A RELAÇÃO ENTRE O ESTRESSE E O DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) EM ALUNOS DO INTERNATO NO CURSO DE MEDICINA DO CESUPA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10067740


Ana Laura da Costa Medeiros
Luciano de Nóvoa Chaves
Marcello Oliveira Santos
Sandro Cavalcante Raiol
Prof. Msc. Jorge Luiz Andrade Coelho1


RESUMO

Introdução: O aumento da frequência e da quantidade de refluxo apresentada caracteriza a DRGE. Os transtornos mais associados à relação entre fatores psicossociais e DRGE são a ansiedade, estresse crônico e depressão. No quesito epidemiológico é a doença benigna mais comum do trato digestivo superior. Ademais, representa causa frequente de abstenção laboral, diminuição da produtividade no trabalho e na qualidade de vida de muitos doentes. Em âmbito nacional, a DRGE acomete cerca de 12% da população, sendo que uma pequena parcela evolui com complicações mais severas, necessitando de investigação e tratamento direcionado. O manejo da DRGE é realizado basicamente com o uso de IBP’s, além de ser necessário reforçar as recomendações sobre modificações do estilo de vida, principalmente para os que possuem fatores de risco associados. Objetivo: Avaliar a influência do estresse relacionado ao desenvolvimento da DRGE em alunos no internato do Curso de Medicina do CESUPA. Método: A ferramenta usada para a coleta de dados na pesquisa foi um questionário acerca do desenvolvimento da sintomatologia da DRGE associado ao estresse no comparativo do período precedente e durante o internato de medicina. O público alvo do trabalho foi o grupo de estudantes do internato de medicina do CESUPA dos semestres 9, 10, 11 e 12. Foram incluídos nesse estudo, as pessoas com idade superior a 18 anos, de ambos os sexos, que estejam cursando o período de internato de medicina no CESUPA. Resultados: foi estabelecido, por meio de gráficos e tabelas, que 67% dos alunos exaltaram o estresse como motivador da DRGE. Além disso, foram identificados 23 novos diagnósticos de DRGE durante o período do internato. Verificou-se também que 21 pessoas de um total de 79, apresentaram exacerbação dos sintomas dispépticos.

Palavras chaves: Doença do refluxo gastroesofágico; Estresse; Estilo de vida

ABSTRACT

Introduction: The increase in the frequency and amount of reflux presented characterizes GERD. The disorders most associated with the relationship between psychosocial factors and GERD are anxiety, chronic stress and depression. In terms of epidemiology, it is the most common benign disease of the upper digestive tract. In addition, it represents a frequent cause of abstention from work, decrease in work productivity and in the quality of life of many patients. Nationally, GERD affects about 12% of the population, with a small portion evolving with more severe complications, requiring investigation and targeted treatment. The management of GERD is basically performed with the use of PPIs, in addition to being necessary to reinforce the recommendations on lifestyle changes, especially for those with associated risk factors. Objective: To evaluate the influence of stress related to the development of GERD in students in the medical school internship at CESUPA. Method: The tool used for data collection in the research was a questionnaire about the development of GERD symptoms associated with stress in the comparison of the previous period and during the medical internship. The target audience of the work was the group of students from the medical internship at CESUPA in semesters 9, 10, 11 and 12. People over 18 years of age, of both sexes, who are attending the period of medical internship at CESUPA. were included in this study. Results: it was established, through graphs and tables, that 67% of the students exalted stress as a motivator of GERD. In addition, 23 new GERD diagnoses were identified during the internship period. It was also found that 21 people out of a total of 79, presented exacerbation of dyspeptic symptoms.

