INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DAS PRINCIPAIS DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS EXISTENTES NO MUNICÍPIO DE PAULO AFONSO, ESTADO DA BAHIA E BRASIL

EPIDEMIOLOGICAL INVESTIGATION OF THE MAIN INFECTIOUS AND PARASITIC DISEASES EXISTING IN THE MUNICIPALITY OF PAULO AFONSO, STATE OF BAHIA AND BRAZIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10115840


Lúcio Moreira Fontenele
Prof. Dra. Anekécia Lauro da Silva
Prof. Dr. Johnnatas Mikael Lopes


RESUMO

Doenças infecciosas e parasitáras (DIP’s), causadas por parasitas que tem potencial transmissor, ainda representam um problema de saúde pública. É preciso conhecer seu perfil epidemiológico para combatê-las. Este trabalho tem como objetivo conhecer a epidemiologia das principais DIP’s no município de Paulo Afonso entre os anos de 2014 a 2018 e posteriormente compará-la com o estado da Bahia e com o Brasil. Para isso, foram utilizados dados secundários contidos no site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) que foram analisados usando o Software SPSS 22.0. Os resultados revelaram que as principais DIP’s no município foram tuberculose, dengue e hanseníase. A tuberculose apresentou pouca variação na taxa de incidência entre os anos estudados. A dengue teve um aumento nos anos de 2015 e 2016 sofrendo um redução nos anos seguinte. Ambas as doenças foram mais representativas no Brasil quando comparadas a Paulo Afonso. Por outro lado, a hanseníase apresentou variações significativas sendo as maiores taxas encontradas em Paulo Afonso. Os dados demonstram a necessidade de adotar medidas para alcançar efetivamente na contenção das doenças.

Palavras-chave: Dengue. Epidemiologia dos Serviços de Saúde. Tuberculose. Hanseníase

ABSTRACT

Infectious and parasitic diseases (DIP’s), caused by parasites that have transmitting potential, still represent a public health problem. It is necessary to know its epidemiological profile to combat them. This study aims to know the epidemiology of the main DIP’s in the municipality of Paulo Afonso between the years 2014 and 2018 and later compare it with the state of Bahia and Brazil. For this, secondary data contained in the website of the Department of Informatics of the Unified Health System (DATASUS) which were analyzed using SPSS 22.0 Software. The results showed that the main DIPs in the municipality were tuberculosis, dengue and leprosy. Tuberculosis showed little variation in the incidence rate among the studied years. Dengue had an increase in the years 2015 and 2016 suffering a reduction in the following years. Both diseases were more representative in Brazil when compared to Paulo Afonso. On the other hand, leprosy presented significant variations, with the highest rates found in Paulo Afonso. The data demonstrate the need to adopt measures to achieve effectively disease control.

Keywords: Dengue. Epidemiology of Health Services. Tuberculosis. Leprosy

INTRODUÇÃO

As doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP’s) decorrem de alterações patológicas nos tecidos, causadas principalmente por bactérias, protozoários, vírus, fungos e helmintos, que tem o potencial de transmissão para vários hospedeiros em potencial por meio de vetores, de ingestão de água e alimentos contaminados, através do contato físico ou com secreções e objetos contaminados¹.

No mundo, após o término da primeira guerra mundial, devido à criação de vacinas e antibióticos e mudanças socioeconômicas, iniciou-se um processo de transição epidemiológica no qual os números de casos de DIP’s começaram a reduzir e as doenças crônico-degenerativas, como diabetes e hipertensão, principalmente, passaram a ganhar mais destaque. No entanto, mesmo não sendo mais a principal causa de morbidade e mortalidade na população mundial, essas doenças ainda são causas de muitas buscas aos serviços de saúde e carecem de políticas públicas voltadas para sua contenção1.

