O FARMACÊUTICO NO MANEJO DA SEPSE EM PACIENTES INTERNADOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI): REVISÃO SISTEMÁTICA

PHARMACISTS IN THE MANAGEMENT OF SEPSIS IN INTENSIVE CARE UNIT (ICU) PATIENTS: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10160926


Thaissa Assis da Silva1
Priscila da Silva Matias2
Nathalie Marialva Cardoso3
Amanda Bezerra Carvalho4


RESUMO

Introdução: A sepse é um dano biológico que é conhecido pelo público em geral como infecção hospitalar e pelos profissionais de saúde como Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (IRAS). Essa síndrome evolui para sepse grave e posteriormente a choque séptico, responsável pelas taxas crescentes de mortalidade na UTI.

Objetivo: Analisar a importância do farmacêutico no manejo da sepse, apontando as principais causas responsáveis por sepse, apresentando suas principais complicações que resultam na mortalidade e descrevendo as intervenções realizadas pelo farmacêutico para solução ou diminuição da septicemia.

Metodologia: Realizou-se um estudo de revisão sistemática de acordo com as recomendações do formulário “Preferred Reporting Items for Systematic reviews and MetaAnalyses” (PRISMA). A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PUBMED), que permitirão a busca simultânea de artigos nas principais bases de dados nacionais e internacionais.

Resultados: Obteve-se 15 artigos das bases de dados Scielo e PubMed após a aplicação dos critérios de elegibilidade dispostos, foram divididos de acordo com os objetivos específicos abordados onde foi possível responder os mesmos. No geral, evidenciarão a importância de se ter um profissional como o farmacêutico habilitado para solucionar um quadro de septicemia.

Conclusão: Os farmacêuticos, com seu conhecimento especializado em medicamentos e suas competências clínicas, têm o pontencial de contribuir signficativamente para o tratamento eficaz e a redução da mortalidade associada á sepse.

Palavras-Chaves: Bacteremia, Farmacoterapia, Intervenções Farmacêuticas e Septicemia.

ABSTRACT

Introduction: Sepsis is a biological injury that is known to the general public as a hospital-acquired infection and to healthcare professionals as a Healthcare-Related Infection (HAI). This syndrome evolves into severe sepsis and then septic shock, which is responsible for the increasing mortality rates in the ICU.

Objective: To analyze the importance of the pharmacist in the management of sepsis, pointing out the main causes responsible for sepsis, presenting its main complications that result in mortality and describing the interventions carried out by the pharmacist to solve or reduce sepsis.

Methods: A systematic review study was carried out in accordance with the recommendations of the “Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses” (PRISMA) form. The search for articles was carried out in the Scientific Electronic Library Online (SCIELO) and the US National Library of Medicine (PUBMED) databases, which will allow a simultaneous search for articles in the main national and international databases.

Results: Fifteen articles were obtained from the Scielo and PubMed databases after applying the eligibility criteria and were divided according to the specific objectives addressed. Overall, they highlight the importance of having a professional such as a pharmacist who is qualified and has the skills to solve sepsis.

Conclusion: Pharmacists, with their specialized knowledge of medicines and their clinical skills, have the potential to make a significant contribution to effective treatment and the reduction of mortality associated with sepsis.

Keywords: Bacteremia, Pharmacotherapy, Pharmaceutical Interventions and Septicemia.

INTRODUÇÃO

Sepse é um dano biológico conhecido popularmente como infecção hospitalar e pelos profissionais como Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (IRAS). Ela ocorre devido uma deficiência imunológica causada por um agente infeccioso sistêmico como fungos, vírus ou bactérias. A falta de conhecimento tanto entre os profissionais da saúde quanto na população em geral contribui para agravar a condição da sepse, levando ao desenvolvimento de sepse grave e, posteriormente, ao choque septico, que está associado a taxa crescente de mortalidade no Brasil (De abreu et al., 2021).

