VIVÊNCIAS EM PSICO-ONCOLOGIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE  ESTÁGIO SUPERVISIONADO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10246783


Wanderson Rodrigues de Morais1
Joíza Maria de Oliveira Santana2
Renan Enes Ramalho3


RESUMO 

Este relato de experiência destaca a relevância da Psicologia Hospitalar, especialmente na  Psico-oncologia, para fornecer apoio emocional a pacientes oncológicos e seus familiares em  ambientes de saúde desafiadores. O estágio supervisionado realizado em um Hospital de  referência no tratamento oncológico em Rondônia, revelou a importância de habilidades como  empatia, escuta ativa e a validação das emoções dos pacientes. As intervenções incluíram  anamnese psicológica, entrevistas, psicoeducação e psicoterapia breve, resultando em  melhorias no bem-estar emocional dos pacientes, redução da ansiedade e angústia, além de uma  compreensão mais clara do diagnóstico, prognóstico e tratamento. A comunicação eficaz entre  pacientes e equipe multiprofissional foi destacada como essencial. A experiência não apenas  contribuiu para o desenvolvimento profissional do estudante, mas também teve um impacto  significativo no aspecto humano, ressaltando a importância de uma prática clínica sensível e  abrangente com base na compreensão biopsicossocial do indivíduo. Em resumo, o estágio  enriqueceu tanto a formação pessoal quanto acadêmica, ampliando a compreensão da  Psicologia e preparando o profissional para uma carreira dedicada ao suporte emocional e ao  entendimento das necessidades dos pacientes oncológicos, evidenciando o valor do trabalho do  psicólogo no contexto hospitalar. 

Palavras-chave: Psico-oncologia; experiência; oncológicos; relato.

ABSTRACT 

This experience report highlights the relevance of Hospital Psychology, especially in Psycho oncology, to provide emotional support to oncology patients and their families in challenging  healthcare environments. The supervised internship carried out at a reference hospital for  oncology treatment in Rondônia revealed the importance of skills such as empathy, active  listening and validation of patients’ emotions. Interventions included psychological history  taking, interviews, psychoeducation and brief psychotherapy, resulting in improvements in  patients’ emotional well-being, reduced anxiety and distress, as well as a clearer understanding  of diagnosis, prognosis and treatment. Effective communication between patients and the  multidisciplinary team was highlighted as essential. The experience not only contributed to the  student’s professional development, but also had a significant impact on the human aspect,  highlighting the importance of a sensitive and comprehensive clinical practice based on the  individual’s biopsychosocial understanding. In short, the internship enriched both personal and  academic training, expanding the understanding of Psychology and preparing the professional  for a career dedicated to emotional support and understanding the needs of cancer patients,  highlighting the value of the psychologist’s work in the hospital context. 

Keywords: Psycho-Oncology; experience; oncological; report. 

INTRODUÇÃO 

A prática da Psicologia Hospitalar, reconhecida como especialidade e atualmente  regulamentada pela resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) nº 13/2007, desempenha um papel vital no cenário da saúde, podendo esse profissional ser contratado para  atuar em hospitais públicos, privados ou filantrópicos, em caráter de internação, hospital dia ou  atendimento ambulatorial, proporcionando suporte emocional e psicológico aos pacientes e  suas famílias em um ambiente, muitas vezes, marcado por desafios físicos e emocionais.  Independente das condições, o que deve regular a atuação do profissional é seu posicionamento  ético (CRP-PR, 2016). 

No contexto da Psico-oncologia, a psicologia hospitalar desempenha um papel de  extrema relevância, dando suporte emocional e psicológico aos pacientes e familiares que estão  em tratamento contra o câncer. Este relato de experiência tem o objetivo de apresentar e refletir  sobre as vivências e aprendizados adquiridos durante o estágio no Hospital de referência com  dedicação exclusiva ao tratamento de pacientes oncológicos no Estado de Rondônia.

