PLANTÃO PSICOLÓGICO COMO MODALIDADE DE ATENDIMENTO NO CONTEXTO DE PANDEMIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

PSYCHOLOGICAL CALL AS A MODALITY OF CARE IN THE CONTEXT OF PANDEMIC: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10086111


Nágila Tatielle Rocha Abreu1
Greicy Machado Aguiar de Albuquerque2
Susana Beatriz de Souza Pena3
Antonia Maria Ferreira de Souza4
Ana Raquel Pequeno Lima Fiuza5
Ana Beatriz Pequeno Lima Girão6
Ana Helena Pequeno Câmara7
Kelly Monte Sousa8
Analayde Lima de Azevedo9
Aline Nabuco Morel10
Vera Sílvia Gonçalves Temoteo11


RESUMO

O plantão psicológico é uma modalidade singular de atendimento e propõe o acolhimento imediato da pessoa por meio de uma escuta qualificada. Faz-se necessário compreender não apenas de que modo a prática do plantão psicológico tem ocorrido na atualidade epidemiológica, como também a pesquisa nessa importante área relacionada ao aconselhamento psicológico. Dito isto, esta pesquisa tem como objetivo investigar a produção científica sobre Plantão Psicológico no Brasil como ferramenta de assistência na pandemia durante os anos de 2020 a 2022, e assim discutir de modo integrado e crítico a produção acerca do assunto, a fim de possibilitar o levantamento de lacunas e de evidências para a prática profissional na área. A metodologia utilizada foi uma revisão sistemática através de informações bibliográficas e exploração da literatura, com artigos selecionados através do banco de dados Scielo (Scientific Electronic Library Online) e PEPSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia). Dos 54 artigos encontrados na busca inicial, 11 foram lidos na íntegra, e desses, quatro foram incluídos e analisados por atenderem aos critérios do estudo. A maioria dos estudos analisados são do tipo empírico e tem como público alvo discentes. Observou-se diferentes abordagens empregadas no plantão psicológico como a terapia narrativa de sessão única, a abordagem centrada na pessoa (ACP), a fenomenologia hermenêutica de Heidegger e a terapia cognitivo-comportamental (TCC). As informações obtidas neste estudo poderão servir como subsídios para estratégias de manejo do estado emocional de sujeitos em meio as urgências psíquicas e diante de crises sanitárias globais. A presente revisão mostrou-se ampla, apesar dos poucos resultados, a fim de incorporar evidências advindas de diferentes práticas e pesquisas sobre o cuidado na urgência como ferramenta de assistência durante a pandemia da COVID-19, podendo ser considerada um retrato aproximado das intervenções realizadas na área, tendo em vista o período de tempo que decorre a pandemia.

Palavras-chave: Plantão Psicológico, Pandemia COVID-19, Assistência à Saúde.

ABSTRACT

The psychological duty is a unique type of care and proposes the immediate reception of the person through qualified listening. It is necessary to understand not only how the practice of psychological duty has occurred in the epidemiological present, but also the research in this important area related to psychological counseling. That said, this research aims to investigate the scientific production on Psychological Duty in Brazil as a tool for assistance in the pandemic during the years 2020 to 2022, and thus to discuss the production on the subject in an integrated and critical way, in order to enable the survey of gaps and evidence for professional practice in the area. The methodology used was a systematic review through bibliographic information and literature exploration, with articles selected through the Scielo database (Scientific Electronic Library Online) and PEPSIC (Electronic Journals in Psychology). Of the 54 articles found in the initial search, 11 were read in full, and of these, four were included and analyzed because they met the study criteria. Most of the studies analyzed are empirical and have students as their target audience. Different approaches used in the psychological shift were observed, such as single-session narrative therapy, the person-centered approach (PCA), Heidegger’s hermeneutic phenomenology and cognitive behavioral therapy (CBT). The information obtained in this study may serve as subsidies for strategies for managing the emotional state of subjects in the midst of psychic urgencies and in the face of global health crises. The present review proved to be extensive, despite the few results, in order to incorporate evidence from different practices and research on emergency care as a care tool during the COVID-19 pandemic, and can be considered an approximate portrait of the interventions carried out. in the area, in view of the period of time that the pandemic has been going on.

