DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS PARA FUMAR (DEFS): MOTIVOS DO USO POR ESTUDANTES DE MEDICINA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10119395


Anderson de Oliveira Viana1
José Brasileiro Dourado Junior 2


RESUMO

A indústria do tabaco via, ano após ano, seus negócios encolherem, até que em 2004 foi desenvolvido o cigarro eletrônico, dando novo fôlego a esse mercado a partir da inovação que prometia retirar ou reduzir o vício dos adictos ao cigarro comum. Ao contrário, observou-se que os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF’s) não apenas não atingiam esses objetivos, como também os perigos de seu uso sequer estão bem definidos. O público jovem tem sido o maior consumidor dos DEF’s e, nesse contexto, evidenciou-se o aumento do uso entre estudantes, inclusive os da área da saúde. Assim, esse estudo propôs-se a desvendar o(s) principal(is) motivo(s) que levam a esse seleto público ao uso de DEF’s. Esse trabalho foi uma pesquisa de campo, observacional, exploratória e descritiva; foi desenvolvido um estudo do tipo transversal e quantitativo. As informações coletadas foram analisadas em bancos de dados e planilhas, entre os quais, o software Excel versão 2210, realizando-se análise descritiva. Correlacionou-se os resultados da Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português falado no Brasil adaptada para o cigarro eletrônico com os fatores motivacionais propostos pela literatura acerca da temática. Realizou-se em um Centro Universitário de João Pessoa-PB, durante o segundo semestre de 2022 através de formulário eletrônico, aplicado entre os estudantes de medicina da instituição, levando em consideração os critérios de inclusão e de exclusão, sendo iniciado após a aprovação em Comitê de Ética e Pesquisa. Coletou-se 274 amostras, atingindo um nível de confiança de 95% e margem de erro de 5%. Observou-se que 17,9% dos estudantes faziam uso do cigarro eletrônico. Evidenciou-se, entre outros dados, que 55,1% (ante 38,6% em outro estudo) dos estudantes já experimentaram cigarros eletrônicos, o que foi considerada uma taxa alta. Também, que 17,9% dos estudantes faziam uso regular desses dispositivos, número bastante expressivo, vez que praticamente um em cada cinco alunos usavam DEF’s, revelando aumento do uso de cigarros eletrônicos em adultos jovens, tendência já comprovada em outros estudos. Também, ao associar as respostas do instrumento para identificar os motivos mais preponderantes para o uso de DEF’s, não obstante tais razões serem de natureza multidimensional e a necessidade do uso desses dispositivos decorrerem de diversas facetas psicossociais dos indivíduos, o prazer para fumar despontou como fator motivador mais forte entre o grupo pesquisado, demonstrando a busca pela sensação de prazer percebida no início do uso da nicotina. 

Palavras-chave: sistemas eletrônicos de liberação de nicotina; uso de cigarro eletrônico; vaping; motivação; estudantes de medicina. 

ABSTRACT 

The tobacco industry saw, year after year, its business shrink, until in 2004 the electronic cigarette was developed, giving new life to this market from the innovation that promised to remove or reduce the addiction of addicts to ordinary cigarettes. On the contrary, it was observed that Electronic Smoking Devices (ESDs) not only did not reach these goals, but also that the dangers of their use are not even well defined. The young public has been the biggest consumer of ESDs and, in this context, there has been an increase in use among students, including those in the health area. Thus, this study aimed to unravel the main reason(s) that lead this select public to the use of ESDs. This work was a field research, observational, exploratory and descriptive; a cross-sectional and quantitative study was developed. The collected information was analyzed in databases and spreadsheets, including Excel version 2210 software, performing descriptive analysis. The results of the Modified Reasons for Smoking Scale translated into Brazilian Portuguese adapted for electronic cigarettes were correlated with the motivational factors proposed by the literature on the subject. It was carried out at a University Center in João Pessoa-PB, during the second half of 2022 through an electronic form, applied among the institution’s medical students, taking into account the inclusion and exclusion criteria, starting after approval in Ethics and Research Committee. A total of 274 samples were collected, reaching a confidence level of 95% and a margin of error of 5%. It was observed that 17.9% of students used electronic cigarettes. It was shown, among other data, that 55.1% (compared to 38.6% in another study) of students had already tried electronic cigarettes, which was considered a high rate. Also, that 17.9% of the students made regular use of these devices, a very expressive number, since practically one in every five students used ESDs, revealing an increase in the use of electronic cigarettes in young adults, a trend already proven in other studies. Also, when associating the answers of the instrument to identify the most predominant reasons for the use of ESDs, despite such reasons being of a multidimensional nature and the need for the use of these devices arising from different psychosocial facets of individuals, the pleasure of smoking emerged as the strongest motivator factor among the researched group, demonstrating the search for the sensation of pleasure perceived in the beginning of the use of nicotine.

Keywords: electronic nicotine delivery systems; electronic cigarette use; vaping; motivation; medical students.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    
CE            Cigarro eletrônico 
DEF          Dispositivo Eletrônico para Fumar 
EUA         Estados Unidos da América 
MS            Ministério da Saúde 
OMS         Organização Mundial da Saúde 
PB            Estado da Paraíba 
PROAC   Pró-Reitoria Acadêmica 
TCLE    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
UNIPÊ    Centro Universitário de João Pessoa 
APRESENTAÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado sob a forma de artigo científico. 

