INCIDÊNCIA E MORTALIDADE POR TUBERCULOSE NO MARANHÃO DURANTE O PERÍODO PANDÊMICO DA COVID-19

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10157464


Suiani Carvalho Braz 1;
Vitória Ribeiro Pereira1;
Mércya Carolynne Santos Silva1;
Ellen Maria Vieira Arruda Andrade1;
Amanda de Jesus Abreu Rocha1;
Carlos Emanuel Araujo Soares1;
Prof. Ademilton Costa Alves 2


RESUMO

INTRODUÇÃO: A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa de notificação compulsória, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, altamente transmissível que ao entrar em contato com o organismo, se aloja nos pulmões, podendo acometer outras regiões. A TB é considerada um problema de saúde pública e são notificados por ano, 70 mil novos casos e morrem aproximadamente 4,5 mil pessoas por complicações dessa doença. Uma maior frequência no número de casos da tuberculose foi registrada em virtude das consequências trazidas por esse processo pandêmico, causando altas taxas de morbidade e mortalidade, o que dificultou o rastreio, diagnóstico e a notificação da doença, impactando negativamente no controle dessa enfermidade.

OBJETIVOS: O objetivo deste trabalho, é avaliar a incidência e mortalidade por tuberculose no Maranhão durante o período pandêmico da Covid-19.

MÉTODOS: Para isso foi realizado um estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa dos casos de tuberculose no Maranhão, no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2022. O estudo foi realizado por meio de coletas de dados secundários obtidos por consulta às bases de dados públicos disponibilizados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS). Foi calculada a frequência absoluta das variáveis: Taxa de Incidência da doença por ano estudado e o Coeficiente de Mortalidade. A compilação dos dados colhidos foi realizada através do programa Microsoft Office Excel versão 2021 e, posteriormente, apresentada nas formas de tabelas e gráficos, para fins de melhor compreensão das análises desenvolvidas.

RESULTADOS: Foram notificados 8.657 casos de tuberculose no Maranhão no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2022, com uma taxa de incidência de 35,46 casos novos/100 mil habitantes para o ano de 2020, 40,70 para o ano de 2021 e 47,55 para o ano de 2022, registrado um aumento progressivo nesse período de anos avaliados. Já a taxa de mortalidade avaliada, em 2020 foi de 1,51; em 2021 foi de 1,99; e no ano de 2022 foi de 2,30, apresentando o maior aumento nas notificações de óbito por essa patologia.

CONCLUSÃO: Em resumo, podemos inferir que a taxa de incidência da tuberculose apresentou um visível aumento, no intervalo de tempo selecionado, consequentemente, período que correspondeu a quase totalidade do processo pandêmico. Todavia, o cenário correspondente ao início da Covid-19, ano de 2020, registrou uma menor expressividade de elevação no número de casos novos, na população maranhense, possivelmente, relacionada a algum tipo de falha de diagnóstico e notificação junto ao sistema de saúde pública, já que os anos seguintes mantiveram um aumento considerável dos registros dessa doença bacteriana. E no tocante às taxas de mortalidade evidenciadas por tuberculose, não foi observada, na análise descritiva realizada, uma destacável influência do processo pandêmico, produzido pelo novo coronavírus, nesse indicador epidemiológico, embora saibamos da probabilidade de um possível sinergismo entre essas duas patologias de cunho respiratório. Assim é válida a continuidade de mais estudos envolvendo a correlação dessas temáticas.

Palavra-chave: Mycobacterium tuberculosis; SARS-COV2; Doenças respiratórias.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Tuberculosis (TB) is a compulsorily notifiable infectious disease caused by the bacterium Mycobacterium tuberculosis, which is highly transmissible and, upon contact with the organism, lodges in the lungs and can affect other regions. TB is considered a public health problem and 70 thousand new cases are reported each year and approximately 4.5 thousand people die from complications of this disease. A greater frequency in the number of tuberculosis cases was recorded due to the consequences brought by this pandemic process, causing high rates of morbidity and mortality, which made screening, diagnosis and notification of the disease difficult, negatively impacting the control of this disease.