Keywords: Psychological Duty, COVID-19 Pandemic, Health Care.

1. INTRODUÇÃO

O plantão psicológico é uma modalidade singular de atendimento, tendo marcas específicas e a ideia central de acompanhar e facilitar o processo de significação da procura por ajuda psicológica, ou seja, propõe o acolhimento imediato da pessoa por meio de uma escuta qualificada (ROCHA, 2009). Essa atividade visa oferecer ao sujeito: suporte emocional, espaço para a expressão de sentimentos e angústias, bem como, a possibilidade de reorganização psíquica e de instilação de esperança. A modalidade traz a oportunidade de um atendimento emergencial ou o início de um processo que pode se estender por mais sessões (PEREIRA et al, 2021)

No Brasil, a proposta do plantão psicológico se iniciou em 1969, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, e constitui uma prática reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) (MOZENA; CURY, 2010; ROSENMBERG,1987). Com a pandemia da COVID-19 e o consequente aumento dos quadros de estresse, ansiedade e depressão, novas demandas se apresentaram e, com elas, a necessidade de adequação do serviço de atendimento psicológico, intensificando o debate sobre a constituição de estratégias de cuidado e acolhimento de pessoas em processo de sofrimento psíquico (PEREIRA et al, 2020).

Nesse sentido, ofertar serviços de assistência e suporte emocional é uma necessidade cada vez mais emergente, considerando a possibilidade de que, mesmo que haja o encerramento da pandemia, os efeitos psicológicos negativos desta podem perdurar por muito mais tempo, tornando necessária que serviços de saúde mental sejam disponibilizados não apenas durante, mas após a pandemia (ORNELL et al, 2020). Sendo assim, é necessário compreender não apenas de que modo a prática do plantão psicológico tem ocorrido na atualidade epidemiológica, como também a pesquisa nessa importante área relacionada ao aconselhamento psicológico.

Embora exista produção científica sobre Plantão Psicológico de conhecimento, especialmente na última década, raras são as pesquisas de revisão integrativa no contexto da pandemia da COVID-19, por ser um cenário recente e ainda em curso. São escassos os trabalhos publicados que oferecem uma visão de conjunto acerca dessa área que apresentem um quadro geral da evolução desse procedimento nesse contexto. Diante de tal realidade, julgou-se oportuno proceder a um levantamento sobre Plantão Psicológico no Brasil como modalidade de atendimento na pandemia, procurando delinear tendências atuais e perspectivas científicas da área.

A escolha do tema justifica-se pela relevância que uma visão de conjunto das características da produção científica nacional sobre Plantão Psicológico pode ter para o desenvolvimento dessa modalidade no país. Por outro lado, a abrangência deste trabalho, rastreando pesquisas feitas em todo o território nacional, possibilita visualizar a produção científica nas diversas regiões do país, bem como apontar distinções de natureza econômica e educacional, o que influi na qualidade, viabilidade e quantidade de pesquisa acerca do Plantão Psicológico.

Nesse sentido, a produção científica no Brasil sobre Plantão Psicológico na pandemia é relativamente recente e não se espera encontrar, portanto, uma produção muito extensa num levantamento sistemático.

Considerando a importância do plantão psicológico na atuação do psicólogo, mais especificamente durante a pandemia do COVID-19, esta pesquisa que têm como objetivo investigar a produção científica sobre Plantão Psicológico no Brasil como ferramenta de assistência nesse período (durante os anos de 2020 a 2022) e assim discutir de modo integrado e crítico a produção acerca do assunto, a fim de possibilitar o levantamento de lacunas e de evidências para a prática profissional na área.