As DIP’s têm mais prevalência em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento em decorrência dos grandes números de famílias em condições de miséria e do baixo investimento em saneamento básico e educação, fatores determinantes para a perpetuação destas enfermidades. O Brasil está inserido nesse grupo de países. Por ser um país de tamanho continental, vivenciou uma transição epidemiológica de forma não homogênea e, ainda hoje, apresenta grande diferença no perfil epidemiológico de uma região para outra, sofrendo constantemente com o ressurgimento de algumas doenças infecciosas e parasitárias anteriormente consideradas controladas ou extintas no país, como o caso da tuberculose, além de constantes epidemias de dengue1,2. O país também apresenta uma das maiores quantidade de casos novos por ano de hanseníase do mundo2.

A tuberculose tem como agente etiológico a bactéria Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch, o qual a transmissão acontece pessoa a pessoa principalmente através do ar e sofre influência do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) além de fatores socioeconômicos3. Esta bactéria acomete mais comumente o pulmão, mas também pode afetar ossos, rins e meninges e quando não tratada, pode causar óbito. A tuberculose ainda é considerada um problema grave de saúde sendo considerada uma doença reemergente, cujo número de casos vem aumentando4. Seu diagnóstico é feito a partir de exame clínico e laboratorial, fatores epidemiológicos e radiografia de tórax e é tratada com poliquimioterápicos, como ricampicina, isoniazida e pirazinamida. A adesão medicamentosa é dificultada devido ao longo tempo de tratamento e aos efeitos colaterais causados pelas drogas, representando uma dificuldade na cura da doença4.

A dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que em geral utiliza recipientes artificiais para proliferação. Tem como agente etiológico um vírus do gênero Flavivirus da família Flaviviridae que apresenta 4 sorotipos (DENV-1, DENV2, DENV-3 e DENV-4). É estimado que no mundo, por ano, ocorrem cerca de 50 milhões de casos de dengue, gerando milhares de mortes principalmente entre crianças e idosos5. É uma doença tratada de acordo com sua forma, podendo ser utilizado apenas tratamentos sintomatológicos com antiinflamatórios, evitando o ácido acetilsalicílico, ou pode ser necessário a reposição de fluidos endovenosos e fatores de coagulação em casos que apresentem hemorragia. Sua profilaxia é feita interrompendo o ciclo de vida do vetor evitando reservatórios de água que permitam a reprodução do mosquito. Essa estratégia é de suma importância na diminuição do número de casos, sendo a melhor forma de evitar epidemias6.

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo agente etiológico Mycobacteruim leprae. Sua transmissão se dá pela via aérea e por objetos contaminados, ocorrendo mais comumente entre familiares7. Trata-se de uma doença incapacitante e estigmatizante e, por isso, torna-se um grave problema de saúde pública. Como a tuberculose, a hanseníase também é tratada com poliquimioterápicos, além de apresentar o desafio de ter um tratamento longo, o que acarreta um alto índice de evasão, dificultando a cura e controle da propagação da doença8.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2017), Paulo Afonso, município do estado da Bahia, apresenta uma extensão territorial um pouco superior a 1.500 km2 e uma população de 120 mil habitantes. É um município pólo de saúde da microrregião do baixo São Francisco9. Este município possui um clima predominantemente tropical semi-árido 9, que propicia a propagação de muitas doenças infecciosas e parasitárias.

A obtenção de dados epidemiológicos é importante para o combate a essas enfermidades. Por meio desses dados é que os órgãos de saúde tomam conhecimento sobre as populações mais acometidas e quais são as patologias mais recorrentes, criando de forma mais consciente, programas de tratamento e profilaxia1. Nesse contexto, este estudo teve como objetivo traçar o perfil epidemiológico das doenças infecciosas e parasitárias presentes no município de Paulo Afonso – Bahia, a fim de gerar um arcabouço documental do perfil epidemiológico das doenças infecciosas e parasitárias para o norteamento de possíveis intervenções nessa área.

MATERIAL E MÉTODOS

Delineamento do estudo

Tratou-se de um estudo ecológico de série temporal, com base em dados secundários, sobre o perfil epidemiológico das doenças infecciosas e parasitárias no município de Paulo Afonso/Bahia. Além disso, foi realizada uma comparação desses dados acima obtidos com os já existentes no Estado da Bahia e Brasil. Esse trabalho foi desenvolvido entre o período de Julho de 2018 a Julho de 2019.

