UMA ANÁLISE NA CONTABILIDADE GERENCIAL DAS PEQUENAS EMPRESAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

AN ANALYSIS IN MANAGEMENT ACCOUNTING OF SMALL BUSINESSES DURING THE PANDEMIC OF COVID-19 

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10059508


Andriele Lorena Varjão Ferreira
Dionísio Lima de Oliveira
Lucas Augusto Penha de Souza
Thiago Matos Saltão


RESUMO

A finalidade desta pesquisa foi de analisar a mudanças da contabilidade gerencial nas pequenas empresas durante a pandemia causada pelo vírus SARS-Cov-2 (Covid-19). Nesse âmbito, o estudo foi baseado por meio de resultados coletados em uma pesquisa qualitativa, e para levantamento de dados foram usadas entrevistas por telefonema com pequenos empresários localizados na cidade de Manaus/AM. Após análise de resultados, observou-se que as alternativas mais utilizadas pelas pequenas empresas, como maneira de enfrentamento à crise financeira causada pela pandemia foram os serviços de vendas on-line através de aplicativos de mensagem para smartphone, a utilização do delivery para entrega de produtos vendidos e o constante uso das redes sociais no intuito de atrair clientes através de divulgações em seus respectivos canais de comunicação nas redes sociais. Os pequenos empresários foram os mais penalizados com as restrições do comercio editadas pelo governo, foi relatado uma crescente formalização de pedidos de demissões e o principal problema identificado foi a gestão de custos fixos, como: aluguel, água e energia. O setor de serviço foi o mais afetado, destacando-se academias, restaurantes, bares e entretenimentos. Através da análise, constata-se que parte dos pequenos empresários não possuía domínio em relação à gestão financeira e encontravam dificuldades no gerenciamento dos seus negócios.

Palavras chave: Enfrentamento à crise financeira, pequenos empresários, gerenciamento.

ABSTRACT 

The purpose of this research was to analyze the changes of management accounting in small businessmen during the pandemic caused by the virus SARS-Cov-2 (Covid-19). In this field, the study was based through collected results in a qualitative research, and for data collection interviews by call were used with small businessmen located in the city of Manaus/AM. After analyzing the results, it was observed that the most used alternatives by small businesses as a way to face the financial crisis caused by the pandemic, were the services of online sales through messaging apps for smartphone, the use of delivery for delivery of products sold and the constant use of social networks in order to attract customers through disclosures in their respective communication channels on the social networks. The small entrepreneurs were the most penalized with trade restrictions edited by the government, was reported a crescent formalization of layoff requests and the main problem identified it was the management of fixed costs, how: rent, water, energy. The service sector was the most affected, standing out gyms, restaurants, bars and amusement. Through analysis, it appears that part of the small entrepreneurs didn’t own domain in relation to financial management and they found difficulties in management of your business.

Key-words: Coping with the financial crisis, small businessmen, management. 

INTRODUÇÃO

A crise financeira e econômica ocasionada pela pandemia teve reflexo negativo a nível global, uma vez que muitas empresas encerraram totalmente suas atividades, outras apresentaram extrema dificuldade em manter o pleno funcionamento. De acordo com Pinheiro (2020), uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sinaliza que a Covid-19 impactou mais fortemente segmentos que, para realização de suas atividades, não podem prescindir o contato pessoal, têm baixa produtividade e são intensivos em trabalho como os serviços prestados às famílias. Entre os segmentos, destacam-se bares, restaurantes, hospedagens e construção. 

As recomendações de segurança como alternativas de enfretamento a proliferação do vírus impuseram mudanças radicais e impactos sentidos por todos, devido ao distanciamento social, quarentena e delimitação da capacidade interna de pessoas em ambientes comerciais. Foi necessária uma adequação à distância, tais como uso de ferramentas de ambientes virtuais e a utilização de ferramentais digitais para atividades empresariais de maneira geral. Consquentemente houve um retorno desfavorável para as empresas, uma vez que as ofertas e demandas de bens e serviços reduziram internacionalmente por conta da crise sanitária.

