VIOLÊNCIA NA ASSISTÊNCIA: O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM COMO VÍTIMA 

VIOLENCE IN CARE: THE NURSING PROFESSIONAL AS VICTIM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10049345


CAROLINE MARIA REZENDE SILVA1
LETÍCIA LORRANY ALVES DAMACENO2
MARIANA OLIVEIRA PEREIRA3:
André Di Carlo Araujo Duarte4


Resumo: Objetivo: Identificar e analisar o motivo das principais consequências que a violência, realizada no ambiente de trabalho, causa ao profissional de enfermagem. Metodologia: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura de artigos publicados utilizando-se descritores relacionados à violência no trabalho, a enfermagem, ao estresse ocupacional e esgotamento profissional. Foram encontrados 702 artigos nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scielo e PubMed, destes, apenas 10 compuseram o corpus da revisão. Resultados: Está revisão pontuou uma série de estudos que identificaram o abuso verbal e a violência psicológica como as principais formas de violência contra profissionais de enfermagem, ocasionadas por pacientes e familiares em sua maioria, seguidos de colegas de profissão e chefia. Conclusão: O estresse, a depressão, a ansiedade, o medo, a insegurança e o suicídio são as principais consequências da violência laboral contra profissionais de enfermagem. Destaca-se também os agravos à saúde mental e seu impacto negativo na vida do profissional fora do ambiente trabalhista. Palavras-chave: Violência. Violência no trabalho. Enfermagem do trabalho. Estresse ocupacional. Saúde ocupacional. Esgotamento profissional.

Abstract: Objective: to identify and analyze the reason for the main consequences that violence committed in the workplace causes to nursing professionals. Methodology: This is a narrative review of the literature of published articles using descriptors related to violence at work, nursing, occupational stress and professional burnout. 702 articles were found in the Virtual Health Library (VHL), Scielo and PubMed databases, of which only 10 constituted the review corpus. Results: A series of studies are reviewed that identified verbal abuse and psychological violence as the main forms of violence against nursing professionals, mostly caused by patients and family members, followed by professional colleagues and managers. Conclusion: Stress, depression, anxiety, fear, insecurity and suicide are the main consequences of workplace violence against nursing professionals. Also noteworthy are the problems with mental health and their negative impact on the lives of professional forums in the labor environment. Keywords: Violence. Violence at work. Nursing work. Occupational stress. Occupational health. Professional burnout.

 INTRODUÇÃO  

A violência é multicausal e afeta diretamente as condições físicas, psicológicas, sociais, ambientais e culturais de um indivíduo. Mesmo que seja a primeira reação ou resposta a uma frustração, nada a justifica. Estudos mostram que se trata de uma situação que sempre esteve presente na sociedade e vem se agravando com o passar do tempo (QUEIROZ; BARRETO, 2021).

 A violência laboral, conhecida como violência no trabalho, está crescendo constantemente no ambiente de saúde, tendo os profissionais de enfermagem como vítimas. Por essa categoria ser uma que está na “linha de frente”, ou seja, possui contato com os diversos perfis de pacientes, que geralmente estão sofrendo com dores, angústias, inseguranças e medos, estão mais suscetíveis a se tornarem vulneráveis aos diversos tipos de violência (SILVA et al., 2019). 

A enfermagem trata-se de uma profissão que tem como objetivo o cuidado ao paciente de forma holística com embasamento científico e teórico, porém, dentre todas as profissões relacionadas à saúde, costuma ser a menos valorizada e com grandes índices de violência. A relação da violência com esses profissionais acarreta prejuízos, sejam eles psicológicos, físicos, familiares, organizacionais e sociais, afetando o seu contexto biopsicossocial.

Devido às consequências das violências, os profissionais podem desenvolver doenças mentais e também físicas. Tais males interferem na saúde do trabalhador, na diminuição da qualidade do trabalho, bem como na assistência ao paciente e nos custos institucionais. 

Portanto, é importante destacar os principais malefícios causados aos profissionais de enfermagem para que sejam assistidos de forma integral e humanizada, e que sejam proporcionados a estes os direitos devidos, a segurança e as adequadas melhorias nas condições de trabalho.

Problema de pesquisa

Quais as principais consequências físicas e psicológicas causadas ao profissional de enfermagem vítima de violência no trabalho?

Objetivo geral

Identificar e analisar o motivo das principais consequências que a violência, realizada no ambiente de trabalho, causa ao profissional de enfermagem.

