A IMPORTANCIA DO FOTOPROTETOR NA PREVENÇÃO DO ENVELHECIMENTO CUTÂNEO: UMA REVISÃO DA LITERATURA

THE IMPORTANCE OF PHOTOPROTECTOR IN PREVENTING SKIN AGING: a review of the literature

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10228883


Vitor Eleutério dos Santos 1
Elizabeth de Paula Carvalho 2
Valéria Ferreira3

Resumo

A indícios históricos de substâncias naturais extraídos de plantas para se obter proteção aos efeitos danosos do sol. Contudo apenas a partir da década de 2000 embasados por pesquisas e pela Food and Drug Administration (FDA) que se tornou oficial o uso de fotoprotetores para a proteção contra os raios ultravioletas. A radiação ultravioleta é uma energia emitida pelo sol e é classificada em UVA, UVB e UVC. A pele é dividida em três camadas, a epiderme, derme e hipoderme que mantem a integridade e vitalidade do tecido. As células da pele quando sofrem incidências prolongadas pelos raios UV podem apresentar alterações em seu material genético, gerando radicais livres que alteram o funcionamento normal das células e causa o envelhecimento cutâneo. Os protetores solares, são divididos em orgânicos e inorgânicos e impede que os fótons UV interajam com as células e causem malefícios, o FPS e o PPD são quem garantem a eficácia do filtro solar, e é necessário que se faça o uso adequado para cada fototipo cutâneo. Assim, conclui-se que os protetores solares são a melhor medida preventiva contra a emissão dos raios ultravioleta na pele, pois este estabelece uma camada sobre a mesma que pode refletir ou absorver os fótons UV.

Palavras chave: Protetor solar. Envelhecimento da pele. Raios ultravioleta.

Abstract: Historical evidence of natural substances extracted from plants to provide protection from the harmful effects of the sun. However, it was only in the 2000s, based on research and the Food and Drug Administration (FDA), that the use of photoprotectors for protection against ultraviolet rays became official. Ultraviolet radiation is energy emitted by the sun and is classified into UVA, UVB and UVC. The skin is divided into three layers, the epidermis, dermis and hypodermis, which maintain the integrity and vitality of the tissue. When skin cells suffer prolonged exposure to UV rays, they can present changes in their genetic material, generating free radicals that alter the normal functioning of cells and cause skin aging. Sunscreens are divided into organic and inorganic and prevent UV photons from interacting with cells and causing harm. FPS and PPD are what guarantee the effectiveness of the sunscreen, and it is necessary to use it appropriately for each phototype. cutaneous. Therefore, it can be concluded that sunscreens are the best preventive measure against the emission of ultraviolet rays on the skin, as it establishes a layer on the skin that can reflect or absorb UV photons.

Keywords: Sunscreen. Skin aging. Ultraviolet rays.

1. Introdução

Historicamente, o uso de substâncias para proteger a pele contra os raios solares, data-se por 7800 a.C. no Egito Antigo, onde usava-se mamona, extrato de magnólia e jasmim, além do uso de óleo de amêndoas, para hidratação e proteção da pele e cabelo. Também, há indícios da Grécia Antiga, onde os gladiadores que por praticarem modalidades com exposições prolongadas ao sol nas arenas, utilizavam de óleo de oliva e areia sobre a pele para sua proteção. (SILVA at al, 2014)

Contudo, em 1944 que se é obtido o primeiro indicio de um protetor solar eficaz quanto a sua ação protetora. O farmacêutico Benjamin Greene analisava as feridas provenientes de queimaduras dos soldados que retornavam da Segunda Guerra Mundial. Por meio dessas análises foi possível desenvolver um composto a base de petróleo, que detinha uma característica avermelhada e viscosa, nomeada de red vet pet (petrolato veterinário vermelho). (DRISSI, CARR, HOUSEWRIGHT, 2021)

Em 2008, por meio da Food and Drug Administration (FDA), oficializou o protetor solar como um mecanismo eficaz para proteção contra o câncer, queimadura de pele, e combate ao envelhecimento precoce. E apenas a partir da década de 2000, que os protetores solares adquiriram a composição usual e comercial utilizada atualmente, e foi instaurado o Fator de Proteção Solar (FPS), para proteção dos diferentes raios ultravioleta. (SILVA at al, 2014)