A finalidade deste trabalho é relatar toda a experiência vivenciada em um estágio em  Psicologia Hospitalar com foco em Psico-oncologia, destacando suas contribuições no contexto  do referido hospital. Segundo Carvalho et al. (2008): 

A psico-oncologia constitui-se em uma área do conhecimento da psicologia da Saúde,  aplicada aos cuidados com o paciente com câncer, sua família e os profissionais envolvidos no seu tratamento (Carvalho et al., 2008, p. 15). 

Nesse sentido, será destacado a relevância do suporte psicológico como parte integrante  da abordagem de saúde, reconhecendo a importância da promoção do bem-estar psicológico  em pacientes que enfrentam desafios de saúde significativos, bem como em suas famílias. A  atuação do psicólogo no ambiente hospitalar torna-se crucial para auxiliar estes pacientes a  lidarem com o impacto emocional e psicológico do câncer, bem como para promover estratégias  de enfrentamento que possam lhes proporcionar melhor qualidade de vida. 

Este relato de experiência se justifica pela necessidade de compartilhar o aprendizado e  conhecimentos adquiridos ao longo de 22 encontros de 4h diárias, no período que compreendeu  do mês de agosto a outubro de 2023, mostrando como as intervenções psicológicas, juntamente  com as equipes multidisciplinares, podem contribuir na qualidade de vida dos pacientes,  fornecendo-lhes um tratamento mais humanizado. 

Neste cenário, a Psico-oncologia emerge como um campo multidisciplinar e holístico  que busca compreender e atender às necessidades psicológicas dos pacientes oncológicos. O  trabalho do psicólogo hospitalar não se limita à redução de angústias e ao manejo do sofrimento  psicológico, mas estende-se ao apoio na tomada de decisões, ao fortalecimento de recursos  emocionais e à melhoria da qualidade de vida durante e após o tratamento. 

O objetivo deste trabalho é compartilhar experiências práticas, desafios enfrentados e  lições aprendidas durante o estágio, tanto na parte prática quanto na teórica, que são as  supervisões, onde foram tratados assuntos pertinentes e realizados debates e discussões de casos  à luz da teoria psicológica. Além disso, deseja-se enfatizar a importância da atuação do  psicólogo hospitalar para a promoção de um atendimento mais adaptado às necessidades de  cada pessoa, levando em consideração a subjetividade do sujeito, debruçando-se sobre aquele  contexto específico da vivência humana em suas diferentes formas de apresentação, buscando  promover o cuidado integral da saúde. 

Por meio deste relato de experiência, o leitor terá conhecimento sobre parte da atuação  do Psicólogo, com abordagem em psico-oncologia, em uma instituição hospitalar onde o apoio  psicológico não é apenas um complemento, mas uma parte indispensável da assistência  oferecida aos pacientes que realizam tratamento contra o câncer.

METODOLOGIA 

Relato de experiência de estágio referente ao 9º período do curso de Psicologia da  Faculdade São Lucas em Porto Velho – RO, acerca das práticas realizadas pelo estagiário, com  foco em Psico-oncologia no período de 07 de agosto a 24 de outubro de 2023. O estágio foi  realizado em um hospital de referência no tratamento de pacientes oncológicos do Estado de  Rondônia. Teve como preceptor o Psicólogo Renan Enes Ramalho e como supervisora clínica  a professora Joíza Maria de Oliveira Santana. 

O hospital, campo de estágio, atua na promoção da saúde por meio da prestação de  serviços médico-hospitalares especializados em oncologia. Com a vivência pude perceber que  este compromisso se realiza de forma humanizada e atende especialmente aos pacientes  vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, busca apoiar suas atividades por  meio de programas que visam à prevenção de doenças, à educação e a pesquisa no campo  oncológico, através de realização de palestras presenciais e online, ministradas pelos  colaboradores e que são destinadas ao público acadêmico e comunidade em geral e demais  atividades internas e externas. A entidade oferece uma variedade de serviços relacionados ao  tratamento do câncer, incluindo consultas médicas, radioterapia, quimioterapia, cirurgias  oncológicas e suporte psicossocial aos pacientes e suas famílias. Além disso, também está  envolvida em programas de prevenção e detecção precoce do câncer, visando educar a  comunidade sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. A instituição se mantém através de doações e parcerias com o setor público e privado, o que sustém um  tratamento de qualidade aos pacientes com câncer, reforçando sua tradição nesta área de  atuação. 

