AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE DISTORÇÃO DA FOTOGAMETRIA NA AQUISIÇÃO DE MODELOS DIGITAIS PORTANDO DISPOSITIVOS INTRAORAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10221587


Thaíssa De Sousa Bezerra
Fernando José Souza Bezerra
Rebeca Luzia Da Silva Rodrigues
Orientador: Matheus Völz Cardoso


RESUMO

A Fotogametria é responsável por obter múltiplas imagens por fotografias ou vídeo de um mesmo objeto, onde cada foto é realizada com angulações diferentes. O objetivo do presente estudo foi avaliar o nível de distorção da fotogrametria na aquisição de modelos digitais portando dispositivos intraorais. Em um manequim odontológico foram realizadas 50 fotografias do período inicial (sem bráquetes) através de uma câmera de celular convencional. Nos dentes inferiores direitos foram colados bráquetes de cerâmica e de metal/convencional nos esquerdos, quando mais 50 fotografias foram obtidas (com bráquetes). Foi realizada a calibração das imagens e obtenção dos modelos digitais (antes e depois da colagem) pelo software Zephyr. Os modelos digitais teste e controle foram sobrepostos (técnica da subtração) no software de avaliação tridimensional (Blender – Python Software) e os ruídos das imagens foram catalogados perante possibilidade de visualização das 1) cristas marginais, 2) margem incisal dos dentes, 3) margem gengival e 4) mucosa ceratinizada. Os dados qualitativos ordinais foram expostos em mediana, percentil e quartis e avaliados estatisticamente pelo teste de Wilcoxon. Os diferentes bráquetes foram comparados pelo teste de Mann-Whitney para grupos independentes. A magnificação das cristas marginais demonstrou ser particularmente sensível à interferência dos bráquetes, com alterações na qualidade das imagens quando comparadas entre bráquetes de metal e zircônia. A margem incisal e à mucosa ceratinizada parecem ser menos afetados pela presença dos bráquetes. Já a margem gengival foi o desfecho mais comprometido, independentemente do material do bráquete, destacando a complexidade da captura de imagens nessa região pelo método empregado.

Palavras-chave: Fotogrametria; Fotografia Dentária; Estudo de Prova de Conceito.

ABSTRACT

Photogrammetry is responsible for obtaining multiple images through photographs or videos of the same object, where each photo is taken at different angles. The objective of the present study was to assess the level of distortion in photogrammetry when acquiring digital models using intraoral devices. In a dental mannequin, 50 photographs were taken during the initial period (without brackets) using a conventional cell phone camera. Ceramic brackets were attached to the lower right teeth and metal/conventional brackets to the left teeth, and another 50 photographs were taken (with brackets). Image calibration and digital model acquisition (before and after bracket placement) were performed using Zephyr software. The test and control digital models were overlaid (using the subtraction technique) in a three-dimensional evaluation software (Blender – Python Software), and image suitability was analyzed for the possibility of visualizing 1) marginal ridges, 2) incisal edge of teeth, 3) gingival margins, and 4) keratinized mucosa. The ordinal qualitative data were presented in median, percentile, and quartiles and statistically evaluated using the Wilcoxon test. Different types of brackets were compared using the Mann-Whitney test for independent groups. The magnification of the marginal ridges was found to be particularly sensitive to bracket interference, resulting in image quality differences when comparing metal and zirconia brackets. The incisal edge and keratinized mucosa seem to be less affected by the presence of brackets. On the other hand, the gingival margin was the most compromised outcome, regardless of the bracket material, highlighting the complexity of image capture in this region using the employed method.

Keywords: Photogrammetry; Photography, Dental; Proof of Concept Study.

