QUATRO ESPECIALIDADES MÉDICAS ENVOLVIDAS NO MANEJO DO PACIENTE NA UTI: UMA REVISÃO DE LITERATURA

FOUR MEDICAL SPECIALTIES INVOLVED IN PATIENT MANAGEMENT IN THE ICU: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10259829


Paulo Henrique Brasil Hass Gonçalves Filho1; Thifisson Ribeiro de Souza2; Igor Ferreira Partata3; Vinicius de Oliveira Pereira4; Yasmin Mauri5; Vítor Silva Alcântara6; Victoria Soares de Farias Silva7; João Pedro de Alcântara8; Luiz Cláudio Félix Pereira de Souza9; Vinicius Santos Bigliassi10


Resumo

Ao longo dos séculos, a medicina como um todo passou por uma revolução, permitindo que técnicas e aparelhos cada vez mais sofisticadas fossem utilizadas para tratar pacientes críticos, reduzindo as taxas de mortalidade significativamente. Esta revisão narrativa de literatura reuniu artigos das bases de dados (PUBMED e SciELO) com o objetivo de apontar as principais funções do anestesiologista, do médico intensivista, do cirurgião e do oftalmologista dentro da unidade de terapia intensiva ao cuidar de um indivíduo ali admitido. A busca dos artigos elegíveis ocorreu durante o mês de novembro de 2023, sendo que apenas 65 foram escolhidos para revisão após minuciosa busca. Percebeu-se, ao término do estudo, que o médico intensivista coordena os cuidados do paciente crítico em um ambiente especializado para tal. Ele provê assistência medicamentosa e clínica ao monitorar de forma ativa as funções vitais do indivíduo, evitando sequelas e danos. Nesse cenário, o anestesiologista pode auxiliar no manejo da dor do paciente, o cirurgião na assistência cirúrgica (quando necessário) e o oftalmologista complementa cuidados da saúde visual do indivíduo evitando ou tratando lesões corneanas em geral.

Palavras-chave: Unidades de Terapia Intensiva; Anestesiologia; Cirurgia Geral; Oftalmologia.

1 INTRODUÇÃO

Ao decorrer dos séculos, a evolução da medicina proporcionou avanço significativo em diversas áreas e na criação de especialidades. Com o aumento do número de universidades de medicina, por exemplo, é comum que em grandes metrópoles os profissionais tenham não somente uma especialidade, mas também subespecialidades que permite um aprofundamento maior em uma determinada área.

Esse cenário faz com que médicos cada vez mais especializados desenvolvam técnicas em suas determinadas funções, trazendo um ciclo de inovação e crescimento dentro da medicina.

Trazendo esse recorte para a área cirúrgica, os avanços permitiram que as altas taxas de mortalidade caíssem abruptamente ao emergir o uso de anestésicos gerais e locais, além de técnicas adequadas de higiene e paramentação do centro cirúrgico, reduzindo infecções e aumentando o prognóstico do paciente operado.

Um exemplo prático dessa evolução foi descrito no estudo realizado por RODRIGUES e SOUZA (2006), que relatou a história da cirurgia de catarata e também sua evolução:

A história da cirurgia da catarata, de forma semelhante a outros procedimentos em Medicina, apresenta um curso circular, com repetições de ideias já relatadas e introdução de outras novas. Das ruínas da Babilônia antiga, surgiu a técnica de aspiração do cristalino, que permaneceu por um curto período de tempo. A ideia do deslocamento do cristalino para câmara vítrea veio da Índia e foi utilizada por mais de 3000 anos. Durante este período, foram feitas diversas outras tentativas esporádicas e localizadas para tratamento da catarata. Somente em 1750, o cirurgião francês Jacques Daviel realizou, com sucesso, a primeira extração extracapsular planejada. A ideia de abrir o olho para remover a catarata não foi bem aceita inicialmente, devido às dificuldades técnicas impostas pelo procedimento na época. A técnica intracapsular era mais fácil e, por isso, começou a arrebanhar adeptos por todo o mundo, tornando-se o método de escolha a partir do início do século XX. A partir de 1950, a utilização do microscópio cirúrgico, juntamente com o desenvolvimento da técnica extracapsular, da facoemulsificação e das lentes intra-oculares, nos levaram a uma nova era no tratamento da catarata, um tempo em constante mudança.

