MORTALIDADE MATERNA EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19: DESAFIOS PARA SAÚDE PÚBLICA

MATERNAL MORTALITY AMID THE COVID-19 PANDEMIC: CHALLENGES FOR PUBLIC HEALTH

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10266675


Adriana Pereira Duarte1
Mónica Cristina Padró2
Frank José Silveira Miranda3
Jerssycca Paula dos Santos Nascimento4
Neide Moreira de Souza5
Sinara Silva Marques6
Maria Alexandra Fontinelle Pereira7
Cristiane Maria de Queiroz8


Resumo

Este artigo aborda a questão crítica da mortalidade materna em meio à pandemia da Covid-19, destacando os desafios enfrentados pela saúde pública. O estudo da mortalidade materna é uma área de pesquisa de longa data, visando reduzir os óbitos evitáveis nessa população. Para alcançar esse objetivo, governos ao redor do mundo têm implementado programas específicos voltados para a saúde da mulher. O principal propósito deste estudo é oferecer um embasamento sólido para a formulação de políticas públicas. Essas políticas não apenas visam diretrizes preventivas para reduzir a morbimortalidade materna, mas também buscam identificar os fatores que contribuem para o aumento desses índices. A justificativa para esta pesquisa se torna ainda mais relevante diante da compreensão aprofundada dos óbitos maternos associados à Covid-19. Por isso, é crucial um embasamento teórico robusto para investigar as causas ligadas à mortalidade materna durante essa pandemia e identificar os serviços de saúde pública oferecidos a esse público específico.

Palavras-chave: Mortalidade Materna. Saúde Pública. Pandemia. Covid-19.

Abstract

This article addresses the critical issue of maternal mortality in the midst of the Covid-19 pandemic, highlighting the challenges faced by public health. The study of maternal mortality is a long-standing area of research aimed at reducing preventable deaths in this population. To achieve this goal, governments around the world have implemented specific programs aimed at women’s health. The main purpose of this study is to provide a solid foundation for the formulation of public policies. These policies not only aim at preventive guidelines to reduce maternal morbidity and mortality, but also seek to identify the factors that contribute to the increase in these rates. The justification for this research becomes even more relevant given the in-depth understanding of maternal deaths associated with Covid-19. Therefore, a robust theoretical basis is crucial to investigate the causes linked to maternal mortality during this pandemic and to identify the public health services offered to this specific public.

Keywords: Maternal mortality. Public Health. Pandemic. Covid-19.

1. INTRODUÇÃO

A preocupação com a mortalidade materna surgiu na Europa durante o século XIX. A Suécia se destacou por conseguir a menor taxa de mortalidade materna do continente, pois foi a pioneira a adotar ações públicas no combate à diminuição de óbitos maternos, introduzindo, naquela época, medidas que incentivaram a participação de parteiras profissionais e a utilização de técnicas de antissepsia (Högberg, 1986).

O Ministério da Saúde vem inserindo no Brasil diversas ações e programas de Atenção Básica de Saúde com o propósito de diminuir a mortalidade materna. Esses programas têm o objetivo de garantir o acesso, acolhimento e resolutividade, bem como amplificar e melhorar o acesso ao planejamento reprodutivo, dando continuidade até as fases de pré-natal, parto e puerpério para evitar as mortes maternas.

Nos últimos anos no Brasil, o acesso aos serviços de saúde vem aumentando de forma expressiva em todos os níveis de complexidade, entretanto ainda é preciso avaliar a qualidade e efetividade desses serviços. Embora o país disponha de recursos tecnológicos e humanos para prestar uma atenção obstétrica e neonatal com qualidade, os resultados desta atenção ainda estão deixando a desejar (Viacava, 2010; Assis, 2003).

Karam, et.al.(2007) realizaram um estudo sobre mortalidade materna a partir da análise de registros clínicos e autópsias, onde afirmam que as evidências de mortes maternas se justificam em decorrência de um conjunto de problemas sociais, econômica, biológica e logística dos serviços de saúde.

