INFECÇÃO POR COVID-19 E SUA RELAÇÃO COM RESPOSTA INFLAMATÓRIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

COVID-19 INFECTION AND ITS RELATIONSHIP WITH INFLAMMATORY RESPONSE: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10081135


Daniela Philippsen Goelzer


RESUMO

O virus da COVID-19 surgiu na China em 2019, se espalhando rapidamente ao redor do mundo e meses depois sendo declarada pandemia. Ao mesmo tempo em que muitos pacientes acometidos se quer apresentavam sintomas, outros vieram ao óbito. Pode-se constatar que essa diferença de gravidade e progessão mais rápida da doenças estava associada à mecanismos hiperinflamatórios, com descontrole regulatório da produção de citocinas pró-inflamatórias, que são responsáveis pela regulação inflamatória. Contudo, este artigo baseia-se em uma revisão bibliográfica associando a COVID-19 e o papel das citocinas inflamatórias no progresso da doenças.

Palavras-chave: COVID-19; Coroavírus; Citocinas; Inflamação.

ABSTRACT

The COVID-19 virus emerged in China in 2019, spreading rapidly around the world and months later being declared a pandemic. At the same time that many affected patients even had symptoms, others died. It can be seen that this difference in severity and faster disease progression was associated with hyperinflammatory mechanisms, with lack of regulatory control of the production of pro-inflammatory cytokines, which are responsible for inflammatory regulation. However, this article is based on a literature review associating COVID-19 and the role of inflammatory cytokines in the progression of the disease.

Keywords: COVID-19; Coronavírus; Cytokines; Inflammation.

INTRODUÇÃO

O coronavírus é uma família de vírus, conhecida desde meados dos anos 1960, que causa infecções respiratórias em seres humanos e em animais. Em 2019 na China, foi relatado uma nova variante de coronavírus em pacientes com pneumonia viral, sendo denominado COVID-19 (ZHU et al., 2020). A nova variante do virus se apresentou altamente contagiosa, se espalhando pelo mundo rapidamente, sendo decretada como pademia pela Organização Mundial da Saúde no início de 2020 (WHO, 2020). O contágio aconteceu pelo ar ou secrecies contaminadas por meio de saliva e catarro. Dois anos após da descoberta, já somavam-se mais de 200 milhões de casos de COVID-19 e 4,3 milhões de mortes em todo o mundo (CIOTTI et al., 2020; DONG et al., 2020). No Brasil, temos mais de 37 milhões de casos confirmados e mais de 700 mil mortes, dando um percedntual de letalidade de 1,9% (SVSA, 2023).

O coronavirus apresentou uma sintomatologia muito variada nos pacientes acometidos. A grande maioria dos pacientes eram assintomáticos, e os com sintomas apresentavam principlamente febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos e dustativos (CDC, 2020; HARRISON et al., 2020). Já outros pacientes, principlamente com condições pré-existentes, apresentavam sintomas graves, como a síndrome respiratória aguda(SHI et al., 2021). Ainda, pacientes graves também apresentavam condições inflamatórias locais e sistêmicas, com alterações significativas (SIDDIQI et al., 2020).

METODOLOGIA

O presente trabalho consiste em uma revisão de literatura. A pesquisa foi realizada na base de dados PUBMED, SciELO, utilizando os seguintes descritores: COVID-19 e coronavirus and cytokines. Os critérios de inclusão foram trabalhos publicados no idioma ingles e português, que abordassem o tema. Os critérios de exclusão foram artigos que estivessem em domínio privado. Foi realizada uma leitura analítica e seletiva dos artigos de acordo com o interesse e relevância para o estudo. Em seguida, os artigos foram agrupados por assunto, interpretados, discutidos e construída a apresentação da revisão da literatura.

DISCUSSÃO

O novo coronavírus denominado como Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus-2 (Sars-Cov-2), e como Corona Virus Disease-19 (COVID-19) foi notificado em Wuhan, na China, em 31 de dezembro de 2019 e declarado como pandemia no dia 11 de março de 2020. No Brasil, o primeiro caso positivo foi anunciado em 26 de fevereiro de 2020, e o primeiro óbito brasileiro confirmado ocorreu em 17 de março de 2020, com um homem de 62 anos, diagnosticado com diabetes e hipertensão (CDC, 2022; ZHU et al., 2020; MARTIN et al., 2020). Pacientes com essas e outras doenças de base podem ter um agravamento da condição clínica, como também asma, fibrose cística, doenças pulmonar obstrutiva crônica, estado imunocomprometido e obesidade.