INTRODUÇÃO

A odontologia está sendo transformada devido ao avanço digital, trazendo consigo equipamentos cada vez mais automatizados e tecnológicos, revolucionando assim, o modelo de atendimento pelos cirurgiões dentistas (REKOW, 2020). Métodos de diagnósticos tradicionais, aos poucos, estão dando lugar aos digitais. Em virtude dessas mudanças, os odontólogos necessitam de certos conhecimentos básicos para se beneficiar desses novos procedimentos e os inserir no consultório odontológico (EMERICK; GONÇALVES; LABUTO, 2022).

Os modelos de gesso usados tradicionalmente na ortodontia têm a finalidade de registrar os tecidos orais, entretanto, apresentam algumas limitações devido ao seu material, estando sujeitos a distorções ao longo do tempo por conta da temperatura e umidade, são suscetíveis à danos químicos e físicos, além de necessitarem de maior tempo de trabalho e manipulação, fatos esses que levam a imprecisões de impressão (SHAH et al, 2023).

Para superar estes problemas, foram introduzidos em 1999 os primeiros modelos digitais na comunidade ortodôntica. Através de Scanners digitais e tecnologias CAD-CAM houve mudanças na prática clínica ortodôntica possibilitando adquirir impressões mais precisas e confiáveis. No decurso, múltiplos scanners de consultório passaram a ser fabricados para auxiliar nos atendimentos em consultório. (JACOB; WYATT; BUSCHANG, 2015). Mas a final, quais as suas classificações e no que eles auxiliam de fato?

            Um scanner intraoral usa várias tecnologias de captura de imagem, como luz estruturada, fotogrametria ou interferometria, para obter imagens detalhadas da cavidade oral. A técnica mais comum atualmente é a luz estruturada, que envia uma luz vermelha ou azul em direção aos dentes e registra a reflexão dessa luz. Os scaners intraorais estão cada vez mais atualizados na captura de imagens, atualmente é reconhecido seu enorme potencial como elemento de moldagem de arcos dentais para confecção de aparelhos intraorais, placas de mordida e próteses fixas parciais com grande acurácia. Em relação as suas limitações estão as próteses totais fixas que apresentam maior nível de distorção em relação as áreas moldadas. É reconhecido também que a iluminação (L*) e a temperatura da cor no momento da tomada do molde digital interferem no nível de acurácia ou precisão dos moldes obtidos (KIHARA et al., 2020).

Através da impressão tridimensional por uso da tecnologia advinda dos anos 60 do computer-aided design / computer-aided manufacturing CAD/CAM é possível adquirir guias para execução de procedimentos cirúrgicos, prototipagem, impressão de dentes provisórios, placas de mordida, próteses intra e extraorais. (BEUER; SCHWEIGER; EDELHOFF, 2008). Para adquirir modelos digitalizados, o CAD/CAM exibe um processo inovador, no qual, obtém vídeos ou fotografias retiradas das estruturas orais, que agrupados, conseguem construir imagens tridimensionais, podendo ser visualizadas em softwares. (BEUER; SCHWEIGER; EDELHOFF, 2008).

Desse modo, é possível diminuir as chances de erros de confecção das peças odontológicas, adquirindo uma padronização, dando mais conforto ao paciente, além de auxiliar na precisão de planejamento e terapia de uma forma individualizada facilitando o plano de tratamento (EMERICK; GONÇALVES; LABUTO, 2022).

É importante ressaltar que, o investimento para obter um scanner intraoral permeia valores acima de 65 mil reais, o que dificulta a sua aquisição em grande parte dos consultórios odontológicos. (KRAUS, 2007). Ainda que os tratamentos mediante modelos digitalizados, com o uso dos scanners intraorais, sejam úteis, devido ao custo, os profissionais passam a procurar alternativas mais acessíveis, como por exemplo a fotogrametria. (KRAUS, 2007). Outro fator é que, apesar de todos os avanços dos scanners intraorais, as imagens de bráquetes obtidas através dele, ainda apresentam alguns ruídos e distorções. (Figura 1).

