O PAPEL DA FARMÁCIA MAGISTRAL NA PERSONALIZAÇÃO DE FÁRMACOS NA TERAPIA INFANTIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10200296


Leandro Rossi de Souza Guimarães;
Orientador: Me. Carlos Klinger Rodrigues Serrão. 


Resumo 

A personalização de medicamentos magistrais possui um papel importante na área da saúde, pois visa atender o público infantil e suas individualidades com formulações inovadoras que favorecem o uso racional de medicamentos e adesão ao tratamento terapêutico. As formas farmacêuticas convencionais utilizadas atualmente apresentam algumas desvantagens para as crianças, como: tamanho de cápsulas que dificultam a deglutição e sabores desagradáveis de fármacos que aumentam a rejeição pelo público infantil. Com base nisso, o objetivo deste trabalho foi identificar nas literaturas recentes novas formas farmacêuticas que atendam às necessidades do público pediátrico. Foi realizada uma revisão de literatura nas bases de dados Google Acadêmico, PubMed e SciELO, no período de 2013 a 2023, utilizando as palavras chave “magistral” “pharmacy” “pharmaceuticals”, “child” e “personalize”. Foram abordadas neste trabalho formas farmacêuticas atrativas que simulam alimentos e beneficiam a terapia infantil, tais como: chocolates, pirulitos e goma medicamentosa.   

Palavras chave:  “magistral” “pharmacy” “pharmaceuticals”, “child” e “personalize”. 

Summary 

The personalization of magistral medicines has an important role in the area of health, as it aims to meet the pediatric public and their individualities with innovative formulations that favour the rational use of medicines and adherence to therapeutic treatment. The conventional pharmaceutical forms currently used have some disadvantages for children, such as: capsule size that makes it difficult to swallow and unpleasant flavors of drugs that increase rejection by the children’s audience. Based on this, the aim of this work was to identify in recent literature new pharmaceutical forms that meet the needs of the paediatric public. A review of the literature in the Google Academic, PubMed and SciELO databases was carried out in the period from 2013 to 2023, using the keywords “magistral”, “pharmacy”, “Pharmaceuticals”, “child” and “personalize”. Attractive pharmaceutical forms that simulate food and benefit child therapy have been addressed in this work, such as: chocolates, pirulites and medicinal rubber. 

Keywords: “magistral” “pharmacy” “pharmaceuticals”, “child” e “personalize”. 

1 INTRODUÇÃO 

A farmácia magistral são operações e procedimentos, realizados em condições de qualidade e rastreabilidade em todo o processo, que transforma insumos em produtos magistrais, para dispensação direta ao usuário ou a seu responsável, com orientações para seu uso seguro e racional (BRASIL, 2007).  

Em uma farmácia magistral, as formulações devem ser preparadas de acordo com o Manual de Boas Práticas de Manipulação em Farmácias (BPMF) que envolve: infraestrutura adequada, boas condições de higiene pessoal, de equipamentos e do local, garantia de qualidade dos processos e produtos, controle de qualidade, qualificação de distribuidores, capacitação dos funcionários, seguir as atividades definidas e descritas em Procedimento Operacional Padrão (POP) confeccionado e revisado pelo estabelecimento, onde estão relacionados os quesitos para aquisição, recebimento, armazenamento, manipulação, dispensação e serviços farmacêuticos (BRASIL, 2007). 

Existem inúmeros benefícios proporcionados pelos medicamentos manipulados em relação aos industrializados, dentre essas: as necessidades específicas ou até únicas do prescritor e do paciente; a versatilidade posológica; a viabilização de associações de princípios ativos, já que muitos pacientes tomam vários medicamentos por dia; personalização de rótulos, evitando troca de medicamentos; escolha da forma farmacêutica e excipientes; menor custo; obstáculo à automedicação, já que são produzidos a partir de uma prescrição de profissional habilitado contendo informações como composição, forma farmacêutica, posologia e duração do tratamento. Enfim, permite a adição de adjuvantes melhorando a adesão e cumprimento do tratamento pelo paciente (FRANCO; LOPES, 2015). 