Para as escolhas das doenças a serem estudadas foram analisadas as DIP’s no município de Paulo Afonso com maior quantidade de notificação através do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Dentre as analisadas, aquelas com valores mais significativos foram: hanseníase, tuberculose e dengue.

Área de estudo

O estudo foi realizado em Paulo Afonso, município localizado no nordeste do estado da Bahia, banhado pelo rio São Francisco, e que faz contato com os estados de Sergipe, Pernambuco e Alagoas. Apresenta uma população de 120.706 habitantes e uma extensão territorial de 1574 quilômetros quadrados. Considerado um pólo de saúde da microrregião do baixo São Francisco 9. Este município possui um clima predominante tropical semi-árido9, que propicia a propagação de muitas doenças infecciosas e parasitárias.

Fonte de dados

Os dados foram provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação contido no site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde e de artigos das bibliotecas vituais Scielo e Google Acadêmico. As variáveis utilizadas para o estudo foram: número de casos notificados e confirmados durante os anos de 2014 a 2018. Os dados referentes ao quantitativo populacional também foram retirados do DATASUS.

Análise

A tabulação das informações colhidas foi feita por meio do software LibreOffice Calc. Os dados foram tabelados em taxa de incidência de acordo com o número de casos por cada 100 mil habitantes de acordo com as patologias, o ano e área estudada. O cálculo da taxa de incidência foi feito utilizando a fórmula:


Vale ressaltar que o valor da população considerada para o cálculo da taxa de incidência foi adquirida pela média das populações das áreas nos anos de 2014 a 2018.

Em seguida foram analisados os dados utilizando o método generalized estimated equation (GEE) por meio do programa SPSS 22.0. Posteriormente os dados das áreas e dos anos foram comparados entre si.

Aspectos éticos

Esse estudo não necessitou da submissão ao Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos (CEP) da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, uma vez que foram utilizados apenas dados secundários de livre acesso presente no site do DATASUS e dessa forma nenhum dano foi causado a população estudada.

RESULTADOS

Tuberculose

Foram verificadas as médias das taxas de incidência da tuberculose no Brasil, Bahia e Paulo Afonso, detectando índices de 42,4, 35, 5 e 29,5 casos/100 mil hab., respectivamente (Tabela 1). Pode-se observar que existiram diferenças significativas nas médias comparativas entre as diferentes localidades, reforçando os coeficientes mais elevados encontrados no Brasil e o menor índice em Paulo Afonso (Tabela 2). Entre 2014 a 2018, houve uma baixa variação nas médias anuais (Tabelas 3 e 4). O Brasil apresentou uma taxa de incidência similar em todos os anos, de 41 (2014-2015), 42 (2016) e 43 (2017-2018) casos por 100 mil habitantes (Gráfico 1). Na Bahia, em 2014 teve uma taxa mais elevada de 36, sendo constante em 2015 e 2016 com 34, obtendo uma sutil elevação em 2017 com 35 e decrescendo novamente com 34, a mesma variação equivalente ao ano de 2015 e 2016 (Gráfico 1). Em Paulo Afonso, o período de 2014 foi marcado com a taxa mais reduzida em relação aos anos seguintes, de 21 casos por 100 mil habitantes. De 2015 a 2017 os valores da taxa de incidência foram marcados por uma discreta elevação de 31, 34 e 32 casos/100 mil hab., respectivamente, e decresceu no período seguinte, em 2018, com 29 (Gráfico 1).

Tabela 1: Médias das taxas de incidências da tuberculose das áreas estudadas 95% Intervalo de Confiança de Wald

BA-Bahia; PA-Paulo Afonso

Tabela 2: Comparação entre as médias das taxas de incidência de tuberculose das áreas estudadas 95% Intervalo de Confiança de Wald para Diferença

Comparações entre pares de médias marginais estimadas com base na escala original da variável dependente Tuber.
a. A diferença média é significativa no nível ,05.
BA-Bahia; PA-Paulo Afonso

Tabela 3: Médias das taxas de incidências de tuberculose dos anos estudados 95% Intervalo de Confiança de Wald

Tabela 4: Comparação entre as médias das taxas de incidência de tuberculose dos anos estudados

Comparações entre pares de médias marginais estimadas com base na escala original da variável dependente Tuber
a. A diferença média é significativa no nível ,05.

