PANORAMA EPIDEMIOLÓGICO DE DIARREIA E GASTROENTERITES EM CRIANÇAS NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS NO MARANHÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10052179


Fábio Fernandes Garcês1


Resumo 

Objetivo: investigar o panorama epidemiológico de diarreia e gastroenterites em crianças nos últimos cinco anos no Estado do Maranhão. Método: Estudo descritivo e retrospectivo com dados do estudo foram extraídos através do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), através do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), no período de 2018 a 2022. Resultados: Entre os anos de 2018 a 2022, foram totalizadas 31.431 de casos de internações hospitalares devido a diarreia e gastroenterite no Estado do Maranhão em menores de 15 anos, sendo que o ano de 2018 apresentou maior prevalência (n= 7.441). Com relação a caracterização dos casos, observou-se que a maioria estava com idade entre 1 a 4 anos (13,8%), do sexo masculino (52,3%)  e de cor parda (67,8%). Referente aos dias de permanência de internação hospitalar, observou-se que entre os anos pesquisados, a média foi de 2,7 dias. Quanto ao óbito, observou-se um total de 16 óbitos, sendo que o ano de 2019 teve mais casos. Ao analisar a média de taxa de mortalidade com relação à média, verificou-se que os maiores picos ocorreram nos anos de 2019 (0,11) e 2022 (0,06). Conclusão: Conclui-se o estudo proporcionou uma visão sobre o panorama do Maranhão de diarreia e gastroenterite, contribuindo para um melhor manejo da doença no Estado. 

Palavras-chaves: Diarreia. Gastroenterites. Epidemiológico. Crianças. 

Abstract 

Objective: to investigate the epidemiological panorama of diarrhea and gastroenteritis in children in the last five years in the State of Maranhão. Method: Descriptive and retrospective study with study data were extracted through the SUS IT Department (DATASUS), through the Hospital Information System (SIH), in the period from 2018 to 2022. Results: Between the years 2018 to 2022, There were a total of 31,431 cases of hospital admissions due to diarrhea and gastroenteritis in the State of Maranhão in children under 15 years of age, with the year 2018 showing a higher prevalence (n= 7,441). Regarding the characterization of the cases, it was observed that the majority were aged between 1 and 4 years (13.8%), male (52.3%) and brown (67.8%). Regarding the days of hospital stay, it was observed that among the years researched, the average was 2.7 days. As for deaths, a total of 16 deaths were observed, with 2019 having more cases. When analyzing the average mortality rate in relation to the average, it was found that the biggest peaks occurred in the years 2019 (0.11) and 2022 (0.06). Conclusion: In conclusion, the study provided an insight into the panorama of diarrhea and gastroenteritis in Maranhão, contributing to better management of the disease in the State. 

Keywords: Diarrhea. Gastroenteritis. Epidemiological. Children.

1 INTRODUÇÃO 

As doenças diarreicas de origem infecciosa presumível apresentam agentes etiológicos múltiplos, como vírus, bactérias e parasitas, e consistem em um quadro sindrômico, com tempo inferior a 14 dias e esses pacientes podem apresentar desnutrição e desidratação, representado as principais causas de óbito e acontecem por causa da perda de apetite e pelo aumento da perda de água, de eletrólitos e de nutrientes (BATISTA; ABRANTES, 2020). 

Patógenos virais foram responsáveis por 93% dos casos entre crianças menores de 5 anos hospitalizadas, com rotavírus representando 47%, norovírus 29% e adenovírus 14%. Bactérias como Shigella, Salmonella, Campylobacter e enterotoxigênicas E. coli são agentes causadores em 10–20% dos casos. Bactérias anaeróbicas podem causar diarreia mediada por toxinas. Lactentes e crianças pequenas são especialmente vulneráveis devido à sua alta necessidade diária de fluidos de 100 a 160 mL por quilograma de peso corporal (FLOREZ et al., 2020). 

A gastroenterite infecciosa aguda é diagnosticada clinicamente. Suas principais manifestações são número elevado de evacuações e do volume de fluido fecal, às vezes acompanhada de vômitos ou febre. Os principais elementos do diagnóstico diferencial em crianças são outras doenças infecciosas (por exemplo, [uro-]sepse, pneumonia, meningite), distúrbios metabólicos, obstrução intestinal e, em escolares, apendicite (POSOVSZKY et al., 2020). 

Referente os fatores de risco para o aumento da morbimortalidade infantil por essas doenças estão associados a pobreza, o baixo nível de escolaridade dos pais/responsáveis, as condições precárias ou ausência ou precários serviços de saneamento, a prematuridade, o desmame precoce e a desnutrição (BATISTA; ABRANTES, 2020). 

Diante do exposto, este estudo objetivou investigar o panorama epidemiológico de diarreia e gastroenterites em crianças nos últimos cinco anos no Estado do Maranhão.  

2 MÉTODO 

Realizou-se um estudo descritivo e retrospectivo com dados do estudo foram extraídos através do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), através do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), no período de 2018 a 2022. As variáveis utilizadas no presente estudo foram: número de internação hospitalar, faixa etária, sexo, raça/cor, média de dias de permanência de internação, óbitos e taxas de mortalidade. Vale ressaltar que o público-alvo foram menores de 15 anos. 

As informações foram reunidas na planilha pelo Microsoft Excel e as análises estatísticas dos dados pelo mesmo programa. Foram elaborados tabelas e gráficos de linhas. Todos os dados utilizados no trabalho foram retirados de fontes secundárias, disponibilizados sem identificação dos indivíduos, em domínio público disponível no endereço eletrônico: Logo, não houve necessidade de aprovação do trabalho em Comitê de Ética em Pesquisa, conforme a resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Todavia, foram respeitados todos os preceitos éticos impostos pela Resolução nº 466/2012, do CNS.

3 RESULTADOS 

Entre os anos de 2018 a 2022, foram totalizadas 31.431 de casos de internações hospitalares devido a diarreia e gastroenterite no Estado do Maranhão em menores de 15 anos, sendo que o ano de 2018 apresentou maior prevalência (n= 7.441) e o ano de 2020 menor prevalência (n= 5.014), como demonstra o gráfico 1. 

Referente a caracterização dos casos, observou-se que a maioria estava com idade entre 1 a 4 anos (13,8%), do sexo masculino (52,3%)  e de cor parda (67,8%), como verifica-se o tabela 1.

Variáveisn%
Faixa etária 
Menor de 1 ano 
1 a 4 anos 
5 a 9 ano 
10 a 14 anos 

4.321
15.849
7.331
3.930

13,8
50,4
23,3
12,5
Total31.431100
Sexo 
Masculino 
Feminino 

16.431
15.000

52,3
47,4
Total31.431100
Raça/cor
Branca
Preta
Parda 
Amarela 
Indígena 
Sem informação

892
324
21.327
1.136
247
7.505

2,8
1,0
67,8
3,6
0,8
23,9
Total31.431100

Com relação aos dias de permanência de internação hospitalar devido a diarreia e gastroenterite (Gráfico 2), observou-se que entre os anos pesquisados, a média foi de 2,7 dias. 

Quanto ao óbito, observou-se que entre os anos pesquisados (2018 a 2022) teve um total de 16 óbitos devido a diarreia e gastroenterite, sendo que o ano de 2019 teve mais casos, seguido do ano de 2022, como mostra o gráfico 3. 

Ao analisar a média de taxa de mortalidade com relação à média, verificou-se que os maiores picos ocorreram nos anos de 2019 (0,11) e 2022 (0,06) (Gráfico 4).

4 DISCUSSÃO 

Com relação ao gráfico 1, observa-se que houve uma diminuição dos casos de diarreia e gastroenterite no Estado do Maranhão até o ano de 2021, todavia um aumento de casos no ano de 2022, nesse contexto, Lemos (2023) afirma que isso reflete o aumento de infecções pelo rotavírus e pela baixa cobertura vacinal no ano de 2022. 

