O USO DO PLASMA CONVALESCENTE COMO TRATAMENTO DA COVID19 PARA PACIENTES INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10067849


Chryslane Karine de Sousa Gomes
Dominique Limeira Barros
Fabielly de Melo Toledo
Gabriel de Oliveira Rezende1


RESUMO

OBJETIVO: Analisar a importância e o nível de eficácia do uso do Plasma Convalescente (PC) como forma alternativa no tratamento da Covid-19 em pacientes internados em UTI. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura nas bases de dados PUBMED e SCIELO. Por ser um estudo que apresenta levantamento bibliográfico foram analisadas obras científicas recentes, do ano de 2020 até à atualidade, que retratam o assunto e fornecem embasamento teórico e metodológico no desenvolvimento da pesquisa. RESULTADOS: Dez estudos foram encontrados dentro da metodologia planejada. Observa-se que os estudos são promissores na maioria dos casos estudados. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Há necessidade de mais ensaios clínicos planejados para comprovar eficazmente seu mecanismo de ação, riscos, efeitos adversos e contraindicações, para a curto e longo prazo ser considerada uma terapêutica contra a doença. Atualmente existe vacina contra a doença.

Palavras-chave: Covid-19. Plasma Convalescente. Terapêutica.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To analyze the importance and level of effectiveness of using Convalescent Plasma (PC) as an alternative method of treating Covid-19 in patients admitted to the ICU. METHODOLOGY: This is an integrative literature review in the PUBMED and SCIELO databases. As it is a study that presents a bibliographical survey, recent scientific works were analyzed, from 2020 to the present, which portray the subject and provide theoretical and methodological basis in the development of the research. RESULTS: Ten studies were found within the planned methodology. It is observed that the studies are promising in most of the cases studied. FINAL CONSIDERATIONS: There is a need for more planned clinical trials to effectively prove its mechanism of action, risks, adverse effects and contraindications, so that it can be considered a therapy against the disease in the short and long term. There is currently a vaccine against the disease.

Key words: Covid-19. Convalescent Plasma. Therapy.

INTRODUÇÃO

A COVID-19 é uma doença causada pelo SARS-CoV-2 e teve seu primeiro caso relatado no final de 2019 na China, causando infecções respiratórias e complicações, principalmente, em pacientes com comorbidades (DUAN, 2020).  

Segundo a Organização Mundial da Saúde no período de 01 de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021 houve um aumento de aproximadamente 14,9 milhões (intervalo de 13,3 milhões a 16,6 milhões) nas hospitalizações e óbitos associados direta ou indiretamente à pandemia de COVID-19 (OMS, 2022). 

As estimativas de óbitos para um período de 24 meses (2020 e 2021) incluem uma repartição do excesso de mortalidade por idade e sexo. Confirmaram que o número mundial de mortes foi maior para homens do que para mulheres (57% do sexo masculino e 43% do sexo feminino) e maior entre pessoas idosas. A contagem absoluta do excesso de mortalidade é afetada pelo tamanho da população. O número de mortes em excesso por cada 100 mil habitantes dá uma imagem mais objetiva da pandemia do que os dados de mortalidade notificados por COVID-19 (ALDECOA et al., 2020).

Com o avanço desgovernado da doença, fez-se necessária buscas a nível mundial para obtenção de métodos alternativos com intuito de conter os efeitos provocados pela doença, bem como a erradicação do vírus e uma possível cura (OMS, 2020). 

Em busca de medicamentos disponíveis para a população que seja capaz de controlar a proliferação do vírus, surgiu uma alternativa que vem sem sendo estudada como estratégia terapêutica, a utilização do plasma convalescente (PC), que consiste em transferir anticorpos do plasma de um doador recuperado da doença, servindo como fonte de anticorpo específico, uma vez que houve o desenvolvimento de imunização humoral contra o agente infeccioso (FDA, 2020).

Segundo a Agência Reguladora dos EUA essa terapêutica pode ser solicitada, em caráter emergencial, para pacientes graves e críticos (FDA, 2020).

No Brasil, a ANVISA (2020) reforça que seu uso seja monitorizado, entretanto, no momento crítico em qual a saúde pública se encontrava durante a pandemia do SARS-CoV-2 e com falta de tratamentos com alta eficiência contra ele, ambientes hospitalares adotaram o uso do PC como um dos meios alternativos para o tratamento da COVID-19 naqueles gravemente acometidos pelo vírus. 