Gráfico 1: Taxa de incidência da tuberculose ao longo de 2014 a 2018 no município de Paulo Afonso, no estado da Bahia e no Brasil.

Dengue

Considerando os dados obtidos nos casos de dengue, teve um aumento expressivo na média da taxa de incidência no país (142,4 casos/100 mil hab.) comparado ao estado da Bahia (80,6) e Paulo Afonso (10,5) (Tabela 5). Essa variação é notória nas médias comparativas entre as localidades e durante os quatro anos consecutivos (2014 a 2018), estabelecidas estatisticamente como diferenças significativas (Tabela 6 e 8). As maiores taxas das médias anuais foram observadas em 2015 e 2016, alcançando 442,4 e 185,8 casos/100 mil hab., respectivamente. Em 2018 apresentou a menor taxa de 1,7 casos por 100 mil habitantes (Tabela 7).

A taxa de incidência no Brasil foi inferior em 2014 (286,9), comparado a 2015 (829,3) e 2016 (725,4), tendo um declínio novamente em 2017 (116,2) (Gráfico 2) Os dados em 2018 não estavam disponibilizados. Na Bahia, a taxa foi em 2014 foi de 90,8, com uma elevação em 2015 e 2016 de 368 e 434,8, respectivamente, com uma nova redução em 2017 (63,54) (Gráfico 2). Em 2014, Paulo Afonso apresentou uma taxa de 5,8, com um aumento significativo em 2015 de 173,0, e decresceu novamente nos anos seguintes (2016 a 2018), com 8,4, 4,2 e 0,8, respectivamente (Gráfico 2).

Tabela 5: Médias das taxas de incidências de dengue das áreas estudadas

BA-Bahia; PA-Paulo Afonso

Tabela 6: Comparação entre as médias das taxas de incidência de dengue das áreas estudadas

Comparações entre pares de médias marginais estimadas com base na escala original da variável dependente Dengue.
a. A diferença média é significativa no nível ,05.
BA-Bahia; PA-Paulo Afonso

Tabela 7: Médias das taxas de incidências de dengue dos anos estudados

Tabela 8: Comparação entre as médias das taxas de incidência de dengue dos anos estudados

Comparações entre pares de médias marginais estimadas com base na escala original da variável dependente Degue.
a. A diferença média é significativa no nível ,05.

Gráfico 2: Taxa de incidência da dengue ao longo de 2014 a 2018 no município de Paulo Afonso, no estado da Bahia e no Brasil. *Os dados de 2018 da Bahia e do Brasil não foram disponibilizados.

Hanseníase

Para os casos de Hanseníase, o maior índice nas taxas de incidência das médias foi em Paulo Afonso (35,9 casos/100 mil hab.), obtendo no Brasil e na Bahia médias equivalentes a 7 casos/100 mil hab. (Tabela 9). Tais dados mostraram diferenças significativas das médias comparativas entre as diferentes localidades e nos diferentes anos (Tabela 10 e 11). Os anos mais representativos de médias anuais foram de 2015 a 2017 (Tabelas 11 e 12). Em Paulo Afonso, houve uma teve a mesma taxa de incidência em 2014 e 2015, com 31 casos/100 mil hab., seguido de uma redução no ano seguinte, com 24,3, apontando uma sutil elevação de 28,5 em 2017 e atenuando em 2018 com 21 casos por 100 mil habitantes (Gráfico 3). O Brasil demonstrou uma maior variação entre 2015 e 2017, com 15,7, 14,3 e 15,6 casos/100 mil hab., respectivamente (Gráfico 3). Dados similares foram encontrados na Bahia, com 18,7 (2015), 15,4 (2016) e 17, 4 (2017) casos por 100 mil habitantes.