Keywords: Gastroesophageal reflux disease; Stress; Lifestyle

1 INTRODUÇÃO

Na fisiologia básica do trato gastrointestinal, o refluxo gastroesofágico é definido como a volta do conteúdo gástrico para o esôfago, ocorrendo em todos os indivíduos. Entretanto, o aumento da frequência e da quantidade de refluxo apresentada caracteriza a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).¹

Essa enfermidade gera um quadro clínico de pirose e consequente regurgitação. Pode culminar também em sintomatologia extra esofágica, como tosse, laringite, erosão dentária, estomatite aftosa, halitose e raramente asma.²

Adicionalmente, existem sintomas esofágicos que podem ou não estar presentes, fazendo parte das afecções atípicas, sendo estas a plenitude pós-prandial, saciedade precoce, eructação, náuseas, vômito, perda peso e até mesmo dor torácica de origem não coronariana.³

Os sintomas de pirose e refluxo gastroesofágico (RGE) em grande quantidade são a base para o diagnóstico desta patologia, sendo que devem estar presentes pelo menos duas vezes por semana no período mínimo de quatro a oito semanas. Ademais, o diagnóstico também pode ser feito pela prova terapêutica, na qual atesta positivamente quando há redução de mais de 50% dos sintomas após uma a duas semanas de uso de Inibidor de Bomba de Prótons (IBP).

Os transtornos mais associados à relação entre fatores psicossociais e DRGE são a ansiedade, estresse crônico e depressão. Nesse contexto, a gravidade do quadro clínico dessa doença é mais atrelado à condição emocional do que propriamente às anormalidades da função sensório-motora gástrica. ⁴

Apesar disso, os maus hábitos alimentares e a obesidade podem afetar negativamente o desenvolvimento da DRGE, aumentando em até 3 vezes as chances de complicações mais severas, aumentando a produção de ácido gástrico e ocasionando maior refluxo gastroesofágico, o que contribui para uma piora clínica. ⁵

Outros fatores de risco relacionado são: uso crônico antiinflamatórios não- esteroidais (AINEs), etilismo, tabagismo, histórico familiar, sedentarismo, ingesta exagerada de sódio, observando-se que estas condições estão vinculadas, em sua maior parte, ao estilo de vida do paciente e também apresentam fator de gravidade maior quando mais expostos a esses fatores, por exemplo, obesidade grau 3 tem mais propensão para desenvolvimento dos sintomas do que obesos grau 2 e grau 1, sucessivamente. ⁶

No quesito epidemiológico a DRGE é a doença benigna mais comum do trato digestivo superior. Ademais, representa causa frequente de abstenção laboral, diminuição da produtividade no trabalho e na qualidade de vida de muitos doentes e alterações importantes no ciclo do sono, principalmente por apresentarem pirose e RGE noturno. ⁷

Em âmbito nacional, a DRGE acomete cerca de 12% da população brasileira, sendo que uma pequena parcela evolui com complicações mais severas, como o esôfago de Barrett e o adenocarcinoma gástrico, necessitando de investigação e tratamento direcionado. Esses dois agravantes decorrem de um processo crônico das manifestações de DRGE. ⁸

O manejo da DRGE é realizado basicamente com o uso de IBP’s, como omeprazol, pantoprazol e esomeprazol, além de ser necessário reforçar as recomendações sobre modificações do estilo de vida, principalmente para os que possuem os fatores de risco citado anteriormente. Entretanto, caso o tratamento medicamentoso seja descontinuado, há o retorno dos sintomas em cerca de 90% dos pacientes. ⁹

Em casos de refratariedade ao tratamento clínico, é proposto como alternativa terapêutica eficaz e segura, um procedimento cirúrgico chamado de Fundoplicatura Laparoscópica de Nissen (FLN), a qual proporciona menor exposição ao conteúdo ácido do estômago, reduzindo risco de erosão esofágica.¹⁰

1.1 PROBLEMA

Os alunos do internato de medicina do Centro Universitário do Pará (CESUPA) têm ciência da influência da carga de estresse no desenvolvimento da sintomatologia da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) no período final do curso (internato)?

2 JUSTIFICATIVA

É notório que o final do curso de medicina possui uma carga horária e demanda de estudos intensos em relação aos períodos que o precede e esta condição é um agravante para o desenvolvimento de doenças gastrointestinais, em específico a DRGE.

Nesse contexto, é importante avaliar a sintomatologia de cada aluno participante, para que se possa analisar o número de pessoas que desenvolvem ou não a doença, quantificá-las de acordo com o grau dos sintomas e determinar a cronologia do seu aparecimento.

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar a influência do estresse relacionado ao desenvolvimento da DRGE em alunos no internato do Curso de Medicina do CESUPA.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Comparar a sintomatologia da DRGE nos alunos do Centro Universitário do Pará em períodos antes e durante o ingresso no internato da faculdade de Medicina.

