TRANSTORNOS ALIMENTARES E SUA INFLUÊNCIA NA REGULAÇÃO DO SONO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10183280


Sthefany Sardinha da Silva
Orientadora: Prof. Adriana Schlecht Ribeiro.


RESUMO 

Introdução: Os transtornos alimentares (TA) são um problema de saúde mental grave que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Estes estão associados a uma variedade de complicações físicas e psicológicas. Recentemente, notou-se uma crescente em relação ao papel do sono na regulação do apetite e no desenvolvimento de transtornos alimentares. Estudos recentes demonstram que a privação do sono pode aumentar o risco de desenvolvimento de TA, bem como afetar a regulação do apetite e do comportamento alimentar. Objetivo: O presente trabalho visa investigar a relação entre os transtornos alimentares e a qualidade do sono, explorando as causas e consequências dessa interação. Material e Métodos: O presente trabalho trata-se uma revisão de literatura de estudos nacionais e internacionais dos últimos 10 anos. A busca de artigos foi realizada nas bases de dados PubMed, Scielo, Portal CAPES, BVS com o uso de descritores. Tais estudos foram avaliados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão para posteriormente serem inseridos no presente estudo. Desenvolvimento: O sono é essencial para a regulação da saúde e vida dos indivíduos, entretanto, os transtornos alimentares e seus eventos podem implicar sobre a qualidade dele. Eventos compulsórios noturnos e complicações hormonais são fatores que acarretam a piora do sono. Salienta-se que a perda da qualidade do sono impacta sobre a vida, principalmente diurna, ou seja, atividades podem ser comprometidas, além de oferta de riscos por conta de acidentes que podem impactar os indivíduos e coletividades. Considerações Finais: Os transtornos alimentares influenciam sobre o sono e impactam a qualidade vida das pessoas. 

PALAVRAS-CHAVES: Alimentação. Transtornos Alimentares. Privação do Sono. Comportamento Alimentar

ABSTRACT

Introduction: Eating disorders (ED) are a serious mental health problem that affects millions of people around the world. These are associated with a variety of physical and psychological complications. Recently, there has been an increase in the role of sleep in regulating appetite and the development of eating disorders. Recent studies demonstrate that sleep deprivation can increase the risk of developing ED, as well as affect the regulation of appetite and eating behavior. Objective: The present work aims to investigate the relationship between eating disorders and sleep quality, exploring the causes and consequences of this interaction. Material and Methods: The present work is a literature review of national and international studies from the last 10 years, the search for articles was carried out in the databases PubMed, Scielo, Portal CAPES, VHL using descriptors, such as Studies will be evaluated according to the inclusion and exclusion criteria to later be included in the present study. Development: Sleep is essential for regulating the health and life of individuals, however, eating disorders and their events can have an impact on sleep quality, compulsory nighttime events, hormonal complications, all of which are factors that lead to worsening of sleep, highlighting the If, the loss of sleep quality impacts life, especially during the day, that is, activities can be compromised, in addition to offering risks due to accidents that can impact individuals and communities. Final Considerations: Eating disorders influence sleep and impact people’s quality of life.

KEYWORDS: Food. Eating Disorders. Sleep Deprivation. Eating Behavior

1. INTRODUÇÃO

Os distúrbios alimentares, tais como a anorexia e os transtornos psicomotores, se caracterizam pelo medo excessivo de ganhar peso, podendo causar efeitos colaterais no corpo tais como: amenorreia, hiperatividade, bradicardia e vômitos. Além disso, esses distúrbios estão associados a uma série de problemas psicológicos, como ansiedade, depressão, fobias, compulsões, preocupações obsessivas e comportamentos exóticos em relação à alimentação. Quando não tratados, esses distúrbios podem ter consequências graves. Muitas vezes, a identificação desses distúrbios não é fácil e é fundamental que sejam identificados pela família e pessoas próximas (Carvalho; Ferraz, 2019).

Os distúrbios alimentares podem ter consequências graves no corpo e na saúde mental dos indivíduos, e a qualidade do sono é essencial para o restabelecimento da homeostase e promoção da saúde. Eles apontam que a privação do sono pode levar a diversos problemas metabólicos e inflamatórios, além de estar associada a uma série de patologias. Portanto, é importante monitorar os padrões de sono e identificar estratégias de controle e tratamento adequadas (Carvalho; Ferraz, 2019).

