REABILITAÇÃO ORAL COM PINO DE FIBRA DE VIDRO EM MOLARES COMPROMETIDOS

ORAL REHABILITATION WITH FIBERGLASS PIN IN COMPROMISED MOLARS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10155716


Maria Luiza Lima Pereira1;
Mestra Danielle Cardoso Albuquerque Maia Freire2;
Mestra Yanessa Santos Muniz3;
Orientador: Especialista Murillo Freitas Matos4.


RESUMO 

Os Pinos de fibra de vidro pré-fabricados foram introduzidos na odontologia como uma escolha clínica aos pinos de metal fundido. Esses dispositivos consistem em fibras reforçadas com matriz de resina que se ligam ao núcleo obturador e ajudam o pino a sustentar e reter o material restaurador. Existem variadas opções de próteses para reabilitação oral. Ao optar por reter a prótese fixa, é possível realizar um tratamento menos invasivo e menos destrutivo que os implantes. A partir disso, surge a pergunta: uma restauração fixa com pinos de fibra de vidro é uma opção confiável para restaurar dentes posteriores com pouco remanescente dentário? No entanto, esse artigo visa apresentar um relato de caso de reabilitação de dente posterior com pino de fibra de vidro, provando sua eficiência na retenção de uma prótese metal free. E para a construção do mesmo será utilizada a pesquisa bibliográfica em conjunto com o acompanhamento clínico do relato de caso. Nesse contexto, espera-se que essa revisão de literatura aprimore o entendimento sobre os retentores, possibilitando uma melhor compreensão sobre suas indicações, vantagens e desvantagens, para clinicamente saber definir o material mais indicado em cada caso. 

Palavras chaves: Alternativa clínica. Pino de fibra de vidro. Reabilitação oral. 

ABSTRACT

Prefabricated fiberglass pins have been introduced in dentistry as a clinical choice to cast metal pins. These devices consist of resin-matrix reinforced fibers that bind to the shutter core and help the pin hold and retain the restorative material. There are various options of prostheses for oral rehabilitation. By choosing to retain the fixed prosthesis, we can perform a less invasive and less destructive treatment than implants. From this, the question arises: is a fixed restoration with fiberglass pins a reliable option for restoring posterior teeth with little remaining teeth? However, this article aims to present a case report of rehabilitation of posterior tooth with fiberglass pin, proving its efficiency in retaining a free metal prosthesis. And for the construction of the same will be used the bibliographical research in conjunction with the clinical follow-up of the case report. In this context, it is expected that this literature review improves the understanding of retainers, enabling a better understanding of their indications, advantages and disadvantages, to clinically know how to define the most suitable material in each case. 

Keywords: Clinical alternative. Fiberglass pin. Oral rehabilitation.

1. INTRODUÇÃO

A reabilitação oral parte do pressuposto de que o dente em boca mantém a estética e funcionalidade do sistema estomatognático. Para isso, se tem várias opções como próteses sobre implantes, próteses removíveis e próteses fixas que dependem em alguns casos do auxilio de pinos retentores.      

A prótese é bastante utilizada por possuir a função de restabelecer a função e estética dos dentes, junto a ela muitas vezes os retentores intrarradiculares podem servir como suporte para ajudar a reter as coroas, sejam elas metálicas ou de porcelana. O pino de fibra de vidro, que pode ser um desses retentores, é um dispositivo que auxilia na reabilitação de extensas perdas coronárias causadas por diversos fatores, como lesões cariosas ou algumas outras complicações existentes que acometem a saúde bucal. 

Os diversos fatores como traumatismo, lesões cariosas, procedimentos restauradores mais desgastados devido a tratamentos endodônticos resultam em perda de suporte dentário e na maioria desses casos, para auxiliar na retenção final da restauração é fundamental a utilização de retentores intrarradiculares (Mezzomo et al., 2002). Nesse contexto, os pinos pré-fabricados de fibra de vidro foram introduzidos na odontologia com intuito de ser uma nova opção clínica aos núcleos metálicos fundidos, em função da sua estética e menor suscetibilidade a fraturas radiculares (Guimarães et al., 2018); (Beck et al., 2016). 