Objetivo específico

Conceituar violência e violência no trabalho; pontuar os principais tipos de danos físicos e psíquicos causados ao profissional de enfermagem em decorrência da violência; descrever os prejuízos ocasionados ao profissional e sua relação com a qualidade de vida deste.

METODOLOGIA  

Este artigo trata-se de uma revisão narrativa da literatura, realizada por meio de busca em artigos científicos que apresentassem conteúdos acerca de violência contra os profissionais de enfermagem no ambiente de trabalho, a fim de reunir em um único material informações gerais sobre a temática abordada. 

De início, houve a necessidade de mapear o que se tinha produzido até o momento sobre violência contra os profissionais de enfermagem no ambiente ocupacional, através de buscas bibliográficas no período de agosto a setembro de 2023, onde foram selecionados a partir da sua identificação, definida através do site Descritores em Ciência da Saúde/Medical Subject Headings (DeCS/MeSH), nas bases de dados  Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), PubMed, e Scielo, com os seguintes descritores: “violência”, “violência no trabalho”, “estresse ocupacional”, “esgotamento profissional”, “enfermagem do trabalho”. Cada um desses descritores fora pesquisado individualmente nas bases de dados, sendo que no Scielo utilizou-se “violencia AND violencia no trabalho”. Na base Pubmed, além dos descritores, as pesquisas também foram realizadas através da busca por “workplace violence and nurses”. Ao todo foram encontrados 702 artigos, destes foram selecionados com base no título 48 artigos. Após a leitura, foram excluídos 38 por motivos de duplicidade, tempo de publicação maior que 05 anos ou conteúdo inadequado, assim, permaneceram incluídos 10 artigos, conforme fluxograma 1.

Definiram-se como critérios de inclusão: artigos com uma visão geral sobre violência contra enfermeiros e enfermeiras, seja ela psicológica, física, moral e/ou verbal, no ambiente de trabalho. Excluíram-se publicações que abordaram assuntos sobre áreas específicas da enfermagem, como oncologia, nefrologia, unidade de terapia intensiva, e também referente a outras áreas de atuação ou outras categorias de profissionais da saúde. 

Fluxograma 1: Processo de seleção dos artigos

RESULTADOS  

Após a leitura criteriosa dos 10 artigos, foram extraídas as informações que se encontram no Quadro 1:  

Quadro 1: Relação dos resultados dos artigos escolhidos

AutorAno TítuloRevistaConclusão
OKUBO, Caroline2022Efetividade das intervenções contra violência no trabalho sofrida por profissionais da saúde e apoio: metanáliseRevista Latino- Americana de EnfermagemDefinição de violência no trabalho e identificação do abuso verbal como o maior tipo de violência que acomete profissionais da saúde.
TRINDADE, Letícia de Lima et al.2022Agressão verbal contra profissionais da saúde da atenção primária e terciária: estudos de métodos mistosRevista de Enfermagem da UFSMIdentificação da predominância da agressão verbal, descrição de fatores institucionais que acarretam o agravamento da violência e principais consequências ao profissional de enfermagem, vítima de violência, apresentadas em forma de depoimentos.
LIMA, Israel et al.2021Assédio moral laboral: planejamento estratégico para a ruptura do ciclo de violência a partir da enfermagem do trabalhoRevista Electrónica Enfermería Actual en Costa Rica Relação da economia com a violência no trabalho. Maneira de detectar previamente violência contra o funcionário e seu prejuízo a longo prazo. Predominância da violência moral e classificação desta.
QUEIROZ, Antonio e BARRETO, Francisca2021Violência no trabalho da enfermagem nos serviços hospitalares: ponderações teóricasRevista de Enfermagem UFPE Relação do assédio moral com a ausência de sabedoria na liderança; destaque para a violência silenciosa.
JÚNIOR, Renê et al.2021Violência no trabalho contra os trabalhadores de enfermagem e seus imbricamentos com a saúde mentalRevista de Enfermagem do CentroOeste MineiroDetalhamento da violência verbal e de gênero e sua relação com a enfermagem; categorias profissionais agressoras; consequências a vida do profissional. Destacase prejuízos mentais originados pela violência que impactam a vida do profissional.
TSUKAMOTO, Sirlene et al.2019Violência ocupacional na equipe de enfermagem: prevalência e fatores associadosActa Paulista de EnfermagemImportância do reconhecimento profissional como combate à violência. Fundamentação do assédio sexual relacionado a cultura.
LEITE, Jéssica e SILVA, Daniel2022Assédio moral: ocorrências nas relações de trabalho de enfermagemRevista Enfermagem em FocoConsequência do estresse para o profissional.
HAGOPIAN, Ellen e FREITAS, Genival2019Assédio moral na vivência dos enfermeiros: perspectiva fenomenológicaRevista de Enfermagem UFPE  Consequências da violência na vida do profissional, evidenciado por prejuízos a qualidade de vida do indivíduo.
FERNANDES,Hugo et al.2018Violência em ambientes de cuidado a saúde: repensando açõesRevista Brasileira de Enfermagem Culpabilização da sociedade através de argumentos culturais e sua interferência com os atos violentos.
SILVA, Bruna et al.2019Violência laboral contra a equipe de enfermagem:
revisão integrativa
Revista de Saúde PúblicaCaracterísticas dos principais motivos deflagradores da violência laboral