Os estudos têm despertado cada vez mais interesse, pois eles são altamente comprometidos pelo consumo irregular de alimentos, compulsão e obsessão pela comida, dietas restritivas e comportamentos purgativos. Esses distúrbios são definidos como síndromes comportamentais de etiologia multifatorial, que envolvem fatores genéticos, psicológicos e/ou socioculturais. Um dos fatores expoentes são as dietas restritivas, também conhecidas como “dietas da moda”, as quais podem acarretar danos mais severos, já que indivíduos que realizam dietas sem auxílio profissional podem sofrer malefícios psicológicos e metabólicos, além do surgimento de distúrbios alimentares. Tais condutas são adotadas por conta da constante insatisfação corporal, o que leva a uma busca incessante pela perda e controle de peso (Faria; Almeida; Ramos, 2021).

O sono é um processo biológico essencial, apresentando uma importante função no restabelecimento da homeostase. Ele afeta a qualidade de vida do indivíduo por meio de alterações e influências de fatores comportamentais e fisiológicos. Sendo assim, avaliar a qualidade do sono possibilita subsidiar a promoção da saúde e a prevenção de agravos. De acordo com Ricardo et al. (2021) tem sido relatada na literatura que pessoas que não dormem a quantidade de sono recomendada estão mais expostas ao risco de diversas doenças, como problemas metabólicos, inatividade, resistência à insulina, diminuição da tolerância à glicose e obesidade. 

 O estudo de Carone et al. (2020) afirma que os distúrbios do sono podem resultar em má qualidade de sono, déficits cognitivos, alterações metabólicas e distúrbios psicológicos. A falta de sono adequado é um fator associado a patologias, e devido a essa má conservação, não se mantém uma qualidade e quantidade adequada de sono. Sendo assim, o sono é um dos temas emergentes mais relevantes, pois há evidências robustas de que sua privação e distúrbios afetam processos metabólicos e inflamatórios com amplo impacto negativo na saúde. Torna-se essencial o monitoramento de seus padrões, a fim de identificar e sinalizar as estratégias mais adequadas de controle e tratamento (Barros et al., 2019).

 Além disso, nesse contexto, considerando a relação entre distúrbios alimentares e distúrbios do sono e seus impactos na saúde física e mental, é importante explorar como esses temas podem ser trabalhados de forma integrada, considerando as múltiplas causas e consequências envolvidas, e promovendo a prevenção e tratamento dos distúrbios. Pode-se questionar como garantir o acesso a informações e tratamentos adequados para prevenir e tratar esses distúrbios, bem como a importância de identificar sinais precoces de problemas relacionados à alimentação e sono. Como a privação e os distúrbios do sono afetam os processos metabólicos e inflamatórios, quais são os impactos na saúde, e quais as estratégias mais adequadas para controlar e tratar esses problemas?

OBJETIVOS 

2.1. Objetivo Geral

Investigar a relação entre os transtornos alimentares e a qualidade do sono, explorando as causas e consequências dessa interação 

2.2. Objetivos Específicos

  • Identificar fatores que influenciam o comportamento alimentar; 
  • Relacionar a influência do sono e a qualidade de vida e alimentar;
  • Compreender como o distúrbio do sono pode influenciar negativamente a saúde.

3 METODOLOGIA 

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura em forma narrativa, a qual foi desenvolvida por meio de busca de artigos publicados em bases de dados online como: PubMed, Scielo, Portal CAPES, BVS. Também foi utilizado o buscador online Google Acadêmico. Além disso, a busca contou com o uso de Descritores da Saúde (DeCs), os quais foram: sono, alimentação, transtornos alimentares, privação do sono, comportamento alimentar e saúde. 

Quanto a análise dos artigos selecionados, esta foi realizada com base em critérios prédefinidos de inclusão e exclusão. Em relação aos critérios de inclusão, foram aceitos para compor o trabalho artigos publicados entre os anos de 2013 e 2023, em inglês ou português, os quais apontam a temática proposta. Os artigos que se encontraram dentro do proposto foram avaliados primeiramente pelo título, seguido da leitura do resumo para posteriormente a leitura integral do trabalho escolhido, salientado assim pontos importantes para a composição do presente trabalho.

