PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES ATENDIDOS NA CLÍNICA ESCOLA DE FISIOTERAPIA DE UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA NO INTERIOR DA AMAZÔNIA

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PATIENTS SEEN AT THE PHYSIOTHERAPY SCHOOL CLINIC OF A PRIVATE INSTITUTION IN THE INTERIOR OF THE AMAZON

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10357349


Ana Paula Alves Dias1
Danytielle Almeida Costa2
 Paulo Victor de Carvalho Fonseca3
 Tarcísio Damasceno Esquerdo4
 Melina Laíse Nascimento dos Santos5
Elidiane Moreira Kono6


RESUMO

O presente estudo visa traçar o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos na Clínica Escola de Fisioterapia de uma instituição privada no interior da Amazônia. Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo, quantitativo e retrospectivo, baseado na análise dos prontuários dos pacientes atendidos em três setores da Clínica Escola do Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES), sendo estes: Fisioterapia em Traumato-Ortopedia, Neurofuncional e setor Pediátrico. As variáveis analisadas foram: gênero, idade, local de origem, diagnóstico clínico, presença de dor, condutas adotadas para cada patologia, dentre outras. A amostra foi constituída por 275 prontuários de pacientes que receberam tratamento fisioterapêutico na Clínica Escola, destacando-se os atendimentos em Traumato-Ortopedia que corresponderam a 64,7% dos prontuários, seguido pelo de Neurofuncional com 20,7% e o de Pediatria com 14,5%. O gênero feminino predominou em 65,8% da amostra. A maioria dos pacientes atendidos residem na cidade de Santarém (73,8%). O Diagnóstico Clínico da Traumato-Ortopedia foi variado, no entanto, a artrose se destacou na amostra (6,7%), no setor de Neurofuncional o AVE se sobreleva em 35,1% dos casos, e na Pediatria o ADNPM predominou em 22,5%. A prevalência de dor foi elevada entre os setores de Traumato-Ortopedia (98,3%) e Neurofuncional (52,6%). A Cinesioterapia foi a conduta mais adotada nos tratamentos da Traumato e Neurofuncional, e a Estimulação Precoce no setor Pediátrico. Cada setor possui um perfil clínico epidemiológico específico, no entanto, considerando a amostra, predominou: gênero feminino, residentes em Santarém, pacientes satisfeitos com os atendimentos, baixo índice de desistência do tratamento, prevalência de dor elevada e a Cinesioterapia foi a principal conduta de tratamento adotada. Através dos dados obtidos torna-se viável o aprimoramento e a criação de protocolos especializados para o tratamento fisioterapêutico.

Palavras-chave: Perfil Epidemiológico. Prontuários. Fisioterapia.

This study aims to outline the epidemiological profile of patients seen at a Physiotherapy School Clinic of a private institution in the interior of the Amazon. This is an epidemiological, descriptive, quantitative, and retrospective chronological study based on the analysis of the medical records of patients seen in three sectors of the Physiotherapy School Clinic at the Esperença Institute of Higher Education (IESPES), namely Traumatology-Orthopedics, Neurofunctional, and Pediatric Physiotherapy. The variables analyzed were: gender, age, place of origin, clinical diagnosis, presence of pain, and adopted approaches for each pathology, among others. The sample consisted of 275 medical records of patients who received physiotherapeutic treatment at the School Clinic, with Traumatology-Orthopedics appointments accounting for 64,7% of the records, followed by Neurofunctional with 20,7%, and Pediatrics with 14,5%. The female gender predominated in 65,8% of the sample. The majority of the patients treated lived in Santarém City (73,8%). The clinical diagnosis in Traumatology-Orthopedics varied, however, osteoarthritis stood out in the sample (6,7%), in the Neurofunctional sector, cerebrovascular accident accounted for 35,1% of cases, and in Pediatrics, neuropsychomotor developmental delay (NPMD) predominated in 22,5%. The prevalence of pain was high among the Traumatology-Orthopedics (98,3%) and Neurofunctional (52,6%) sectors. Kinesiotherapy was the most adopted intervention in Traumatology and Neurofunctional treatments, while Early Stimulation was prevalent in the Pediatric sector. Each sector has a specific clinical-epidemiological profile, however, considering the sample, prevailed: female gender, people who live in Santarém, patients satisfied with the care, low treatment dropout rates, high pain prevalence, and Kinesiotherapy was the main treatment

approach adopted. Through the data obtained, it becomes feasible to improve and create specialized protocols for physiotherapeutic treatment.

Keywords: Epidemiological Profile. Records. Physiotherapy.

1 INTRODUÇÃO

A Fisioterapia realiza a prevenção, tratamento e reabilitação dos distúrbios motores e funcionais que podem afetar o corpo humano, sejam eles causados por genética, trauma ou alterações adquiridas, proporcionando maior qualidade de vida através da abordagem centrada no indivíduo (Macário et al., 2021). Entretanto, para compreender o papel da Fisioterapia, suas atribuições e desafios, é importante conhecer o perfil epidemiológico da população, bem como identificar as principais doenças que acometem o público estudado (Orsini et al., 2019).