Dito isto, um levantamento bibliográfico no formato de revisão integrativa da literatura faz-se pertinente para elencar os principais estudos na área e assim relacionar a pandemia da COVID-19 e as medidas de isolamento à emergência do sofrimento psíquico, bem como a prática profissional na área do psicólogo diante das urgências subjetivas.

2. METODOLOGIA

Para responder ao objetivo deste estudo, a revisão integrativa de literatura mostrou-se o instrumento mais fecundo, pois permite, além de revisar a produção acadêmica, fazer a síntese do conhecimento e organizar as produções sobre o tema, no âmbito cientifico, garantindo assim um rigor metodológico e a apresentação crítica da análise dos textos (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

Como estratégia e instrumentos de coleta de dados nessa revisão utilizou-se a busca nas bases de dados PePSIC (Periódicos eletrônicos em Psicologia) e SciELO Brasil (Scientific Electronic Library Online). O motivo para delimitar o SciELO como o banco de dados ocorre em razão do fato desse ser considerado, segundo a “United Nations, Educational, Scientific and Cultural Organization” (UNESCO) (PACKER; COP; LUCCISANO; RAMALHO; SPINAK, 2014), o maior provedor de periódicos indexados de acesso aberto do mundo. A escolha do “PePSIC”, por sua vez, acontece por este utilizar o mesmo sistema e método de busca do SciELO e ser uma fonte da “Biblioteca Virtual em Saúde – Psicologia da União Latino-Americana de Entidades de Psicologia” (BVS- Psi ULAPSI), que divulga somente periódicos e artigos em Psicologia.

Inicialmente realizou-se busca utilizando o cruzamento do termo “Plantão Psicológico” com os descritores disponíveis no índice de assuntos do PePSICO. Gerando os termos “Plantão Psicológico” e “Plantão Psicológico Gestáltico”. Os mesmos termos também foram empregados no SciELO, mas aplicando a busca em todos os índices. Para selecionar as referências foram utilizados todos os descritores com o operador booleano “OR”. Também foram associadas as buscas utilizando o operador booleano “AND” com os termos “Pandemia”, “Coronavírus” e “COVID-19” em ambas as bases de dados.

Foram considerados como critérios de inclusão: a) artigo publicados em periódicos nacionais; b) disponibilizado em língua portuguesa; c) produzidos por autores da área da Psicologia; d) conter ao menos uma das palavras-chaves utilizadas na busca desses estudos; e) ter sido publicado entre 2020 e 2022.

Foram excluídas as produções que se repetiram nas bases de dados, havendo somente uma catalogação, e as produções de autoria estrangeira ou oriundas de periódico estrangeiro, pela atenção voltada às produções nacionais sobre o tema. Também não foram considerados livros, resenhas, editoriais ou guias/documentos/manuais de Instituições.

A partir da leitura seletiva dos estudos, restringindo-se aos conteúdos apresentados nos títulos, resumos e palavras-chave, foram excluídos artigos que não utilizaram o plantão psicológico como ferramenta de atenção à saúde mental na pandemia. Em caso de dúvidas, procedeu-se uma leitura mais geral do texto para captação das informações pertinentes à presente pesquisa. A Figura 1, exposta a seguir, demonstra o processo da coleta de dados para atingir a amostra bibliográfica final.

Os trabalhos coletados e reunidos, segundo esses critérios, foram tabulados, catalogados e categorizados com o auxílio do Software Microsoft Excel.

Figura 1 – Fluxograma da coleta de dados até a amostra da bibliografia final

Fonte: Elaboração própria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quadro 1 – Demonstrativo dos artigos selecionados, segundo título, autores, ano, periódico, tipo de estudo, objetivos do estudo e principais resultados. Dos 54 artigos encontrados, 11 foram lidos na íntegra, e desses, quatro foram incluídos e analisados por atenderem aos critérios do estudo. Objetivando apresentar os artigos analisados de forma mais didática e facilitando uma análise comparativa, optou-se por organiza-lo em tabela e dispô-lo no Quadro 1, separando-os nos seguintes subitens: “Título do estudo”, “Autores/Ano”, “Periódico”, “Tipo de estudo (empírico ou teórico)”, “Objetivos” e “Principais resultados”. As informações estão apresentadas na tabela seguinte.

