A EXPERIÊNCIA DE UM GRUPO DE DISCENTES INTEGRANTES DA LIGA DE TOXOPLASMOSE DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

THE EXPERIENCE OF STUDENTS MEMBERS OF THE TOXOPLASMOSIS INTEREST GROUP DURING THE COVID-19 PANDEMIC

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10221914


Kênia Pulquerio Rodrigues¹
Marileide Xavier Campus Silva¹
Amanda Faria Feichas Palermo Lanna¹
Phamella Rocha de Souza¹
Mateus de Oliveira Melo¹
Kayro Henrique Barbosa Barros¹
Amanda de Calaça Lima¹
Sérgio Pires da Silva¹
Priscila Castro Cordeiro Fernandes¹
Iliana Claudia Balga Milian¹


 RESUMO

O presente estudo se trata de um relato de experiência de abordagem quali-quantitativa que buscou retratar a vivência de discentes integrantes da Liga Acadêmica de Toxoplasmose da Universidade Federal de Goiás (LAT-UFG) inseridos no cenário epidemiológico da pandemia de SARS-COV-2 durante o ano de 2021. O estudo objetivou relatar como a pandemia afetou os discentes envolvidos no desenvolvimento de projetos de extensão e pesquisa que têm como intuito promover educação em saúde acerca da toxoplasmose e como se deu a adaptação a tal contexto. A coleta de dados ocorreu por meio de formulário previamente elaborado na plataforma Google Forms, obtendo respostas de 21 discentes e 3 orientadores, todos associados à LAT. Os resultados foram analisados à luz da Teoria do Discurso Coletivo (DSC), por agrupamento de ideias semelhantes. Concluiu-se que, apesar das dificuldades advindas do cenário pandêmico, o desenvolvimento deste projeto foi de grande relevância para seus integrantes, uma vez que a temática é pouco abordada durante a formação acadêmica e tem grande impacto social, evidenciando a importância da educação em saúde. 

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, educação em saúde e toxoplasmose.

ABSTRACT

The present study is an experience report of a qualitative-quantitative approach that sought to portray the experience of students who are members of the Interest Group of Toxoplasmosis of the Federal University of Goiás (LAT-UFG) inserted in the epidemiological scenario of the SARS-COV-2 pandemic. during the year 2021. The study aimed to report how the pandemic affected the students involved in the development of extension and research projects that aim to promote health education about toxoplasmosis and how the adaptation to such a context took place. Data collection took place through a form previously prepared on the Google Forms platform, obtaining responses from 21 students and 3 advisors, all associated with the LAT. The results were analyzed in the light of the Collective Discourse Theory (CSD), by grouping similar ideas. It was concluded that, despite the difficulties arising from the pandemic scenario, the development of this project was of great relevance for its members, since the theme is little addressed during academic training and has great social impact, evidencing the importance of health education.

Keywords: Primary Health Care, Health Education, Toxoplasmosis.

INTRODUÇÃO

A toxoplasmose é uma antropozoonose provocada por Toxoplasma gondii, que é um parasito intracelular obrigatório e infecta todos os animais homeotérmicos, sendo o gato doméstico o hospedeiro definitivo, enquanto aves e mamíferos são hospedeiros intermediários (Guerra e col., 2018). Os seres humanos são hospedeiros intermediários, os quais se infectam ao ingerir cistos de T. gondii presentes na comida, principalmente na carne crua, leite não pasteurizado, verduras, legumes, frutas e água. Dessa forma, ressalta-se a necessidade da ingestão de alimentos cozidos (Silva e col., 2019). 

A toxoplasmose congênita ocorre devido à passagem transplacentária de T. gondii, durante a gestação (infecção aguda), sendo que a soroconversão do parasito depende da idade gestacional e da região geográfica (Silva e col., 2019). Alguns estudos demonstram que a prevenção da toxoplasmose congênita pode ser feita através da atenção primária, pois as orientações dos profissionais de saúde são eficazes para a adoção de medidas profiláticas – como a triagem sorológica em gestantes para a detecção precoce da infecção e, consequentemente, redução da transmissão vertical e/ou danos ao desenvolvimento fetal. (Castilho-Pelloso e col., 2005; Moura e col., 2017; Sartori e col., 2011). Dentre as medidas farmacológicas, em caso de o exame sorológico indicar infecção aguda, deve-se iniciar o tratamento materno com espiramicina, na tentativa de prevenir a transmissão para o feto e, se a infecção fetal for confirmada pela reação em cadeia da polimerase (PCR) do líquido amniótico, deve haver a substituição da espiramicina pelo esquema tríplice constituído por pirimetamina, sulfadiazina ou sulfadoxina e ácido folínico (Gilbert e col., 2003). 