Reconhecer a influência do estresse associado à exacerbação dos sintomas relacionados ao DRGE.

Traçar um perfil epidemiológico da DRGE em alunos do CESUPA antes e depois do ingresso ao internato.

4 METODOLOGIA

4.1 DELINEAMENTO DO TRABALHO

O estudo segue um caráter observacional longitudinal e prospectivo e, com isso, foi feita uma análise quantitativa de acordo com as informações obtidas a respeito da ocorrência da DRGE em alunos do internato de medicina do CESUPA. Foram utilizadas as plataformas scielo, Bireme e PUBMED, com um total de 14 diferentes referências, compondo artigos no idioma português e inglês.

4.2 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

A pesquisa foi cadastrada na Plataforma Brasil e submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do CESUPA, respeitando a resolução de N° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), com princípios regidos pelo Código de Nuremberg e de Helsinque. A pesquisa somente foi iniciada após a aprovação no CEP. Foi autorizada previamente pela Pró-Reitora de Graduação e Extensão da faculdade supracitada (apêndice A), e obteu-se o aceite do orientador (apêndice B). Além disso, os autores do trabalho iniciaram a coleta sob assinatura do termo de compromisso de pesquisadores (apêndice C), o qual garante o sigilo e anonimidade destes, assim como o Termo de compromisso dos pesquisadores (TCLE) – (apêndice D).

4.3 COLETA DE DADOS

A ferramenta usada para a coleta de dados na pesquisa foi um questionário composto por 10 perguntas objetivas (anexo 1), algumas de múltipla escolha e outras com duas opções assertivas, acerca do desenvolvimento da sintomatologia da DRGE no comparativo do período precedente e durante o internato de medicina.

Visando as atuais dificuldades impostas pelo período de pandemia e certa impossibilidade da aplicação de um questionário físico, foi utilizado o software do google forms, a fim de uma melhor adesão dos participantes e evitar que dados fossem perdidos.

4.4 LOCAL E PERÍODO DA PESQUISA

A coleta de dados foi realizada em âmbito virtual, com início no dia 09/11/2021 até 15/12/2021, obedecendo respectivamente um momento dentro do período letivo da faculdade.

4.5 PÚBLICO ALVO

Para atingir o objetivo do estudo, o público alvo do trabalho foi composto pelos estudantes de medicina do CESUPA que estão nos semestres 9, 10, 11 e 12, o qual corresponde ao período de internato. O número de alunos que participaram da pesquisa foi de 79.

4.6 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Foram incluídos nesse estudo, as pessoas com idade superior a 18 anos, de ambos os sexos, que estavam cursando o período de internato de medicina no CESUPA. Foram excluídas as pessoas que se recusaram a participar ou discordaram dos termos presentes no TCLE.

4.7 RISCOS E BENEFÍCIOS

O principal risco da pesquisa é a quebra de sigilo em relação às informações coletadas por meio do questionário, que diz respeito às particularidades de cada participante do trabalho. Além disso, há o risco dessas informações serem objetos de análise para a pesquisa de terceiros, sem que haja o consentimento dos pesquisadores. Para isso, foi criado uma conta de email, com o intuito de associá-la ao software a ser utilizado e, após o preenchimento dos alunos, a sequente análise dos dados e a apuração dos resultados, haverá o tempo de espera de 1 ano. Ao final disso, o email e as informações contidas no software serão excluídos.

Em relação aos benefícios, o ponto principal será uma contribuição, tanto para o público-alvo quanto para a comunidade científica, no quesito de maior conhecimento da associação dos níveis de estresse atribuídos ao interno do curso de medicina e o desenvolvimento do quadro clínico de DRGE, visto que a interligação dos dois temas é algo de pouco estudo na literatura. Isso será importante para que sejam feitos planos de ação, no intuito de diminuir a ocorrência dessa situação.

4.8 ANÁLISE DE DADOS

Os dados uma vez coletados, foram tabulados e transformados em gráficos, utilizando o programa Excel, fazendo uma subdivisão do número de casos presentes de DRGE desenvolvidos durante o período de internato dos alunos, fazendo correlações percentuais do total acometido.