A sintomatologia da doença mostrou-se muito variada. Por um lado, aproximadamente 90% dos infectados são assintomáticos ou com sintomas leves. Já o restante, acaba desenvolvendo sintomas moderados que podem evoluir para complicações pulmonares, respiratórias e sistêmicas (HARRISON et al., 2020; DE OLIVEIRA et al., 2022). Também nesses casos mais graves, pode ocorrer quadros de pneumonia ou insuficiência pulmonar, síndrome do desconforto respiratório agudo e síndrome da resposta inflamatória sistêmica, que podem progredir para disfunção de múltiplos órgãos com consequências fatais (SALZBERGER et al., 2021).

A doenças pode ser caracterizada por três principais fases, sendo elas um estágio inicial, fase secundária e fase terceária. Na primeira fase, o vírus se replica nas células do hospedeiro com características clínicas de sintomas leves e inespecíficos, como mal-estar geral, febre e tosse seca (SIDDIQI et al., 2020). Quando a doenças evolui para a segunda fase, é marcada por alterações funcionais nos pulmões, marcada por um quadro de pneumonia intersticial bilateral progressiva, que na maioria dos casos necessitava de internação hospitalar nos pacientes (SIDDIQI et al., 2020).

A minoria dos pacientes, apenas 5%, evolui para o terceiro estágio, que é caracterizado por quadros hiperinflamatórios, sendo locais ou sistêmicos, com alterções em parâmetros inflamatórios e de coagulação. Nessa fase ainda, o virus de dissemina pelo corpo, podendo cansar alterações em diversos órgãos, levando ao óbito (SIDDIQI et al., 2020; ZAIM et al., 2020; HASHIMOTO et al., 2022). Os principais parâmetros inflamatórios comumente alterados são a proteína C reativa e citocinas pró-inflamatórias (IL2, IL6, IL7, IL10, TNFα, entre outras) (SIDDIQI et al., 2020).

As citocinas são moléculas que operam na sinalização celular, com objetivo de regular a inflamação e modular atividades de sobrevivência, crescimento e diferenciação de respostas imunes. São secretadas por diversas células, principlamente os linfócitos B e T, macrófagos, fibroblastos, células endolteliais e mastócitos (COONDOO, 2011; RAMESH et al., 2013). Dentre as principais citocinas, pode-se citar interferons, interleucinas, fatores estimuladores de colônias, fatores de necrose tumoral e quimiocinas (TO et al., 2020).

Quando a resposta imunológica é exacerbada e descontrolada, caracteriza-se por uma tempestade de citocina, e esse aumento da quantidade atrai muitas células inflamatórias para dentro do tecido, principalmente pulmonar (QING et al., 2020). Ye e colaboradores evidenciaram que o rápido progresso do COVID-19 pode ser associado à tempestade de citocinas (YE et al., 2020). No soro de pacientes graves, foram encontrados níveis altos de marcadores inflamatórios, principlamente IL6, IL7, IL8 e proteína inflamatória de macrófagos (HUANG et al., 2020; ZHU et al, 2020).

Ainda, ao infectar o paciente, o COVID-19 é identificado por receptores de reconhecimento de padrão (PRR), do tipo Toll 3, 7, 8 e 9 e sensores de infecção viral RIG-I e MDA5 (LIM et al., 2016). Essa verificação provoca o acionamento de cascatas celulares altamente organizadas, com intenção de regular o equilíbrio entre a eliminação viral e o dano imunológico. Em um curto espaço de tempo, o sistema imune inato envia uma resposta antiviral rápida pela produção de IFN tipo I/III e genes estimulados por IFN (ISGs) (CHANNAPPANAVAR et al., 2019). Porém, o COVID-19 possui várias proteínas estruturais e não estruturais capazes de modificar e retardar as respostas do IFN-I (BRODIN, 2021; TAY et al., 2020). Dessa forma, ocorre uma replicação viral acelerada, seguida de uma resposta inflamatória anormal, e cada vez mais o vírus invade células endoteliais, macrófagos, monócitos, células dendríticas, células natural killer e células T. Essas células são células autoimunes que visam diminuir a disseminação do vírus no corpo, mas que ao mesmo tempo estimulam diversas vias inflamatórias, produzindo uma quantidade significativa de citocinas e quimiocinas. O resultado é uma hiperinflamação com a tempestade de citocinas, que pode levar a danos teciduais, síndrome respiratória agúda e até falência de múltiplos órgãos (TAN et al., 2021).

Por fim, observa-se a importância majoritária da resposta do sistema imune na infecção pelo COVID-19. Ao mesmo tempo, essa resposta pode ser exacerbada e vir a desregular vias e causar danos ao paciente. Com os artigos revisados, podemos concluir que diminuir a inflamação e a liberação de citocinas pode diminuir a taxa e mortalidade por COVID-19. Ainda, como perspectiva future, é necessária a continuação de estudos acerca dos diversos aspectos desta doença a fim avançar no conhecimento e compreensão dos mecanismos biológicos da mesma.

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Daniela Philippsen Goelzer
ORCID: https://orcid.org/0009-0006-3532-2546
Universidade Feevale, Brasil
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