Apesar da infecção na maioria dos casos ser assintomática, em pessoas imunocomprometidas a infecção pode resultar em quadros clínicos graves e em último caso levar à morte (Nascimento e col., 2017). Em contrapartida, a infecção congênita pode ocasionar coriorretinite sendo um importante causa de abortos e má formação fetal (Bissati et. al, 2018). A infecção por T. gondii pode ocorrer durante toda a gestação, sendo que no primeiro trimestre (1ª até a 12ª semana) há a maior probabilidade de resultar em morte fetal, no segundo trimestre (13ª semana até a 27ª semana) pode resultar na chamada Tétrade de Sabin ( quando o feto apresenta calcificações cerebrais, retinocoroidite, retardo mental ou perturbações neurológicas e alterações do volume craniano) e no terceiro trimestre (28ª a 40ª semana) há maiores chances de o feto nascer normal podendo apresentar evidências da doença em dias, semanas ou meses após o nascimento (Nascimento e col., 2017). A toxoplasmose é a principal causa de coriorretinite nos Estados Unidos (EUA) e na Europa devido à infecção congênita. Além disso, nos EUA, anualmente, são registradas 750 mortes por toxoplasmose, sendo que 50% dessas infecções são de origem alimentar (Villares, e col., 2015). No Brasil, a prevalência da doença varia conforme a região estudada: em Caixas do Sul, 31,1%, em Mato Grosso do Sul, 96,1%, em Sergipe, 69,3%, em Aracajú, 77,8% e em Goiás 68,1% (Silveira e col.,2019).

         Dessa forma, com alto índice da ocorrência de casos, a toxoplasmose passa a ser considerada um problema de saúde pública no mundo, o que evidencia a importância de seu tratamento, bem como a necessidade de medidas preventivas, por meio da atenção primária, que devem ser informadas às gestantes desde o início do pré-natal (Foroutan-Rad e col., 2016). Nesse sentido, o Sistema Único de Saúde (SUS) apresenta medidas de rastreamento sorológico, a fim de detectar e prevenir infecções agudas oriundas do parasito e, assim, reduzir o índice de infestação da doença na sociedade (Ministério da Saúde, 2012). O desenvolvimento da atenção primária corrobora para a promoção e o estímulo do autocuidado tornando-se necessário para realizar educação em saúde e prevenir a doença (Santos e col., 2020).

A Liga de Toxoplasmose (LAT) foi fundada na Universidade Federal de Goiás (UFG) com o objetivo de trazer às gestantes educação em saúde e de contribuir com a prevenção da toxoplasmose congênita, tendo em vista que não existe vacina 100% eficaz para a doença (Branco e col. 2016, Santos e col., 2020). Nesse sentido, a educação em saúde permite que o indivíduo tenha independência no autocuidado, o que o torna o principal integrante e sujeito da própria condição de saúde, apresentando um impacto positivo na saúde coletiva (Falkenberg e col., 2014). Apesar de serem pouco valorizados, os programas de educação em saúde são considerados eficientes devido ao seu baixo custo de implementação. O papel fundamental desses programas está relacionado a mudanças nos hábitos de vida da comunidade, as quais podem ser implantadas devido ao conhecimento adquirido (Branco e col., 2012).

A Universidade é o local de formação profissional e pessoal dos estudantes, em que suas capacidades pessoais deverão ser moldadas conforme o saber científico da academia juntamente com o saber empírico da comunidade (Floriano e col., 2017). O ensino, a pesquisa e a extensão são os pilares da Universidade e, por esse motivo, as Instituições de Ensino Superior precisam oferecer ações que incentivem os acadêmicos no processo de aperfeiçoamento de sua formação (Floriano e col.., 2017). Sendo assim, a Liga de Toxoplasmose atua no desenvolvimento de ações que interligam a sociedade e a comunidade acadêmica, sendo possível compartilhar medidas profiláticas e, assim, reduzir o índice de prevalência de doenças. 