Figura 1 Imagens adquiridas por scanner intraoral

A) vista frontal de paciente sem bráquete, B) vista frontal do mesmo paciente com bráquete de zircônia. C) Vista lateral do paciente sem bráquete, D) vista lateral do paciente com bráquete. Notar nível de ruído da imagem. Fonte: acervo pessoal de casos clínicos Prof. Dr. Matheus Völz Cardoso.

 A Fotogametria é responsável por obter múltiplas imagens também por fotografias ou vídeo de um mesmo objeto, onde cada foto é realizada com angulações diferentes (RABELLO, 2019). Após isso, essas imagens podem ser adicionadas em um software que através de aspectos matemáticos e coordenadas tridimensionais de pontos específicos é capaz de gerar modelos digitais, com imagens adquiridas por celular ou câmeras semiprofissionais ou profissionais. Sendo assim, um método mais acessível de tratamento quando comparado aos scanners intraorais. (STUANI et al., 2019; HUSSEIN, 2021).

O aumento da busca por tratamento ortodôntico pelas pessoas, levou a necessidade de elaborar novos aparelhos mais discretos e estéticos. (BARILLARI, 2018). Entretanto, mesmo com o lançamento de diferentes modelos e tecnologias complementares para o deslocamento ortodôntico dos dentes, os bráquetes ainda são dispositivos fundamentais e necessários justamente para auxiliar na movimentação habitual e tracionamento da arcada dentária, com o objetivo de obter uma relação maxilo mandibular adequada e uma oclusão satisfatória. (POTASHNICK; ROSENBERG, 1982).

Assim sendo, para que se consiga restabelecer uma oclusão adequada, com o tratamento ortodôntico, o uso dos bráquetes ainda é de suma importância na conduta odontológica e, a busca por ferramentas que reduzam os ruídos e interferências das imagens geradas por dispositivos tecnológicos, contribuirá no aprimoramento da digitalização de modelos intraorais e consequentemente na odontologia digital (MACHADO, 2018).

Levando em consideração o nível reduzido de evidências na literatura relacionadas a qualidade de imagem obtida com bráquetes tanto pelos scanners intraorais quanto pela fotogrametria e com base no exposto, as seguintes questões foram formuladas: Seria a fotogrametria uma técnica capaz de obter com fidedignidade modelos digitais/tridimensionais portando bráquetes ortodônticos? O material que compõe o bráquete pode influenciar na qualidade da imagem adquirida? Qual o nível de semelhança das imagens tridimensionais ao comparar as imagens obtidas por scanner intraoral e utilizando a fotogrametria?

A hipótese acerca do estudo é que, o ruído/distorções das imagens através das fotografias obtidas por celular convencional seja semelhante entre os diferentes bráquetes (metálicos e de zircônia). É esperado que as imagens obtidas pela fotogrametria não interferiram na coleção de informações fundamentais e usais ao clínico no dia a dia. Embora seja esperado que as imagens adquiridas pela técnica de fotogrametria sejam inferiores quando forem comparadas as imagens obtidas pelos scanners intraorais.

Em suma, o objetivo geral do presente estudo é avaliar o nível de distorção da fotogrametria na aquisição de modelos digitais portando dispositivos intraorais. Objetivos secundários:

  • Estabelecer e calibrar um protocolo fotográfico com o sistema passo a passo desenvolvido na execução do projeto.
  • Estabelecer e calibrar um protocolo de colagem de bráquetes com o sistema passo a passo a ser desenvolvido na execução do projeto.
  • Avaliar se o material que compõe o bráquete influencia no nível de ruído dos modelos digitais que serão adquiridos.
  • Comparar a distorção dos modelos nas áreas controle (sem bráquete) em relação as áreas teste (com bráquete) em um manequim odontológico.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado in vitro/ de forma laboratorial não empregando material biológico derivado de pacientes, por este motivo, dispensa aprovação em comitês de ética e pesquisa em seres humanos. A metodologia aplicada consiste em: 1) Planejamento para obtenção de imagens do período controle (sem bráquete); 2) Confecção de um passo a passo de colagem de bráquetes através da técnica direta; 3)   realização de protocolo fotográfico da área teste (com bráquete); 4) aquisição e comparação dos modelos digitais por softwares específicos. O detalhamento da obtenção das imagens do estudo está exposto na Tabela 1.