Esta área tem diversos campos de atuação com formação generalista, permitindo a utilização de conhecimentos e recursos específicos, como exercícios terapêuticos e eletrotermofototerapia, integrando o tratamento das condições físicas, reduzindo o impacto das deficiências funcionais na vida do paciente (Macário et al., 2021). Inúmeras são as especialidades dessa profissão, destacando-se a Fisioterapia Traumato-Ortopédica, Neurofuncional, Saúde da criança e do adolescente, Gerontologia, Dermatofuncional, Uroginecológica, dentre outras, o que possibilita a prestação de atendimentos diversificados relacionados aos distúrbios cinéticos funcionais (Oliveira et al., 2018). Na prática clínica, existem diversas técnicas fisioterapêuticas que podem ser utilizadas, a escolha da técnica é baseada na história do paciente, levando em conta os domínios das funções e estruturas do corpo, atividades e participação, além da avaliação de alguns aspectos (motor, cognitivo e sensorial).

Nesse contexto, os atendimentos realizados nas Clínicas-Escolas de Fisioterapia vem suprindo gradativamente as necessidades da população, principalmente aquelas que não têm acesso aos serviços. As instituições que possuem uma Clínica Escola são capazes de oferecer aos seus acadêmicos uma vivência clínica realista, possibilitando a prática de todo o conhecimento teórico, beneficiando também a comunidade com atendimentos gratuitos (Zilli et al., 2017; Oliveira et al., 2018).

O Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES) é uma entidade privada de ensino, pesquisa e extensão, localizada na Amazônia, no município de Santarém, Pará, desde 2001. Dentre seus inúmeros cursos, oferta o Bacharelado em Fisioterapia que possibilitou a criação da Clínica-Escola de Fisioterapia Frei José Duban Tabarquino Vargas, sendo inaugurada em 15 de junho de 2022 e desde então, tem oferecido serviços gratuitos nas diversas áreas da Fisioterapia. Os atendimentos, são realizados pelos graduandos, mediante os programas de estágio obrigatório curricular do curso, nas áreas de Traumatologia e Ortopedia, Neurofuncional, e Fisioterapia Pediátrica.

Dessa forma, o presente estudo traçou o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos na Clínica-Escola de Fisioterapia de uma instituição privada no interior da Amazônia, uma vez que o profissional fisioterapeuta precisa conhecer de forma detalhada o perfil dos pacientes das suas respectivas áreas de atuação, cujas funções envolvem ações no âmbito coletivo e individual, visando a promoção da saúde, o diagnóstico cinético funcional assertivo e reabilitação promissora (Nascimento et al., 2021). Além disso, a pesquisa epidemiológica agrega dados teóricos à prática dos serviços prestados no setor da saúde, permite investigar os determinantes de doenças nas populações, estabelece a relação entre possíveis fatores de risco e o desenvolvimento de doenças e ainda avalia a eficácia dos tratamentos realizados (Santos, et al. 2020). Portanto, é importante ter uma visão abrangente da população atendida pela Clínica-Escola, as principais patologias traumato-ortopédicas, neurofuncionais e pediátricas que acometem os pacientes atendidos, além da apresentação de dados para subsidiar pesquisas e abordagens terapêuticas para as recorrências entre os diagnósticos.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Assistência fisioterapêutica em clínica-escola

A Fisioterapia tem ganhado destaque, uma vez que anteriormente era associada apenas a atenção terciária, visando o processo de reabilitação, mas, ao ser inserida na atenção primária tornou seu papel abrangente, favorecendo o processo de promoção à saúde e prevenção de doenças. Em termos de saúde, atua principalmente para promover o bem-estar individual, prevenção e reabilitação, o que possibilita restaurar uma boa qualidade de vida (Oliveira et al., 2018).

Na prática clínica, a Fisioterapia é utilizada de diversas formas, mas é consenso que  o conhecimento de seu perfil clínico, seu estado de saúde e a avaliação de alguns aspectos (motor, cognitivo e sensorial) devem ser levados em conta. Dessa forma, uma Clínica-Escola pode oferecer a seus pacientes um tratamento adequado pautado em sua individualidade biológica, boa estrutura física, respeito, responsabilidade, ética, humanização e demais meios tecnológicos que possam auxiliar em suas condutas.

Dito isto, a procura por Clínicas-Escola de Fisioterapia vem crescendo a cada dia, uma grande porcentagem da população não tem acesso ao serviço por múltiplos fatores, em sua grande maioria por questões socioeconômicas, sendo assim, essas instituições assumem um papel social perante a comunidade oferecendo esses atendimentos de forma gratuita (Zilli et al., 2017; Oliveira et al., 2018).

O Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES) é uma entidade privada de ensino, pesquisa e extensão, localizada na Amazônia, mais especificamente no mercado santareno desde 2001 e está localizado no município de Santarém, Região Oeste do Pará, na mesorregião do Baixo Amazonas, estando distante de Belém cerca de 807 Km, sendo que Santarém está situada na margem direita do rio Tapajós, precisamente, na confluência com o rio Amazonas.