O exemplo citado anteriormente mostra a importância dessa evolução, uma vez que a cirurgia de catarata é a mais realizada no mundo atualmente, sendo um procedimento que reverte a cegueira parcial ou total. É possível afirmar que com as melhoras obtidas através dos séculos, obteve-se também um melhor nível de recuperação visual que interfere diretamente na qualidade de vida de cada paciente, já que a acuidade visual está intimamente ligada à capacidade funcional de um indivíduo.

Esse recorte da cirurgia de catarata é uma demonstração minúscula da importância do engajamento científico dentro da medicina. O manejo de estados críticos de saúde permitiram que unidades especializadas pudessem tratar e curar pacientes à beira da morte. Obviamente, referencia-se aqui a unidade de terapia intensiva e toda a complexidade de métodos e especialistas envolvidos não só no tratamento, mas na cura de diversos indivíduos diariamente (HERREJÓN EP; DÍAZ GG e CORTÉS JM, 2011).

Tendo em vista a grande importância do assunto abordado a nível global, o estudo presente possui como objetivo apontar as principais funções do anestesiologista, do médico intensivista, do cirurgião geral e do oftalmologista dentro da unidade de terapia intensiva ao cuidar de um indivíduo ali admitido.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura que utilizou artigos publicados de forma integral e gratuita nas bases de dados U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Deu-se preferência para a bibliografia publicada nas línguas inglesa, portuguesa, espanhola e francesa, considerando o domínio de pelo menos um autor do estudo em cada idioma, garantindo uma tradução mais fidedigna do conteúdo revisado. O unitermo utilizado para a busca foi “Intensive Care Units”, presente nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).

Objetivando uma abordagem mais atual acerca do objetivo almejado, um recorte temporal foi incorporado à filtragem, que incluiu pesquisas publicadas nos últimos dez anos. No entanto, livros referência da medicina também foram consultados no intuito de melhor conceituar os termos aqui utilizados, trazendo maior assertividade e confiabilidade à pesquisa.

No mês de novembro de 2023, os autores deste estudo se dedicaram a uma busca minuciosa pelos estudos elegíveis dentre aqueles encontrados. A seleção incluiu a leitura dos títulos dos trabalhos, excluindo aqueles cujo tema não era convergente com o aqui abordado. Posteriormente, realizou-se a leitura integral dos estudos e apenas 65 dos 33127 artigos encontrados foram utilizados aqui de alguma forma.

Além disso, vale ressaltar que o presente estudo dispensou a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que não aborda e nem realiza pesquisas clínicas em seres humanos e animais. Por conseguinte, asseguram-se categoricamente os preceitos dos aspectos de direitos autorais dos autores vigentes previstos na lei brasileira (BRASIL, 2013).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Após o estudo de revisão, percebeu-se que o conceito de monitorizar de forma mais ativa indivíduos mais graves teve início em meados do século XIX no contexto da guerra da Crimeia. No entanto, a primeira unidade de terapia intensiva propriamente dita foi criada pelo neurocirurgião Walter Dany por volta de 1927, que separava seus pacientes dos demais na enfermaria no intuito de monitorar de forma ativa (ASSOCIAÇÃO DE MEDICINA INTENSIVA BRASILEIRA – AMIB, 2014).