REVISÃO DE LITERATURA 

4.1. COMPORTAMENTO ALIMENTAR  

A alimentação é uma necessidade básica e essencial para a vida do ser humano, não pautado somente a contextos biológicos, mas sobre toda uma conjuntura. A alimentação está interligada a cultura, religião, política, tradições e até sobre a forma de expressão de emoções. Diante disso, é notável que a construção do comportamento alimentar está ligada a uma série de fatores que implicam diretamente sobre a forma de se alimentar (Jezewska-Zychowicz, 2018; Guerra et al., 2019). 

Para a compreensão de como o comportamento alimentar é moldado, é fundamental o conhecimento em relação ao hábito alimentar, principalmente durante a infância. Segundo o estudo de Santos et al. (2023), a formação do hábito alimentar está ligada desde o aleitamento materno, ou seja, a necessidade exclusiva da mãe implica a formação de hábitos de aleitamento. Posteriormente, aos seis meses inicia-se a introdução alimentar, a qual já começa a ter mudanças sobre a construção do hábito alimentar por conta da família, fatores socioeconômicos e posteriormente até a convivência escolar, corroborando com o descrito por Klotz-Silva et al. (2016) onde o contexto em que a pessoa está inserida influencia diretamente sobre a sua forma de se alimentar e consequentemente acaba por mudar o comportamento em relação a comida. 

Para Klotz-Silva et al. (2016), o comportamento alimentar não apresenta um único fator, mas sim, um aspecto multifatorial. Para eles, este é a conjunção de elementos comportamentais, culturais, ambientais, sociais, psicológicos, econômico e ambiental que implicam diretamente na interação da pessoa diante ao alimento. Além disso, o condicionamento do indivíduo a um determinado estilo alimentar acaba por influenciar sobre o seu contexto de saúde, como no caso dos transtornos relacionados a alimentação (Santos et al., 2023). 

Os transtornos alimentares (TAs) trata-se de síndromes relacionadas ao comportamento psíquico, as quais, por conta das suas formas de ação, acabam por ocasionar uma série complicações comportamentais. Dentre a principal, o comprometimento da aceitação da imagem corporal, além de agravos sobre o comportamento psiquiátrico (Gomes et al., 2021). 

Quanto trata-se da sua gênese, essa não é totalmente compreendida já que o desenvolvimento de TAs é multicausal. Em um estudo desenvolvido por Siqueira et al. (2020), os autores fizeram um levantamento bibliográfico sobre a influência familiar. Os dados demonstraram que padrões alimentares familiares rígidos e a relação mãe e filha são fatores de forte expoente para o agravamento de sintomas e comportamentos inadequados, principalmente atrelados a anorexia nervosa. É importante salientar que o estudo demonstrou uma influência maior sobre o público feminino. Esse fato corrobora com a pesquisa de Passos et al. (2020) que demonstra uma prevalência no sexo feminino durante a adolescência e a fase adulta. 

Partindo desses dados publicados por Passos et al. (2020), a prevalência do público feminino apresentou uma forte ligação com pressões sociais voltadas para a estética, além da pressão midiática sobre a construção de um padrão “ideal” de beleza feminina, implicando assim a mudanças no comportamento alimentar. Em casos de Anorexia e Bulimia Nervosa, o vômito é uma marca notável acompanhado pela perda de peso. Já em compulsão alimentar, não há limites para o consumo de alimentos, podendo implicar no aumento de peso corporal e consequentemente agravar os distúrbios de imagem. Todo esse comportamento alimentar errôneo traz consequências negativas para o indivíduo (Gomes et al., 2021). 

Em relação à questão nutricional, pacientes com distúrbios alimentares podem gerar um quadro de desnutrição, deficiência imunológica por conta da diminuição na barreira imunológica levando a uma maior suscetividade ao desenvolvimento de quadros infecciosos, além de, deficiência de vitaminas como: D, B9, B1 e B12 e de minerais, tais como: cálcio, ferro e sódio, gerando complicações sobre os sistemas ósseo, hormonal, cardiovascular, gastrointestinal e alterações em relação a pele e cabelos. Além disso, pode ocasionar um comprometimento psíquico com quadros de estresse, depressão ansiedade e perda da qualidade do sono implicando sobre toda a sua qualidade de vida e alimentar (Gibson et al., 2019; Cass et al., 2020). 