Esses dispositivos intracanais, que são compostos por fibras com reforço em uma matriz resinosa, estão ligados aos núcleos de preenchimento e auxiliam o pino na sustentação e retenção do material restaurador.  Com isso, a coroa preparada toma forma, recuperando suas características e a unidade dentária retorna a apresentar adequadas condições mecânicas para manutenção da prótese em função (Bonfante et al., 2013); (Beck et al., 2016). A indicação para uso do retentor deve ser realizada mediante a algumas avaliações como a estrutura de remanescente coronário de no mínimo 1 mm para pinos fundidos e de 2 mm para os pinos pré-fabricados (Apgo et al., 2009).

Para (Silva et al., 2009), os pinos têm preferência na odontologia contemporânea, por obter bom resultado estético, desempenho biomecânico satisfatório e elevada aderência aos sistemas cimentantes, sem contar também com sua ótima absorção de cargas mastigatórias, estrutura ser semelhante a da dentina, evitando assim as fraturas (Tático et al., 2017). A utilização desses retentores devolve função estética e funcional dos dentes comprometidos, promovendo bem estar, físico, social e mental, reintegrando-o a sociedade com objetivo devolver saúde bucal para o paciente (Ferreira et al., 2016). 

A reabilitação oral visa melhorar ou recuperar o comprometimento da saúde bucal do paciente. Justifica-se esse estudo, o fato de que os retentores aliado a uma prótese é uma boa escolha para reconstruir um elemento fraturado ou com lesão cariosa, sendo ele um material de baixo custo e com uma boa distribuição de cargas mastigatórias sobre osso, raiz e periodonto, onde o retentor irá fornecer retenção à coroa protética que será utilizada no tratamento restaurador. 

Então, o principal objetivo deste trabalho é apresentar um relato de caso utilizando o pino de fibra de vidro, provando sua eficiência na retenção, abordando suas indicações, vantagens e desvantagens, visando estabelecer critério clínico que conduza o profissional na escolha da técnica ideal para a reabilitação oral. 

2. METODOLOGIA 

Para esta pesquisa os materiais mais utilizados foram os livros, revistas (periódicos), textos da internet, documentários, entre outros. A leitura de diversos livros e artigos relacionados ao tema é imprescindível para pautar uma pesquisa científica consistente.

Foram utilizados plataformas e sites na internet como Scielo, Pubmed e Google Acadêmico para a procura de artigos, nas línguas inglesa e portuguesa, artigos esses que corroboram com o caso clínico estudado, fazendo assim com que seja mais bem fundamentado. 

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Histórico 

A reabilitação oral de dentes comprometidos, com grande perda coronária requer tratamento endodontico, que por sua vez é um procedimento que necessita, na maioria dos casos, de um dispositivo intrarradicular para auxiliar na retenção e suporte do material restaurador. Os retentores intrarradiculares tem como propósito promover retenção e oferecer estabilidade aos materiais restauradores, além de distribuir as cargas mastigatórias de uma maneira mais uniforme na raiz, no periodonto e osso (Fernandes et al., 2001; Christensen, 2004; Bratieri, 2001). 

Os pinos de fibra de vidro são pinos intrarradiculares pré-fabricados, que surgiram no mercado odontológico em 1990 e, a partir desse marco passou a ser considerado o principal material escolhido pela odontologia (Zogheib et al., 2008); (Franco et al., 2014) ademais, cumpre seu papel de absorver determinadas  tensões geradas pelas forças da mastigação, visando proteger a raiz  radicular, beneficiando a restauração de uma unidade mecanicamente homogênea (Clavijo et al., 2008) Dentes fragilizados estruturalmente pode advir como consequência da remoção de esmalte e dentina cariado, abertura coronária, remoção da dentina intrarradicular durante o preparo biomecânico, irrigação intracanal com agentes químicos e desinfetantes, além de ficarem propícios a fragilidade, de modo que, podem ocasionar fraturas se comparados a dentes vitais (Guiotti et al., 2014). 