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………………………. 09 2 OBJETIVOS …………………………………………………………………………………………………… 12

2.1    Objetivo geral …………………………………………………………………………………………………. 12

2.2 Objetivos específicos ……………………………………………………………………………………….. 12 3 MATERIAIS E MÉTODOS…………………………………………………………………………….. 13

3.1    Desenho do estudo …………………………………………………………………………………………… 13

3.2    Local e período do estudo ………………………………………………………………………………… 13

3.3    População e amostra do estudo ………………………………………………………………………… 13

3.4    Critérios de inclusão e exclusão ……………………………………………………………………….. 13

3.5    Definição das variáveis ……………………………………………………………………………………. 14

3.6    Instrumentos de coleta de dados ………………………………………………………………………. 14

3.7    Procedimentos de coleta de dados ……………………………………………………………………. 15

3.8    Análise de dados ……………………………………………………………………………………………… 15

3.9    Aspectos éticos ………………………………………………………………………………………………… 15

4   RESULTADOS E DISCUSSÃO………………………………………………………………………..17 5  CONCLUSÃO………………………………………………………………………………………………….29

RERERÊNCIAS………………………………………………………………………………………………30

ANEXO A – QUADRO ESCALA RAZÕES PARA FUMAR MODIFICADA TRADUZIDA PARA O PORTUGUÊS FALADO NO BRASIL…………………………32 ANEXO B – ESCALA RAZÕES PARA FUMAR MODIFICADA TRADUZIDA PARA O PORTUGUÊS FALADO NO BRASIL ADAPTADA PARA O

CIGARRO ELETRÔNICO………………………………………………………………………………33

ANEXO C – QUADRO DOMÍNIOS MOTIVACIONAIS RELACIONADOS À ESCALA RAZÕES PARA FUMAR MODIFICADA TRADUZIDA PARA O

PORTUGUÊS FALADO NO BRASIL………………………………………………………………34

1          INTRODUÇÃO

Ao longo de décadas o tabaco vem sendo apontado como um grande entrave de saúde pública a nível global. Diante dessa realidade sombria, muitos foram os esforços nos últimos anos para mudar ou erradicar definitivamente essa problemática estrutural, política e mesmo a própria dinâmica social que sustenta a epidemia do tabaco. Ocorreram iniciativas nesse sentido, como estudos conclamando o seio social para que, por exemplo, houvesse um mundo sem tabaco até 2040, visando um ideal em que menos de 5% da população adulta mundial usaria tabaco, o que seria socialmente desejável, tecnicamente viável e poderia até tornar-se politicamente prático (BEAGLEHOLE et al., 2015). 

O entusiasmo na persecução de acabar com esse cenário tabágico mundial era palpável: na maioria dos países monitorados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a exemplo dos Estados Unidos (EUA) e da Europa, o número de fumantes diminuía. Porém, em 2004 a indústria do tabaco lançou o cigarro eletrônico, um dispositivo metálico alimentado por bateria que vaporiza um líquido com nicotina, se tornando popular inicialmente entre aqueles que estavam tentando parar de fumar (PURKAYASTHA, 2013).  

Pesquisas recentes indicaram que as taxas de uso de cigarros eletrônicos têm aumentado de forma bastante consistente desde 2016 e, exponencialmente, a partir de 2019 nos EUA (SCHULENBERG et al., 2020). Estudos indicaram também que a proporção de adultos jovens que têm iniciado o uso de dispositivos eletrônicos para fumar (DEF’s) é quase duas vezes maior em relação a adolescentes (PERRY et al., 2018).

Infelizmente, temos cada vez mais evidências científicas apontando que os cigarros eletrônicos trazem riscos significativos à saúde. Há, também, evidências concretas do aumento da taxa de risco para doenças respiratórias e do desenvolvimento de doenças cardiovasculares (KEITH, 2021; OVERBEEK et al., 2020).  

Nesse diapasão, é importante investigar as razões que levam jovens adultos a adquirirem o hábito de usar cigarros eletrônicos. Mais ainda: os motivos que levam estudantes em formação médica a fumar DEF’s, não obstante possuidores de conhecimentos médicos acerca de evidências científicas dos riscos proporcionados pelo cigarro eletrônico.  

Esse estudo investigou as razões para o uso de DEF’s pelos estudantes de Medicina de uma instituição de ensino privado da Paraíba, no segundo semestre de 2022.  

Cada vez mais o cigarro eletrônico tem sido visto em rodas de amigos, o que evidencia que a proporção de experimentação de vaporizadores de nicotina tem aumentado principalmente entre os jovens. O ambiente universitário parece estar se tornando um local propício de disseminação de Dispositivos Eletrônicos para Fumar. Diante dessa realidade, surgiu o interesse dos pesquisadores para entender os motivos que levam os estudantes a fumar cigarros eletrônicos. 

Nesse sentido, Oliveira et al. (2018) publicou uma análise de dados coletados por meio de questionários sobre o nível de conhecimento e de experimentação do CE em estudantes de uma universidade brasileira e constatou que 37% dos estudantes conheciam o produto, enquanto na prevalência nacional esse valor é de 35%. Essa porcentagem possibilita perceber que o público do presente estudo é relevante, principalmente, por ser voltado para um grupo de estudantes da área de saúde.  