O hospital conta com diversas especialidades médicas para suporte a pacientes  oncológicos, dentre elas destacam-se: hematologia, neurologia, dermatologia, digestivo,  vascular, urologia, cabeça e pescoço, ginecologia, mastologia, ortopedia, oncologia e cuidados  paliativos. 

Participaram deste estágio dois estudantes do 9º período e um preceptor. Também  fizeram parte desta experiência os pacientes que estavam na internação e seus acompanhantes  e a equipe multidisciplinar, incluindo nutricionistas, enfermeiros(as), técnicos de enfermagem,  equipe da alimentação, médicos e auxiliares de serviços gerais. 

As atividades de campo se iniciaram no dia 7 de agosto de 2023 com uma reunião de  integração realizada no auditório do hospital. Se tratou de um treinamento com uma enfermeira  da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), com o propósito de ensinar os procedimentos corretos a serem praticados dentro do referido hospital. Na ocasião estavam os  estagiários de diversas instituições de ensino e de cursos distintos e todos aprendemos como  usar corretamente os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), a forma correta de entrarmos  nos quartos de isolamento e quais as categorias de risco de cada tipo de isolamento, como  colocar e armazenar, quando for o caso, as máscaras de proteção facial, uso de roupas  adequadas, lavagem e higienização das mãos, etc. 

No dia 11 foi realizado com o preceptor Renan uma visita ao hospital, mostrando todas  as alas e explicando todos os detalhes de cada setor, com isso nós conhecemos com mais clareza  o funcionamento da instituição desde quando o paciente entra na unidade. Nessa ocasião  também falamos sobre a documentação pessoal necessária para a realização deste estágio além  de orientações gerais. 

No terceiro dia de estágio, acompanhamos o preceptor no atendimento a dois pacientes, em seguida fomos orientados a como fazer a evolução desses pacientes, inicialmente escrita à  mão, sem inserir no sistema. Após o grupo fazer a discussão dos casos fizemos a evolução de  cada paciente conforme observado durante o atendimento. 

No dia 18 de agosto, quarto dia de estágio, iniciei meus atendimentos. Tudo transcorreu  bem e não tive nenhuma intercorrência. Pude perceber que os pacientes estavam todos cientes  de sua situação clínica, tanto em relação ao diagnóstico quanto ao prognóstico, fato que seria  percebido na grande maioria dos pacientes atendidos em todo o percurso do estágio. 

Os atendimentos realizados foram feitos por busca ativa ou por solicitação da equipe. A  busca ativa consiste numa estratégia que envolve a identificação antecipada de indivíduos em  risco, com vistas a detectar precocemente possíveis problemas de saúde mental e que porventura  venham interferir na atuação da equipe de saúde hospitalar. Verifica a realidade dos pacientes  diante do processo de hospitalização, seu enfrentamento da doença e sua adesão ao tratamento,  bem como o estado emocional, prestando acolhimento, orientações e identificando demandas  para atendimento (Oliveira, et al., 2021). Já a solicitação da equipe pode ser realizada de  diversas formas, desde um encaminhamento formal por meio de avaliação de risco psicológico  ou até mesmo através de uma conversa de corredor, na qual um membro da equipe demonstra  sua dificuldade em lidar com um paciente e/ou familiar (Kernkraut; Silva; Gibello, orgs. 2018,  p. 268). 

