DISSOLUÇÃO CONJUGAL: COMUNICAÇÃO DISFUNCIONAL ENTRE OS PAIS E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE MENTAL DOS FILHOS (AS)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10146601


Kettlhyn Talita de Oliveira Ramos1
Patrícia Gracielli Rodrigues Lorenzoni2


RESUMO

A dissolução conjugal é uma temática que está em evidência nos dias atuais e que geralmente implica em grande desconforto para o sistema familiar, exigindo uma reorganização, principalmente quando o casal possui um ou mais filhos (as). Esse processo tende a ser ainda mais estressante quando este é elaborado de maneira conflituosa pelo ex casal conjugal e o par parental possui uma comunicação e dinâmica relacional disfuncional. O ponto principal do presente estudo, se concentrou em abordar os prejuízos que essa disfuncionalidade comunicacional tende a gerar na saúde emocional dos filhos (as), sendo crianças e/ou adolescentes. A comunicação disfuncional, foi compreendida a partir da abordagem psicológica sistêmica familiar, podendo assim, entender que a comunicação, e a forma como é expressa, é o ponto principal para se compreender o funcionamento do sistema familiar. Para ser possível um melhor entendimento acerca do assunto, utilizou-se da pesquisa bibliográfica e descritiva da literatura, discorrendo e aprofundando sobre aquilo que os autores clarificam e discutem nos estudos. Como resultados deste estudo, apresentou-se que a comunicação disfuncional, no processo de separação conjugal, tende a refletir aos filhos (as) do casal parental grandes implicações no bem estar emocional e, por conseguinte, comportamental e de ajustamento destes, principalmente quando a criança e/ou adolescente é impedido de exercer a função de filho (a) e precisa fazer o papel de intermediador. Questões como sentimento de confusão, culpa, raiva e dificuldade de se expressar, são os aspectos emocionais mais elencados pelos autores citados, compreendendo assim, que tais fatores podem favorecer o desenvolvimento de psicopatologias como a depressão e a ansiedade, e ainda, corroborar em comportamentos disruptivos nas mais diversas áreas de socialização da criança e/ou adolescente. Por fim, destacou-se a necessidade em diferenciar o sistema conjugal do sistema parental, e a importância do vínculo afetivo saudável entre genitores e filhos (os), enfatizando a grande importância do profissional psicólogo nesse contexto, tendo o papel de mediar os conflitos existentes e auxiliar no processo que visa o melhor ajustamento para a prole.

Palavras-chave: 1. Separação conjugal; 2. Parentalidade; 3. Relações Familiares; 4. Vínculo Genitores – Filhos (as).

ABSTRACT

The dissolution of marriage is a prominent issue in contemporary society, often causing significant discomfort within the family system, especially when the couple has one or more children. This process becomes even more stressful when it unfolds in a contentious manner between the former spouses, and the parental pair exhibits dysfunctional communication and relational dynamics. This study primarily focuses on addressing the repercussions of this communicative dysfunctionality on the emotional health of children, encompassing both children and adolescents. Dysfunctional communication is understood through the lens of systemic family psychology, emphasizing that how communication is expressed plays a pivotal role in understanding the family system’s functioning. To gain a comprehensive understanding of this topic, a bibliographic and descriptive literature review was conducted, delving into the clarifications and discussions put forth by various authors. The results of this study reveal that dysfunctional communication during the process of marital separation significantly impacts the emotional well-being, and subsequently, the behavioral adjustment of the children in the parental couple. This is particularly evident when the child or adolescent is forced into the role of mediator, preventing them from fully embracing their role as a child. Emotional aspects such as confusion, guilt, anger, and difficulty in self-expression are the most frequently highlighted by the authors, indicating that these factors may contribute to the development of psychopathologies such as depression and anxiety. Furthermore, they may also manifest in disruptive behaviors across various areas of the child or adolescent’s socialization. Finally, the study underscores the importance of distinguishing between the conjugal system and the parental system and emphasizes the significance of a healthy emotional bond between parents and children. It highlights the pivotal role of psychologists in mediating existing conflicts and facilitating a process that aims for the best adjustment for the offspring.

Keywords: 1. Marital Separation; 2. Parenting; 3. Family Relations; 4. Parent-Child Bond

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como temática a compreensão acerca da relação da dissolução conjugal, intermediada pela comunicação disfuncional dos genitores sobre os prejuízos para com a saúde mental dos filhos (as), sendo crianças e/ou adolescentes.

A dissolução conjugal, ou separação conjugal, é um fenômeno cada vez mais presente na sociedade contemporânea, caracterizada por um processo complexo e que envolve a separação de casais que antes compartilhavam uma união afetiva. Assumir a decisão de uma separação não é uma tarefa fácil, e é compreensível que se torne ainda mais difícil quando o casal possui um ou mais filhos (Kostulski; Arpini, 2018).

Neste sentido, se faz necessária a compreensão de que a família é considerada um sistema aberto, onde os membros que a compõem se relacionam de forma simultânea, sendo um mesmo sujeito afetado e, gerando reações sobre as demais pessoas, concomitantemente, de forma positiva ou negativa (Silva; Chapadeiro; Silva, 2020).

Segundo Emerick e Rosso (2020) a família é considerada o pilar para o desenvolvimento social infantil, no que diz respeito ao controle das emoções, aprendizagem para resolver conflitos e lidar com as divergências, bem como para o desenvolvimento da personalidade.