A contabilidade gerencial funciona como maneira de escape para as empresas sobrepujar-se à crise, uma vez que, com as informações financeiras e contábeis, as referidas empresas obtém orientação técnica para o direcionamento estratégico em diferentes cenários amostrados. Nesse âmbito, a contabilidade fornece informações relevantes aos empresários, mantendo-se como ferramenta de gestão imprescindível na organização, fornecendo ao gestor segurança em suas decisões.

Diante do cenário pandêmico, tornou-se cada vez mais imprescindível a utilização da informação contábil para tomada de decisão, o empresário e o profissional contábil precisam caminhar em simultaneidade para o perfeito andamento do pequeno negócio.

Diante deste contexto, este estudo apresenta o seguinte questionamento: quais mudanças, na forma de gestão, foram sofridas pelas pequenas empresas durante a pandemia de Covid-19? A finalidade desta pesquisa foi de analisar as mudanças da contabilidade gerencial nas pequenas empresas durante a pandemia causada pelo vírus SARS-Cov-2 (Covid-19). 

Esta pesquisa apresenta relevância porque mesmo diante do avanço da tecnologia e das mudanças na profissão contábil, a contabilidade gerencial, como ferramenta de gestão, adquiriu espaço no cenário empresarial. Uma vez que, através das informações contábeis, o empresário é capaz de ter segurança na tomada de decisão, e dependendo do fato observado, consegue promover melhorias no processo de gestão em meio à crise.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A Relação da Pequena Empresa e a Pandemia

De acordo com o Art. 3° da Lei Complementar n° 123, de 14 de dezembro de 2006, as micro e pequenas empresas são classificadas conforme o faturamento anual. No caso, para ser considerada microempresa, é necessário auferir, no ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00. Por outro lado, para ser considerada empresa de pequeno porte, é necessário auferir, no ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00.

Os pequenos negócios empresariais são formados pelas micro e pequenas empresas (MPE) e pelos microempreendedores individuais (MEI). No Brasil existem 6,4 milhões de estabelecimentos. Desse total, 99% são micro e pequenas empresas (MPE)

Somente no ano de 2021, o número de novos micros e pequenos negócios cresceu cerca de 30%. Esse crescimento já é o maior desde 2018. De acordo com dados publicados pelo governo federal, 3.782.437 novas empresas surgiram somente neste ano. Uma pesquisa feita pelo SEBRAE, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que um dos setores que mais se destacou foi o de tecnologia e a motivação para esse destaque, de acordo com a pesquisa, foi a necessidade de digitalização dessas empresas ao longo da pandemia. Os dados revelam que 7 em cada 10 empresas migraram para o mundo digital.

Para Rissete (2021) mesmo com a volta do presencial, o digital continua sendo importante. Seja como canal de promoção, de divulgação, de exposição e de comercialização. Essa tendência leva o pequeno negócio a se diferenciar por meio da reputação e exposição na internet. A combinação entre o ambiente físico e digital é fundamental para que os pequenos negócios se destaquem e estejam sempre à frente dos demais.

De acordo com pesquisa realizada pelo IBGE, em parceria com o PULSO EMPRESA, cerca de 28,6% das empresas em funcionamento alteraram o método de entrega de produtos ou serviços, incluindo a mudança para serviços online, e cerca de 93,1% realizaram campanhas de informação e prevenção, e adotaram medidas extras de higiene.

Uma pesquisa realizada pelo IBGE, em 2021, observou um universo de 17,4 milhões de pequenos negócios espalhados pelo país, o resultado da pesquisa revelou que o aumento dos custos (insumos, mercadorias, combustível, aluguel e energia) é o que mais tem dificultado as empresas voltarem a situação financeira que tinham antes da pandemia. A maioria dos empresários adotou alguma medida para tentar diminuir o custo de energia elétrica. 

2.2 A Contabilidade Gerencial na Gestão da Pequena Empresa

De acordo com Vitor Torres (2022), a contabilidade gerencial é uma área em que os contadores atuam de maneira mais colaborativa na gestão empresarial, utilizando dados financeiros para produzir relatórios que auxiliam no processo de tomada de decisão. O contador gerencial fornece informações mais completas ao empreendedor sobre a situação financeira, as perspectivas e as oportunidades para a empresa. Assim, diferentemente do modelo mais tradicional, que produz documentos que serão entregues aos órgãos públicos, o contador gerencial cria relatórios que serão utilizados internamente.