          Contudo, o projeto enfrentou dificuldades para desenvolver suas ações devido ao momento pandêmico. Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou problema de saúde pública (Bezerra e col., 2020). Após esse anúncio, o mundo entrou em alerta e incontáveis medidas sanitárias e médicas foram instauradas na tentativa de conter a transmissão do vírus do qual pouco se conhecia. Por esse motivo, com intuito de conter a disseminação do vírus, instituições educacionais do mundo inteiro foram fechadas temporariamente (Soares e col., 2020). Conforme dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – Unesco, o fechamento das instituições de ensino afetou mais de 1,57 bilhões de estudantes e projetos como o da LAT tiveram que adaptar suas ações às medidas preventivas do COVID-19 (Soares e col., 2020). 

Com isso, o Ministério da Educação lançou em 17 de março de 2020 a Portaria nº 343, autorizando, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais, em andamento, por aulas que utilizassem meios e tecnologias de informação e comunicação, sendo as disciplinas essencialmente teóricas. Desta forma, a UFG substituiu suas atividades teóricas presenciais para o ensino remoto, forçando todos os discentes a se adaptarem a uma nova forma de aprender. Pode-se ressaltar que o ensino a distância trouxe dificuldades expressivas ao projeto da LAT que afetaram o desempenho acadêmico dos estudantes universitários, como o distanciamento entre os membros – dificultando a comunicação -, um aumento significativo dos obstáculos na execução de ações de educação em saúde com a comunidade, problemas de conexão e comunicação decorrentes da inacessibilidade, parcial ou total, de internet por parte de alguns discentes e a sobrecarga causada pelo ensino remoto.

A princípio foi um desafio criar a LAT devido às medidas de distanciamento social e os escassos recursos que tínhamos. Contudo, com o claro pensamento do impacto positivo que o projeto possui para diminuir a incidência de toxoplasmose em Goiânia, alunos de enfermagem, medicina e odontologia criaram um Instagram @lat.ufg para fazer ações de educação em saúde e assim prevenir a toxoplasmose congênita. As cores selecionadas (amarelo, azul, cinza, rosa, roxo e verde) foram definidas de acordo com o tema de cada publicação, sendo amarela representando os tipos de prevenção e curiosidades; a cor azul os aspectos clínicos da toxoplasmose; a cor cinza a toxoplasmose ocular; a cor rosa a toxoplasmose congênita; a cor roxa os informes da liga; e a cor verde os artigos científicos, textos acadêmicos e pesquisas. 

A escolha de fontes textuais delicadas e mais simples para escrita das publicações foi feita com o intuito de explicitar a ideia de fácil compreensão e autenticidade que o perfil visa transmitir. Somado a isso, foi definido nas primeiras reuniões que seria exigida a presença da hashtag “ParaCegoVer” nas legendas de cada post, a fim de promover a inclusão de deficientes visuais, especialmente pelo fato de existir a toxoplasmose ocular. Desse modo, a identidade visual da rede social da LAT busca se aproximar do público-alvo por meio da escolha minuciosa de cores, fontes e elementos visuais que, em conjunto, entregam uma postagem completa com informações pertinentes e visualmente satisfatórias. O projeto contribuiu para aumentar o conhecimento dos discentes sobre o assunto e desenvolver ações que poderiam ser realizadas no meio virtual de uma forma lúdica. Após o momento pandêmico, os alunos pretendem abranger o projeto para um maior contato com o público e assim diversificá-lo. Esse artigo objetiva relatar a experiência de como a pandemia afetou os discentes envolvidos no desenvolvimento de projetos de extensão a respeito da toxoplasmose, que têm como principal intuito viabilizar a educação em saúde.

MÉTODO

A metodologia deste estudo fundamenta-se na abordagem quali-quantitativa, uma vez que o pesquisador busca entender o significado dos fenômenos necessários para projetar as representações de cada grupo (Turano, 2014). Este trabalho consiste em um relato de experiência vivenciado pela equipe da Liga Acadêmica de Toxoplasmose da Universidade Federal de Goiás (UFG), no período do ano de 2021, durante o cenário epidemiológico da pandemia da SARS-COV-2. A experiência em questão desenvolveu-se remotamente conforme as medidas de ensino adotadas pela instituição.

