PRÁTICAS INTEGRATIVAS COMPLEMENTARES NO ALÍVIO E CONTROLE DA DOR ONCOLÓGICA NO CÂNCER DE PULMÃO

COMPLEMENTARY INTEGRATIVE PRACTICES IN THE RELIEF AND CONTROL OF ONCOLOGICAL PAIN IN LUNG CANCER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10202227


Maria Rafaela de Moura
Cíntia de Carvalho Silva
Karla Hellen Dias Soare
Larissa Florentino
Tarcísio Vinicius Nascimento Andrade


RESUMO

O câncer de pulmão está entre uma das doenças mais diagnosticadas no Brasil e no mundo. Essa realidade causa sérios desafios ao sistema de saúde, em especial aos profissionais de enfermagem. Nesse sentido, as Práticas Integrativas Complementares (PICs) vêm se destacando como possíveis alternativas para o controle da dor e melhora do quadro clínico de pacientes com essa patologia. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi identificar as principais PICs no alívio da dor oncológica em pacientes com câncer de pulmão no contexto da enfermagem. Foi realizada uma revisão narrativa de cunho qualitativo em bases de dados eletrônicas. A busca foi realizada por pares e teve como critérios de inclusão artigos e publicações: 1) submetidos nos últimos 5 anos; 2) disponíveis na íntegra; 3) relacionados com a temática em questão; e 4) publicados em língua portuguesa ou inglesa. Foram excluídos os estudos duplicados e que após a leitura na íntegra não mencionaram o perfil de amostra desejado. Como resultado, obteve-se 9 estudos, dos quais apenas três avaliaram a redução da dor nesses pacientes. Com isso, conclui-se que as PICs referentes a homeopatia, yoga e os exercícios aeróbicos com treinamento muscular respiratório não possuíam melhora significativa na dor de pacientes com câncer de pulmão.

Palavras-chave: Terapias complementares; enfermagem; neoplasias pulmonares.

Abstract

Lung cancer is one of the most diagnosed diseases in Brazil and the world. This reality causes serious challenges for the health system, especially for nursing professionals. In this sense, Complementary Integrative Practices (PICs) have been highlighted as possible alternatives for controlling pain and improving the clinical condition of patients with this pathology. Therefore, the objective of the present study was to identify the main PICs in relieving cancer pain in patients with lung cancer in the nursing context. A qualitative narrative review was carried out in electronic databases. The search was carried out by peers and the inclusion criteria were articles and publications: 1) submitted in the last 5 years; 2) available in full; 3) related to the topic in question; and 4) published in Portuguese or English. Duplicate studies that, after reading in full, did not mention the desired sample profile were excluded. As a result, 9 studies were obtained, of which only three evaluated pain reduction in these patients. Therefore, it is concluded that the PICS referring to homeopathy, yoga and aerobic exercises with respiratory muscle training did not have a significant improvement in the pain of patients with lung cancer.

Keywords: Complementary therapies; nursing; lung neoplasms.

1. INTRODUÇÃO

O câncer é a segunda principal causa de morte no mundo, afetando países de todas as realidades socioeconômicas (Hausman, 2019). Provocado geralmente por fatores de risco, como uso de tabaco, sedentarismo, excesso de massa gorda e padrões reprodutivos, o câncer se caracteriza pelo crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos e órgãos de todo o corpo (Sequeira; Castellanos; Vargas, 2020).

Nessa realidade, o câncer de pulmão se tornou um dos tipos mais diagnosticados no mundo. A estimativa é que cerca de 2 milhões de casos apareçam anualmente, representando 11,6% do total de casos de câncer (World Health Organization, 2019). Com cerca de 1,76 milhão de óbitos por ano, essa doença é a principal causa de morte por câncer em homens e mulheres somados juntos, sendo a terceira causa mais comum de perda da vida por câncer em mulheres (Bade; Cruz, 2020).

O paciente estando inserido no contexto do câncer e da dor oncológica, impacta em vários aspectos, sendo eles: físico, funcional, psicológico, social (Zyzniewska-Banaszak et al., 2021). Desta forma, a enfermagem é uma das profissões com maior expertise e habilidade no auxílio do controle desta enfermidade (Lopes; Rodrigues, 2022).