Tabela 1 Informações sobre a angulação das tomadas de imagens fotográficas nos períodos teste e controle.

QUANTIDADE DE FOTOS (50)  PLANO VERTICALPLANO HORIZONTALDISTÂNCIA EM RELAÇÃO AO MANEQUIM
24A cada 15°                 45 cm
2445°A cada 15°  
  2  90°Arco esquerdo   Arco direito  

Empregando um manequim odontológico (Manequins Odontológicos Marília MOM), posto em uma plataforma preta de 15 cm de altura por 25 cm de comprimento envolto por uma cartolina preta, no solo do fundo escuro esteve fixado abaixo da plataforma um transferidor para regulação da quantidade de graus avançados durante a aquisição de cada fotografia. Foram realizadas no total 50 fotografias através de uma câmera de celular convencional (Xiaomi) sem flash central visando não gerar áreas de sombra, com fundo preto caracterizado por 3 cartolinas inteiras (figura 2 A). As fotografias foram adquiridas do mesmo modo a uma distância de 45 cm do objeto central e por um mesmo operador (TSF), previamente calibrado e treinado para a aquisição das fotografias (YOSHIO, 2011; OLIVEIRA, POLLONI, IGNACIO, 2011).

A distância definida ente o celular e o manequim foram de 45 cm, conforme protocolo definido previamente (STUANI et al., 2019). Não ultrapassando o tempo limite de 30 minutos entre as fotografias teste e controle, objetivando maior padronização quanto a exposição de luz externa, estabilização das imagens e maior fidedignidade para comparação

Seguindo protocolo previamente publicado (STUANI et al., 2019), a aquisição de fotografias seguiu a proporção de: a) Vinte e quatro imagens obtidas de forma paralela ao manequim, sendo uma foto a cada 15°. B) Vinte e quatro imagens anguladas em relação ao plano oclusal do manequim (45°), uma foto a cada 15°. C) Duas fotos perpendiculares em relação ao plano oclusal, uma foto com foco no hemiarco esquerdo e uma foto com foco no hemiarco direito, ambas da arcada inferior. As imagens iniciais obtidas foram utilizadas para área controle.

Por meio de um protocolo de colagem direta com o sistema passo a passo desenvolvido, iniciou-se a colagem de bráquetes nos molares e pré-molares inferiores (Figura 2 B), através de resina específica (Maquira materiais odontológicos). Foram colados nos dentes 34, 35, 36 e 37, bráquetes de metal (MORELLI materiais odontológicos), bem como nos dentes 44, 45, 46 e 47 bráquetes de cerâmica (MORELLI materiais odontológicos).  Todos os bráquetes apresentaram a mesma prescrição (Capelozza III), tamanho e forma, tendo alteração apenas na composição do material (metal/convencional x cerâmica) (Figura 2 C). Para obter a plena comparação das áreas/sítios, priorizou-se a padronização de colagem, onde os bráquetes foram posicionados na face vestibular de forma centralizada e alinhada de acordo com os respectivos dentes. Após essa etapa, o mesmo protocolo fotográfico foi realizado, estipulado de áreas teste (com bráquete).