O IESPES oferece um currículo diferenciado para os padrões locais, possui credibilidade na região do Baixo Amazonas, tanto em função da Fundação Esperança, assim como uma referência acadêmica local. Dentre seus inúmeros cursos, oferta o Bacharelado em Fisioterapia, que possibilitou a criação da Clínica Escola presente na instituição, sendo disponibilizando serviços gratuitos de: Fisioterapia em Traumatologia e Ortopedia, Neurofuncional e Pediátrica para a população.

2.2. Perfil clínico epidemiológico e sua importância

A epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde – doença e considera inúmeras variáveis que envolvem a qualidade de vida de um indivíduo ou de uma população, correlacionando-as. Ainda, busca analisar a etiologia das doenças e os danos causados para o ser humano para que, a partir disso, aja elaboração de planos de intervenção para o controle e erradicação de enfermidades e patologias, uma vez que se faz necessário o entendimento da real condição de um indivíduo ou uma determinada população (Rouquayrol; Gurgel, 2021; Macário et al., 2021; Sousa; Mota; Silva, 2021).

Conhecer o perfil epidemiológico da população é de suma importância, pois fornece reconhecimento do público atendido e das problemáticas que os acometem, tornando o fisioterapeuta capacitado e preparado para atuar, tanto na prevenção como no tratamento de patologias, contribuindo ainda para diminuir a incidência de várias doenças, formulando políticas públicas de saúde e, consequentemente, garantindo melhor qualidade de vida para os usuários (Macário et al., 2021).

Nessa vertente, Praça et al. (2017) ressaltam que o conhecimento do perfil da clientela atendida é de suma importância para aprimorar o serviço prestado, facilitando o direcionamento de políticas públicas, havendo também uma busca incessante pela melhoria no atendimento aos pacientes e a minimiza  custos sociais e financeiros.

Segundo Dellaroza, Pimenta e Matso (2007), apesar da magnitude do impacto social e econômico no Brasil há escassez de estudos sobre a prevalência de lombalgia em idosos. Esse fato, pode ser comparado a outros casos, dificultando a sensibilização de profissionais da área de saúde, a alocação de recursos humanos e materiais, e a criação de estratégias com objetivo de controle de queixas comuns nessa população como a dor, tornando emergente a necessidade de estudos epidemiológicos sobre a temática.

Outro estudo, de Matos et al. (2019), buscaram descrever o perfil epidemiológico e clínico dos pacientes neurológicos atendidos em um ambulatório de reabilitação e verificaram que as desordens neurológicas geram incapacidades e dependência para a população e custos para o sistema de saúde e instituições hospitalares. Os autores destacaram que conhecer o perfil de pacientes acometidos por estas patologias pode despertar o interesse de entidades representativas da sociedade para o fortalecimento de políticas públicas voltadas para a reabilitação desses indivíduos e para a prevenção de novos casos, sendo crucial para a evolução da Fisioterapia dada sua importância (Matos et al., 2019).

2.3. Fatores investigados em estudos epidemiológicos

Na prática clínica fisioterapêutica, vários itens devem ser questionados ao paciente, pois a partir da análise desses dados, tanto pessoais, quanto relacionados a condição de saúde do indivíduo, será possível traçar um diagnóstico cinético-funcional, bem como definir metas, objetivos a curto, médio e longo prazo e condutas a serem realizadas com cada paciente (Matos et al., 2019).

Em um estudo epidemiológico, busca-se analisar variáveis intrínsecas e extrínsecas ao indivíduo para que seja possível definir um perfil, áreas mais acometidas, faixa-etária e etnia com maior número de casos ou que apresentem um mesmo sinal ou sintoma que pode ou não estar relacionada a uma determinada doença. Por isso, é de suma importância à implementação dos estudos sociodemográficos, visto ser um ótimo recurso para descrever o perfil do grupo que utiliza determinados serviços de saúde (Nunes; Frias, 2017).

As particularidades sociais influenciam na interação entre o paciente e o profissional, exigindo uma conscientização das limitações do público no qual vem sendo promovido os atendimentos (Nunes; Frias, 2017). Esse tipo de pesquisa é composta por perguntas que se relaciona ao sexo, raça, profissão, escolaridade, renda familiar de um determinado grupo de pessoas ou da população em geral (Sousa; Mota; Silva, 2021).

Outras informações que também podem ser adquiridas juntamente com uma pesquisa sociodemográfica é o perfil clínico de um determinado grupo de pessoas. Muito possivelmente inúmeras questões podem permear uma pesquisa epidemiológica referente a presença ou não de patologias crônicas, o tipo de patologia, além de poder abordar qualquer tipo de questão que reflita as condições clínica do grupo pesquisado. Busca-se verificar quais os tipos de morbidades que estão sendo prevalentes nos atendidos por determinado serviço de saúde. Tal aspecto pode permitir a prática de atividades preventivas ou de intervenções (Sousa; Mota; Silva, 2021).

O questionário que Sousa; Mota; Silva (2021) utilizaram em seu estudo, por exemplo, definiu as seguintes variáveis: idade, sexo, grau de instrução, renda familiar, fonte de renda, consumo de álcool, presença de patologias crônicas, patologia/alteração que estavam em tratamento, tempo de tratamento, percepção de melhora dos sintomas, satisfação e se o participante associa o tratamento fisioterapêutico recebido na clínica com outros locais.