A evolução dos DEF’s vem incluindo em seu portfólio uma infinidade de sabores e estilos de dispositivos, tendo, portanto, uma gama de novos e atraentes produtos. Somado a isso, a indústria do tabaco procurou sempre inovar com produtos visualmente mais atrativos, socialmente mais aceitos e aparentemente mais seguros (AHMAD; DUTRA, 2019).  

Porém, aquele produto que surgiu inicialmente com a proposta de reduzir a adicção à nicotina passou a mostrar-se infrutífero diante de tentativas de abandono do vício e, mais ainda, a recaptar ex-fumantes para o vício, bem como incluir na sua cartela de clientes os chamados virgens de nicotina, em sua maioria, jovens adultos (KALKHORAN; GLANTZ, 2016; LOUKAS, 2018).  

Diante desse cenário sombrio, existem poucos estudos que buscaram evidências científicas dos motivos para o uso de cigarros eletrônicos em estudantes em geral e menos ainda com foco em acadêmicos de medicina. Em grande parte das vezes as pesquisas se propõem, principalmente, a avaliar a prevalência do uso de cigarro comum. Somando-se a isso, existem escassos estudos desse tipo com relação aos dispositivos eletrônicos para fumar

(DEF’s).  

Portanto, essa pesquisa tem grande importância devido a seu direcionamento a fim de avaliar os motivos do consumo de cigarro eletrônico por estudantes de medicina, uma vez que os efeitos nocivos à saúde relacionados ao uso de CE’s, sobretudo as consequências a longo prazo, não estão totalmente esclarecidas, embora hajam evidências de comprometimento respiratório, cardiovascular e imunológico (KEITH; BHATNAGAR, 2021). 

Por conseguinte, além desse estudo fornecer novas informações sobre esse tema, poderão ser traçados, pelas instituições, meios de conscientização melhor direcionados a esse público e aos usuários em geral, que visem educar e indicar onde se poderá obter informações de qualidade acerca da temática. 

2          OBJETIVOS 
2.1         Objetivo geral 

Identificar os principais motivos do uso de cigarros eletrônicos por estudantes de medicina.  

2.2         Objetivos específicos 

Verificar se os estudantes de medicina estão consumindo cigarro eletrônico devido ao vício à nicotina.  

Verificar se relações de amizade estão influenciando no aumento do uso.  

3          MATERIAIS E MÉTODOS
3.1         Desenho do estudo 

Desenvolveu-se uma pesquisa de campo, observacional, exploratória e descritiva.

Caracterizou-se como um estudo transversal e quantitativo.  

3.2         Local e período do estudo

A pesquisa foi realizada em um Centro Universitário de João Pessoa, de setembro a outubro de 2022.  

3.3         População e amostra do estudo

A população foi adstrita aos 945 estudantes de medicina de uma instituição de ensino superior, do primeiro ao último período. A amostragem foi realizada de forma não probabilística por conveniência, atendendo aos critérios de entrada. Buscou-se um grau de confiança de 95% e uma margem de erro de 5%, totalizando uma amostra de até 274 voluntários. Atingiu-se as 274 amostras nesse estudo. 

3.4         Critérios de inclusão e exclusão

Para ser elegível a participar da pesquisa o voluntário deveria: 

  • Estar regularmente matriculado em qualquer período do curso de Medicina do Centro Universitário eleito para o estudo; 
  • Contar com pelo menos 18 (dezoito) anos e; 
  • Concordar em participar voluntariamente da pesquisa. Para tanto, assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (APÊNDICE A). 

Foram excluídos da pesquisa os alunos que: 

  • Não responderam ao questionário completamente ou; 
  • Em qualquer momento, desistiram de continuar participando da pesquisa, não enviando as respostas do formulário.  
3.5         Definição das variáveis

O estudo centralizou em sete variáveis – uma quantitativa e seis qualitativas – que ajudaram e guiaram a pesquisa a alcançar os seus objetivos. 

A única variável quantitativa, idade, foi avaliada em anos e avaliou a moda, média e a mediana de idade dos estudantes de medicina na universidade que faziam uso de DEF’s. 

Em relação às variáveis Uso de DEF’s, Razões para usar DEF’s, Dependência, Prazer de fumar, Redução da tensão/relaxamento, Tabagismo social, Estimulação,

Hábito/automatismo, Manuseio de DEF’s, foram escolhidas por comporem os domínios motivacionais presentes no questionário que foi aplicado. 

Quadro 1 – Definição das variáveis e dos tipos 

VariáveisTipo
Idade (anos)  Quantitativa  
Sexo          Qualitativa
Uso de DEF’s
Razões para usar DEF’s
Dependência
Prazer de fumar  
Redução da tensão/relaxamento
Tabagismo social  
Estimulação   
Hábito/automatismo  
Manuseio de DEF’s  

Fonte: Autoria própria, 2022. 

3.6         Instrumentos de coleta de dados

Para a coleta de dados aplicamos a Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português falado no Brasil (ANEXO A) e adaptada de forma que os questionamentos melhor se adequavam ao uso do cigarro eletrônico. Tal escala originalmente foi proposta por Horn & Waingrow em 1966 e, posteriormente, modificada e traduzida para a língua portuguesa (SOUZA, et al., 2009a). 