Nas circunstâncias vivenciadas devido a pandemia, as reuniões do projeto aconteceram, exclusivamente, de modo remoto. Inicialmente, foi exigido uma carga horária de 14 horas de capacitação teórica dos estudantes para o ingresso no projeto de extensão. Com isso, foi proposta aos alunos a criação da Liga de Toxoplasmose (LAT), a qual surgiu baseada no projeto preexistente. A divisão em diretorias foi necessária e fundamental para a construção de um trabalho efetivo, pois a distribuição dos estudantes em grupos específicos contribuiu para uma melhor comunicação entre eles. Os encontros virtuais entre os discentes e os docentes para a discussão das estratégias que seriam adotadas pela liga diminuíram com o tempo devido à nova conformação dos grupos e à falta de disponibilidade de horário em comum. Sendo assim, a criação de grupos em aplicativos de mensagens viabilizou o contato entre os integrantes da liga para o desenvolvimento de conteúdos destinados às redes sociais. É válido ressaltar a importância da ação da equipe de marketing, uma vez que é por meio do instagram @lat.ufg que todo o projeto produzido é divulgado e que, apesar da singularidade de cada diretoria, o produto é resultado de uma cooperação.

Como forma de acessar as informações que subsidiam esse estudo, foi aplicado um questionário online através da plataforma Google Forms aos discentes associados à LAT. O formulário elaborado pela equipe de pesquisa da Liga de Toxoplasmose possuía questões discursivas e objetivas, com enfoque na percepção dos discentes a respeito da liga. Assim, o formulário foi enviado aos participantes que optaram participar da pesquisa por meio dos grupos de mensagens no WhatsApp, entre os meses de agosto e setembro de 2021. O controle de respostas foi realizado dentro da própria plataforma; para isso, ao acessar o formulário, os estudantes se registraram com os respectivos e-mails vinculados à Universidade Federal de Goiás. Foi utilizada a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), uma análise quali-quantitativa dos dados.

Para a coleta de dados foram elaboradas as seguintes questões discursivas respondidas por membros do projeto de extensão e pesquisa da LAT:

Para você, qual a importância de discutir a toxoplasmose em Goiânia?Quais são suas expectativas para o projeto pós-pandemia?
Quais benefícios os alunos tiveram ao realizar o projeto durante a pandemia?
Você se sente bem em participar da LAT? Por quê?
Participar da LAT durante a pandemia afetou positivamente ou negativamente sua formação acadêmica? Explique.

Após o preenchimento do formulário, as respostas foram processadas de acordo com a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo-DSC (Lefèvre e col., 2000) que é uma estratégia metodológica quali-quantitativa. O DSC tem como técnica central selecionar de cada resposta individual a ideia central, como se a ideia do grupo fosse um discurso individual (LEFEVRE, 2003). As ideias centrais são coletadas por meio de expressões chaves, isto é, de trechos dos discursos que mostram a essência do conteúdo (Figueireto e col., 2013). No quadro 1 abaixo, segue um exemplo da metodologia do DSC utilizada neste estudo.

RESULTADOS

Quadro 01- Exemplo de análise com a metodologia do DCS

A pesquisa foi respondida por 21 alunos de graduação e 3 doutores, sendo 8 discentes da Faculdade de Enfermagem, 11 da Faculdade de Medicina e 2 da Faculdade de Odontologia, todos da Universidade Federal de Goiás. O grupo de docentes foi composto por 1 enfermeira doutora pela Universidade de Uberlândia (UFU), 1 dentista doutora pela UFG e 1 biomédica. Os participantes informaram o sexo, sendo 67% do sexo feminino e 33% do sexo masculino. Os resultados deste trabalho, à luz da Teoria do Discurso Coletivo (DSC), referem-se basicamente à realidade dos cursos da área da saúde da UFG.  

Gráfico 1: Distribuição dos discentes e docentes que responderam ao questionário quanto ao curso de graduação.

Fonte: pessoas que responderam ao questionário fornecido.

A seguir, são apresentados os resultados dos dados qualitativos correspondentes a seis perguntas formuladas para responder aos objetivos propostos deste estudo e todas estão representadas em suas respectivas categorias. 

Na técnica do DSC, os depoimentos são redigidos na primeira pessoa do singular, com o objetivo de produzir no receptor o efeito de uma única opinião coletiva que se expressa diretamente pela voz de um único sujeito de discurso. 