Também, no estudo de Matos et al. (2019) foram coletadas variáveis epidemiológicas (idade, sexo e profissão) e clínicas voltadas para a condição de saúde, etiologia da patologia, quantidade de sessões de Fisioterapia e motivo da alta fisioterapêutica. Um dos pontos desse estudo foi identificar uma possível relação entre a condição clínica dos pacientes com o sexo biológico, sendo constatado que o gênero masculino esteve associado estatisticamente aos traumatismos raquimedulares e as paralisias (p<0,001) e o gênero feminino (p<0,001) tanto aos acidentes vasculares cerebrais quanto a compressões nervosas, o que mostra que em relação ao sexo, as informações epidemiológicas possibilitam traçar um perfil e correlacionar determinada doenças/acometimento com certo público.

Na pesquisa de Marcário et al. (2021), também foram selecionadas as seguintes variáveis: sexo, faixa etária, raça, profissão, diagnóstico clínico, queixa principal, segmentos acometidos, diagnóstico cinesiológico funcional e tratamento fisioterapêutico. Portanto, pode-se perceber que traçar um perfil epidemiológico pode ajudar na resolução e entendimento de como determinadas patologias se comportam, quais os públicos acometidos, como intervir, quais os métodos empregar na intervenção dentre outros aspectos importantes.

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico, de natureza quantitativa, caracterizado como retrospectivo e descritivo. A pesquisa foi realizada na Clínica-Escola de Fisioterapia Frei José Duban Tabarquino Vargas no Instituto Esperança de Ensino Superior – IESPES, na cidade de Santarém, Estado do Pará, sendo conduzida somente após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com Seres Humanos, sob o parecer nº 5.980.921/23.

A coleta de dados ocorreu no mês de julho de 2023, através da análise dos prontuários dos pacientes atendidos no período de junho de 2022 à junho de 2023, em três setores da Clínica Escola do  IESPES sendo estes: Fisioterapia em Traumato-Ortopedia, Neurofuncional e setor Pediátrico. O setor de Fisioterapia em Traumato-Ortopedia atende pacientes, principalmente, com lesões que acometem os sistemas muscular, ósseo, ligamentar, articular e tendíneo. Na Fisioterapia Neurofuncional são recebidos somente pacientes adultos com doenças neuromusculares e distúrbios neurológicos, motores e cognitivos, enquanto que no setor Pediátrico são tratados recém-nascidos, bebês, crianças e pré-adolescentes que necessitem de atendimento fisioterapêutico.

Foram incluídos prontuários de indivíduos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou Termo de Assentimento Livre Esclarecido (TALE para menores de 18 anos) elaborados e fornecidos pela Clínica Escola no momento da avaliação fisioterapêutica. Foram excluídos documentos ilegíveis.

Usou-se uma ficha previamente elaborada pelos autores para coleta dos dados, contendo as seguintes informações: gênero, idade, local de origem, profissão, diagnóstico clínico, presença de dor, dificuldade para realizar atividades de vida diária (AVDs), dificuldade para dormir, presença de dormência e formigamento, condutas adotadas para cada patologia, índice de abandono, realização de procedimentos cirúrgicos, tempo de lesão, grau de satisfação e número de sessões.

A análise dos prontuários seguiu todos os preceitos éticos referentes ao sigilo quanto às informações e dados pessoais dos participantes, garantindo a privacidade e confidencialidade de informações. Os dados foram analisados de forma descritiva em termos de frequência absoluta, relativa, cálculos de medida de tendência central e dispersão. Para isso, foi utilizado o programa Microsoft Office Excel 2010 (Windows) para o armazenamento das informações e a realização dos cálculos.

4 RESULTADOS

A amostra do estudo foi constituída por 275 prontuários de pacientes que receberam atendimento fisioterapêutico na Clínica Escola. Todos atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa, não havendo perdas amostrais. Os resultados estão expressos abaixo de acordo com os setores de Fisioterapia.

4.1. Setor de Fisioterapia em Traumatologia e Ortopedia 

Foram analisados 178 prontuários referentes aos atendimentos fisioterapêuticos nessa área. A amostra foi composta por 21,9% (n=39) de indivíduos do gênero masculino e 78,1% (n=139) do gênero feminino. A média de idade foi de 52±16,9 anos. Observou-se maior frequência de atendimentos a indivíduos com a faixa etária entre 31 e 60 anos, equivalente a 55,6% da amostra.

A maioria dos pacientes atendidos na Clínica – Escola de Fisioterapia residem em Santarém correspondendo a 68,5%, apenas 5,6% eram de outras cidades e 25,8% não informaram esse dado. Quanto à profissão, não houve prevalência elevada de alguma atividade ocupacional específica, mas a amostra foi composta por farmacêuticos, professores, agentes comunitários de saúde, auxiliares administrativos, dentre outros.

Em relação ao tempo de lesão, o paciente era questionado sobre o período em que apresentava aquela disfunção, sendo de 1 a 6 meses o mais recorrente neste setor, equivalente a 16,3% dos prontuários. No que se refere a realização de procedimentos cirúrgicos relacionados a patologia ou a lesão, 37,1% afirmam que realizaram, enquanto 56,7% não e 6,2% não informaram. No que concerne a presença de Dormência/Formigamento, 25,3% apresentam, 65,7% da amostra não apresenta e apenas 9% não foram informados.