No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) revelou que no período entre 2013 e 2020, houve cerca de 2 milhões de casos de câncer de pulmão (Nogueira et al., 2021). Em paralelo, estão previstos para o triênio 2023-2025, 32 mil novos diagnósticos no país (Santos et al., 2023). Dessa forma, a patologia se tornará o segundo tipo de câncer mais comum entre homens e o quarto em mulheres (Souza et al., 2022). Realidade esta que gera desafios por parte de qualquer sistema de saúde no tocante ao manejo correto desses pacientes (Souza; Junger; Silva, 2019).

Nesse contexto, as práticas integrativas complementares (PICs) vêm sendo utilizadas na recuperação de pacientes com câncer. As PICs são evidenciadas na literatura como métodos alternativos invasivos ou não (Hullen et al., 2023; Silva et al., 2023), vinculados no contexto clínico com fins de atenuar dores em geral (Moura; Gonçalves, 2020), restabelecer a saúde e por consequência obter o aumento da percepção de bem-estar dos indivíduos (Perroti; Lucato; Aquino, 2020).

Esta prática pode ser evidenciada de forma trivial em países ocidentais (Villela; Ely, 2022). Contudo, em âmbito nacional, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) implementou essas práticas como proposta terapêutica, por se mostrarem meios de baixo custo (Perea et al, 2021).

Levando-se em conta que a PNPIC inclui diversas práticas como PICs, dentre elas as abordagens terapêuticas como acupuntura, auriculoterapia e medicina tradicional chinesa (Silva et al., 2023), pode-se categorizar todas elas em três grandes vertentes: (1) grupo dos produtos naturais, (2) grupo das práticas corporais e (3) outros métodos complementares (Guerra-Martín et al., 2021). Contudo, ainda não está claro na comunidade científica quais desses grupos possuem melhor atuação na redução da dor oncológica em pacientes com câncer de pulmão.

Nesse contexto, a dor oncológica pode ser definida por várias esferas tanto nociceptiva, quanto neuropática sendo associadas em diferentes graus de intensidade (León, 2020; Teles, 2022). Todavia, refere-se a alterações da homeostase corpórea provocadas por modificações celulares (Sequeira; Castellanos; Vargas, 2020). Dessa forma tentando amenizar e cessar esse quadro, diversos estudos estão sendo realizados voltando-se para a assistência do profissional de enfermagem na realização das práticas integrativas (Dalmolin et al., 2020; Dorneles et al., 2020).

O que já se sabe é que o correto preparo do profissional de enfermagem para a implementação das PICs pode significar uma redução dos custos hospitalares (Mendes et al., 2019). Além disso, estudos vêm demonstrando que os enfermeiros que usam alguma dessas práticas aumentam as chances de proporcionar melhor qualidade de vida, maior cuidado holístico e tratamento mais humanizado ao paciente (Cenzi; Ogradowski, 2022; Dorneles et al., 2020). O que evidencia a necessidade de uma maior capacitação dessa categoria profissional frente às PICs.

Dessa forma, o presente estudo busca identificar as principais Práticas Integrativas Complementares (PICs) no alívio da dor oncológica em pacientes com câncer de pulmão no contexto da enfermagem.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa de abordagem qualitativa, no qual foram realizadas buscas de artigos entre o período de março a junho de 2023. Essa modalidade se caracteriza pela coleta e síntese de evidências sobre determinado tema com o intuito de auxiliar a prática clínica (Andrade et al., 2023).

A amostra foi composta por artigos publicados nas bases de dados eletrônicas Google Acadêmico, Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Pubmed (National Library of Medicine). A seleção dos descritores para a revisão foi efetuada mediante consulta ao DeCS (Descritores em Ciências da Saúde). Foram utilizados os descritores, nos idiomas inglês, espanhol e português, referentes à “Terapias complementares”, “enfermagem”, “cuidados de enfermagem” e “neoplasias pulmonares”. Ressalta-se que, para a busca nas plataformas de dados, foram utilizadas palavras-chave semelhantes (sinônimos) aos descritores a fim de se obter um maior número possível de artigos.

Foram incluídos artigos e publicações: 1) publicados nos últimos 5 anos; 2) disponíveis na íntegra; 3) relacionados à temática em questão; e 4) nos idiomas inglês e português. Foram excluídos os estudos duplicados, incompletos e que após a leitura na íntegra não mencionaram o perfil de amostra desejado (pacientes com câncer de pulmão).

Todos os processos de busca, seleção e avaliação dos artigos foram realizados por pares, de tal modo que as publicações que preencheram os critérios de inclusão foram analisadas integralmente e independentemente por dois pesquisadores e, em seguida, comparadas a fim de verificar a concordância entre os pares. A revisão foi constituída de três estágios. No primeiro estágio, foi realizada uma triagem baseada nos títulos dos artigos, no segundo, pelos resumos e no terceiro, o texto completo foi acessado e avaliado.