A incidência de sepse pode variar de acordo com a região e as condições de saúde de uma população. Anualmente, no mundo mais de quatro milhões de pacientes evoluíram para sepse, e desses 37.000 vão á óbito. As taxas de Infecções Relacionadas à Assistencia a Saúde (IRAS) são mais comuns em países subdesenvolvidos atingindo 15,5%, em comparação com países desenvolvidos que registram 7,6%. As infecções do trato urinário, das vias respiratória e do centro cirúrgico são mais prevalentes (Dias, 2023).

A unidade de terapia intensiva (UTI) representa o ambiente hospitalar propicio ao surgimento de IRAS, uma vez que os pacientes internados nesse setor oferecem condições essenciais para multiplicação patógenos. Isso ocorre devido a imunossupressão dos pacientes e ao considerável risco de exposição que o ambiente da UTI proporciona a esses microrganismos (Delfrate; Fernandes; Cesar., 2021).

O Farmacêutico é um especialista no conhecimento e na promoção do uso apropriado de medicamentos, uma vez uma parcela significativa das IRAS está diretamente ligada a administração indiscriminada de antimicrobianos (Mesquita; Gerica, 2020).

O uso de antimicrobianos é essencial para otimizar o progresso clínico dos pacientes, especialmente naqueles em estado crítico internados em UTIs, onde a morbilidade grave e a mortalidade são mais frequentes em casos de falha na antibioticoterapia. No entanto esta utilização deve ser realizada com extrema cautela para evitar o desenvolvimento de cepas bacterianas multirresistentes. É importante observar que devido a frequência das prescrições de antibióticos em UTIs, é crucial aplicar rigorosos padrões de controle de qualidade, com base em cepas bacterianas de referência amplamente conhecidas, dada a prevalência do uso de antimicrobianos entre os pacientes dessa unidade hospitalar (Santos; Pinto; Menezes., 2022).

Este tópico é motivo de grande preocupação, uma vez que a Organização Mundial de Saúde (OMS) já emitiu alertas sobre a diminuição na pesquisa e desenvolvimento de novos antibióticos eficazes no combate a bactérias multirresistentes. Além disso, os antimicrobianos atualmente disponíveis não oferecem uma eficácia plena, o que transforma a resistência bacteriana em um dos principais desafios de saúde globalmente reconhecido (Maria., 2022).

Diante disso este estudo tem por objetivo analisar o farmacêutico no manejo da sepse em pacientes internados na unidade de terapia intensiva com base na literatura científica, as principais causas responsáveis por sepse, apresentando suas principais complicações que resultam na mortalidade e descrever as intervenções realizadas pelo farmacêutico para solução ou diminuição da septicemia.

METODOLOGIA

De acordo com o método “Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses” PRISMA que tem como objetivo contribuir e aperfeiçoar na construção de revisão sistemática, além de ser usado como uma base para relatos de revisões sistemáticas de outros tipos de pesquisa como por exemplo a Meta-análises, a fim de avaliar as intervenções. O PRISMA também pode ser útil para a avaliação crítica de revisões sistemáticas publicadas. Mas, vale ressaltar que o PRISMA não é um instrumento de avaliação de qualidade para ponderar a qualidade de uma revisão sistemática.

A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PUBMED), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e European Society of Intensive Care Medicine (ESICM), que permitiram a busca simultânea de artigos nas principais bases de dados nacionais e internacionais.

A buscas pelos descritores em ciências da saúde (DeCS): Antibioticoterapia, Bacteremia, Farmacia, Septicemia, Adrenergico e Choque séptico. A combinação de DeCS foi realizada nos idiomas português, inglês com os seguintes termos: “Antibioticoterapia e Bacteremia” e “Antibiotic therapy and bacteremia”, “Farmacia e Septicemia” e “Pharmacy and septicemia”, “Adrenergico e Choque séptico” e “Adrenergic and septic shock”.