PERGUNTA 1 – Você se sente bem em participar da LAT? Por quê?

CATEGORIA A – Sim, participar da LAT dá uma maior oportunidade de entrar em contato com a sociedade e ajudá-la.

DSC – Sim, acredito que participando da LAT serei um membro ativo da sociedade e ajudarei pessoas com meu conhecimento.

CATEGORIA B – Sim, participar da LAT ajuda a aumentar o aprendizado individual.

DSC – Sim, ao participar da LAT aprendo mais sobre uma doença, muitas vezes, negligenciada. Consigo ter um aprendizado sobre a Toxoplasmose sem ter uma sobrecarga.

CATEGORIA C – Sim, participar da Liga auxilia no meu crescimento acadêmico.

DSC – Sim, fazer parte da Liga me traz vantagens em termos de currículo e acrescenta muito na minha formação acadêmica e tenho orgulho de acompanhar o crescimento da LAT. 

CATEGORIA D – Sim, participar da LAT é uma oportunidade de entrar em contato com outras áreas do ensino superior.

DSC – Sim, entrar na LAT me deu oportunidade de conhecer mais sobre extensão e pesquisa, além do ensino, e é uma forma de me expressar através das atividades da Liga.

PERGUNTA 2 – Participar da LAT durante a pandemia afetou positivamente ou negativamente sua formação acadêmica? Explique.

CATEGORIA A – Positivamente, participar da LAT me proporcionou uma maior chance de adquirir e de buscar mais conhecimento.

DSC – Positivamente, pois consigo aprender bastante sobre a toxoplasmose, como saber as formas de prevenção e tratamento. Meu conhecimento sobre o assunto e sobre embriologia apenas aumentaram, pois, participar da LAT me faz sempre ir em busca de novas informações.

CATEGORIA B – Positivamente, entrar na LAT, mesmo na pandemia, me ajudou na inserção na faculdade.

DSC – Positivamente, ser membro da LAT, além de me fazer aprender novos assuntos em todas as diretorias da Liga, me ajudou na interação com outros membros e me fez entrar em contato com outras áreas da faculdade e não só com os estudos do meu próprio fluxo curricular. Estar na faculdade em um período pandêmico foca somente na minha área de estudo e a LAT me ajuda a conhecer outras coisas.  

CATEGORIA C – Positivamente, participar da LAT me fornece informações sobre uma doença que não é muito conhecida.

DSC – Positivamente, pois ajuda a adquirir conhecimentos importantes a respeito da doença, e influencia a buscar novos saberes, sendo assim o nível do conhecimento aumenta nos acadêmicos, já que a temática é importante e pouco conhecida.

CATEGORIA D – Positivamente, participar da LAT me faz querer entrar em contato com a população afetada pela doença.

DSC – Positivamente, ser membro da Liga, além de me fazer querer conhecer mais a população afetada, me ajuda a lidar com essas pessoas, pois me ensina novas formas de comunicação que possam ser mais efetivas. Por utilizarmos redes sociais, nosso foco de comunicação aumenta, deixando de ser apenas local e torna-se nacional.

PERGUNTA 3- Que benefícios os alunos tiveram ao realizar o projeto durante a pandemia?

CATEGORIA A: No período pandêmico a liga viabilizou o aprendizado acerca dos diversos aspectos que envolvem a Toxoplasmose.

DSC – Maior possibilidade de discussão técnica e aulas básicas sobre o assunto desde o processo gestacional aos conceitos de embriologia.

CATEGORIA B: Além do aprendizado envolvendo a parasitose estudada, foi possível realizar atividades integradoras que possibilitaram o desenvolvimento de trabalhos em grupo com um intercâmbio de experiências entre os cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia da UFG.

DSC – Os alunos puderam aprender profundamente sobre a etiologia da toxoplasmose, além de desenvolver projetos em grupo, o que foi uma experiência bastante enriquecedora pois promoveu uma associação de alunos de outros cursos.

CATEGORIA C: O desenvolvimento do projeto na pandemia foi importante para a difusão de informativos de educação em saúde para o manejo da toxoplasmose.  

DSC – A realização do projeto durante a pandemia nos possibilitou pensar em estratégias educativas para ajudar a comunidade. Pois, com as atividades da liga, pudemos ampliar o conhecimento acerca desta patologia e discuti-la no contexto social com o objetivo de gerar um impacto positivo na sociedade.