Tabela 9: Médias das taxas de incidências de hanseníase das áreas estudadas

BA-Bahia; PA-Paulo Afonso

Tabela 10: Comparação entre as médias das taxas de incidência de hanseníase das áreas estudas

Comparações entre pares de médias marginais estimadas com base na escala original da variável dependente HANS
a. A diferença média é significativa no nível ,05.
BA-Bahia; PA-Paulo Afonso

Tabela 11: Médias das taxas de incidências de dengue dos anos estudados

Tabela 12: Comparação entre as médias das taxas de incidência de hanseníase dos anos estudos média menor do que o estado da Bahia, além de ser significativamente menor que o Brasil. Isto indica que, possivelmente o município melhorou o controle da doença.

Comparações entre pares de médias marginais estimadas com base na escala original da variável dependente HANS
a. A diferença média é significativa no nível ,05.

Gráfico 3: Taxa de incidência da hanseníase ao longo de 2014 a 2018 no município de Paulo Afonso, no estado da Bahia e no Brasil.

DISCUSSÃO

Tuberculose

Na comparação entre as populações de estudo observou-se que o Brasil tem as maiores médias de taxa de incidência quando comparado às médias das taxas de incidência da Bahia e de Paulo Afonso, respectivamente. O Brasil tem umas das maiores taxas de incidência de tuberculose do mundo, estando em 2015 na 20ª posição da lista criada pela OMS sobre os países com maior carga de tuberculose do mundo10. O país também tem uma grande incidência de casos de tuberculose associado à co-infecção com o Vírus da Imunodeficiência Humana em que a imunossupressão aumenta a probabilidade de infecção pelo Mycoplasma pneumoniae10.

O Brasil dentre os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul), nações de economia emergente, é o que apresenta as menores incidências acerca da tuberculose. Esses países juntos detêm cerca de 50% dos novos casos de tuberculose do mundo, o que levou a criação da Rede BRICS de Pesquisa em Tuberculose, a fim de que esta doença deixe de ser um problema de saúde pública11.

Em 2004, Paulo Afonso e outros 289 municípios eram considerados prioritários para controle da tuberculose11, porém, observou-se que este município apresentou uma taxa de incidência média menor do que o estado da Bahia, além de ser significativamente menor que o Brasil. Isto indica que, possivelmente o município melhorou o controle da doença.

A taxa média de incidência de Paulo Afonso inferior às outras duas populações estudadas pode ser justificada pela boa abrangência e eficiência da atenção básica de saúde e do Serviço de Dermatologia e Pneumologia Sanitária, sendo este último equipado com laboratório para o diagnóstico de tuberculose desde 201012. Isto poderia contribuir para o rápido diagnóstico e início precoce do tratamento, configurando como um causa possível de melhora, pois diminui a exposição de outros ao bacilo, diminuindo a capacidade de transmissão. Por outro lado, a baixa taxa de incidência de Paulo Afonso também pode ser justificada de forma negativa, por uma subnotificação ou mesmo por uma baixa detecção da doença no município.

Entre os anos 2014 a 2018 houve uma baixa variação na média da taxa de incidência da tuberculose, embora não pareça um resultado negativo, isso representa um insucesso aos objetivos primários da nova estratégia global para enfrentamento da tuberculose, da qual o Brasil foi o principal proponente. Esta estratégia, aprovada em 2014 na Assembleia Mundial de Saúde da ONU, tem como finalidade tornar o mundo livre da tuberculose até 2035. Para alcançar essa meta foram traçados objetivos primários, dentre eles a redução anual de 4 a 5% da taxa de incidência da tuberculose entre os anos de 2015 a 2020, que no caso do Brasil, não vem se concretizando13.

Dengue

A taxa média de incidência da dengue observada em Paulo Afonso foi significativamente inferior ao estado da Bahia e ao Brasil. Como verificado em outros estudos14, a pluviosidade tem íntima relação com incidência da dengue, uma vez que a escassa ocorrência de chuvas diminui a possibilidade de formação de criadouros do mosquito Aedes aegypti, logo, o clima se comportaria como um controle natural do vetor da dengue. Seguindo essa relação, o reduzido índice pluviométrico do sertão nordestino, onde Paulo Afonso se encontra, pode ser responsável por essa baixa taxa de dengue na população do município. As baixas taxas também podem estar relacionadas à eficiente ação dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias na fiscalização de locais de risco para proliferação do mosquito, além do repasse de informações educativas acerca de sua profilaxia e combate.

