REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10204917
Alessandra Alencar Chaves
Isabella Magalhães De Castro
Orientadora: Esp. Natália Gonçalves
RESUMO
A espasticidade é a alteração do tônus muscular prevalente em um acidente vascular cerebral, que dependendo da dimensão afetada do sistema nervoso central, pode ter como sequelas, algia, diminuição da força muscular e consequentemente a amplitude de movimento, contraturas e perda de função. A toxina botulínica tipo A é um tratamento que consiste em doses de aplicações injetáveis no músculo em si, causando relaxamento do mesmo facilitando a reabilitação do membro afetado em relação aos estímulos trabalhos durante a reabilitação fisioterapêutica. Objetivo: fazer uma revisão bibliográfica de estudos relacionados ao tema, administração da Toxina Botulínica Tipo A na espasticidade de membros superiores no acidente vascular cerebral associado a reabilitação fisioterapêutica. Materiais e Métodos: É uma pesquisa que tem como fontes as bases de dados eletrônicos: MEDLINE/ Pubmed, Scielo e Lilacs. Resultados: Foram encontrados 8 artigos, onde 4 foram selecionados para constar nesta pesquisa, pois se encaixam nos critérios de inclusão. Os estudos evidenciam e relatam os benefícios da administração da Toxina Botulínica Tipo A no acidente vascular cerebral, primordialmente no ganho da amplitude de movimento do membro superior afetado e no alívio da algia. Conclusão: Com base nos estudos analisados, foi observado que todos relataram impactos positivos da Toxina Botulínica Tipo A na espasticidade de membros superiores no acidente vascular cerebral. Foi relatado que houve mais resultados positivos quando associados a terapias complementares, além do planejamento fisioterapêutico durante o tempo de efeito da aplicação da Toxina Botulínica Tipo A.
Palavras-chaves: Toxina Botulínica, Espasticidade, Fisioterapia.
ABSTRACT
Spasticity is the change in muscle tone prevalent in a stroke, which, depending on the affected dimension of the central nervous system, can have the following consequences: pain, decreased muscle strength and consequently range of movement, contractures and loss of function. Botulinum toxin type A is a treatment that consists of doses of injectable applications into the muscle itself, causing relaxation of the muscle itself, facilitating the rehabilitation of the affected limb in relation to the work stimuli during physiotherapeutic rehabilitation. Objective: to carry out a bibliographical review of studies related to the topic, administration of Botulinum Toxin Type A in upper limb spasticity in stroke associated with physiotherapeutic rehabilitation. Materials and Methods: It is a research that uses electronic databases as sources: MEDLINE/Pubmed, Scielo and Lilacs. Results: 8 articles were found, 4 of which were selected to be included in this research, as they fit the inclusion criteria. Studies demonstrate and report the benefits of administering Botulinum Toxin Type A in stroke, primarily in terms of gaining range of motion in the affected upper limb and relieving pain. Conclusion: Based on the studies analyzed, it was observed that all reported positive impacts of Botulinum Toxin Type A on upper limb spasticity in stroke. It was reported that there were more positive results when associated with complementary therapies, in addition to physiotherapeutic planning during the time of effect of the application of Botulinum Toxin Type A.
Keywords: Botulinum Toxin, Spasticity, Physiotherapy.
A espasticidade afeta aproximadamente 20% dos sobreviventes de Acidente Vascular Cerebral e acredita-se que contribua significativamente para quedas após Acidente Vascular Cerebral, bem como para a diminuição da participação em atividades. Não é novidade que custos mais elevados são incorridos por pacientes com espasticidade durante o primeiro ano de sobrevivência. Os profissionais de saúde identificam que abordar a espasticidade é uma alta prioridade durante a reabilitação, e há consenso internacional de que há espasticidade localizada (ou seja, nos membros superiores ou inferiores) é melhor tratada com uma combinação de toxina botulínica e fisioterapia. (Lannin NA et al, 2018.).
A recuperação da função do braço em pessoas que sobrevivem a um Acidente Vascular Cerebral é proporcional à gravidade da deficiência no início do Acidente Vascular Cerebral. Aquelas pessoas que apresentam comprometimento grave do braço no início e que não recuperam a função útil do braço têm maior probabilidade de desenvolver contraturas. A formação de contraturas é exacerbada naqueles que apresentam certas formas de espasticidade. (Lindsay C. et al, 2021).
A dificuldade em mover o braço é um problema comum e contínuo para cerca de dois terços das pessoas após o Acidente Vascular Cerebral. Após o término da reabilitação formal, as pessoas com espasticidade persistente devido ao Acidente Vascular Cerebral ainda frequentam clínicas onde podem receber injeções de toxina botulínica tipo A na parte de membro superior, particularmente nos músculos do antebraço e da mão. Depois disso, a intervenção pós-injeção varia amplamente devido à falta de evidências e, na Austrália, cerca de um terço das clínicas apenas fornecem folhetos ou conselhos para incentivar o treinamento motor na ausência de terapia supervisionada. (Lannin NA et al, 2022).