CATEGORIA D: Os meios digitais no período de distanciamento social favoreceram não apenas a comunicação entre os membros da liga, bem como, o compartilhamento de informações de caráter conscientizador. 

DSC – Acredito que o contato online entre os participantes do projeto foi favorável para o crescimento e desenvolvimento do projeto, pois foi possível que pudéssemos nos encontrar de maneira segura e com maior regularidade. Além disso, realizar o projeto durante a pandemia nos proporcionou recursos para interação online (via redes sociais) com o público.

PERGUNTA 4- Como você avaliaria o seu nível de sobrecarga na LAT? Discorra.

CATEGORIA A: O grau de sobrecarga na Liga é baixo, é possível conciliar com as atividades da faculdade. 

DSC – O nível de sobrecarga é baixo, apesar de demandar dedicação e empenho, contudo, é possível conciliar com as atividades da faculdade pois as atividades da liga são flexíveis com a rotina dos alunos. É importante ressaltar também que a dedicação é contrabalanceada com os benefícios acadêmicos e sociais proporcionados pela LAT, tornando o trabalho, inclusive, prazeroso e recompensador.

CATEGORIA B: O grau de sobrecarga é intermediário pelo gerenciamento de ações na liga, mas não compromete as atividades da faculdade.

DSC- Como membro da diretoria a sobrecarga é um pouco maior, mas nada que me impeça de ter um bom proveito do curso.

CATEGORIA C: O grau de sobrecarga é alto, em virtude do cargo ocupado pelos participantes.

DSC – Alto, diria que pela posição que ocupo na liga acabo perpassando por todas as diretorias e a realização das atividades da LAT demanda algumas horas. Em virtude disso, busco auxiliar na resolução das mais variadas questões o que acaba me sobrecarregando.

DISCUSSÃO 

Nas análises da primeira pergunta sobre se os ligantes se sentem bem em participar da LAT, os respondentes consideram a Liga de Toxoplasmose uma importante ferramenta para adquirir conhecimentos e autonomia ao atender gestantes na atenção primária. Todas as respostas do questionário foram positivas. Além disso, as Ligas acadêmicas promovem ações de ensino, pesquisa e extensão (tripé universitário) e, por esse motivo, foi necessária a utilização de plataformas digitais para que o ensino dos discentes não fosse prejudicado durante a pandemia. Diante disso, sentimentos de entusiasmo por estudar uma doença negligenciada foram respostas comuns na aplicação do questionário. As Ligas acadêmicas têm contribuído para formação dos estudantes e por consequência no desenvolvimento do aluno na universidade (Camilo e col., 2020).

Após a leitura de todas as respostas à questão 2 e uma reflexão conjunta dos pesquisadores a respeito de cada resposta individualmente, com suas ideias centrais, pôde-se constatar de forma majoritária e partilhada de concordância que a participação da LAT durante a pandemia afetou positivamente a formação acadêmica dos discentes. Nesse primeiro questionamento foram identificadas quatro categorias, sendo elas todas positivas. Os respondentes argumentam que acrescentou na formação acadêmica, ampliação de conhecimentos e habilidades do tratamento de toxoplasmose, uma doença de difusão mundial negligenciada e pouco estudada no Brasil (Sampaio e col., 2020). Acredita-se que habilidades desenvolvidas por discentes das áreas da saúde acerca da prevenção, do contágio e do tratamento da doença colaboram para a promoção de ações de saúde que visam a prevenção da doença em gestantes. 

A Liga Acadêmica de Toxoplasmose foi criada com intuito de levar ao público informações pertinentes e desmistificar as falácias acerca da doença. Os membros da equipe trabalham em conjunto para a formulação das postagens de modo que o produto seja o mais acessível possível, garantindo êxito na propagação e validação do conhecimento. A intenção inicial da liga foi levantar discussões e repassar informações sobre as características básicas da toxoplasmose e suas variações (congênita e ocular), tanto no âmbito da atenção primária quanto no acadêmico. No entanto, a pandemia da COVID-19 acabou prejudicando o andamento presencial das atividades, as quais passaram a ser realizadas, exclusivamente, no modo virtual. O perfil no Instagram é o destaque da liga, pois é por meio dele que todo o trabalho é exposto para a comunidade. É de extrema importância e necessidade que projetos como a LAT continuem exercendo seus papéis, uma vez que é por meio desses que muitos indivíduos adquirem consciência sobre inúmeros assuntos. Somado a isso, o método de divulgação virtual garante a disseminação das informações em toda a sociedade. Assim, é possível manter a capacitação dos membros através das atividades da liga e promover a educação em saúde.