A partir daí, com os dados já organizados e selecionados, estes mesmos foram submetidos à análise pelo software Bioestat 5, para estabelecer padrões estatísticos, no que diz respeito à garantia e à acurácia, dando validade ao estudo

O critério utilizado para nortear o desenvolvimento de sintomatologia da DRGE foi o de contemplação de um dos sintomas específicos (pirose ou regurgitação), somado a pelo menos um dos outros sintomas adicionais indagados no questionário (plenitude pós-prandial, disfagia ou tosse seca após alimentação).

É importante ressaltar e lembrar que essa combinação de sintomas não resulta no diagnóstico da enfermidade em questão, porém retrata uma acentuação do desenvolvimento de sintomas dispépticos associados ao início do período do internato.

5 RESULTADOS

Foi realizada uma relação entre os resultados obtidos no gráfico 1, o qual representa a quantidade de alunos que tinham (18) ou não (61) o diagnóstico de DRGE previamente ao internato, e a tabela 1, a qual leva em consideração os 61 alunos que não tinham o diagnóstico prévio, excluindo os que já pertenciam o diagnóstico.

Gráfico 1 – Diagnóstico prévio de DRGE em internos de medicina do Cesupa, 2021

Gráfico 1

Além disso, a tabela 1 também demonstra esses números de maneira categorizada (por semestre), separando as respostas afirmativas e negativas referentes aos sintomas dispépticos desenvolvidos no período após o ingresso no internato, tendo como base o critério norteador citado anteriormente na análise de dados.

Tabela 1

Observa-se, de modo geral, que muitas pessoas tiveram desenvolvimento de sintomas dispépticos após o início do período interno da faculdade, tendo apontado na análise por semestre, que pelo menos 34% dos alunos obtiveram esta resposta positiva.

Outro fator alarmante identificado no estudo e apontado no gráfico 2 evidencia que 53 participantes de um total de 79 perceberam que o estresse imputado na rotina de estudos no período de estágio obrigatório nos anos finais do curso de medicina contribui negativamente no aparecimento dos sintomas da DRGE.

Gráfico 2 – Percepção da influência do estresse vivenciado no internato no desenvolvimento de sintomas dispépticos por parte dos internos de medicina do Cesupa, 2021

Gráfico 2

Foi possível traçar o perfil epidemiológico dos alunos que desenvolveram o diagnóstico de DRGE, comparando dois momentos distintos, o período pré-internato e o período durante internato. Para isso, estabeleceu-se uma relação do gráfico 1 com a tabela 2. Ressalta-se que esse perfil estudado foi baseado no critério diagnóstico que define propriamente a DRGE, o qual se manifesta pela contemplação de pirose e regurgitação de 4-8 semanas, independente da presença de sintomas extras.

Dispondo em uma tabela de contingência e realizando o teste McNemar (tabela 2), concluiu-se que com p-valor <0,05 há discordância nas proporções dos alunos com diagnóstico de DRGE em relação ao período que começaram a manifestar os sintomas. A significância adotada foi a de 5%.

Tabela 2

Desse modo, de todos os alunos que não tinham o diagnóstico pregresso de DRGE (61 pessoas), 23 passaram a se enquadrar em tal diagnóstico ao final da pesquisa, o qual expressa uma grande proporção de alunos (37,7%), dando ênfase à validade estatística do resultado final.

Outro fator analisado no questionário da pesquisa foi o de uso de algum medicamento inibidor de bomba de prótons (IBPs), como mostra o gráfico 3. Obteve-se uma resposta afirmativa de 60 pessoas (equivalente a 75,9%) e negativa de 19 pessoas (24,1%).

Apesar de o número de discentes que tinham o diagnóstico pré-internato, somados aos que desenvolveram durante o internato totalizar um valor de 41 indivíduos, percebe-se que o percentual de estudantes que utilizaram IBP foi maior, inferindo-se que o aparecimento da dispepsia referente ao DRGE nessas 19 pessoas (24%) ocorreu de maneira esporádica e resultou em automedicação por parte das mesmas.