A Toxina botulínica tipo A é uma toxina produzida por uma bactéria chamada Clostridium Botulinum, sendo uma substância cristalina estável, liofilizada em albumina humana e é a utilizada para diversos transtornos ligados a patologias que estão associadas a transtornos do sistema nervoso central, a aplicação da mesma vem se mostrando muito útil na prevenção de deformidades secundárias à espasticidade, modificando a qualidade de vida das pessoas com Disfunções Motoras. (Bernardes et al, 2021).
O mecanismo de ação se faz através do bloqueio da liberação do neurotransmissor da sinapse periférica colinérgica (acetilcolina). Esse fato não afeta a excitabilidade elétrica nem a condutividade do nervo ou do músculo. Enquanto o bloqueio dos receptores processa-se de imediato, o efeito paralisante, no entanto, leva mais tempo para ocorrer, induzindo assim o músculo a produzir fraqueza muscular (efeito paralisante) suficiente para eliminar o excesso de contração, preservando, porém, a sua função normal para que se siga a reabilitação fisioterapêutica e demais tratamentos físicos e psicológicos. (Bernardes et al, 2021).
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar os benefícios da administração da toxina botulínica tipo A na espasticidade associado a reabilitação fisioterapêutica no acidente vascular cerebral. E como objetivo específico: compartilhar com a comunidade a oferta de administração de toxina botulínica pelo Sistema Único de Saúde, que conta com o ‘Protocolo Clínico E Diretrizes Terapêuticas – Espasticidade’ anexado a Portaria Nº 377, DE 10 De Novembro De 2009 do Ministério da Saúde assim como o serviço de Fisioterapia em diferentes âmbitos, por exemplo: saúde da família de acordo com a Lei Nº 14.231, De 28 De Outubro De 2021.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica que tem como objetivo avaliar estudos que comprovem os resultados positivos da eficácia da administração da toxina botulínica tipo A em pacientes pós acidente vascular cerebral visando a melhoria funcional em membros superiores juntamente com a reabilitação fisioterapêutica.
Para a realização do estudo foi feito um levantamento bibliográfico por meio de busca eletrônica nas bases de dados: MEDLINE/Pubmed (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS e Scielo (Scientific Eletronic Library Online), no período de 2014 até 2023. Os termos utilizados nas bases de dados foram: Toxina Botulínica tipo A, espasticidade, fisioterapia, AVC (Acidente Vascular Cerebral) e membros superiores.
Os critérios utilizados para inclusão dos artigos foram: Artigos no idioma inglês, artigos originais do tipo ensaio clínico e randomizado, artigos cuja amostra foi composta por pesquisas que comprovam os benefícios da administração da toxina botulínica tipo A na espasticidade em pacientes com sequelas pós acidente vascular cerebral cujo membros superiores obtiveram resultados positivos, junto a uma equipe multiprofissional onde a reabilitação fisioterapêutica foi de extrema importância para cada ganho significativo dos pacientes.
Foram excluídos artigos que não estavam disponíveis na íntegra, artigos que não estavam correlacionados ao tema, artigos que não mostraram a eficácia dos benefícios da administração da toxina botulínica tipo A na espasticidade em membros superiores associado a reabilitação fisioterapêutica no acidente vascular cerebral.
Para proceder à pesquisa, primeiramente foram identificadas as palavras chaves, sendo colocadas nas bases de dados e em seguidas foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão. Os artigos foram filtrados, lidos, analisados e selecionados, apenas os que atendiam a todos os critérios.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao total foram encontrados 8 artigos nas bases de dados científicas, que através dos descritores utilizados para coleta continham relevância para este estudo. Foram excluídos 2 artigos após a leitura de títulos e resumo, 6 (seis) artigos foram lidos na íntegra. Contudo, 2 (dois) não condiziam com o objetivo do estudo. Sendo assim, 4 (quatro) artigos foram selecionados para a etapa de análise metodológica dos dados, após leitura na íntegra, e incluídos nesta revisão.
Autor | Ano | Titulo | Resultados |
Lannin NA et al. | 2022 | Efeito da reabilitação adicional após toxina botulínica A na atividade dos membros superiores em acidente vascular cerebral crônico. O ensaio intense. | A reabilitação intensiva adicional dos membros superiores após a aplicação da toxina botulínica A em sobreviventes de AVC crônico com membros superiores deficientes não é eficaz. |
Bernardes et al. | 2021 | O Uso da Toxina Botulínica Tipo A em Pacientes com Disfunções Motoras Geradas por Síndromes Neurológicas. | A aplicação de toxina botulínica tipo A é útil e eficaz na terapia de pacientes com Disfunções Motoras causadas por síndromes neurológicas. |
Lindsay C. et al. | 2021 | O uso precoce de toxina botulínica na espasticidade pós – AVC pode reduzir o desenvolvimento de contraturas? Um estudo randomizado controlado. | A espasticidade foi menor no grupo de tratamento, a formação de contratura foi mais lenta no grupo de tratamento e a amplitude de movimento passiva foi maior no grupo de tratamento. A função do braço não foi significantemente diferente entre os grupos. |
Lannin NA et al. | 2018 | Terapia intensiva após toxina botulínica em adultos com espasticidade após acidente vascular cerebral versus toxina botulínica isolada ou terapia isolada: um ensaio piloto randomizado de viabilidade. | Fornecer terapia intensiva após a toxina botulínica A é viável para adultos com espasticidade neurológica. |
No estudo de Lannin NA et al. (2022) mostra que o “ensaio clínico completo sugere que os médicos que usam a toxina botulínica A para controlar a espasticidade em pacientes crônicos e deficientes podem esperar uma melhora nas deficiências secundárias, mas não devem esperar uma melhora no nível de atividade, mesmo com treinamento, e só podem esperar melhorias durarem a longo prazo se a toxina botulínica A estiver em andamento” concluindo que “A reabilitação intensiva adicional de membros superiores após toxina botulínica A em sobreviventes de AVC crônico com membro superior deficiente não é mais eficaz em longo prazo.”