 CONCEITUANDO A VIOLÊNCIA NO TRABALHO  

A violência é definida como uma forma intencionada, seja ela física ou verbal, podendo ser praticada diretamente a uma pessoa ou grupo, e resultar a danos físicos ou psicológicos, ou até mesmo de formas mais trágicas como a privação ou morte (TRINDADE et al.,2022).

No ambiente de trabalho podemos dividir os tipos variados de violência que os trabalhadores estão sujeitos a sofrerem. A violência física atinge a integridade e a saúde corporal do sujeito. A violência verbal se denomina em comportamentos agressivos, com palavras danosas que tem com intenção ridicularizar, humilhar, manipular ou ameaçar, pode se manifestar através de xingamentos, intimidação e desmoralização (JÚNIOR et al., 2021). 

A violência moral tem como subtipos: calúnia, onde alguém é acusado falsamente por um infração no qual não cometeu; difamação, situação no qual desonra a reputação da pessoa; injúria, situação em que se ofende a dignidade ou raça de alguém (JÚNIOR et al., 2021).

Trindade et al. (2022) observa que a violência psicológica tem sido a mais comum nos serviços públicos de saúde, independentemente do nível de atenção. Porém, pode-se perceber que algumas das características destes serviços podem contribuir para o agravamento de violências dessa natureza, como por exemplo: a alta demanda de pacientes, as unidades superlotadas, a sobrecarga trabalhista causada pela ausência de mão de obra. 

 Além desses fatores, destaca-se também a falta de material, carência de recursos humano, demora no atendimento ao paciente, entre outras situações que podem levar ao estresse extremo e causar violências contra quem está na linha de frente nos atendimentos (TRINDADE et al.,2022).

Lima et al. (2021), destaca que a violência no trabalho não é um acontecimento recente, porém, desde 1980 há um aumento na visibilidade pública sobre o fato, por meio de noticiários que informavam casos de homicídio no trabalho, e ainda assim, nos dias de hoje, o trabalho não é visto como um local de alto risco para ocorrer o ato violento.  

Muitas vezes a violência é notada como sinônimo de agressão, mas, em alguns casos, esta torna-se silenciosa através da violência não física, que de maneira interligada afeta as esferas sociais, econômicas e políticas. Os profissionais de saúde vêm se tornando rotineiramente os mais atingidos, devido ao contato direto com os diversos públicos, a sobrecarga trabalhista e as condições de trabalho que transformam o local vulnerável a violência (QUEIROZ; BARRETO, 2021). 

Com isso, a enfermagem, no decorrer dos dias, está adoecendo com os cenários de violências sofridas em seu ambiente de trabalho, uma das causas mais vigentes é o assédio moral, onde fragiliza a saúde do profissional trazendo prejuízos laborais e psíquicos (LIMA et al., 2021).

Alguns autores observam que o excesso de trabalho, as demandas excessivas, a alienação sobres os direitos trabalhistas, os vínculos frágeis entre o empregador e o empregado e uma logística de trabalho precária, contribuem para o crescimento de assédios morais (LIMA et al., 2021). 

ENFERMAGEM COMO VÍTIMA DA VIOLÊNCIA

Dentre os setores trabalhistas, a porcentagem de profissionais de saúde vítimas de violência está em torno de 60%, sendo o abuso verbal predominante. Além disso, os profissionais de enfermagem do sexo feminino correspondem a maior taxa de vitimização (OKUBO et al., 2022). 

Em um contexto global, cerca de 42,5% dos profissionais são acometidos por violência não física e 24,4% de violência física, sendo a agressão verbal mais prevalecente. Além disso, as características das instituições podem contribuir para o agravamento da violência, como por exemplo, a superlotação, sobrecarga trabalhista, carências de recursos, entre outras (TRINDADE et al.,2022). 

Além das características institucionais, há autores que apontam que o modelo econômico de um país influencia diretamente nas condições de trabalho do indivíduo, pois a cultura capitalista fortalece a manifestação do assédio moral devido às cobranças excessivas, ou, o não favorecimento das condições adequadas para executar o cargo, em razão de um objetivo central: a produção (LIMA et al.,2021). 

O assédio moral está relacionado ao abuso de poder em razão da hierarquia, pois a liderança não é exercida de forma sábia e isso ocasiona prejuízos morais às pessoas que estão abaixo dessa posição. Tal situação provoca sentimentos de humilhação e constrangimento à vítima, e, se constante, ocasiona desequilíbrios emocionais que levam ao risco de doenças psíquicas e, consequentemente, físicas. (QUEIROZ; BARRETO, 2021).

A falta de reconhecimento do profissional também é considerada um fator desencadeador de violência, pois ela gera o abuso verbal. Quando o profissional se sente reconhecido e valorizado, isso produz nele prazer e qualidade no desempenho das atividades, em contrapartida, se não há o reconhecimento por parte tanto da instituição como dos pacientes, esse sentimento será perdido (TSUKAMOTO, 2019).

Há pesquisas que abordam sobre o ambiente de trabalho, principalmente no setor de saúde, necessitarem fazê-lo em equipe para garantir a melhor resposta do paciente. Porém, a atuação em conjunto precisa ser desempenhada com respeito às diferenças e limitações do outro, e a ausência de empatia, a falha na comunicação e a desvalorização dos saberes de cada indivíduo podem gerar intolerâncias, violência psicológica, física e sexual (FERNANDES et al., 2018). 

Em relação ao assédio sexual, há autores que descrevem que as enfermeiras são estereotipadas pela mídia, e pela sociedade, como objeto sexual, uma fundamentação histórica que vem sendo desconstruída, no entanto, há pessoas que ainda possuem tal pensamento. É salientado também que a violência sexual costuma ocorrer no período noturno, devido à redução de profissionais naquele horário, tornando a vítima mais vulnerável (TSUKAMOTO, 2019).

Dentre os principais causadores, a literatura demonstra que a maior porcentagem tem o paciente como agressor, seguido dos acompanhantes e dos colegas de trabalho e chefia. Contudo, é importante ressaltar que muitos casos são subnotificados pois há uma cultura de que a situação de violência no setor da saúde é comum, e muitos profissionais não buscam por seus direitos legais devido a essa banalização (TRINDADE et al., 2022).

Identificou-se que os números de profissionais que denunciam as agressões são mínimos, na grande maioria é relatado para um colega de trabalho, outros optam a descreverem para seus superiores, de forma mínima é obtido uma denúncia formal, muitos não denunciam por serem movidos pelo medo das repercussões negativas, como: demissão e aumento dos assédios (TRINDADE et al., 2022).

Por meio de algumas entrevistas realizadas pelos autores, podemos perceber como alguns profissionais se sentem diante de uma denúncia, seja ela narrada a um superior ou escrita em algum livro de ocorrências, porém, o maior questionamento está em seu desfecho, as vítimas costumam se perguntar sobre quais medidas foram tomadas (TRINDADE et al., 2022). 

Os pacientes e seus acompanhantes podem ser caracterizados como os principais agressores após o desencadeamento de diversas situações, como por exemplo, as condições de trabalho fornecidas pelo Sistema Único de Saúde, que ocasiona a falta de insumos, de conforto e de salários dignos. Tais condições levam ao atendimento ineficaz e ineficiente, acarretando ao paciente uma assistência desfavorável que origina numerosas agressões (QUEIROZ; BARRETO, 2021).

Além das condições de trabalho, o processo de adoecimento e estresse dos familiares diante dessa condição, é uma situação de agravamento da violência. A violência sexual e física, também têm grandes índices, de forma que a violência física contra o trabalhador é manifestada na maioria das vezes através de chutes, tapas, socos, mordidas, e o assédio sexual, compreendido por qualquer conduta sexual indesejada, unilateral e inesperada (TSUKAMOTO, 2019).