Esta prática de solicitação da equipe foi percebida bastante comum na  instituição. A comunicação da equipe multidisciplinar, a meu ver, ocorria com fluidez diversas vezes, tanto na psicologia como na medicina, enfermagem, fisioterapia e nutrição. Os profissionais se dirigiam pessoalmente a cada um, dentro de sua especialidade e solicitavam o  atendimento ao paciente, sempre explicando o ocorrido e o motivo pelo qual estavam fazendo  a solicitação, nunca sem uma breve discussão do caso. Eu mesmo tive esta experiência em  comunicar fatos à enfermagem e nutrição, solicitando intervenção destes imediatamente. É  válido também citar aqui que esta intervenção foi, em ambas as vezes, prontamente atendida. 

Todas as solicitações eram registradas na evolução no prontuário do paciente. Ficou nítida a interação entre as equipes durante toda a experiência no estágio. A  interconsulta como instrumento de trabalho fez parte da rotina laboral das pessoas que tive  contato. Esta prática se caracteriza por uma ação colaborativa entre profissionais de várias áreas  dentro do hospital. Pode acontecer através de uma simples discussão de casos por parte da  equipe ou até intervenções mais diretas, como consultas conjuntas e visitas domiciliares  conjuntas (Brasil, 2011). A interconsulta psicológica, em conjunto com outros profissionais,  desempenha importante papel na abordagem do paciente de maneira que leve em consideração  os aspectos biológicos, psicológicos e sociais do indivíduo, promovendo um atendimento  abrangente e de melhor qualidade ao doente (Carvalho; Lustosa, 2008). Tive a oportunidade de  contribuir, nesse sentido, com um atendimento onde o paciente estava resistente às sessões  fisioterápicas, solicitando a presença de um profissional psicólogo. Fiz, primeiramente, o  acolhimento ao paciente procurando entender a demanda, escutando-o atentamente e  posteriormente pude conduzi-lo à aceitação do tratamento, mostrando os benefícios da prática  da fisioterapia. Com o paciente seguro desta necessidade, conversei com o profissional,  acompanhado pelo meu preceptor, que foi ao leito e, num atendimento conjunto, pôde realizar  a mudança de decúbito do paciente, caracterizando o êxito ao atendimento psicológico. Na grande maioria dos atendimentos foram feitas anamnese psicológica, que envolve a  coleta de informações sobre a história de vida, saúde mental, comportamento e outras áreas  relevantes do paciente, principalmente relacionadas ao seu diagnóstico oncológico. Essas  informações são essenciais para auxiliar a equipe na condução do tratamento adequado.  Paralelamente foram realizadas entrevistas psicológicas, onde foi possibilitado obter mais  clareza quanto aos aspectos emocionais e outros que influenciam diretamente no tratamento do  paciente com câncer. Para o Conselho Federal de Psicologia (2019, p. 48): 

A entrevista psicológica é um recurso do método científico é uma técnica avaliativa que objetiva estabelecer um diagnóstico, colher dados importantes sobre o acontecido e compreender o paciente. Visa situar a(o) psicóloga(o) e, por conseguinte, a equipe, sobre aquele paciente e como poderá enfrentar ou não, suas dificuldades atuais (CFP, 2019, p. 48).

Durante os atendimentos também foram feitas psicoeducação, possibilitando aos  pacientes aprenderem sobre sua condição, entenderem os sintomas, identificarem estratégias de  enfrentamento e desenvolverem habilidades para lidar com desafios emocionais, através de uma  psicoterapia breve, atuando em questões específicas do paciente, ouvindo-o atentamente,  demonstrando empatia e fazendo perguntas de esclarecimento para demonstrar envolvimento e  compreensão ao que estava sendo comunicado. 

Como ferramenta técnica tive a oportunidade de utilizar a escala GAD-7, que é um  questionário de rastreio do “Transtorno da Ansiedade Generalizada”, concebido para ser  utilizado por profissionais de saúde, uma vez que todas as respostas devem ser verificadas,  garantindo que o respondente compreendeu todas as perguntas (Gonçalves, 2019). Junto a esta  utilizei também o questionário PHQ-9, instrumento que permite um rápido e adequado  rastreamento de sintomas depressivos em adultos. Ele é amplamente utilizado no mundo devido  a sua fácil aplicação e resultados fidedignos para identificação de sintomatologia depressiva  (Souza, et al. 2021). 