3.7         Procedimentos de coleta de dados

Foi produzido um formulário (ANEXO B), o qual foi aplicado por meio eletrônico, endereçado às diversas turmas de medicina do Centro Universitário eleito. Ao acessar o link do formulário, o participante voluntário teve acesso ao TCLE, tomou ciência dos termos da pesquisa e, após os aceitar, acessou as perguntas. Inicialmente, o voluntário respondeu quanto ao sexo, idade e período que está cursando em medicina e passou por questionário quanto ao uso de álcool, drogas, cigarros comuns, e DEF’s. Em seguida, se usuário de DEF’s, acessou a Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português falado no Brasil e adaptada, onde respondeu quanto à gradação a cada um dos itens, tendo como alternativas de resposta: nunca, raramente, às vezes, frequentemente ou sempre (SOUZA, et al., 2009a). 

3.8         Análise de dados

Todas as informações sobre os sujeitos e as variáveis colhidas foram inseridas e armazenadas em banco de dados de forma eletrônica, com o uso de planilha do software Excel versão 2210 para formulação de gráficos e tabelas, e também com auxílio de outros softwares do pacote Microsoft Office Professional Plus 2019. Com esses métodos foi possível analisar estatisticamente, de forma descritiva e exploratória, calculando variáveis como média, moda, mediana.  

Também, foi feita a correlação dos resultados da aplicação da Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português falado no Brasil adaptada para o cigarro eletrônico com o quadro domínios motivacionais (ANEXO C), o qual apresenta elevado grau de concordância de fatores motivacionais e respectivas questões (SOUZA et al., 2009b).

3.9         Aspectos éticos

Em todo o processo dessa pesquisa não houve discriminação na seleção dos indivíduos nem a exposição a riscos desnecessários. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos (CEP-UNIPÊ) do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ e a obtenção de dados só se iniciou após essa aprovação, cujo CAAE está registrado sob nº 60652122.0.0000.5176, e parecer número 5.692.478 o que atende às Diretrizes e Normas de Pesquisa envolvendo seres humanos, previstas na Resolução nº 466 de 2012 do Conselho Nacional de Saúde e à Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.  

A coleta de dados desse estudo só foi procedida após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos voluntários. Prezamos, também, pela proteção a grupos vulneráveis, pelo tratamento a todos com respeito à sua dignidade, sua autonomia e buscou-se sempre defendê-los em sua vulnerabilidade.  

4          RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esse estudo se propôs a identificar os principais motivos do uso de cigarros eletrônicos por estudantes de medicina. Para tanto, observou-se o padrão de consumo de DEF’s em estudantes de medicina de uma instituição de ensino superior de referência no estado da Paraíba afim de melhor compreender as razões que os levavam ao uso desses dispositivos. 

Foi uma pesquisa de campo observacional, exploratória e descritiva, de forma transversal e quantitativa. 

A coleta de dados, iniciada após aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos específico, foi realizada entre setembro e outubro de 2022, com amostragem não probabilística por conveniência, atingindo a amostra ideal de 274 voluntários dentre os 945 estudantes de medicina regularmente matriculados à época no Centro Universitário objeto do estudo. 

Foi atingida um total de 274 respostas (n = 274), sendo, em média, 30,4 respostas por período existente no semestre estudado, com uma mediana de 29 voluntários por período. Constatou-se que 64,6% (n = 177) dos voluntários foram do sexo feminino, 35% (n = 96) do sexo masculino e 0,4% (n = 1) declarou-se não-binário. 

No que tange à cidade de origem dos estudantes que responderam à pesquisa, observou-se que 56,6% (n = 155) eram naturais de João Pessoa – PB, 8% (n = 22) de Natal – RN, 3,3% (n = 9) de Recife – PE e 32,1% (n = 88) de outras cidades do Brasil. 

Em relação à idade dos participantes desse estudo, observou-se uma média de 24,68 anos, com um desvio padrão de 5,85 e uma moda de 22 anos, sendo estes representantes de 16,8% (n = 46) dos voluntários. A segunda idade mais prevalecente foi a de 23 anos, com 13,9% (n = 38). Também, importante observar que a faixa etária dos 18 aos 27 anos corresponde a 79,9% (n = 219) do montante estudado, portanto, uma população composta essencialmente de adultos jovens, embora o corpo discente analisado também possuía parcela considerável contando com maiores idades, como discutiu-se mais adiante. 

Em sequência, vê-se a Tabela 1, apresentando a estatística descritiva da amostra, a qual teceram-se algumas ponderações a seguir. 

Tabela 1 – Estatística descritiva das idades – João Pessoa – 2022 

Resultado

Média24,68
Erro padrão0,354
Mediana23
Modo22
Desvio padrão5,856
Variância da amostra34,298
Curtose2,5247
Assimetria1,6815
Intervalo32
Mínimo18
Máximo50
Soma6763
Contagem274

                           Nível de confiança (95,0%)                                                0,6965

Fonte: Autoria própria, 2022.

Observa-se que a média de idade dos estudantes da graduação em Medicina objeto desse estudo encontra-se próxima da média nacional auferida em 2014, qual seja, 24,5 anos, o que se coaduna também com outros estudos, a exemplo da pesquisa feita pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (2016). Em contrapartida, também viu-se que 16,42% (n=45) de alunos contam com 30 ou mais anos, o que pode ser entendido como uma busca por melhores condições socioeconômicas futuras, seja por inclusão no mercado de trabalho ou mesmo uma mudança de carreira, visto que o profissional médico é tido como portador de uma das profissões mais rentáveis em âmbito nacional (VERA et al., 2020). 

Além do mais, observa-se a predominância do sexo feminino na amostra estudada. Esse fato foi confirmado em outras pesquisas anteriores, que evidenciaram, inclusive, tendência de crescimento dessa participação do sexo feminino no ensino superior, não obstante a composição nacional da população apresentasse proporções que, mesmo demonstrando discreta prevalência feminina, permanecesse em níveis estáveis ao longo dos anos, como avalia a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (2019). 

Quando questionados acerca do uso de cigarro comum, 96% (n = 263) negaram seu uso, enquanto 4% (n = 11) responderam positivamente a questão. Em se tratando de outras drogas, a exemplo da maconha, cocaína, ecstasy, 9,1% (n = 25) afirmaram fazer uso, enquanto 90,9% (n = 249) negaram a utilização de alguma dessas substâncias. 

Em um estudo recente (LISBOA; OLIVEIRA, 2021) feito na Universidade Evangélica de Goiás, foi analisada a prevalência dos fatores comportamentais e biológicos de risco cardiovascular em acadêmicos de medicina, onde auferiu-se que 5,2% dos alunos faziam uso do tabaco, o que se aproximou dos 4% usuários de cigarro comum vistos nessa pesquisa. 

Já em relação ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar (DEF’s), 82,1% (n = 225) responderam negativamente, enquanto 17,9% (n = 49) afirmaram fazer uso de cigarros eletrônicos. Desses, quando questionados acerca de quantos dias por semana utilizam o dispositivo, 42,9% (n = 21) declararam usar menos que 1 dia por semana (vez que nem toda semana utilizam); 10,2% (n = 5) declararam usar uma vez por semana; 14,3% (n = 7) afirmaram usar de duas a três vezes por semana; 4,1% (n = 2) usam de quatro a cinco vezes por semana; e 28,6% (n = 14) utilizam cigarros eletrônicos seis ou mais vezes por semana. 

Em sequência, ao responderem acerca da frequência de uso nos dias de utilização de

DEF’s, 20,4% (n = 10) declararam usar de uma a duas vezes nos dias de uso; 20,4% (n = 10) declararam uso de três a cinco vezes por dia de uso; e 59,2% (n = 29) afirmaram que, nos dias de uso, utilizam o cigarro seis ou mais vezes. 

Em uma outra pesquisa, feita em 2019, a taxa de usuários de cigarros eletrônicos foi mais comedida do que a aqui registrada. Lá, cerca de 12% dos alunos do curso de graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina afirmaram usar ou ter usado cigarros eletrônicos, e a maior porcentagem foi encontrada no grupo de ingressantes no curso, o que corrobora com o entendimento de que a população de adultos jovens é a que mais tem sido seduzida pelos cigarros eletrônicos e parece haver tendência de aumento da prevalência em faixas etárias cada vez menores. (GUCKERT, 2019).

Após o questionamento sobre o uso ou não de DEF’s, dentre os não usuários, 98,2% (n = 221) dos participantes declararam que já terem visto amigos e colegas estudantes de medicina do mesmo centro de estudos utilizando cigarros eletrônicos, ante 1,8% (n = 4) que disseram nunca ter visto; 45,3% (n = 102) já chegaram a experimentar em algum momento e 58,2% (n = 131) sentem-se incomodados ao verem outras pessoas fumando. 

Cruzando-se os dados dos atuais usuários 17,9% (n = 49) e os que já experimentaram, mas não estão em uso (n = 102 de 225), chega-se ao montante de 55,1% (n = 151) de estudantes de medicina que já ao menos experimentaram o cigarro eletrônico. 

Denota-se dos dados que há um expressivo número de estudantes de medicina que fazem uso de cigarros eletrônicos, chegando próximo a 1/5 dos alunos, ou seja, praticamente 1 em cada 5 alunos de medicina usavam DEF’s. Mais aviltante ainda foi o fato de que, segundo os dados da pesquisa, mais da metade dos estudantes de medicina 55,1% (n = 151) já ao menos havia experimentado um cigarro eletrônico. 

Uma pesquisa com 342 voluntários feita em 2021 em cursos de saúde de uma Universidade de Recife, a porcentagem de experimentação de cigarros eletrônicos entre os alunos foi de 38,6%, o que também se caracteriza como uma taxa elevada de experimentação (REIS et al., 2021). 

O conceito de fumar passou por profundas mudanças ao longo do tempo. Nos anos 60, o fumo, até então socialmente bem aceito, era tido como um hábito. Em 1970 passou a ser visto como dependência, uma década depois já se falava em tabagismo e nos anos 90 surgiram as primeiras clínicas para fumantes. Nos últimos anos, instituições de grande prestígio científico deram destaque às evidências sobre a dependência da nicotina. (CARMO; ANDRÉS-PUEYO; LÓPEZ, 2005). 