3.2 Indicações 

Segundo Kishen (2015) O pino de fibra de vidro, que se classifica como um material intrarradicular não metálico tornou-se um grande aliado na odontologia contemporânea e tem inúmeras indicações para reabilitações orais. Os pinos pré-fabricados podem ser metálicos ou não metálicos, cônicos ou paralelos, superficialmente lisos, serrilhados ou rosqueados. Dentre esses apontados, o mais utilizado nas clínicas atualmente é o pino de fibra de vidro (Pegoraro et al., 2013). Neto (2009) garante que um grande determinante para ótimo resultado do processo de restauração é o material de escolha. Nesta escolha alguns fatores devem ser levados em consideração, para que o núcleo intrarradicular tenha boa retenção e estabilidade, como o comprimento, diâmetro do canal, característica superficial, formato e material. Acrescenta sobre a aceitação dos pinos de fibra de vidro, propriedades mecânicas favoráveis e citam-se características: módulo elástico similar ao da dentina, elevada radiopacidade, melhor adesão à estrutura dentária, elevada resistência à fratura. 

3.3 Vantagens 

Os pinos de fibra de vidro expõem boas propriedades sejam estéticas ou mecânicas, tendo a praticidade de serem cimentados em apenas uma sessão, diminuindo assim o tempo clinico. São biocompatíveis, possuem grande resistência aos impactos, bom módulo de elasticidade, facilitando a distribuição da carga sobre o elemento dentário e reduzindo as chances de fratura. Além de exigirem menor destruição de dentina radicular, impossibilitando que a raiz fique frágil, sendo fáceis de remover se for preciso (Pegoraro et al., 2013; Filho et al., 2015; Novis et al., 2013; Baratieri et al., 2016; Andrioli et al., 2016; Pereira et al., 2014).

O pino de fibra é considerado um material estético por apresentar boas propriedades ópticas e permitir a passagem da luz, a presença de uma matriz de resina em sua composição facilita o uso de cerâmicas translúcidas, entretanto não seria uma opção o uso de outros dispositivos de núcleos intrarradiculares (Sá et al., 2010; Fernandes et al., 2016). Como aponta (Souza et al., 2011), os pinos de vidro teve início na sua comercialização com objetivo de sobrevir os pinos metálicos, colaborando assim a estética, pela menor quantidade desgastada de dentina  intrarradicular e por  ter cor parecida com a estrutura do dental. 

Em relação às propriedades mecânicas dos pinos de fibra estéticos, as características possuem certa semelhança com o tecido dental, onde todos conseguem se mover, flexionar e tencionar de forma igualitária. A resistência flexural tem relação com o volume da fibra, já o modulo de flexão é inversamente ao numero de fibras por mm² do pino. Dito assim, o que determina seus aspectos estruturais é o processo pelo qual o pino é fabricado (Borges et al., 2003). Para Archetti (2018) o tamanho do pino precisa alcançar dois terços de todo o tamanho do remanescente radicular, certifica maior estabilidade, distribuição de força e retenção. Mas, em dentes que dispõem de grande perda óssea, o melhor é ter um pino onde o tamanho dele seja a metade do suporte ósseo desta mesma raiz. Então, Costa (2009) afirma que para uma retenção bem sucedida, o retentor precisa ser mais o comprido que puder , retendo os remanescentes da obturação apical com 5 mm de guta-percha para obter um selamento adequado. Os retentores quando estão paralelos entre si proporcionam uma melhor retenção e representam menos risco biomecânico para o dente restaurado. 

3.4 Desvantagens 

Uma desvantagem do pino de fibra citado por Chan et al. (2014) é não serem adaptados aos canais radiculares, podendo assim comprometer a cimentação, confeccionando uma camada bastante espessa de cimento durante a fase de cimentação. Atentar-se as contraindicações e limitações quando ao uso desse dispositivo também é um fator importante. Dentes que tenham dilaceração na raiz podem acabar tendo certa limitação ao uso do pino. Outro fator que se deve atentar é a falta de interação entre os materiais que serão utilizados no procedimento, como a interação química das resinas compostas e matriz de pino de fibra, que pode gerar uma falha adesiva quando não é tratada corretamente (Andrade et al., 2013; Bona et al., 2011). Nas palavras de Costa (2010) alguns fatores são importantes para uma indicação precisa do uso de pino de fibra, como: função, oclusão, posicionamento do dente e estrutura do elemento dentário. 