Os fenômenos sociais, bem como suas desigualdades sociais afetam diretamente as condições de nascimento, favorecendo agravos específicos ao grupo de gestantes e puérperas (Martinez et. al., 2011).

No âmbito da Saúde Pública Vivenciamos um momento epidemiológico de grande intensidade. O surto de Covid-19 acarretou danos substanciais para pessoas, famílias, comunidades e nações do mundo todo. As rotinas diárias sofreram transformações profundas, a economia entrou em declínio e os sistemas de saúde enfrentam uma sobrecarga na demanda aos serviços ofertados (OMS, 2021; UN NEWS, 2020).

Desde 2020 a mortalidade materna tem sido alvo de grande preocupação no Brasil. Em primeiro lugar, pelo fato de que a mortalidade materna é fortemente marcada pelo acesso e disponibilidade de recursos assistenciais para pré-natal, parto e puerpério (FIOCRUZ, 2021). Esta preocupação com a mortalidade materna também ocorre a nível mundial neste período pandêmico, pois os números de casos e mortes relacionados ao Covid-19 têm-se mostrado assustador.

Frente à evolução da pandemia de Covid-19, tornou-se importante a definição de grupos com maior risco de evolução grave da doença e, nestes, têm sido incluídas as gestantes e puérperas (Brasil, 2020a). 

No contexto atual, a observância da importância da pesquisa se torna evidente na compreensão mais profunda dos óbitos maternos associados à Covid-19. Este interesse recai especialmente na identificação dos fatores de risco durante a gestação e no acesso ao sistema de Saúde Pública. Diante dessa exposição, a realização deste estudo se justifica ao delinear este grupo específico da população, visando produzir dados essenciais para a melhoria dos serviços de saúde direcionados a gestantes e puérperas, bem como para o desenvolvimento de novas políticas públicas voltadas à saúde materna, considerando o impacto provocado pela pandemia da Covid-19.

O objetivo primordial deste artigo é fornecer embasamento para a implementação de políticas públicas que não apenas abordem diretrizes preventivas da morbimortalidade materna e lesões infantis, mas também identifiquem os fatores que contribuem para o aumento da incidência de mortalidade materna. Este estudo busca, portanto, não apenas compreender a situação atual, mas fornecer subsídios tangíveis para a criação de estratégias eficazes de prevenção e intervenção voltadas para a saúde materna diante dos desafios exacerbados pela pandemia.

2. COVID-19 E MORTE MATERNA

O novo coronavírus denominado SARS-CoV-2, causador da doença Covid-19 foi detectado em 31 de dezembro de 2019 em Wuhan, na China. Em 30 de janeiro, a OMS declarou a epidemia uma emergência internacional (PHEIC). Ao final do mesmo mês diversos países já haviam confirmado importações de casos, incluindo Estados Unidos, Canadá e Austrália. No Brasil, em 7 de fevereiro, havia 9 casos em investigação, mas sem registros de casos confirmados (Tavares, 2020; Brasil,2020).

Para diminuir as graves consequências da Covid-19, foram identificados grupos de risco para complicações e morte, como idosos, portadores de doenças crônicas, obesidade, pneumopatas, profissionais da área de saúde e, posteriormente, as gestantes (Souza, 2021).

Em abril de 2020, o Ministério da Saúde do Brasil incluiu todas as gestantes, puérperas e pacientes com perda gestacional ou fetal até 15 dias como grupo de risco para Covid-19, contudo até o final de maio não havia divulgação oficial dos dados agregados de mortes durantes a gestação e no pós-parto (Nakamura, 2020).

No final de maio de 2020 o Ministério da Saúde, divulgou a ocorrência de 36 óbitos maternos por Covid-19, colocando o Brasil na liderança de mortes maternas por Covid-19 no mundo (COE, 2020b). Esses dados trazem uma inquietude quanto ao impacto da Covid-19 na mortalidade materna no Brasil.