Na gestão de empresas, a contabilidade gerencial funciona como uma forma de driblar a crise, pois apresenta as melhores alternativas em relação aos custos de sua produção, assim como outras possibilidades de otimizar operações, atividades e até departamentos inteiros, o que poderá ser decisivo para manter a competitividade. O contador vai providenciar informações sobre todos os aspectos de geração de resultado, além de possíveis alternativas para aumentá-lo, ou, ainda, novas possibilidades para que a empresa permaneça em destaque no mercado. (BLB BRASIL, AUDITORIA, CONSULTORIA E EDUCAÇÃO, 2016).

2.3 Vantagens do pequeno negócio

As pequenas empresas representam ¼ um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o que corresponde aproximadamente em 27% do PIB, e esse resultado apresenta uma constante evolução nos últimos anos. Os dados foram revelados em 2017, pelo presidente do Sebrae, a época, Luiz Barretto. Em valores absolutos a produção gerada pelas micros e pequenas empresas quadriplicou em dez anos, saltando de 144 bilhões para 599 bilhões. 

As micro e pequenas empresas são as principais geradoras de riqueza no Comércio no Brasil, já que respondem por 53,4% do PIB deste setor. No PIB da Indústria, a participação das micro e pequenas (22,5%) já se aproxima das médias empresas (24,5%).

Além disso, no setor de serviços, mais de um terço da produção nacional (36,3%) vem de pequenas empresas. Esses números mostram a importância de incentivar as pessoas a iniciarem pequenos negócios e se qualificarem para pequenos negócios, incluindo microempreendedores individuais. Isoladamente, uma empresa não representa muito. Mas juntos eles são decisivos para a economia. Além disso, vale lembrar que as pequenas empresas também empregam 52% da força de trabalho formal do país e respondem por 40% da massa salarial brasileira.

Os principais motivos para o bom desempenho dos pequenos negócios na economia brasileira são a melhoria do ambiente de negócios, em especial após a criação do Simples Nacional. Este é um regime tributário diferenciado que contempla empresas com receita bruta anual de até R$ 4,8 milhões. Ele foi lançado no dia 30 de junho de 2007 para descomplicar a vida dos empresários de pequenas empresas. Esses fatores têm motivado o brasileiro a empreender por oportunidade e não mais por necessidade. 

A flexibilidade é maior para o funcionário da pequena empresa, o mesmo acaba por envolver-se em várias áreas de atuação no negócio e, simultaneamente, diversos projetos internos. Esse tipo de questão permite adquirir uma experiência enriquecedora e competências em diversos departamentos.

Em muitos casos, acontece que nas pequenas empresas as pessoas têm mais responsabilidades desde cedo. Da mesma forma, a progressão na carreira poderá ser mais acelerada do que no padrão normal das empresas maiores. Apesar de o ritmo de trabalho ser, em muitos dos casos, maior numa pequena empresa, a proximidade entre as pessoas permite manter com mais facilidade o equilíbrio entre a vida pessoal e a carreira.

A relação de pessoas satisfeitas com o seu emprego é bastante superior nas empresas com menos de 100 colaboradores, quando comparada com as grandes empresas. Enquanto que nas grandes empresas os trabalhadores são, muitas vezes, vistos como mais um número, nas pequenas existe um maior reconhecimento do valor individual de cada colaborador.

Diversos estudos confirmam que a taxa de rotatividade tem uma relação proporcional à dimensão da empresa, sendo significativamente mais baixa nas pequenas empresas. Existindo, portanto, uma maior facilidade de comunicação interna. O fato de existir uma maior proximidade se traduz numa maior abertura para expressar e ouvir as opiniões de cada um.

Devido dimensão mais reduzida, estas empresas não estão, normalmente, tão presas a processos burocráticos e formalidades desnecessárias, o que as torna mais ágeis e facilita o acompanhamento das tendências de mercado.