Nesse norte, tem-se que o tabagismo, ao longo de décadas tem sido considerado um problema de saúde pública, não obstante haja registrado queda em sua prevalência nos últimos anos. Todavia, considerável numerário de adultos jovens ainda experimenta diversos meios de consumo do tabaco, o que os vulnerabiliza à iniciação e, consequentemente, muitas vezes à dependência (OLIVEIRA, 2016). 

Os 17,9% (n = 49) que responderam afirmativamente quanto a serem usuários de DEF’s foram automaticamente encaminhados pela plataforma ao instrumento, qual seja, a Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português falado no Brasil adaptada para o cigarro eletrônico, declinada no Anexo B e, a seguir, foram elencadas suas respectivas respostas na tabela 2. 

Tabela 2 – Respostas à Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português

falado no Brasil adaptada para o cigarro eletrônico – João Pessoa – 2022

Questão            Nunca         Raramente        Às vezes       Frequentemente       Sempre

  1. 40        81,6% 4          8,2%    3          6,1%    1          2,0%    1          2,0%
  2. 18        36,7% 5          10,2% 13        26,5% 8          16,3% 5          10,2%
  3. 4          8,2%    0          0,0% 15          30,6% 17        34,7% 13        26,5%
  4. 18        36,7% 7          14,3% 13        26,5% 8          16,3% 3          6,1%
  5. 30        61,2% 6          12,2% 7          14,3% 2          4,1%    4          8,2%
  6. 22        44,9% 6          12,2% 9          18,4% 7          14,3% 5          10,2%
  7. 30        61,2% 10        20,4% 4          8,2%    4          8,2%    1          2,0%
  8. 23        46,9% 6          12,2% 14        28,6% 5          10,2% 1          2,0%
  9. 35 71,4% 8 16,3% 4 8,2% 2 4,1% 0 0,0% 10 3 6,1% 3 6,1% 11 22,4% 23 46,9% 9 18,4%
  10. 20         40,8% 8          16,3% 8          16,3% 8          16,3% 5          10,2%
  11. 25         51,0% 11        22,4% 5          10,2% 7          14,3% 1          2,0%
  12. 47         95,9% 2          4,1%    0          0,0%    0          0,0%    0          0,0%
  13. 38         77,6% 7          14,3% 3          6,1%    1          2,0%    0          0,0%
  14. 37         75,5% 6          12,2% 4          8,2%    2          4,1%    0          0,0%
  15. 17         34,7% 13        26,5% 13        26,5% 5          10,2% 1          2,0%
  16. 14         28,6% 7          14,3% 17        34,7% 8          16,3% 3          6,1%
  17. 25         51,0% 8          16,3% 9          18,4% 6          12,2% 1          2,0%
  18. 19         38,8% 6          12,2% 12        24,5% 9          18,4% 3          6,1%
  19. 43         87,8% 3          6,1%    3          6,1%    0          0,0%    0          0,0%
  20. 6           12,2% 5          10,2% 14        28,6% 14        28,6% 10        20,4%

Fonte: Autoria própria, 2022. 

No que concerne ao instrumento validado como base do instrumento adaptado para essa pesquisa, estudos realizaram a análise fatorial da escala utilizada, identificando, assim, sete fatores motivacionais, os quais explicariam 62,4% da variância total das respostas obtidas. A título de informação, foi trazida a essa pesquisa a composição desses fatores (Tabela 3) e valores das cargas fatoriais obtidas, listadas na tabela abaixo, onde vê-se a denominação já empregada pela literatura a cada um dos fatores. Os níveis de consistência interna dos fatores gerados, estão igualmente declinados, auferidos a partir dos coeficientes alfa de Cronbach (SOUZA et al., 2009b). 

Tabela 3 – Composição e carga fatorial dos fatores identificados na versão brasileira – João Pessoa – 2022

Fonte: SOUZA et al. (2009b). 

Considerou-se a exclusão de questões que tiveram carga fatorial 0,3 ou menos, excluindo-se, então, quatro questões da análise. Portanto, desconsiderou-se as questões 12, 16, 17 e 21, vez que não demonstraram influir suficientemente nos seus respectivos fatores motivacionais. Denominou-se cada um dos fatores motivacionais segundo a terminologia original declinada na literatura (SOUZA et al., 2009b). 

Associou-se, em sequência, as respostas ao instrumento (Tabela 2) conforme os sete fatores motivacionais, gerando os gráficos adiante. Inicialmente, observa-se a seguir o gráfico 1 que consolida todas as respostas obtidas na escala. 

Gráfico 1 – Representação de todas as respostas à escala aplicada – João Pessoa – 2022

Fonte: Autoria própria, 2022. 

Observa-se, no gráfico acima, que nas questões 3, 10 e 21 a quantidade de respostas consideradas positivas à questão, quais sejam, “às vezes”, “frequentemente” e “sempre” foram superiores às consideradas negativas à questão (nunca e raramente), denotando-se nesses pontos os maiores focos que impactam as razões para fumar. 

Os próximos seis gráficos abaixo correspondem, respectivamente, aos fatores motivacionais 1, 2, 4, 5, 6 e 7, onde observou-se a mesma tendência de respostas mais negativas às respectivas questões que compõem os fatores citados, prevalecendo respostas em

“nunca” e “raramente” em comparação ao número de respostas dadas em “às vezes”,

“frequentemente” e “sempre”, gerando gráficos com linhas decrescentes de forma geral. 

Assim, observa-se que os fatores motivacionais 1, 2, 4, 5, 6 e 7, quais sejam, dependência, estimulação, manuseio, tabagismo social, redução da tensão/relaxamento e hábito/automatismo não se mostraram como fatores relevantes para a população estudada. Portanto, embora carregados de certa influência no uso de DEF’s, tais fatores não foram considerados como razões preponderantes para que estudantes de medicina fizessem uso de cigarro eletrônico. 

                                      2   Fator 1: Dependência – João Pessoa – 2022 

Fonte: Autoria própria, 2022. 

Legenda: 1. Nunca. 2. Raramente. 3. Às vezes. 4. Frequentemente. 5. Sempre. 

Gráfico 3 – Fator 2: Estimulação – João Pessoa – 2022 

Fonte: Autoria própria, 2022. 

Legenda: 1. Nunca. 2. Raramente. 3. Às vezes. 4. Frequentemente. 5. Sempre. 

                                      4   Fator 4: Manuseio – João Pessoa – 2022 

Fonte: Autoria própria, 2022. 

Legenda: 1. Nunca. 2. Raramente. 3. Às vezes. 4. Frequentemente. 5. Sempre. 

Gráfico 5 – Fator 5: Tabagismo social – João Pessoa – 2022 

Fonte: Autoria própria, 2022. 

Legenda: 1. Nunca. 2. Raramente. 3. Às vezes. 4. Frequentemente. 5. Sempre. 

                                      6   Fator 6: Redução da tensão/relaxamento– João Pessoa – 2022 

Fonte: Autoria própria, 2022. 

Legenda: 1. Nunca. 2. Raramente. 3. Às vezes. 4. Frequentemente. 5. Sempre. 

Gráfico 7 – Fator 7: Hábito/automatismo– João Pessoa – 2022 

Fonte: Autoria própria, 2022. 

Legenda: 1. Nunca. 2. Raramente. 3. Às vezes. 4. Frequentemente. 5. Sempre. 

Nos gráficos de 1 a 6 acima vê-se a associação entre o número de respostas afirmativas às questões relacionadas aos fatores motivacionais dependência, estimulação, manuseio, tabagismo social, redução da tensão/relaxamento e hábito/automatismo. em relação à frequência, conforme a legenda. Os números exatos do gráfico foram declinados na tabela 1,

apresentada anteriormente. Depreende-se, a partir da análise dos gráficos, que tais fatores não se mostraram como razão preponderante para o uso de cigarros eletrônicos na população pesquisada. 

Gráfico 8 – Fator 3: Prazer de fumar – João Pessoa – 2022 

Fonte: Autoria própria, 2022. 

Legenda: 1. Nunca. 2. Raramente. 3. Às vezes. 4. Frequentemente. 5. Sempre. 

No gráfico 7 observa-se a associação entre o número de respostas afirmativas às questões 3 e 10 em relação à frequência, conforme a legenda. Os números exatos do gráfico foram declinados na tabela 1, apresentada anteriormente. Depreende-se, a partir da análise do gráfico, que o fator motivacional “prazer de fumar” foi um motivo para o uso de DEF’s vez que há o predomínio de respostas afirmativas às questões que englobam o fator prazer de fumar, totalizando 91,8% (n = 45) de respostas consideradas positivas, quais sejam, “às vezes”, “frequentemente” e “sempre” à questão 3, e 87,7% (n = 43) de respostas consideradas positivas à questão 10. 

Evidencia-se, assim, o fator 3 – Prazer de fumar como o mais prevalecente entre os 7 fatores analisados, sendo esse a razão mais preponderante para fumar DEF’s por estudantes de medicina no estudo realizado. 

Tem-se que diversos produtos químicos autoadministrados desencadeiam uma ação recompensadora no córtex cerebral por meio da via dopaminérgica. Muitas delas produzem dependência por ocasionar liberação dopaminérgica cerebral, fazendo com que seus consumidores adotem comportamentos repetitivos de autoadministração a fim de atingir esse benefício recompensador. 

Nesse contexto, a dependência química à nicotina ocorre devido à estimulação exacerbada do sistema de recompensa no sistema nervoso central, onde inicialmente desencadeia uma sensação de prazer e, em sequência, de relaxamento. Passado algum tempo de uso, sucessivos estímulos gerarão a tolerância à nicotina, ou caso se reduza consideravelmente a quantidade da substância no organismo será provável o desenvolvimento de um quadro de abstinência, o qual pode apresentar sintomas de ansiedade bastante exacerbados (DOURADO JÚNIOR, 2013). 

Sabe-se hoje que fumar vai muito além da dependência física à nicotina, vez que se acreditava que as características físico-químicas e interações psicoativas da nicotina eram as mais responsáveis pela dependência de nicotina. Porém, há evidências de que os motivos para fumar são de natureza multidimensional. Logo, considera-se, na atualidade, que fumar vai muito além da dependência física à nicotina, vez que tal dependência engloba fatores além da adicção física, abrangendo diversas facetas psicossociais do indivíduo. (CARMO; ANDRÉSPUEYO; LÓPEZ, 2005). 

Como limitações, descreve-se o tempo como fator impeditivo de maior análise estatística, não obstante, como visto, análises fatoriais anteriores do instrumento demonstraram aplicabilidade e coesão entre seus resultados. 