A incidência da radiação ultravioleta ocorre devido ao sol ser um astro que constantemente em seu núcleo funde átomos de hidrogênio (H) e hélio (He), que interagem com os átomos e nêutrons das demais camadas solares, assim liberando energia em forma de radiação, sendo elas radiação gama, X, ultravioleta, luz visível, infravermelho, micro-ondas, e ondas de rádio, de acordo com o espectro eletromagnético. (GALLAGHER at al, 2014)

Tendo em vista que a radiação de importância clinica é a ultravioleta, pois ela pode atingir a superfície terrestre e interagir tanto com o material genético quanto com as células do tecido tegumentar, causando assim malefícios ao indivíduo. Os raios ultravioletas são divididos em três, entre eles estão UVC, UVB e UVA, sendo o último subdividido em UVA-I e UVA-II. Apresentam tal divisão devido aos diferentes comprimentos de onda e frequência energética que elas transmitem, fator que determina em qual camada da pele ela irá atingir e quais alterações ela pode causar. (BAILLO, LIMA, 2012)

A pele é dívida em três camadas, entre elas dispõe-se a epiderme, derme e hipoderme, além da camada basal. A epiderme é a camada mais superficial, sendo muito queratinizada e pouco vascularizada, nela se encontram células de Langerhans, células de Merkel e os queratinócitos que estabelecem, respectivamente, a imunidade, o tato leve por mecanorreceptores e a produção de queratina. A lâmina basal ou camada basal é constituída de glicoproteínas que separa a derme da epiderme e tem como função a nutrição e manutenção das células da epiderme. (CIOL at al, 2019)

A derme é a camada intermediária, responsável por dar elasticidade e tonalidade a pele devido a presença das fibras de colágeno, gel coloidal e elastina, é bem vascularizada e com terminações nervosas, nela contém os folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas. A hipoderme sendo a camada mais interna é composta pelo tecido adiposo e tecido conjuntivo desempenhando tarefa de regulação térmica, proteção dos órgãos internos e armazenamento energético. (JUNIOR, 2020)

Devido a poluição da camada de ozônio que vem aumentando gradativamente nas últimas décadas, a emissão da radiação solar torna-se cada vez mais preocupante para a humanidade, pois a mesma é responsável pela absorção dos raios ultravioletas, impedindo-o de atingirem a superfície terrestre, e consequentemente a pele humana. Por sua vez, os estudos a respeito dos fotoprotetores se tornou peça chave para o combate aos males que a radiação solar excessiva causa a pele. (SILVA at al, 2014)

Dessa forma, o estudo em questão busca levantar dados a respeito do uso do protetor solar para a saúde da pele, frisando sua importância contra o precoce envelhecimento cutâneo causado pelos raios solares. Reunindo, assim, informação para todas as pessoas que desejam entender como este mecanismo protege a pele e para todos os pesquisadores que buscam informação a respeito do tema na literatura.

2.  Metodologia

O presente estudo dispõe-se de uma revisão da literatura, sistemática, qualitativa, realizado durante os meses de agosto a novembro de 2023, diante das plataformas SciELO, PubMEd e Google acadêmico. Os descritores utilizados, validados pelo DeC’s, seguiram-se por: protetor solar, envelhecimento da pele e raios ultravioleta. Os critérios de inclusão foram artigos publicados nos últimos 25 anos em português e inglês, que abordassem o tema com concisa explicação, de maneira objetiva e clara. Aos que não atendiam aos presentes critérios não foram selecionados.

Diante da pesquisa pelos descritores nas bases de dados eletrônicos SciELO, PubMED e Google acadêmico geraram 200 respostas de acordo, destes, a partir da leitura e análise dos resumos foram incluídos 30 artigos para síntese, constados no referencial teórico. Após a leitura dos artigos selecionados, seguindo os critérios de inclusão e exclusão inicia-se a análise qualitativa dos resultados para elucidar a respeito do uso do protetor solar, e seu vetor na proteção cutânea e saúde da pele.  A pergunta norteadora foi: como o protetor solar pode corroborar com a proteção da pele e como o mesmo ajuda na prevenção do fotoenvelhecimento?