Título do estudoAutores/AnoPeriódicoTipo de estudoObjetivosPrincipais resultados
Recursos da terapia narrativa de sessão única em tempos de pandemia e isolamento socialSOUZA, L.V et al./ 2020Rev. Nova Perspective SistêmicaTeóricoDescrever uma proposta do uso da terapia narrativa de sessão única como forma de atenção psicológica voluntária na situação da pandemia da COVID-19 e do isolamento social da populaçãoCuidados a serem realizados no atendimento psicológico voluntário brevíssimo, on-line e em situação de emergências e descrição das quatro etapas da conversa da terapia narrativa de sessão única
Uma canoa na tempestade: o acolhimento psicológico emergencial na pandemia da COVID-19ROCHA, A.M.C. et al./ 2021Rev. NUFENEmpíricoRelatar a experiência da continuação da prestação de serviço de escuta qualificada aos estudantes de graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) durante a pandemia da COVID-19 na perspectiva do Plantão Psicológico Centrado na PessoaO atendimento virtual impôs imprevisibilidade da conexão e da própria chamada, além de interrupções e intercorrências ocorridas durante a sessão, porém percebeu-se aumento da procura por serviços de acesso remoto facilitado, menor absenteísmo e maior contribuição para melhor formação dos estagiários.
Plantão psicológico on-line a estudantes universitários durante a pandemia da COVID-19BEZERRA, G.C; MOURA, K.P; DUTRA, E./ 2021Rev. NUFENEmpíricoRelatar uma experiência de plantão psicológico on-line implantado para escuta de estudantes universitários sob a ótica da hermenêutica heideggeriana.O cenário pandêmico favoreceu o surgimento e a intensificação de manifestações de sofrimento, por tanto a Psicologia precisou se haver com seu saber-fazer, e, apesar do uso das tecnologias se mostrar potente, apresenta limites.
Plantão psicológico cognitivo-comportamental na pandemia da CoViD-19DE-MEDEIROS, A.G.A.P et al./2021Revista Brasileira de Terapias CognitivasEmpíricoApresentar um protocolo de atendimento para plantão psicológico online baseado em terapia cognitivo-comportamental (TCC) utilizado no Serviço de Intervenção Cognitivo-Comportamental – SICC da UNICAP, bem como o perfil da clientela atendida.Um protocolo cognitivo-comportamental de quatro fases foi desenvolvido para aplicação individual com duração média de 30 minutos. Maioria da clientela foram de discentes da instituição e já tinham realizado algum tratamento psicológico e/ou psiquiátrico. As demandas mais frequentes foram ansiedade, estresse, tristeza, conflito familiar, dificuldades acadêmicas e procrastinação, bem como orientações para prevenção da saúde mental.

Fonte: Elaboração própria.

A partir desta seleção quantitativa dos dados, foi possível observar que poucos artigos descreveram a prática do plantão psicológico como ferramenta de assistência durante a pandemia, mesmo sendo uma intervenção eficiente em momentos de emergência e urgência, em que o enfermo apresenta uma demanda latente que pode prejudicar sua saúde mental. Como aponta De Souza e De Souza (2011) em sua pesquisa bibliográfica sobre o plantão psicológico, os autores verificaram pouca literatura sobre esta temática.

Ainda segundo De Souza e De Souza (2011), os resultados da pesquisa apresentam poucas revisões sistemáticas voltadas para o plantão psicológico, com práticas descritas por profissionais de psicologia, consequentemente, é um tema que precisa ser mais estudado, compreendido na atuação psicológica.