Porém, vale ressaltar que o conceito de medicina intensiva moderna foi criado pelo médico austríaco Peter Safar na segunda metade do século XX, um profissional extremamente renomado e reconhecido, considerado o pai da ressuscitação cardiopulmonar, sendo precursor de diversos métodos e técnicas que hoje fazem parte da rotina do médico intensivista (BONGARD FS, SUE DY e VINTCH JRE, 2008; GOLDMAN L, et al., 2018; MADUREIRA CR, VEIGA K e SANT’ANNA AFM, 2000; OLIVEIRA AR, et al., 2016).

Tendo já perpassado pelo histórico da medicina intensiva, pode-se afirmar que a função do médico intensivista é estudar, analisar e assistir pacientes que precisam de cuidado contínuo e específico com infraestrutura adequada para tal. Cabe a ele o conhecimento mais especializado de procedimentos clínicos de monitorização contínua do paciente, além de entender as consequências de uma cirurgia de grande porte e as complicações de uma doença severa. Nesse cenário, é o médico intensivista que coordena e considera as intervenções dos demais profissionais de saúde no manejo do paciente (ARX MV, 2023; QUESADO I, et al., 2022; PAÑO-PARDO JR, et al., 2022; OTERO MJ, et al., 2022).

Quanto ao papel do anestesiologista e do cirurgião, afirma-se que pode variar dependendo do contexto e das necessidades específicas do paciente. No entanto, o anestesiologista na UTI geralmente desempenha funções de manejo da dor e sedação. Já o cirurgião estará engajado em prover assistência cirúrgica em casos onde haja necessidade, podendo manejar o paciente antes e após a cirurgia em conjunto com o médico intensivista e uma equipe multiprofissional (DOHERTY GM, 2017; GARCIA R, 2005; MANICA J, 2018; TOWNSEND CM, et al., 2014; MARTÍNEZ JLG e MAEYER AG, 2021; DELGADO MCM; VIDAL FG, 2018; DRÁBKOVÁ J, 2015).

Ademais, o oftalmologista pode estar presente durante e após a estadia na UTI, já que a permanência prolongada nessas condições podem gerar a síndrome do olho seco, causando lesões na córnea. Deve-se portanto adotar medidas de saúde ocular para evitar danos que, se instalados, devem ser tratados posteriormente (FERNANDES APNL, et al., 2017).

Logo, é evidente a interdisciplinaridade e multiprofissionalidade existente dentro da abordagem da terapia intensiva, já que o manejo de pacientes críticos pode exigir tratamentos extremamente específicos.

4 CONCLUSÃO

Pode-se afirmar que o médico intensivista coordena os cuidados do paciente crítico em um ambiente especializado para tal. Ele provê assistência medicamentosa e clínica ao monitorar de forma ativa as funções vitais do indivíduo, evitando sequelas e danos. Nesse cenário, o anestesiologista pode auxiliar no manejo da dor do paciente e o cirurgião na assistência cirúrgica quando necessário.

Ademais, os autores deste estudo tomam a responsabilidade de fomentar novas pesquisas que abordem minuciosamente as lacunas deixadas, revisando pontos essenciais de cada especialidade ou abordagens clínicas relacionadas com a medicina intensiva e a unidade de terapia intensiva.

REFERÊNCIAS

ARX, MV. The illusion of immediacy: on the need for human synchronization in data-intensive medicine. Front Sociol; 2023, 8:1120946. Acesso em 01 de novembro de 2023.

ASSOCIAÇÃO DE MEDICINA INTENSIVA BRASILEIRA – AMIB. Manual de medicina intensiva. São Paulo: Atheneu, 2016. Acesso em 01 de novembro de 2023.

BONGARD, FS; SUE, DY; VINTCH, JRE. Current Diagnosis and Treatment Critical Care. 3 ed. New York: The McGraw-Hill Companies, 2008. Acesso em 01 de novembro de 2023.

BRASIL. Lei Nº 12.853. Brasília: 14 de agosto de 2013. Acesso em 01 de novembro de 2023.

DELGADO, MCM; VIDAL, FG. Intensive medicine services. How to add value to the surgical process? Med Intensiva (Engl Ed); 2018, 42(8): 461-462. Acesso em 01 de novembro de 2023.