A literatura científica aponta que gestantes com infecção por SARS-CoV-2, que evoluem para quadro grave associado à comorbidade, apresentam probabilidade aumentada de evoluírem para parto Cesáreo emergencial ou para trabalho de parto prematuro, o que eleva o risco de morbimortalidade materna e neonatal (Li et al.; 2020).

As gestantes e puérperas têm sido consideradas um grupo de grande preocupação, e o impacto da Covid-19 vem a se somar a uma situação já trágica em nosso país, elevando a morte materna a níveis altíssimos (FIOCRUZ, 2021).

A Estatística mundial de óbitos maternos por Covid-19 encontrou 160 óbitos registrados na literatura internacional, de forma que de cada 10 óbitos por Covid-19 no mundo, oito aconteciam no Brasil (Nakamura, 2020). Diante destes dados pode-se afirmar que o sistema de saúde brasileiro não estava preparado para lidar com uma pandemia de tamanha proporção.

Uma observação epidemiológica dos óbitos maternos foi o impacto desproporcional do racismo estrutural nas mortes maternas por Covid-19. Entre os 1.204 óbitos registrados em 2020 e 2021, cerca de 56,2% ocorreram em mulheres pardas e pretas, com risco de morte quase duas vezes maior em relação ao risco das mulheres brancas (Rodrigues, 2021). Há necessidade de estudos para detectar qual a relação da Covid-19 com a raça negra e o risco de mortes de gestante contaminada com a SARS-CoV-2.

Pesquisas nos mostram que mulheres negras foram hospitalizadas em condições de pior gravidade, com maior prevalência de dispnéia e menor saturação de oxigênio, além de maior taxa de admissão na unidade de terapia intensiva (UTI) e de ventilação mecânica assistida, observando-se ainda um risco de morte quase duas vezes maior em mulheres negras comparadas às brancas. Essa desigualdade social, racial e de gênero foi também identificada em estudos realizados nos Estados Unidos da América. (Santos, 2020; Tai, 2020).

Soma-se neste contexto o risco inerente aos aspectos biológicos à falta de acesso aos serviços de saúde, como: internação em UTIs; tratamentos, como a intubação; medidas de controle, como testagem ao apresentarem sintomas e ao serem admitidas nas maternidades; e vacinação. Isso pode ser evidenciado pelos dados que apontam que 23,2% das gestantes e puérperas mortas em decorrência da Covid-19 não chegaram a ser admitidas em UTIs e 33,6% delas não foram intubadas, traduzindo um dos aspectos da dificuldade de acesso (FIOCRUZ, 2021).

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) passou a emitir desde 2020 alertas acerca do risco aumentado para gestantes e puérperas de evoluírem para formas graves da Covid-19, com necessidade de internação, cuidado intensivo, uso de ventilação mecânica e ocorrência de partos prematuros (CDC, 2019). 

Pesquisadores nos asseguram que as gestantes podem evoluir para formas graves da Covid-19, em torno da 32ª ou 33ª semanas de gestação, havendo até mesmo a necessidade de antecipar o parto (FIOCRUZ, 2021).

Artigos sobre a morte de gestantes e puérperas por Covid-19 começaram a ser publicados em meados de 2020 no Brasil, alertando para a necessidade de preparação e organização de toda rede de atenção em saúde (Takemoto et al., 2020).

Em muitas regiões do país, as consultas de pré-natais foram interrompidas devido à reorganização do sistema de saúde em resposta à Covid-19. Essa reestruturação pode agravar problemas preexistentes na assistência, potencialmente resultando em um aumento de casos de morte materna por causas não relacionadas à Covid-19. Infelizmente, a confirmação desses impactos só será evidente por meio das estatísticas a serem publicadas nos próximos anos (Souza, 2021).