O fato de as pessoas se conhecerem melhor e terem um relacionamento mais próximo, torna o ambiente nestas empresas muito mais agradável, estimulando o funcionamento das equipes para um fim comum.

A interação entre pessoas de posições hierárquicas diferentes surge de forma mais natural. Não é raro, numa empresa pequena, que todos os colaboradores se conheçam pelo nome. Pela melhor comunicação e proximidade hierárquica, os colaboradores têm um maior impacto na organização e é mais provável verem as suas ideias postas em prática.

Um profissional que trabalha numa pequena empresa consegue mais facilmente ter uma visão global do que é o negócio, ao contrário do que acontece por regra numa grande empresa onde podem existir várias ramificações do negócio principal.

MÉTODO DE PESQUISA

A presente pesquisa possui natureza aplicada, pois objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigida a soluções de problemas específicos. Quanto à forma de abordagem, possui natureza qualitativa, uma vez que considera a relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito. É descritiva, quanto aos seus objetivos, pois descreve características de determinada população ou fenômeno, estabelecendo relações entre as variáveis, tendendo a analisar os dados indutivamente.

No que se refere ao escopo da amostra, fora realizado entrevistas com pequenos empresários localizados na cidade de Manaus/AM, todos contatados por ligação, o principal objetivo da entrevista é identificar as diferentes percepções no que diz respeito à importância da contabilidade gerencial como ferramenta de gestão durante a pandemia da Covid-19.

Ao todo, foram selecionadas 8 pequenas empresas, dos setores de comércio e serviço, entre eles: materiais de construção, academias de ginástica e dança, bares e restaurantes,  entretenimentos – produção de evento.  Todas aceitaram participar da entrevista, a qual durou, em média, 15minutos.

EMPRESAS PARTICIPANTES
SetorAtividadeEmpresaFerramentaTempo de duração
ComércioMaterial de Construção01Ligação14 minutos e 47 segundos
ComércioMaterial de Construção02Ligação17 minutos e 04 segundos
ComércioBar e Restaurante03Ligação16 minutos e 34 segundos
ComércioBar e Restaurante04Ligação13 minutos e 09 segundos
ServiçosAcademias05Ligação14 minutos e 12 segundos
ServiçosAcademias06Ligação15 minutos e 23 segundos
ServiçosEntretenimento – Eventos07Ligação16 minutos e 12 segundos
ServiçosEntretenimento – Eventos08Ligação12 minutos e 49 segundos

    Fonte: Dados da pesquisa

As entrevistas foram realizadas no mês de julho de 2023, e para não identificar os representantes das empresas, passou-se a nomeá-los em ordem numérica, conforme o quadro acima. Foi utilizado um roteiro previamente elaborado pelos autores, contendo 10 perguntas, relacionando as medidas adotadas pela empresa durante a pandemia, o fechamento do comércio não essencial, as informações contábeis, contabilidade gerencial, as mudanças e adaptações do trabalho e a gestão da empresa. 

Medidas adotadas pela empresa
1. Em meio à crise sanitária causada pelo Covid-19, quais foram medidas adotadas por sua empresa para continuidade das atividades?
Fechamento do comercio não essencial – Quarentena
2. Quais foram as maiores dificuldades encontradas durante o fechamento do comércio não essencial?
Informações Contábeis – contabilidade gerencial
3. Você utiliza as informações contábeis para gerenciar as tomadas de decisões do seu negócio?
4. Se sim, em algum momento você encontrou dificuldade na interpretação da informação contábil?
Mudanças e adaptações do trabalho
5. Em sua opinião, quais foram as principais mudanças, na gestão da empresa, durante a pandemia?
6. Lançou ou passou a comercializar novos produtos ou serviços?
Gestão da empresa
7. Você conseguiu manter-se adimplente com todas as suas obrigações?
8. Se não, o que você abriu mão de pagar por conta da pandemia?
9. Você precisou demitir algum funcionário?
10. As mudanças impostas pela pandemia mudaram a forma de gerenciamento da empresa?