DOHERTY, GM. CURRENT Cirurgia. Porto Alegre: Grupo A, 2017. Acesso em 01 de novembro de 2023.

DRÁBKOVÁ, J. Trajectory of anaesthesiology and intensive medicine–history, presence and prospects. Cas Lek Cesk; 2015, 154(5): 239-243. Acesso em 01 de novembro de 2023.

FERNANDES, APNL, et al. Olho seco em unidade de terapia intensiva: uma análise de conceito. Revista Brasileira de Enfermagem; 2018, 71(3): 1162-1169. Acesso em 01 de novembro de 2023.

GARCIA, R. Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. 1ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN: Guanabara Koogan, 2005. Acesso em 01 de novembro de 2023.

GOLDMAN L, et al. Cecil Medicina. 25 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. Acesso em 01 de novembro de 2023.

HERREJÓN, EP; DÍAZ, GG; CORTÉS, JM. The future of intensive medicine. Medicina Intensiva; 2011, 35(4): 232-235. Acesso em 01 de novembro de 2023.

MADUREIRA, CR; VEIGA, K; SANT’ANNA, AFM. Gerenciamento de tecnologia em terapia intensiva. Revista latinoamericana de enfermagem (Ribeirão Preto); 2000, 8(6): 68-75. Acesso em 01 de novembro de 2023.

MANICA, J. Anestesiologia. 4ª Ed. Porto Alegre: Grupo A, 2018. Acesso em 01 de novembro de 2023.

MARTÍNEZ, JLG; MAEYER, AG. Anesthesiology and Intensive medicine: together against COVID-19. Revista Española de Anestesiología y Reanimación (Engl Ed); 2021, 68(9): 550-551. Acesso em 01 de novembro de 2023.

OLIVEIRA AR, et al. Manual da residência de medicina intensiva. 5 ed. Barueri: Manole, 2016. Acesso em 01 de novembro de 2023.

OTERO, MJ, et al. Assessment of the implementation of safe medication practices in Intensive Medicine Units. Med Intensiva (Engl Ed); 2022, 46(12): 680-689. Acesso em 01 de novembro de 2023.

PAÑO-PARDO, JR, et al. Management of Patients with Suspected or Confirmed Antibiotic Allergy: Executive Summary of Guidelines from the Spanish Society of Infectious Diseases and Clinical Microbiology (SEIMC), the Spanish Society of Allergy and Clinical Immunology (SEAIC), the Spanish Society of Hospital Pharmacy (SEFH) and the Spanish Society of Intensive Medicine and Coronary Care Units (SEMICYUC). Journal of Investigational Allergology and Clinical Immunology; 2023, 33(2): 95-101. Acesso em 01 de novembro de 2023.

QUESADO, I, et al. Data Mining Models for Automatic Problem Identification in Intensive Medicine. Procedia Computer Science; 2022, 210:218-223. Acesso em 01 de novembro de 2023.

SOUZA, EV; RODRIGUES, MLV; SOUZA, NV. História da Cirurgia de Catarata. Medicina (Ribeirão Preto); 2006, 39(4): 587-590. Acesso em 01 de novembro de 2023.

TOWNSEND, CM, et al. Sabiston – Tratado de Cirurgia. 19ª ed. Amsterdã: Elsevier, 2014. Acesso em 01 de novembro de 2023.


1Médico pela Universidade Federal de Roraima.

2Graduando em Medicina pela Universidade de Rio Verde

3Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Palmas

4Graduando em Medicina pela Universidade Brasil

5Graduanda em Medicina pela Faculdade Multivix

6Graduando em Medicina pela Universidade Católica de Brasília

7Médica pelo Centro Universitário Facisa

8Médico pela Universidade Federal da Grande Dourados

9Médico pela Universidade Federal do Pará

10Médico pela Universidade de Ribeirão Preto