Do ano 2014 para o ano 2015 houve um aumento significativo da taxa média de incidência da dengue nas populações estudadas (p 0,021). Esse aumento no ano de 2015 deveu-se a elevação da taxa de dengue na região sudeste, que correspondeu a 63% dos casos do país naquele ano15. Isso ocorreu devido à crise hídrica no estado de São Paulo, fazendo com que sua população armazenasse água em casa. Os reservatórios utilizados serviram de locais para a reprodução do vetor da dengue16.

Concomitante a esse aumento do número de casos de dengue em 2015, observou-se um aumento de casos de microcefalia, causada por outra arbovirose também transmitida pelo Aedes aegypti, o zika vírus. O alarme causado pelo aumento do número de casos de microcefalia levou a criação do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia, que tinha como uma das frentes o combate ao vetor em comum dessas arboviroses17. Esse combate não mostrou um grande impacto nas taxas de dengue, havendo uma diminuição não significativa da taxa de incidência da dengue em 2016, quando comparado a 2015 (p=0,227).

Em 2017 o ministério da saúde liberou um total de 182,4 milhões de reais que foram destinados para intensificar as ações de promoção de saúde, prevenção de epidemias e vigilância de situações de risco promovidas por agentes de combate às endemias18. O alto investimento no combate a endemias parece ter impactado de forma positiva, ocorrendo uma diminuição de cerca de 82% na taxa média de incidência da dengue quando comparado ao ano de 2016.

Hanseníase

Diferente das outras doenças, Paulo Afonso apresentou a maior taxa de incidência média de hanseníase durante o período de estudo em comparação as outras populações estudadas. As altas taxas de hanseníase no município podem ter como causa as desigualdades e as condições socioeconômicas desfavoráveis, como carência de assistência à saúde, o que dificultaria a cura e aumenta a taxa de transmissibilidade. Entretanto, as baixas taxas de incidência na Bahia e no Brasil, podem ser em parte causadas por subnotificação dos casos19.

Cerca de 81% dos novos casos de hanseníase diagnosticados no mundo são provenientes da Índia, Indonésia e Brasil, juntos somam mais de 10 mil novos casos ao ano. Além da elevada taxa de incidência, o Brasil está também entre os 22 países com maior carga da doença20. Em 2016 a OMS apresentou a Estratégia Global para Hanseníase 2016–2020, com propostas de maior abrangência e rapidez do diagnóstico, bem como a disponibilização de tratamento, a fim de reduzir a carga mundial dessa doença e erradicar a incapacidade por ela causada. Após a estratégia verificou-se um aumento dos casos no ano de 2017 em cerca de 11 %. Porém, em 2018 ocorreu um declínio significativo de 60%.

CONCLUSÃO

O baixo índice de variação entre as taxas de incidência da tuberculose evidencia que a proposta do governo utilizando aplicações de programas frente ao combate da doença não está sendo eficaz. A dengue teve um aumento na taxa de incidência nos anos de 2014 e 2015, vindo a diminuir nos anos subsequentes, concomitantemente com uma maior disponibilidade de recursos financeiros para o financiamento do combate a epidemias. Ambas as doenças anteriormente citadas apresentaram maior incidência no Brasil e menor em Paulo Afonso. No entanto, o município obteve destaque de maiores incidências para hanseníase, podendo ter como causa fatores sociais desfavoráveis e pouco combate a essa doença pela atenção básica de saúde. Esses dados reforçam a necessidade de medidas corretivas com o intuito de alcançar as metas, além do fortalecimento nos planos de controle, uma vez que são significativamente mais efetivos na contenção das doenças.