3. RESULTADOS

Após a busca e aplicação dos critérios de elegibilidade chegou-se a um total de 9 estudos elegíveis. Esse processo seguiu as seguintes etapas: (1) Aplicação dos descritores; (2) leitura dos títulos e resumos e (3) leitura do texto na íntegra. Na primeira etapa foram encontrados 29445 artigos nas bases de dados. Em seguida foram excluídos 29407 na etapa 2, por não fazerem correlação com a temática em questão. Por fim, na última etapa foram excluídos 29 estudos que não possuíam humanos como amostras, não estavam publicados nos últimos 5 anos ou eram repetidos (Figura 1).

Síntese dos artigos selecionados com suas variáveis mais pertinentes: autor/ano, tipo de estudo, amostra, práticas integrativas complementares avaliada, protocolo utilizado, principais resultados e variável “dor” é apresentada na tabela 1.

Tabela 1. Análise dos estudos selecionados.


Autor/Ano
Tipo de Estudo
Amostra

PIC* Avaliada

Protocolo Utilizado

Variável “DOR”

(Cheung etal.,2021)

Ensaio Clínico Randomizado.


30 pacientes.

Tai Chi Chuan e Exercícios Aeróbico.
Duas sessões semanais (60 minutos de duração cada) durante 12 semanas.

Não foi avaliada.


(Frass etal., 2020)

Ensaio Clínico Randomizado.


81 homens e 69 mulheres.


Homeopatia.
Os remédios homeopáticos foram diariamente administrados em um intervalo de 3 semanas.
Não houve melhora significativa.


(Lu etal., 2020)

Ensaio Clínico Randomizado


68 pacientes.
Exercício Aeróbico, Treinamento Resistido e Tai Chi Chuan.Duas sessões semanais (90 minutos de duração cada) durante 12 semanas.

Não foi avaliada.

(McDonnell etal., 2020)

Estudo Piloto.

26 pacientes.

Mindfulness
Uma sessão semanal (120 minutos de duração cada) durante 8 semanas.
Não foi avaliada.

(Messaggi-Sartor etal., 2019)


Estudo Piloto.


70 pacientes.
Exercício Aeróbico e Treinamento Muscular Respiratório.Três sessões semanais (60 minutos de duração cada) durante 8 semanas.
Não houve melhora significativa.


(Peddle-Mclntyre etal., 2019)


Revisão Sistemática.

20 Ensaios Clínicos (total de 221 pacientes).


Exercícios Aeróbico e Resistido.
Nos estudos incluídos variou entre 1-3 sessões semanais (30 – 90 minutos cada sessão) durante 4 – 12 semanas.

Não foi avaliada.

(Scott etal., 2021)
Ensaio Clínico Randomizado.
90 pacientes.
Exercício Aeróbico, Resistido e Combinado.Três sessões semanais (60 minutos cada) durante 16 semanas.
Não foi avaliada.

(Su etal., 2020)

Revisão Narrativa.
13 Estudos (total de 12462 pacientes).Medicina Tradicional Chinesa.
Não informado.

Não foi avaliada.
(Sulliavan et al., 2021)
Estudo Piloto.

23 pacientes.

Yoga.
Programa de 12 semanas.Não houve melhora significativa.

PIC* – Prática Integrativa Complementar; MTC* – Medicina Tradicional Chinesa.

Dentre os estudos incluídos, seis foram publicados no período de 2019 a 2020, e três artigos publicados no período de 2021 (Tabela 1). Seis artigos foram publicados em periódicos situados nos Estados Unidos e todos os trabalhos tiveram a prevalência do inglês como idioma.

No que se refere ao tipo de estudo dos artigos indicados, obteve-se quatro ensaios clínicos randomizados, três estudos pilotos, uma revisão narrativa e uma revisão sistemática (Tabela 1). Com relação às PICs, os estudos abordaram o Tai Chi Chuan, o Mindfulness, a Homeopatia, a Medicina Tradicional Chinesa, a Ioga e os Exercícios Físicos (aeróbicos, resistidos e combinados).

Se tratando da redução da dor dos pacientes, apenas três estudos avaliaram esse desfecho (Frass et al., 2020; Messaggi-Sartor et al., 2019; Sulliavan et al., 2021). Contudo o fizeram de forma secundária.