PURPOSE: The objective of this work is to evaluate the incidence and mortality from tuberculosis in Maranhão during the Covid-19 pandemic period.

METHODS: For this purpose, a cross-sectional, descriptive study was carried out, with a quantitative approach to tuberculosis cases in Maranhão, from January 2020 to December 2022. The study was carried out through collection of secondary data obtained by consulting databases. public data made available in the Notifiable Diseases Information System (SINAN) and by the Information Technology Department of the Unified Health System (DataSUS). The absolute frequency of the variables was calculated: Incidence Rate of the disease per year studied and the Mortality Coefficient. The compilation of the data collected was carried out using the Microsoft Office Excel version 2021 program and, subsequently, presented in the form of tables and graphs, for the purpose of better understanding the analyzes developed.

RESULTS: 8,657 cases of tuberculosis were reported in Maranhão from January 2020 to December 2022, with an incidence rate of 35.46 new cases/100 thousand inhabitants for the year 2020, 40.70 for the year 2021 and 47.55 for the year 2022, recording a progressive increase in this period of years evaluated. The assessed mortality rate in 2020 was 1.51; in 2021 it was 1.99; and in 2022 it was 2.30, showing the biggest increase in death notifications due to this pathology.

CONCLUSION: In summary, we can infer that the incidence rate of tuberculosis showed a visible increase in the selected time interval, consequently, a period that corresponded to almost the entire pandemic process. However, the scenario corresponding to the beginning of Covid-19, in 2020, recorded a smaller increase in the number of new cases, in the population of Maranhão, possibly related to some type of failure in diagnosis and notification with the public health system. , as the following years saw a considerable increase in records of this bacterial disease. And with regard to mortality rates evidenced by tuberculosis, in the descriptive analysis carried out, a notable influence of the pandemic process, produced by the new coronavirus, on this epidemiological indicator was not observed, although we know of the probability of a possible synergism between these two pathologies. respiratory. Therefore, further studies involving the correlation of these themes are valid.

Keywords: Mycobacterium tuberculosis; SARS-COV-2; Respiratory diseases.

1. INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa de notificação compulsória, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, altamente transmissível que ao entrar em contato com o organismo, se aloja nos pulmões e ainda podendo acometer outras regiões. Atualmente existem dois tipos de TB, a primária, chamada pulmonar e a TB secundária, chamada extrapulmonar (RABAHI et al., 2017).

A primoinfecção, tuberculose primária, é causada quando os bacilos são inalados e atingem os alvéolos, nesse momento, uma resposta inflamatória, formará um nódulo. Embora ocorra falha no sistema imunológico, haverá a formação de um granuloma, que impedirá que os bacilos disseminem a infecção para outros locais (JARDIM et al., 2021).

Na TB secundária, por sua vez, o complexo primário é reativado, em virtude de problemas imunológicos resultantes de uma má alimentação, quimioterapia e da infecção por HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), trazendo como consequências, o aparecimento de tubérculos com necrose caseosa e a disseminação para outros órgãos por via linfática e hematogênica (ROSENDO; BEZERRA; LIMA, 2020).

Essa patologia foi descoberta em 1882, pelo bacteriólogo alemão Robert Koch, nessa época, era conhecida como “Peste Branca”. O pesquisador realizou o isolamento em cultura laboratorial e inoculou o bacilo de Koch (BK) em diversas cobaias, comprovando que a doença era causada exclusivamente pelo BK e que infectava homens e animais, por meio de espirros e tosses contendo bacilos (MASSABNI; BONINI, 2019).

No Brasil, em 2021, foi registrado 68.271 casos novos de TB, e o coeficiente de incidência foi de 32,0 casos por 100 mil habitantes. Atualmente nosso país ocupa a 20ª posição mundial em incidência de tuberculose e conforme os informes da OMS, encontra-se entre os 22 países com maior carga de tuberculose (BRASIL, 2023)

Os sintomas da TB mais comuns são: tosse por três semanas ou mais, com ou sem secreção, sudorese noturna, cansaço, angina, falta de apetite e emagrecimento. A febre é um sintoma não tão frequente, porém quando se manifesta é preferencialmente no período da tarde (MARTINS; MIRANDA, 2020).