Essa relação dinâmica, característica do convívio familiar, produz os papéis de cada parte desse sistema, e as suas mais diversas maneiras de expressão emocional (Silva; Chapadeiro; Silva, 2020). Dentro desse contexto de dinamicidade, a conjugalidade é considerada uma construção complexa e de constantes reformulações (Silva, 2022).

Deste modo, é entendido que o relacionamento conjugal requer diversos impactos a níveis culturais, de valores e regras, que se colidem entre os membros e exige adequações para ajustes no relacionamento afetivo, quando não ocorre essa compreensão, o casal está sujeito a separação (Silva; Chapadeiro; Silva, 2020).

A separação do casal gera maiores efeitos quando há filhos (as) envolvidos, necessitando de reorganizações individuais e coletivas no âmbito familiar, passando a ter uma relação apenas de casal parental, visando o bem-estar da prole (Silva, 2022).

No contexto desse evento significativo, a qualidade da comunicação entre os pais ocupa um papel crucial, podendo acarretar em consequências tanto positivas, quanto agravar, de modo negativo, o impacto emocional sobre os filhos (as) (Milanez et al., 2019).

A presente pesquisa buscou abordar a relação entre a comunicação disfuncional, à luz da perspectiva psicológica sistêmica, entre os pais, durante o processo de dissolução conjugal e suas implicações na saúde mental da criança e/ou adolescente envolvido nesse contexto conflituoso.

A compreensão dessa temática torna-se particularmente relevante no âmbito psicossocial, considerando os desafios que os filhos (as) do então ex-casal tendem a enfrentar ao lidar com os ajustamentos no sistema familiar (Juras; Costa, 2018).

A dissolução conjugal, frequentemente acompanhada de separações dolorosas e disputas legais de bens materiais e da guarda dos filhos (as), é uma experiência expressamente complexa e que afeta não somente ao par conjugal, mas de modo significativo o exercício da parentalidade, afetando o bem estar dos filhos (Silva, Chapadeiro; Silva, 2020).

Neste sentido, a maneira como os pais se comunicam, sendo antes, durante ou após o processo de dissolução, pode acarretar em consequências duradouras na saúde mental dos filhos (as) (Milanez et al., 2019).

Deste modo, a comunicação disfuncional, caracterizada por conflitos abertos, diálogo hostil e agressivo, falta de compreensão e dificuldade em resolver conflitos, tende a contribuir para fatores estressantes e vínculos conturbados entre pais e filhos (as) (Barbosa; Mendes; Juras, 2021).

As crianças podem ser expostas a constantes discussões, insultos e manipulações emocionais, criando um ambiente relacional de tensão intensificada e insegurança (Peregrino et al., 2021).

No entanto, é fundamental reconhecer que nem todos os casos de dissolução conjugal, mediante conflitos, resultam em consequências negativas para a saúde mental das crianças e/ou adolescentes, sendo necessário compreender que estes já possuem percepções acerca do contexto, capacidade de resiliência e outros fatores individuais (Koprowski; Galindo; Gomes 2020).

Diante ao exposto, o referido artigo mapeou as variáveis que compõem um relacionamento conjugal, até a ocorrência da dissolução, bem como foi elaborada a construção da parentalidade, frente a visão dos autores.

A conceituação e aprofundamento da comunicação disfuncional se deu mediante a abordagem sistêmica. Embora não haja um grande número de pesquisas e materiais acerca dessa temática, foi possível compreender sobre os prejuízos que a dissolução conjugal, mediante a comunicação disfuncional dos pais, pode acarretar na saúde mental dos filhos.

Diante disso, a pesquisa compreendeu identificar, ainda, o papel do profissional psicólogo neste contexto, constatando algumas possibilidades de atuação e a sua essência.

A pesquisa pretendeu fornecer e sugerir a elaboração de mais materiais sobre a temática, pois é de grande relevância para profissionais da saúde mental, educadores e pais, possuindo o objetivo de melhor apoiar as crianças e adolescentes no contexto dos conflitos familiares mediante a separação dos genitores (Peregrino et al., 2021).

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Da conjugalidade à dissolução conjugal e a construção da parentalidade

O relacionamento conjugal é considerado um fator de demasiada relevância na influência da qualidade de vida das famílias (Koprowski, Galindo; Gomes, 2020). Para Silva, Chapadeiro e Silva (2020) “a conjugalidade se refere à união de dois indivíduos que formam um casal e que negociam inúmeras questões acerca das vivências que terão e que irão definir os contornos do relacionamento […]”.

Um relacionamento amoroso requer o atravessamento da história de duas pessoas, gerando impactos positivos e/ou negativos não somente para ambos, mas também para quem faz parte do núcleo familiar (Koprowski, Galindo; Gomes, 2020).

Tais impactos implicam na dinâmica de funcionamento da família, onde pode conter, ou não, manejos para a resolução dos conflitos (Koprowski, Galindo; Gomes, 2020). Os conflitos são identificados como qualquer situação de interação entre o casal que abarque em diferença de opinião, podendo ser de forma construtiva ou destrutiva.