Contudo, entre os anos com baixo casos de internações de diarreia e gastroenterite podem estar vinculados com práticas culturais domiciliares, como ressalta Vieira et al. (2022) no qual essas práticas, como a administração de soros caseiros, chás e outros, no manejo  das  doenças  diarreicas  agudas  também  são  fatores importante para as baixas taxa s de internação, todavia, essa prática também pode prejudicar os casos graves e consequentemente o atendimento hospitalar. 

Referente a caracterização dos casos de internação, dados semelhante com estudo de Siqueira et al. (2020) realizado com dados do DATASUS entre os anos 2008 – 2018 no Brasil sobre a temática, no qual verificou-se que 72,1% tinham idade entre 1 a 4 anos e 53,7% eram do sexo masculino. Com relação a idade, os autores ressaltam que menor for a idade da criança será mais frágil, pois o mesmo encontra-se em processo de formação e fortalecimento imunológico. Além disso, crianças com menores idade apresentam maior percentual de água corporal, logo resultando em maiores complicações devido a diarreia e consequentemente maior percentual de terem desidratação e desnutrição. 

Contudo, com relação ao sexo, o estudo de Lemos (2023) apresentou dado diferente referente ao estudo em questão, ou seja, dos 21.264 casos no Rio Grande do Norte entre os anos de 2013 a 2023, 11.607 (54,58%) eram do sexo feminino e 9.657 (45,42%) do sexo masculino. Nesse sentido, Siqueira et al. (2020) ressaltam que a diferença no sexo não é predominante nas pesquisas, demonstrando que essa  variável não possui tanta implicação na condição de ser ou não mais susceptível a diarreia. 

Quanto à raça/cor, os dados foram concomitantes com o estudo de Costa et al. (2021) que traçaram um perfil epidemiológico da diarreia no estado de Alagoas no período de 2014 a 2018, verificaram que entre as crianças internadas,  predominou-se a cor/raça parda (78,3%). Ressalta-se que na região Nordeste existe a predominância da raça parda. 

Com relação aos dias de internação observa-se uma média de 2,7 dias, já na pesquisa de Lima et al. (2021) em seu estudo que analisaram as  internações  por  causas  sensíveis  à  atenção  primária em hospital pediatra entre os anos de 2015 e 2016, demonstrou que as gastroenterites infecciosas e complicações foi o principal grupo que passaram mais tempo internados, ou seja, até cinco dias de permanência hospitalar.

Com relação aos óbitos e taxa de mortalidade, observa-se um aumento no ano de 2019 e voltado a ampliar no ano de 2022. Dados semelhante ao estudo de Meneguessi et al. (2015) que analisaram o número de óbitos por doenças diarreicas em crianças menores de dez anos residentes no Distrito Federal de 2003 a 2012 e verificaram que 64,4% de mortes referem-se a indivíduos com idade < 1 ano e 31% do total aos de 1-4 anos. 

Cumpre ressaltar que as doenças diarreicas representaram mais de meio milhão mortes de crianças menores de 5 anos. O máximo dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda, entretanto, nos países de rendimento elevado, a doença raramente é fatal, mas é uma das principais causas de visitas aos centros de saúde, pronto-socorro e internações (FLOREZ et al., 2020). 

Concordando com os autores supracitados, Dairo, Ibrahim e Salawu (2017) relatam que a incidência das doenças diarreicas é mais ampla nos primeiros dois anos de vida, apresentando diminuição com o aumento da idade. Portanto, a maior frequência de casos diarréicos nessas faixas etárias também pode colaborar para a acontecimento dos óbitos nessa população.

Isso pode também estar relacionado a disponibilidade do saneamento básico e ambiental entre os municípios maranhenses, ou seja, relacionados  à veiculação hídrica e à contaminação de alimentos.  Nesse contexto, Veras et al. (2022) relatam que as regiões brasileiras existem números elevados da população sem acesso a água, e consequentemente reflete também uma piora nos indicadores de saúde, como mortalidade infantil.