O diagnóstico definitivo é realizado por meio do exame de escarro (Baciloscopia de Escarro, Teste Rápido Molecular para Tuberculose e Cultura do Escarro), além da inicial avaliação clínica e exames de imagem como RX, tomografia etc. Recomenda-se ainda realizar o teste de HIV devido à possibilidade de uma coinfecção existente com essa comorbidade (SILVA et al., 2021b).

O tratamento é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), diretamente, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), com duração mínima de 6 meses. Ele sendo feito corretamente, propicia 100% de cura e após 15 dias do início dessa terapêutica, não ocorrerá mais a transmissão da doença. Todos os casos de TB devem ser, obrigatoriamente, notificados ao serviço de epidemiologia de seus respectivos municípios (MOREIRA; KRITSKI; CARVALHO, 2020).

A prevenção pode ser feita através da vacina BCG (Bacilo Calmette-Guérin), que protege contra as formas graves da TB, e deve ser administrada, com prioridade, em crianças logo ao nascer, até antes dos 5 anos, sendo obrigatória a vacinação para menores de 1 ano de idade (SANTOS et al., 2023).

Recentemente a TB tem sido descrita como uma das doenças que mais causam mortes no Brasil, devido diversos fatores associados em seu agravamento, com destaque para o surgimento da pandemia da Covid-19 ou síndrome respiratória aguda causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) (GUERRA et al., 2021).

A doença causada por esse tipo de vírus provoca uma infecção aguda, onde o ser humano não é hospedeiro natural e em duas a quatro semanas, provavelmente, o patógeno é eliminado pelo corpo humano (LOTFI; HAMBLIN; REZAEI, 2020). Essa patologia foi responsável por mais de 675 milhões de casos confirmados e por 6,87 milhões de mortes em todo o mundo, até 26 de fevereiro de 2023 (NETTO; CORRÊA, 2020).

O diagnóstico e tratamento tardio da tuberculose, em virtude da pandemia pela Covid-19 contribuiram para o aumento da frequência dessa doença bacteriana, que a muito já era negligenciada. Inclusive, no tocante, ao cenário gradativo da tuberculose multirresistente (TBMR) (SILVA et al., 2021a). Com as altas taxas de mortalidade, devido o novo coronavírus, as autoridades de saúde acabaram por negligenciar mais ainda os casos de tuberculose. Os erros no diagnóstico e a baixa de notificação deixaram os indivíduos mais vulneráveis a ter, consequentemente, agravamento clínico dessas duas doenças respiratórias (GUERRA et al., 2021).

A tuberculose (TB) é considerada um problema de saúde pública e são registrados por ano, 70 mil novos casos e morrem aproximadamente 4,5 mil pessoas por complicações dessa doença, que é de notificação compulsória. No entanto, a TB é curável e o tratamento é, gratuitamente, disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde – SUS (BRASIL, 2023).

Em virtude das consequências trazidas pela pandemia da Covid-19, ocorreu um expressivo aumento da frequência de novos casos de tuberculose em todo o Brasil, causando altas taxas de morbidade e mortalidade, o que dificultou o rastreio, diagnóstico e a notificação da doença, impactando negativamente no controle dessa enfermidade (SILVA et al., 2021a). Desta maneira, se faz necessário identificar melhor a relação entre o aparecimento e agravamento da Covid-19, com a possível existência de falhas no processo de notificação da tuberculose, avaliando assim, de forma mais pormenorizada, a incidência e mortalidade da tuberculose, via dados públicos contidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) – Maranhão, do Ministério da Saúde.

Diante do exposto, este estudo teve por objetivo avaliar a incidência e mortalidade por tuberculose no Maranhão durante o período pandêmico da Covid-19.

2. MÉTODOS

2.1 Tipo de Estudo

Trata-se de estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa dos casos de tuberculose registrados na população maranhense, no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2022. 

