CUIDADOS EM SAÚDE BASEADOS EM VALOR NO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10324501


Thiago de Oliveira Moreira1


RESUMO  

O Value-based Healthcare (VBHC) é um modelo que visa recompensar prestadores e  tecnologias capazes de entregar resultados que agreguem valor para o paciente, de  forma a otimizar a sustentabilidade na saúde. Neste contexto, o presente trabalho tem  como objetivo geral analisar a situação atual dos cuidados em saúde com base em valor  no Brasil, considerando seus aspectos teóricos e práticos. Para tal, utilizar-se-á de  metodologia de pesquisa bibliográfica, baseada em livros, artigos, revistas e demais  materiais disponíveis na internet com informações relevantes acerca da temática. Ante  ao exposto, conclui-se que, a implementação dos cuidados em saúde baseados em  valor no Brasil apresenta uma grande oportunidade de melhorar a eficiência e qualidade  do sistema de saúde. No entanto, essa implementação ainda enfrenta desafios como a  falta de investimentos em tecnologia da informação, resistência de alguns profissionais  de saúde e limitação financeira do sistema. Para superar essas barreiras, é necessário  o envolvimento de todos os atores do sistema de saúde, incluindo o governo, instituições  de saúde, profissionais de saúde e pacientes. É fundamental mudar a cultura e  conscientizar sobre a importância dos resultados em saúde e a necessidade de controlar  os custos. Com isso, será possível garantir uma prestação de cuidados de saúde mais  eficaz, eficiente e centrada no paciente.  

Palavras-chave: Cuidados em saúde. Gestão em saúde. Saúde no Brasil. Qualidade em saúde. VBHC.  

ABSTRACT 

Value-based Healthcare (VBHC) is a model that aims to reward managers and  technologies capable of providing results that add value to the patient, in order to  optimize health sustainability. In this context, the present work aims to analyze the  current situation of health care based on value in Brazil in general, considering its  theoretical and practical aspects. To this end, a bibliographic research methodology will  be used, based on books, articles, magazines and other materials available on the  internet with relevant information on the subject. In view of the above, it is concluded that  the implementation of value-based health care in Brazil presents a great opportunity to  improve the efficiency and quality of the health system. However, this implementation  still faces challenges such as lack of investment in information technology, resistance  from some health professionals and financial limitations of the system. Overcoming these  barriers requires the involvement of all actors in the health system, including the  government, health institutions, health professionals and patients. It is critical to change  the culture and raise awareness about the importance of health outcomes and the need  to control costs. With this, it will be possible to ensure a more effective, efficient and  patient-centered healthcare delivery.  

Keywords: Health care. Health management. Health in Brazil. Quality in health. VBHC. 

1. INTRODUÇÃO  

A saúde é um direito fundamental do ser humano, previsto na Constituição  Federal Brasileira. No entanto, seguir esse direito ainda é um desafio no país, visto  que o sistema de saúde enfrenta problemas como a falta de acesso, desigualdades  regionais, ineficiência e baixa qualidade dos serviços prestados. Nesse sentido, a busca  por soluções que melhorem a gestão e a qualidade dos cuidados em saúde é uma  demanda constante no país (MORAIS; PEREIRA, 2017).  

Segundo Carvalho et al., (2022) uma das abordagens que ganhou destaque em  diversos países é a implementação dos cuidados em saúde com base em valores. Essa  abordagem busca garantir que os cuidados em saúde sejam oferecidos de forma eficaz,  eficiente e segura, com foco na melhoria da saúde do paciente e no controle dos custos.  A aplicação dos cuidados em saúde com base em valor pode ser uma estratégia  importante para melhorar a qualidade do sistema de saúde brasileiro. Neste contexto, o  presente trabalho visa elucidar o seguinte questionamento: Quais são os principais  desafios enfrentados na implementação dos cuidados em saúde baseados em valor no  sistema de saúde brasileiro?  

Apresenta-se a hipótese de que a implementação de cuidados em saúde  baseados em valor no Brasil pode levar a uma melhoria da eficiência e qualidade do  sistema de saúde, traduzida em uma prestação de cuidados de saúde mais eficazes,  eficientes e centrados no paciente. No entanto, a implementação desse modelo enfrenta  desafios e barreiras que precisam ser superados para que os benefícios sejam  alcançados.  