Realizou-se a escolha dos artigos analisando resultados procedentes da estratégia de pesquisa. No período de março a agosto. Os artigos publicados no período de janeiro de 2013 até janeiro de 2023 serão selecionados, inicialmente, com base em seus títulos e resumos. Após, foi realizada a triagem conforme os critérios de inclusão e exclusão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao todo foram selecionados 15 artigos para a conter nesta revisão sistemática, dos quais partiram de um número inicial de 82 trabalhos obtidos nas bases de dados 02 (BVS), 01 (LILACS), 60 (PUBMED), 18 (SCIELO) e 01 diretriz (ESICM). Os critérios PRISMA foram utilizados para se obter o fluxograma contido na Figura 1, onde observa-se a ordem em que os critérios de inclusão e exclusão foram aplicados para obtenção do número de artigos obtidos.

Figura 1 – Fluxograma da revisão sistemática

Fonte: Acervo pessoal

Observou-se que os 15 artigos selecionados estão no formato full paper, ou seja, são trabalhos publicados na íntegra com textos completos, em sua maioria em inglês, com estudos prospectivos e retrospectivos, assim como também é possível se observar a presença de estudos de coorte. Estes trabalhos foram separados de acordo com os objetivos específicos selecionados nesta pesquisa relacionados a análise do farmacêutico diante do quadro de septicemia, onde é possível evidenciar seu papel na unidade de terapia intensiva.

Tabela 1 – Tabela de resultados

CitaçãoTítuloObjetivosTipo de EstudoResultados Obtidos
Driessen et al., 2020Early ICU-mortality in sepsis – causes, influencing factors and variability in clinical judgement: a retrospective cohort studyRelatar o momento, as causas e os fatores que infuenciam a morte precoce após admissão na UTI em pacientes com sepse e choque séptico.Estudo de coorte retrospectivoAs principais razões para óbito prematuro incluíram a falência simultânea de mútiplos órgãos de isquemia mesentérica e a morte subsequente a procedimentos de reanimação cardiopulmonar.
Rodrigues et al., 2021Análise de tendência de mortalidade por Sepse no Brasil e por regiões de 2010 a 2019
Caracterizar o perfil dos pacientes internados e a tendência de mortalidade por sepse no sistema único de saúde (SUS) em todos Brasil e em suas regiões separadamente entre os anos de 2010 e 2019.


Estudo retrospectivo, observacional e analíticoAs taxas mais elevadas de mortalidade devido à sepse foram observadas na população idosa de origem racial parda, e não foi encontrada uma diferença significativa entre os gêneros. Além disso, a Região Sudeste do país registrou o maior número de internações e óbitos relacionados a essa condição.
Fernanda et al., 2016Sepse em um hospital universitário estudo prospectivo para análise de custo da hospitalização de pacientesEstimar o custo de internação de pacientes com sepse grave ou choque septico admitidos ou diagnosticado no setor de urgência e emergência de um hospital universitário e acompanhado até o desfecho clínico.
Estudo epidemiológico, prospectivo e observacionalOs gastos mais significativos estavam associados á alta hospitalar, ao diagnóstico da sepse grave, á origem da infecção nos pulmões e á faixa etária que abrange até 59 anos de idade.
Meng et al., 2020Protective effect of rhubarb combined with ulinastatin for patients with sepsisInvestigar o efeito do tratamento combinado de Ulinastatina e ruibarbo em pacientes com sepse.Estudo de casoApenas quando a ulinastatina foi combinada com o tratamento com ruibarbo, houve uma clara redução nos níveis de procalcitonina.
Agodi et al., 2018Epidemiology of intensive care unit-acquired sepsis in Italy: results of the SPIN-UTI networkDescrever a epidemiologia da sepse adquirida na UTI e os resultados entre o paciente inscritos no âmbito do projeto italiano na vigilância da infecção.Estudo prospectivoO tempo médio na UTI foi consideravelmente mais longo para pacientes com sepse adquirida na UTI em comparação com aqueles que não a adquiriram nesse ambiente.
Hsião et al., 2015Risk Factors for Development of Septic Shock in Patients with Urinary Tract InfectionIdentificar os grupos de pacientes com maior risco de urossepsia, o que pode levar a mortalidade substancial.Estudo retrospectivoAs análises de regressão logística multivariada mostraram que a presença de doença arterial coronariana (DAC), insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e lesão renal aguda estavam independentemente relacionadas ao desenvolvimento de choque séptico em pacientes hospitalizados com ITU.
Hyde et al., 2019Fatores de risco e mortalidade dos pacientes com sepse, lesão renal aguda séptica e não séptica na UTIAvaliar pacientes que permaneceram mais de 48 horas na UTI e desenvolveram LRA ou Doença Renal Crônica agudizada ou sepse, identificar fatores de risco e causas que possam afetar a evolução desses pacientes.
Estudo prospectivo, coorte e observacional quantitativoA Lesão Renal Aguda (LRA), cuja causa mais comum é a sepse, ocorre em cerca de 5-6% dos pacientes internados na UTI.
Chen et al., 2020Central venous pressure measurement is associated with improved outcomes in septic patients: an analysis of the MIMIC-III databaseElucidar o efeito da medida da PVC na mortalidade em 28 dias em pacientes sépticos.Estudo de coorte retrospectivoOs pacientes no grupo que recebeu a medição da pressão venosa central (PVC) apresentaram maior volume de líquido administrado no primeiro dia, uma menor duração de ventilação mecânica e menor necessidade de vasopressores.
Mares et al., 2022Predição de choque septico de hipovolêmico em pacientes de unidade de terapia intensiva com o uso de machine learningCriar e validar um modelo de redição séptico ou hipovolêmico com variáveis de fácil obtenção, coletadas na admissão de pacientes internados em UTI.Estudo de modelagem preditivaOs modelos demonstrarem uma capacidade de previsão elevada no algoritmos de Decision Tree, Random Forest, AdaBoost, Gradient Boosting e Xgoost, em cada caso.
Hixson, Coz e Davis. 2022Incorporation of Clinical Staff Pharnacists in the Emergency Department Sepsis Response at a Single InstitutionDescrever a implementação do processo e avaliação da precisão dos CSPs na seleção de antimicrobianos e na dosagem de vancomicina.