4.2. A INFLUÊNCIA DO SONO SOBRE A QUALIDADE DE VIDA E ALIMENTAR

O sono é uma função vital e essencial para a manutenção da saúde e bem-estar das pessoas, por conta da sua participação no processo de homeostase. Sendo assim, o sono influencia os aspectos comportamentais, biológicos, hormonais e metabólicos que promovem a vida e a sua qualidade aos mesmos. Partindo da sua importância, é notável que a desregulação do sono pode causar um desiquilíbrio e impactar negativamente o indivíduo causando assim diversos impactos sobre a sua qualidade de vida (Barros et al., 2019).  

O sono, ao decorrer da vida, passa por suas transições adaptativas de acordo com a fase e faixa etária. Salvi et al. (2020), dispõe que as recomendações de tempo de sono para indivíduos jovens e adultos deve ser em torno de 7 a 8 horas por dia. De acordo com os autores, esse tempo é necessário para a reorganização do ritmo circadiano e ciclos rítmicos orgânicos e temporais, por conta da privação da interação com o meio externo, o que leva uma diminuição necessária do contato com estressores ambientais. 

Entretanto, Markwald et al. (2013) traz um ponto importante sobre a sociedade contemporânea e a qualidade do sono. De acordo com os autores, a mudança sobre os contextos sociais e trabalho impactaram sobre a aspectos de rotina do indivíduo, implicando muitas vezes sobre a diminuição do tempo de sono e consequentemente alterando o ritmo circadiano e ciclos rítmicos orgânicos e temporais e impactando negativamente sobre os aspectos relacionados a saúde e modo de vida.

Porém, é importante salientar que a baixa qualidade do sono não está somente ligada a sociedade, ou seja, é uma relação multifatorial. Pacientes que apresentam quadros de dores crônicas podem apresentar distúrbios que implicam sobre a qualidade do sono conforme apresentado por Ferro et al. (2008), os quais apontam que 98% dos pacientes avaliados com fibromialgia apresentavam distúrbios no sono que implicavam sobre a sua capacidade funcional, além de influenciar sobre quadros de depressão. 

A saúde mental é ligada ao sono conforme abordado por Challappa e Araújo (2007). Para os autores, o sono e os seus distúrbios apresentam uma forte ligação com transtornos psiquiátricos, principalmente a depressão. Eles descrevem que pacientes depressivos apresentam uma alteração sobre o padrão eletroencefalográfico do sono, além da diminuição e alterações sobre a continuidade e duração do sono. Tais informações vão em consoância ao apresentado por Barros et al. (2019), os quais demonstram que pessoas com baixa qualidade do sono apresentam alteração sobre sua saúde mental e os sentimentos de bem-estar. 

Em relação a saúde física, a privação e os distúrbios do sono podem influenciar em dois aspectos, conforme abordado por Mirhashemi et al. (2020). A falta do sono implica em uma sonolência excessiva diurna que pode complicar questões cotidianas relacionadas ao trabalho, execução de atividades e além de uma maior propensão a acidentes de trabalho, quanto automobilísticos, trazendo um impacto não somente individual, mas para uma visão mais coletiva, expondo que não é um problema individual, mas sim de todos. 

Através do estudo de Barros et al. (2019), observa-se que a qualidade do sono está intimamente ligada com a qualidade de vida. Esse fato é corroborado por Tassinari et al. (2016), os quais elaboraram um estudo de caso controle para avaliar e comparar a capacidade funcional e qualidade de vida de pacientes com apneia obstrutiva do sono (AOS). Para isso, o estudo contou com o grupo controle sendo composto por 19 pacientes saudáveis e o grupo estudo com 19 pacientes com AOS. Após as análises, foi constado que pacientes com distúrbio do sono apresentaram um declínio sobre a qualidade de vida e capacidade funcional e além disso, os autores abordam que o estado de saúde física e mental desses pacientes também encontrava-se comprometidos, implicando assim nos resultados encontrados, ou seja, a constância na falta de higiene do sono pode trazer consequências relacionadas a todos os aspectos de saúde e também a desiquilíbrios metabólicos, principalmente associada a questões hormonais.  

