INSUFICIÊNCIA RENAL E SUAS URGÊNCIAS DIALÍTICAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10145490


Raquel Farias Cyrino; Aline Maria de Jesus Silva; Andriele dos Santos Pereira Filadelfo; Carlos Alexandre Viana Passos; Idernon Cândido Nascimento; Rafaella de Albuquerque Cajueiro; Sarah de Oliveira Veiga; Beatriz de Carvalho e Sá Alves da Cruz; Delaide Marinho Leandro; Emanuella Alves Gonçalves; Marcos Ramon Ribeiro dos Santos Mendes; Héllen Viviany Barros da Silva Sá; Luan Ribeiro dos Santos Assis; Dayanna das Neves Gomes de Souza; Anna Laura Rodrigues Amorim.


RESUMO

As urgências dialíticas na insuficiência renal são condições decorrentes de uma insuficiência renal crônica ou de falência renal aguda que ocorrem quando os rins não estão mais conseguindo realizar as suas funções de filtragem e eliminação de resíduos do corpo. Essas urgências dialíticas podem ser a hipervolemia, acidose refratária ao tratamento, hipercalemia, intoxicação e a síndrome urêmica, podendo ter sintomas, como astenia, confusão mental, dispneia, náusea e vômitos persistentes, alterações no equilíbrio de eletrólitos, dentre outros. A diálise é uma forma de tratamento que visa eliminar os fluidos e toxinas em excesso no corpo, substituindo a função renal. Ela pode ser hemodiálise ou diálise peritoneal. Desse modo, para que se consiga realizar um tratamento eficaz e ter um bom prognóstico para o paciente, é necessário que seja detectada precocemente tal urgência dialítica.

PALAVRAS-CHAVE: Urgências dialíticas. Insuficiência renal. Diálise.

SUMMARY

Dialysis emergencies in renal failure are conditions resulting from chronic renal failure or acute renal failure that occur when the kidneys are no longer able to perform their functions of filtering and eliminating waste from the body. These dialysis emergencies can be hypervolemia, acidosis refractory to treatment, hyperkalemia, intoxication and uremic syndrome, which may have symptoms such as asthenia, mental confusion, dyspnea, persistent nausea and vomiting, changes in electrolyte balance, among others. Dialysis is a form of treatment that aims to eliminate excess fluids and toxins in the body, replacing kidney function. It can be hemodialysis or peritoneal dialysis. Therefore, in order to carry out effective treatment and have a good prognosis for the patient, it is necessary to detect this dialysis urgency early.

KEYWORDS: Dialysis emergencies. Renal insufficiency. Dialysis.

1. INTRODUÇÃO

As urgências dialíticas na insuficiência renal se dão quando uma pessoa com insuficiência renal aguda ou crônica atinge um nível crítico de acumulação de toxinas no sangue e desequilíbrio de eletrólitos, levando a sintomas graves e potencialmente fatais (MENDU et al., 2017).

Os sintomas de urgência dialítica são diversos, como confusão mental, astenia, náusea e vômitos persistentes, dispneia devido à acumulação de fluidos nos pulmões, edema grave, alterações no equilíbrio de eletrólitos e acúmulo de ureia e creatinina no sangue (PANNU et al., 2008).

Os tipos de urgências dialíticas na insuficiência renal são: hipervolemia, acidose refratária ao tratamento, hipercalemia, por intoxicação e síndrome urêmica, o que se deve ter uma conduta imediata nesses casos para evitar que o paciente possa ter complicações muito graves (MENDU et al., 2017).

Em casos de insuficiência renal grave, os rins não conseguem realizar as funções normais de filtragem do sangue e excreção de resíduos do corpo. A diálise é usada para substituir temporariamente a função renal, removendo toxinas e fluidos em excesso. Existem dois principais tipos de diálise: a hemodiálise, que utiliza uma máquina de diálise para filtrar o sangue, e a diálise peritoneal, que usa o revestimento do abdômen como um filtro natural. O tipo de diálise escolhido dependerá da situação clínica do paciente e de outros fatores (FATEHI; HSU, 2017).