Estudo de coorte retrospectivoOs CSPs aplicaram corretamente o algoritmo de escolha de antibióticos em 154 casos, e o nanograma de dosagem de vancomicina em 147.
Christini et al., 2013Análise das intervenções de farmacêuticos clínicos em um hospital de Ensino terciário do BrasilAnalisar as intervenções realizadas por farmacêuticos clínicos durante a revisão de prescrições médicas das Unidades de Terapia Intensiva Adulto, Terapia Intensiva Cardiológica e de Cardiologia e de Cardiologia Clínica de um hospital universitário terciário do Brasil.
Estudo prospectivoOs medicamentos que mais frequentemente estiveram associados a problemas incluiram ranitidina, enoxaparina e meropenem. O tipo de problema mais prevalente estava relacionado á dosagem, representando 46,73% de todos os casos.
Cavanaugh et al., 2017Importance of Pharmacy Involvement in the Treatment of SepsisAnalisar o papel do farmaêuticos na seleção apropriada de medicamentos, no momento da administração e como membros de uma equipe multidisciplinas de resposta à sepse.
Estudo retrospectivoA presença de um farmacêutico em UTI está relacionada com uma diminuição na taxa de mortalidade de pacintes em sepse em comparação em unidades que não contam com esse profissional.
Komoto et al., 2018Effects of pharmacist intervention in Vancomycin treatment for patients with bacteremia due to Methicillin-resistant Staphylococcus aureusAvaliar o efeito do planejamento da dose inicial de VCM liberado por farmaçêutico para pacientes com bacteremia por S.aureus resistente à meticilina (MRSA).
Estudo de coorte retrospectivoFoi observado um aumento substancial no tempo de sobrevivência no grupo que recebeu a intervenção Farmacêutica
Smith, Sikora e Tackett. 2019
Prescribing of Pressor Agents in Septic Shock: A Survey of Critical Care PharmacistsCaracterizar o uso de pressores para choque séptico na prática clínica.Estudo transversalDentre os farmacêuticos, mencionou que a norepinefrina era o vasopressor de escolha inicial no tratamento do choque séptico.
Willmon et al., 2020.Impact of Pharmacist-Directed Simplified Procalcitonin Algorithm on Antibiotic Therapy in Critically III Patients With SepsisDeterminar se um algoritmo simplificado de procalcitonina (PCT) guiado pelas recomendações farmacêuticas reduz a duração da terapia antibiótica em pacientes gravemente enfermos com suspeita de sepse.Estudo de coorte prospectivoNão foram observadas diferenças estatisticamente significativas nos resultados secundários, incluindo o tempo de permanência na UTI e no hospital, a necessidade de reiniciar os antibióticos em 72 horas ou a taxa de mortalidade em 28 dias.