Também, embora alcançou-se amostra relevante, atingindo números de confiança bastante significativos, não foi encontrada na literatura outras pesquisas que utilizem o mesmo instrumento de forma adaptada para a investigação das razões de uso de dispositivos eletrônicos para fumar. Não obstante, comparou-se os resultados com outros estudos semelhantes, mesmo que baseados no cigarro comum, havendo certa equivalência. 

5          CONCLUSÃO

À luz dos objetivos desse estudo, pode-se concluir que, não obstante ter havido participação de diversos fatores motivacionais em algum grau, identificou-se como principal razão para fumar cigarro eletrônico o prazer de fumar entre os estudantes de medicina. Dito isso, tem-se que a precisa identificação de fatores distintivos que induzam pessoas a fumar cigarro eletrônico traga a possibilidade de contribuição para o desenvolvimento de políticas públicas de prevenção e controle do fumo de DEF’s, bem como para o desenvolvimento de estratégias personalizadas para a cessação dessa modalidade de tabagismo contemporânea. 

No que concerne ao instrumento aplicado, puderam haver respostas socialmente mais agradáveis, o que acontece quando o respondente deseja apresentar uma imagem de alguma forma melhor que a realidade, fato que pode ocorrer em questões de múltiplas escolhas, nas quais as respostas deixam margem para interpretações diversas, momento em que questões sociais e psicológicas podem desencadear o viés de resposta. 

Os resultados obtidos nesse estudo não têm o desígnio de elaborar desfechos resolutivos, inquestionáveis e acabados. Diversamente, acredita-se e espera-se que essa pesquisa tenha o condão de fomentar novos trabalhos complementares e comparativos na temática, não se restringindo tão somente à população aqui estudada, mas também abrangendo outras esferas estudantis ou mesmo a população em geral. 

Visa-se, assim, à continuidade da função inexorável da pesquisa científica no que concerne à obtenção e divulgação de informações sólidas e de qualidade, objetivando o bem comum. 

REFERÊNCIAS

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SOUZA, E. et al. Escala Razões para Fumar Modificada: tradução e adaptação cultural para o português para uso no Brasil e avaliação da confiabilidade teste-reteste. Jornal Brasileiro de Pneumologia [online]. 2009, v. 35, n. 7, pp. 683-689. Disponível em:

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SOUZA, E. et al. Estrutura fatorial da versão brasileira da escala razões para fumar modificada. Revista da Associação Médica Brasileira [online]. 2009, v. 55, n. 5, pp. 557562.  Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-42302009000500019>. Acesso em: 27 nov. 2022.

ANEXO A – Quadro Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português falado no Brasil

Fonte: SOUZA, et al., (2009a).

ANEXO B – Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português falado no Brasil adaptada para o cigarro eletrônico.

  1. Eu fumo cigarro eletrônico para me manter alerta. 
  2. Manusear um cigarro eletrônico é parte do prazer de fumá-lo. 
  3. Fumar cigarro eletrônico dá prazer e é relaxante. 
  4. Eu ativo um cigarro eletrônico quando estou bravo com alguma coisa. 
  5. Quando a carga de meu cigarro eletrônico acaba, acho isso quase insuportável até que eu consiga recarregá-lo. 
  6. Eu fumo cigarros eletrônicos automaticamente sem mesmo me dar conta disso. 
  7. É mais fácil conversar e me relacionar com outras pessoas quando estou fumando cigarro eletrônico. 
  8. Eu fumo cigarro eletrônico para me estimular, para me animar. 
  9. Parte do prazer do fumar um cigarro eletrônico vem dos passos que eu tomo para ativá-lo. 
  10. Eu acho os cigarros eletrônicos prazerosos. 
  11. Quando eu me sinto desconfortável ou chateado com alguma coisa, eu ativo um cigarro eletrônico. 
  12. Quando eu não estou fumando um cigarro eletrônico, eu fico muito alerta a isso. 
  13. Eu ativo um cigarro eletrônico sem perceber que ainda tenho um outro ativado. 
  14. Enquanto estou fumando cigarro eletrônico me sinto mais seguro com outras pessoas. 
  15. Eu fumo cigarro eletrônico para me “por pra cima”. 
  16. Quando eu fumo um cigarro eletrônico, parte do prazer é ver o vapor que eu solto. 
  17. Eu desejo um cigarro eletrônico especialmente quando estou confortável e relaxado. 
  18. Eu fumo cigarros eletrônicos quando me sinto triste ou quando quero esquecer minhas obrigações ou preocupações. 
  19. Eu sinto uma vontade enorme de pegar um cigarro eletrônico se fico um tempo sem fumar. 
  20. Eu já me peguei com um cigarro eletrônico na boca sem lembrar de tê-lo colocado lá. 
  21. Eu fumo cigarro eletrônico muito mais quando estou com outras pessoas. 

As alternativas e o peso das respostas para cada questão são: 

( ) Nunca (1), ( ) Raramente (2), ( ) Às vezes (3), ( ) Frequentemente (4), ( ) Sempre (5). 

Fonte: Autoria própria, 2022. 

ANEXO C – Quadro fatores motivacionais relacionados à Escala Razões Para Fumar Modificada traduzida para o português falado no Brasil

Fonte: SOUZA, et al., (2009b).