Dentre os dados analisados, 16,3% dos pacientes declararam dificuldades para dormir, 74,7% afirmaram que não e 9% não foram informados. Em relação a dificuldade para realizar atividades de vida diárias, 77% afirmaram sentir alguma dificuldade, 17,4% afirmaram não ter e 5,6% não informaram. Sobre o grau de satisfação, 93,3% responderam estar satisfeitos com os atendimentos fisioterapêuticos, 4,5% não estão satisfeitos e 2,2% preferiram se abster. Sobre a continuidade ao tratamento, 9% dos pacientes abandonaram os atendimentos, enquanto 91% concluíram. Houve elevada prevalência de dor, onde 98,3% afirmaram apresentá-la e 1,7% não a apresentam.

A tabela 1 expressa os diagnósticos clínicos prevalentes na amostra do estudo, destacando-se a artrose com 6,7%, seguido pela fibromialgia com 5,6%. Dentre os dados analisados, há uma elevada diversidade de patologias, dessa forma, a variável “outros”, presente na tabela, refere-se aos demais diagnósticos encontrados, como: Artroplastia total de joelho, Bursite subacromial e subdeltóidea, Cervicalgia, Fraturas, Ruptura de ligamentos, Luxação articular, Ruptura muscular, Protusão discal, Síndrome do túnel do carpo e Tendinopatias.

Tabela 1 – Distribuição dos diagnósticos clínicos encontrados nos prontuários (n=178) e média da quantidade de sessões fisioterapêuticas realizadas por diagnóstico no setor de Fisioterapia em Traumatologia e Ortopedia da Clínica Escola, em Santarém, Pará, 2023.

DIAGNÓSTICOSN%MÉDIA
Artrose126,7%10,17±4,26
Entorse de tornozelo73,9%11,17±6,24
Escoliose95,1%9,63±3,02
Fibromialgia105,6%8,9±3,57
Hérnia discal95,1%9,33±3,57
Lombalgia84,5%10,13±3,91
Outros Não Diagnosticado* Inconclusivos**4726,4%10,64±4,91
4927,5%9,45±3,43
2715,2%6,88±3,02
Total178100% 
* Pacientes que procuraram primeiramente a Fisioterapia, sem passar por avaliação médica.
** Pacientes que realizaram avaliação médica, mas não apresentaram diagnóstico clínico.
Fonte: Os autores, 2023.

Em relação às condutas fisioterapêuticas adotadas, o gráfico 1 expressa as mais utilizadas no tratamento dos pacientes, ademais, outras condutas identificadas foram: Manobras de Quiropraxia (0,6%), Uso do Infravermelho (1,6%), Aplicação de Estimulação Elétrica Funcional (FES) equivalente a 2,2%, Drenagem Linfática (2,2%), Laserterapia (5%), Ultrassom Terapêutico (8,9%) e Ventosaterapia (8,9%).

Gráfico 1 – Condutas fisioterapêuticas realizadas nos pacientes (n=178) atendidos pelo setor de Fisioterapia em Traumatologia e Ortopedia da Clínica Escola, em Santarém, Pará, 2023.

* TENS (Eletroestimulação Nervosa Transcutânea)

Fonte: Os autores, 2023.

As condutas fisioterapêuticas foram quantificadas de acordo com a leitura das evoluções presentes nos 178 prontuários resultando no gráfico 1. Sendo essa mesma análise estatística realizada para os demais setores.

4.2. Setor de Fisioterapia Neurofuncional Adulto

Neste setor, os dados de 57 prontuários foram coletados. A amostra foi composta por 59,6% de pacientes do gênero masculino e 40,4% do gênero feminino. Em relação à idade, a média foi de 49±18,9 anos, com prevalência de atendimentos a indivíduos com a faixa etária de 31 a 60 anos. A maioria desses pacientes atendidos na Clínica – Escola de Fisioterapia também residem em Santarém, correspondendo a 73,7% da amostra, 5,3% eram de outras cidades e 21,1% não informaram o local onde residem. Quanto à variável profissão, não houve prevalência significativa, mas a amostra foi composta por advogados, professores, comerciantes, odontólogos, dentre outros.

O tempo de lesão mais recorrente também estava entre 1 a 6 meses, equivalente a 10,5% dos prontuários. Sobre os procedimentos cirúrgicos, 29,8% realizaram, enquanto 49,1% não realizaram e 21,1% não informaram. Em relação a presença de Dormência/Formigamento, 29,8% afirmaram apresentar, enquanto 64,9% não e apenas 5,3% não informaram. Na amostra, 19,3% relataram dificuldade para dormir, 75,4% declararam não ter e 5,3% não informaram.

Sobre a realização das atividades de vida diária, 78,9% apresentam dificuldades para realizá-las, 14% afirmam não ter dificuldade e 7% não informaram. Quanto ao grau de satisfação, 93% responderam estar satisfeitos com os atendimentos fisioterapêuticos e 7% optaram por se abster. Na amostra, 91,2% dos pacientes concluíram o tratamento e 8,8% abandonaram os atendimentos. Na amostra avaliada, 52,6% dos pacientes afirmaram presença de dor, enquanto 47,4% referiram que não.