  Fonte: Dados da pesquisa

 RESULTADOS DA ANÁLISE

Observou-se por meio da pesquisa, que os empresários buscaram meios digitais para continuidade das atividades durante a crise causada pelo Covid-19, o empresário 03 por exemplo, acrescentou que não vendia online antes da pandemia, no entanto com o decorrer das restrições causadas pela proliferação do vírus, passou a vender refeições online, e deu tão certo que atualmente a empresa vende mais por delivery do que no balcão ou para consumo no estabelecimento. O empresário 04 julgou que a principal medida adotada para continuidade das atividades foi a utilização das redes sociais da empresa, ele afirmou, inclusive, que mantém um contrato com uma blogueira local para divulgação do seu restaurante, atualmente cerca de 70% da clientela acompanha diretamente as redes sociais do empreendimento. Por outro lado, as duas empresas do ramo de entretenimento, voltadas para realização de eventos, afirmaram que não tinham o que fazer para continuar as atividades, viram-se obrigadas a parar totalmente o funcionamento por conta de decretos do governo. O empresário 07 relatou que a agenda da empresa ficou um caos, todos os eventos foram remarcados e que muitos clientes desistiram no meio do contrato. 

A maior dificuldade encontrada durante o fechamento do comércio não essencial foi a gestão de custos fixos. O empresário 02 afirmou que o 1° trimestre de 2021 foi um pesadelo, as vendas despencaram, ele deixou de cumprir com quase todas as suas obrigações, acrescentou que não conseguia pagar a luz e água do estabelecimento, tampouco o aluguel, o dinheiro que entrava mal dava para pagar funcionário, comprar alimentação para sobreviver e etc. Afirma que precisou emprestar dinheiro de familiares, o que levou aproximadamente 1 ano para quitar essa dívida. 

Além da gestão de custos fixos, outra dificuldade encontrada durante o fechamento do comércio não essencial foi em relação ao pagamento de funcionários, os empresários 2 e 3 afirmaram que fizeram acordos com seus funcionários, pois não tinham condições de mantê-los em quarentena com seus respectivos salários. Por outro lado, o empresário 05 afirmou que não encontrou muito problema com o fechamento do comercio não essencial, pois sua academia funcionava no térreo de sua residência, e o estabelecimento já se encontrava fechado antes das publicações dos decretos, pois sempre pensou em sua própria segurança e de seus familiares, complementou ainda que exerce a função professor de uma escola técnica do estado, durante o pico da doença, o mesmo afirmou que teve condições de viver somente com seu salário de professor.

Todos os empresários afirmaram que utilizam as informações contábeis para tomada de decisões no negócio, o empresário 08 afirmou que o contador é seu filho, por esse motivo, o mesmo está diretamente ligado nas decisões, afirmou ainda que recentemente, por meio da contabilidade, conseguiu financiar um capital de giro para compra de móveis/utensílios do escritório. O empresário 01 afirmou que acompanha de perto a contabilidade da empresa, apesar de não entender muita coisa afirmou que confia no trabalho do escritório contábil contratado, e foi por intermédio de tal serviço que conseguiu parcelar uma dívida antiga na Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. 

Os empresários 01, 02, 03, 05 e 07 afirmaram encontrar dificuldades na interpretação das informações contábeis, que as utilizam apenas com a orientação do contador, o empresário 02 completou que tem dificuldade até em manusear o aparelho celular e computador, pelo fato de possuir uma idade avançada. 

As principais mudanças identificadas na gestão de empresa, durante a pandemia, foram as adaptações frente às incertezas e a utilização do meio digital como forma de continuidade das atividades. Com a recomendação de fechamento do comércio não essencial, os empresários foram obrigados a se adaptar ao novo normal, o empresário 02 acrescentou que funcionou de maneira clandestina, matinha as portas fechadas, mas atendia a clientela local com todo cuidado necessário para não contaminação do vírus, muitos clientes o avisavam antes que estavam chegando, então ele descia a porta para vender seus produtos.