A relevância desta pesquisa justifica-se pela necessidade de compreender  aspectos inerentes aos cuidados em saúde com base em valor no Brasil,  compreendendo os desafios e barreiras para sua implementação e propor estratégias  possíveis para superá-los. As informações aqui apresentadas visam contribuir para o  aprimoramento da gestão e prestação de serviços de saúde no país, promovendo uma  abordagem mais eficiente, centrada no paciente e sustentável economicamente.  

Tem-se como objetivo geral deste estudo: Analisar a situação atual dos cuidados  em saúde com base em valor no Brasil, considerando seus aspectos teóricos e práticos.  E como objetivos específicos: identificar as principais barreiras e desafios para a  implementação dos cuidados em saúde baseados em valor no país e avaliar os  possíveis impactos que essa abordagem pode trazer para o sistema de saúde brasileiro.  

Para tal, utilizou-se a metodologia de pesquisa com delineamento bibliográfico.  O material utilizado foi baseado na pesquisa de artigos e alguns livros da área também.  Os dados necessários para essa pesquisa foram retirados de artigos constantes em algumas revistas científicas como: Google Acadêmico, Scielo e Pubmed, utilizando as  seguintes palavras chaves: Cuidados em saúde, Gestão em saúde, Saúde no Brasil e  VBHC.  

2. DESENVOLVIMENTO  

2.1 Cuidado em Saúde Baseado em Valor.

A gestão em saúde é uma atividade complexa, envolvendo a gerência de  diversas organizações de saúde, esferas públicas e privadas, hospitais, laboratórios,  clínicas e outros serviços. Além disso, é importante lembrar que o paciente não pode  ser perdido de vista durante a prestação dos serviços de saúde e cuidados. Porém, a  prestação de cuidados de saúde pode contribuir para dificuldades de gerenciamento  dos sistemas de saúde, tendo em vista que é realizado em um ambiente em constante  mudança, influenciado por diversos fatores, como demográficos, tecnológicos e  financeiros. Isso geralmente resulta em menos consenso sobre a direção gerencial estratégica das organizações envolvidas no sistema (MACEDO et al., 2015).  De acordo com Macedo et al., (2015) outro fator que complica a gestão em saúde  é a questão da sustentabilidade do sistema. O aumento dos custos é uma preocupação  constante das empresas do setor, sendo justificado pelo envelhecimento da população,  pelo aumento da frequência de utilização dos planos de saúde e pelo aumento dos  preços de medicamentos, mão de obra e equipamentos.  

Segundo Teixeira e Zucchi (2019) diante dessas dificuldades impostas aos  gestores, alternativas várias têm sido toleradas, e uma das possíveis soluções é a  gestão baseada em valor (VBHC). Essa abordagem começou a ser mais  frequentemente mantida no contexto mundial a partir de 1999, com a publicação do livro  “Error is human: building a safer health care system” pelo Institute of Medicine.  

A VBHC propõe uma abordagem centrada no paciente, com foco na qualidade  do atendimento e nos resultados clínicos. Ela tem como objetivo reduzir os custos e  melhorar a eficiência dos serviços de saúde, promovendo ações que agregam valor ao  paciente. Entretanto, a implementação dos cuidados em saúde relacionados em valor  no sistema de saúde brasileiro enfrenta diversos desafios e barreiras, como a falta de  integração entre as diversas partes do sistema, a falta de informação adequada e a  resistência cultural à mudança (TEIXEIRA; ZUCCHI, 2019).  

É importante ressaltar que a VBHC pode ter um grande impacto no sistema de  saúde brasileiro, promovendo uma melhoria da qualidade do atendimento e eficiência  dos serviços. Porém, é necessário superar os desafios e barreiras para sua implementação, envolvendo a mudança de adoção e a adoção de novas tecnologias e  processos que garantiram a integração e a mais eficiente dos serviços de saúde  (RODRIGUES; MARQUES, 2018).  

Rodrigues e Marques (2018) destacam que essa abordagem se baseia na ideia  de que a qualidade em saúde deve ser medida em termos de resultados clínicos  efetivos, e não apenas em termos de processos e procedimentos realizados. Os  cuidados em saúde baseiam-se no valor do envolvimento na prestação de serviços de  saúde que maximizam a qualidade e a eficácia clínica, bem como a eficiência dos  recursos, a fim de melhorar a saúde e o bem-estar da população.  