3. Referencial teórico

Nº do estudoTítuloAutor / ano Nº do estudoTítulo/ Autor / anoAutor / ano
1Riscos à Saúde da Radiação UltravioletaPatrícia Preto Junchen et al. /199816Labelling and effectiveness testing; sunscreen drug products for over-the-counter human useFood and Drug Adiministration /2012
2  O fim das rugas: um método natural e definitivo para evitar o envelhecimento da peleNicholas Perrichone. /200117An ultravioler-radiation-independent pathway to melanoma carcinogenesis in the red hair/fair skin backgroundDevarati Mitra et al. /2012
3Chermical Analysis of Melanins and its Application to the Study of Regulation of MelanogenesisShosuke Ito, Kazumasa Wakamatsu e Hiroyuki Ozeki. /200318UV Radiation and the skin. International Journal og Molecular SciencesJohn D’Ozzario at al. /2013
4Desenvolvimento e validação da metodologia de análise do teor de filtros solares e determinação do FPS in vitro em formulações fotoprotetoras comerciais.Renata Pietsch Ribeiro. /200419Envelhecimento CutâneoSandra Fagnan at al. /2013
5. The physical and Chemical Properties of eumelanin. Pigment Cell ResearchPaul Meredith e Tadeusz Sarna. /200620A Luz e os Filtros Solares: Uma Temática SociocientíficaRoberta R. da Silva at al. /2014
6Dermatologia de Fitzpatrick: Atlas e Texto: Fotossensibilidade, Disturbios Fotoinduzidos e Distúrbios Decorrentes da Radiação IonizanteKlaus Wolff, Richard Allen Johnson e Dick Suurmound. /200621Application of sunscreen. Photodermatol Photoimmunol PhotomedBibi Petersen e Hans Christian Wulf. /2014
7Protetores solaresJuliana Flor, Marian Rosaly Davolos e Marcos Antônio Corrêa /200722Associação dos filtros solares com antioxidantes na prevenção do envelhecimento cutâneoJenifer Adriane Ortulan Ribeiro at al. /2015
8Rationale for sunscreen developmentSerge Forretier. /200823Fotoproteção no Brasil: Recomendações da Sociedade Brasileira de DermatologiaConsenso brasileiro de fotoproteção. /2016
9Protetores Solares e os Efeitos da Radiação UltravioletaT. S. Araujo e S. O. Souza /200824Nanotecnologia aplicada a fotoproteção. Revista Brasileira de FarmáciaVanessa Priscila Braillo e Andrea Cristina de Lima. /2012
10Advances in photoprotectionElma D. Baron, Eugene B Kirkland /2008 25Câncer de pele: conhecendo e prevenindo a populaçãoSimara Silva Bonfim at al. /2018
11Gestão do envelhecimento da pele: como combinar procedimentos cosméticos.Brigitte Dreno, at al. /2008. 26Anatomia e funções da peleHeloisa Ciol e Cynthia Aparecida de Castro. /2019
12Ultraviolet Radiation.Richard Gallagher at al. /2010 27Quantification of ultraviolet (UV) radiation in the shade and in direct sunlightSuzana Bosanac-Saric et al. /2019
13Os efeitos da exposição à radiação ultravioleta ambientalGabriela Dia da Silva, Melina Mayumi Ogawa e Priscila Castro de Souza. /2011 28Ageing Research: rethinking primary prevention of skin câncerChristian Posch. /2021
14Sun protection factor: meaning and controversiesSergio Schalka e Vitor Manoel Silva dos Reis. /2011 29Sunscreen: a brief Walk through historyMadeeha Drissi at al. /2021
15Resolução RDC 30/2012Anvisa /2012 30Food na Drug Administration Department of Health and Human ServicesCode of Federal Regulations. /2023

4. Resultados e discussão

4.1. Radiação ultravioleta


Araujo e Souza (2008) disserta que as radiações solares são as principais causadoras de alterações celulares da pele.O fator que classifica essas energias é o comprimento de onda, uma escala que averigua o padrão de onda emitida de acordo com o espectro eletromagnético evidenciado na figura 1, outro vetor das radiações é sua carga energética que é compreendia por ser inversamente proporcional ao comprimento de onda, dessa forma quanto maior o comprimento de onda menor a sua carga energética

Figura 1: espectro eletromagnético, a escala do comprimento da onda, frequência, e a temperatura para com os objetos interagidos de cada tipo de radiação.

Fonte:  Adaptado de Física 2 – Eletricidade e magnetismo, Jaime Villate.

