REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10258178
Victor Brito Ribeiro1
Vinícius Castro de Souza1
Soraia Lopes Lima2
Resumo
Durante a pandemia causada pelo SARS-Cov–2 medidas preventivas para controle de infecção. Neste período, destacou-se o uso da máscara N95, seu uso frequente impactou diretamente no desenvolvimento de patologias dermatológica entre profissionais de saúde, bem como no surgimento de acne vulgar e dermatite. O presente trabalho tem como objetivo avaliar o impacto do uso prolongado da máscara N95 durante pandemia e o aparecimento de acne vulgar em profissionais da área da saúde no período da pandemia de COVID-19. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura a partir da busca artigos científicos em português e inglês disponíveis nos bancos de dados eletrônicos (Google Acadêmico, SciELO e PubMed) utilizados os seguintes termos de busca: “Máscaras N95”, “acne vulgar”, “dermatoses”, “prevenção”. O total de 344 artigos foram encontrados, nos quais apenas 10 foram selecionados para a presente revisão bibliográfica publicados entre os anos 2020 a 2023. As máscaras evitam a transpiração, aumentam a umidade e temperatura na região perioral, o que pode ser devido à diminuição da transpiração, em que a diferença de temperatura ao redor da superfície externa do respirador e do ambiente há um aumento relativo no calor e na umidade do ar expirado causando a condensação da umidade. Assim, de acordo com os artigos encontrados, o uso prolongado foi capaz e provocar reações adversas na pele, bem como o surgimento de acne vulgar nos profissionais de saúde.
Palavras-chave: Covid-19. Acne Vulgar. Máscara N95. Profissionais de Saúde.
1. Introdução
Durante a pandemia causada pelo SARS-Cov–2 medidas preventivas para controle de infecção causada por este foram estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde devido à sua capacidade alta de disseminação. Isolamento social, lavagem frequente das mãos, desinfecção rigorosa de ambientes e superfícies, uso contínuo de máscaras em locais públicos foram os principais meios para controle de infecções por este patógeno (SOARES et al., 2021).
No período pandêmico, destacou-se o uso da máscara N95, devido à sua certificação pelo Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (NIOSH) pelo seu potencial e eficiência de filtração e retenção de partículas microscópicas transportadas pelo ar, incluindo vírus SARS-Cov–2, proporcionando maior proteção contra a principal via de contágio do vírus, vias respiratórias superiores ((DE SÁ; OLIVEIRA; MEIRELLES, 2021; SCHERER; SCHIRMER, 2023) ROCHA LUZ; MENDONÇA DE NORONHA; NAVARRO, 2020). (Figura1)
Figura 1. Máscara N95 (Fonte.: Ortoponto.com.br)
O uso frequente de equipamentos de proteção individual, principalmente da máscara N95, impactou diretamente no desenvolvimento de patologias dermatológica entre profissionais de saúde, bem como no surgimento de acne vulgar e dermatites (COELHO et al., 2020; MENDONÇA et al., 2023). Sendo assim, sugere-se que o uso frequente, prolongado e/ou inadequado da N95 pode ter influenciado no aparecimento da acne vulgar, ou até mesmo à piora e aumento do quadro, o dano cutâneo gerado pela máscara é devido à oclusão folicular e está diretamente relacionado ao estresse mecânico (pressão, oclusão, fricção, cisalhamento) e à disbiose do microbioma (calor, pH, umidade dos biofluidos) (ÁVILA-BECERRIL et al., 2022).
A acne vulgar é uma doença dermatológica que afeta de 85 a 100% da população, principalmente adolescentes e jovens adultos (SOARES et al., 2021; AI-BENNA, 2020; SOARES et al., 2021). Trata-se de uma doença crônica que atinge o pilossebáceo, alterando os lipídeos e sebos cutâneos, gerando assim uma reação inflamatória e/ou lesões faciais e consequentemente fazem com que as glândulas sebáceas aumentem a oleosidade da pele, e com isso, cria um cenário propício para o desenvolvimento de acne (FIGUEIREDO et al., 2011). A figura 1, ilustra as fases de desenvolvimento e evolução da Acne Vulgar.
Figura 2. Fases do desenvolvimento da Acne Vulgar (Fonte.: Concise Medical Knowledge)
É relevante compreender a relação do uso de máscara N95 e acne vulgar para que orientações e medidas adequadas sobre o uso de máscaras e cuidados sejam apresentados aos profissionais da saúde e comunidade (DE RESENDE; SILVA; CALDAS, 2021).
2. Objetivo
O presente trabalho tem como objetivo avaliar o impacto do uso prolongado da máscara N95 durante pandemia e o aparecimento de acne vulgar em profissionais da área da saúde no período da pandemia de COVID-19.
3. Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura a partir da busca artigos científicos em português e inglês disponíveis nos bancos de dados eletrônicos (Google Acadêmico, SciELO e PubMed) utilizados os seguintes termos de busca: “Máscaras N95”, “acne vulgar”, “dermatoses”, “prevenção”. Os dados foram obtidos mediante leitura dos artigos selecionados e copilados em arquivo Excel® de acordo os critérios estabelecidos para resposta do objetivo proposto.