Os desentendimentos constantes entre o casal, contribuem para a intensificação de brigas, xingamentos, comunicação agressiva e diálogos com muito ruído, ou seja, sem a atenção e escuta compreensiva ao que o outro tem a dizer, atribuindo assim a condições que podem anteceder a separação do casal (Galvão; Lima; Lopes, 2021).

Em relação ao aspecto legal da separação, Galvão, Lima e Lopes (2021) afirmam que, no Brasil, o marco histórico se deu no ano de 1977. Anteriormente, devido a fortes influências religiosas, o casamento era considerado indissolúvel, ou seja, havia a separação, porém, permanecia o vínculo matrimonial. Atualmente, as leis possibilitam que, após a ocorrência do divórcio, o indivíduo possa casar-se novamente, o que implica em novas formulações de famílias.

Nos dias atuais, a dissolução conjugal consiste na separação do casamento sendo independentemente de formalizações legais, como procedimentos de autoridades civis ou rituais religiosos (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019).

Esse processo de separação conjugal é compreendido como um dos momentos mais críticos que um relacionamento pode passar, pois impacta na trajetória de desenvolvimento da família, sendo requerido uma reestruturação a nível familiar e individual (Silva, 2022). Essa transição é encarada com grande potencialidade estressora nos papéis de cada membro (Ambros et al., 2021).

A separação pode, ou não, ser encarada de forma problemática devido a vários fatores, principalmente quando, além dos bens materiais, o casal possui um ou mais filhos/as (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019). Para Silva (2022), quanto maior a quantidade de filhos, mais complexo tende a ser esse processo, principalmente devido a fatores financeiros.

Quando o casal possui filhos, além de par conjugal, passa a ser também parental. A construção da parentalidade inicia-se com a vontade de ter um filho (a), se desenvolve no decorrer da gestação e tem continuidade após o nascimento da criança (Koprowski, Galindo; Gomes, 2020). Silva, Chapadeiro e Assumpção (2019 apud Silva, Chapadeiro e Silva, 2020, p. 88) afirmam que a parentalidade “diz respeito ao exercício dos cuidados parentais e, também, ao modo como genitores e filhos constroem suas relações”.

Para Ambros et al. (2021) a parentalidade tem o seu exercício associado à relação do filho (a) com cada genitor, individualmente, e ao modo de cuidado, atenção e responsabilidade dos pais para com o filho (a).

Nesse sentido, quando ocorre a separação conjugal, o tipo de relação estabelecida entre os pais e filhos (as) é um ponto importante a ser observado, no que tange a própria percepção da criança e/ou adolescente, a respeito da conduta, adaptabilidade e manutenção do novo modo de convívio (Oliveira; Crepaldi, 2018).

Frente a isso, Silva, Chapadeiro e Silva (2020) conceituam a questão da lealdade dos filhos (as) para com um dos genitores durante e/ou após o processo de separação destes, onde a criança e/ou adolescente toma partido da pessoa vista como mais fragilizada, ou de acordo com o vínculo relacional.

Ainda na atualidade, a parentalidade de pais separados sofre influência do modelo tradicional de funções de pai e de mãe, onde o pai se incube pelo provimento financeiro e a mãe pelas demais responsabilidades (Oliveira; Crepaldi, 2018).

No entanto, essa realidade vem se modificando. No novo cenário, a figura paterna está buscando se inserir mais nas vivências básicas, visando o fortalecimento do vínculo com o filho (a) (Oliveira; Crepaldi, 2018). É importante salientar que a dissolução parental é inexistente, pois se trata de direitos e deveres para com a prole (Koprowski, Galindo; Gomes, 2020).

Como já exposto, a parentalidade é uma jornada que envolve a responsabilidade e deveres de criar e cuidar de uma criança. Tradicionalmente, a parentalidade era muitas vezes vista como um papel desempenhado principalmente por mães e pais biológicos, com papéis claramente definidos e expectativas de gênero (Oliveira; Crepaldi, 2018).

No entanto, nas últimas décadas ocorreram transformações significativas na forma como a parentalidade é concebida. Juntamente com esse processo de transformação que a atualidade nos permite, emergiu a coparentalidade, sendo uma abordagem mais inclusiva, flexível e colaborativa para criar filhos (as) (Silva, 2022).

Neste modelo, diversos cuidadores, como pais, padrastos, madrastas e outros membros da família, ou até mesmo amigos, podem desempenhar papéis relevantes na vida de uma criança (Silva, 2022).

A coparentalidade é exposta, então, como um modo de funcionamento que compreende a união de dois ou mais adultos, sem obter, necessariamente, um vínculo romântico. Essa união, se dá em prol do bem-estar físico e mental da criança (Ambros et al., 2021).

Deste modo, assim como discorrido na parentalidade, o conflito coparental, ou seja, a falta de uma comunicação efetiva e boa relação entre os responsáveis, é visto como um fator preditor para prejuízos no desenvolvimento emocional da criança e/ou adolescente (Ambros et al., 2021).

De acordo com Juras e Costa (2018, p. 134), a compreensão da distinção de relacionamento conjugal e parental é “fundamental para a saúde emocional da família separada, uma vez que a separação encerra o relacionamento conjugal, mas a presença de filhos mantém viva a necessidade do relacionamento parental”.

Assim, a conjugalidade e a parentalidade estão diretamente interligadas ao processo de desenvolvimento (saudável ou maléfico) familiar (Koprowski; Galindo e Gomes, 2020). Tal compreensão se faz necessária, pois quando há a separação do casal e, dependendo da dinâmica desse sistema, acaba sendo deixado de lado o exercício da parentalidade (Koprowski; Galindo; Gomes, 2020).

2.2. Comunicação disfuncional: uma visão da terapia sistêmica familiar

Para um melhor entendimento acerca da comunicação disfuncional na perspectiva sistêmica, será elucidado brevemente o funcionamento da visão de pessoa e a linha de pensamento dessa abordagem psicológica.

A terapia sistêmica familiar, enquanto abordagem psicológica, tem o olhar para a pessoa enquanto sujeito-sujeito e sujeito-mundo, de modo que os sintomas, as vivências de um indivíduo, dizem respeito às suas relações, as quais são entendidas como sistemas e subsistemas, de modo interconectados (Otto; Ribeiro, 2020).

Neste sentido, questões emocionais e comportamentais advindas devem ser compreendidas através desses sistemas relacionais. Assim, a dinâmica e padrões relacionais desempenham uma relevância significativa à maneira como as pessoas sentem, pensam e se comportam (Otto; Ribeiro, 2020).

Os sistemas e subsistemas são vínculos sociais e grupais construídos desde o nascimento, como a família, casal, organizações, entre outros. Deste modo, os sistemas não são lineares, pois sofrem constantes reformulações (Otto; Ribeiro, 2020).

Para a perspectiva sistêmica, a comunicação é um dos pontos principais a ser analisado, pois refere-se ao modo de funcionamento do sistema familiar (Peregrino et al., 2021). O termo comunicação “[…] significa o ato de distribuir, repartir ou tornar comum” (Scapini; Luna, 2019, p. 211).

A comunicação, e as mais diversas formas de expressá-la (verbalmente, ou não), é o que garante a diferenciação do ser humano, sendo considerado um dos principais fatores que possibilita o seu desenvolvimento desde o nascimento (Scapini; Luna, 2019).

Essa perspectiva elucida que, no âmbito familiar, a comunicação pode ser considerada um componente favorável, ou desfavorável, para um desenvolvimento saudável das pessoas que compõem esse sistema relacional (Scapini; Luna, 2019).

Dentro do subsistema conjugal, a comunicação disfuncional tende a gerar grande sofrimento para o casal e, quando esse modo comunicacional se intensifica, passa a compreender todos os membros da família, principalmente as crianças e/ou adolescentes em fase de formação (Peregrino et al., 2021).

A comunicação disfuncional conceitua-se como uma comunicação agressiva e sem intenção de escuta para além da própria interpretação “[…] é marcada por mensagens paradoxais, adjetivações negativas, além de desprezo pelo interlocutor e suas ideias” (Barbosa; Mendes; Juras, 2021, p. 90).

Da Costa e Mosmann (2020) conceituam como “comunicação negativa” o ato do casal dialogar e comunicar-se através de comportamento de dominância, indiferença, interrupções, tom de voz hostil e retraimento, não havendo clareza no que quer comunicar.

Emerick e Rosso (2020) compreendem a comunicação disfuncional como o ato de comunicar-se sem direcionalidade, possuindo um caráter de contrariedade frente a fala do outro, sem as expressões e explicações adequadas sobre a emoção que quer emitir e não contendo o movimento de resoluções de conflitos.

Deste modo, os padrões de comunicação e a maneira de interação conduzidos pelos membros que compõem o sistema familiar, tende a gerar efeito contínuo no que se refere ao desenvolvimento da família, bem como em influências internas e externas para as áreas da vida a se seguir (Milanez et al., 2019).

2.3. Comunicação Disfuncional entre os genitores: implicações no bem estar emocional dos filhos (as)

De acordo com Galvão, Lima e Lopes (2021) uma relação conflituosa entre os pais pode acarretar em problemas psicológicos nos filhos, sendo antes, durante ou após o processo de dissolução conjugal.

O modo de convívio entre o par conjugal é complexo de compreender, uma vez que cada indivíduo carrega as próprias percepções, expectativas e, geralmente, padrões de comportamentos apreendidos na fase de desenvolvimento (desde o nascimento, à adolescência), com a família (Goulart et al., 2019).

Essas características se demonstram de grande impacto na fase adulta, experienciada principalmente quando na formulação da família, entendendo que a qualidade de uma relação afetiva pode acarretar em possíveis dificuldades de enfrentamento do âmbito da saúde mental e física, na vida profissional e social (Goulart et al., 2019).

É importante ressaltar que o sistema familiar é caracterizado como um dos principais influenciadores das percepções advindas. Sendo assim, um sistema familiar disfuncional pode implicar em grandes problemáticas ao longo do desenvolvimento emocional da criança e/ou adolescente (Galvão; Lima; Lopes, 2021).

A disfuncionalidade relacional, no que tange ao casal conjugal, tende a contribuir para a separação destes, sendo que, tal maneira de convívio contribui para o modo como os filhos (as) irão olhar para a situação e atribuir sentido para a própria forma de ser no mundo (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019).

É visto que, quando se concretiza a separação dos pais, os filhos (as) passam a vivenciar mudanças na rotina, sendo possível que ocorra reorganizações a nível direto ou indireto dentro do sistema familiar (Kostulski; Arpini, 2018). Dependendo das causas que motivaram o término e a dinâmica da relação e comunicação dos genitores, o filho e/ou filha pode passar a ser um ponto de intermédio das novas discussões e, em muitos casos, um passa a manchar a imagem do outro para o respectivo filho/a (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019).

Neste sentido, o conceito citado no primeiro tópico de “lealdade dos filhos” a um dos genitores visto como mais fragilizado no processo de dissolução conjugal, pode passar a ser, o que se configura perante a lei como “alienação parental”, que acontece quando “[…] um dos progenitores, por meio de estratégias e manobras manipuladoras, denigre a imagem do outro, ensejando excluí-lo da vida do filho, o que pode vir a destruir o vínculo emocional existente entre o filho e o outro genitor” (Silva; Chapadeiro; Silva, 2020, p. 90).

Esses conflitos relacionais e comunicação disfuncional, quando na participação da criança e/ou adolescente, tende a gerar sentimentos de confusão, e até mesmo sentimento de culpa frente a separação dos pais (Peregrino et al., 2021). De acordo com os autores,

trocas de insultos, olhares fulminantes de raiva, construção de dossiês negativos que desqualificam a imagem alheia, interrupção ou empobrecimento da qualidade da comunicação entre pais e mães deixam claro o tempo todo para os filhos que o clima é de beligerância. Como crescer num contexto assim? Como não ter o desenvolvimento afetado numa etapa onde os alicerces precisam ser bem firmados, mas numa estrutura que está ruindo? Os pais podem estar tão imersos em seus conflitos que não conseguem cuidar de seus filhos, deixando de oferecer o apoio e a proteção de que precisam (Peregrino et al., 2021, p. 100).

Entende-se que a separação dos pais e a forma como esse ato é conduzido, pode culminar em resultados tanto positivos quanto negativos para os membros da família, dependendo da dinâmica relacional constituída pelo então ex casal (Silva; Chapadeiro; Silva, 2019).

Segundo Campeol e Pereira (2021), as crianças tendem a encarar a transição da dissolução conjugal de modo intenso e doloroso, sendo as principais respostas emocionais o medo, a raiva, a culpa e a tristeza.

Para além, esse processo de separação dos pais pode acarretar no que foi chamado de “adultização” (Peregrino et al., 2021), onde a criança e/ou adolescente passa a se considerar uma espécie de suporte emocional para os genitores, visto como arrasados emocionalmente, corroborando em uma total inversão de papéis.

Ainda, a forma de comunicação e interação relacional disfuncional dos genitores em relação aos filhos, tende a favorecer o estresse destes, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da ansiedade já na fase da infância (Emerick; Rosso, 2020).

Neste sentido, Milanez et al. (2019) afirmam que a saúde mental dos (as) filhos (as) está diretamente associada à condição do convívio entre os pais, sendo separados ou não. Deste modo, uma família cuja relação é conflituosa resulta em riscos psicológicos à prole.

O conceito de saúde mental abrange diversas áreas do conhecimento. No entanto, as principais associações e o modo de explicá-las nas mais vastas disciplinas em que sofre influência, se relacionam a atributos de sintomas psiquiátricos e aspectos psicossociais (Alcântara; Vieira; Alves, 2022).

Para a organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental se compreende através do bem-estar físico, social e psíquico, onde o sujeito percebe as próprias capacitações, lidando de maneira benéfica com fatores estressores advindos do dia a dia, podendo contribuir para com o meio em que está inserido.

Neste seguimento, os aspectos da comunicação disfuncional dos pais que implicam na saúde mental dos filhos são vastos. A um nível emocional, as crianças e/ou adolescentes podem experimentar sentimentos de ansiedade, estados depressivos e sentimento de confusão, uma vez que são testemunhas ou, em casos judiciais, estão diretamente relacionadas nas disputas (Galvão; Lima; Lopes, 2021).

Assim, a exposição contínua a conflitos pode comprometer a capacidade dos filhos (as) em desenvolver habilidades de regulação emocionalmente saudáveis, dificuldades de comportamento e de ajustamento diante o novo arranjo familiar (Silva, 2022).

Além disso, a comunicação negativa entre os pais pode influenciar a percepção que os filhos (as) têm do relacionamento interpessoal, ou seja, a maneira como será conduzido a expressão da própria comunicação e interação diante a criação de vínculos, potencialmente afetando a percepção acerca do amor e afeto (Peregrino et al., 2021).

É de suma importância validar todos os aspectos que corroboram para o desenvolvimento da criança e do adolescente, frisando que a família é o principal sistema ligado e que influencia direta e indiretamente para a formação deste indivíduo (Milanez et al., 2019).

De acordo com Silva, Chapadeiro e Silva (2020) a família ao longo da história vem se reconfigurando e nos dias atuais há novas formulações de família, possuindo como essência em todas as configurações a concepção de afeto, atenção, segurança, respeito e deveres.

Entende-se ainda que é no ambiente familiar que o indivíduo, desde o nascimento, desenvolve as próprias habilidades, constrói percepções relacionais, apreende acerca da expressão de sentimentos e obtém exemplos a respeito de comportamentos (Milanez et al., 2019).

Diante desses aspectos relacionais familiares e das demandas que podem vir a surgir, é importante não generalizar essas características, de modo que nem todas as crianças e/ou adolescentes vão apresentar problemas de ajustamento ou reagir da mesma forma diante a uma situação familiar conturbada (Koprowski; Galindo; Gomes 2020).

Silva, Chapadeiro e Silva (2020) também discorrem a respeito das diferentes visões e significados que a criança e/ou adolescente pode atribuir perante o contexto de separação dos pais, uma vez que, devido a muitos conflitos presenciados, a separação pode ser atrelada a uma melhora no sistema familiar.

À vista disso, é compreendido que há grandes variáveis dentro do convívio familiar que tendem a gerar influência para o desenvolvimento saudável ou prejudicial do bem-estar da criança e/ou adolescente. As questões e problemas dos adultos, quando perpassa de forma disfuncional aos filhos (as), corroboram para uma desregulação a respeito da função do ser criança e filho (a), podendo causar impactos para com perspectivas do tempo presente e futuro (Silva; Chapadeiro; Silva, 2020).

2.4. O Papel do Profissional Psicólogo nesse contexto

A psicologia tem um papel de suma importância dentro do processo de separação conjugal, seja atuando clinicamente, quando entendido a necessidade frente ao judiciário e/ou procurado pelos responsáveis, ou, na área jurídica. Ambos visam o acolhimento e auxílio necessário para a família, principalmente no que se refere ao ajustamento da criança e/ou adolescente (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019).

Na área clínica, o psicólogo (a) trabalha de modo mais particular frente ao funcionamento do sistema familiar, podendo ser realizada a psicoterapia de casal e/ou com todos os membros que compõem a família. Para essa modalidade de psicoterapia, é mais comumente utilizado a abordagem sistêmica familiar, sendo também utilizada por psicólogos de outras abordagens, especializados em atendimento de casal (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019).

No período que antecede o ato da separação em si, o (a) psicólogo (a) poderá auxiliar na compreensão da decisão, nas ampliações de entendimento acerca do ser casal conjugal e parental, possibilitando a construção do exercício parental saudável e harmônico, visando a prevenção de implicações negativas no bem-estar dos (as) filhos (as) (Peregrino et al., 2021).

Durante ou após a separação, havendo uma dinâmica parental disfuncional, o profissional atuará como mediador entre o casal parental, incentivando uma comunicação funcional, contribuindo a fim de garantir que os interesses das crianças sejam priorizados e auxiliando os pais a desenvolver estratégias para uma comunicação saudável, visando minimizar os conflitos e impactos negativos nos filhos (as) (Araújo, 2019).

A relevância do psicólogo para esta fase da vida dos indivíduos envolvidos em um processo de separação é salutar, pois que se verifica um elevado índice de alterações comportamentais associadas ao processo, sobretudo nos indivíduos de menor resistência, ou em condições especiais de desenvolvimento como é o caso das crianças e adolescentes. (Araújo, 2019, p. 22).

No atendimento clínico e individual com as crianças e/ou adolescentes envolvidos nesse processo, ao criar um ambiente seguro e acolhedor, o psicólogo avalia e permite que estes expressem seus sentimentos e preocupações, ajudando a aliviar o sofrimento emocional que frequentemente acompanha esse processo de separação dos pais, promovendo também orientações e informações sobre tal contexto (Peregrino et al., 2021).

Já na área jurídica, o (a) psicólogo (a) trabalha em cooperação com o direito, visando a melhor alternativa para o desenvolvimento dos filhos (as) durante o processo de divórcio (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019). Dentro desse processo, existem também as estratégias conhecidas como oficinas de parentalidade (Silva; Chapadeiro; Silva, 2020).

Além de atuar como avaliador e fornecer informações cabíveis ao tribunal, o psicólogo jurídico também pode atuar como mediador de conflitos familiares. Nessa função, objetiva-se facilitar a comunicação entre os genitores, buscando soluções consensuais. A mediação visa promover um ambiente mais cooperativo, beneficiando as crianças ao minimizar o litígio (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019).

Nesta perspectiva, há também possibilidades desenvolvidas na área social, como demonstrado por Peregrino et al. (2021), através do Instituto de Pesquisas Sistêmicas e Desenvolvimento de Redes Sociais – Instituto NOOS. Os autores relatam as histórias ao longo de mais de 20 anos de instituto e a maneira como mediam os conflitos relacionais familiares em prol das crianças e adolescentes, ensejando um desenvolvimento emocional saudável. De acordo com os autores,

o Instituto Noos é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1994, no Rio de Janeiro. […] o Noos constituiu-se com profissionais das ciências humanas, sociais e da saúde, com o objetivo de desenvolver e difundir práticas sociais sistêmicas voltadas para a promoção de saúde dos relacionamentos nas famílias, grupos, escolas, equipes profissionais e instituições. […] em 2014 foi aberta a filial São Paulo que, com o encerramento do Noos Rio, em 2018, tornou-se a única sede da instituição.

Atuando principalmente em São Paulo, as principais atividades do Instituto incluem: atendimento em terapia familiar e de casal, mediação transformativa de conflitos, terapia comunitária, atendimento a famílias em litígio (no Rio de Janeiro), cursos de aprimoramento e formação para profissionais das chamadas profissões de ajuda na área da saúde, educação e desenvolvimento de comunidade, cursos de facilitação de grupos Reflexivos de Gênero (NOOS, 1994).

Frente ao exposto, a psicologia tem um amplo e importante espaço para trabalhar acerca das questões relacionais familiares e auxiliar nesse processo de sofrimento e conflitos, principalmente no que se refere às crianças e/ou adolescentes inseridos em tal situação (Peregrino et al., 2021).

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para este estudo consistiu na pesquisa descritiva e na pesquisa bibliográfica da literatura. De acordo com Fernandes et al. (2018), a pesquisa descritiva tem por objetivo identificar a semelhança entre os dados pesquisados, possuindo foco na descoberta e na análise dos fatores, buscando descrevê-los, interpretá-los e classificá-los. Portanto, diz respeito a pesquisa que contém uma análise aprofundada da realidade pesquisada.

Para Gil (2002) trata-se de uma modalidade de pesquisa que visa descrever com o máximo de informações possíveis um determinado objeto de pesquisa, tal como a descrição de determinado fenômeno ou população.

Já a pesquisa bibliográfica, utiliza-se de dados existentes, ou seja, trata-se de dados que já foram analisados. Nesse sentido, baseia-se em materiais como artigos científicos, livros, revistas, jornais, entre outros (Fernandes et al., 2018).

Para Lima e Mioto (2007, p. 40) a pesquisa bibliográfica “possibilita um amplo alcance de informações, além de permitir a utilização de dados dispersos em inúmeras publicações, auxiliando também na construção, ou na melhor definição do quadro conceitual que envolve o objeto de estudo proposto”.

O presente projeto de pesquisa foi realizado a partir de artigos científicos encontrados nas seguintes bases de dados: BVS, Google Acadêmico e Scielo.

Objetivando resultados mais precisos acerca da temática, se fez uso de alguns métodos de inclusão e exclusão. Como método de inclusão, foram pesquisadas literaturas dentro do período de cinco anos (2018-2023), possibilitando uma visão mais atual no que tange a separação conjugal e suas configurações, bem como aos estudos correspondentes a questões comunicacionais frente às relações familiares, e assim, a maneira como a criança e/ou adolescente é vista frente a este cenário.

Em segundo lugar, foram selecionados para a pesquisa, somente artigos encontrados no idioma Português (BR) e, por fim, foram selecionados artigos relacionados aos descritores: conjugalidade; separação conjugal; parentalidade; aspectos emocionais dos filhos; aspectos sociais dos filhos; disfuncionalidade familiar; comunicação disfuncional; psicologia sistêmica.

Como método de exclusão, foram descartados artigos que não estavam dentro do período de cinco anos (2018-2023), artigos que não estavam no idioma Português (BR) e ainda, estudos que não se relacionavam com um ou mais descritores supracitados no método de inclusão.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a realização do presente estudo, se fez uso da pesquisa bibliográfica e descritiva da literatura. Foram utilizados 20 artigos encontrados nas bases de dados da Scielo, BVS e Google acadêmico, dentro do período de publicação de 2018 a 2023, sendo possível compreender acerca da temática, enfatizando a necessidade da consolidação de mais estudos a respeito da comunicação disfuncional, no viés da dissolução conjugal e os prejuízos na saúde mental dos filhos (as).

No que tange a dissolução conjugal e as implicações desse novo contexto para os filhos (as), é evidenciado nas literaturas, que há mudanças significativas na rotina, tanto da criança, como para o adolescente, que ocorrem quando se consolida a separação do casal, devido a saída de um dos pais da residência de origem. Para os adultos, se faz necessário ajustamentos financeiros, de funções e reorganizações de regras de convívio dentro do âmbito familiar, sendo todas essas questões vivenciadas e percebidas pelos filhos (as).

Salienta-se que a separação do casal, enquanto conjugal, e possuindo um ou mais filhos (as), é uma das etapas mais complexas que um relacionamento pode enfrentar (Silva, 2022), uma vez que ter filhos (as) requer deveres, obrigações e cuidados específicos no acompanhamento do desenvolvimento destes.

Assim, quando ocorre a separação, a criança passa a vivenciar mudanças na rotina e se faz necessário uma adequação do convívio com os genitores, havendo divisões de tarefas que antes os pais faziam juntos e, podendo haver, ainda, a quebra da idealização de família (Cavalcante; Hoepers; Tomaz, 2019).

Sendo a família um sistema relacional em constante reformulação, em que cada membro que a compõem pode estar afetando e sendo afetado simultaneamente (Silva, 2022), é importante destacar que, todo tipo de modificação na rotina dos filhos (as) gera consequências tanto positivas, como negativas. Deste modo, a dinâmica relacional da família é o ponto de partida para a maneira e proporção que esse evento irá significar (Milanez et al., 2019).

Assim como Milanez et al. (2019), Silva (2022) também defende o pressuposto de que a família é o primeiro sistema incumbido da inserção social da criança. Sendo assim, estando exposto a uma dinâmica relacional disfuncional, o contexto de separação dos pais passa a ser um fator estressante, dificultando o ajustamento ao novo modo de convívio, podendo acarretar em disfuncionalidade em diversas áreas da vida dos filhos (as).