A tabela 2 expressa os diagnósticos clínicos prevalentes nos prontuários avaliados neste setor, evidenciando a ocorrência do Acidente Vascular Encefálico (AVE) na maior parte da amostra, representado por 35,1%. Dentre os “outros” diagnósticos encontrados, ressalta-se: Ataxia de Friedreich, Esclerose Múltipla, Lesão do Plexo Braquial, Neuropatia Medular, Paralisia de Bell, Síndrome de Guillain Barré, Pós-operatório Cerebral e Traumatismo Crânio Encefálico.

Tabela 2 – Distribuição dos diagnósticos clínicos encontrados nos prontuários (n=57) e média da quantidade de sessões fisioterapêuticas realizadas por diagnóstico no setor de Fisioterapia Neurofuncional Adulto da Clínica Escola, em Santarém, Pará, 2023.

DIAGNÓSTICON%MÉDIA
AVE2035,1%13,2±13,98
Parkinson915,8%20,44±14,09
Lesão medular47,0%12,75±4,79
Outros2442,1%19,92±13,82
Total57100% 
Fonte: Os autores, 2023.

Considerando as condutas fisioterapêuticas adotadas no tratamento dos pacientes neurológicos adultos, o gráfico 2 apresenta as mais aplicadas. Observa-se que a Cinesioterapia se destacou com 93%, seguido pela Hidroterapia com 26%.

Gráfico 2 – Condutas fisioterapêuticas realizadas nos pacientes (n=57) atendidos pelo setor de Fisioterapia Neurofuncional Adulto da Clínica Escola, em Santarém, Pará, 2023.

Fonte: Dados da pesquisa, ano 2023.

4.3. Setor de Fisioterapia Pediátrica

Na coleta de dados, 40 prontuários foram analisados referentes aos atendimentos fisioterapêuticos na área pediátrica. A amostra foi composta por 52,5% de pacientes do gênero masculino e 47,5% do gênero feminino. Em relação à idade a média foi 2,57±3,64, observou-se uma maior frequência de atendimentos a indivíduos com a faixa etária de 1 a 6 anos (42,5%). A maioria dos pacientes atendidos na Clínica – Escola de Fisioterapia reside em Santarém, correspondendo a 97,5% e 2,5% eram de outras cidades. O tempo de lesão mais recorrente está entre 3 meses a 1 ano, representando 40% dos prontuários. Pacientes que já realizaram cirurgia correspondem a 7,5%, enquanto 75% não realizaram nenhum tipo de procedimento cirúrgico e 15,5% não foram informados. Cerca de 12,5% dos pacientes abandonaram os atendimentos e 87,5% concluíram. As demais informações como a profissão, presença de dormência/formigamento, dificuldade para dormir, dificuldade nas atividades de vida diária e presença de dor não foram coletadas pois não estavam presentes no prontuário.

Conforme os dados presentes na tabela 3, o Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor (ADNPM) predominou em 22,5% da amostra, enquanto 42,5% dos indivíduos apresentavam outros diagnósticos como: Agenesia do corpo Caloso, Artrogripose, Displasia de quadril, Distrofia muscular, Encefalopatia crônica e viral, Epilepsia, Mielomeningocele, Pé torto congênito, Síndrome de Down, Síndrome de Eduard e Síndrome de Guillain Barré.

Tabela 3 – Distribuição dos diagnósticos clínicos encontrados nos prontuários (n=40) e média da quantidade de sessões fisioterapêuticas realizadas por diagnóstico no setor de Fisioterapia Pediátrica da Clínica Escola, em Santarém, Pará, 2023.

DIAGNÓSTICON%MÉDIA
Atraso no Desenvolvimento922,5%9,67±7,28
Torcicolo Congênito717,5%9,67±4,18
Paralisia Cerebral717,5%17,71±12,01
Outros1742,5%12,86±5,09
Total40100% 
Fonte: Dados da pesquisa, ano 2023.

As condutas fisioterapêuticas prevalentes estão representadas no gráfico 3, com destaque para a Estimulação Precoce em 88% dos pacientes.

Gráfico 3 – Condutas fisioterapêuticas realizadas nos pacientes (n=40) atendidos pelo setor de Fisioterapia Pediátrica da Clínica Escola, em Santarém, Pará, 2023.

Fonte: Dados da pesquisa, ano 2023.

5 DISCUSSÃO

Em relação aos prontuários analisados na área de Fisioterapia em Traumatologia e Ortopedia, evidenciou-se que 21,9% da amostra era de indivíduos do gênero masculino e 78,1% do gênero feminino. Macário (2021), também evidenciou em seu estudo que pacientes do gênero feminino (62,80%) foram os que mais procuraram o serviço de Fisioterapia na Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade do Vale do Jaguaribe (FVJ), durante o ano de 2019. No entanto, na pesquisa de Silva et al. (2019), por exemplo, um estudo realizado com uma amostra de 1507 fichas de encaminhamentos ao Ambulatório de Fisioterapia do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, verificou-se que em relação ao gênero, 57,46% correspondiam a pacientes do masculino e 42,54% do feminino. Sendo assim, o perfil de acometimento por gênero pode variar conforme a localidade.