Fonte: elaborado pelos autores

Causas da sepse

Analisando os estudos longitudinal de Driessen et al (2020), a sepse representa um desafio de saúde global, pois sua ocorrência está aumentando e resultando em uma elevada taxa de mortalidade associada principalmente devido ao envelhecimento da população, que está atribuído ao aumento das condições médicas simultâneas, incluindo estado de imunossupressão e doenças malignas em progresso.

Segundo Rodrigues et al (2021), a septicemia é uma condição caracterizada por uma reação inflamatória do corpo, desencadeada por uma infecção que pode se originar em um local específico e levar a mudanças sistêmicas enquanto o organismo tenta combate-la, é essencial identificar e tratar prontamente essa condição, pois alta taxa de mortalidade por sepse no Brasil pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo a possível negligência por parte de profissionais de saúde na identificação precoce da sepse, o que resulta em atrasos no tratamento e, consequentemente, em taxas de mortalidade mais elevadas.

É importante ressaltar que no que diz respeito às origens infecciosas da sepse, tanto a pneumonia quanto as infecções do trato urinário são frequentemente associadas à progressão da sepse. Estudos observacionais, que incluíram pacientes internados em unidade de terapia intensiva, revelaram que, entre os pacientes com sepse admitidos, as origens infecciosas predominantes estavam relacionadas aos sistemas respiratório, digestivo e urinário (Fernanda, 2016).

Nos estudos de Meng et al(2020), explicam um dos processos fisiológicos que ocorre no momento da sepse, que é a progressão de vários processos inflamatórios patológicos, de como a serina proteases desempenham um papel fundamental na regulação da inflamação por meio de vias de sinalização intracelular ou intercelular durante a inflamação sistêmica. Acreditam que a

Ulinastatina tenha um papel significativo no combate à inflamação. Além disso, é amplamente reconhecido que a UTI oferece proteção a vários órgãos contra diversas doenças humanas, incluindo a sepse.

Os estudos revelaram que quase 60% dos casos de sepse ocorrem em indivíduos com mais de 65 anos. Esse aumento de casos nessa faixa etária está relacionado a diversas mudanças nos mecanismos de defesa do corpo, como a diminuição da imunidade mediada por células, problemas na função da bexiga devido a fatores neurológicos, maior suscetibilidade das células uroepiteliais às bactérias, problemas de incontinência fecal e urinária, além de procedimentos médicos como cateterismo uretral e redução dos fatores antibacterianos nos órgãos genitais (Hsião et al., 2015).

Complicações da Sepse

Em relação as complicações da sepse, observa se que a taxa de mortalidade é significativamente elevada, com pacientes que desenvolvem sepse na UTI falecendo no mesmo local, e essa taxa aumenta para 69,3% em pacientes que evoluem para choque séptico. Esse resultado reforça a constatação anterior de que a mortalidade se eleva de forma progressiva com a gravidade da sepse, como já havia sido sugerido em estudos anteriores (Agodi et al., 2018).

A septicemia é caracterizada pela existência de uma infecção que leva a disfunção de órgãos e representa a causa primordial da ocorrência de Lesão Renal Aguda, essa complicação é caracterizada por uma rápida diminuição da capacidade dos rins em funcionar, o que se manifesta através do aumento dos níveis de creatinina no sangue e ou diminuição da produção de urina. A Lesão Renal Aguda, que ocorre com frequência nas unidades de terapia intensiva, possui várias causas e deve ser detectada e tratada de forma rápida, utilizando o tratamento mais apropriado e corrigindo os fatores que a pioram o mais cedo possível (Hyde et al., 2019).