A Organização Panamericana de Saúde (Opas) também está atenta a esse grupo da população e publicou em meados de maio de 2021 uma atualização acerca da pandemia nas Américas. Informou que entre janeiro e abril do ano corrente houve um aumento importante de casos em gestantes e puérperas e de óbitos maternos por Covid-19 em 12 países. O Brasil figura com o maior número de óbitos e uma assustadora taxa de letalidade de 7,2%, ou seja, mais que o dobro da atual taxa de letalidade do país, que é de 2,8% (OPS, 2021). 

O Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 em parceria com a Fiocruz é um painel dinâmico desenvolvido para facilitar o acesso da população a dados do Ministério da Saúde voltados à disseminação de Covid-19 em gestantes e puérperas. Esse dado nos mostra que em 14 meses de pandemia, 11.664 gestantes ou puérperas contraíram Covid-19 no Brasil, sendo que, só em 2021, 642 mulheres nestas condições foram a óbito devido à doença. O número de mortes em 2021 impressiona por ser maior que a totalidade de óbitos do ano de 2020 na mesma categoria, que atingiu 457 mulheres. Foi observado desde o início da pandemia que as maiores vítimas são mulheres no terceiro trimestre de gestação e puérperas (Rodrigues, 2021).

A gravidade da mortalidade reflete a realidade social onde as pessoas e particularmente, as mulheres estão inseridas. Demarca o desenvolvimento econômico local, a qualidade da assistência médica, a impiedade entre os gêneros e determina as políticas de promoção da saúde pública. A diminuição da mortalidade materna foi definida como uma das principais metas dos organismos internacionais de promoção da saúde (Laurentei, Mello-Jorge, Gotlieb, 2000).

A pandemia de Covid-19 vem afetando toda a sociedade, mas é inegável que alguns grupos têm sofrido com uma carga extra e as repercussões são distintas. As gestantes e puérperas têm despontado como grupo de grande preocupação e o impacto da Covid-19 vem se somar a uma situação já trágica em nosso país, elevando o índice da taxa de morte materna de forma abrupta.

Segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (2021), um repositório de dados com análise específica dos casos de Covid-19 em gestantes e puérperas, nos mostram que as mortes maternas por Covid-19 dobraram de 2020 para 2021, com taxas, respectivamente, de 7,24% e 14,04% de óbitos de mulheres nesse perfil infectadas pelo coronavírus.

3. METODOLOGIA 

Trata-se de um estudo dissertativo, conduzido por meio de revisão da literatura sobre morte materna no cenário pandêmico da Covid-19, realizado no período de agosto a novembro de 2023. Essa revisão tem o propósito de fornecer embasamento para a implementação de políticas públicas e também identificar os fatores que contribuem para o aumento da incidência de mortalidade materna.  Para realizar esta pesquisa, foram exploradas diversas bases de dados renomadas, como SCieLO, Periódicos Capes, Biblioteca Virtual em Saúde, Latindex, Bibliomed e PubMed. O processo de busca foi orientado pelos descritores: Mortalidade Materna, Saúde Pública, Pandemia e Covid-19. A seleção dos materiais foi criteriosa, baseada na análise dos títulos e resumos para avaliar sua aderência ao propósito do estudo. Optou-se por documentos científicos em português, espanhol e inglês, de preferência produzidos nos últimos 10 anos e disponíveis na íntegra nas bases de dados utilizadas. As referências foram selecionadas por sua notável relevância teórica e científica, proporcionando um alicerce sólido para embasar a discussão proposta.

4. DISCUSSÕES 

Neste contexto ressalta a necessidade premente de transparência e disponibilidade de dados concretos, especialmente no que se refere à saúde das gestantes, puérperas e mulheres que passaram por perda gestacional ou fetal durante a pandemia de Covid-19. Ao incluir esse grupo como de alto risco para a doença, o Ministério da Saúde do Brasil reconheceu a vulnerabilidade dessas mulheres.