Em relação aos principais diagnósticos analisados, houve elevada diversidade de patologias, no entanto, a artrose foi evidenciada em 6,7% da amostra, corroborando com os achados de Melo et al. (2021) que identificaram prevalência de artrose em 34,17% dos casos, bem como presença de entorses, hérnias discais, lombalgia e outras condições como fraturas, semelhantes ao presente estudo. Já no estudo de Cruz et al. (2019), que verificou o perfil epidemiológico dos pacientes de ortopedia e traumatologia atendidos em uma clínica escola de Minas Gerais, as fraturas acometeram maior parte dos pacientes correspondendo a 15,8%.

Em paralelo, no estudo de Cerqueira et al. (2022) em que o objetivo foi analisar os principais distúrbios Traumato-ortopédicos de pacientes atendidos em uma clínica-escola do município de Nanuque – MG, foram analisados 118 prontuários de pacientes com alterações musculoesqueléticas, dos quais 73,08% eram mulheres, sendo 51,29% idosas. As patologias mais frequentes foram fraturas (25,64%) de ombro, punho, joelho e tornozelo, seguidos por lombalgia (19,23%), alterações osteomusculares pós-COVID (12,82%) e tendinite de ombro (12,82%), se assemelhando com os dados obtidos no presente estudo como fraturas e lombalgia.

Considerando as principais condutas fisioterapêuticas que foram empregadas para a reabilitação de casos da Traumato Ortopedia, identificou-se o uso frequente da Hidroterapia, Eletroestimulação Nervosa Transcutânea (TENS), Liberação Miofascial e Cinesioterapia, corroborando com literaturas que revelam que dentre os recursos e técnicas utilizados para o tratamento de lesões do sistema musculoesquelético destacam-se: terapias manuais, eletroterapia, hidroterapia, termoterapia, cinesioterapia, crioterapia, entre outros (Oliveira et al.,2018; Santana, 2018; Cerqueira et al., 2022). Ainda, Silva, Rodrigues e Monteiro (2021) ressaltam que a individualidade biológica deve ser considerada, pois cada paciente possui seu diagnóstico individual conforme a patologia e suas repercussões funcionais e o objetivo principal é prescrever um tratamento multidisciplinar, incluindo aspectos biológicos, físicos e psicológicos.

Quanto aos registros dos pacientes adultos com disfunções neurológicas, a amostra foi composta por 59,6% de indivíduos do gênero masculino e 40,4% do gênero feminino, havendo maior recorrência de Acidente Vascular Encefálico (AVE), seguido por Parkinson e Lesão Medular. Tais achados assemelham-se com a pesquisa de Mota, Hamu e Magnani (2019) onde verificaram que dos 138 indivíduos atendidos pelo setor de Fisioterapia em uma clínica escola na região Centro-Oeste, 60,15% eram do gênero masculino, a idade média foi de 59,53 anos e houve prevalência também do diagnóstico de AVE em parcela significativa da amostra com 45,3%.

Outro estudo verificou predomínio do gênero masculino e constatou o AVE como a condição clínica mais prevalente, com maior frequência para o tipo isquêmico (Matos et al., 2019). Com base nisso, destaca-se que com o envelhecimento da população algumas patologias podem ser mais recorrentes como é o caso do AVE, caracterizada com altos índices de morbimortalidade e incapacidade, principalmente quando considerados os fatores de riscos correlacionados como: hipertensão, tabagismo, dieta inadequada, inatividade física e obesidade (Matos et al., 2019; Barbosa, 2021).

Ainda sobre os principais acometimentos neurológicos da população adulta analisada, destaca-se os 15,8% dos casos correspondentes ao diagnóstico de Parkinson. Isso se deve ao fato de que a doença se caracteriza como uma das patologias neurodegenerativas mais comum e é um dos distúrbios neurológicos que mais crescem no mundo (Simon; Tanner; Brundin, 2020). No estudo epidemiológico de Santos et al. (2022), por exemplo, no período de 2016 a 2020, foram registradas 4637 internações no Brasil devido a doença de Parkinson, sendo a maioria do gênero masculino (59,69%), com idade superior aos 50 anos, com prevalência da faixa etária entre 60 e 79 anos (52,45%).

Quanto às principais abordagens direcionadas ao paciente adulto neurológico, destacou-se a Cinesioterapia, presente em 93% dos prontuários. Em seus resultados, Cruz et al. (2018) e Franciulli et al. (2018), revelaram que a cinesioterapia é essencial para pessoas com sequelas de hemiplegia pós AVE/hemiparéticos crônicos, pois causa melhora da capacidade funcional, equilíbrio dinâmico, aumento da força muscular global impactando positivamente nas atividades de vida diária da população acometida. Ainda, no estudo de Aidar et al. (2016), que objetivou analisar o efeito de um programa de Cinesioterapia sobre a qualidade de vida em pacientes com AVE, verificaram que houve aumento e diferenças significativas em todos os indicadores de qualidade de vida, caracterizando-se como uma excelente alternativa de conduta fisioterapêutica nesses casos.