Após análise, constatou-se que as limitações de quatro estudos não foram apresentadas. Dos artigos que relataram as limitações, destacam-se: carência de método estatístico; amostra recrutada de apenas um centro clínico; baixa adesão dos participantes; sem grupo controle; amostra pequena; incapacidade de generalização dos resultados; não registrou duração da sessão das práticas; sem escala específica como variável de resultados; curta duração da intervenção e não acompanhamento da intensidade das práticas.

Por meio da avaliação dos artigos indicados nesta revisão, para um apanhado geral e melhor percepção do objetivo abordado, foram compostas três categorias: práticas integrativas complementares e grupo de produtos naturais; práticas integrativas complementares e grupo de práticas corporais; práticas integrativas complementares e outras práticas integrativas.

4. DISCUSSÃO

PRÁTICAS INTEGRATIVAS COMPLEMENTARES E GRUPO DE PRODUTOS NATURAIS

Esse grupo compreende as ervas, minerais, vitaminas e probióticos. Na literatura, a relação desses componentes com a diminuição da dor em pacientes com câncer de pulmão é escassa. O que foi comprovado em nossa revisão. Pois nos últimos 5 anos, não encontramos nenhum artigo que fizesse menção a essa relação.

Entretanto, sabe-se que as ervas com propriedades fitoterápicas podem desempenhar papel fundamental na redução da dor em outras condições como bursite, tendinite, hérnia de disco e fibromialgia (Gonçalves et al., 2022). No contexto do SUS, através da Política Nacional de Plantas Fitoterápicas (PNPF) 36 espécies desses produtos naturais foram autorizadas junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (Gomes et al., 2020).

Por outro lado, uma revisão identificou que diversos alimentos e plantas são consumidos por pacientes de diversos tipos de câncer na esperança de cura ou melhora do quadro sem qualquer indicação profissional (Alvarez et al., 2021). Ainda de acordo com os autores, a babosa foi o produto natural mais utilizado. Porém, infelizmente a maioria dos estudos que investigou os efeitos dessa planta no tratamento de câncer foram inconclusivos e nenhum trouxe a diminuição da dor como desfecho primário.

Outra planta que vem sendo relacionada ao tratamento de câncer é a Cannabis sativa L. Especificamente no câncer de pulmão, um estudo apontou que a planta pode atuar de diferentes formas como na indução da morte celular e na promoção de efeitos antagônicos da neoplasia (Silva et al., 2022). Contudo, a diminuição do sintoma de dor oncológica é desconhecida.

Vale salientar que o profissional de enfermagem está legalmente respaldado com as PICs que envolvam os produtos naturais, de acordo com a resolução 290 de 2004 do COFEN. Contudo, a escassez de estudos e a baixa importância a esse tópico ofertado nas universidades desencorajam esses profissionais a estimularem o uso de ervas, minerais, vitaminas e probióticos para a população (Zhang et al. 2020).

Práticas integrativas complementares e grupo de práticas corporais

Identifica-se a grande importância de manter o corpo humano em constante movimento durante todos os anos de vida, diminuindo desta forma vários problemas fisiológicos (Araujo, 2022). Assim, pode-se observar que a maioria dos artigos presentes na tabela 1, aborda esta forma de concepção.

No estudo de Cheung et al. (2021), após realizar toda estratificação, separação da amostra e aplicação dos exercícios aeróbicos de 12 semanas e intervenções de tai-chi, constatou-se que essas PICS são possíveis para pacientes com câncer de pulmão avançado, possibilitando o aumento das suas capacidades fisiológicas e motoras.

Já no trabalho de Lu et al. (2020), foi comparado exercícios aeróbicos e resistidos integrados ao movimento tradicional chinês tai-chi. Essas práticas em conjunto se mostraram seguras para os pacientes com câncer de pulmão, contudo a magnitude da dor não foi avaliada.

Além disso, uma das práticas mais utilizadas nos estudos e nas clínicas com os pacientes em observação, encontram-se os treinamentos musculares respiratórios, exercícios aeróbicos, resistidos e combinados, todos esses artigos corroboraram nos resultados apresentando uma melhora significante na força muscular, na capacidade cardiorrespiratória, no bem-estar, na funcionalidade dos indivíduos e minimizando a degradação fisiológica causada pelo câncer de pulmão (Messaggi-Sartor et al., 2019; Peddle-Mclntyre et al., 2019; Scott et al., 2021).