No entanto, a ausência de divulgação oficial dos dados agregados de mortalidade durante a gestação e no pós-parto até o final de maio de 2020 levanta preocupações significativas. A falta de acesso a informações precisas e atualizadas sobre o impacto da Covid-19 nessas populações específicas dificulta não apenas a compreensão da gravidade da situação, mas também compromete a formulação de políticas eficazes de saúde pública direcionadas a esses grupos vulneráveis.

A divulgação desses dados é crucial não apenas para entender o alcance real da pandemia nesta população, mas também para orientar a implementação de medidas preventivas, tratamentos adequados e alocação de recursos específicos. A transparência na divulgação de informações estatísticas sobre mortalidade durante a gestação e no pós-parto é essencial para embasar ações governamentais, fornecer suporte adequado aos profissionais de saúde e promover a saúde e o bem-estar dessas mulheres em um momento de crise sanitária como a pandemia de Covid-19.

A literatura científica, por meio de estudos como o de Li et al. (2020), indica que gestantes infectadas com SARS-CoV-2 e que desenvolvem quadros graves relacionados a comorbidades têm uma probabilidade maior de evoluir para situações como parto Cesáreo emergencial ou trabalho de parto prematuro.

Essas condições são preocupantes, uma vez que aumentam significativamente os riscos de morbimortalidade tanto para a mãe quanto para o bebê. Esses achados destacam a importância de um cuidado intensivo e personalizado para gestantes com infecção por SARS-CoV-2, especialmente aquelas que apresentam comorbidades. A monitorização regular, intervenções médicas oportunas e um acompanhamento cuidadoso por parte dos profissionais de saúde são fundamentais para mitigar os riscos associados a esses desdobramentos adversos durante a gravidez e o parto. Essa conscientização é crucial para orientar estratégias de cuidado e intervenção voltadas para gestantes afetadas pela Covid-19, visando reduzir os impactos negativos tanto para as mães quanto para os recém-nascidos.

Dados epidemiológicos revelam uma realidade alarmante e acentua a necessidade urgente de compreender e enfrentar o impacto do racismo estrutural na saúde materna durante a pandemia de Covid-19. O registro de que aproximadamente 56,2% dos óbitos maternos ocorreram em mulheres pardas e pretas, com um risco de morte quase duas vezes maior em comparação com mulheres brancas, aponta para disparidades gritantes.

É crucial investigar os fatores por trás dessa disparidade alarmante, podendo haver múltiplos elementos influenciadores, como acesso desigual aos cuidados de saúde, condições socioeconômicas desfavoráveis, maior exposição a ambientes de risco de contágio e até mesmo o impacto do estresse racial na saúde. A compreensão desses fatores é fundamental para desenvolver estratégias e políticas de saúde que sejam mais equitativas e capazes de reduzir essas disparidades.

A reorganização do sistema de saúde em resposta à pandemia da Covid-19 interrompeu as consultas pré-natais em várias regiões do país. Essa medida pode acentuar problemas já existentes na assistência, levando a um possível aumento nos casos de morte materna por causas não ligadas à Covid-19. A confirmação desses impactos só será clara ao longo dos próximos anos, quando as estatísticas forem publicadas, conforme observado por Souza (2021). Esse cenário suscita preocupações sobre a qualidade do cuidado pré-natal e ressalta a importância de estratégias que mitiguem os efeitos negativos da reestruturação do sistema de saúde, visando a proteção da saúde materna e infantil.

O Brasil se destaca com o maior registro de óbitos relacionados à Covid-19, acompanhado por uma alarmante taxa de letalidade de 7,2%. Este número é mais que o dobro da taxa de letalidade atual do país, situada em 2,8%, conforme relatado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPS) em 2021. Esses dados sublinham a gravidade da situação no país e ressaltam a necessidade contínua de medidas eficazes para conter a propagação do vírus e proteger a saúde pública.