A violência contra os profissionais de enfermagem é predominante, e dentre as pesquisas realizadas, é importante destacar a violência verbal realizada por outras categorias de saúde, em especial, a categoria médica. Os autores destacam que a relação entre médicos e enfermeiros está fundamentada em uma questão histórica e cultural que remete a razões hierárquicas, com a ideia de que há profissões superiores a outras (JÚNIOR et al, 2021). 

Em relação a prevalência de violência contra profissionais de enfermagem do sexo feminino, esta pode ser causada por falta de conhecimento sobre o que é violência no trabalho, bem como a naturalização da situação violenta, a cultura machista e a predominância de mulheres no setor da saúde (OKUBO, 2022).

Diante disso, tais violências afetam de forma negativa a produtividade, a qualidade do cuidado ao paciente, os custos, além das altas taxas de absenteísmo e abandono da profissão. Vale ressaltar também, que constitui-se um importante determinante para adoecimento físico e mental (OKUBO, 2022).

Em uma pesquisa realizada, os profissionais se sentem desvalorizados, inferiorizados e humilhados, pois a atividade ocupacional que exercem está centrada no cuidado ao ser humano, o que torna a situação violenta contraditória ao exercício profissional prestado. Além disso, gera nas vítimas uma dúvida interna sobre a escolha da profissão e a importância do indivíduo na vida dos pacientes (JÚNIOR et al, 2021). 

As situações de estresse, suicídio, medo, insegurança, depressão e ansiedade também são identificadas como consequências da violência laboral. Alguns depoimentos presentes em entrevistas com profissionais da saúde destacam o acometimento negativo em relações interpessoais e individuais, bem como, repercussões físicas, como dores de cabeça e musculares decorrentes do estresse (TRINDADE et al., 2022). 

O assédio moral gera violência psicológica que pode causar danos psicossociais reparáveis e/ou irreparáveis, como insatisfação, indignação, desânimo, síndrome do pânico, tensão muscular, suicídio, incapacidade laboral, entre outras situações já citadas anteriormente. Pois, ainda que pareça uma situação inofensiva, ou seja, não ser causada por agressões e danos físicos, merece uma atenção especial (JÚNIOR et al, 2021).

IMPACTO DA VIOLÊNCIA NA VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL DO (A) ENFERMEIRO (A)

 A violência resulta em implicações individuais, pois cada pessoa é afetada por ela de modo particular, a depender da história pessoal e capacidade de gerir situações conflitantes. Contudo, é importante salientar que as repercussões familiares, ocupacionais e fisiológicas acontecem independentemente dos casos, às vezes de forma intensa ou não, trazendo assim, consequências a vida do profissional (JÚNIOR et al, 2021). 

À medida que o enfermeiro toma a decisão de abdicar da sua vida cotidiana para se doar mais ao trabalho, este acaba privando-se também dos seus momentos de lazer com a família, do conforto, do autocuidado e de ocasiões prazerosas que tornam a vida mais leve. Quando essa situação está associada a violência, traz consigo momentos de solidão e sentimento de fracasso, deixando o dia a dia mais difícil e prejudicando a saúde mental (QUEIROZ; BARRETO, 2021).

Hagopian e Freitas (2019), observam que aqueles que sofrem violência no local de trabalho, tendo como consequência os danos psicológicos, acabam se tornando frágeis e inseguros em exercer as atividades, prejudicando assim, os colegas de trabalho e o paciente, além de ter baixos resultados. É de extrema importância que os supervisores dos setores estejam sempre atentos aos seus profissionais, pois com a incapacidade de realizar as atividades, podem ocorrer incidentes indesejados devido a falta de cuidado e atenção (HAGOPIAN; FREITAS, 2019).

As consequências psicológicas, como o estresse, causam uma infinidade de sentimentos, iniciando pelo questionamento do profissional sobre sua capacidade, e quando constantes, gera baixa autoestima, ansiedade, apatia, insônia e até mesmo depressão. Tais situações prejudicam os relacionamentos com outras pessoas, além disso, os danos podem se estender por anos, pois atinge o emocional do indivíduo (LEITE; SILVA, 2022).

