que traz resultados negativos para o indivíduo em âmbito pessoal e profissional. 

Dessa forma, as instituições de ensino devem sempre visar o bem-estar biopsicossocial dos acadêmicos, incentivando momentos de lazer e descanso, reduzindo a sobrecarga horária e a competitividade entre alunos, além de reduzir a barreira aluno-instituição, já que, como foi citado anteriormente, interações negativas de intimidação ou assédio de professores podem levar os alunos até o abandono do curso (MOIR et al., 2022), além de, em caso de necessidade, a instituição ser a primeira e principal ajuda que o aluno tende a buscar quando tem dificuldades para lidar com sua saúde mental (HEIMAN; DAVIS; ROTHBERG, 2019). Ademais, é importante que as escolas médicas conscientizem os acadêmicos de Medicina acerca dos perigos da automedicação, incluindo uso de psicotrópicos ou psicoestimulantes. 

Portanto, existe a necessidade de desenvolvimento de projetos que visem a prevenção de transtornos mentais e, também, promoção da saúde mental pelas universidades para os alunos, a fim de reduzir a taxa de depressão adquirida durante a graduação pelos acadêmicos de Medicina. Logo, com base nos principais achados deste trabalho, é importante salientar a necessidade de intervenções que busquem, além de aliviar sintomas e crises de transtornos já existentes nos estudantes, prevenir ou realizar o diagnóstico precoce da depressão nesse público. Para isso, o fornecimento de sessões de terapia para redução do estresse é uma das soluções apresentadas para o problema destacado ao longo deste estudo (CASSOL et al., 2021). Outra proposta, seria a fiscalização a partir de órgãos estatais não só da qualidade de ensino médico brasileiro em seu sentido técnico, mas também da qualidade quanto ao suporte psicopedagógico oferecido pelas instituições, o que poderia ocorrer através de pesquisas de satisfação (NEPONUCENO, et al., 2019). Por fim, a implementação de atividade física para os discentes é mais uma estratégia que funcionaria para promoção de saúde física e mental (MAIA et al., 2020).

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 ¹Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas -UNIPAM
 ²Docente do Centro Universitário de Patos de Minas -UNIPAM.