Esta vivência na psicologia hospitalar foi uma experiência inestimável, de grande  impacto em minha formação pessoal e acadêmica ampliando significativamente minha  compreensão sobre a prática do Psicólogo dentro de um hospital, principalmente por atuar com  a psico-oncologia. Tive a oportunidade de testemunhar em primeira mão a implicação do apoio  psicológico em pacientes que estão em tratamento oncológico. Através de debates com o  preceptor, aprendi a importância da empatia, de uma anamnese bem elaborada da escuta ativa.  Esses valores fundamentais da Psicologia foram reforçados a cada dia de trabalho, à medida  que eu via como o simples ato de ouvir e validar as emoções dos pacientes podia fazer uma  diferença notável em seu bem-estar emocional. 

Percebi a importância da psicoeducação, que é uma ferramenta poderosa para capacitar  os pacientes a compreenderem suas condições de saúde e a desempenharem um papel ativo em  seu próprio processo de recuperação. Ela não apenas informa, mas também fornece esperança  e recursos para enfrentar desafios de saúde mental, um conhecimento que levo comigo como  um ativo de grande valor na minha formação acadêmica e futura carreira. 

A instituição atende a uma população diversificada, o que me ensinou a abordar cada  paciente com respeito à sua história, contexto cultural, subjetividade e individualidade. Essa  valorização da diversidade não apenas aprimorou minha compreensão, mas também me fez um  terapeuta mais eficaz e inclusivo. Para além de aspectos clínicos, esta experiência envolveu a  colaboração com equipes multidisciplinares, incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeuta e nutricionistas, me ensinando a importância da comunicação eficaz e da colaboração  interprofissional, habilidades cruciais para o sucesso na prática da Psicologia em um ambiente  hospitalar. 

Em uma instância pessoal, essa experiência me transformou. Vivenciar a resiliência e a  coragem dos pacientes e suas famílias em face de desafios médicos relevantes me fez apreciar  a fragilidade e a preciosidade da vida. A empatia que desenvolvi ao longo do estágio não se  limita ao ambiente clínico, mas se estende à minha vida cotidiana, tornando-me uma pessoa  mais compassiva e compreensiva. Em resumo, esta experiência representou um marco em  minha jornada acadêmica e pessoal. Reforçando os meus valores pessoais já existentes, me  fortalecendo para desafios que certamente terei como psicólogo e/ou em qualquer área de  atuação na vida pessoal e profissional. 

A parte principal do trabalho deve apresentar a fundamentação teórica, a metodologia,  os resultados e a discussão. Nesta fase será relatado tudo o que foi realizado durante a experiência do projeto de extensão, com linguagem técnica apropriada, em um texto claro,  objetivo e coeso. É importante destacar o valor dessa experiência para formação pessoal e vida  acadêmica, apresentar valores e conhecimentos agregados ao longo da atividade relatada. 

RESULTADOS OBSERVADOS 

Do profissional 

Desta vivência no estágio posso destacar alguns resultados observados significativos,  impactando tanto a minha formação pessoal quanto a minha vida acadêmica. Estes resultados  destacam a relevância dessa experiência em vários aspectos, dentre eles está o aprimoramento  da compreensão da Psicologia Hospitalar, bem como da psico-oncologia, através da observação  direta das interações entre o psicólogo e os pacientes, e a participação nas discussões de caso e nas supervisões. Tudo isso contribuiu para minha melhor compreensão de como a psicologia  desempenha um papel crucial na melhoria do bem-estar emocional de pacientes em contextos  médicos desafiadores. Percebi que a psico-oncologia deve se mostrar mais sutil e indireta, e  deve levar em consideração o contexto do paciente, deixando que este diga o que pensa. Deve se trabalhar principalmente o momento presente e o ouvir é significativamente mais importante  do que o falar. 