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os cuidados em saúde  baseiam-se no valor envolvimento a “prestação de serviços de saúde que maximizam a  qualidade e eficácia clínica, bem como a eficiência dos recursos, a fim de melhorar a  saúde e o bem-estar da população” (OMS, 2020). Para a OMS, essa abordagem deve  ser baseada em evidências científicas sólidas, no envolvimento dos pacientes e na  utilização de tecnologias avançadas de informação e comunicação.  

Isso significa que busca oferecer cuidados eficazes, eficientes e seguros, que  podem trazer benefícios para a saúde do paciente, ao mesmo tempo em que se busca  evitar procedimentos cirúrgicos ou ineficazes, que podem aumentar os custos do  sistema de saúde. Essa abordagem é baseada em evidências científicas sólidas, no  envolvimento dos pacientes e na utilização de tecnologias avançadas de informação e  comunicação. Ela também busca promover uma mudança cultural na gestão e na  prática clínica, para que os profissionais de saúde possam adotar uma abordagem mais  focada em resultados e na eficiência (CARVALHO et al., 2022).  

2.2 Mudança Organizacional.

A implementação da estratégia de Cuidado baseada em Valor requer uma  mudança significativa na cultura organizacional dos serviços de saúde. No entanto, é  importante ressaltar que a implementação de mudanças organizacionais pode ser um  processo complexo e arriscado, já que a maioria das tentativas de transformação  organizacional falham. A falta de capacitação dos gestores para conduzir e sustentar as  mudanças é um dos fatores que interagem para esse alto índice de insucesso.  

Junqueira (1992) discute a mudança organizacional no setor público de saúde e  destaca a importância da participação das lideranças e da construção coletiva para o  sucesso da implementação. A autora propõe que a mudança deve fazer parte de um  projeto institucional, a partir da redefinição do modelo assistencial, com o objetivo de  oferecer serviços de saúde com qualidade e eficácia à população. 

Terra (2000) estudou um processo de mudança organizacional em um hospital  de grande porte em São Paulo, destacando o papel da motivação do grupo condutor e  o apoio da alta liderança para o sucesso da implantação. No entanto, fatores como o  individualismo dos profissionais e os conflitos de interesse entre grupos foram  limitadores do programa.  

Lewin (1947) analisou teorias sobre o comportamento de grupos e as forças que  restringem ou impulsionam a mudança de comportamento. Para o autor, é importante  compreender as influências que exercem sobre os indivíduos em grupos ou  organizações para planejar e guiar processos de mudança. As ações que diminuem ou  aumentam as forças atuantes devem sempre objetivar o grupo, não o indivíduo de forma  beneficente.  

Diante desses estudos, é possível concluir que a implementação da estratégia  de Cuidado baseada em Valor no sistema de saúde exige uma abordagem coletiva e  participativa, com a inclusão de liderança e a motivação do grupo condutor. Além disso,  é importante considerar os conflitos de interesse entre os profissionais de saúde e a  cultura organizacional vigente. A compreensão dessas questões pode aumentar as  chances de sucesso na implementação da mudança.  

Lewin (1947) em sua teoria dos 3 passos para a mudança, propõe uma estrutura  para que as organizações possam conduzir a mudança de comportamento de seus  indivíduos. O processo começa pelo “Descongelar”, que visa desestabilizar o equilíbrio  estacionário para que os idosos comportamentais sejam descartados e os novos  adotados. O segundo passo é o “Mover”, que inicia a partir da motivação despertada  pelo descongelamento.  

A direção desta motivação não é previsível, o que torna o processo complexo e  exige avaliação contínua. O terceiro e último passo é o “Recongelar”, momento em que  o grupo é submetido a forças que procuram estabilizar um novo equilíbrio. Essa teoria  é útil para as organizações que buscam a mudança, desde que levem em conta as  particularidades do processo em cada contexto (LEWIN, 1947).  