Mesa com pratos de comida

Descrição gerada automaticamente
Figura 2 Etapas do protocolo de aquisição de imagens do estudo

a) manequim inserido na plataforma envolto pela cartolina preta sem bráquetes, momento inicial da aquisição das imagens. B) materiais utilizados para a colagem de bráquetes. C) Representação da colagem dos bráquetes de zircônia. D) área com bráquetes metálicos. E) área com bráquetes de cerâmica. F) aquisição no 2º momento das imagens já com os bráquetes convencional/metálico e cerâmico nas áreas teste. Fonte: Autores

A partir da definição dos tempos da pesquisa 1) área antes da colagem do bráquete (controle) e 2) área com bráquete (teste) e dos grupos a) bráquete de metal/convencional e b) bráquete de cerâmica, foi realizado o processamento das imagens adquiridas, onde as imagens foram avaliadas perante a qualidade (calibração).  Esse processo realizado por um pesquisador experiente (MVC). Após coleta de todas as imagens, estas foram inseridas em um software (software Zephyr). Através de múltiplas imagens agrupadas e por meio de algumas angulações adquiridas de um mesmo objeto o software 3DF Zephyr (3DFLOW) tem a capacidade de identificar pontos comuns entre imagens, criando correspondências entre elas, gerando assim, camadas necessárias para o processamento e reconstrução de um modelo tridimensional (STUANI et al., 2019). Após o pareamento das imagens o software criou uma nuvem de pontos esparsos identificando a posição tridimensional dos pontos comuns em duas ou mais fotografias.  Nesse momento foi criada uma nuvem densa de pontos, gerando finalmente uma camada tridimensional do objeto e de sua textura, conforme previamente delineado (STUANI et al., 2019).

Desfechos avaliados: Os modelos digitais teste e controle foram sobrepostos (técnica da subtração) em software de avaliação tridimensional (Blender – Python Software) (Figura 3) e os ruídos das imagens foram catalogados perante impossibilidade de visualização 1) das cristas marginais e 2) margem incisal dos dentes, 3) margem gengival e 4) mucosa ceratinizada, baseado em protocolos prévios (KERNER et al., 2008; KUMAR; JANARDAN; LARSON, 2012). O software cataloga em bom, aceitável, razoável ou ruim o nível de ruído das imagens. Os dados qualitativos ordinais obtidos foram avaliados perante o pareamento das áreas controle versus teste e perante o material do bráquete utilizado área controle dos dentes 34-37 versus área teste dos mesmos dentes com bráquetes de metal e área controle dos dentes 44-47 versus área teste dos mesmos dentes com bráquetes de cerâmica. Os dados foram expostos em mediana, percentil e quartis e avaliados estatisticamente pelo teste de Wilcoxon. Os diferentes bráquetes foram comparados pelo teste de Mann-Whitney para grupos independentes.

Cachorro quente ao lado de um bolo

Descrição gerada automaticamente
Figura 3 Nuvem de pontos esparsos, densa e a malha com textura após o pareamento (técnica da subtração)

Software: Blender Fonte: Autores

RESULTADOS

Apesar das limitações do estudo passado, devido à metodologia laboratorial in vitro que empregou um manequim odontológico e excluiu as principais estruturas intraorais (mucosa jugal, língua e lábios), além da saliva, ou seja, fatores importantes para a futura e completa validação do método. Mesmo assim, foi observado que esse modelo experimental forneceu uma prova de conceito para o método da fotogrametria e demonstrou que a qualidade da imagem gerada possuí um índice de ruído razoável ou dentro do aceitável para a condição testada (presença de bráquetes de metal e cerâmica), na maioria das comparações Tabela 3 e Tabela 4.

Outro elemento preponderante foi o custo geral do método, que foi reduzido quando comparado aos scanners intraorais. Isso se deve ao fato de que a metodologia passada empregou recursos já existentes e amplamente utilizados pela população em geral, os celulares, bem como o uso de softwares de uso e acesso livre e gratuito (SANTOS, 2012).