 Diante disso, a relevância desse estudo se baseia na relação sobre o avanço do SARS-CoV-2 e a segurança da saúde pública no país. Portanto, é de extrema importância conhecer o perfil desses indivíduos infectados pelo vírus da Covid-19, bem como a gravidade da infecção para então analisar as estratégias e eficácia do tratamento utilizado com uso do plasma convalescente, principalmente em pacientes internados em UTI. 

Logo, o objetivo geral desse estudo é analisar a importância e o nível de eficácia do uso do Plasma Convalescente (PC) como forma alternativa de tratamento em pacientes internados em UTI devido a infecção pelo vírus da COVID-19. 

MATERIAIS E MÉTODOS 

O presente trabalho é um estudo de revisão bibliográfica do tipo revisão de literatura, a qual faz análise de estudos relevantes, sintetiza o conhecimento produzido e leva ao incremento de conclusões gerais a respeito da temática. 

É um método de pesquisa que contempla as seguintes etapas: seleção das hipóteses ou da questão da pesquisa; critérios para a seleção da amostra; busca na literatura, avaliação dos dados; análise dos dados; e apresentação dos resultados. 

A pesquisa foi orientada a partir da seguinte questão: Qual a eficácia do uso do Plasma Convalescente (PC) em pacientes com Covid-19 na UTI?

As buscas das publicações ocorreram no período de fevereiro a agosto a de 2023, na plataforma Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), onde foram realizadas as pesquisas nas bases de dados: PUBMED e SCIELO, por meio de termos cadastrados no site dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Covid-19, Plasma Convalescente e Terapêutica, sendo realizado cruzamento dos termos mediante o uso do operador booleano “AND”. 

Foram aplicados os seguintes critérios de inclusão: documentos oficiais, artigos disponíveis em meio eletrônico, texto completo abordando o tema, inseridos nas bases de dados nacionais e internacionais, nos idiomas inglês e português, terem sido publicados no período de 2000 até o momento. E como critérios de exclusão foram: resumos de anais, artigos que não estejam na íntegra, outros idiomas, livros, documentos repetidos em base de dados, fora do período de interesse, estudos duplicados e que não atendessem a temática proposta. 

A análise dos dados foi a partir da proposta de Minayo (2012) para estudos qualitativos, incluindo: pré-análise, exploração do material e tratamento dos dados, interpretação dos resultados e elaboração das categorias temáticas do estudo. Após a seleção e análise crítica, os estudos foram dispostos em quadro sinóptico contendo título, autor, ano de publicação, base de dados, delineamento e principais resultados para a definição e composição das categorias analíticas que responderam à pergunta norteadora da pesquisa.

RESULTADOS 

 Após metodologia aplicada, foram encontrados 29 artigos na base de dados Pubmed e 20 na base Scielo, com 10 artigos como amostra final (Quadro).

Quadro- Síntese dos artigos selecionados para esta revisão.