Todavia, alguns aspectos são desfavoráveis no uso de algumas marcas de pino de fibra de vidro, como a ausência de radiopacidade. (Araujo et al., 2015). Para Soares et al. (2012) outro fator desfavorável é a ação entre compostos do cimento endodôntico obturador e cimento utilizado na confecção do pino, pois o eugenol presente em alguns cimentos endodonticos, junto ao cimento resinoso utilizado nos processos adesivos, diminui a resistência, prejudicando assim o trabalho protético. 

Outro ponto positivo deste modelo de pino é a praticidade em cimentar e o tempo que leva esse procedimento. Geralmente, são utilizados sistemas adesivos universais com cimentos resinosos duais convencionais para a cimentação do pino no conduto, por conter baixa solubilidade e boas propriedades mecânicas e adesivas. Todavia, quando o processo não ocorre de forma homogênea, a dentina interagindo com o cimento resinoso, torna-se a união mais frágil. Na busca de simplificar a técnica, a utilização de cimentos autoadesivos é uma opção (Pegoraro et al., 2013; Soares et. al., 2018). No entanto, a união adesiva entre o cimento resinoso e a estrutura intrarradicular pode haver falha. Para diminuir a possibilidade de ocorrer descimentação, a adaptação deve ser precisa, levando em consideração a espessura da camada de cimento, evitando formação de vazios e bolhas que prejudicam a retenção e duração da restauração. Então, o ideal é aplicar uma camada fina de cimento, evitando também a contração de polimerizar o material (Grandini  et al., 2003).

3.5 Técnica 

Para que a cimentação tenha um resultado bom, é preciso seguir um protocolo clinico iniciado por um tratamento do dispositivo que será cimentado. Este processo aumenta a adesão da substância e auxilia na retenção. A adesão química ocorre por partículas orgânicas da dentina com partículas inorgânicas do pino de fibra, através da aplicabilidade do silano. Já o procedimento micromecânico cria porosidade superficialmente no pino por meio da aplicação de oxido de alumínio, acido fosfórico, acido fluorídrico e peróxido de hidrogênio (Guimarães et al., 2018).

Segundo o protocolo feito por Muniz (2010) é necessário respeitar e seguir etapas, como: escolha do pino, que é feita com sobreposição na radiografia, a eleição do tamanho com a preservação de aproximadamente quatro milímetros de guta-percha, com diâmetro mais adjacente à luz do canal, acarretando em mínima degradação de dentina; Desobstrução do canal, medindo o dente de acordo com a radiografia, define a quantidade de guta-percha a remover, com o pino ocupando 2/3 do comprimento, preservando 3 a 5 mm do material que realizará a obturação; Realiza o isolamento absoluto, iniciando então a desobstrução do canal com as brocas Gates-Glidden, fazendo a irrigando do canal; Faz a melhoria da anatomia endodontica; logo após faz o corte e o preparo do material intrarradicular; utilizando marcação de 2 milímetros abaixo da referencia incisal; Faz a higienização com álcool para remover gordura do material e aplica o silano, logo após 60 segundos faz a aplicação de um leve jato de ar. 

Ainda como aponta o protocolo de Muniz (2010), faz a cimentação adesiva, inicia com irrigação do canal, seca introduzindo o papel absorvente, faz a aplicação do acido fosfórico por 20 segundos, lava o canal e seca. Essa cimentação é realizada com cimentos e adesivos duais, pois a utilização deles ajuda a aumentar o grau de modificação de monômeros em polímeros e também a promover a estabilidade do pino depois de feita à cimentação.  Então a aplicação do adesivo dual é feita em toda área que já foi condicionada e após 20 segundos faz a remoção do excesso, fotopolimerizando por 40 segundos. Já para a aplicação do cimento resinoso é bom se atentar a luz do refletor; utilizar ponteiras de automistura e cimentos de corpo duplo, para diminuir o risco de atrapalhar o tempo da realização do trabalho e utilizar a cor mais translúcida para facilitar a etapa de polimerização.