Tabela 2 Resultados descritivos dos desfechos centrais avaliados na pesquisa adquiridos após o pareamento (técnica de subtração) dos modelos virtuais gerados antes e após a colagem dos bráquetes

DenteTipo de bráqueteCristas marginaisMargem incisal dos dentesMargem gengivalMucosa ceratinizada
34MetalRazoávelBomRuimAceitável
35MetalRuimAceitávelRuimAceitável
36MetalRuimAceitávelRuimRazoável
37MetalRazoávelRuimRuimRuim
44ZircôniaRuimRuimRuimAceitável
45ZircôniaRuimBomRuimAceitável
46ZircôniaAceitávelAceitávelRuimRazoável
47ZircôniaRazoávelAceitávelRuimRuim

Tabela 3    Dados descritivos dos modelos gerados antes e depois da colagem de bráquetes separados pelo de bráquete e dente analisado/colado

DentePeríodoTipo de braqueteCristas marginaisMargem incisal dos dentesMargem gengivalMucosa ceratinizada
34AntesMetalbomBombomAceitável
35AntesMetalRuimAceitávelRuimAceitável
36AntesMetalRuimAceitávelRuimRazoável
37AntesMetalRazoávelRuimRuimRuim
44AntesZircôniaRuimRuimRuimAceitável
45AntesZircôniaRuimBomRuimAceitável
46AntesZircôniaAceitávelAceitávelRuimRazoável
47AntesZircôniaRazoávelAceitávelRuimRuim
34DepoisMetalRuimAceitávelRuimAceitável
35DepoisMetalRuimAceitávelRuimAceitável
36DepoisMetalRuimAceitávelRuimAceitável
37DepoisMetalRuimAceitávelRuimAceitável
44DepoisZircôniaBomBomRazoávelAceitável
45DepoisZircôniaRazoávelAceitávelRuimRuim
46DepoisZircôniabomBomRuimAceitável
47DepoisZircôniabomBomRuimAceitável

Em relação aos resultados descritivos expostos na tabela 2, adquiridos após o processo de pareamento e subtração dos modelos digitais no software Blender foi possível observar que no desfecho crista marginal dos dentes avaliados para os bráquetes de metal o nível de magnificação das cristas marginais foi ruim ou razoável. Já para os bráquetes de zircônia uma resposta apresentou nível aceitável na magnificação e aparência das cristas marginais, na comparação entre os modelos (tabela 6) pelo teste de Mann-Whitney não houve diferença entre os bráquetes para esse desfecho (p  0,886), qualitativamente o resultado da obtenção dos modelos para esse aspecto não foi satisfatório, ou seja, da demonstração das cristas marginais dos dentes avaliados a presença do bráquete, de qualquer material, interferiu na qualidade da imagem. O nível de detalhamento esperado para poder avaliar com qualidade as cristas marginais dos dentes envolvidos demanda um processo de aquisição de imagens ainda mais criterioso que o utilizado nesse protocolo de estudo.

Para o desfecho de avaliação da margem incisal dos dentes houve o mesmo número de resultados bons, aceitáveis e ruins para todas as comparações entre os bráquetes (p = 1,000), (tabela 6). Como a maioria dos resultados foram bons ou aceitáveis é possível expor que o nível de aquisição e detalhamento da margem incisal dos dentes nos modelos digitais gerados não foi fortemente influenciada pela presença dos bráquetes, independente do material de confecção.

O pior desfecho e, portanto, aquele que demonstrou menor nível de detalhamento entre os modelos foi a magnificação da margem gengival, ambos os bráquetes contribuíram com a significativa piora desse desfecho (p = 1,000) (tabela 6). Algo que para o tipo de teste e metodologia apresentados pode ser parcialmente esperado uma vez que a comparação entre modelos digitais sem e com bráquetes terão bem na margem gengival diferentes níveis de exposição de luz, barreiras para a cópia mais precisa do contorno da margem gengival e geração de pontos de sombra ou ausência de iluminação que impossibilitaram a fiel aquisição do trajeto da margem gengival. O nível de detalhamento esperado para poder avaliar com qualidade as margens gengivais dos dentes envolvidos demanda um processo de aquisição de imagens muito mais criterioso do que o utilizado nesse protocolo de estudo.