TítuloAno de publicaçãoResultados
Considerações regulatórias sobre aautorização do uso de plasma convalescente(PC) para atender à emergência da COVID19OPAS, 2020Resultados preliminares indicam sua utilidade em potencial. 
Primeiras impressões da utilização doPlasma Convalescente no tratamento da Covid-19 no estado do AcreMachado et al., 2020Todos os pacientes receberam a transfusão de Plasma Convalescente no 1◦dia de internação, e apresentavam gravidade acentuada do quadro clínico sendo necessária a realização de Intubação Orotraqueal (IOT).
Terapia com plasma convalescente emOliveira et al.,2021Um total de 24 protocolos de ensaios clínicos
pacientes graves comCOVID-19 nas fases avançadas dos ensaios clínicose seus resultados preliminares intervencionistas (avançados nas fases II-III, III e IV) foi incluído nesta revisão, assim como três estudos que tiveram resultados suficientes para avaliar a eficácia da terapia com plasma convalescente para pacientes com COVID-19.
Utilização de plasma convalescente para otratamento de Covid-19 Souza; Vieira e Berrêdo, 2021As publicações encontradas evidenciam a utilização do PC como braço terapêutico, ou seja, em associação com outras terapias farmacológicas.
Diretrizes para o uso de plasma convalescente no tratamentode pacientes com covid-19AssociaçãoBrasileira deHematologia,Hemoterapia eTerapia celular, 2021Considerar o uso do PC, em pacientes com COVID-19, nas situações e formas descritas: pacientes imunossuprimidos (especialmente aqueles tratados com anticorpos monoclonais anti-CD20); pacientes idosos (≥ 60 anos de idade); pacientes com comorbidades: diabetes mellitus, hipertensão arterial, coronariopatia e obesidade; PC com altos títulos de anticorpos neutralizantes (≥ 80) ou DO alta e até 72 horas do início dos sintomas.
Convalescent plasma therapy in COVID-19 patients: a non-randomized casecontrol study withconcurrent control Cacilhas et al., 2022Os pacientes que receberam plasma convalescente tiveram menor mortalidade hospitalar do que os pacientes que não receberam plasma (risco relativo (RR) 0,48; intervalo de confiança (IC) de 95% 0,29 a 0,79).
Convalescent plasma -An insight into a novel treatment of covid-19 ICU patientsChowdhry et al., 2022Dos 326 pacientes de UTI transfundidos com plasma convalescente, a mortalidade geral foi de 152 (53,3%). 
Convalescent PlasmaTherapy in Late-State,Severe COVID-19Infection Kumar et al., 2023Oito pacientes da UTI receberam plasma no final do curso da infecção por COVID19, em média 16,13 dias após a admissão. No dia anterior à transfusão, a média inicial do escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA), da relação PaO 2 :FiO 2, da
  Escala de Coma de Glasgow (ECG) e da contagem de linfócitos foi de 6,5, 228,03,8,63 e 1,19, respectivamente. Três dias após o tratamento com plasma, as médias do grupo para o escore SOFA (4,86), relação PaO 2 :FiO 2 (302,73), ECG (9,29) e contagem de linfócitos (1,75) melhoraram.
Convalescent plasma transfusion in severe COVID-19 patients:Clinical and laboratory outcomes Abdullah et al., 2023A prevalência de reações adversas transfusionais foi de 5,7%. Uma menor duração do suporte de oxigênio (mediana: 12 dias vs 14 dias, P = 0,030) e uma menor duração da ventilação mecânica (mediana: 6 dias vs 10 dias, P = 0,048) foram encontradas no grupoPC. Os parâmetros laboratoriais também foram melhorados. 
Reduced Mortality among COVID-19 ICUPatients after Treatment with HemoClearConvalescent Plasma in Suriname Bihariesingh-Sanchit et al., 2023Foram recrutados duzentos pacientes com infecção grave por SARS-CoV-2 que necessitavam de cuidados intensivos. Cinquenta e oito pacientes (29%) receberam tratamento com plasma convalescente (CCP) para COVID-19, além do tratamento padrão (SOC). Os grupos de tratamento com PCC e SOC foram pareados por idade, sexo e escores de gravidade da doença. A mortalidade no grupo de tratamento CCP foi significativamente menor do que no grupo SOC (21% versus39%; teste exato de Fisher P= 0,0133). Demonstra uma melhoria significativa de sobrevivência de 65% em receptores de CCP produzido por HemoClear (HR, 0,35; IC 95%, 0,19 a 0,66; P= 0,001). 

Fonte: Os autores, 2023.

DISCUSSÃO A UTILIZAÇÃO DO PLASMA CONVALESCENTE PARA O TRATAMENTO DA COVID-19

A utilização do plasma convalescente para o tratamento da COVID-19, com o objetivo de reduzir os sintomas e mortalidades, parece ser interessante, já que seu foco principal é prevenir especialmente pessoas de alto risco. No entanto, o que se sabe com estudos realizados e com os que estão sendo desenvolvidos, é que a administração do plasma convalescente contendo o anticorpo neutralizante foi seguida por melhora no estado clínico dos pacientes (BROWN; MCCULLOUGH, 2020; SHEN et al., 2020).

 Em 2020 a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) divulgou as considerações regulatórias sobre a autorização do uso de plasma convalescente (PC) para atender à emergência da COVID-19, apontando resultados preliminares de vários ensaios clínicos tentando comprovar segurança e a eficácia dessa intervenção (OPAS, 2020).

Esses resultados são de alguma forma diferentes do que foram publicados até agora em pacientes hospitalizados com COVID-19 e plasma convalescente; nenhum dos ensaios randomizados dados mostrou um benefício para o plasma em termos de mortalidade.  Existem algumas diferenças entre os estudos e limitações do presente estudo que devem ser destacadas: a primeira é o desenho do estudo não randomizado, que está sujeito a todos os preconceitos inerentes a tal estudo, principalmente viés de seleção; para superar esse problema, repetimos a análise com três subconjuntos diferentes de pacientes aleatórios e os resultados permaneceram os mesmos. (OPAS, et,al; 2020).  

De acordo com Llovera MN e Jimenez MC (2021), ressalta que um outro tipo de tratamento é através do plasma convalescente é uma outra opção para a infecção por SARS-CoV-2, mas que ainda apresenta incertezas na sua utilização, pois estudos observacionais e pequenos ensaios randomizados sugerem melhores resultados em pacientes hospitalizadas com a COVID-19 em estado grave, se o plasma convalescente for administrado no início do curso da doença.

Todavia um outro estudo do ensaio clínico PLACID apontou como resultados principalmente em pacientes hospitalizados com estado moderado, que a administração de plasma convalescente não resultou em uma redução na mortalidade ou progressão para doença grave, embora parecesse melhorar a resolução da falta de ar e fadiga além de ter levado a uma maior conversão negativa do RNA SARS-CoV-2. Com isso, nota-se a importância de mais estudos para chegar a um consenso sobre a utilização do plasma convalescente como opção de tratamento para pacientes com a COVID-19 (LLOVERA MN e JIMÉNEZ MC 2021).

A maioria dos estudos abordam os primeiros achados do uso de Plasma Convalescente (PC) contra Covid-19. Machado et al. (2020) descrevem o caso de pacientes admitidos na UTI após evolução da doença e todos receberam a transfusão de Plasma Convalescente no primeiro dia de internação. Oliveira et al. (2021) relatam que usaram vários protocolos de ensaios clínicos intervencionistas aplicando cerca de 500mL de plasma convalescente (de uma ou mais doações).

Souza, Vieira e Berrêdo (2021) evidenciam a utilização do PC como braço terapêutico, ou seja, em associação com outras terapias farmacológicas. Em termos clínicos, o plasma atua neutralizando o patógeno e, eventualmente, levando à sua erradicação da circulação sanguínea. Assim, em pacientes graves foi identificada taxa de mortalidade em torno de 15%, sendo uma redução de 35% a 50% no geral.

De acordo com os estudos de Xia X et al (2020), cada paciente foi tratado com uma dose de 200 mL de plasma. Da mesma forma, muitos estudos de caso de plasma da COVID-19 usaram um a dois tratamentos de plasma com dosagem de 200 a 300 mL de plasma. Curiosamente, no entanto, os dois estudos que mostrou benefício significativo para a administração de CP no final do O curso da doença COVID-19 também foram os únicos estudos que usaram dosagens variadas de até 1.200 mL de plasma em um estudo, com base sobre o peso e a gravidade da doença dos pacientes (LI L, ZHANG W, HU Y, et al, 2021).

 Logo segundo os autores (Oliveira HP e Souza SP, 2020) ressalta que a pandemia acarretada pelo vírus SARS-CoV-2 agitou o mundo inteiro desde sua descoberta ano de 2019, onde numerosos ambientes ficaram desolados, esferas econômicas, sociais e no âmbito da saúde colocaram a prova as estruturas de cada nação afetada pelo vírus. 

 Ainda não foi possível a criação de um medicamento específico, pela falta de conhecimento com esse novo vírus, porém, há pesquisas que contribuem para possíveis tratamentos e profilaxia com fármacos já existentes no mercado utilizados para tratar outras enfermidades (OLIVEIRA HP e SOUZA SP, 2020).

Em 2021 a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia celular lançou as diretrizes para o uso de plasma convalescente no tratamento de pacientes com covid-19 a partir dos seguintes critérios: pacientes imunossuprimidos (especialmente aqueles tratados com anticorpos monoclonais anti-CD20); pacientes idosos (≥ 60 anos de idade); pacientes com comorbidades: diabetes mellitus, hipertensão arterial, coronariopatia e obesidade; PC com altos títulos de anticorpos neutralizantes (≥ 80) ou DO alta e até 72 horas do início dos sintomas.

 No estudo de Cacilhas et al. (2022) os pacientes que receberam plasma convalescente tiveram menor mortalidade hospitalar do que os pacientes que não receberam plasma (risco relativo (RR) 0,48; intervalo de confiança (IC) de 95% 0,29 a 0,79) e esses resultados foram consistentes após a mudança do subconjunto de pacientes controle. Não houve diferença em relação à internação na UTI entre os grupos (RR=0. 80; IC95%: 0,47 a 1,35). 