A educação em saúde simboliza a junção de oportunidades que favorecem a manutenção da saúde (Ministério da Saúde, 2012). Nesse sentido, é importante salientar que profissionais de saúde atuam como chave fundamental no processo de atenção à saúde. Ao exercer a profissão lidando com gestantes no pré-natal, eles têm a capacidade de promover medidas para mitigar a transmissão e as possíveis consequências da toxoplasmose durante a gestação (Santos e col., 2020), principalmente quando atuam fornecendo informações acerca da doença e possíveis condutas em caso de toxoplasmose congênita. 

Em relação à pergunta 3, que abordou a opinião dos participantes acerca dos benefícios que os alunos tiveram ao realizar o projeto durante a pandemia, pode-se constatar que a maioria dos respondentes consideram que durante a atuação da LAT os meios digitais no período de distanciamento social favoreceram não apenas a comunicação entre os membros da liga, mas também o compartilhamento das informações que contribui para a manutenção da educação em saúde. O diálogo interdisciplinar entre estudantes de enfermagem e medicina em projetos de educação em saúde tem favorecido o exercício de desconstrução de categorias analíticas elaboradas no interior de cada ciência (Jeolás e col., 2003).

Ao analisar as respostas da pergunta 4, na qual foi abordado a opinião dos participantes de como você avaliaria o seu nível de sobrecarga na LAT, pode-se afirmar que os respondentes que alegaram ter alto nível de sobrecarga eram os discentes que estavam envolvidos em cargos de diretorias dos quais eram demandadas horas a mais para reuniões com o grupo. Nas ligas, os alunos assistem aulas teóricas, organizam cursos, simpósios e congressos, desenvolvem projetos de pesquisa e fazem parte de campanhas de promoção à saúde. Geralmente, os alunos buscam as ligas na tentativa de não só complementar em seus currículos atividades que não transmite segurança aos estudantes, mas também de integralizar e socializar com colegas (Filho, 2011). Nesse sentido, as ligas exercem um papel primordial na vida acadêmica dos discentes. Mesmo com as dificuldades encontradas durante as medidas de isolamento social durante a pandemia da Covid-19, houve a busca por ferramentas e mecanismos que possibilitaram a continuidade das atividades desenvolvidas nesse período.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Concluímos que, apesar das dificuldades que os membros encontraram para manter o projeto funcionando, a Liga teve papel fundamental na formação acadêmica de cada membro, pois a doença é de predominância mundial e ainda pouco conhecida pelos profissionais da saúde no Brasil. Tendo em vista que o diagnóstico e tratamento precoce em gestantes contribui para a redução das sequelas no feto, ao levar em consideração os dados encontrados pelo presente estudo, a LAT fornece conhecimentos ainda pouco abordados durante a graduação que são, entretanto, de extrema importância. Assim, é válido salientar que mais projetos como esse devem ser criados nas instituições de ensino pelo país, para mitigar as consequências desse problema de saúde pública. 

Evidentemente, por ser constituído de um relato de experiência de cursos das áreas da saúde, este estudo apresenta limitações no que tange ao alcance de resultados que em sua maioria descrevem a situação encontrada no local da pesquisa, isto é, na Liga Acadêmica de Toxoplasmose do Instituto de Ciências Biológicas – UFG. As opiniões aqui apresentadas foram agrupadas em cada um dos DCS sem distinção de variáveis por agrupamento de ideias semelhantes. A produção deste relato de experiência proporcionou a enriquecedora discussão de muitos dos temas abordados pelos autores, o que despertou o conhecimento compartilhado e a necessidade de buscar novos referenciais teóricos. A composição de diferentes cursos da área da saúde possibilitou, ainda, a discussão da temática em diferentes frentes de saberes científicos. Salienta-se, portanto, que os pesquisadores buscam explicitar como o conhecimento é produzido em diferentes áreas e entender diferentes fenômenos sociais (ROTH, 2003).

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