4. RELATO DE CASO 

Paciente, 24 anos, gênero feminino, compareceu ao Curso de atualização em Prótese fixa no Instituto Excellence, Ilhéus-Bahia, com indicação para colocação de pino de fibra de vidro pós retratamento endodôntico, devido a uma lesão periapical do elemento 36. Durante a anamnese, ao ser questionada sobre a história pregressa de tratamentos do referido elemento, a mesma relatou que foi feito um tratamento endodôntico há aproximadamente 8 anos, com posterior confecção de uma onlay cerâmica, que veio a fraturar após 7 dias da cimentação.

Devido à perda de estrutura em decorrência da fratura, a paciente relata confecção de uma coroa total no elemento em questão. No primeiro exame clínico notou-se a presença de uma coroa com má adaptação e sem retenções intra-radiculares. Ademais, foram solicitados exames radiográficos que confirmaram a presença de infiltração da peça protética e através dos quais foi possível constatar uma lesão radiolúcida no periápice de ambas as raízes, indicativa de uma periodontite apical secundária e aparente reabsorção radicular externa no ápice da raiz distal, devido às quais foi indicado o retratamento endodôntico..

Figura 1: Radiografia inicial do elemento 36

Logo após a realização do retratamento endodôntico, foi solicitado o acompanhamento radiográfico durante quatro meses, para confirmação da regressão da lesão periapical (Imagem 2). Após comprovar a diminuição da lesão, iniciou-se a reabilitação com pino de fibra de vidro. 

Figura 2: Radiografia após a realização do retratamento endodôntico

Imagem 2

Com a radiografia inicial foi realizada a seleção do pino Distal 2.0 e Mesiovestibular 1.0 – (FGM, Brasil, SC, Joinvile). Realizado o isolamento absoluto com lençol de papel e grampo 204 (Imagem 3), foi feita a remoção do ionômero de vidro e então iniciou-se a desobstrução do conduto distal em 7 mm e do conduto mesiovestibular em 6 mm, utilizando brocas Gattes II (Wilcos, Brasil, RJ, Petrópolis), restando 4 mm de remanescente do material obturador. Logo após, preparou o conduto com a broca equivalente ao pino escolhido, realizou-se a irrigação com hipoclorito de sódio para remoção dos resíduos de guta percha, realizando em seguida a prova da adaptação do pino no conduto, com radiografia periapical. 

Em seguida, foi feito o preparo do pino para cimentação, deixando-o com álcool 70% em uma gaze, para desengorduramento e com a aplicação do material silano (Prosil®, Brasil, SC) por um minuto, para transformação de substâncias orgânicas em inorgânicas. 

Figura 3: Realização do isolamento absoluto

Para o preparo do conduto foi feito o condicionamento com ácido fosfórico 37% por 20 segundos, seguido de lavagem abundante, secagem com jato de ar e com cones de papel absorvente até secagem total. Posteriormente, foi aplicado o primer adesivo âmbar (FGM) utilizando microbrush nas paredes do conduto, volatizando o adesivo com pequenos jatos de ar e fazendo a secagem com cone absorvente, após essas etapas faz a fotopolimerização por 20 segundos em cada conduto. 

Com o conduto radicular e o pino de fibra de vidro preparado, começou-se a cimentação do mesmo, preenchendo o conduto mesiovestibular e distal com cimento resinoso (Allcen Dual® Brasil, SC, Joinvile). Levou-se o pino na posição estabelecida anteriormente, removendo os excessos do cimento e fotopolimerizando por 1 minuto. Na sequência, foi feito o núcleo de preenchimento com resina Bulk FiIl A1 fotopolimerizando-a (Imagem 4 e 5) e, com uma broca tronco cônica (380, KG, Kg Sorensen, Brasil, SP) de alta rotação, foi realizado o corte do excedente do pino. 

Figura 4: Radiografia após o núcleo de preenchimento

Figura 5: Aspecto final do núcleo de preenchimento

Uma vez finalizada a cimentação e a confecção do núcleo de preenchimento, foi feito o preparo para colocação da coroa total provisória com uso de brocas diamantadas. Para preparação do provisório foi utilizada a resina acrílica 62 e sua confecção foi por meio da técnica da bola (Imagem 6).  Após o preparo da coroa total provisória, foi feito o reembasamento do mesmo para deixa-lo em posição.  Concluído o provisório, utilizou-se o papel carbono para verificar a oclusão da paciente, e feito os desgastes necessários para a remoção do excesso de resina, mantendo a oclusão sem contatos prematuros, realizando o polimento e acabamento para finalização. 