2.2 Coleta de dados

O estudo foi realizado por meio de coletas de dados secundários obtidos por consulta às bases de dados públicos disponibilizados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), das informações registradas no período de 01 janeiro de 2020 a 31 de dezembro de 2022. As variáveis utilizadas para caracterização do estudo foram: Taxa de incidência; e a Taxa de Mortalidade (Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

2.3 Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos neste trabalho somente as informações disponibilizadas pelos meios eletrônicos do sistema SINAN / DATASUS, referente aos casos de tuberculose no Maranhão, no período de 01 de janeiro de 2020 a 31 de dezembro 2022. E foram excluídos, quaisquer dados que não estavam dentro do sistema; patologia; unidade federal de notificação; e período selecionados.

2.4 Análise Estatística

A análise estatística descritiva foi desenvolvida, com base na compilação dos dados colhidos, através do programa Microsoft Office Excel versão 2021 e, posteriormente, configurados na forma de tabelas de frequências e gráficos (SILVA et al., 2022).

Foram calculadas por ano, as frequências absolutas das variáveis, Taxa de Incidência da doença por ano estudado; e o Coeficiente de mortalidade, calculados a partir das seguintes fórmulas: 

Taxa de Incidência: Números de casos de tuberculose (todas as formas) confirmados residentes x 100.000 / População total residente no ano considerado.

Coeficiente de Mortalidade: Números de óbitos por tuberculose (causa básica) no período x 100.000/ População total residente no mesmo período determinado.

2.5 Aspectos Éticos

Por se tratar de informações de domínio público, obtidas do sistema de banco de dados SINAN / DATASUS, não ocorreu acesso a qualquer espécie de manipulação com seres humanos, assim não se enquadrando dentro das disposições das resoluções nº 466/12 e nº 510/16 e, consequentemente, não se fez necessário a submissão ao Comitê de Ética e Pesquisa – CEP.

3. RESULTADOS

Foram notificados 8.657 casos de tuberculose (TB) no Maranhão, no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2022, com uma taxa de incidência de 35,46 casos novos / 100 mil habitantes para o ano de 2020; 40,70 para o ano de 2021; e 47,55 para o ano de 2022. Houve um crescimento de casos de TB durante o período analisado, de forma progressiva, conforme os dados apresentados, de forma particularizada, nas Tabelas 1 e 2, para os anos de 2020 e 2021. E na Tabela 3, os casos de 2022, ano que registrou o maior número de casos novos confirmados dessa enfermidade. Esses dados estão ainda ressaltados, conforme abaixo, no Gráfico 1, para fins de melhoria na visualização e interpretação dos resultados obtidos.

Tabela 1: Casos novos confirmados por Mês Diagnóstico Ano 2020

Tabela 2: Casos novos confirmados por Mês Diagnóstico Ano 2021

Tabela 3: Casos novos confirmados por Mês Diagnóstico Ano 2022

Gráfico 1: Casos novos confirmados de Tuberculose por Ano 

Em relação a taxa de mortalidade, avaliada no período selecionado, em 2020 foi de 1,51; em 2021 foi de 1,99; e no ano de 2022 foi de 2,30, ano que registrou o maior aumento nas notificações de óbito por essa patologia.

Tabela 4 – Coeficiente de Mortalidade por Tuberculose Brasil, 2020 a 2022

4. DISCUSSÃO

No Maranhão, de forma progressiva, no período dos anos subsequentes analisados, ocorreu uma contínua expressividade de notificações dos casos de tuberculose (TB), conforme este estudo atual. Esse perceptível aumento gradativo, no decorrer desse intervalo analisado, dos registros de casos novos de TB foram similares aos resultados de um estudo realizado no estado do Rio de Janeiro, no qual identificou-se que as notificações de tuberculose também registraram uma considerável elevação (SOUZA, 2022).

Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde em 2021, observou-se uma diminuição, pontual, de 16% nas notificações de casos novos de TB em comparação aos registros do ano de 2019. Essa redução foi mais evidente no mês de abril. Concomitantemente, foi constatado uma diminuição de 14% no uso de cartuchos de teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB) quando comparado o ano de 2020 para com o de 2019 (BRASIL, 2021). Situação semelhante foi expressa neste estudo com a população maranhense, quando verificada uma menor incidência registrada, no mês de maio de 2020, quando comparado ao mês anterior. Cenário favorável a questionamentos sobre possíveis subnotificações dessa enfermidade bacteriana.   