Dos 326 pacientes de UTI transfundidos com plasma convalescente, a mortalidade geral foi de 152 (53,3%). Ao comparar grupos sanguíneos e resultados clínicos, foi encontrado um resultado clinicamente significativo. Uma associação clinicamente significativa também foi observada na comparação do desfecho clínico da faixa etária de 18 a 50 anos e de 61 a 70 anos e em pacientes do sexo feminino. O número médio de dias de UTI teve impacto positivo na sobrevida global dos pacientes (CHOWDHRY et al., 2022).

No estudo de Kumar et al. (2023) oito pacientes da UTI receberam plasma no final do curso da infecção por COVID-19 e 3 dias após o tratamento com plasma, as médias do grupo para o escore SOFA (4,86), relação PaO 2 :FiO 2 (302,73), ECG (9,29) e contagem de linfócitos (1,75) melhoraram.

Abdullah et al. (2023) ao compararem grupos de estudos clínicos perceberam uma menor duração do suporte de oxigênio (mediana: 12 dias vs 14 dias, P = 0,030) e uma menor duração da ventilação mecânica (mediana: 6 dias vs 10 dias, P = 0,048) no grupo PC. 

Quanto à redução da mortalidade da Covid-19, Bihariesingh-Sanchit et al. (2023) descrevem que cinquenta e oito pacientes (29%) receberam tratamento com plasma convalescente (CP) para COVID-19, além do tratamento padrão. A mortalidade no grupo de tratamento CP foi significativamente menor do que no grupo SOC (21% versus 39%), demonstrando uma melhoria significativa de sobrevivência de 65% em receptores de Plasma Convalescente (PC).

No estudo de Lai et al. (2014) relata que o plasma convalescente é uma estratégia terapêutica disponível em casos de indisponibilidade de vacinas, medicamentos ou outros tratamentos específicos (como o que ocorre atualmente na pandemia causada pelo SARS-COV-2) porque pode estar rapidamente disponível quando houver um número suficiente de pessoas que se recuperam e podem doar PC contendo imunoglobulina.

 Logo a vacinação ativa, por sua vez, requer a indução de uma resposta imune que leva tempo para se desenvolver e varia de acordo com o receptor da vacina (LAI et al, 2014).

De acordo com os autores Brown, Mccullough ;2020 e Shen et al, 2020.  De tal modo como apresentado em outras patologias de etiologia viral, o uso de plasma convalescente para o tratamento para a COVID-19 parecem ser interessantes e visam reduzir os sintomas e a mortalidade, para prevenir, especialmente, grupos de alto risco. 

No entanto, sabe-se que pelas pesquisas realizadas está sendo desenvolvida tecnologia na qual o estado clínico dos pacientes melhora após a administração de plasma convalescente contendo anticorpos neutralizantes (BROWN, MCCULLOUGH ;2020 e SHEN et al, 2020).

Estudos que avaliam a eficácia da terapia com plasma também priorizam a avaliação da COVID-19 em pacientes gravemente doentes ou com risco de vida, como os ensaios clínicos avançados mencionados. A intervenção da terapia com PC variou muito entre os estudos, sem um consenso sobre o melhor padrão de aplicação de Plasma Convalescente (RECOVERY et al, 2021).

Segundo Recovery et al. (2021) ressalta que na deficiência de um tratamento essencial para pacientes com COVID-19, muitos estudos têm buscado alternativas para tratar os pacientes e melhorar sua defesa imune, como é o caso do uso da terapia com PC. O ensaio de recuperação fornece evidências para apoiar algumas formas de tratamento (por exemplo, dexametasona) e de melhora da imunidade em pacientes em condições críticas, e esse ensaio utiliza a terapia com PC como braço terapêutico.

Todavia os primeiros ensaios clínicos com Plasma Convalescente (PC) que avaliou 103 pacientes com COVID-19 grave e risco de vida (idade mediana de 70 anos) não apontaram significância estatística na melhora clínica após 28 dias ou redução da mortalidade. No entanto, houve evidências de efeitos terapêuticos notáveis e possível atividade antiviral em grupos de pacientes de 60 a 80 anos, no estágio final da evolução da doença, após 14 dias de sintomas, utilizando apenas unidades com títulos de anticorpos muito altos (IgG superior a 1:50) específicos para spike (S) e domínio de ligação ao receptor (RBD). (LI L, ZHANG W, HU Y, et al, 2021).

