ASPERGILOSE INVASIVA COM COMPROMETIMENTO DE PAREDE TORÁCICA EM IMUNOCOMPETENTE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10231087


Beatriz Alves Ferreira Junqueira;
Wilson Cunha Junior;
Carlos Luis Botto Rosa.


RESUMO:

Aspergilose pulmonar é uma comorbidade associada à imunossupressão, frequentemente acometendo pacientes portadores de graves comorbidades sistêmica com debilidade imunológica das mais diferentes etiologias. Este trabalho tem como objetivo relatar a história clínica de um paciente diagnosticado com aspergilose pulmonar invasiva com invasão de parede torácica previamente hígido e sem grave comprometimento imunológico.

Descritores: Asperilose pulmonar invasiva; imunocompetente

1. INTRODUÇÃO:

As espécies de Aspergillus estão frequentemente presentes nos mais diversos ambientes, normalmente quando em contato com humanos é capaz de causar apenas colonização através da inalação das hifas, principalmente Aspergillus fumigatus, que é a espécie mais frequentemente relacionada às infecções pulmonares fúngicas.  Porém, quando em contato com indivíduos com algum grau de imunocomprometimento pode levar desde à hipersensibilidade até gravíssimas infecções invasivas com altas taxas de morbidade e mortalidade. Apesar da aspergilose ser a mais frequente micose pulmonar, a infecção e o grave acometimento pela doença em indivíduos imunocompetentes é incomum.

A aspergilose é uma infecção fúngica que acomete principalmente os pulmões causando aspergilose pulmonar. Dentre as formas mais graves encontram-se as aspergiloses invasivas, as quais podem ser angioinvasivas ou broncoinvasivas. Clinicamente são formas muito semelhantes da mesma doeça, mudando o sítio de localização e disseminação do fungo em questão. A gravidade do quadro está relacionada, normalmente, ao grau de imunossupressão do hospedeiro. Tais formas de maior gravidade acometem principalmente portadores de neutropenia, seja de causa hemato/oncológica, transplantados ou portadores do vírus HIV.

O diagnóstico é realizado levando em consideração, além do quadro clínico, coleta de material para identificação do patógeno. Pode-se realizar observação direta, como foi realizado neste caso, mas também cultura, PCR (reação em cadeia de polimerase) com identificação do material genético ou sorologia, identificando anticorpos. Além disso, podem ser observados achados radiológicos, principalmente quando se trata de aspergilose invasiva.

Por se tratar de uma grave infecção com alto risco de evolução para um desfecho desfavorável é necessário que prontamente seja iniciado por via endovenosa antifúngicos específicos. Muitas vezes faz-se necessário o início do tratamento antes da conformação diagnóstica, realizando assim tratamento empírico. Tal tratamento é realizado com anfotericina bem suas formas ou itraconazol. Em casos de resistência é recomendado voriconazol.

2. JUSTIFICATIVA:

Aspergillus é um microorganismo comumente encontrado nos mais diversos ambientes, porém está mais relacionado à colonização. A infecção está relacionada à competência imunológica do indivíduo acometido. Desta forma, aspergilose invasiva é uma patologia incomum em pacientes imunocompetentes ou com a imunidade pouco comprometida.

3. OBJETIVOS

Objetivo Geral: Descrever caso clínico incomum atendido na Santa Casa de Franca

Objetivos Específicos: Revisar o prontuário do caso, estudar ás imagens usadas para a realização do diagnóstico, revisar a literatura existente.

4. METODOLOGIA

Estudo retrospectivo realizado através da revisão do prontuário do sujeito da pesquisa e revisão bibliográfica da literatura já existente.

5. RELATO DE CASO:

Masculino, 55 anos. Portador de diabetes melitus tipo 2, cirrose hepática de etiologia alcoólica e portador de forame oval patente.

Foi encaminhado à Santa Casa de Franca em novembro de 2022 apresentando quadro de ciatalgia incapacitante a qual evoluiu com queda do estado geral e fraqueza generalizada. Na admissão apresentava também abscesso em calcâneo direito e foi internado para tratamento clínico e investigação do quadro. Durante internação evoluiu com infecção do trato urinário, tratado sem intercorrências. Em urocultura não houve crescimento, apesar da sintomatologia sugestiva de infecção do trato urinário associada a exame de urina tipo I também sugestiva.