Kotter (2007) em seu artigo “Leading Change. Why Transformation Efforts Fail”,  propõe oito ganhos para guiar o processo de mudança organizacional. O autor  argumenta que os gestores devem ter em mente esses ganhos, evitando negligenciar  qualquer um deles, para reduzir as chances de insucesso.  

Os objetivos propostos são: 1- Estabelecer um senso de urgência; 2- Formar  uma coalização de liderança; 3- Criar uma visão; 4- Comunicar a visão; 5- Capacitar  outros para agir em busca da visão; 6- Planejar para obter vitórias de curto prazo; 7-  Consolidar os avanços e produzir mais mudança; 8- Institucionalizar as conquistas. A compreensão desses ganhos, segundo Kotter, pode ajudar as organizações a conduzir  um processo de mudança com maior chance de sucesso (KOTTER, 2007).  

2.3 Implementação dos Cuidados em Saúde Relacionados em Valor no Brasil.

Os Cuidados em Saúde Relacionados em Valor (VBHC) do inglês Value-Based  Healthcare têm se mostrado uma abordagem eficaz para melhorar a qualidade e  eficiência dos cuidados em saúde, em diversos países ao redor do mundo. No Brasil, a  implementação do VBHC ainda é incipiente, mas existem iniciativas em andamento,  visando melhorar a qualidade dos serviços oferecidos aos pacientes e reduzir os custos  do sistema de saúde (PRADO et al., 2017).  

Prado et al., (2017) destaca que, um exemplo de iniciativa nesse sentido é o  projeto de implantação do VBHC no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. O  projeto foi iniciado em 2016, com o objetivo de promover uma mudança cultural na  gestão e na prática clínica, visando à adoção de uma abordagem mais focada em  resultados e na eficiência. O projeto envolveu a implantação de um modelo de gestão  baseado em indicadores de resultados clínicos e financeiros, com a definição de metas  e planos de ação para o alcance desses indicadores.  

Outra iniciativa que merece destaque é o Programa de Atenção Domiciliar (PAD),  implementado pelo Ministério da Saúde (2019) que visa a qualidade de vida dos  pacientes. O programa é baseado em uma abordagem centrada no paciente e na  família, com o envolvimento de equipes multiprofissionais e o uso de tecnologias  avançadas de informação e comunicação. Além dessas iniciativas, outras instituições  de saúde no Brasil têm se empenhado na implementação dos cuidados em saúde com  base em valor, por meio da adoção de modelos de gestão mais eficientes e da utilização  de tecnologias avançadas de informação e comunicação.  

Estas iniciativas incluem a utilização de sistemas de informação clínica  integrados, a implantação de protocolos de atendimento com base em provas científicas  e a capacitação dos profissionais de saúde para a utilização de tecnologias avançadas.  Um dos principais desafios é a falta de integração dos sistemas de informação em  saúde, o que dificulta a avaliação dos resultados e o monitoramento da qualidade dos  cuidados. Além disso, é necessário promover mudanças culturais na gestão e na prática  clínica, para que os profissionais de saúde possam adotar uma abordagem mais focada  em resultados e na eficiência (RODRIGUES; MARQUES, 2018).  

Segundo Rodrigues e Marques (2018) para superar esses desafios, é importante  investir em programas de capacitação e formação para os profissionais de saúde, além de promover a integração dos sistemas de informação em saúde. É fundamental que  haja uma mudança de paradigma na gestão dos serviços de saúde, com foco na  melhoria da qualidade e eficiência dos cuidados prestados.  

2.4 Desafios e Barreiras para a Implementação dos Cuidados em Saúde Relacionados  em Valor no Brasil.

Um dos principais desafios para a implementação do VBHC no Brasil é a falta  de investimentos em tecnologias de informação e comunicação. A utilização de sistemas  de informação clínica integrados e a implantação de protocolos de atendimento com  base em evidências científicas são fundamentais para a adoção do VBHC, mas muitas  instituições de saúde ainda não possuem os recursos necessários para implementar  essas tecnologias (CARVALHO et al., 2022).  

Além disso, a falta de integração dos sistemas de saúde dificulta a troca de  informações entre os profissionais de saúde e os pacientes, o que pode comprometer a  qualidade e a eficiência dos cuidados prestados. Além disso, a falta de capacitação dos  profissionais de saúde para a adoção de uma abordagem mais focada em resultados e  na eficiência é outro desafio importante. A mudança cultural na gestão e na prática  clínica requer um investimento significativo em capacitação e treinamento dos  profissionais de saúde, visando à adoção de uma abordagem mais centrada no paciente  e na qualidade dos resultados (CORRÊA et al., 2019).  