Tratando-se do público pediátrico atendido na Clínica Escola, os diagnósticos de Atraso no Desenvolvimento, Torcicolo Muscular Congênito e Paralisia Cerebral foram frequentes. Ressalta-se que durante o desenvolvimento infantil, essas e outras alterações podem gerar atrasos e/ou deficiências no indivíduo, com repercussões a curto, médio e longo prazo (PIRES et al., 2020). Comparando com os resultados obtidos por Vilaça, Souza e Barbato (2023), após a análise de 1.349 prontuários de pacientes, cerca de 7,90% dos casos eram de crianças que apresentaram atraso no desenvolvimento e a paralisia cerebral foi o diagnóstico presente em 76 crianças.

No estudo de Pires et al. (2020), 45,4% apresentaram Paralisia Cerebral e Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor (ADNPM) e 40% tinham apenas ADNPM. Além disso, em 35,1% dos participantes, as alterações foram no domínio cognitivo, motor e linguagem. Ainda, Quero et al. (2020) evidenciaram em seu estudo com base na análise do perfil epidemiológico fisioterapêutico de doenças neurológicas na infância, que 45,95% da amostra foi diagnosticada com prematuridade, com riscos para o ADNPM, seguido por 20,72% de pacientes com Paralisia Cerebral, corroborando com os achados deste estudo que observou as mesmas patologias nos prontuários avaliados. Além disso, os mesmos autores ressaltam que crianças com risco de atrasos ou desenvolvimento motor atípico precisam de ações específicas e principalmente intervenções precoces, uma vez que algumas características associadas aos diagnósticos podem se prolongar até a fase adulta.

Em relação às condutas fisioterapêuticas para pacientes pediátricos, 88% dos prontuários continham a conduta de Estimulação Precoce, sendo comumente empregada nos casos de ADNPM. Isso se deve ao fato de que a Estimulação Precoce interfere de forma positiva no desempenho funcional das crianças, otimizando o alcance dos marcos motores pretendidos de acordo com a faixa etária da criança e com o que ela apresenta funcionalmente, bem como, prevenindo compensações ou movimentos irregulares que podem causar prejuízos futuros (RigonI et al., 2022).   

Sendo assim, este estudo revelou informações relevantes sobre o perfil epidemiológico, diagnósticos e principais condutas direcionadas na Clínica Escola de Fisioterapia do IESPES, podendo auxiliar no aprimoramento dos serviços ofertados para a população santarena. Porém, se limitou ao analisar somente um local de atendimento, não tendo conhecimento sobre o perfil epidemiológico de pacientes atendidos em outras instituições locais ou regionais.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante a análise dos resultados pode-se inferir que cada área de atendimento, correspondente as especialidades da Fisioterapia, possui um perfil clínico epidemiológico com características distintas, no entanto, predominou na amostra os pacientes residentes na cidade de Santarém, a prevalência de dor foi elevada nos setores avaliados, a satisfação com os atendimentos prestados foi positiva e a maioria concluiu o tratamento, apresentando baixos índices de desistência. De modo geral, evidenciou-se alto índice de atendimentos no setor de Traumato-Ortopedia, com prevalência do gênero masculino na amostra. Os diagnósticos e condutas fisioterapêuticas mais frequentes, respectivamente, foram: Artrose e Cinesioterapia no setor de Traumato-Ortopedia; Acidente Vascular Encefálico e Cinesioterapia na Neurofuncional; e Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor e Estimulação Precoce na Pediátrica.

Destaca-se ainda a importância da Clínica Escola devido à carência de atendimentos fisioterapêuticos gratuitos e acessíveis à população santarena, que precisa de reabilitação em diversas áreas de tratamento, além disso, fornece experiências teórico-práticas para o desenvolvimento e aprimoramento profissional dos acadêmicos de Fisioterapia, principalmente. Assim, estudos como este que avaliam o perfil epidemiológico de pacientes atendidos em setores de Fisioterapia, incluindo Clínicas Escolas, são imprescindíveis, tendo em vista a possibilidade de traçar o perfil de pacientes atendidos, prevalência de diagnósticos e condutas empregadas, podendo ser a base para a formulação de políticas de prevenção e assistência à população que necessita de atendimentos fisioterapêuticos, além de ser modelo para a formulação de novas pesquisas epidemiológicas que visem avaliar as mesmas ou outras variáveis em suas respectivas localidades.

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1 Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Esperança de Ensino Superior- IESPES e-mail: apdias.anapaula@gmail.com

2 Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Esperança de Ensino Superior- IESPES e-mail: danyalmeidastm@gmail.com

3 Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Esperança de Ensino Superior- IESPES e-mail: pvfonseca20@gmail.com

4 Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Esperança de Ensino Superior- IESPES e-mail: tarcisiodamasceno63@gmail.com

5 Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Esperança de Ensino Superior- IESPES. Mestre em Biociências. Especialista em Fisioterapia em Traumato-Ortopedia e Terapia Manual. e-mail: melina.santos@professor.iespes.edu.br

6 Docente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade Estadual do Pará- UEPA. Mestre em Ensino em Saúde da Amazônia. Pós- graduada em Fisioterapia traumato-ortopédica e desportiva. e-mail: elidiane.kono@uepa.br