É importante lembrar que os hormônios são fundamentais para determinadas funcionalidades metabólicas específicas como: crescimento, desenvolvimento, aspectos sexuais e homeostase voltadas a diversos sistemas, dentre eles o da alimentação. Os hormônios ligados a alimentação são aqueles que atuam sobre o mecanismo da fome e saciedade, denominados respectivamente de grelina e leptina. Assim, como apontado por Barros et al. (2019), o sono é essencial para a regulação dos mecanismos e sistemas dentre eles o endócrino, ou seja, desregulação do sono pode impactar sobre os hormônios e consequentemente sobre os sistemas. Dado a isso, a alimentação é afetada diretamente pelo sono. 

De acordo com Silva et al. (2023), a privação e alterações no sono impactam sobre o apetite e à saciedade. Conforme o apontado, ocorre uma diminuição da saciedade e um aumento do apetite por conta do aumento da concentração plasmática de grelina e uma diminuição na concentração de leptina. Esse tipo de prática induz a um maior consumo alimentar, principalmente de alimentos com baixa qualidade nutricional, favorecendo assim uma maior tendência a obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) associadas ao quadro obesogênico. 

Esse fato é corroborado por Katagiri et al. (2014), os quais desenvolveram um estudo relacionado aos hábitos alimentares e má qualidade do sono. O autor avaliou cerca de 3129 mulheres japonesas e evidenciou, através de correlação significativa, que as mesmas apresentavam uma menor tendência ao consumo de vegetais (p<0,002), peixes (p<0,04) e uma alta ingestão de confeitos e carboidratos (p<0,004 e p<0,03), de modo que estes concluem que o sono impacta sobre a alimentação e o estado nutricional.

Em um estudo desenvolvido por Salvi et al. (2020) demonstrou como o sono influencia sobre a qualidade de vida e hábitos alimentares de 195 acadêmicos de enfermagem. De acordo com a pesquisa, cerca de 71% dos avaliados apresentaram um sono ruim e que impactaram sobre a sua autopercepção de qualidade de vida e de escolhas alimentares, tendo uma baixa ingestão de alimentos nutritivos como: frutas, verduras e legumes e um alto consumo de produtos com má qualidade nutricional como os ultraprocessados que consequentemente refletiam sobre a sua composição corporal, já que a maioria se encontrava acima do peso. Assim, como exposto por Silva et al. (2023), o controle de peso e consequentemente o estado nutricional está fortemente associada a qualidade e higiene do sono. 

4.3. A QUALIDADE DO SONO E A RELAÇÃO COM TRANSTORNOS ALIMENTARES

De acordo com Barros et al. (2019), é perceptível a influência do sono sobre a homeostase dos sistemas corporais. Dentre eles, o relacionado a alimentação pela regulação dos hormônios grelina e leptina. O desbalanço da qualidade do sono impacta sobre os mecanismos de fome e saciedade, favorecendo assim um consumo de alimentos com baixa qualidade nutricional e uma maior associação com o desenvolvimento de casos de obesidade (Silva et al., 2023). 

A pressão em relação sobre a estética corporal é um forte expoente para o desenvolvimento de transtornos alimentares. Esse fato é abordado por Lima et al. (2021), os quais avaliaram 1161 adolescentes com faixa etária de 12-15 anos e notaram que a qualidade do sono e a alimentação estavam interligados, e que principalmente garotas que apresentavam padrões alimentares e sono inadequado tinham problemas em relação a aceitação corporal e um medo de engordar e com isso e uma maior tendência ao desenvolvimento de algum quadro de distúrbio relacionado a alimentação. 

Dado ao fato que a qualidade do sono é um fator que pode promover o desenvolvimento de quadros de obesidade, este acaba por ser um ponto importante a se avaliar, principalmente em pacientes com distúrbios alimentares. De acordo com o estudo de Fusco et al. (2020), a obesidade apresenta uma tendência ao desenvolvimento de quadros de depressão e ansiedade. Esses transtornos impactam sobre o consumo alimentar, principalmente em um estado de compulsividade de ingestão dos alimentos. Um fato, que os autores expõem, é que a compulsividade também se associa a uma maior ingesta, principalmente associada a um meio de compensação emocional. Além disso, um fato importante é que em geral esses pacientes apresentam uma curta duração do sono implicando em complicações sobre o quadro de obesidade e sobre a compulsão alimentar. 