Já para Hsião et al (2015), pacientes que tem infecção urinária e sofrem de doença arterial coronariana (DAC) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC) enfrentam um risco maior de desenvolver choque séptico. Em termos mais simples, após uma pessoa ter tido sepse, especialmente sepse grave, é comum observar um aumento na carga de trabalho do coração. Isso ocorre porque, devido à redução na resistência dos vasos sanguíneos periféricos, o coração precisa bombear mais sangue para manter a pressão arterial adequada. Diversos fatores, como acúmulo de células brancas nas pequenas artérias do coração, problemas no sistema nervoso autônomo, inflamação que afeta diretamente o músculo cardíaco, problemas nas mitocôndrias e morte celular programada, podem contribuir para a disfunção do músculo cardíaco em pacientes com sepse.

Nos estudos de Chen et al (2020), a medição da pressão nos vasos centrais tem sido empregada para antecipar o estado do paciente ou sua reação à administração de fluídos. O fornecimento de fluídos pode aumentar a quantidade de sangue bombeada pelo coração, porém, também pode aumentar o risco de acúmulo de líquido nos tecidos devido ao aumento da pressão dos vasos sanguíneos, e é mais vantajoso e seguro administrar fluidos a pacientes com pressão venosa central (PVC) mais baixa do que aqueles com PVC elevada. Essa pesquisa revelou PVC está relacionado a uma redução significativa na mortalidade, em comparação com a ausência de medição da PVC pela primeira vez.

Mares et al (2022), afirma em seu estudo que a transição de um paciente para um estado de choque séptico e hipovolêmico é uma das maiores preocupações das equipes médicas em UTI, pois é uma das causas mais comuns de morte nesses ambientes. Além do alto índice de mortalidade, a presença de choque séptico está ligada ao surgimento de problemas físicos e mentais duradouros, consequência da prolongada estadia na unidade de terapia intensiva, bem como à diminuição da qualidade de vida devido a hospitalizações frequentes e a um considerável aumento nos gastos com cuidados de saúde.

Intervenções do Farmacêutico

Em relação ao farmacêutico no contexto da sepse, a supervisão farmacoterapêutica realizada por farmacêuticos resultou em uma diminuição significativa, de até 78%, nas ocorrências de erros de administração de medicamentos, destacou que a revisão de prescrições, quando incorporada à prática de distribuição de medicamentos em ambiente hospitalar, continua a ser uma abordagem essencial para identificar e resolver problemas relacionados à administração de medicamentos e aprimorar a qualidade no seu uso (Christini et al., 2013).

Segundo Hixson; Coz; e Davis (2022) a incorporação de farmacêuticos no departamento de emergência (DE) levou a uma melhora nos resultados dos pacientes com sepse, graças à otimização da terapia antimicrobiana oportuna. Isso demonstra como o envolvimento dos farmacêuticos do corpo clínico (CSPs) é um exemplo de uma abordagem protocolizada e multidisciplinar para aprimorar o reconhecimento da sepse, transformando-a em uma emergência médica que pode ser mais eficazmente tratada com a antibioticoterapia adequada e oportuna.

Em um estudo descritivo, se a triagem fosse positivar de sepse, toda a equipe, incluindo o farmacêutico, era notificada para responder rapidamente. Isso resultou em uma diminuição significativa no tempo de administração de antibióticos, de 396 para 51 minutos em áreas não críticas e de 427 para 31 minutos nas unidades de cuidados intensivos. Além disso, a mortalidade relacionada à sepse diminuiu consideravelmente após a implementação desse processo. (Cavanaugh et al., 2017).

Em um estudo de coorte retrospectivo mostrou que apenas a intervenção farmacêutica teve um efeito significativo na análise de regressão com o modelo de risco proporcional para o tempo até a falha da terapia com Vancomicina, apresentando uma taxa de risco de 0,26. Além disso, constatou-se que a intervenção farmacêutica foi eficaz na redução da incidência de disfunção renal, especialmente ao planejar a dose inicial de VCM (Komoto et. al., 2018).