Complementando ao estudo de Araujo e Souza, Ribeiro argumenta dizendo que devido ao baixo comprimento de onda que a radiação ultravioleta apresenta, ela pode causar alterações nas células da pele comprometendo sua integridade e vitalidade. E as diferentes alterações que podem ocorrer se dá ao tipo de radiação UV que a pele está sendo exposta, que como citado anteriormente são três a UVA, UVB e UVC.

Gallagher at al (2014) diz que a radiação UVA apresenta um comprimento que varia entre 315 a 400 nanômetros, que à caracteriza por atingir camadas mais profundas na pele, como a derme, e esta apresenta uma menor carga energética que a UVC e UVB, assim sendo menos eritematógena. Na pele, ela interage com as células gerando radicais livres oxidativos, que provoca o envelhecimento precoce, formação de rugas, perdendo elasticidade e firmeza. Também, essa radiação pode contribuir para o surgimento de câncer não-melanoma.

Araujo e Souza (2008) acresce descrevendo que a emissão UVB tem em torno de 280 a 320 nanômetros, porém com uma carga energética mais elevada, que à atribuem penetrar camadas menos profundas da pele, limitando-se a epiderme, mas causando alterações mais severas. A mesma causa danos agudos e crônicos, como a descamação, vermelhidão, queimaduras, bolhas, manchas, e nos casos mais severos o desenvolvimento de câncer melanoma.

Dentre os tipos de energias UV, a UVC é a única que é absorvida totalmente pela camada de ozônio (O3) e oxigênio (O2). Ela apresenta características de menor comprimento de onda, variando entre 100 a 280 nanômetros, e com maior carga energética, o que caso atingisse a superfície cutânea, poderia causar alterações mutagênicas e carcinogênicas, devido ao alto poder lesivo que esta causa ao material genético das células. (D’ORAZIO at all, 2013).

De acordo com Silva, Ogawa e Souza (2017) a pele humana no cotidiano é atingida diariamente pela emissão das radiações na superfície terrestre, dependendo da região em que se habita a exposição pode ser mais ou menos intensa, assim torna-se importante o uso dos protetores solares, pois o mesmo é dotado de fatores que filtram essas energias tornando-as não lesivas as células cutâneas.

  • Pele, envelhecimento cutâneo e sua saúde

 A pele tem um mecanismo de defesa natural para a proteção dos raios UV, a melanina, uma enzima produzida pelas células dos melanócitos que são estimuladas pela incidência solar. Ela é proveniente da ciclização e oxidação do aminoácido tirosina que se bioagrega nas células queratinizadas presentes na camada córnea. (MEREDITH & SARNA, 2006)

 Segundo Ito, Wakamatsu & Ozeki (2000) a melanina é dividida em eumelanina e feomelanina que se diferenciam pela sua formulação química, onde a feomelanina é incorporado por cisteinas em precursores de melanina resultando em um sulfato de cor mais clara, que consequentemente é menos eficaz na proteção da radiação ultravioleta. De outro modo a melanina é um pigmento mais escuro com maior presença em pessoas de pele preta ou parda, dessa forma ela é mais eficaz na proteção contra os fótons ultravioleta que incidem na pele.

Corroborando a pesquisa de Ito at al, Mitra at al (2012), argumenta que a pessoas que geralmente são mais sensíveis aos raios solares tem pouca predominância de eumelanina no tecido cutâneo do que pessoas que tem a pele mais escura. Contudo, ambas as peles apresentam as enzimas, e o que determina a melhor proteção é a quantidade de eumelanina presente no meio, logo quanto mais clara for a pele, mais danos podem ocorrer ao tecido pelos raios ultravioleta.

 Fitzpatrick (2006) propõem uma tabela semiquantitativa que dispõe os seis fototipos de pele. Também constando o grau de sensibilidade aos raios solares e o fator FPS indicado para a proteção. Como é possível visualizar na tabela 1.