Uma das razões primordiais para a preparação de medicamentos manipulados decorre da necessidade de obtenção de preparações adequadas para uso pediátrico, já que, com frequência, neste domínio, há necessidade de administrar substâncias ativas que apenas se encontram disponíveis sob a forma de especialidades farmacêuticas em dosagens e/ou formulações destinadas a adultos. (MÉNDEZ, 2006). 

 O processo de maturação biológica em crianças encontra-se em constante desenvolvimento, por isso, o fármaco prescrito por um profissional habilitado, deve acompanhar o desenvolvimento infantil, levando-se em conta: peso, altura e idade. O desafio de ser atrativo, seguro e eficaz é um comprometimento que a farmácia magistral possui com as crianças para o bom resultado de uma dose eficaz (MOREIRA et al, 2020). 

Diferente das farmácias industriais, na farmácia magistral, existe a possibilidade de customização de determinado fármaco para atender as necessidades específicas de cada indivíduo.  A farmácia magistral busca desempenhar um papel fundamental na prescrição e administração de medicamentos para toda a faixa etária, estimulando o uso racional de medicamentos através de formulações diferenciadas e customizadas. 

A personalização de fórmulas magistrais pediátricas possui grande importância no atendimento do público infantil. Devido ao processo de desenvolvimento, as crianças estão em constante maturação, sendo necessário que exista uma atenção nas formas de administração de medicamentos. Além do processo de maturação, existe a necessidade de atender crianças com determinadas limitações no processo de deglutição, tendo em vista as muitas particularidades de cada criança, tais como: paladar não amadurecido, disfagia, as dificuldades de pacientes neurodivergentes, seletividade alimentar, dentre outros. 

Para atingir o propósito da prescrição médica\farmacêutica, as formulações visam ser os mais palatáveis e agradáveis possíveis, para cumprir o seu objetivo final de carregar o medicamento até o local de destino e no plano de atender um público mais jovem, a farmácia magistral procura diversificar formulações que atendam com segurança, eficácia e boa aceitação pelo público infantil.  Existem formulações que foram desenvolvidas para suprir essa grande demanda que atendem as boas práticas de manipulação, garantindo que os produtos manipulados estejam dentro dos padrões adequados de qualidade e segurança, desde o manuseio até o produto final.  

Este trabalho propõe abordar a importância da farmácia de manipulação na personalização de medicamentos para atender a demanda dos pacientes infantis, citando as formas farmacêuticas e descrevendo a importância da personalização de medicamentos como: goma, pirulito e chocolate medicamentoso, nos levando a discutir as boas práticas de manipulação destes medicamentos. 

2 METODOLOGIA 

Foi realizada revisão de literatura do tipo narrativa, seguindo com a seleção dos artigos, teses, dissertações e livros correspondentes à área. Estes materiais foram separados por assunto conforme a relevância do tema que se propõe a investigar. A pesquisa foi realizada em banco de dados da área da Saúde como: Electronic Library Online (SCIELO), Google acadêmico, National Library of Medicine (PubMed), além de livros periódicos nacionais e internacionais. 

Foram utilizados os seguintes descritores: “magistral” “pharmacy” “pharmaceuticals”, “child” e “personalize” em inglês e português. Foram selecionados artigos publicados no período de 10 anos, entre os anos de 2013 a 2023, e após essa etapa, foi realizada a leitura dos artigos pelos resumos para fazer a inclusão dos trabalhos que possuíam relação ao tema, enquanto o critério de exclusão foi os artigos publicados antes do ano de 2010. Foram selecionados 50 artigos e livros, porém apenas 30 foram classificados como relevantes para a idealização deste trabalho. 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO  

Contexto histórico  

A Indústria Farmacêutica começou a desenvolver-se em Portugal na última década do século XIX, com a criação da Companhia Portuguesa Higiene em 1891, permitindo o fabrico em série (larga escala) de medicamentos (CRAMER, 2015). No entanto, os medicamentos industriais não satisfaziam todas as necessidades terapêuticas, fazendo com que os medicamentos manipulados, preparados em pequena escala nas farmácias comunitárias e nos serviços farmacêuticos hospitalares sob a supervisão de um farmacêutico, apresentem um papel importante na farmacoterapia atual (DOOMS, 2018).  

Como vimos na citação acima, desde o século XIX percebemos a importância da farmácia de manipulação para a sociedade, tendo em vista que a produção em larga escala de medicamentos não supria a necessidade terapêutica, prejudicando a eficácia do tratamento do indivíduo. A manipulação magistral é fundamental como complemento para a prática farmacêutica que, de acordo com a Lei nº 5991/73 o conceito de farmácia é: Estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos, correlatos e também a necessidade de um profissional farmacêutico responsável para atendimento privativo.  

No Brasil, com o passar dos tempos foram criadas leis (Lei nº 5991/73 e Lei nº 13.021, de 2014) que adequaram as farmácias de manipulação às normas da sociedade, definindo conceitos que permanecem até os dias de hoje. A Lei 13.021/14 reforça com a regulamentação, à prestação da assistência farmacêutica com destaque para o acompanhamento da terapia do paciente e a promoção do uso racional de medicamentos, também define a farmácia como sendo uma unidade de prestação de serviços, designada para assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva. A farmácia pode possuir o processo de manipulação ou a dispensação de medicamentos magistrais, oficinais, farmacêuticos ou industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos e correlatos (BRASIL, 2014). 

Medicamentos Manipulados 

No Brasil, segundo o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, há dois tipos de medicamentos manipulados, os farmacopeicos e os magistrais. O primeiro se refere ao medicamento “[…] cujo modo de preparação ou elaboração está indicado nas Farmacopeias” e o segundo “[…] destinado a um paciente individualizado”, que é “[…] produzido de forma personalizada, ou seja, para atender a uma necessidade particular de um paciente e para uso imediato” (ANVISA, 2010). O Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, compêndio digital que constitui de formulações farmacopeicas, estabelece que existe diferença entres os medicamentos manipulados, diferença esta, que relata a necessidade da personalização em determinados tipos de medicamentos, cujo a ênfase está no tratamento médico individual. Focado na personalização de medicamentos, as farmácias magistrais, ou farmácias de manipulação vem ganhando espaço, atendendo a pacientes com diversas particularidades e proporcionando bem estar e eficácia em suas terapias. O crescimento desse setor farmacêutico na área magistral está diretamente ligado à sua versatilidade e inovação que em conjunto com a ciência têm a intenção de desenvolver novas formulações farmacêuticas para alcançar cada vez mais patologias, a fim de tratá-las de maneira eficaz segundo o Conselho Regional de Farmácia do Paraná. 

A procura por medicamentos magistrais em farmácias de manipulação vem crescendo juntamente com a medicina personalizada, tendo em vista, que as farmácias atendem as necessidades de pacientes que buscam tratamentos sob medida que levam em consideração sua genética, histórico médico e preferências. 

Devido cada pessoa possuir particularidades que influenciam no seu metabolismo e fisiologia, a personalização de medicamentos permite ajustar as doses e formulações para otimizar a eficácia do tratamento, garantindo que os pacientes recebam a terapia mais adequada para as suas condições de saúde. ( FERREIRA, 2018).  

A possibilidade de customizar a terapia de doentes específicos nos fornece a importância para a preparação de medicamentos manipulados, porque existem medicamentos industrializados que usam como veículos alguns excipientes (talco, estereato de magnésio, dióxido de silício, lauril) não tolerados por alguns doentes, não apresentam as concentrações adequadas às suas necessidades específicas, ou não estão em formas farmacêuticas mais apropriadas (BARBOSA, 2010). 