Nos estudos de Smith; Sikora; e Tackett (2019) destacaram que a Noradrenalina é comumente escolhida como o principal agente pressor para tratar o choque séptico em suas instituições, devido à diminuição do risco de efeitos adversos em comparação com a dopamina. Essa escolha é crucial, pois se alinha com os princípios do manejo da sepse, que priorizam a reanimação para alcançar a estabilidade hemodinâmica e intervenções para erradicar a infecção.

Willmon et al (2020), relata a procalcitonina (PCT), que é um indicador tanto de infecção quanto de inflamação, demonstra aumentos rápidos em suas concentrações entre 2 e 4 horas em casos graves de infecção, e começa a diminuir à medida que as substâncias inflamatórias diminuem durante a fase de recuperação. Os resultados da PCT permitiram que o farmacêutico oferecesse orientações ao médico sobre a continuação ou interrupção dos antibióticos, evitando, assim, a prolongação desnecessária desse tratamento, o que, por sua vez, pode prevenir o desenvolvimento de cepas bacterianas resistentes e reduzir custos e o tempo de internação.

CONCLUSÃO

As intervenções farmacêuticas desempenham um papel crucial na solução e diminuição da septicemia. Através da revisão detalhada das intervenções farmacêuticas disponíveis, demonstramos que esses profissionais desempenham um papel fundamental na otimização das terapias farmacológicas, na prevenção de complicações associadas à sepse e no suporte à equipe médica na tomada de decisões.

É crucial reconhecer que a colaboração interdisciplinar é essencial para melhorar os resultados dos pacientes com sepse na UTI. Os farmacêuticos, com seu conhecimento especializado em medicamentos e suas competências clínicas, têm o potencial de contribuir significativamente para o tratamento eficaz e a redução da mortalidade associada à sepse.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGODI, A., BARCHITTA, M., AUXILIA, F., BRUSAFERRO, S., D’ERRICO, M., MONTAGNA, M., MURA, I. Epidemiology of intensive care unit-acquired sepsis in Italy: results of the SPIN-UTI network. Annali di igiene medicina preventiva e di comunità, pp. 16-19, 2018.

CAVANAUGH JR, J., SULLIVAN, J., EAST, N., & NODZON, J. Importance of Pharmacy Involvement in the Treatment of Sepsis. Hospital Pharmacy, p. 191-196, 2017.

CHEN, H., ZHU, Z., ZHAO, C., GUO, Y., CHEN, D., WEI, Y., & JIN, J. Central venous pressure measurement is associated with improved outcomes in septic patients: an analysis of the MIMIC-III database. Critical care, p. 2-8, 2020.

CHRISTINI , W. T., THAYS , C. S., JANUÁRIO , C. C., & MARI, V. S. Análise das intervenções de farmacêuticos clínicos em um hospital de ensino terciário do Brasil. Einstein (São Paulo), p. 190-196, 2013.

DE ABREU, A. C., DE ABREU, E. C., DA SILVA, M. F., WELESON , J. O., & CAMILLE, J. C. Fatores que intensificam o risco de óbito causado por SEPSE e o papel do farmacêutico nesse contexto: uma revisão integrativa. Brazilian journal of health review, p. 1-22, 2021.

DELFRATE, G., FERNANDES, D., & CESAR, G. N. Agentes inibidores da fosfodiesterase no tratamento da sepse e choque séptico. Society and development research, p. 1-12, 2021.

DIAS, L., CALVI, A., DA SILVEIRA , D. S., & MACAGNAN , M. B. O papel do enfermeiro frente às ações de prevenção e controle de infecção hospitalar em unidade de terapia intensiva adulto: uma revisão integrativa. Revista de saúde faculdade dom alberto, p. 45-68, 2023.

DRIESSEN, R. G., HEIJNEN, N. F., HULSEWE, R. P., HOLTKAMP, J. W., WINKENS, B., VAN DE POLL, M. C, SCHNABEL, R. M. Early ICU-mortality in sepsis – causes, influencing factors and variability in clinical judgement: a retrospective cohort study. Infectious diseases, p. 61-67, 2020.