REFERÊNCIAS

  1. Waldman EA, Sato APS. Trajetória das doenças infecciosas no Brasil nos últimos 50 anos: um contínuo desafio. Rev Saúde Públ. 2016; 50:68.
  1. Segurado AC, Cassenote AJ, Luna EA. Saúde nas metrópoles – Doenças infecciosas. Estud av. 2016; 30(86): 29-49.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasil Livre da Tuberculose: Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública. Brasília; 2017.
  1. Nogueira AF, Facchinetti V, Souza MVN, Vasconcelos TRA. Tuberculose: uma abordagem geral dos principais aspectos. Rev Bras Farm. 2012; 93(1): 3-9.
  1. Araújo VEM, Bezerra JMT, Amâncio FF, Passos VMA, Carneiro M. Aumento da carga de dengue no Brasil e unidades federadas, 2000 e 2015: análise do Global Burden of Disease Study 2015. Res Bras Epidemiol. 2017; 20(1): 205-216.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Dengue: Miagnóstico e Manejo Clínico Adulto e Criança. Brasília; 2016.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia prático sobre a hanseníase. Brasília; 2017.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Caracterização da situação epidemiológica da hanseníase e diferenças por sexo, Brasil, 2012-2016. Brasília; 2018.
  1. Paulo Afonso. Plano diretor do Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Paulo Afonso-Bahia. Leitura da lealidade local. Paulo Afonso; 2016. [citado Jul 12]. Disponievel em: http://www.pauloafonso.ba.gov.br/planodiretor/16.05.02_Diagnostico_PDDUA_-_Paulo%20Afonso.pdf
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Programa Nacional de Controle da Tuberculose. Brasília; 2016.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Implantação do Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública no Brasil: primeiros passos rumo ao alcance das metas. Brasília: Boletim epidemiológico; 2018.
  1. Assesoria de Comunicação. Prefeitura de Paulo Afonso. Laboratório de microbiologia e sala de fisioterapia do SEDERPAS comemoram resultados. [citado 2019 jul 8]. Disponível em: http://www.pauloafonso.ba.gov.br/novo/?p=noticias&i=1390
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasil Livre da Tuberculose: evolução dos cenários epidemiológicos e operacionais da doença. Brasília; 2019.
  1. Souza SS, Silva IG, Silva HHG. Associação entre incidência de dengue, pluviosidade e densidade larvária de Aedes aegypti, no Estado de Goiás. Rev Soc Bras Med Trop. 2010; 43(2):152-155.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Monitoramento dos casos de dengue, febre de chikungunya e febre pelo vírus Zika até a Semana Epidemiológica 45. Brasília; 2015.
  1. Gabriel AFB, Abe KC, Guimarães MP, Miraglia SGE. Avaliação de impacto à saúde da incidência de dengue associada à pluviosidade no município de Ribeirão Preto, São Paulo. Cad. Saúde Colet. 2018; 26(4): 446-452.
  1. Ministério da Saúde. O mosquito da dengue pode matar. E é ainda mais perigoso para gestantes. Proteja-se. [citado 2019 jul 3]. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/campanhas/dengue2015/Broadside_Microcefalia_20x28_V2.pdf
  1. Ministério da Saúde. Portal do Governo Brasileiro. Ministério da Saúde libera R$ 182,4 mi para ações de vigilância e custeio de agentes de endemias. [citado 2019 jul 8]. Disponível em: http://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/42249-ministerio-da-saude-libera-r-182-4-mi-para- acoes-de-vigilancia-e-custeio-de-agentes-de-endemias
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Estratégia nacional para o enfrentamento da Hanseníase – 2019 – 2022. Brasília, 2019.
  1. Organização Mundial da Saúde. Estratégia Global para Hanseníase 2016–2020. OMS; 2016.

1 Lúcio Moreira Fontenele Discente do Curso de Graduação em Medicina
Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco
lfontenele65@gmail.com Paulo Afonso-BA, Bairro Alves de Souza, Rua das Palmeiras Número 6 Apartamento

2 Anekécia Lauro da Silva – Orientadora – Docente do Curso de Graduação em Medicina
Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco
anekecia@gmail.com

3 Johnnatas Mikael Lopes – Coorientador – Docente do Curso de Graduação em Medicina
Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco
johnnatas.lopes@univasf.edu.