Observa-se também que sintomas de Síndrome de Burnout, tristeza, constrangimento, ausência de estimulação, insatisfação com o trabalho, sintomas depressivos e de insegurança, estão presentes entre profissionais de enfermagem vítimas de violência no trabalho (SILVA et al., 2019).

CONCLUSÃO

A revisão caracteriza a violência como uma forma intencional de causar algum dano na vítima, seja físico ou psicológico. Há vários tipos de violência, podendo ser: físicas, verbais, morais, sexuais e psicológicas. Os profissionais de enfermagem sofrem em maior índice com a violência moral e psicológica, evidenciada pelo assédio moral e verbal. Os principais agressores são os pacientes, seguidos de acompanhantes, colegas de trabalho e chefia. 

Identificou-se o sexo feminino como o mais atingido. Evidenciou-se as principais consequências que incluem sentimentos de inferioridade e humilhação, o que acarreta danos psíquicos. Outras consequências apresentadas foram: estresse, depressão, ansiedade, medo, insegurança e suicídio. Há também, repercussões físicas, como dores de cabeça e dores musculares decorrentes do estresse. 

Logo, a qualidade de vida do profissional é prejudicada, pois as relações com familiares e amigos são perdidas devido às consequências da violência psicológica, bem como, a saúde mental é agravada. Portanto, dentre tantas complicações, observa-se nos artigos o maior índice das psicológicas, sendo que as físicas são causadas em grande parte quando resultantes de agressões, sendo caracterizadas por lesões. 

Observou-se a necessidade de estudos que abordem quantitativamente as taxas de doenças e danos ocasionados ao profissional de enfermagem que se tornaram vítimas de violência. Sugere-se a ampliação desse estudo, para quantificar as principais consequências sofridas pela enfermagem.

REFERÊNCIAS

FERNANDES, Hugo et al. Violência em ambientes de cuidados à saúde: repensando ações. Revista Brasileira de Enfermagem, [s. l.], 2018. DOI http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0882. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/S3K4hx4j4dJVpB6F3MddYjw/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 5 set. 2023.

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LEITE, J.A.F.; SILVA, D.A. Assédio moral: ocorrências nas relações de trabalho da

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LIMA, I.C.S. et al. Assédio moral laboral: planejamento estratégico para a ruptura do ciclo de violência a partir da enfermagem do trabalho. Revista Electrónica Enfermería Actual en Costa Rica, [s. l.], 2021. DOI 10.15517/revenf.v0i41.43615. Disponível em: https://www.scielo.sa.cr/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S140945682021000200012&lng=en&nrm=iso&tlng=en. Acesso em: 22 ago. 2023.

OKUBO, C.V.C. et al. Efetividade das intervenções contra violência no trabalho sofrida por profissionais de saúde e apoio: metanálise. Rev. Latino-Am.

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https://www.scielo.br/j/rlae/a/QHZhsXn3GFVnT4fgmWtd5kw/?lang=pt. Acesso em: 15 ago. 2023.

QUEIROZ, A.A.O.; BARRETO, F.A. IOLÊNCIA NO TRABALHO DA ENFERMAGEM NOS SERVIÇOS HOSPITALARES: PONDERAÇÕES TEÓRICAS. Revista de enfermagem UFPE on line, [s. l.], ed. 246472, 2021. DOI 10.5205/19818963.2021.246472. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/246472/37935. Acesso em: 29 ago. 2023.

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TRINDADE, L.L. et al. Agressão verbal contra profissionais de saúde da atenção primária e terciária: estudo de métodos mistos. Revista de Enfermagem UFSM, [s. l.], v. 12, ed. 15, p. 1-17, 2022. DOI https://doi.org/10.5902/2179769266894. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/66894/47400. Acesso em: 22 ago. 2023.

TSUKAMOTO, S.A.S. et al. Violência ocupacional na equipe de enfermagem:

prevalência e fatores associados. Acta Paulista de Enfermagem, [s. l.], 2019. DOI http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201900058. Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010321002019000400425. Acesso em: 24 ago. 2023.


Graduanda em enfermagem do Centro Universitário Uni Ls. E-mail: carolinrznd@gmail.com; letcialvess@gmail.com; mariana.pereira10@lseducacional.com 

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Professor Mestre André Di Carlo Araujo Duarte. Enfermeiro especialista em cardiologia. Doutorando em Ciências da Saúde. E-mail: andre.duarte@unils.edu.br