FERNANDA , M. C., SOLANGE , M. G., KERBAUY, G., & MAGALHÃES , C. C. Sepse em um hospital universitário: estudo prospectivo para análise de custo da hospitalização de pacientes. Revista da Escola de Enfermagem da USP, p. 303-307, 2016.

HIXSON, H., COZ , A. Y., & DAVIS, K. Incorporation of Clinical Staff Pharmacists in the Emergency Department Sepsis Response at a Single Institution. Program profile, p. 190-193, 2022.

HSIAO, C.-Y., YANG, H.-Y., CHANG, C.-H., LIN, H.-L., WU, C.-Y., HSIAO, M.-C., WU, T.-C. Risk Factors for Development of Septic Shock in Patients with Urinary Tract Infection. Research article, p. 1-6, 2015.

HYDE , K. E., AGUIAR , F. A., CATHERINA, K. N., & MARIA , S. R. Fatores de risco e mortalidade dos pacientes com sepse, lesão renal aguda séptica e não séptica na UTI. Original article, p. 463-470, 2019.

KOMOTO, A., MAIGUMA, T., TESHIMA, D., SUGIYAMA, T., & HARUKI, Y. Effects of pharmacist intervention in Vancomycin treatment for patients with bacteremia due to Methicillin-resistant Staphylococcus aureus. Plos one, p. 2-12, 2018.

MARES , S. B., SILVA , B. D., GOMES , W. D., NOVAIS , A. M., SILVEIRA , M. C., LEANDRO, D. A. Predição de choque séptico e hipovolêmico em pacientes de unidade de terapia intensiva com o uso de machine learning. Rev bras ter intensiva,p. 478-482, 2022.

MARIA , L. D. MEDICAMENTOS DE ALTA VIGILÂNCIA MAIS UTILIZADOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA REVISÃO DE LITERATURA. Centro universitário maria milza, p. 11-29, 2022.

MENG, F., DU, C., ZHANG, Y., WANG, S., ZHOU, Q., WU, L., YANG, X. Protective effect of rhubarb combined with ulinastatin for patients with sepsis. Medicine, p. 1-5, 2020.

MESQUITA , T. Á., & GERICA , H. D. SEPSE EM UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO (UTI): ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO CLINICO. Revista jrg de estudos acadêmicos, p. 195-205, 2020.

RODRIGUES, N. C., FONSECA , G. P., LIMA , F. J., VICTOR , J. S., PEDRO , J. P., ROCHA , F. D., & ROBERTO , M. T. Análise de tendência de mortalidade por sepse no Brasil e por regiões de 2010 a 2019. Rev saude publica, p. 2-11, 2021.

SANTOS, C. O., PINTO, T. P., & MENEZES, D. O. O uso indiscriminado de antibióticos em UTI. Society and development research, p. 1-8, 2022.

SMITH, S., SIKORA, A. N., & TACKETT, R. Prescribing of Pressor Agents in Septic Shock: A Survey of Critical Care Pharmacists. Journal of pharmacy technology, p. 187-192, 2019.

WILLMON, J., SUBEDI, B., GIRGIS, R., & NOE, M. Impact of Pharmacist-Directed Simplified Procalcitonin Algorithm on Antibiotic Therapy in Critically Ill Patients With Sepsis. Journals sagepub, p. 502-505, 2020.


1Acadêmico de Farmácia.
Centro universitário FAMETRO
Endereço: Av. Constantino Nery, 3204
Chapada, Manaus -AM, 69050-000
Email: thayssassis2726@gmail.com1

2Acadêmico de Farmácia.
Centro universitário FAMETRO
Endereço: Av. Constantino Nery, 3204
Chapada, Manaus -AM, 69050-000
Email: smitpriscila@gmail.com2

3Acadêmico de Farmácia.
Centro universitário FAMETRO
Endereço: Av. Constantino Nery, 3204
Chapada, Manaus -AM, 69050-000
Email: nathy.marialva2014@gmail.com3

4Professor Mestre
Centro Universitário FAMETRO
Endereço: Av. Constantino Nery, 3204
Chapada, Manaus- AM, 69050-000
E-mail: amanda.carvalho@fametro.edu.br4