Pude desenvolver habilidades clínicas, como a capacidade de utilizar a escuta ativa,  conduzir psicoeducação e validar as emoções dos pacientes. Essas habilidades são inestimáveis  para a formação acadêmica e futura carreira profissional de um psicólogo. A atuação também reforçou meus valores profissionais e mostrou a importância da colaboração interprofissional.  A interação com equipes multidisciplinares, como médicos e enfermeiros, demonstrou como a  comunicação eficaz e a colaboração são fundamentais para o tratamento holístico dos pacientes. 

Esses resultados observados, não apenas confirmam o valor intrínseco da minha  experiência no estágio, mas também, destacam a maneira pela qual essa vivência vem a moldar  minha formação pessoal e acadêmica, me preparando para um futuro promissor na prática da  ciência Psicológica. 

Dos pacientes 

Além dos impactos pessoais, pude observar resultados notáveis para os pacientes  atendidos. Esses resultados incluem a melhoria do bem-estar emocional, empoderamento,  fortalecimento da resiliência e a expressão das emoções. 

Um dos resultados mais evidentes foi a melhoria do bem-estar emocional dos pacientes.  Através dos atendimentos, alguns pacientes demonstraram redução na ansiedade e na angústia  que estavam. Os pacientes também adquiriram, segundo sua vontade, conhecimentos essenciais  sobre suas condições médicas, opções de tratamento e estratégias de enfrentamento, o que lhes  permitiu tomar decisões informadas e participar ativamente de seu próprio cuidado de saúde. 

Pude perceber, na maioria dos atendimentos, que o momento da conversa com um  profissional da psicologia traz alívio, traz oportunidade se ser ouvido, através de um olhar para  a pessoa e não somente para a doença eu vi que os pacientes se sentem acolhidos e respeitados,  se sentem compreendidos na sua singularidade. Ao receber, por algumas vezes, o  agradecimento pela visita, percebi nisso um retorno singelo de alguém que está em um  momento tão difícil e tem ali o que muitos não oferecem: atenção genuína. É como se  dissessem: “obrigado por estar aqui”, e isso faz diferença. 

Quando ouvi de uma paciente: “sente sua falta aqui ontem”, era segunda-feira, ela havia  sentido a minha falta no domingo. A sensação de falta pode ser vista como uma tentativa de  manter uma conexão emocional e buscar apoio, compreensão e alívio emocional, que ela  encontrou nas sessões anteriores. Certamente sentiu falta não da pessoa do psicólogo, mas na  relação transferencial, pode ter sentido que lhe faltou atenção, ouvido empático, validação e  reconhecimento do seu sofrimento.

Apontamento de caso 

A atuação em psico-oncologia é particularmente desafiadora. A constante exposição a  questões relacionadas à finitude da vida, bem como a necessidade de manter uma comunicação  sensível, embasada na empatia e respeito para com os pacientes, pode suscitar um sofrimento  emocional que demanda um nível de autocuidado provavelmente não antecipado pelo  profissional de psicologia. As questões relacionadas à nossa finitude são potencializadas e se  tornam complexas quando confrontadas com esta realidade no outro, pois nos coloca diante da  própria incerteza quanto ao porvir, inerente à inquestionável certeza de nossa vulnerabilidade  enquanto seres humanos. É um confronto profundo, tocando-nos na alma, desafiando-nos a  lidar com uma realidade que excede os limites da compreensão, e requer que olhemos para o  futuro com olhar cauteloso, pela certeza da efemeridade da matéria carnal. 

Durante a minha experiência de estágio, fui tocado pessoalmente por alguns casos.  Destes, quero destacar um, resguardando-me ao máximo na transcrição dos dados para  preservar a identidade do paciente e seus familiares. 

O atendimento é característico de um paciente silencioso. De acordo com Simonetti  (2016): 

O silêncio é poderoso; ele é como um vácuo, puxa as palavras, pede para ser preenchido, e no caso da Psicologia hospitalar deve ser preenchido, idealmente, pela  fala do paciente. Eventualmente pode ser preenchido pela fala do psicólogo, mas isso como estratégia para restabelecer o discurso do paciente, e não como um fim em si mesmo (Simonetti, 2016, p. 117). 