4. Resultados
O total de 344 artigos foram encontrados, nos quais apenas 10 foram selecionados para a presente revisão bibliográfica publicados entre os anos 2020 a 2023 considerando os descritores utilizados. Um breve resumo sobre estes artigos é apresentado na tabela 1.
De acordo com os 10 artigos selecionados, as máscaras faciais protegem contra microrganismos nocivos e sua utilização foi essencial durante a pandemia. Entretanto, a diferença de temperatura ao redor da superfície externa do respirador presente do ambiente ocasiona o aumento relativo no calor e na umidade do ar expirado, causando a condensação da umidade no respirador, prejudicando a troca de calor com meio externo à mascara.
Com isso, houve impacto na ocorrência de doenças de pele devido ao uso prolongado de máscaras faciais durante a pandemia, principalmente em profissionais de saúde. Dentre as principais patologias dérmicas consideraram-se as dermatites de contato, urticária de contato, acne, decorrente do contato com os adesivos e borracha presentes na máscara, que em sua composição constituem formaldeído livre liberado do polipropileno não tecido e do metal nos clipes.
5. Discussão
O uso da máscara como medida protetiva é amplamente reconhecida pela Organização Mundial de Saúde OMS (AHMED et al., 2021). Segundo a OMS, o uso de máscaras, incluindo a máscara N95, são eficazes na redução da disseminação do SARS-CoV-2, pois protege de forma eficiente tanto os profissionais da saúde quanto os pacientes.
A máscara N95 é um tipo de EPI facial que oferece um alto nível de proteção contra partículas transportadas pelo ar, incluindo aerossóis e gotículas respiratórias. Essa máscara é amplamente utilizada por profissionais de saúde e trabalhadores expostos a riscos ocupacionais, devido ao seu poder de filtração eficaz. Além disso, a N95 é avaliada quanto à sua eficiência de filtração de partículas por meio de testes padronizados, como o teste de eficiência de filtração bacteriana (Bfe) e o teste de eficiência de filtração de partículas não oleosas (Pfe). Esses testes medem a capacidade da máscara de filtrar partículas transportadas pelo ar em condições controladas. Uma eficiência de filtração de pelo menos 95% é exigida para que uma máscara seja considerada N95 (MACINTYRE CR et al., 2013).
Apesar dos benefícios, o uso prolongado da máscara N95 pode levar a reações adversas à pele, bem como efeitos dermatológicos entre os profissionais de saúde, como acne e dermatite de contato (LAN et al., 2020; AI-BENNA, 2020). Em 2020, Luz e colaboradores (2020) relatam que alterações na pele em um grupo de profissionais de saúde após uso prolongado da N95 foram superiores a 20%, sendo estas: acne (59,6%), coceira facial (51,4%) e erupção cutânea (35,8%).
Em profissionais de saúde que fizeram o uso de dispositivos médicos por mais de 6 horas foram observados maiores riscos de danos à pele, principalmente em áreas do nariz e bochechas quando se faz o uso de máscaras. Diferente do protetor fácil, em que após um tempo maior de uso não foi considerado fator de risco significativo para causar danos à pele na testa (Jiajia et al., 2020). Este fato pode estar relacionado a troca de calor com meio externo à mascara, já que o protetor facial não impacta nessa troca de calor.
Em 2022, Abduljabbar e colaboradores (2022) investigaram a prevalência e o risco potencial do uso de máscara facial na pele em 389 indivíduos, nos quais houve uma associação estatisticamente significativa entre a duração e a frequência do uso de máscara facial e o desenvolvimento de danos à pele. 58,1% dos participantes usaram máscaras faciais por mais de 4 horas. Além disso, 22% e 59,1% dos participantes do sexo masculino e feminino, respectivamente, afirmaram ter notado reações adversas na pele do rosto após o uso de máscara facial.
Recentemente, Altin (2023) viu que a proporção de úlceras de pressão, acne, reações cutâneas incluindo dermatite alérgica ou urticária de contato e dor regional variou entre 4,9% e 79,3% com o uso prolongado da máscara N95 em profissionais da saúde, principalmente aqueles do sexo feminino.
6. Considerações finais
O uso contínuo de máscaras faciais tornou-se uma prática comum e necessária durante a pandemia de COVID-19. Embora o uso de máscaras seja essencial para prevenir a propagação de doenças, especialmente as transmitidas por gotículas respiratórias, algumas pessoas podem experimentar efeitos adversos na saúde da pele devido ao uso prolongado de tal afetando sua saúde e autoestima. Assim, de acordo com os artigos revisados neste estudo, o uso prolongado foi capaz e provocar reações adversas na pele, bem como o surgimento de acne vulgar nos profissionais de saúde.
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1Acadêmico do curso de Biomedicina da faculdade Uninassau, colegiado de Biomedicina, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil
2Docente do curso de Biomedicina e Farmácia da faculdade Uninassau, colegiado de Biomedicina e Farmácia, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil