ACUPUNTURA PARA TRATAMENTO DE SÍNDROME DE CAUDA EQUINA EM FELINOS

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10185116


¹Fernando José Garlini
²Jelson Soares Chioro
³Igor Rossow Vidal


RESUMO

A cauda equina é constituída pelas ligações nervosas que vem do canal vertebral, especificamente L6, L7 e vertebras sacrais. A lesão nessa região é denominada síndrome de cauda equina e se difere de qualquer outra afecção encontrada em partes diferentes da medula espinhal, pois sua anatomia é peculiar, acometendo normalmente cães de grande porte, sendo muito rara em felinos. Os sinais possuem vários graus de gravidade e podem causar afecções secundárias, afetando desde membros pélvicos, bexiga, esfíncter anal e a cauda até paralisia completa dos membros pélvicos e incapacidade de evacuação do animal. A laminectomia é descrita em diversos trabalhos como tratamento mais indicado, porém não se pode descartar as terapias integrativas como um tratamento conservativo, acompanhados ou não de AINEs e corticoides. A terapia integrativa como a acupuntura associada a ozonioterapia obteve em vários trabalhos, bons resultados sem colaterais no paciente, que recuperou sua propriocepção sem intervenção cirúrgica. O objetivo primário deste trabalho é destacar a eficácia do tratamento conservativo com uso da acupuntura associada a ozonioterapia na síndrome da cauda equina em felino.

ABSTRACT

The tail equina is made up of the nerve connections that come from the spinal canal, specifically L6, L7 and sacral vertebrae. The lesion in this region is called cauda equina syndrome and differs from any other condition found in different parts of the spinal cord, as its anatomy is peculiar, normally affecting large dogs, being very rare in felines. The signs have varying degrees of severity and can cause secondary conditions, affecting everything from the pelvic limbs, bladder, anal sphincter and tail to complete paralysis of the pelvic limbs and the animal’s inability to evacuate. Laminectomy is described in several studies as the most recommended treatment, but integrative therapies cannot be ruled out as a conservative treatment, whether or not accompanied by NSAIDs and corticosteroids. In several studies, integrative therapy such as acupuncture associated with ozone therapy has obtained good results without collaterals in the patient, who recovered his proprioception without surgical intervention. The primary objective of this work is to highlight the effectiveness of conservative treatment using acupuncture associated with ozone therapy in cauda equina syndrome in felines.

1.    INTRODUÇÃO

A síndrome de compressão da cauda equina é uma condição relatada em cães de várias idades e raças, embora seja rara em felinos. Pode resultar de causas traumáticas ou não-traumáticas e envolve uma complexa manifestação de sinais neurológicos decorrentes da compressão das raízes nervosas da cauda equina. Essas raízes estão localizadas entre a sétima vértebra lombar e a quinta vértebra coccígea devido à estenose dorsoventral do canal vertebral. Importante notar que a estenose pode ter várias origens QUEIROZ, (2021).

A síndrome da cauda equina pode ter origem congênita ou adquirida e algumas das causas são: malformações, neoplasias, fratura, discoespondilose e degeneração da articulação ARIAS, (2015).

Os sinais mais comuns dessa síndrome incluem dor na região lombossacral, claudicação dos membros pélvicos, como possíveis sintomas de incontinência urinária e/ou fecal. Animais afetados frequentemente têm dificuldade em realizar tarefas comuns, como pular ou subir escadas, sendo que a atividade física tende a agravar os sinais clínicos NELSON, COUTO citado por QUEIROZ, (2021).

O diagnóstico é realizado por meio do histórico do animal, achados em exames físicos e neurológicos, bem como exames de imagem para localizar a lesão. Os achados nos exames físicos podem incluir déficits proprioceptivos, atrofia muscular, paraparesia progressiva, debilidade da cauda, automutilação e distúrbios dos esfíncteres, com incontinência urinária e fecal NELSON, COUTO citado por QUEIROZ, (2021).

O tratamento é altamente dependente da causa e gravidade das lesões, baseando-se principalmente na restrição de movimentos, administração de AINEs e tratamentos conservativos. Em certas situações, o encaminhamento cirúrgico pode ser necessário JEFFERY, citado por QUEIROZ, (2021).

As terapias integrativas, como a ozonioterapia, laserterapia e acupuntura, podem ser introduzidas como adjuvantes na recuperação de diferentes afecções do paciente, e vêm crescendo sua aplicabilidade na medicina veterinária. A ozonioterapia é uma técnica complementar que consiste na utilização do gás ozônio medicinal. Este se constitui um gás instável, incolor, com odor característico e se forma por meio de descargas elétricas sobre uma molécula de oxigênio medicinal. Como artifício terapêutico, potencializa a ação cicatrizante, acelerando a resolução das lesões. Além disso, possui propriedades viricida, fungicida e bacteriana, atua como agente antiálgico, antisséptico e anti-inflamatório. O objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão de literatura a respeito da ozonioterapia, levando em conta suas principais indicações, via de administração, efeitos adversos e positivos, bem como o auxílio do tratamento associado a condutas terapêuticas dentro da medicina veterinária. LUNA, (2017) A ozonioterapia é uma técnica de tratamento ampla, melhorando a oxigenação e metabolismo do corpo PINO et al., (1999), podendo oferecer efeitos bactericidas, fungicidas, imunomodulatórios, viricidas e melhora também a circulação sanguínea dependendo das doses e concentrações utilizadas GUERRA et al., (1999), reduz a adesão plaquetária, atuando como analgésico, anti-inflamatório e estimula o sistema retículo-endotelial HERNÁNDEZ E GONZÁLEZ, (2001). Possui mecanismos de ação sistêmica complexos, promovendo a ativação de genes com funções cito protetoras. Necessita ser utilizada de forma técnica e responsável, pois, como qualquer outro fármaco, apresenta toxicidade e contraindicações BASILE et al., (2017). Quando injetado no organismo melhora a oxigenação e o metabolismo corporal PINO et al. (1999). O ozônio age na parede celular da bactéria, entrando no interior de sua célula, promovendo oxidação dos aminoácidos e ácidos nucleicos, causando a lise celular GURLEY, (1985).

A ozonioterapia pode ser considerada uma terapia natural, de baixo risco, com poucas contraindicações e com efeitos secundários mínimos, desde que seja realizada por profissionais com formação adequada PENA, (2006). O ozônio não deverá ser inalado, pois a inalação do gás pode ser nociva ao sistema pulmonar. Podendo causar toxicidade progressiva, iniciando com tosse e lacrimejamento, dependendo da concentração pode vir a óbito RODRIGUEZ et al., (2018).

Diante do exposto, o trabalho objetivou-se por descrever e analisar um relato de caso da síndrome da compressão de cauda equina em felinos, na qual foi realizado o tratamento com ozonioterapia, apresentando as técnicas utilizadas, medicamentos e respostas do quadro clínico.

2.    RELATO DE CASO

Durante o mês de maio de 2023 foi atendido um felino de treze anos, macho, castrado no qual o tutor relata não saber ao certo o motivo, mas diz que o animal parou de andar (perda de movimento dos membros pélvicos e com a cauda caída) e apresentava dor, constipação e retenção urinária.

Durante os exames de triagem para entendimento foi realizado o hemograma e sem alterações relevantes, mas durante a palpação e exame de urina foi constatada uma hipersensibilidade na região lombossacral, na qual foi utilizada a homeopatia pró- coluna e inflamação na bexiga devido ao grande volume parado na mesma a algum tempo, inicialmente foi tratado com administração de homeopatia fusfelis na qual teve bons resultados e tirando o foco dessa inflamação secundaria da bexiga.

Confirmado a falta de propriocepção dos membros pélvicos, constipação e retenção urinária, foi ministrado inicialmente 1,5ml de dexa citoneurin a cada quarenta e oito horas durante três dias para controle de dor e auxiliar a inflamação na região afetada para o bem-estar do animal e melhor manejo durante os futuros exames físicos e exames de imagem.

Devido a esse quadro foi solicitado exame radiográfico no qual foram visíveis o aumento de volume de tecidos moles em região dorsolateral esquerda da coluna lombossacra, com moderado enfisema subcutâneo associado, acúmulo de fezes paradas no intestino e diminuição do espaço intervertebral entre as vértebras: L5 a L6, L6 a L7 e L7 a S1. Sendo assim confirmada a compressão dos nervos espinhais nessa região e causando o quadro de síndrome da cauda equina.

Foi iniciado o tratamento de acupuntura associada a ozonioterapia, sendo 0,3ml por ponto na concentração 20mg/ml e fluxo de 0,50L/min, utilizando os pontos extras lombossacrais (Shen-Shu-E) de acupuntura, sendo eles intervertebrais entre as vértebras: L5 a L6 (vértebra Lombar 5 e 6), L6 a L7(vértebra Lombar 6 e 7) e L7 a S1(vértebra Lombar 7 e sacral 1). Com frequência de aplicação de duas vezes por semana durante três semanas, apresentando resultados positivos no qual o animal voltou a andar foi alterada para uma vez na semana, perdurando isso por dois meses e posteriormente quinzenalmente, mas logo em seguida voltando para uma vez na semana por ter se provado mais efetivo em seu tratamento, juntamente com algumas sessões periódicas com moxa nas agulhas de acupuntura.

Foi utilizado alopatia apenas nos três primeiros dias de tratamento e antes da acupuntura, após isso foi ministrado a ozonioterapia no qual o felino voltou com a propriocepção dos membros pélvicos e voltando a defecar e urinar sem estimulação, fazendo sessões de acupuntura para controle desde então.

Figura 1. Radiografia latero lateral esquerda região lombossacral.



3.    DISCUSSÃO

Apresentando melhora no quadro clínico do animal acometido, é importante frisar a eficácia de tratamentos conservativos associados aos tratamentos complementares e também alternativos. Analisando este caso e seu tratamento respondendo de forma positiva junto ao estudo realizado pelo Serviço de Reabilitação e Dor Crônica do município de Botucatu, durante 13 anos foram atendidos 98 casos com os perfis na qual os pacientes foram submetidos a acupuntura, tendo assim a sua eficácia avaliada e dos métodos associados. Constatou-se que 69,7% dos pacientes melhoraram após tratamento com AP, 16,7% não apresentaram resposta significativa e 13,6% vieram a óbito, mas sem registros de piora relacionadas ao tratamento com AP. NUNO. EMANOEL, (2018) As principais afecções tratadas eram relacionadas ao sistema nervoso, a grande maioria traumas medulares e encefálicos em que registrou uma melhora em 53,7% dos animais. O tratamento foi considerado eficaz quando os pacientes recuperaram a capacidade normal de deambulação e em casos de doenças medulares quando o escore neurológico mudou de IV (grave) ou V (muito grave) para I (normal) ou II (leve alteração). NUNO. EMANOEL, (2018) Em seu estudo Joaquim QUEIROZ, (2021) afirma que em muitas situações, principalmente em distúrbios neuromusculares, a acupuntura veterinária vem se provando uma das formas mais eficazes de tratamento. Porém, sua eficácia também depende de um diagnóstico definitivo baseado em exames complementares para determinar se é indicado ou não a técnica para o paciente. Segundo Rodriguez (2018) temos as vias de aplicações da ozonioterapia definidas como sistêmicas e locais, dentre as aplicações locais que comprovaram eficácia, a aplicação intradiscal na qual não só pôde e foi feita durante as sessões de acupuntura no paciente acometido citado no relato de caso. Associando as técnicas de acupuntura e a ozonioterapia tendo o foco de desidratação e alterações degenerativas discais, reduzindo as compressões exercidas pelas hérnias resultando na reversão desse quadro. Com a falta da realização do exame de ressonância magnética não realizada a expressiva melhora clínica nos dá o que precisávamos para confirmar a eficácia do tratamento.

4.    CONCLUSÃO

Após analisar o caso, pode-se concluir que a aplicação da ozonioterapia, principalmente em sua via local intradiscal, combinado com técnicas nas quais auxiliaram o animal em seu controle de dor e resposta efetiva anti- inflamatória de compressão, tendo assim, a recuperação dos movimentos pélvicos. Sendo possível então, analisar o resultado e comprovar a eficácia tanto da acupuntura em sua área, quanto da aplicação da ozonioterapia. Assim reforçando a disponibilidade de alternativa mesmo que sendo uma tentativa, de tratar a síndrome da cauda equina de forma conservativa antes de recorrer diretamente a intervenção cirúrgica onde pode haver riscos maiores.

5.  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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