A citação faz jus à realidade, contudo, ocorre que alguns pacientes são silenciosos, não  o terapeuta. Ainda citando Simonetti (2016), o paciente que não fala é falado. O silêncio pode  ocorrer por uma condição física ou um mutismo voluntário, este segundo caso deve ser  observado como sintoma, em termos de saúde mental. O psicólogo poderá avaliar – através de  uma intervenção cuidadosa, constantemente reavaliada e que funcione como um convite e não  como intervenção – se trata-se de alguma rebeldia, sinal de depressão ou distúrbio psicótico. 

A paciente que eu atendi tratava o câncer há anos e sua situação clínica se agravou por  conta de complicações em uma das cirurgias. Tal complicação tornava-a altamente elegível à  amputação de um dos membros inferiores. Tive conhecimento de que a notícia, parcial, lhe  havia sido dada naquele dia. Digo “parcial” porque a informação passada para a paciente era  apenas de que havia a necessidade de uma revisão cirúrgica, fato que a deixou hipotímica e  ansiosa. 

Ao entrar no quarto, era perceptível que ela não estava disposta a conversar. Ao ser  perguntada sobre como estava se sentindo, limitava-se a dizer: “bem” (SIC). Quando perguntava algo sobre sua família ela dizia: “tá bem, a família tá bem” (SIC). Assim, as  perguntas sobre sua alimentação, sono, necessidades fisiológicas e outras, eram todas  respondidas com as mesmas palavras: “bem, está tudo bem” (SIC)

Era evidente que algo não estava bem. A pessoa que a acompanhava se mantinha num  silêncio igualmente incômodo e constrangedor, com o adicional de uma movimentação em  torno de si mesma e olhares retorcidos para os lados, como quem dizia: quero falar. Alguns  minutos após finalizar o atendimento, fui abordado por ela, a acompanhante, no corredor do  hospital, que falou detalhes da passagem do médico naquele dia, onde ele havia dito sobre a  necessidade de revisão da cirurgia e demais informações. 

Persistindo essa condição monossilábica da paciente, o preceptor propôs a aplicação da  escala GAD-7 e do questionário PHQ-9, que revelaram um nível considerável de ansiedade e preocupações diversas, que resultam em dificuldade para relaxar, pegar no sono ou  permanecer dormindo, e falta de apetite. 

A solicitação de atendimento psicológico no hospital pode ser realizada pelo paciente,  por um integrante da equipe multidisciplinar ou por um familiar/acompanhante. Se o paciente  concorda com o pedido o atendimento fluiu sem problemas, mas caso contrário, o psicólogo  estará diante de um desafio: atender alguém que não pediu (Simonetti, 2016). Após este  atendimento pude perceber que a abordagem poderia ter sido conduzida de forma diferente,  entendendo melhor a demanda da paciente, concedendo-lhe não o espaço de fala, mas o espaço  para não falar. 

Ao discutir o caso em supervisão, fui sabiamente alertado pela professora para que me  atentasse ao fato de perceber se não estava sendo invasivo, uma vez que a paciente detinha um  histórico de profundo sofrimento com o tratamento em todos esses anos, e que isso já  demandará muito de sua capacidade emocional. Então, abriu-me os olhos para perceber se a paciente estava receptiva ao atendimento, talvez sendo propício naquele momento, apenas  respeitar o seu espaço, tão minado e invadido. 

Valemo-nos da citação de Simonetti (2016, p. 136) que diz: 

Também é uma boa estratégia aceitar a recusa do paciente, ficar pouco tempo com ele  e dizer que voltará outro dia. Além de demonstrar respeito pelo desejo do paciente mantém aberta a possibilidade do tratamento. 

