REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch1020250321510
Maria Beatriz Tiezzi Vergara1
RESUMO
Os hemangiomas infantis (HIs) são os tumores mais comuns na primeira infância, afetando principalmente meninas e prematuros. Tratamentos são necessários quando há comprometimento de funções vitais ou deformidades permanentes. O propranolol, um bloqueador beta-adrenérgico, tem se destacado no tratamento dos HIs devido à sua eficácia, embora com potenciais efeitos adversos. Este estudo teve como objetivo discutir a eficácia e os efeitos adversos do propranolol no tratamento de HIs. Foi realizada uma revisão narrativa da literatura na base de dados da PubMed. Foram selecionados estudos transversais, prospectivos, de coorte, ensaios clínicos e relatos de caso publicados nos últimos cinco anos (2020-2025), nos idiomas português, inglês ou espanhol. Estudos de revisão, teses, dissertações, artigos pagos e duplicados foram excluídos da análise. O propranolol mostrou alta eficácia, com 93,7% de resposta positiva em seis meses e 80% de resolução após dois anos. No entanto, efeitos adversos, como distúrbios do sono e agitação, foram observados, sendo mais prevalentes do que com outros betabloqueadores. A versão tópica de propranolol, embora com eficácia limitada, teve um bom perfil de segurança. A administração precoce do medicamento, antes dos três meses de idade, mostrou melhores resultados estéticos e funcionais. Apesar dos potenciais recrescimentos após a suspensão, o propranolol continua sendo uma opção terapêutica de primeira linha para hemangiomas infantis, com bom controle da doença e tolerabilidade, desde que monitorado adequadamente.
Palavras-chave: Propranolol; Hemangiomas; Infantil.
ABSTRACT
Infantile hemangiomas (IHs) are the most common tumors in early childhood, primarily affecting girls and premature infants. Treatment is necessary when vital functions are compromised, or permanent deformities occur. Propranolol, a beta-adrenergic blocker, has become prominent in the treatment of IHs due to its efficacy, although it comes with potential side effects. This study aimed to discuss the efficacy and adverse effects of propranolol in the treatment of IHs. A narrative review of the literature was conducted using the PubMed database. Cross-sectional, prospective, cohort studies, clinical trials, and case reports published in the last five years (2020-2025) in Portuguese, English, or Spanish were selected. Review studies, theses, dissertations, paid articles, and duplicates were excluded from the analysis. Propranolol demonstrated high efficacy, with a 93.7% positive response at six months and 80% resolution after two years. However, adverse effects such as sleep disturbances and agitation were observed, being more prevalent than with other beta-blockers. The topical form of propranolol, though with limited efficacy, had a good safety profile. Early administration of the drug, before three months of age, showed better aesthetic and functional outcomes. Despite potential regrowth after discontinuation, propranolol remains a first-line therapeutic option for infantile hemangiomas, offering good disease control and tolerability when properly monitored.
Keywords: Propranolol; Hemangiomas; Infantile.
INTRODUÇÃO
Os hemangiomas infantis (HIs) são os tumores mais frequentes na primeira infância, afetando cerca de 4,5% dos bebês em todo o mundo. Essas neoplasias benignas de origem vascular ocorrem com maior prevalência em meninas, em uma proporção de 5 para 1, além de serem mais comuns em prematuros com peso ao nascer inferior a 1500 g e em gêmeos (Pope et al., 2022).
Esses tumores podem ocorrer em qualquer área da pele, desde a superficial até a profunda, ou em órgãos internos. Em alguns casos, sequelas permanentes, como telangiectasias e pele redundante, podem persistir. Quando localizados na cabeça e pescoço, esses hemangiomas podem estar associados à síndrome PHACE, uma condição que inclui anomalias na fossa posterior do cérebro, hemangiomas, anomalias arteriais, cardíacas e oculares. Já os hemangiomas localizados na região lombar ou sacral podem estar relacionados a distúrbios geniturinários ou neurológicos. A mielopatia, especialmente o disrafismo espinhal, é comum nesses últimos casos (Kardasevic; Dinarevic, 2021).