Rebouças e Dutra (2010) afirmam que o plantão psicológico se constitui como uma prática clínica da contemporaneidade, na medida em que ela promove uma abertura para o novo, o diferente e oferece um espaço de escuta a alguém que apresenta uma demanda psíquica, um sofrimento.

Observou-se que a maioria dos estudos analisados são do tipo empírico. Segundo Oliveira (1997, p.53), “o principal mérito do método empírico é o de assinalar com vigor a importância da experiência na origem dos nossos conhecimentos. Os empiristas de um modo geral têm razão ao afirmar que não existem ideias inatas, e de que antes da experiência não há e nem pode haver conhecimento algum sobre o mundo exterior”.

O plantão psicológico como ferramenta de assistência às urgências psíquicas em meio à crise sanitária tem gerado experiências na lida com a emergência global em saúde, por tanto, faz-se necessário relatar essas experiências, sejam elas positivas ou negativas, para que a comunidade cientifica reúna a maior quantidade de informações possíveis sobre ferramentas que possam auxiliar na prática assistencial aos sujeitos quando de encontro à essas crises sanitárias. O saber-fazer documentado.

Bezerra, Moura e Dutra (2021), evidenciaram nesse período de crise sanitária, política e humanitária um aumento na procura por atendimento psicológico, o que forçou os psicólogos a se reinventarem, enfrentando as suas próprias dificuldades, não só no âmbito do uso da tecnologia no seu fazer, mas também nas suas próprias limitações nas práticas de atendimento.

Algo a ser pontuado e discutido é em relação aos discentes como público alvo do plantão psicológico nas experiências relatas, expondo a fragilidade da saúde mental dos estudantes universitários brasileiros que tem sido uma preocupação crescente nos últimos anos, mesmo antes da pandemia de COVID-19. O estudo “Global Student Survey” realizado pelo Chegg.org (2021) apontou que sete a cada dez universitários brasileiros (76%) declararam que a pandemia de Covid-19 trouxe impacto na sua saúde mental, o maior índice registrado em 21 países analisados.

Dentre os estudos analisados, dois apresentaram alguns dos principais sintomas de sofrimento psíquicos nos estudantes atendidos em plantões psicológicos, dentre estes, estresse, sinais de ansiedade e tristeza, corroborando com os resultados da revisão de literatura realizada por Gundim et al (2021), que apontou ainda depressão, dores de cabeça, irritação, autoisolamento, perda da vontade de realizar atividades e angústia.

Diante da deflagração da pandemia da COVID-19 e visando a garantia do acolhimento psicológico a população necessitada, bem como buscando assegurar as medidas de distanciamento social necessárias para o enfrentamento do cenário vivido, a modalidade on-line passou a ser a principal ferramenta de execução dos plantões psicológicos. Contudo, segundo Bezerra, Moura e Dutra (2021), concomitante às potencialidades das tecnologias, vêm os limites, como por exemplo, o interrompimento do silêncio do plantonista dada a alta frequência de interrupções por ruídos ou problemas com a internet.

Tendo em vista a “reinvenção” da assistência psicológica na urgência subjetiva, também se observou nos materiais analisados as diferentes abordagens empregadas no plantão psicológico como a terapia narrativa de sessão única, a abordagem centrada na pessoa (ACP), a fenomenologia hermenêutica de Heidegger e a terapia cognitivo-comportamental (TCC).

Conforme Souza et al (2020), a terapia de sessão única é realizada por profissionais de diferentes abordagens teóricas. As práticas narrativas oferecem ferramentas conversacionais que auxiliam na exploração de histórias que podem nunca terem sido contadas acerca do problema ou da experiência vivida e de ações em que as pessoas se engajam para responder a isso, que geralmente estão conectadas aos valores, crenças e propósitos que elas possuem.

Já De-Medeiros et al (2021) defende o TCC como importante abordagem no plantão psicológico, tendo em vista que nessa modalidade de atendimento é necessário acessar o que é mais urgente e, a partir disso, dispensar escuta e cuidado qualificados a fim de proporcionar um contexto efetivo de enfrentamento e aquisição de habilidades considerando o tempo restrito. Tal prerrogativa corrobora com os pilares da TCC.