Personalização de Medicamentos Infantis  

A personalização de medicamentos é uma prática farmacêutica que envolve a formulação de medicamentos de acordo com as necessidades individuais do paciente. Existem várias formas farmacêuticas que podem ser utilizadas na personalização de medicamentos, que além de manter a qualidade e segurança do tratamento, seguem com a eficácia de uso terapêutico. 

A forma farmacêutica de um medicamento corresponde às diferentes formas físicas nas quais os medicamentos podem ser apresentados, e são umas das características determinantes para o sucesso de um tratamento terapêutico. Pois, além de garantir a segurança e eficácia de um medicamento, é fundamental que ela seja capaz de facilitar sua administração, a fim de proporcionar o mínimo de conforto para o paciente e, consequentemente, aumentar a adesão ao tratamento (AULTON & TAYLOR, 2013).  

Devido às crianças estarem em fase de crescimento e desenvolvimento biológico, é necessário que exista um cuidado mais criterioso por parte da medicina. Os pacientes pediátricos têm necessidades de saúde distintas em comparação com adultos devido às mudanças físicas, emocionais e sociais que ocorrem durante o processo de crescimento. (IVANOVSKA et al, 2014).  

Os pacientes infantis estão divididos em 5 fases que decorrem entre a idade de 0 à 18 anos, estão divididos entre: prematuro, recém nascido, lactente, criança e adolescente. As diferenças bioquímicas, fisiológicas e físicas como, por exemplo: quantidade de água presente no corpo, porcentagem de gordura, superfície corporal, capacidade de deglutição, dentre outros, muitas das vezes difere dos adultos, atestando a necessidade de cuidados de saúde adequados às necessidades dos pacientes para garantir seu bem estar e desenvolvimento saudável. (MONTERO-PADILLA et al, 2016; ALI et al, 2014 ).  

Na pediatria, a forma farmacêutica possui um papel importante como complementação terapêutica, tornando-se uma aliada para converter o medicamento em algo mais vistoso, convidativo e agradável. Dependendo da idade algumas crianças apresentam aversão ao deglutir certo tipo de medicamentos, como em forma líquida, por possuírem sabores desagradáveis e serem desconfortantes e em forma sólida como cápsulas e comprimidos que causam  uma disfagia contribuindo para a ineficiência do tratamento (BOATENG et al, 2017).  

Formas Farmacêuticas Magistrais Pediátricas  

As formas farmacêuticas magistrais pediátricas são formulações personalizadas de medicamentos preparadas sob medida para atender às necessidades específicas de crianças, levando em consideração fatores como idade, peso, condições médicas e preferências do paciente. Essas formulações podem ser desenvolvidas por farmacêuticos especializados para garantir que a dosagem, sabor e forma do medicamento sejam adequados para crianças, tornando o tratamento mais eficaz e aceitável. (AULTON & TAYLOR, 2013). 

A tecnologia farmacêutica contribui bastante na pesquisa e desenvolvimento de formas farmacêuticas para atender pacientes pediátricos na aceitação e administração de medicamentos, para isso, foram criadas formas farmacêuticas que se parecem com alimentos, tais como: goma medicamentosa, pirulito e chocolate mantendo a eficácia e adesão ao  medicamento.  (MOREIRA et al, 2020). 

Existem várias formas farmacêuticas que podem ser utilizadas na personalização de medicamentos, que além de manter a qualidade e segurança do tratamento, seguem com a eficácia de uso terapêutico e o uso de goma medicamentosa se encaixa em formas farmacêuticas que beneficiam pacientes que sofrem de disfagia. 

Goma Medicamentosa 

As gomas medicamentosas são preparações de dose única, preparadas para serem mastigadas, mas não deglutidas. As gomas destinam-se ao tratamento local de infecções bucais ou a tratamentos sistêmicos através da absorção pela mucosa bucal ou gastrointestinal, após dissolução ou dispersão da substância ativa na saliva (FERREIRA, 2018). 

Existem vários benefícios em goma medicamentosa que auxiliam no tratamento infantil como praticidade e facilidade na administração, deglutição sem água, boa estabilidade da formulação, aumento da biodisponibilidade, além de mascarar o sabor do fármaco deixando-o mais agradável, ajudando na absorção sem interferir na dose administrada prescrita pelo responsável (ALMURISI et al, 2020; KIM et al, 2020).  

 INÁCIO et al, (2022) desenvolveram goma medicamentosa para tratar crianças com problemas de insônia. Os autores utilizaram como princípio ativo os extratos de  Passiflora incarnata, Melissa sp. O método de combinação que foi utilizado, associado às substâncias citadas, alcançaram o objetivo esperado, assim , otimizando o sono e o desenvolvimento infantil. 

Estudos realizados pela farmácia magistral (INFINITYPHARMA,sd) sugerem o sucesso da goma em extrato seco de Citrus aurantium ( laranja) auxiliando na queima de gordura corporal  na dosagem de 1600 mg/dia sendo divididas em até 5 tomadas, cada dose deve ser ingerida pela metade antes das refeições, reforçando que é possível o desenvolvimento de gomas que contenham o fitoterápico para um tratamento dietético. 

Um estudo feito por RAMOS (2017) destacou a possibilidade de administração de prednisolona na forma de goma medicamentosa, apresentando particularidades que mantiveram a homogeneidade e características organolépticas do fármaco, contribuindo para uma boa administração e absorção no organismo. 

Levando em consideração a forma atrativa do medicamento SEMWAL et al, (2010) ressalta que com o aumento da biodisponibilidade no organismo, é importante a necessidade de uma atenção redobrada no ajuste da dose, para que não aconteça uma superdosagem do medicamento, pois a taxa de liberação do fármaco depende da mastigação do paciente e isso varia entre indivíduos. No quadro 1 é apresentado a fórmula de goma gel base e seus excipientes.

Quadro 1 – Fórmula Goma-Gel Base disponível na literatura.

Insumos Quantidades Função 
Base de Gelatina 43g Excipiente 
Aerosil 0,5g Agente Suspensor 
Goma Arábica 0,72g Agente Suspensor 
Aspartame 0,9g Edulcorante 
Ácido Cítrico 2,4g Acidulante 
Flavorizante 14-18 gotas Flavorizante 
Corante q.s Corante 

Fonte: Adaptado de Ferreira, 2018. 

Nos quadros 2, 3 e 4 são apresentadas sugestões de formulações: 

Quadro 2 – Goma mastigável de Coenzima Q10

Quadro 3 – Goma mastigável com Fluoreto de Sódio

Quadro 4 – Goma Mastigável com Ácido Lipóico

Pirulito Medicamentoso

O pirulito medicamentoso é uma forma farmacêutica que favorece na administração de medicamentos, pois contém fármacos em sua composição que auxiliam na adesão ao tratamento terapêutico. A matéria prima é veiculada em base geralmente, flavorizada e edulcorada que demora de 10 a 15 minutos dissolvendo-se lentamente na boca possibilitando que o ativo seja absorvido na mucosa oral sendo degradado posteriormente no trato intestinal. (FERREIRA, 2018).  

Como parte do insumo é absorvido pela mucosa oral, traz efeitos benéficos para o público pediátrico, pois favorece um início de ação mais rápida no organismo, reduz o metabolismo de primeira passagem, aumenta a biodisponibilidade no organismo, evita possíveis efeitos adversos ao trato gastrointestinal¸ além de possuir efeito local e sistêmico (JAGADEESH et al, 2017). 

Esta forma farmacêutica pode agregar vários ativos, possibilitando assim, ajudar o público pediátrico que possui dificuldade de deglutição com formas sólidas, e devido ao aspecto e sabor agradável torna-se uma indicação favorável como opção de forma farmacêutica para o público infantil. (FERREIRA, 2018). 