Apresentou, também durante a internação, abaulamento em região latero-posterior de hemitórax direito, o qual ao exame apresentava-se flácido, compressível, indolor e sem sinais flogísticos associados. Foi realizada tomografia computadorizada de tórax para investigação do quadro evidenciado invasão de parede torácica pela lesão pulmonar. Também foram observadas áreas com presença de árvore em brotamento (descrição dos demais achado). Concomitantemente evoluiu com piora clínica e foi aventada a possibilidade de pneumonia nosocomial, prontamente medicado, porém sem resposta adequada ao tratamento. Foram realizadas culturas e investigação de tuberculose pulmonar sem confirmação diagnóstica. Realizada então broncoscopia e coleta de material para análise. A broncoscopia não evidenciou quaisquer alterações compatíveis com a piora clínica. Realizada então coleta de material, o qual foi enviado para análise. Em exame anatomopatológico havia fragmentos de mucosa brônquica com inflamação exsudativa associado a grupamento fúngico de hifas anguladas, evidenciando aspergilose pulmonar. Então foi medicado com anfotericina B conforme necessidade de tratamento antifúngico adequado. Porém, apesar da medicação, apresentou piora progressiva do quadro respiratório, evoluindo com insuficiência respiratória, choque séptico e posteriormente óbito antes do término do tratamento.

Durante a internação foram investigadas possíveis causas neoplásicas, reumatológicas, e infectocontagiosas, além de outras possíveis comorbidades as quais pudessem ser justificativas para tamanho comprometimento imunológico, porém sem confirmação diagnóstica, apresentado todos os resultados negativos.

6. DISCUSSÃO:

A aspergilose pulmonar invasiva é uma forma de aspergilose pulmonar extremamente grave com alta taxa de mortalidade que mesmo diante do tratamento adequado possui grande chance de evolução para desfechos sombrios. Normalmente está associada à grave comprometimento imunológico, seja este causado por doença sistêmica neoplásica, infectocontagiosa, reumatológica ou por avanço e complicações de doenças crônicas. Nos casos de aspergilose invasiva observa-se que grande parte dos pacientes apresentam grave neutropenia causados por doenças onco-hematológicas, neoplásicas e infecção pelo HIV.

Este trabalho traz à luz um caso clínico no qual o paciente em questão sem apresentar imunossupressão grave prévia ou diagnosticada durante internação interna para tratamento de causas adjacentes, evolui desfavoravelmente e durante investigação do quadro clínico para diagnóstico de outras patologias mais prováveis e é identificada a presença de Aspergillus em fragmento de mucosa brônquica. Desta forma realizado o diagnóstico de aspergilose invasiva com acometimento de parede torácica.

Apesar do tratamento preconizado prontamente instituído houve um desfecho desfavorável. O paciente evolui com piora clínica progressiva até que apresenta insuficiência respiratória e posteriormente vem a óbito. Desta forma chama atenção o fato do paciente não apresentar grave debilidade imunológica e tal comorbidade ser observada em pacientes cuja imunidade encontra-se comprometidas seja por quaisquer causas, comumente com neutropenia.

O paciente apresentava diagnóstico prévio de cirrose hepática de etiologia alcoólica e diabetes melitus tipo 2, comorbidades que sabidamente afetam a imunidade. No entanto não são capazes de causar tamanho comprometimento sistêmico. Chama atenção o fato do diagnóstico incomum na vigência de investigação de outras comorbidades mais prováveis e afastadas as causas de imunossupressão.

7. CONCLUSÃO:

A aspergilose pulmonar angioinvasiva, apesar de acometer majoritariamente indivíduos imunocomprometidos, pode causas danos irreversíveis à saúde e até mesmo óbito daqueles indivíduos sem tal diagnóstico e comprometimento.

Desta forma, deve-se sempre atentar-se não somente para os diagnósticos mais prováveis de cada caso, mas também àqueles diagnósticos diferenciais nos quais os hospedeiros e os agentes causadores das patologias não são os mais frequentemente observados, trazendo assim, à luz a necessidade de discussão e investigação das doenças pulmonares fúngicas de maneira geral.

8. REFERÊNCIAS

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