A mucosa ceratinizada, também não apresentou diferença entre o tipo de bráquete e a qualidade da imagem e modelos gerados (p = 1,000) (tabela 6). A maioria dos resultados demonstrou uma apreciação aceitável da magnificação da mucosa ceratinizada, demonstrando que independentemente do material do bráquete o protocolo de imagem conseguiu captar as características da mucosa ceratinizada sem sofrer ruídos significativos que impactassem qualitativamente esse desfecho nos modelos virtuais adquiridos.

Analisando especificamente cada modelo gerado e comparando com o tipo de bráquete presente houve confirmação dos resultados já expostos na comparação entre os bráquetes. Quando comparados separadamente os modelos antes e após a colagem de bráquetes de metal, as cristas marginais e a margem gengival apresentaram que o nível de ruído nessas áreas foi importante (Tabela 3), pois houve uma predominância dos piores scores (ruim/razoável) nesses desfechos. O que foi comprovado pela mediana no período pré e após a colagem para as cristas marginais, respectivamente 1,5 e 1,0. Apesar da diferença entre essas medianas, não houve diferença estatística (p: 0,500 (Tabela 4)). E para a margem gengival que em ambos foram 1,0 (p > 0,05), corroborando com a necessidade de um protocolo mais criterioso para a avaliação dessa grandeza. Padrão semelhante foi observado para os bráquetes de zircônia (tabela 3). Porém as medianas para as cristas marginais foram ainda mais discrepantes entre o período inicial e após a colagem 1,5 e 4 antes e após, respectivamente (tabela 3). Apesar disso não houve diferença estatística entre os momentos (p = 0,125) (Tabela 5), mesmo assim pode-se presumir que um dos fatores que contribuiu com essa diferença possa ser o material do bráquete. Dessa forma quando comparado ao de metal o bráquete de zircônia demonstrou um nível de discrepância maior entre os escores avaliados.  Houve também uma singela discrepância entre a qualidade da imagem na margem gengival das regões antes e após a colagem com o bráquete de zircônia, porém sem diferença estatística (p = 0,625) (Tabela 5), todos os sítios antes e após a colagem demonstraram os piores escores na magnificação da margem gengival.

Para a comparação antes e após a colagem dos bráquetes tanto de zircônia quanto de metal a margem incisal e a mucosa ceratinizada demonstraram maior incidência dos melhores escores (aceitável/bom) (Tabela 3). O que demonstra que entre os modelos virtuais antes e após a colagem dos bráquetes de metal esse desfecho não apresentou interferência pela presença do dispositivo (p > 0,05) (tabela 4). Para os bráquetes de zircônia os modelos virtuais antes e após a colagem esse desfecho não apresentou interferência pela presença do dispositivo (p > 0,05) (tabela 5).

Tabela 4 Dados dos modelos gerados antes e depois da colagem de bráquetes de metal expostos em mediana, percentil e quartis e avaliados estatisticamente pelo teste de Wilcoxon.

NMediana25%75%
Cristas marginais_antes41,513,5
Cristas marginais_depois4111
Valor de p = 0,500  
Margem incisal dos dentes_antes431,53,75
Margem incisal dos dentes_depois4333
Valor de p = 1,000  
Margem gengival_antes4113,25
Margem gengival_depois4111
Valor de p = 1,000  
Mucosa ceratinizada_antes42,51,253
Mucosa ceratinizada_depois4333
Valor de p = 0,500  

Tabela 5 Dados dos modelos gerados antes e depois da colagem de bráquetes de zircônia expostos em mediana, percentil e quartis e avaliados estatisticamente pelo teste de Wilcoxon.

NMediana25%75%
Cristas marginais_antes41,512,75
Cristas marginais_depois442,54
Valor de p = 0,125  
Margem incisal dos dentes_antes431,53,75
Margem incisal dos dentes_depois4333
Valor de p = 1,000  
Margem gengival_antes42,51,253
Margem gengival_depois431,254
Valor de p = 0,625  
Mucosa ceratinizada_antes42,51,253
Mucosa ceratinizada_depois431,53
Valor de p = 0,750  

Tabela 6 Comparação entre os diferentes bráquetes pelo teste de Mann-Whitney para grupos independentes.  