Por apresentar uma mistura de açúcares e outros carboidratos em condições cristalinas que requerem alta temperatura para seu preparo, o pirulito deve trabalhar com ativos farmacêuticos que possam se submeter a altas temperaturas.  

SILVA et al, sd desenvolveram pirulitos medicamentosos acrescentando cafeína (termoestável) como suplemento para atletas, e após vários testes foi constatado que a base com sacarose como edulcorante possuem características que contribuem para uma boa incorporação do fármaco garantido a eficiência da dissolução gradativa na mucosa oral. 

Visando pacientes com dificuldades de deglutição, Hejaz e colaboradores (2020), desenvolveram pirulitos medicamentosos e após vários testes foi observado que, os componentes para a fórmula de pirulito devem ser cuidadosamente escolhidos para alcançarem uma medida satisfatória para liberar o fármaco de forma adequada.  A importância de trabalhar com ativos termoestáveis é fundamental, pois é necessário aquecer os itens da fórmula a uma temperatura de 110 ºC para o resultado positivo da medicação. 

O pirulito medicamentoso deve atender a certas características como: apresentar teor de umidade entre 0,5 a 1,5%, desintegração lenta e uniforme, peso entre 7 a 8 g e sabor agradável aliado à capacidade de mascarar os sabores desagradáveis dos ativos. (FERREIRA, 2018).  

Por conter a presença de açúcar (sacarose), ou de seus derivados em sua constituição, é necessária uma atenção intensificada sobre o uso do medicamento, o paciente deve ser orientado, corretamente, sobre a finalidade dos pirulitos, pois além do seu consumo em demasia acarretar a possibilidade de enfermidades, como cáries e diabetes, os medicamentos devem ser chupados e não mastigados, evitando assim, uma dosagem excessiva do insumo farmacêutico (MENEZES et al, 2010; FERREIRA, 2018). No Quadro 5 é apresentada a fórmula base de pirulito medicamentoso e seus excipientes.        

Quadro 5 – Fórmula base edulcorada e flavorizada de pirulito disponível na literatura

Ingredientes Quantidade 
*Ativos(s) q.s.p (concentração prescrita) 
**Álcool q.s.p ( se necessário, para diluir o ativo ) 
**Água q.s.p ( se necessário, para diluir o ativo ) 
***Propilenoglicol q.s.p ( se necessário, para dispersar o ativo ) 
Sacarina Sódica 0,1g 
Aspartame 1g 
Goma Arábica 3,5g 
Goma Xantana 3,5g 
Flavorizante 1ml 
Goma Gel Base 100g 

Fonte: Adaptado de Ferreira, 2018.

Sugestões de Formulações:

Quadro 6 – Pirulito anestésico com cloridrato de tetracaína:

Quadro 7 – Pirulito de gelatina com Nistatina e Lidocaína

Quadro 8 – Pirulito de gelatina com Sulfato de Morfina

Segundo Ferreira (2018), são diversos os fármacos que podem ser incorporados a essa base farmacêutica inovadora; dentre eles, as vitaminas, os minerais, os anestésicos, os antiinflamatórios, os princípios ativos adstringentes, os corticosteroides, os analgésicos e os antibacterianos de ação local, entre outras combinações de fármacos. 

Chocolate Medicamentoso 

Chocolate medicamentoso é o termo usado para nomear chocolates que são enriquecidos com insumos farmacêuticos benéficos para a saúde. Isso pode incluir o acréscimo de várias substâncias como: nutrientes, minerais, vitaminas ou compostos antioxidantes como os flavonoides (GIGLIO et al., 2018). 

O chocolate é feito a partir do cacau, que contém compostos flavonoides que são associados a vários benefícios para a saúde. EFRAIM et al., (2011) cita que o cacau tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que promovem a diminuição do LDL ( Low Density Lipoprotein ) e também contribuem para diminuição de problemas cardiovasculares.  