No que diz respeito às vivências dos filhos (as), Silva, Chapadeiro e Silva (2020) enfatizam que não se pode desconsiderar a visão da criança e/ou adolescente, compreendendo que o significado atribuído pode ir além das influências advindas da família, pois os filhos podem ter um amadurecimento, resiliência e compreensão do contexto, sabendo diferenciar os papéis.

Quando ocorre a separação do casal conjugal, o vínculo em prol dos filhos (as) deveria ser preservado da melhor maneira possível, visando um bom desenvolvimento emocional e de interação destes. No entanto, quando se trata de uma dissolução conflituosa, os pais tendem a sobrepor os próprios interesses, exteriorizando uma comunicação disfuncional e, ainda, incluindo a criança e/ou adolescente nas próprias questões mal resolvidas (Goulart et al., 2019).

Neste sentido, diante das pesquisas, percebe-se queasimplicações da comunicação disfuncional, relacionado ao sistema familiar na construção da parentalidade,é demonstrado como um papel fundamental para o direcionamento prejudicial do convívio entre genitores e filhos (as).

Assim, é possível compreender que a distinção do relacionamento conjugal para o parental é imprescindível, de modo que a separação conjugal encerra o vínculo afetivo entre o casal, mas o vínculo com os filhos (as) deve permanecer, ao passo que se enseje um desenvolvimento saudável destes (Juras; Costa, 2018).

Frente a isso, entende-se que o fato de conseguir obter essa distinção dos sistemas conjugal e parental, deve-se ao tipo de comunicação já estabelecida entre o casal, quando no relacionamento conjugal (Goulart et al., 2019).

Fica evidenciado que a comunicação disfuncional entre os genitores tende a gerar sentimentos de confusão, culpa e, muitas vezes, comporta aos filhos (as) o peso da responsabilidade, quando expostos a uma situação de mediação de conflitos (Peregrino et al., 2021). Deste modo, Silva, Chapadeiro e Silva (2020) reiteram que, nesse contexto, a criança e/ou adolescente pode ser influenciado a “escolher” um lado, geralmente sendo o adulto visto como mais fragilizado.

Assim, cabe a afirmativa que prejuízos na saúde psicológica dos filhos (as), como o desenvolvimento da ansiedade ainda na infância (Emerick; Rosso, 2020), estados depressivos e influências negativas na forma de se relacionar, demonstrar sentimentos e construir vínculos, tendem a ser intensificados diante a maneira da expressão do ato de comunicar-se dos genitores (Galvão; Lima; Lopes, 2021).

Peregrino et al. (2021) acrescentam que, além do desenvolvimento de estados depressivos, a constância da comunicação disfuncional entre o par parental produz alteração da percepção de afeto e a concepção de amor, modificações na forma de se relacionar e retraimento familiar e/ou dos grupos sociais em que faz parte. Esses fatores tendem a ser preditores para o desenvolvimento de psicopatologias.

Diante ao exposto, é possível constatar que a saúde mental dos filhos (as) de pais separados, inseridos em uma dinâmica de comunicação disfuncional, sofre influências negativas no desenvolvimento emocional e, consequentemente, comportamental, gerando prejuízos nas relações e nas áreas de socialização (Koprowski, Galindo e Gomes 2020).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se observou nos estudos em que se embasou o presente artigo, a dissolução conjugal é um processo complexo e geralmente doloroso de se enfrentar, tanto para os pais e, de modo particular, para os filhos (as) do casal, sendo crianças e/ou adolescentes. Essa complexidade se dá, pois, o ser humano é um ser relacional e se relacionar abarca a junção de aspectos culturais, de valores, regras e moralidade de cada indivíduo, perpassando, atravessando e compondo a história de cada membro que compõe o sistema familiar.

Assim, como apontado nos resultados, a forma como se apresenta a dinâmica relacional da família é vista como um dos preditores para um desenvolvimento individual e coletivo saudável, ou não, uma vez que expressões de emoções e comportamentos que geram conflitos externos tendem a ser internalizados.

Neste sentido, é entendido que a criança e/ou adolescente está em fase de construção do próprio ser, sendo possível constatar que a internalização e vivência dos conflitos familiares, nos quais a comunicação disfuncional faz parte da maneira na qual ocorre a movimentação do convívio do sistema familiar, possibilita a ampliação de implicações na saúde mental dos filhos (as).

Os autores, no geral, evidenciam a importância de uma comunicação funcional entre os genitores, e destacam a necessidade da compreensão da diferenciação da conjugalidade e da parentalidade para a construção efetiva dos vínculos após a dissolução conjugal, compreendendo o bem-estar dos filhos (as).

O presente estudo abordou e constatou a ocorrência de implicações na saúde mental dos filhos (as) devido a separação dos pais e as mudanças significativas que esse evento proporciona, à vista da comunicação disfuncional. No entanto, cabe ressaltar a importância de maiores estudos acerca da temática, enfatizando a sua relevância.

Ainda, pôde-se elucidar a importância do profissional psicólogo, seja na área clínica, jurídica e/ou social, para com a mediação, diminuição e adequação dos conflitos familiares, fornecendo possibilidades de melhora do vínculo e na comunicação entre o casal parental e, entre genitores e filhos (as), tendo como um dos objetivos principais o auxílio no ajustamento do filho (a) no novo modo de convívio com os pais separados.

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1 Aluna do curso de Psicologia (UNIVEL) (2023)

2 Professora especialista (UNIVEL) (2023)