Cristas marginaisNValor de p Mediana25%75%
Metal4 1,512
Zircônia4 1,512,75
  = 0,886   
Margem incisal dos dentes     
Metal4 31,53,75
Zircônia4 31,53,75
  = 1,000   
Margem gengival     
Metal4 111
Zircônia4 111
  = 1,000   
Mucosa ceratinizada     
Metal4 2,51,253
Zircônia4 2,51,253
  = 1,000   

Discussão

Os resultados obtidos neste estudo sobre a qualidade de modelos digitais odontológicos após a colagem de bráquetes de metal e zircônia abrem um interessante campo de discussão no contexto da odontologia digital. Observou-se que a magnificação das cristas marginais dos dentes avaliados foi frequentemente considerada ruim ou razoável quando os bráquetes de metal estavam presentes, enquanto os bráquetes de zircônia resultaram em uma resposta mais aceitável. Isso levanta questões importantes sobre a escolha de materiais ortodônticos e seu impacto na qualidade das imagens dentárias. A necessidade de protocolos de aquisição de imagens mais criteriosos para avaliar com precisão as cristas marginais é evidente, e isso pode ter implicações significativas na prática clínica.

            Além disso, a análise da margem incisal e da mucosa ceratinizada revelou que a presença dos bráquetes não teve um efeito significativo na qualidade da imagem. Isso sugere que, em determinados contextos clínicos, a escolha entre bráquetes de metal ou zircônia pode não ser crucial em relação a esses desfechos específicos. No entanto, é fundamental destacar que a magnificação da margem gengival foi o desfecho mais afetado pela presença dos bráquetes, independentemente do material. Essa descoberta destaca a complexidade da aquisição de imagens em odontologia digital e ressalta a necessidade de abordagens aprimoradas para capturar com precisão essa área crítica.

O presente estudo também ressalta a importância da constante evolução da tecnologia odontológica digital. À medida que a odontologia avança para um cenário mais digital, a capacidade de adquirir imagens de alta qualidade torna-se essencial para o planejamento e execução de tratamentos ortodônticos e protéticos. A comparação entre materiais ortodônticos e sua influência nas imagens digitais é apenas um exemplo das complexidades envolvidas na integração da tecnologia digital na prática clínica odontológica. Portanto, novas pesquisas e aprimoramentos de protocolos de aquisição de imagens são necessários para otimizar o uso da odontologia digital e garantir resultados precisos e de alta qualidade para os pacientes.

Em conclusão, os resultados deste estudo enfatizam a importância crítica da qualidade das imagens digitais na odontologia, especialmente quando se considera a presença de bráquetes ortodônticos. A magnificação das cristas marginais demonstrou ser particularmente sensível à interferência dos bráquetes, com alterações na qualidade das imagens quando comparadas entre bráquetes de metal e zircônia. Isso aponta para a necessidade de protocolos de aquisição de imagens mais rigorosos e padronizados, visando a obtenção de resultados consistentes e confiáveis na avaliação das cristas marginais e margens gengivais.

Por outro lado, os desfechos relacionados à margem incisal e à mucosa ceratinizada parecem ser menos afetados pela presença dos bráquetes, sugerindo que a escolha entre materiais ortodônticos pode ser menos crítica em relação a essas áreas nos quesitos avaliados nesse estudo. No entanto, a magnificação da margem gengival foi o desfecho mais comprometido, independentemente do material do bráquete, destacando a complexidade da captura de imagens nessa região.

REFERÊNCIAS

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BEUER, Florian; SCHWEIGER, Josef; EDELHOFF, Daniel. Digital dentistry: an overview of recent developments for CAD/CAM generated restorations. British dental journal, v. 204, n. 9, p. 505-511, 2008.

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