Gráfico 3 – Uso de IBPs durante o internato de medicina do Cesupa, 2021

Gráfico 3

6 DISCUSSÃO

No trabalho, foi demonstrado que a carga de estresse acentuada, devido a uma jornada exaustiva afeta a qualidade de vida desses alunos de medicina, sendo que o desenvolvimento dessa sintomatologia é o notório reflexo de que há uma influência dentro dos aspectos estudados.

Corroborando com a atual pesquisa e estabelecendo uma situação de convergência, o estudo de Meireles et al, 2014, realizado na faculdade de medicina da Universidade Federal de Tocantins (UFT), aponta que 67,5% dos 160 alunos entrevistados que apresentavam pirose, responderam apresentar piora deste sintoma devido a alterações emocionais, sendo o estresse um dos principais fatores predisponentes para tal exacerbação.¹¹

O trabalho realizado por Mendonça et al, 2019, que envolve a perspectiva de saúde e qualidade de vida dos discentes do primeiro até o oitavo semestre de uma faculdade pública, analisa também que os médicos sofrem grande carga no domínio psicológico antes da diplomação. Além disso, sugere que outras pesquisas, principalmente no período final de faculdade (referente ao internato médico), sejam realizadas, a fim de extinguir a escassez na literatura sobre o tema abordado, tendo em vista essa classe estudantil.¹²

Em relação à abordagem do perfil epidemiológico, a análise de Cardoso et al, 2021, em que foram descritos a prevalência de sintomas de DRGE em estudantes do primeiro ao oitavo período do curso de medicina de uma determinada instituição do centro-oeste, demonstrou achados de 41,3% no desenvolvimento de pirose e 31,1% de regurgitação alimentar dentre todos os participantes da pesquisa.¹³

Estabelecendo uma comparação direta com os dados obtidos nesta pesquisa, notam-se achados percentuais muito próximos, ainda que o trabalho de Cardoso tenha uma visão individual sintomatológica e não o diagnóstico da DRGE em si. A validade do estudo se acentua pela proximidade da avaliação estatística em relação ao trabalho anteriormente citado.

Ivo, Pereira e Soares, 2021, avaliaram o uso de IBP em discentes de medicina de uma faculdade de Maringá-PR, e analisaram que houve uma percepção da prevalência de automedicação de IBP’s, visto que mais da metade dos entrevistados da pesquisa não buscou atendimento médico referente aos sintomas gástricos, enquanto 90% fez a utilização dessa classe medicamentosa.¹⁴

Nota-se então que, apesar das discrepâncias quanto aos percentuais de automedicação no comparativo entre a pesquisa do presente trabalho é o de Ivo, Pereira e Soares, ambas apontam para o mesmo sentido, indicando a existência de uma ampla utilização errônea desse medicamento, sobrepondo à primeira linha de tratamento, as quais seriam as medidas comportamentais (não-medicamentosas).

7 CONCLUSÃO

Foi possível alcançar importantes dados acerca do tema abordado na pesquisa. Evidenciou-se uma grande relação a respeito da intersecção presente no estudo, a qual associa o estresse ao desenvolvimento do DRGE.

De maneira geral, o estresse tem efetividade importante na DRGE, visto que o aumento da carga adrenérgica causa importantes efeitos negativos no trato gastrointestinal, envolvendo alteração na produção ácida estomacal e consequente alteração de motilidade. Isso desencadeia o desenvolvimento dos dois principais sintomas da patologia em questão, o refluxo gastroesofágico e a pirose.

Existem vários graus de associação e manifestação de DRGE apresentados individualmente. Alguns alunos apresentaram intensificações mais brandas, manifestando somente um sintoma extraesofágico adicional ao final da pesquisa. Entretanto, outros alunos tiveram três sintomas adicionais, configurando uma piora importante da manifestação da DRGE.

Um empecilho para a maior variedade de comparações positivas e negativas com a presente pesquisa é o fato de existir escassez acerca do tema principal proposto, visto que o estudo foi pioneiro, pois se baseou em critérios clínicos embasados para fechar o diagnóstico de DRGE, enquanto as demais pesquisas da literatura se baseiam em achados clínicos que não fecham diagnóstico da patologia.

Além disso, o grupo específico abordado na pesquisa dos autores também teve um caráter de exclusividade, pois não existem outros trabalhos referentes à classe estudantil dos internos, mas sim utilizando acadêmicos de medicina no geral.