Um estudo realizado em Sergipe, evidenciou um aumento no números de casos novos confirmados de TB, quando comparado as notificações de 2020 para com os registros de 2021, uma vez que o isolamento social, nesse primeiro ano, dificultou ainda mais a procura da população pelos serviços básicos de saúde (OLIVEIRA et al., 2023). Esses dados reiteram que, provavelmente, de forma similar e integral aos outros estados brasileiros, esse fator limitante também afetou o Maranhão, pois no ano de 2021 e acima de tudo o de 2022, o número de notificações foram bem mais expressivas.

Oliveira e colaboradores (2021) encontraram dados semelhantes aos registrados na população maranhense, pois identificou um crescimento no parâmetro incidência bem menos representativo dos casos de TB, quando comparado aos anos anteriores, na regional de Aracaju, no ano de 2020. Esse estudo mostrou que a possível subnotificação dos casos pode ser decorrente de alguma falha no processo padrão de diagnóstico / notificação desses casos pelos serviços de saúde. Análoga ocorrência foi identificada em um estudo epidemiológico transversal descritivo, com base na observação dos dados no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), onde observou-se uma redução na notificação de casos novos de TB, de 2019 para 2020 (GARCEZ et al., 2020). 

Corroborando aos achados do estudo atual do Maranhão, a comparação do perfil epidemiológico da Tuberculose, desenvolvida em um estudo no estado do Pará, avaliou essa patologia, em seu antes e depois do surgimento da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-COV-2) e descobriu uma redução de notificação dos casos novos de 16% no ano de 2020, em relação ao ano pregresso (AMARAL et al., 2022). 

De forma particularizada, um estudo no estado de São Paulo, embora observado um ínfimo aumento do número de casos novos de tuberculose no ano de 2020, a observação mais destacável foi referente ao menor crescimento apresentado desses casos no ano de 2021, fato que pode ter sua origem em virtude de uma maior problematização do processo pandêmico, inerente a um registro populacional mais expressivo, entre os estados da federação, culminado a probabilidade maior de possíveis falhas no binômio diagnóstico/notificação, o que gerou o ano de menor incidência da enfermidade (BEZERRA et al., 2023). Resultados que diferem de outros estudos avaliados, inclusive aos dados analisados neste estudo do Maranhão. 

Cominetti e Cavalli (2023) conseguiram identificar, a partir de um estudo descritivo, quantitativo de caráter transversal, realizado no oeste do Estado Paraná, via os dados públicos disponíveis, uma redução do crescimento de casos novos no ano de 2020, divergente ao processo de elevação dos anos anteriores. Fortalecendo assim a representativa conjuntura desse período, que de forma análoga, foi o momento de grande e grave expressividade da Pandemia do Covid-19, que influenciou de forma negativa no processo correto de diagnóstico e consequente notificação junto as autoridades de saúde. Fato, possivelmente, correspondente ao ocorrido neste atual estudo epidemiológico maranhense.

De acordo com Cunha (2021), o ano de 2020 foi o pico da pandemia provocada pelo novo coronavírus e, com isso, à procura da população pelos serviços de saúde, não somente diminuiu, mas também ficou mais ainda limitada e demorada, pela situação enfrentada naquele período. Soma-se a esse cenário, a existência de outros fatores potencializadores como a idade, presença de comorbidades, determinantes sociais, a pobreza e a desnutrição, que podem aumentar a taxa de mortalidade por tuberculose.

A coinfecção entre tuberculose  e Covid-19  ainda foi pouco  elucidada, porém as evidências mais recentes sugerem que ela pode levar à formas mais graves da Covid-19 e TB, levando a uma progressão rápida da doença e óbito, elevando consequentemente a taxa de mortalidade (PINHEIRO et al., 2020), principalmente em pessoas com vulnerabilidade imunológica (DE SOUZA et al., 2020). Todavia, neste estudo com a população maranhense às taxas de mortalidade registradas nos anos analisados, embora representativas, apresentaram-se de forma bem homogênea.

