AVALIAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO TEOR PROTEICO DE SUPLEMENTOS ALIMENTARES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10204819


Adriana Fabíola da Silva1
Douglas Weber Vieira2
Araceli Scalcon3
Hugo M. Tiggemann4


Resumo: A proteína está presente em diversos alimentos e seu consumo é essencial por humanos, por contribuir com várias funções do nosso organismo, atualmente é bastante consumida em forma de suplementos nutricionais, os quais vêm ganhando popularidade no mercado, seu consumo se dá principalmente pelas pessoas que buscam obter uma melhor qualidade de vida e boa forma por meio da atividade física, promovendo a construção muscular. A proteína do soro de leite contém mais aminoácidos do que o recomendado para crianças de 2 a 5 anos e adultos, tornando esta fonte de proteína a fonte mais concentrada de aminoácidos essenciais em comparação com outras fontes de proteína existentes. Além disso seu uso em abordagens nutricionais para aumentar o acúmulo de proteína muscular pela modulação das taxas de síntese proteica tem recebido muita atenção nos últimos anos. Vários estudos demonstraram que a proteína do soro do leite conhecida como whey protein contém altos níveis de bcaas, favorecendo assim o processo de perda de gordura corporal através de mecanismos relacionados com o cálcio. Porém segundo alguns estudos há informações errôneas nos rótulos de diversos suplementos alimentares, indicando a necessidade de maior controle de qualidade desses produtos, para avaliação do teor de proteínas o método comumente usado para determinação é o método de Kjeldahl. Neste trabalho abordaremos o assunto referente a quantificação de proteínas em suplementos alimentares, verificando as quantidades descritas nas rotulagens dos produtos estão de acordo com o encontrado no produto de fato.

Palavras-chave: Proteína, Suplementos, whey protein.

Abstract: Protein is present in several foods and its consumption is essential by humans, as it contributes to various functions of our body, it is currently widely consumed in the form of nutritional supplements, which have been gaining popularity in the market, its consumption occurs mainly by people who seek to achieve a better quality of life and good shape through physical activity, promoting muscle building. Whey protein contains more amino acids than recommended for children ages 2 to 5 and adults, making this protein source the most concentrated source of essential amino acids compared to other protein sources out there. Furthermore, its use in nutritional approaches to increase muscle protein accumulation by modulating protein synthesis rates has received much attention in recent years. Several studies have shown that whey protein known as whey protein contains high levels of BCAAs, thus favoring the process of losing body fat through mechanisms related to calcium. However, according to some studies, there is erroneous information on the labels of several food supplements, indicating the need for greater quality control of these products. To evaluate the protein content, the method commonly used for determination is the Kjeldahl method. In this work we will address the subject of protein quantification in dietary supplements, checking that the amounts described on product labels are in accordance with what is actually found in the product.

Keywords: Protein, Supplements, whey protein.

1. INTRODUÇÃO

Com tantas evidências científicas comprovando o efeito da atividade física na melhoria da qualidade de vida e também através das recomendações de muitos serviços de saúde, a prática de exercícios físicos em locais especializados como academias estão sendo muito procurados. Recentemente com a conscientização da importância de uma alimentação adequada, pois esta desempenha um papel crucial na manutenção da saúde e no aprimoramento do desempenho físico. Isso se deve à estreita relação entre atividade física e nutrição, uma vez que uma ingestão equilibrada de nutrientes como carboidratos, proteínas, gorduras, minerais e vitaminas otimiza os resultados (BOSQUESI, et al 2016).

Estudos vêm demonstrando as qualidades nutricionais das proteínas do soro do leite que é a porção aquosa gerada durante o processo de fabricação do queijo, conhecidas como whey protein. Foi a partir da década de 70, que os cientistas passaram a estudar as propriedades dessas proteínas, antes disso o soro do leite era descartado pela indústria. Apesar das qualidades e benefícios do whey protein, existem produtos no mercado que não oferecem qualidade ou quantidades adequadas destas proteínas, por conta disso devem ser periodicamente analisadas. Essas análises servem de base para identificação de possíveis adulterações nos produtos, garantindo a qualidade, segurança e sua eficácia. Um dos métodos utilizados com o objetivo de quantificar proteínas em suplementos alimentares é o método de Kjeldahl, que pode ser usado para avaliar se a concentração está adequada conforme o indicado no rótulo do produto. Este método é baseado na determinação do nitrogênio orgânico total que consiste em digestões ácidas, destilação e titulação para calcular a quantidade de proteína contida na amostra. (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008).

Popularmente conhecido como whey protein, o suplemento proteico para atletas nome pelo qual é classificado pela Anvisa – consiste em um produto à base da proteína do soro do leite, uma proteína de baixo peso molecular com alto valor biológico de proteína e grande capacidade de absorção.(INMETRO) .