Desse modo, o presente estudo tem o objetivo de elucidar os diferentes tipos de urgências dialíticas na insuficiência renal com o intuito de transmitir ao leitor as características importantes de cada uma, a fim de que se possa conseguir um tratamento precoce dessas condições e de se ter um bom prognóstico para o paciente.

2. DISCUSSÃO

2.1. Urgência Dialítica

A urgência dialítica é um termo que se refere a uma condição médica na qual um paciente apresenta uma série de sintomas e distúrbios graves que indicam a necessidade iminente de um procedimento de diálise. A diálise é um tratamento médico essencial para pacientes com doença renal crônica avançada ou falência renal aguda, que ocorre quando os rins não conseguem mais realizar suas funções de filtragem e eliminação de resíduos do corpo. A urgência dialítica se dá a partir da falta de tratamento e pode levar a complicações sérias ou, até mesmo, à morte do paciente (BARBAN et al., 2018).

De acordo com as várias condições que podem predispor à urgência dialítica, duas categorias podem ser analisadas, tais como: doença renal crônica, onde pacientes com essa patologia sofrem de um acúmulo gradual de toxinas no corpo, pois os rins não filtram corretamente o sangue, o que pode ocorrer sintomas, como fadiga, edema, pressão arterial sistêmica descontrolada e anemia e, quando a doença evolui, pode ter complicações graves, como distúrbios eletrolíticos, problemas cardiovasculares e ósseos; e falência renal aguda, que ocorre por uma perda abrupta da função renal, podendo ser decorrentes de lesões renais, infecções graves, obstrução das vias urinárias, reações adversas a medicamentos ou doenças autoimunes e pode ter como sintomas náuseas, vômitos, anúria e acúmulo rápido de toxinas no sangue (RONCO et al., 2015).

A urgência dialítica se torna vital quando os sintomas são graves o suficiente para ameaçar a vida do paciente. Através da diálise se pode remover toxinas, excesso de fluidos e eletrólitos do corpo, replicando as funções dos rins. Ela pode ser de duas formas: a hemodiálise, que utiliza um filtro artificial para purificar o sangue; e a diálise peritoneal, que usa a membrana peritoneal dentro do abdômen para realizar a purificação (BARBAN et al., 2018).

Os pacientes em estado de urgência dialítica normalmente precisam iniciar a diálise rapidamente, geralmente dentro de 24 a 48 horas, para evitar complicações potencialmente fatais. A escolha da modalidade de diálise depende das circunstâncias individuais de cada paciente, como sua condição clínica, histórico médico e preferências (AZEVEDO et al.2019).

É importante ressaltar que a urgência dialítica não é apenas uma questão médica, mas também envolve fatores psicológicos e sociais. Os pacientes podem ter estresse e ansiedade significativos ao enfrentar a necessidade de diálise. Além disso, a manutenção a longo prazo do tratamento é desafiadora e pode afetar a qualidade de vida dos pacientes (MENDU et al., 2017).

2.2. Objetivos da Diálise na Lesão Renal Aguda (LRA)

A diálise desempenha um papel fundamental no tratamento da Lesão Renal Aguda (LRA), que ocorre pela rápida perda da função renal devido a várias causas, como lesões, infecções, insuficiência cardíaca ou reações adversas a medicamentos (HOSTE et al., 2018).

Os principais objetivos da diálise no tratamento da LRA são restaurar a homeostase do corpo e proporcionar tempo para que os rins se recuperem, o que se pode analisar nas seguintes formas a seguir (KELLUM; LAMEIRE, 2013):

– Remoção de Toxinas e Metabólitos Nefrotóxicos, pois a principal função dos rins é filtrar o sangue, removendo substâncias tóxicas e resíduos metabólicos. Na LRA, essa função fica comprometida e a diálise ajuda a eliminar toxinas acumuladas no corpo, evitando que elas causem danos aos órgãos e sistemas;

– Restabelecimento do Equilíbrio Eletrolítico, já que os rins desempenham um papel crítico na regulação dos níveis de eletrólitos, como sódio, potássio e cálcio. Na LRA, os desequilíbrios eletrolíticos podem ser perigosos, sendo assim, a diálise auxilia na correção desses desequilíbrios, mantendo os níveis de eletrólitos dentro de limites seguros;

– Redução da Sobrecarga de Fluidos, visto que a LRA, inúmeras vezes, resulta em retenção de líquidos no corpo, causando edema e aumentando o risco de insuficiência cardíaca. Então, a diálise é eficaz na remoção de excesso de fluidos, aliviando a sobrecarga e restaurando o equilíbrio hídrico;

– Controle da Pressão Arterial, pois a pressão arterial descontrolada é uma complicação comum na LRA e a diálise pode ajudar a controlar a pressão arterial, evitando picos perigosos que podem levar a danos nos órgãos;

– Melhora dos Sintomas e Bem-Estar, já que a diálise alivia os sintomas associados à LRA, como náusea, vômitos, fadiga e confusão, com isso, melhorando o bem-estar geral do paciente. Isso é especialmente importante em casos graves de LRA, nos quais os sintomas podem ser bastante severos;

– Facilitação da Recuperação Renal, pois a diálise oferece um período de “recesso” para os rins, permitindo que se recuperem da lesão. Em alguns casos, a LRA é reversível e a diálise pode proporcionar tempo para a recuperação das funções renais;

– Suporte a Pacientes em Condições de Alto Risco, visto que pacientes com LRA que também têm outras condições médicas graves, como insuficiência cardíaca ou sepse, podem se beneficiar da diálise como parte do tratamento em geral. Assim, diálise ajuda a manter a estabilidade e a viabilidade desses pacientes durante a recuperação;

– Prevenção de Complicações, já que a diálise pode prevenir complicações graves associadas à LRA, como acidose metabólica, encefalopatia urêmica e pericardite e essas complicações podem ser fatais se não forem tratadas adequadamente.

Desse modo, os objetivos da diálise na Lesão Renal Aguda são de diferentes tipos e tem o intuito de restaurar a homeostase do corpo, manter a estabilidade do paciente e proporcionar tempo para a recuperação renal. A diálise desempenha um papel vital no tratamento da LRA, especialmente em casos graves, onde a função renal é gravemente comprometida e os rins necessitam de apoio para se recuperar (LEAF; WAIKAR, 2019).

2.3. Diálise precoce versus tardia na urgência dialítica

A escolha entre diálise precoce e tardia na urgência dialítica é uma decisão clínica primordial que depende de diversos fatores, tais como: a condição do paciente, a causa da urgência dialítica, as comorbidades e outros fatores clínicos. Ambas as abordagens têm vantagens e desvantagens e a decisão deve ser individualizada para proporcionar o melhor cuidado ao paciente (GAUDRY et al., 2016).

A diálise precoce é muito importante para realizar a rápida remoção de toxinas, controlar sintomas imediatos, melhorar o controle da pressão arterial sistêmica e para prevenção de complicações. Já a diálise tardia é eficaz para o monitoramento e avaliação do paciente, recuperação renal potencial, minimização de riscos e para economia de recursos (ZARBOCK et al., 2016).

Assim, a decisão entre diálise precoce e tardia na urgência dialítica é complexa e deve ser individualizada com base nas necessidades do paciente e nas circunstâncias clínicas. Em geral, a diálise precoce é frequentemente preferida quando há risco iminente de complicações graves, enquanto a diálise tardia pode ser mais vantajosa quando há uma chance real de recuperação renal e um risco menor de complicações associadas à diálise. Entretanto, a avaliação clínica cuidadosa e a comunicação entre a equipe médica, o paciente e sua família são essenciais para tomar a melhor decisão em cada situação (LEAF; WAIKAR, 2019).

2.4. Tipos de Urgências Dialíticas em Insuficiência Renal

Os tipos de urgências dialíticas em insuficiência renal são: hipervolemia, acidose refratária ao tratamento, hipercalemia, por intoxicação e síndrome urêmica, que precisam de intervenção imediata para evitar complicações sérias (RONCO et al., 2015).

2.4..1 Hipervolemia

A hipervolemia ocorre pelo excesso de volume de fluidos no sistema circulatório e tecidos do corpo. Ela é uma das complicações associadas à insuficiência renal, insuficiência cardíaca congestiva, cirrose hepática, síndrome nefrótica e outras condições médicas (THE STARRT-AKI INVESTIGATORS, 2020).

A hipervolemia, geralmente, se dá devido uma desregulação no equilíbrio entre a ingestão e a eliminação de líquidos pelo corpo. Em pacientes com insuficiência renal, por exemplo, os rins não conseguem efetivamente filtrar e excretar o excesso de água e solutos, levando à retenção de fluidos. Além disso, a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona em resposta à insuficiência renal pode resultar na retenção de sódio e água (AZEVEDO et al., 2019).

De acordo com o protocolo de SCAMP, a sobrecarga de volume é muito urgente quando ocorre anasarca, falência respiratória (FiO2>0,7) e diurese < 100ml/24h, é pouco urgente quando tem edema 2-3+, hipoxemia (FiO2: 0,5-0,7) e diurese de 100-500ml/24h e sem urgência se edema 1+ ou ausente e diurese > 500ml/24h (FATEHI; SHU, 2017).

Os sintomas da hipervolemia podem variar, mas, frequentemente, incluem edema nas pernas, tornozelos e abdômen, devido à acumulação de fluidos nos tecidos. Pacientes com hipervolemia também podem ter dispneia, pressão sanguínea elevada, taquicardia e, em casos graves, insuficiência cardíaca aguda. Além disso, a hipervolemia pode levar a distúrbios eletrolíticos, como hiponatremia, o que pode resultar em sintomas neurológicos, como confusão mental e convulsões (BARBAR et al., 2018).

A hipervolemia é preocupante devido ao impacto que pode ter no sistema cardiovascular. O aumento do volume sanguíneo coloca pressão adicional sobre o coração, tornando-o menos eficiente, levando a complicações cardíacas. Além disso, a hipervolemia pode piorar a pressão arterial, agravar a insuficiência cardíaca e aumentar o risco de eventos cardiovasculares (HOSTE et al., 2018).

O tratamento da hipervolemia se dá com a restrição de ingestão de líquidos e medicamentos diuréticos, a fim de aumentar a excreção de água e eletrólitos pelos rins, e, em casos graves, a diálise para remover o excesso de fluidos do corpo. Assim, deve-se abordar a causa subjacente da hipervolemia, como a insuficiência renal, para controlar a progressão da condição (PANNU et al., 2008).

2.4.2. Acidose refratária ao tratamento

A acidose refratária ao tratamento ocorre quando a acidose metabólica persiste apesar das tentativas de tratamento convencional. Ela é uma condição caracterizada por um desequilíbrio no equilíbrio ácido-base do corpo, resultando em uma diminuição anormal do pH sanguíneo (ZARBOCK et al., 2016).

A acidose metabólica pode ocorrer devido a várias causas, como insuficiência renal, diabetes descontrolada, doença pulmonar crônica ou ingestão excessiva de ácidos. Normalmente, a acidose metabólica responde bem ao tratamento da causa subjacente e à correção do desequilíbrio ácido-base. No entanto, a acidose é considerada refratária quando persiste apesar das intervenções terapêuticas adequadas (GAUDRY et al., 2016).

De acordo com o protocolo de SCAMP, é muito urgente quando o pH < 7,2, pouco urgente quando o pH < 7,3 e sem urgência quando o pH > 7,3 (FATEHI; SHU, 2017).

Algumas das causas mais comuns de acidose metabólica refratária ao tratamento são: insuficiência renal crônica; desequilíbrios eletrolíticos graves; acúmulo de substâncias tóxicas e doenças metabólicas hereditárias (LEAF; WAIKAR, 2019).

Os sintomas da acidose refratária variam de acordo com a causa subjacente, mas podem incluir fraqueza, fadiga, confusão mental, náuseas e distúrbios neurológicos. O tratamento da acidose metabólica refratária é um desafio, uma vez que é necessário abordar a causa subjacente, se possível, e também corrigir o desequilíbrio ácido-base (KELLUM; LAMEIRE, 2013).

Existem medidas para controlar essa acidose, como diálise para remover ácidos do sangue, administração de bicarbonato para elevar o pH sanguíneo e tratamento da condição subjacente, como insuficiência renal. No entanto, o sucesso do tratamento pode ser limitado, especialmente, quando a causa subjacente não é tratável (MENDU et al., 2017).

2.4.3. Hipercalemia

A hipercalemia é uma condição médica caracterizada por níveis elevados de potássio no sangue, acima do intervalo considerado normal, que, geralmente, é acima de 5.0 miliequivalentes por litro (mEq/L) (AZEVEDO et al., 2019).

A hipercalemia tem diversas causas, dentre elas: insuficiência renal; alguns medicamentos, como os ECA, ARBs, AINES e alguns diuréticos; trauma e lesões musculares; acidose metabólica; e dietas ricas em potássio (FATEHI; HSU, 2017).

Com base no protocolo de SCAMP, é muito urgente quando K+ > 6,5 ou alterações no ECG, pouco urgente quando K+ de 6,0 a 6,5 e sem urgência quando K+ < 6,0 (FATEHI; SHU, 2017).

A hipercalemia pode ser assintomática em estágios iniciais, mas sintomas podem ocorrer à medida que os níveis de potássio aumentam. Os sintomas mais comuns incluem fraqueza muscular, fadiga, ritmos cardíacos anormais (arritmias), palpitações, náuseas e astenia. Em casos graves, a hipercalemia pode levar à parada cardíaca e morte súbita (PANNU et al., 2008).

O tratamento da hipercalemia visa baixar os níveis de potássio no sangue e pode incluir medidas, tais como: restrição de potássio na dieta; uso de medicamentos como gluconato de cálcio, bicarbonato de sódio, alguns diuréticos para promover a excreção de potássio e resinas de troca de íons e diálise para casos graves ou quando outros tratamentos não forem eficazes (HOSTE et al., 2018).

A prevenção da hipercalemia envolve o monitoramento regular dos níveis de potássio, em especial, em pacientes com insuficiência renal ou que estão em tratamento com medicamentos que afetam os níveis de potássio. O tratamento oportuno e a orientação médica são essenciais para gerenciar eficazmente a hipercalemia e evitar complicações graves (THE STARRT-AKI INVESTIGATORS, 2020).

2.4.4. Intoxicação

A urgência dialítica por intoxicação é uma situação médica crítica em que a diálise é necessária para tratar uma pessoa que foi exposta a substâncias tóxicas ou venenosas (BARBAR et al., 2018).

A intoxicação pode ocorrer quando uma pessoa é exposta a substâncias tóxicas de várias maneiras, como através da ingestão, inalação, absorção cutânea ou exposição a toxinas ambientais (GAUDRY et al., 2016).

As substâncias tóxicas podem variar desde produtos químicos industriais e pesticidas até medicamentos em overdose, produtos químicos domésticos e, até mesmo, venenos naturais, como cogumelos venenosos (LEAF; WAIKAR, 2019).

A urgência dialítica em questão, é muito urgente quando ocorre ingestão de toxina, de acordo com o protocolo de SCAMP (FATEHI; SHU, 2017).

Os sintomas de intoxicação podem ser diversos a depender da substância tóxica envolvida, mas podem incluir náuseas, vômitos, dor abdominal, tonturas, confusão mental, convulsões, problemas respiratórios, arritmias cardíacas, insuficiência renal aguda e, até mesmo, coma. Em casos de intoxicação grave, o tratamento imediato é essencial para evitar complicações graves ou fatais (ZARBOCK et al., 2016).

A intoxicação pode sobrecarregar o sistema de desintoxicação do corpo, como os rins, que são responsáveis pela filtragem de produtos tóxicos. Quando a exposição a uma substância tóxica leva a lesões renais agudas, a diálise pode ser necessária para remover efetivamente a substância do corpo e tratar a insuficiência renal induzida por intoxicação. Em casos de intoxicação grave, a diálise pode ser a única maneira eficaz de remover rapidamente a substância tóxica do corpo, prevenir danos adicionais e tratar a insuficiência renal aguda (AZEVEDO et al., 2019).

A escolha do tipo de diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal) e a duração do tratamento dependem da gravidade da intoxicação e da substância envolvida. A supervisão médica é fundamental durante o processo, e os profissionais de saúde monitoram de perto os sinais vitais e os níveis sanguíneos para garantir a eficácia do tratamento (HOSTE et al., 2018).

2.4.5. Síndrome urêmica

A síndrome urêmica é uma condição médica grave que ocorre quando os rins não conseguem mais realizar suas funções de filtragem e eliminação de resíduos do corpo de forma eficiente, o que leva à acumulação de produtos tóxicos no sangue, resultando em uma série de sintomas e complicações potencialmente fatais. A urgência dialítica é uma abordagem terapêutica essencial no tratamento da síndrome urêmica, pois ajuda a remover substâncias tóxicas do sangue quando os rins não conseguem fazê-lo adequadamente (AZEVEDO et al., 2019).

Com base no protocolo de SCAMP, é muito urgente essa urgência dialítica quando ocorrem sintomas urêmicos e alteração do nível de consciência, é pouco urgente quando tem ureia de 120 – 250 e sem urgência com ureia < 120 (FATEHI; SHU, 2017).

A urgência dialítica é necessária quando ocorrem sintomas graves da síndrome urêmica, como hiperpotassemia, acidose metabólica, edema pulmonar, pericardite ou encefalopatia urêmica. Nestes casos, a diálise é uma intervenção essencial para aliviar os sintomas agudos e prevenir complicações graves (HOSTE et al., 2018).

A urgência dialítica não é apenas um tratamento de curto prazo, mas também uma medida para estabilizar o paciente e permitir um tratamento mais abrangente da insuficiência renal crônica. Em muitos casos, a diálise temporária é usada até que a causa subjacente da síndrome urêmica possa ser tratada ou até que a função renal seja restaurada, se possível (MENDU et al., 2017).

É importante notar que a síndrome urêmica é uma condição grave que requer acompanhamento médico especializado e tratamento imediato, especialmente, quando a urgência dialítica é indicada. O atraso no tratamento pode resultar em complicações graves e, até mesmo, colocar a vida do paciente em risco. Portanto, é fundamental reconhecer os sintomas da síndrome urêmica e buscar ajuda médica o mais rápido possível, caso haja suspeita da condição (LEAF; WAIKAR, 2019).

2.5. Prognóstico

O prognóstico das urgências dialíticas, nas quais a diálise é necessária de forma imediata para tratar condições graves, varia significativamente dependendo da causa subjacente, da prontidão no tratamento e das condições de saúde gerais do paciente (RONCO et al., 2015).

Existem várias causas de urgências dialíticas, incluindo hipercalemia, acidose metabólica grave, intoxicação por substâncias tóxicas e hipervolemia. A causa subjacente desempenha um papel crítico no prognóstico. Entretanto, existem alguns fatores que afetam o prognóstico, dentre eles: causa subjacente, idade do paciente, estado geral de saúde, resposta ao tratamento, duração e gravidade da urgência dialítica (FATEHI; HSU, 2017).

Complicações a longo prazo também podem afetar o prognóstico, como a insuficiência renal crônica, que pode se desenvolver como resultado de uma urgência dialítica não tratada ou não controlada, o que pode ter impacto na qualidade de vida a longo prazo (MENDU et al., 2017).

3. CONCLUSÃO

Percebe-se que as urgências dialíticas decorrentes da insuficiência renal pode ser hipervolemia, hipercalemia, acidose refratária ao tratamento e por intoxicação, o que se não tiverem um tratamento precoce, de imediato, o paciente pode ter complicações muito graves.

Em muitos casos, uma intervenção médica oportuna e eficaz, juntamente com um tratamento contínuo, pode melhorar significativamente o prognóstico. É essencial que as urgências dialíticas sejam tratadas sob a supervisão de profissionais de saúde qualificados para otimizar as chances de recuperação. O acompanhamento médico regular é fundamental para monitorar e gerenciar quaisquer complicações a longo prazo.

REFERÊNCIAS

Azevedo, LCP et al. Medicina Intensiva: Abordagem Prática. 4ª ed. Manole, 2019;

BARBAR, Saber D. et al. Timing of renal-replacement therapy in patients with acute kidney injury and sepsis. New England Journal of medicine, v. 379, n. 15, 2018;

FATEHI, Pedram; HSU, Chi-yuan. Evaluation of acute kidney injury among hospitalized adult patients. UpToDate, topic last updated Oct, v. 2, 2017;

GAUDRY, Stéphane et al. Initiation strategies for renal-replacement therapy in the intensive care unit. New England Journal of medicine, v. 375, n. 2, 2016;

HOSTE, Eric AJ et al. Global epidemiology and outcomes of acute kidney injury. Nature Reviews Nephrology, v. 14, n. 10, 2018;

KELLUM, John A.; LAMEIRE, Norbert. Diagnosis, evaluation, and management of acute kidney injury: a KDIGO summary (Part 1). Critical care, v. 17, n. 1, 2013;

LEAF, David E.; WAIKAR, Sushrut S. IDEAL-ICU in context. Clinical Journal of the American Society of Nephrology, v. 14, n. 8, 2019;

MENDU, Mallika L. et al. A decision-making algorithm for initiation and discontinuation of RRT in severe AKI. Clinical Journal of the American Society of Nephrology, v. 12, n. 2, 2017;

PANNU, Neesh et al. Renal replacement therapy in patients with acute renal failure: a systematic review. JaMa, v. 299, n. 7, 2008;

Ronco C, et al. Renal replacement therapy in acute kidney injury: controversy and consensus. Critical Care, 2015;

The STARRT-AKI Investigators. Timing of Initiation of Renal-Replacement Therapy in Acute Kidney Injury. N Engl J Med, 2020;

ZARBOCK, Alexander et al. Effect of early vs delayed initiation of renal replacement therapy on mortality in critically ill patients with acute kidney injury: the ELAIN randomized clinical trial. Jama, v. 315, n. 20, 2016.


Raquel Farias Cyrino
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0006-6262-7177)

Aline Maria de Jesus Silva
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0006-7238-5001)

Andriele dos Santos Pereira Filadelfo
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0009-4768–6066)

Carlos Alexandre Viana Passos
Acadêmico de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0003-4791-0183)

Idernon Cândido Nascimento
Acadêmico de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0007-4768-6213)

Rafaella de Albuquerque Cajueiro
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0000-2382-4553)

Sarah de Oliveira Veiga
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0000-7089-1193)

Beatriz de Carvalho e Sá Alves da Cruz
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0007-4446-8093)

Delaide Marinho Leandro
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0000-0002-7916-5646)

Emanuella Alves Gonçalves
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro do Norte/CE
(https://orcid.org/0000-0003-0153-0348)

Marcos Ramon Ribeiro dos Santos Mendes
Acadêmico de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0000-0001-9176-6797)

Héllen Viviany Barros da Silva Sá
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(https://orcid.org/0009-0003-3149-6088)

Luan Ribeiro dos Santos Assis
Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
(https://orcid.org/0000-0002-9840-7575)

Dayanna das Neves Gomes de Souza
Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF
(https://orcid.org/0009-0006-1929-8726)

Anna Laura Rodrigues Amorim
Docente da disciplina de Emergência do Curso de Medicina da Faculdade
Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia
(http://lattes.cnpq.br/6602279805094284)