Corrêa et al., (2019) afirma que é necessário que os profissionais de saúde  entendam a importância da adoção do VBHC e estejam aptos a aplicar essa abordagem  na prática clínica. Outro desafio é a resistência à mudança cultural por parte dos  gestores de saúde e dos produtores de serviços. Muitos gestores de saúde ainda estão  presos a modelos de gestão mais tradicionais, baseados em metas quantitativas de  produção, e resistem à adoção de uma abordagem mais centrada na qualidade dos  resultados. Além disso, muitos fluxos de serviços de saúde ainda não compreendem os  benefícios do VBHC e resistem à mudança de práticas clínicas e de gestão.  

É fundamental que os gestores e os visitantes de serviços de saúde  compreendam a importância do VBHC para a melhoria da qualidade dos cuidados  prestados e estejam dispostos a investir em mudanças culturais e tecnológicas para  implementar essa abordagem. Outro desafio importante é a falta de uma política pública  clara e consistente para a implementação do VBHC no Brasil. A adoção do VBHC requer  um investimento significativo em capacitação, tecnologia e mudança cultural, e é  fundamental que haja uma política pública clara e consistente que incentive e oriente os incentivos de serviços de saúde nesse processo de mudança (RODRIGUES;  MARQUES, 2018).  

Segundo Rodrigues e Marques (2018) a falta de uma política pública clara e  consistente pode comprometer a adesão das orientações de serviços de saúde ao  VBHC e dificultar a implementação dessa abordagem em larga escala. Por fim, a falta  de transparência e de incentivos financeiros para a adoção do VBHC também são  barreiras importantes para a implementação dessa abordagem no Brasil.  

2.5 Possíveis Impactos dos Cuidados em Saúde Relacionados em Valor no Sistema de  Saúde Brasileiro.

Um dos principais impactos do VBHC no sistema de saúde brasileiro é a melhoria  na qualidade dos cuidados prestados aos pacientes. Com uma abordagem mais  centrada no paciente e nos resultados, os profissionais de saúde são incentivados a  buscar soluções mais eficazes e personalizadas para cada caso, o que pode levar a  uma redução dos erros médicos e uma melhoria na satisfação dos pacientes. Além  disso, o VBHC pode levar a uma redução dos custos do sistema de saúde, por meio da  eliminação de práticas clínicas ineficazes e desnecessárias (PRADO et al., 2017).  

Com uma abordagem mais focada nos resultados e na eficiência, os produtores  de serviços de saúde são incentivados a buscar soluções mais eficazes e menos  dispendiosas, o que pode levar a uma redução dos custos do sistema de saúde a longo  prazo. Outro impacto importante do VBHC é a redução das desigualdades no acesso  aos cuidados de saúde (FLEURY; ZIMMERMAN, 2015).  

Ainda de acordo com Fleury e Zimmerman (2015) com uma abordagem mais  centrada no paciente e na qualidade dos resultados, é possível oferecer cuidados de  saúde mais personalizados e adaptados às necessidades individuais de cada paciente.  Isso pode levar a uma redução das desigualdades no acesso aos cuidados de saúde,  especialmente entre os grupos mais independentes da população. Além disso, o VBHC  pode estimular a inovação no sistema de saúde brasileiro. Com uma abordagem mais  centrada nos resultados e na eficiência, os fluxos de serviços de saúde são incentivados  a buscar soluções mais eficazes e inovadoras para os problemas de saúde.  

Isso pode levar a uma maior colaboração entre os profissionais de saúde e um  aumento na pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias e práticas clínicas.  No entanto, a implementação do VBHC no sistema de saúde brasileiro também pode  gerar desafios e impactos negativos. Um dos principais desafios é a necessidade de investimentos em tecnologia e capacitação dos profissionais de saúde (CARVALHO et  al., 2022).  