5 CONCLUSÃO 

De acordo com os dados encontrados, ainda é elevado o número de casos de internações hospitalares devido a diarreia e gastroenterite no Estado do Maranhão em menores de 15 anos, sendo que o ano de 2018 apresentou maior prevalência. Referente a caracterização, observa-se que crianças com idade entre 1 a 4 anos, sexo masculino e cor parda, foram que apresentaram maior número de casos de a diarreia e gastroenterite. Com relação aos dias de permanência de internação hospitalar verifica-se que entre os anos pesquisados, a média foi de 2,7 dias. Quanto ao óbito, não apresentou dados elevados, demonstrando resultados positivos na assistência, contudo maiores taxas de mortalidade foram nos anos de 2019 e 2022. 

Conclui-se o estudo proporcionou uma visão sobre o panorama do Maranhão de diarreia e gastroenterite, contribuindo para um melhor manejo da doença no Estado, contudo, sugere-se maiores investigações no que se refere a dados de internação infantil por doenças diarreicas e gastroenterite de origem infecciosa relacionados com a ingestão de água e alimentos contaminados.

REFERÊNCIAS 

BATISTA, Alex de Novais; ABRANTES, Kennia Sibelly Marques de. Perfil epidemiológico e análise espaço-temporal dos óbitos por diarreia e gastroenterite em crianças e adolescentes no Brasil. Temas em Saúde, v.20, n.01, p.288-304, 2020. 

COSTA, Caroline Magna et al. Perfil epidemiológico da diarreia em crianças de 1 a 4 anos no estado de Alagoas. Revista de Atenção à Saúde, v. 19, n. 68, 2021.

DAIRO, M. D.; IBRAHIM, T. F.; SALAWU, A. T. Prevalence and determinants of diarrhoea among infants in selected primary health centres in Kaduna north local government area, Nigeria. Pan African Medical Journal, v. 28, n. 1, p. 151, 2017.

FLOREZ, Ivan D. et al. Acute infectious diarrhea and gastroenteritis in children. Current infectious disease reports, v. 22, p. 1-12, 2020.

LEMOS, Raissa Ferreira. Análise do perfil epidemiológico dos pacientes internados com diarreia e gastroenterite no Rio Grande do Norte entre 2013-2022. Revista Multidisciplinar em Saúde, v. 4, n. 3, p. 107-112, 2023.

LIMA, Leandro Januário et al. Particularidades das internações por causas sensíveis à atenção primária em crianças e adolescentes: estudo transversal unicêntrico. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v. 20, n. 4, p. 533-542, 2021.

MENEGUESSI, G. M. et al. Morbimortalidade por doenças diarreicas agudas em crianças menores de 10 anos no Distrito Federal, Brasil, 2003 a 2012. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 24, p. 721-730, 2015.

POSOVSZKY, Carsten et al. Acute infectious gastroenteritis in infancy and childhood. Deutsches Ärzteblatt International, v. 117, n. 37, p. 615, 2020.

SIQUEIRA, Samylla Maira Costa et al. Panorama da diarréia e gastroenterites entre crianças brasileiras na última década. Revista Saúde. com, v. 16, n. 4, 2020.

VERAS, Leonardo Deyvid Lima et al. Diarreia e gastroenterites de origem infecciosa presumível: análise do perfil epidemiológico nas regiões do Brasil no período de 2012 a 2020. Research, Society and Development, v. 11, n. 7, p. e52711730295-e52711730295, 2022.

VIERA, Kelly Pinheiro et al. A prevalência de internações hospitalares por diarreia e gastroenterite de origem infecciosa em crianças de 0 a 4 anos no município de Macaé/RJ. Research, Society and Development, v. 11, n. 1, p. e39211125024-e39211125024, 2022.


1(0009-0006-8652-5415) Enfermeiro- Mestre em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil(2018).Doutorando em Saúde Pública