Segundo Diao e colaboradores (2020) a gravidade dos sintomas em pacientes com Covid – 19  relaciona – se  à baixa na imunidade temporária causada  pela  tuberculose, deixando esses  pacientes  mais suscetíveis. Constatação corroborada pelo estudo de Chen et al., (2021), que de forma sinérgica, afirmam que  a  gravidade  dos  sintomas em pacientes com TB está  diretamente ligada aos casos mais graves da virose provocada pelo SARS-CoV-2.

Demkina et al. (2021) relataram que pacientes com tuberculose e Covid-19 tiveram maior risco de mortalidade e, mais chances de serem transferidos para unidades de cuidados intensivos (UTI). Porém, Motta et al., 2020 já haviam alertado que a gravidade e letalidade não estão ligadas somente à combinação dessas duas doenças de cunho respiratório, mas também podem ser influenciadas por outras comorbidades, especialmente, quando o foco é direcionado a maior vulnerabilidade pelo tipo de paciente, como por exemplo, os idosos.

Embora não expressivamente apresentada no atual estudo da população maranhense, a taxa de mortalidade da tuberculose pode aumentar em um paciente acometido por essa doença bacteriana, em virtude desse indivíduo ficar mais vunerável a outra comorbidade, como aconteceu no período pandêmico, onde ocorreu um aumento da suscetibilidade ao coronavírus, e consequente, progressão a uma coinfecção, fato agravante para o estado de saúde dos já portadores de TB, o que potencializou o caráter de letalidade e posteriormente, o aumento dos registros de óbitos (SANTOS et al., 2022). 

Conforme apresentado no estudo de Mamani, Santana e Branagan (2021), o provável potencial de sinergismo representado pela combinação entre uma patologia de origem bacteriana, com uma doença de cunho viral, que porventura, apresentam manifestações clínicas no âmbito do sistema respiratório, poderá explicar, de forma direta, um real aumento nas taxas de mortalidade tanto para os registros de tuberculose, quanto foi para a Covid-19, no período pandêmico. Por outro lado, essa mesma coinfecção, ou até mesmo uma dessas doenças respiratórias isoladas e não diagnosticadas corretamente, podem ainda levar à possíveis erros de registros de notificação dessas enfermidades, o que favoreceria uma menor celeridade dos verdadeiros números relacionados a doença foco deste estudo, que foi a tuberculose, no estado do Maranhão. Situação que talvez elucidaria as taxas de mortalidade, registradas nesse estado, não tão intensificadas, quanto poderiam estar.

5. CONCLUSÃO

Em resumo, podemos inferir que a taxa de incidência da tuberculose (TB) apresentou um visível aumento, no intervalo de tempo selecionado, consequentemente, período que correspondeu a quase totalidade do processo pandêmico. Todavia, o cenário correspondente ao início da Covid-19, ano de 2020, registrou uma menor expressividade de elevação no número de casos novos, na população maranhense, possivelmente, relacionada a algum tipo de falha de diagnóstico e notificação junto ao sistema de saúde pública, já que os anos seguintes mantiveram um aumento considerável dos registros dessa doença bacteriana. E no tocante as taxas de mortalidade, não foi destacável que a pandemia produzida pelo novo coronavírus tenha influenciada em um aumento evidente no número de mortes por tuberculose, apesar que as semelhanças e a possível associação dessas duas enfermidades de cunho respiratório demonstrarem que poderiam gerar um agravamento e óbito dos indivíduos portadores, mesmo que essa combinação ainda necessite ser mais bem descrita pela literatura científica. Outros fatores determinantes podem aumentar esse índice de mortalidade por TB, como: a idade, presença de comorbidades, determinantes sociais, como: a pobreza e a desnutrição, não sendo possível atribuir de forma íntegra o aumento da taxa de mortalidade à pandemia da COVID 19. 

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1 Acadêmico do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA;
2 Docente do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.