Nos últimos 5 anos, umas das práticas integrativas complementares mais utilizadas e apresentadas na literatura, foram relativas ao exercício aeróbico e resistido. Em contrapartida a ioga é um método de PICS que ainda está em uso e possui métodos diferentes das anteriores.

Assim Sulliavan et al. (2021), realizou um estudo piloto no qual a amostra apresentava câncer de pulmão e foi aplicado o método da ioga, as práticas mostraram um potencial benefício psicossocial e físico para pacientes durante e pós-tratamento.

Outras práticas integrativas complementares

Esse grupo abrange principalmente a medicina tradicional chinesa, a naturopatia e a homeopatia. Dentre os estudos incluídos, um abrangeu a homeopatia (Frass et al., 2020) e outro a medicina tradicional chinesa (Su et al., 2020). Nenhum artigo envolvendo a naturopatia foi encontrado.

Na literatura, a homeopatia é associada positivamente no tratamento do tabagismo, condição de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão (Lavrada, 2020). Contudo, os potenciais efeitos da atuação desses produtos no tratamento da neoplasia ainda é pouco estudado.

O único estudo encontrado nesta revisão apontou que o tratamento homeopático melhorou as condições da qualidade de vida global entre os pacientes (Frass et al., 2020). Entretanto, o estudo não encontrou melhora significativa na redução da dor. O que contrasta com os achados de Sousa e colaboradores (2021), que apontam que, para as neoplasias em geral, os medicamentos homeopáticos são seguros e eficientes na redução dos medicamentos analgésicos durante o período de quimioterapia.

Outro ponto importante é que o uso da homeopatia como uma PICs no SUS gera polêmicas e desafios. Pois, a carência de evidências sobre a temática, comprovado nesta revisão, se une ao fato de a medicina convencional possuir difícil aceitação de medicamentos altamente diluídos para a redução dos sintomas associados ao câncer (Botelho et al., 2021).

Outra PIC incluída em nossa revisão foi a medicina tradicional chinesa. Su e colaboradores (2020) concluíram em sua revisão que o uso dessa prática de origem oriental pode fornecer benefícios terapêuticos relevantes no tratamento do câncer de pulmão. Pois essa prática fortalece a imunidade do corpo, o que pode favorecer o combate às células cancerígenas (Li et al., 2021).

Além disso, a medicina tradicional chinesa parece ser capaz de diminuir as limitações e desvantagens induzidas pela quimioterapia e radioterapia (Wang et al., 2020). No contexto do SUS, essa PIC, por ser derivada de ervas, possui a vantagem de baixa toxicidade e alta disponibilidade, o que pode se traduzir em um tratamento complementar acessível à população.

No tratamento de vários tipos de neoplasias, foi identificado que a medicina tradicional chinesa é capaz de aliviar reações gastrointestinais, diminuir a ocorrência da supressão da medula óssea e agir como fator protetivo contra a neuropatia periférica e pneumonite (Zhang, et al., 2021). Entretanto, não foram encontrados estudos que mensuraram alguma relação específica dessa prática com a redução da dor oncológica em pacientes com câncer de pulmão.

5. CONCLUSÃO

O conjunto dos resultados analisados na presente revisão permite concluir que apenas três estudos, publicados nos últimos 5 anos, fizeram relação das Práticas Integrativas Complementares na redução da dor em pacientes com câncer. As práticas foram homeopatia, yoga e exercícios aeróbicos com treinamento muscular respiratório. Todas elas não desempenharam redução na dor, apesar de melhorarem o estado de saúde global e o bem-estar subjetivo desses pacientes.

Contudo, tais artigos trataram a variável “dor” de forma secundária e sem alto rigor metodológico. Apesar de o presente estudo demonstrar o estado atual da literatura sobre PICs em pacientes com câncer, estudos futuros devem ser incentivados para um melhor entendimento dessa relação. Dessa forma, infere-se que, apesar das limitações dos estudos, as PICS são importantes para outros componentes da qualidade de vida no contexto saúde/doença.

AGRADECIMENTOS

A todas as pessoas que acreditaram e nos apoiaram ao longo da nossa graduação, em especial nossos pais e familiares.
À nossa orientadora Profª. Dra. Cíntia de Carvalho Silva e a nossa coorientadora Profª. Ma. Karla Hellen Dias Soares, que sempre estiveram à disposição para nos ajudar.
Gostaríamos de agradecer também ao Centro Universitário UniFavip, por nos proporcionar ótimos professores.

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