Dessa forma, foi de grande importância analisar que tanto o perfil epidemiológico, a sintomatologia do DRGE, os sintomas atípicos da patologia e o uso de medicamento a fim de tratá-la, apontam para algo mais esclarecedor quando nos referimos à tal tema, pois muitos destes dados convergiram com a literatura e, mais do que isso, comprovaram uma linha de raciocínio, demonstrando que há sim uma relação expressiva entre o momento vivenciado pelos internos de medicina e o diagnóstico de DRGE. Ainda, é possível observar também que a ocorrência de exacerbação  e  desenvolvimento  de  DRGE  se  deu  majoritariamente  nos  semestres correspondentes ao início do internato (9º e 10°)

Ademais, foi observado que grande parte das pessoas submetidas à pesquisa apresentaram não somente essas novas sintomatologias, mas também tiveram desenvolvimento de sintomas extraesofágicos ou atípicos, o que demonstra um grau de exacerbação durante todo o período do internato.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. PARRON, RODOLFO; TIYO, ROGERIO; ARANTES, VINICIUS PEREIRA. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO PARA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO DRGE: UMA REVISÃO DE LITERATURA. REVISTA UNINGÁ REVIEW, v. 29, n. 3, 2017.
  2. SANTOS, Taila Melo dos. Método de seguimento farmacoterapêutico para pacientes portadores de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). 2019.
  3. BINGANA, Rudy Diavila. Proteção tópica in vitro da mucosa esofágica de pacientes com doença do refluxo gastroesofágico usando a “goma do angico”, um biopolímero de Anadenanthera colubrina. 2020.
  4. OLIVEIRA, Cristiane Mota. Protocolo de diagnóstico e tratamento da síndrome dispéptica relacionada ao estresse em militares. 2020.
  5. RIBEIRO, Marcelo. Eixo cérebro-esôfago em obesos e não obesos e suas relações com sintomas sugestivos de DRGE, imagem por ressonância magnética funcional do cérebro, impedanciometria basal do esôfago e distribuição da gordura abdominal. 2020.
  6. ALKHATHAMI, Ali Mesfer et al. Risk factors for gastroesophageal reflux disease in Saudi Arabia. Gastroenterology research, v. 10, n. 5, p. 294, 2017.
  7. DIAS, Diana Isabel Nunes. DRGE em cantores. 2019. Tese de Doutorado.
  1. DE FREITAS, Alexandre Coutinho Teixeira et al. EFEITO DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL NO TRATAMENTO CIRÚRGICO DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO. Revista Médica da UFPR, v. 4, n. 3, p. 117-122, 2017.
  1. AZZAM, Rimon Sobhi. Are the persistent symptoms to proton pump inhibitor therapy due to refractory gastroesophageal reflux disease or to other disorders?. Arquivos de gastroenterologia, v. 55, p. 85-91, 2018.
  1. FALCÃO, Angela M. et al. Does the nissen fundoplication procedure improve esophageal dysmotility in patients with barrett’s esophagus?. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 47, 2020.
  2. DE SOUZA MEIRELES, Laís et al. Prevalência e fatores agravantes do sintoma de refluxogastroesofá gico em estudantes de medicina da Universidade Federal do Tocantins. Sci. med, 2014.
  3. MENDONÇA, Angela Maria Moreira Canuto et al. Perspectiva dos Discentes de Medicina de uma Universidade Pública sobre Saúde e Qualidade de Vida. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 43, p. 228-235, 2020.
  4. CARDOSO, Thais Carolina Alves et al. Prevalência de sintomas de refluxo gastroesofágico e o impacto na qualidade de vida em estudantes de Medicina em uma Instituição de Ensino Superior do Centro-Oeste. Research, Society and Development, v. 10, n. 14, p. e392101421899-e392101421899, 2021.
  5. IVO, Sarah Elisa Daher; PEREIRA, Aline Monteiro; SOARES, Lilian Capelari. Uso de inibidores de bomba de prótons entre estudantes de medicina de uma instituição de ensino superior de Maringá-PR e as consequências à curto e longo prazo. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 9, p. 88402-88426, 2021.

1 Orientador