A implementação dos Cuidados em Saúde Relacionados em Valor (Value-Based  Healthcare) no sistema de saúde brasileiro pode trazer vários benefícios, descritos a  seguir com base na Bittencourt et al., (2019):  

  • Melhoria na qualidade do atendimento: Os cuidados em saúde relacionados em  valor se baseiam em um modelo centrado no paciente, que visa atender às  necessidades individuais de cada paciente e promover a saúde e bem-estar a  longo prazo. Com isso, é possível obter uma maior satisfação por parte dos  pacientes e melhorar a qualidade do atendimento prestado.  
  • Redução de custos: Ao adotar o modelo de cuidados em saúde relacionados em  valor, é possível identificar e eliminar práticas ineficientes e desnecessárias,  além de evitar desperdícios e reduzir custos desnecessários. Com isso, é  possível aprimorar a gestão de recursos e investir em áreas prioritárias.  
  • Maior seguimento e segurança do tratamento: Ao utilizar protocolos de  atendimento baseados em evidências científicas, é possível garantir um  tratamento mais efetivo e seguro para os pacientes. Além disso, o uso de  sistemas de informação clínica integrados pode ajudar na identificação de  possíveis erros medicamentosos e psicológicos, ansiosos para a saúde dos  pacientes.  
  • Promoção da saúde populacional: Com a adoção dos cuidados em saúde  relacionados em valor, é possível promover a saúde populacional, incentivando  a adoção de hábitos saudáveis e a prevenção de doenças. Isso pode reduzir a  demanda por atendimentos hospitalares e emergenciais, atendendo os custos  para o sistema de saúde como um todo.  
  • Aumento da eficiência do sistema de saúde: A implementação dos cuidados em  saúde relacionados em valor pode ajudar a melhorar a gestão e organização dos  serviços de saúde, melhorando a eficiência do sistema como um todo. Com isso,  é possível reduzir o tempo de espera por atendimentos e garantir um acesso  mais rápido e efetivo aos serviços de saúde.  

A adoção do VBHC requer a implantação de sistemas de informação clínica  integrados e capacitação dos profissionais de saúde para a adoção de uma abordagem  mais centrada no paciente e nos resultados, o que pode exigir um investimento  significativo em tecnologia e em treinamento. Além disso, a implementação do VBHC  pode gerar resistência e conflitos entre os fluxos de serviços de saúde e os gestores do  sistema de saúde (CORRÊA et al., 2019). 

Muitas queixas de serviços de saúde ainda não compreendem os benefícios do  VBHC e resistem à mudança de práticas clínicas e de gestão. Por outro lado, muitos  gestores de saúde ainda estão presos a modelos de gestão mais tradicionais, baseados  em metas quantitativas de produção, e resistem à adoção de uma abordagem mais  centrada na qualidade dos resultados (TEIXEIRA; ZUCCHI, 2019).  

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Ante ao exposto, conclui-se que os cuidados em saúde baseados em valor  representam uma abordagem inovadora e promissora para a gestão do sistema de  saúde no Brasil. Essa abordagem busca promover a entrega de serviços de saúde de  alta qualidade, com foco na obtenção dos melhores resultados para o paciente, ao  mesmo tempo em que controla os custos.  

Apesar do potencial dos cuidados em saúde baseados em valor, a  implementação desse modelo no Brasil enfrenta diversos desafios e barreiras, como a  falta de investimentos em tecnologia da informação, a resistência de alguns profissionais  de saúde e a falta de uma cultura de avaliação de resultados. Além disso, a adoção dos  cuidados em saúde com base em valor deve ser justificada com a realidade econômica  do país, levando em conta a limitação financeira do sistema de saúde.  

Para que os cuidados em saúde baseados em valor possam ser implementados  com sucesso no Brasil, é necessário um esforço conjunto de todos os atores envolvidos  no sistema de saúde, incluindo o governo, instituições de saúde, profissionais de saúde  e pacientes.  

É fundamental que haja uma mudança de cultura e uma maior conscientização  sobre a importância dos resultados em saúde e a necessidade de controlar os custos.  Dessa forma, a implementação dos cuidados em saúde com base em valor pode ser  vista como uma oportunidade para melhorar a eficiência e a qualidade do sistema de  saúde no Brasil, garantindo uma prestação de cuidados de saúde mais eficazes,  eficientes e centrados no paciente.  

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  

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