Às vezes, a terapia vai além das palavras. Esse atendimento me ensinou que o silêncio  também é uma forma de comunicação, uma linguagem com significados diversos, que deve ser  entendida e respeitada. Aprendi que, como psicólogo, é importante reconhecer quando o silêncio fala mais alto que as palavras e que a simples presença e a disponibilidade genuína  podem ser tão terapêuticos quanto qualquer conversa. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Em conclusão, essa experiência incalculável é uma parte de minha história que está  sendo escrita com muita emoção. Os resultados observados, tanto do ponto de vista pessoal  quanto dos pacientes, ressaltam o papel crucial da Psicologia Hospitalar na promoção do bem estar emocional e na qualidade de vida dos pacientes oncológicos. Aprendi que o suporte  emocional é tão vital quanto o tratamento médico e que a atenção genuína e o cuidado  compassivo são elementos essenciais na jornada de cura. A forma colaborativa da equipe de  saúde é destaque, maiormente no tocante ao respeito com os colegas e o trato com os pacientes.  A prática do estágio moldou minha formação e meu entendimento sobre a Psicologia,  preparando-me para uma futura carreira dedicada a oferecer suporte emocional e compreensão  aos que mais necessitam.

REFERÊNCIAS 

BATISTA, Alyne Lopes Braghetto; Maiara Mattosinho Soares Zukauskas; Marcus Vinícius  Rezende Fagundes Netto; Marita Iglesias Aquino. Atuação com pacientes oncológicos. In:  KERNKRAUT, Ana Merzel; SILVA, Ana Lúcia Martins da; GIBELLO, Juliana. (Orgs.). O  Psicólogo no hospital: da prática assistencial à gestão de serviços. 1ª ed. digital. São Paulo:  Editora Edgard Blucher, 2018. 

BRASIL. Ministério da Saúde. Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva. Guia prático  de matriciamento em saúde mental. Brasília, 2011. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf>.  Acessado em: 07 de nov. de 2023. 

CARVALHO, Marcele Regine de; LUSTOSA, Maria Alice. Interconsulta Psicológica.  Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 08582008000100004#:~:text=A%20interconsulta%20consiste%20na%20presen%C3%A7a,a o%20atendimento%20de%20um%20paciente.>. Acessado em: 07 de nov. de 2023. 

CARVALHO, Vicente Augusto de et al. (Organizadores). Temas em Psico-oncologia. São  Paulo: Summus, 2008. 

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências Técnicas para atuação de  psicólogas(os) nos serviços hospitalares do SUS. Disponível em: <https://site.cfp.org.br/wp content/uploads/2019/11/ServHosp_web1.pdf>. Acessado em: 22 de out. de 2023. 

CRP-PR. Psicologia Hospitalar: considerações sobre assistência, ensino, pesquisa e gestão.  Disponível em: <https://crppr.org.br/wpcontent/uploads/2019/05/AF_CRP_Caderno_Hospitalar_pdf.pdf>. Acessado em: 16 de out.  de 2023. 

GONÇALVES, Márcia. Ansiedade em crianças e adolescentes – validação da escala GAD-7.  Disponível em: <https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/89592#:~:text=Abstract%3A,respondente%20compreendeu%20todas%20as%20perguntas.>. Acessado em: 22 de out. de 2023. 

OLIVEIRA, Cibely Kettely Sousa de; FREIRE, Cindy Lara Lima; MAIA, Anice Holanda  Nunes. A BUSCA ATIVA COMO ESTRATÉGIA DE ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NO  CONTEXTO HOSPITALAR. Encontro de Extensão, Docência e Iniciação Científica  (EEDIC), [S.l.], v. 8, dec. 2021. ISSN 2446-6042. Disponível em: <http://publicacoesacademicas.unicatolicaquixada.edu.br/index.php/eedic/article/view/4946>.  Acesso em: 22 Oct. 2023. 

SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. 8ª ed. São Paulo:  Casa do psicólogo, 2016. 

SOUZA, Rodrigo de. Et al. Rastreamento de sintomas de depressão em policiais penais:  Estudo de validação do PHQ-9. Disponível em: <https://www.revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/view/980/705#:~:text=Question%C3%A1rio%20sobre%20a%20Sa%C3%BAde%20do,et%20al.%2C%202009).> .  Acessado em: 22 de out. de 2023.