Já Bernardes et al (2022) evidencia que “em pacientes com sequela hemorrágica intracerebral e AVC ela (toxina botulínica) atua bloqueando a conexão entre o nervo e o músculo, deixando o músculo relaxado” e defende que “a toxina botulínica não é o único tratamento para disfunções motoras causado por síndromes neurológicas, ela é considerada tratamento alternativo e é uma aliada aos demais como a fisioterapia. ”
Lindsay C. Et al. (2021) mostra em seu estudo que “O tratamento da espasticidade com toxina botulínica reduz a espasticidade e a taxa de formação de contraturas. Os efeitos do tratamento foram consistentes com o comportamento farmacocinético da toxina botulínica, sendo possíveis benefícios clínicos a longo prazo, como a redução da necessidade de dispositivos de tratamento de contraturas. ” Contudo “O tratamento precoce com toxina botulínica não facilitou a recuperação da função do braço, porém não houve evidências de que o tratamento tenha dificultado a recuperação funcional. ” Lannin NA et al. (2018) afirma que há “ a viabilidade de um ensaio que envolve a prescrição de uma dose intensiva de intervenção terapêuticas para pacientes ambulatoriais com lesão ou doença neurológica” e mostra que na Austrália existem “diretrizes que recomendam que o manejo da espasticidade moderada a grave inclua o uso de toxina botulínica tipo A, além de intervenções fisioterapêuticas. ”
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos estudos aqui presente, conclui-se que o tratamento com a toxina botulínica tipo A, tem mais efeitos positivos quando associada ao tratamento fisioterapêutico, na eficácia de diminuição de quadros álgicos e prevenções de contraturas, que podem comprometer a funcionalidade do paciente.
São poucas as evidências de que somente a aplicação da toxina botulínica tipo A seja benéfica na espasticidade a longo prazo no tratamento de paciente pós acidente vascular cerebral, os estudos comprovam que paciente com mais quantidades de aplicações, tem um resultado maior em relação a ganho de amplitude de movimento de extensão de punho, mas consequentemente perda da força muscular em relação a preensão palmar de objetos. Sugerirmos novos estudos sobre a temática abordada para melhores tratamentos.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNARDES, Nicole Blanco; MRAES, Laisa Nazareth; VASCONCELOS, Esdras Haine Soares; PEREIRA, Claudiane Daliléia; PINTO, Marcelo Pádua Carvalho; CAETANO, Carolina Costa; OLIVEIRA, Uyane Pereira da Silva. O Uso da Toxina Botulínica Tipo A em Pacientes com Disfunções Motoras Geradas por Síndromes Neurológicas. Id on Line Rev.Mult. Psic., Julho/2021, vol.15, n.56, p. 559-576, ISSN: 1981-1179.
Lannin NA, Ada L, English C, Ratcliffe J, Faux S, Palit M, Gonzalez S, Olver J, Schneider E, Crotty M, Cameron ID. Long-term effect of additional rehabilitation following botulinum toxin-A on upper limb activity in chronic stroke: the InTENSE randomised trial. BMC Neurol. 2022 Apr 25;22(1):154. doi: 10.1186/s12883-022-02672-8. PMID: 35468766; PMCID: PMC9036685.
Lannin NA, Ada L, Levy T, English C, Ratcliffe J, Sindhusake D, Crotty M. Intensive therapy after botulinum toxin in adults with spasticity after stroke versus botulinum toxin alone or therapy alone: a pilot, feasibility randomized trial. Pilot Feasibility Stud. 2018 May 22;4:82. doi: 10.1186/s40814-018-0276-6. PMID: 29796293; PMCID: PMC5963180.
Lindsay C, Ispoglou S, Helliwell B, Hicklin D, Sturman S, Pandyan A. Can the early use of botulinum toxin in post stroke spasticity reduce contracture development? A randomised controlled trial. Clinical Rehabilitation. 2021;35(3):399-409. doi:10.1177/0269215520963855
Autoras: Acadêmicas Alessandra Alencar Chaves E Isabella Magalhães De Castro 10º período do Curso de Fisioterapia, Uninorte, Manaus.
Endereço: Av. Djalma Batista, 2056 – Parque Dez de Novembro, Manaus – AM, 69050-010 | (92) 3212-5000.
Orientador: Especialista Natália Gonçalves, Docente do Centro Universitário do Norte.