Tabela 1: Classificação dos tipos de pele por Fitzpatrick e a relação com o fator de proteção solar (FPS) indicado 

Tipo de peleColoraçãoReposta a exposição solarFPS indicado
IBranco-pálido Cabelo e olhos claros Sardas Tom de pele muito claroNão bronzeia e queima com facilidade50>
IIBranco Cabelo e olhos claros Sardas Tom de pele claroBronzeia com dificuldade Queima com facilidade  50
IIICaucasiano Asiático claro Tom de pele claro a médioBronzeia após a primeira queimadura solar30 – 50
IVPardo Tom de pele médioBronzeia com facilidade Queima raramente15 – 30
VNegro de pele clara Tom de pele escuroBronzeia com facilidade Muito raramente queima  6 -15
VINegro Tom de pele muito escuroNunca queima Pigmentação aumentada6

Fonte: WOLFF, JOHNSON, SUURMOND (2006); DRENO at al (2008) (adaptado)

Na pesquisa de Fagnan at al (2003) diz que o envelhecimento cutâneo é delimitado por uma série de fatores intrínsecos (relacionados ao metabolismo interno do indivíduo) e extrínsecos (vetores externos ao corpo que agridem ou danificam a pele). Os fatores intrínsecos podem ser alterações hormonais, a diminuição dos telômeros, envelhecimento do sistema nervoso, radicais livres, hereditariedade entre outros. E os extrínsecos, o uso de álcool, tabagismo, exposição a agentes químicos e principalmente a exposição aos raios solares. Na tabela 2 é possível visualizar a classificação do fotoenvelhecimento segundo Glogau.

Tabela 2: classificação do fotoenvelhecimento cutâneo segundo Glogau

TipoIdade (anos)Sinais clínicos
I- Envelhecimento precoceAntes dos 35Problemas de pigmentação Rugas superficiais Ausência de queratose
II- Envelhecimento ligeiro a moderadoPor volta dos 40Manchas solares Linhas de expressão
III- Envelhecimento MarcadoPor volta dos 50Discromia marcada Rugas de descanso Fotoenvelhecimento avançado
IV- Envelhecimento muito marcadoAcima dos 60Rugas marcadas Fotoenvelhecimento intenso Espessura da derme reduzida

Fonte: DRENO at al (2008) (adaptado)

Somando a pesquisa de Fagnan at al, Wolff, Johnson & Suurmond discorre que o fotoenvelhecimento é mais grave em pessoas com o FCT I a III, e também em pessoas com FCT IV que tiveram exposições intensas e prolongadas aos raios solares. Sua dermatopatologia é caracterizada por ceratinócitos atípicos, perda de vasos pequenos da derme papilar, camada córnea aumenta devido a queratinização das células e produção de melanina, também ocorre a elastose e redução do colágeno. Dessa forma a pele torna-se mais flácida, espessa, com rugas estáticas e sulcos aparentes.

Segundo a literatura redigida por Perrichone (2001), o enrugamento é causado pela produção elevada de radicais livres, que por sua vez é proveniente da interação dos fótons UVA e UVB com as células da pele. Essas moléculas são instáveis, e tentam buscar estabilidade roubando os elétrons de outras moléculas a deixando instáveis também e criando novos radicais, o que compromete a integridade e funcionamento de células saudáveis.

Corroborando a Perrichone, Fagnan at al (2013) argumenta que a interação da radiação solar com o DNA da mitocôndria (DNAmt) é um grande produtor de radicais livres, pois no metabolismo da mitocôndria é o que mais produz oxigênio livre na célula, e seu DNA não detém de uma defesa adequada contra essas moléculas como o DNA nuclear, dessa forma ela está mais sucessível a mutagênese.

Flor, Davolos & Correa (2007) discorre que os radicais livres caracterizado por sua instabilidade molecular podem causar danos a estruturas das células, as organelas, vitaminas provenientes de alimento, lipídios da membrana celular, proteínas, carboidratos, ácido hialurônico e colágeno presente no tecido cutâneo. Concomitante  a este estudo Perrichone (2001) elabora que o colágeno e elastina por serem proteínas que mantém a firmeza e elasticidade da pele, são as mais atingidas pelos radicais livres, que geram um fenômeno químico chamada ligação cruzada, fazendo com que a pele perca a elasticidade, assim a deixando mais envelhecida.