O estudo de Mehr et al. (2021) demonstra uma “dependência alimentar” associada a desregulação do sono. Os autores descreveram que o consumo de alimentos ultraprocessados, que apresentam uma palatabilidade agradável, aumenta a atividade do sistema de orexigênico, o qual é ligado a fome e ao ato de “beliscar” noturno, que infere sobre a desregulação sobre o sono/vigília e consequentemente implica negativamente sobre quadros de compulsão alimentar, tornando estes frequentes e em uma frequência maior. 

Entretanto, quando se trata de comprometimento do sono em distúrbios alimentares, este não se limita somente a compulsão alimentar. Em uma revisão sistemática de literatura feita por Vieira e Afonso (2020) demonstrou-se que por meio de análises de polissonografia em pacientes anoréxicos foi possível perceber uma redução no tempo de sono e sua respectiva eficiência. Mediante isso, os autores constataram que esse tipo de problema pode acarretar outros aspectos como o surgimento de morbidades relacionadas a quadros de ansiedade e depressão. Além disso, Hebebrand et al. (2023) apresentaram que a ingestão reduzida de energia impacta sobre o sono/vigília, além do surgimento de quadros de fadiga em pacientes anoréxicos que implicam sobre o mal prognóstico e consequentemente ao tratamento desses pacientes.

Um fato interessante em relação aos pacientes bulímicos, de acordo com Eiber et al. (2001), é que indivíduos que apresentavam um quadro bulímico, mas sem alteração no peso corporal tinham um maior tempo e duração de sono, entretanto, esse fato não era válido para os bulímicos que tinham eventos compulsórios e purgativos a noite. 

Tromp et al. (2016) trazem, através de uma pesquisa com diversos pacientes com transtornos alimentares, que estes apresentavam um comprometimento significativo sobre o sono e que este tipo de comportamento impactava sobre o funcionamento e a execução de atividades durante o dia, ou seja, o sono é abrangente e implica sobre todo o contexto de vida corroborando com o descrito por Barros et al., (2019). 

Carollo et al. (2023), em sua revisão narrativa, avaliaram os perfis de sono em TAs, e por meio dos achados evidenciaram que conhecer o sono através de exames clínicos é fundamental, principalmente, para a promoção de um tratamento efetivo, já que a adoção de uma conduta clínica para pacientes com distúrbios deve ser ampla e deve abordar todos os aspectos em que estes se encontram com problemas, dentre eles, o sono. Diante disso, o uso de terapias comportamentais e o uso de fármacos devem considerar a frequência e a higiene do sono para assim ter uma efetividade de atuação, ou seja, de modo geral nota-se que sem a melhora da qualidade do sono não tem a melhora do quadro clínico. 

Quadro 1. Achados bibliográficos em relação ao sono e transtornos alimentares

ReferênciasObjetivosAmostraResultados
Tromp et al. (2016)Investigar a relação entre os transtornos alimentares, IMC, distúrbios alimentares e funcionamento diurno. 574 jovens (18-35 anos)Participantes que apresentavam maiores pontuações em relação aos transtornos alimentares, demonstraram taxas altas em relação a perda da qualidade do sono e um maior comprometimento no funcionamento em atividades diurnas.
Fusco et al. (2020)Estabelecer a relação da ansiedade com a compulsão alimentar e qualidade do sono em adultos com sobrepeso e obesidade130 adultos com sobrepeso e obesidadeDemonstrou correlações positivas entre as variáveis estudas, ou seja, indivíduos com maior nível de ansiedade apresentavam maiores quadros compulsivos e com isso a piora da qualidade do sono (p<0,001).
Lima et al. (2021)Analisar a relação com os índices de distorção de imagem corporal, hábitos alimentares e sono de adolescentes.1161 adolescentes com faixa etária de 12- 15 anosMeninas apresentam um maior índice de excesso de peso e distorção de imagem, em ambos os sexos apresentam uma baixa qualidade alimentar e pacientes com maior predisposição a distúrbios apresentam uma menor qualidade do sono.

Fonte: Autoria Própria

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Através da presente revisão, nota-se que os transtornos alimentares inferem sobre a qualidade do sono, os quais em sua maioria, apresentam uma piora do mesmo, dado a redução do tempo e baixa qualidade dele. Entretanto, os seus problemas se estendem, podendo comprometer atividades diurnas e ofertando riscos não somente a pessoa, mas à toda coletividade. Ou seja, é de suma importância o diagnóstico e o tratamento correto, a fim de causar a prevenção de complicações mais graves que impactem ainda mais a qualidade de vida do indivíduo. 

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