Segundo Vieira e Boris (2012) as pesquisas no referencial da ACP e de inspiração fenomenológica, têm-se dedicado bastante nos últimos anos ao tema do plantão psicológico. A atitude calorosa e empática do conselheiro centrado na pessoa tem se mostrado bastante efetiva na clarificação da queixa por parte do indivíduo e seus devidos encaminhamentos. Assim, a ACP tem se mostrado como um importante referencial teórico-metodológico para o desenvolvimento do plantão psicológico no Brasil, tanto na esfera de sua execução, quanto no âmbito da pesquisa em psicologia clínica.

Ainda segundo Vieira e Borges (2012) o plantão é considerado como modalidade contemporânea de atuação no campo da Psicologia Clínica e reconhecem a necessidade da oferta de escuta a quem passa por sofrimento. Todavia, apontam também sua insuficiência quanto a futuros encaminhamentos a estes que buscam ajuda no serviço, tendo em vista que acesso aos serviços da Psicologia ainda não está garantido a todos, especialmente, nos países em que o desenvolvimento ainda é precário. Os autores, por tanto, indicam as políticas públicas como um profícuo e necessário campo de diálogo na reconstituição da Psicologia Clínica contemporânea.

Dentre as dificuldades encontradas para elaboração deste estudo, inclui-se o fato de que se trata de uma situação recente e emergente, em que ainda há um curto conjunto de artigos referentes à utilização do plantão psicológico como ferramenta de assistência ao sofrimento psíquico durante a pandemia de COVID-19. Portanto, faz-se necessária a realização de estudos nessa temática, sejam eles longitudinais, descritivos, mas principalmente com ênfase em estudos qualitativos, a fim de valorizar o estudo de aspectos subjetivos relacionados aos impactos causados pela pandemia.

As informações obtidas neste estudo poderão servir como subsídios para estratégias de manejo do estado emocional de sujeitos em meio as urgências psíquicas e diante de crises sanitárias globais. Os gestores de saúde precisarão pensar formas de minimizar os efeitos psicológicos causados pela pandemia, mediante o acesso à assistência psicossocial, como mecanismo para diminuir os impactos na vida das pessoas e à própria rotina de atividades, no que diz respeito à circulação de pessoas e do vírus.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão mostrou-se ampla, apesar dos poucos resultados, a fim de incorporar evidências advindas de diferentes práticas e pesquisas sobre o cuidado na urgência como ferramenta de assistência durante a pandemia da COVID-19, podendo ser considerada um retrato aproximado das intervenções realizadas na área e divulgadas em veículos de expressiva qualidade, tendo em vista o período de tempo que decorre a pandemia.

Por fim, através dos elementos discutidos neste artigo, espera-se que a presente revisão contribua para que os profissionais que atuam no Plantão Psicológico possam incrementar suas práticas, em uma consideração positiva pela necessidade de enxergar as diferenças e o cenário epidemiológico ao qual estamos inseridos e que possam pesquisar e publicar mais estudos sobre essa prática para conhecimento de toda a comunidade científica e servir como base para políticas públicas de assistência eficientes.

Faz-se necessário um olhar comprometido voltado para a construção profissional do Psicólogo, atentando não só para o repasse de fundamentos das correntes teóricas ou de subáreas de trabalho, mas, principalmente, para a sua integração com a prática, de modo a prepará-lo para o encontro com os inevitáveis obstáculos compreendidos pela práxis do psicólogo contemporâneo.

Também estamos atentos à necessidade de continuar explorando este terreno fértil do Plantão Psicológico, que pode ser útil em situações de calamidade, quando o acolhimento à urgência pode ser um marco na vida de uma pessoa ou de uma comunidade. Neste sentido, este estudo convida a levar adiante as sementes aqui lançadas.

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