As radiações UV também podem interferir em algum dos fatores do processo imune da pele, alterando a capacidade das células de Langherans de se comunicarem com os linfócitos T. Podem induzir os queratinócitos a produzir maior quantidade de citocinas e estimular a liberação de imunossupressores que consequentemente leva ao desdobramento de infecções e neoplasias tegumentares. (JUCHEN, 1998)

  • Fotoprotetores

Os filtros solares representam promissora perspectiva para minimizar os efeitos danosos decorrentes da exposição à radiação ultravioleta. Existem diversas formulações eficazes de fotoprotetores com consistência em gel, creme e loção, evidencias demonstram que os filtros tópicos reduzem a indução de ceratose solar, carcinoma espinocelular e ceratose actínia. Além disso, a aplicação regular do filtro solar desempenha papel significativo na prevenção do envelhecimento cutâneo precoce. (WOLFF; JOHNSON; SUURMOND, 2006)

Segundo Schalka e Reis (2011) o fator de proteção solar (FPS) é um parâmetro fundamental pois avalia a eficiência do protetor solar contra a radiação UVB. Em complemento a ANVISA (2012) elabora que o fator FPUVA ou PPD (Persistent Pigment Darkening) também é um parâmetro fundamental, que tem como objetivo mensurar a capacidade de proteção contra os raios UVA.

No estudo de Schalka & Reis (2011) diz-se que os filtros são classificados de acordo com suas propriedades ativas, que podem ser orgânicos (químicos) e inorgânicos (físicos). Filtros orgânicos possuem moléculas que inibem a luz UV através da a absorção atuando como cromóforo exógeno. Consoante a este estudo, Forestier (2008) elabora que os filtros orgânicos possuem a capacidade de absorver comprimentos mais curtos ou mais longos, variando a sua subclassificação em filtros UVA e filtros UVB, ou filtros de espectro amplo UVA-UVB.

 Os protetores inorgânicos são formulados com partículas de óxidos metálicos, como óxido de zinco e dióxido de titânio, e operam refletindo ou dispersando a radiação. (BARON; KIRKLAND; DOMINGO, 2008; FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 2011). Os compostos desse tipo de fotoprotetor são atóxicos e foto estáveis, permanecendo na camada córnea, portanto é segura para pessoas de pele sensível e crianças. (FLOR; DAVOLOS; CORREA, 2007).

Para garantir a eficácia apropriada do uso do protetor solar a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) recomenda que se utilize fotoprotetores de amplo espectro com FPS igual ou superior a 30. A aplicação deve ser feita de forma uniforme e abranger todas as áreas expostas ao sol. Na pesquisa redigida por Posch (2021) sobre o envelhecimento cutâneo e prevenção de câncer é exibido um caso de uma senhora de 92 anos que fazia uso do protetor na região da face, mas não da região do pescoço por 40 anos, o que ocasionou fotoenvelhecimento intenso na porção não protegida como na figura 2.

Figura 2: Envelhecimento desuniforme entre pescoço e rosto

Fonte: POSCH (2021)

Dessa forma, o que garante a eficiente proteção contra a emissão dos raios solares é a correta aplicação e os fatores de FPS e PPD, que estabelecem, por meio de cálculos, os parâmetros da capacidade do fotoprotetor de filtrar respectivamente, as energias de UVB e UVA. Pois segundo FDA tais critérios são estabelecidos por testes in vitro e in vivo que averiguam a eficiência das diferentes formulações de protetores solares.  (FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 2023)

  • Conclusão

Por meio do presente trabalho, conclui-se que os protetores solares são a melhor medida preventiva contra a emissão dos raios ultravioleta, pois este estabelece uma camada sobre a pele a protegendo dos fótons UV, assim impedindo a produção de radicais livres, o fotoenvelhecimento e alterações no DNA celular. Também salientando que para garantir a eficácia dos fotoprotetores é necessário a correta reaplicação para cada fototipo cutâneo. Por fim, dispõe-se o incentivo a campanhas midiáticas e diretas com o público, por meio dos órgãos governamentais e profissionais da saúde a respeito dos fatores de saúde que os fotoprotetores trazem a pele, principalmente no Brasil pois é um país com grande incidência solar.

  • Referências bibliográficas

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Vitor Eleutério dos Santos – Discente do Curso Superior de Biomedicina do Instituto Centro Universitário São Lucas – Afya Campus Ji-Paraná – RO. e-mail: vitoreleuterio2gmail.com1
Elizabeth de Paula Carvalho – Discente do Curso Superior de Biomedicina do Instituto Centro Universitário São Lucas – Afya Campus Ji-Paraná – RO. e-mail: depaulaelizabeth1@gmail.com2
Valéria Ferreira – Docente do Curso Superior de Biomedicina do Instituto Centro Universitário São Lucas – Afya Campus Ji-Paraná – RO. Especialista e-mail: valeria.ferreira@saolucasjiparana.edu.br3