Com base nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi quantificar e avaliar o teor de proteínas em diferentes marcas de suplementos alimentares.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização do trabalho foram selecionadas dez marcas de suplementos alimentares classificados como whey protein. Estas amostras foram selecionadas em detrimento de outras por serem as mais utilizadas no momento entre os doadores de amostras. Sendo utilizada para as análises de 200 a 700 mg de amostra, previamente homogeneizadas. Foi utilizado o método de Kjeldahl (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das amostras de whey protein foram feitas em triplicatas, as marcas foram classificadas de A a J, e foram calculados as médias, as medianas e os desvios padrões, o resultado está expresso na Tabela 1.

Tabela 1. Resultados da análise de proteína das amostras expressa em percentual de peso da amostra.

AmostrasAnálise 1Análise 2Análise 3MédiaMedianaDesvio Padrão
A28,06%26,93%28,63%27,87%28,06%0,63
B51,27%54,18%59,42%54,96%54,18%2,98
C68,01%64,65%61,15%64,61%64,65%2,30
D37,61%39,18%39,71%38,83%39,18%0,81
E41,63%44,62%42,95%43,07%42,95%1,04
F40,53%37,39%37,93%38,62%37,93%1,27
G24,71%24,91%24,06%24,56%24,71%0,33
H25,44%26,61%27,85%26,63%26,61%0,81
I42,56%39,80%41,13%41,16%41,13%0,93
J41,77%38,85%39,96%40,19%39,96%1,05

Ao observar os resultados das análises é possível notar que a média e a mediana estão próximas indicando uma baixa variação nas análises, que pode ser confirmada com o desvio padrão possuindo assim uma boa precisão nos resultados. Os maiores desvios são das amostras B e C, de aproximadamente 3 e 2,3, respectivamente, em relação ao ponto central. Este é um valor baixo é considerado aceitável visto que o método de Kjeldahl é um método volumétrico onde qualquer variação de temperatura, erro na leitura de menisco ou até mesmo troca de vidraria pode alterar os resultados.

A análise do teor de proteína encontrada em relação ao declarado no rótulo é mostrada na Tabela 2. As amostras D, H, I, e J tiveram uma baixa variação abaixo de 5% do declarado no rótulo, podendo estas estarem apenas no erro do método aplicado.

As amostras A, F, G tem variação entre 5 e 10 %. Segundo a RDC 243/2018, os limites das informações nutricionais nos rótulos devem ser observados de acordo com a RDC 360/2003, que foi substituída pela RDC 429/2020. A resolução estabelece que a variação das proteínas não deve ser menor que 20 % do valor declarado no rótulo. Dessa maneira, as marcas estão dentro do limite.

Tabela 2. Teor de proteína encontrado em relação ao especificado no rótulo.

AmostrasMedianaValor declarado
no rótulo
Variação em
relação ao
declarado no
rótulo
A28,06%30%– 6,45 %
B54,18%54%+ 0,33 %
C64,65%40%+ 61,62 %
D39,18%40%– 2,04 %
E42,95%50%– 14,10 %
F37,93%42%– 9,69 %
G24,71%27%– 8,49 %
H26,61%27%– 1,44 %
I41,13%40%+ 2,83 %
J39,96%40%– 0,09 %

A amostra E tem 14 % a menos do valor declarado no rótulo, estando dentro dos limites estabelecidos pela resolução vigente (RDC 429/2020). Contudo, a marca foi considerada inadequada pelos autores, visto que o cliente paga por 50 % proteína e tem apenas 43 % podendo, em alguns casos, prejudicar uma dieta relativamente balanceada.

Em contraponto, temos a marca C, no qual está declarado 40 % de proteína e tem 64,65 % ou seja, uma variação de aproximadamente 62 % a mais do que foi declarado.

Um teor de proteína maior do que o declarado não apresenta qualquer tipo de restrição pela ANVISA, ou seja, não tem limite superior para este caso. Entretanto, pode-se questionar que em uma dieta balanceada, o excesso de proteínas neste caso acima de 60% do declarado pode trazer consequências prejudiciais ao consumidor. Além disso, levanta algumas suspeitas em relação a qualidade do produto, visto que a amostra foi doada na cidade de Toledo-PR que tem uma proximidade com a fronteira do Paraguai e poderia ser uma falsificação, que contenha outra proteína junto ou algum produto químico que aumenta o percentual de proteína, como a ureia, por exemplo. Dessa maneira, a marca C também foi considerada inadequada.

4. CONCLUSÃO FINAL

Todas as amostras testadas estavam dentro do que preconiza a legislação vigente. Entretanto, as amostras E e C foram consideradas como inadequadas pelos autores, por poderem ocasionar eventualmente algum dano no consumidor, por não ter conhecimento da quantidade de proteína que estão consumindo.

Os autores consideram que, pelo fato do suplemento alimentar ser utilizado por atletas, pessoas que apresentam algum problema de saúde relacionado a alimentação ou mesmo por pessoas que estão atentas aos cuidados com saúde, deve ser realizado um controle maior e mais restrito em relação ao valores nutricionais deste produto, para que não haja nenhum prejuízo na saúde destes consumidores.

5. REFERÊNCIAS

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