Takemoto et al. (2020) destacaram uma taxa significativa de 12,7% de óbitos maternos atribuídos à Covid-19, dos quais 48,4% estavam associados a alguma forma de comorbidade. Isso indica que ter uma comorbidade não necessariamente resulta em fatalidade para esse grupo específico, porém aumenta substancialmente as chances de óbito. Além disso, o autor enfatiza que a maioria dessas mortes ocorreu no período pós-parto, possivelmente devido à redução da imunidade durante o puerpério, o que torna mais suscetível o contágio pela Covid-19 e as complicações decorrentes desta infecção. Esses achados ressaltam a complexidade da interação entre a condição materna, o momento pós-parto e a influência da Covid-19, enfatizando a importância de medidas preventivas e cuidados específicos para garantir a saúde materna durante e após a gravidez.

Em outro estudo conduzido por Carvalho-Sauer et al. (2020), foi identificada uma taxa de mortalidade materna por Covid-19 de 13,19%, juntamente com um alarmante aumento de 95% em relação à previsão mensal esperada para o ano de 2020. Paralelamente, Francisco et al. (2021) apontam, em uma análise comparativa entre os anos de 2020 e 2021, ambos marcados pelo contexto pandêmico, um crescimento expressivo de 233,8% dos óbitos semanais de gestantes e puérperas. Esses dados refletem um impacto substancial da pandemia na mortalidade materna, destacando a necessidade urgente de estratégias específicas e cuidados adaptados para proteger a saúde das gestantes e puérperas em meio a esse cenário desafiador.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão das variáveis que influenciam a mortalidade materna, em meio a uma transição demográfica acelerada e mudanças no perfil epidemiológico, é fundamental para embasar políticas públicas de saúde eficazes. Essas políticas visam reduzir o número de óbitos maternos e melhorar a qualidade da assistência à saúde para as mulheres afetadas. É crucial considerar não apenas as causas diretas da mortalidade materna, mas também o suporte necessário para prevenir a Covid-19 e outras doenças endêmicas em gestantes e puérperas, fortalecendo a rede de atenção à saúde voltada para esse grupo de risco.

Estudos específicos são essenciais não apenas para compreender a relação entre a Covid-19 e comunidades vulneráveis, mas também para orientar intervenções direcionadas e políticas públicas capazes de reduzir o impacto desproporcional da pandemia na saúde materna. Essas ações têm o potencial de mitigar disparidades, promovendo um cuidado mais igualitário e eficaz para todas as gestantes afetadas pela doença.

A presença de comorbidades reflete a vulnerabilidade das mulheres à Covid-19, ressaltando a necessidade de uma atenção especial às gestantes e puérperas. Esta investigação alcançou seus objetivos ao identificar pontos críticos essenciais para embasar a formulação de políticas públicas destinadas a esse grupo populacional, além de contribuir para o combate a grandes pandemias. O conhecimento gerado por esses estudos é crucial para orientar estratégias efetivas de prevenção e cuidados, visando proteger a saúde materna e reduzir as taxas de mortalidade entre as gestantes e puérperas.

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1Doutoranda em Saúde Pública pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales-UCES
Técnica em educação no HC/UFU/EBSERH
E-mail: adrianaenf@gmail.com

2Doutora em Ciência Política pela Université de Cergy- Pontoise
Docente na Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales-UCES
E-mail: monicapadro@yahoo.com.ar

3Doutor em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas
Docente na Universidade Federal de Uberlândia-FAMED
E-mail: frank@ufu.br

4Mestranda – Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial – Universidade Federal Fluminense
Enfermeira na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH
E-mail jerssycca@hotmail.com

5Doutoranda em Saúde Pública pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales-UCES
Técnica em educação no HC/UFU/EBSERH
neide.souzamoreira@hotmail.com

6Especialista em oncologia. Enfermeira no setor de oncologia UFU/EBSERH. sinaramarques1985@hotmail.com

7Mestre em ciências da Educação. Enfermeira no HC/UFU/EBSERH. alexandrafontinelle@gmail.com

8Mestre em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador-PPGAT/UFU. Técnica em educação no HC/UFU/EBSERH
crismaria15000@yahoo.com.br