Segundo Abolghasemi H, (2020) que alguns potenciais efeitos adversos relacionados ao uso de PC podem ser retidos, como o uso de PC livre de antígeno, que pode causar lesão pulmonar aguda relacionada à transfusão (TRALI – transfusão pulmonar aguda relacionada à transfusão), como antígenos leucocitários humanos que protegem o embrião. Em ensaio clínico multicêntrico, o uso de PC não foi permitido em gestantes, visando prevenir a ocorrência de TRALI.

 A transfusão de terapia CP para COVID-19 deve atender a determinadas condições pré-estabelecidas, como a disponibilidade de população doadora já recuperada da doença e capaz de doar soro convalescente; bancos de sangue para processar doações de soro; disponibilidade de testes, incluindo testes sorológicos, para detecção de SARSCoV-2 no soro e testes virológicos para mensurar a neutralização viral; apoio do laboratório de virologia para realização desses exames e padronização da fase e condição do paciente com COVID-19 (CASADAVAL, 2020).

Nos estudos de Altuntas et al. (2020) descreve que, no entanto, existem determinadas questões que necessitam ser visivelmente determinadas para otimizar o tratamento com plasma convalescente, como a eficácia e segurança do tratamento.

De acordo com Antunes et al. (2020) ressalta que o volume ideal de plasma, o número de transfusões, o espaço entre as transfusões, a entrada ideal de anticorpo neutralizante, eficácia dos processos de inativação de patógenos, momento e intervalos de doação ideais. Entretanto, há precisão de estudos prospectivos e randomizados em grande escala sobre o tratamento.  As principais barreiras dos estudos multicêntricos foram o número diminuído de pacientes nos grupos de controle em comparação ao grupo de tratamento, geralmente devido à falta de compatibilidade do grupo sanguíneo do PC e ao uso concomitante ou prévio de outro tratamento (ABOLGHASEMI H, 2020).

De acordo com o autor Joyner MJ (2020), enfatiza que diversa limitação é a falta de protocolos padronizados e treinamento para a equipe do estudo, além de diversidade no monitoramento dos pacientes. Por sua vez, a principal limitação do nosso estudo foi a impossibilidade de realizar uma metanálise, devido à falta de um número robusto de estudos que relataram efeitos terapêuticos conclusivos dessa modalidade, como diminuição dos títulos de SARS-CoV-2. Logo analisaram alguns artigos publicados sobre estudos multicêntricos demonstraram que o PC pode ser uma modalidade terapêutica promissora. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Acredita-se que a COVID-19 por ser considerada uma doença nova apresentou vários métodos terapêuticos na tentativa de cura da doença. Os estudos aqui pesquisados demonstram resultados promissores da terapêutica com Plasma Covalescence ( PC), mas que é necessário mais ensaios clínicos planejados para comprovar eficazmente seu mecanismo de ação, riscos, efeitos adversos e contraindicações, para a curto e longo prazo ser considerada uma terapêutica contra a doença.

Devido aos esforços a nível mundial, atualmente tem vacina para combater a Covid-19, mas é necessário que os cuidados continuem para evitar novas cepas circulantes do vírus e risco de novas infecções.

Embora uma vacina possa estar disponível em breve, devemos considerar. Pode levar algum tempo até que toda a população tenha acesso a estes recursos. Portanto, vale ressaltar que a nova pesquisa seja necessária complementar para as informações obtidas até o momento, principalmente relacionadas à segurança e eficácia da transfusão de plasma convalescente em pacientes com infecção por SARS-CoV-2.

 Atualmente, não há opções terapêuticas confiáveis para pacientes com COVID-19 em estado crítico. Com base nos poucos resultados de dados clínicos multicêntricos consolidados disponíveis, concluímos que os estudos de terapia com plasma convalescente forneceram resultados relevantes em casos graves/críticos de pacientes com COVID-19, reduzindo o tempo de internação, a gravidade da doença e a mortalidade, com baixa frequência de eventos adversos em um número considerável de pacientes. Todavia ressaltamos que seja possível afirmar, de forma conclusiva, qual a real relevância desse tratamento, devido à falta de dados que permitam uma análise estatística robusta, como uma metanálise.

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1 Orientador