Posteriormente, a paciente foi orientada a procurar outro profissional para realizar um aumento de coroa neste mesmo elemento, para então poder receber uma coroa definitiva futuramente. 

Figura 6: Provisório cimentado

5. DISCUSSÃO 

Após leituras de diversos artigos onde os autores corroboram na opinião sobre os pinos de fibra de vidro, conclui-se que estes são uma alternativa qualificada para reabilitar, por meio de restaurações, dentes tratados endodonticamente, estando com grande perda coronária decorrente de lesões cariosas, traumas ou insucesso de anteriores tratamentos endodônticos. Estes pinos dispõem de muitas propriedades e qualidades estético-mecânicas, mas, para uso adequado, é necessário identificar suas limitações, indicações e contraindicações (Bonfante et al., 2013; Baratieri et al., 2015). 

Conforme as boas propriedades estéticas e biomecânicas, facilidade na realização da técnica, e ausência de corrosão, os pinos de fibra de vidro sobressaem frente as outras opções de pinos intrarradiculares (Cruz et al., 2020). Preconiza-se na literatura o uso de pinos pré-fabricados quando os remanescentes dentários, já com tratamento endodôntico realizado, se mostra incapaz de dar o devido suporte e/ou retenção para a restauração (Vano et al., 2006; Campos et al., 2011; Queiroz et al., 2011).

Pegoraro et al. (2014) acreditam que o tratamento endodôntico de dentes com pouco remanescente tem sido um desafio para o procedimento restaurador, e isso favorece nesses casos a utilização dos retentores radiculares pelos profissionais. Dessa forma, os pinos de fibra de vidro vieram como uma sugestão para reconstruir os dentes que já tiveram tratamento endodôntico, tornando-se uma alternativa de escolha no mercado aos pinos metálicos (Wrbas et al., 2007; Mastoras et al., 2012; Radovic et al., 2008).

Estes retentores exibem comportamento biomimético relacionado ao seu módulo de elasticidade, que é similar ao da dentina, absorvendo melhor as cargas mastigatórias e concedendo distribuição uniforme das tensões nas paredes radiculares (Rasimick et al., 2010; Mastoras et al., 2012; Radovic et al., 2008).

Muniz (2011) acredita que a escolha do tipo de pino interfere diretamente na retenção. Desse modo, a conicidade do pino precisa ser analisada, haja vista que o propósito para utilizar esse tipo pino é preservar a estrutura dentária. Então, existe a necessidade de escolher àquele material com grau de conicidade adequado para cada conduto radicular.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os pinos de fibra de vidro são empregados, a fim de possibilitar uma melhor ancoragem à restauração coronária, permitindo a restituição da função e formato do remanescente dentário. O uso dos retentores intrarradiculares tem se tornado uma alternativa cada vez mais propagada, uma vez que material com propriedades mecânicas e estéticas ideais ao elemento dentário, ademais apresenta biocompatibilidade, exigindo um curto tempo clínico para o profissional, contando com um bom custo benefício se comparado a outros materiais presentes no mercado.

Desse modo, o caso clínico apresentado nesse artigo e nos achados da literatura entende-se que o tratamento proposto com pino de fibra de vidro foi efetivo na conservação do elemento dental 36, cuja relevância estética e funcional é essencial para uma oclusão dentária adequada. 

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1Discente do curso de Odontologia da Faculdade de Ilhéus, Centro de Ensino Superior, Ilhéus-Bahia;
2Especialista e Mestra em Endodontia. Docente do curso de Odontologia da Faculdade de Ilhéus (CESUPI), coordenadora do curso de Técnicas rotatórias em Endodontia e docente da especialização em Endodontia do Instituto Excellence, Ilhéus, Bahia. E-mail: danitamaia@gmail.com;
3Especialista e Mestra em Endodontia. Coordenadora e docente do curso de técnicas rotatórias em Endodontia do Instituto Excellence, Ilhéus, Bahia.  E-mail: dra.yanessa@hotmail.com
4Docente do curso de Odontologia da Faculdade de Ilhéus, Centro de Ensino Superior, Ilhéus-Bahia;