Mesmo com toda incerteza, foi necessário lançar novos produtos e serviços para conseguir continuar em atividade, o empresário 01 afirmou que passou a oferecer o serviço de entrega grátis em toda cidade para compras acima de R$ 500,00. Ele disse que, para isso, teve toda uma gestão de preço das suas mercadorias, aumentou em 5% o preço de venda, o que era imperceptível ao consumidor final, pois precisava pagar o entregador para fazer esse serviço. Como normalmente eram compras em grande volume, as quais exigiam conferências, carga e descarga, era necessário um planejamento de logística antes, o entregador mantinha o seu caminhão baú à disposição para agendamento de horário. A maioria das compras eram entregues no dia seguinte, quando não tinha condições, em até 48hrs estava saindo do pátio. 

O empresário 01 acrescentou ainda, que passou a vender um novo produto, em determinado momento houve uma escassez do álcool em gel no mercado local, e que por meio disso, o seu amigo pessoal, proprietário de uma fábrica de vinagre, passou a industrializar o produto e lhe ofereceu 200 unidades para vender em sua loja, foi um sucesso, o estoque do produto foi vendido em 15 dias. 

Com a redução das vendas e fechamento do comércio não essencial foi bem difícil manter-se adimplente com as obrigações. Os empresários precisaram decidir o que seria pago de acordo com sua prioridade. Contas como água, luz e empréstimos bancários ficaram sem atenção. A principal despesa era a com pessoal, os empresários afirmaram que a maior prioridade era o pagamento dos funcionários. O empresário 02 afirmou, inclusive, que precisou fazer empréstimo para continuar adimplente com essa obrigação. Os empresários 06 e 08 relataram que tiveram funcionários vítimas da doença. O empresário 06 afirmou que todos seus funcionários eram MEIs, e na época, tinham 02 estagiários, ou seja, nunca houve vínculo empregatício. Não teve demissão formal, eles eram pagos por hora trabalhada. 

As mudanças impostas pela pandemia mudaram a forma de gestão das empresas, os empresários precisaram se acostumar com o novo normal: vendas online, delivery, home office, distanciamento social, etc. O empresário 08 afirmou que antes da pandemia, a empresa funcionava por um escritório, no entanto não conseguiram manter o mesmo, hoje em dia eles trabalham em casa, e quando precisam marcar reunião, alugam uma sala para receber seus clientes.

CONCLUSÕES

A contabilidade gerencial é uma fonte geradora de informações extremamente indispensáveis para gestão da pequena empresa em todos os momentos, de maneira objetiva, com a pandemia da covid-19, mostrou-se cada vez mais essencial a sua consideração como ferramenta de apoio quanto ao gerenciamento do negócio e tomadas de decisões.

Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa foi alcançado, uma vez que, buscou-se investigar a relação das informações contábeis gerenciais e a tomada de decisões dos gestores de pequenas empresas no momento da crise financeira e sanitária causada pela proliferação do vírus Covid-19. Constatou-se que os entrevistados consideram a informação contábil gerencial com extrema importância no processo decisório em geral, apesar de alguns possuírem dificuldades quanto à interpretação. 

Percebeu-se que, embora soubessem a relevância das informações contábeis gerenciais no cotidiano, para a gestão do empreendimento, a grande maioria dos empresários não as considera de fato, por desconhecerem como utilizá-las. Com o agravamento da pandemia, verificou-se que as alternativas mais utilizadas pelas pequenas empresas, como maneira de enfrentamento à crise, foram os serviços de vendas on-line através de aplicativos de mensagem para smartphone, a utilização do delivery para entrega de produtos vendidos e o constante uso das redes sociais no intuito de atrair novos clientes através de divulgações em seus respectivos canais de comunicação. 

Como limitadores, considera-se a maneira das entrevistas através da ligação, uma vez que, por contato pessoal, captam-se outras nuances nas considerações dos entrevistados. Percebe-se que as respostas apresentadas durante o diálogo, referem-se a fatos vivenciados pela empresa, ou seja, um reflexo da realidade local de uma cidade localizada no norte do Brasil, não podendo, portanto, ser considerada de maneira geral para outras regiões do país.

REFERÊNCIAS

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