A aplicação de formas farmacêuticas mais modernas como o chocolate medicamentoso, busca minimizar problemas de crianças que possuem dificuldades de aderência a determinados medicamentos. Quando o medicamento é dispensado em um veículo mais agradável e atraente como o chocolate, a aceitação pela a adesão terapêutica aumenta, ajudando o sucesso pretendido pela farmacoterapia. SILVA, et al, sd . 

Considerando a dificuldade das crianças na aceitação à tratamentos terapêuticos convencionais VASCONCELOS et al, (2022) desenvolveram chocolate medicamentoso contendo o ativo farmacêutico ácido fólico e constataram que a forma farmacêutica não apresentou  mudanças que pudessem oferecer prejuízos aos indivíduos avaliados, a amostra apontou resultados satisfatórios, o que pode sugerir, novas pesquisas em relação à essa formulação contemporânea. 

DA SILVA, et al, sd cita a criação de chocolate dietético contendo Olea europaea que tem como propósito ajudar pacientes que sofrem de diabetes, “  O trabalho demonstrou que é possível obter formulações de chocolate dietético adequados quando se utiliza a base de chocolate Chocolife® cacau 50% com a incorporação de extrato seco de um fitoterápico e adjuvantes com ação edulcorante que visem melhorar o paladar do produto final e, assim, tornar o produto mais aceitável ao público”. 

Cheung (2017) desenvolveu uma barra de chocolate contendo o benzodiazepínico midazolam. Geralmente o fármaco é utilizado para sedação pré-cirúrgica de crianças. O ativo possui sabor amargo, criando assim, uma repulsa por parte dos pacientes pediátricos, mas depois de adicionado o fármaco a uma forma farmacêutica mais atrativa e saborosa, como o chocolate, proporcionou uma maior aceitação do fármaco pelos pacientes infantis, sem interferir no objetivo da farmacoterapia.  

Apesar dos benefícios oferecidos, esta forma farmacêutica deve ser mantida longe do alcance das crianças, pois medicamentos que simulam alimentos carregam consigo um risco potencial para pacientes pediátricos. A aparência e o sabor agradável semelhante à “doces”, aumentam o risco de acidentes devido a ingestão inadvertida do medicamento por crianças. 

No Quadro 9 é apresentada a fórmula de chocolate base e seus excipientes. 

Quadro 9 –  – Fórmula chocolate base disponível na literatura.

Ingredientes %Função 
Goma arábica 1,60  agente suspensor 
Sílica Gel 1,0   agente suspensor 
Sacarina Sódica 0,4   edulcorante 
Aspartame 1,0   edulcorante 
Flavorizante de Chocolate 0,5   flavorizante 
Chocolate Base 95,5  excipiente 

Fonte: Adaptado de Ferreira, 2018.

Sugestões de Formulações:

Quadro 10 – Chocolate Antianêmico

Quadro 11 – Chocolate Emagrecedor

Quadro 12 – Suplementação Vitamínica Pós Bariátrica

4 CONCLUSÃO  

Neste trabalho, foram levantados estudos que comprovam o desenvolvimento e a necessidade do uso de medicamentos personalizados destinados à comunidade infantil. Foram descritos estudos que falam desde o conceito histórico até a manipulação direta dos insumos e matéria prima de uso farmacêutico, dentre todas as problemáticas levantadas e detalhamento de fórmulas que no decorrer do trabalho foram abordados, o levantamento bibliográfico foi de suma importância, onde por meio de revisão de literatura e citações, foi possível comparar e comprovar as informações aqui descritas. Com isso é possível apreciar um resultado proveitoso e com a credibilidade que o trabalho exige, garantindo assim que todos os objetivos estabelecidos pudessem ser cumpridos de maneira satisfatória.  

Este estudo também enfatiza a heterogeneidade de indivíduos e suas particularidades, enxergando em especial as necessidades de pacientes pediátricos.  Com essa abordagem pode se justificar a necessidade desse estudo e dar ênfase às problemáticas envolvidas neste tema: O papel da farmácia magistral, na personalização de fármacos, na terapia infantil. 

5 REFERÊNCIAS  

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