O tratamento é indicado quando há comprometimento de funções essenciais, como respiração, visão e audição, presença de ulcerações persistentes ou difíceis de tratar, e alterações estruturais permanentes que causem deformidades esteticamente significativas (Pope et al., 2022).
Com isso, o propranolol é um bloqueador não seletivo dos receptores β-adrenérgicos aprovado para tratar hemangiomas infantis problemáticos que necessitam de tratamento sistêmico. Embora tenha um bom perfil de segurança, efeitos adversos graves, como irritação brônquica e hipoglicemia, podem ocorrer. Sua alta lipofilia permite que atravesse a barreira hematoencefálica, o que pode resultar em efeitos no sistema nervoso central, como distúrbios do sono e agitação. Esses efeitos podem afetar o desenvolvimento cerebral em lactentes. A necessidade de uso prolongado pode fazer com que os riscos superem os benefícios em alguns casos (Ji et al., 2021).
Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo discutir os efeitos do propranolol no tratamento de hemangiomas infantis, incluindo eficácia e efeitos adversos.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura realizada na base de dados da PubMed. Para a busca, foram utilizados os termos MeSH: “Propranolol AND Hemangiomas AND Infantile”. Foram selecionados estudos transversais, prospectivos, de coorte, ensaios clínicos e relatos de caso publicados nos últimos cinco anos (2020-2025), nos idiomas português, inglês ou espanhol. Estudos de revisão, teses, dissertações, artigos pagos e duplicados foram excluídos da análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O propranolol demonstrou alta eficácia no tratamento de HIs, com 93,7% de resposta positiva em seis meses e cerca de 80% de resolução completa ou quase completa após dois anos. Seu efeito no controle do crescimento dos hemangiomas é rápido, sendo perceptível já na primeira semana de uso. No entanto, o tratamento pode estar associado a efeitos adversos como distúrbios do sono, agitação e eventos bronquiais, embora geralmente sejam leves e transitórios. Em comparação com o atenolol, o propranolol apresentou uma incidência maior de efeitos colaterais no sistema nervoso central e respiratório, o que pode influenciar a tolerabilidade. Ainda assim, permanece uma opção terapêutica eficaz para hemangiomas que exigem intervenção sistêmica (Ji et al., 2021).
Além disso, o propranolol revelou taxas de resolução completa ou quase completa, alcançando até 60% após seis meses de uso na dose de 3 mg/kg/dia. Em doses menores, como 2 mg/kg/dia, mantém uma resposta satisfatória, reduzindo a incidência de eventos adversos. A resposta terapêutica pode variar conforme a gravidade do hemangioma e os critérios de avaliação utilizados nos estudos, o que dificulta a padronização dos resultados. Comparado ao nadolol, o propranolol apresenta eficácia semelhante, mas diferenças farmacocinéticas sugerem um potencial aumento na penetração da barreira hematoencefálica, o que pode influenciar a escolha terapêutica (Pope et al., 2022).
Quando o propranolol é iniciado antes dos 3 meses de idade pode resultar em melhor resolução estética e funcional. Embora bem tolerado, pode causar efeitos adversos como resfriamento das extremidades e distúrbios do sono, que podem ser ajustados pela dosagem. A hipoglicemia é uma complicação grave, evitada com administração após alimentação. Outros efeitos como distúrbios gastrointestinais e bronquiais podem exigir suspensão temporária. Mesmo raros, bradicardia e hipotensão exigem monitoramento, especialmente após aumentos de dose. O início precoce do tratamento previne complicações e melhora os resultados (Giachetti et al., 2023).
Todavia, o manejo com o gel de propranolol apresentou efeitos limitados na redução da vermelhidão das lesões, sem diferenças significativas entre os grupos analisados. Apesar disso, o tratamento tópico mostrou um perfil de segurança favorável, com poucos efeitos adversos graves, como o desenvolvimento de asma em um paciente, embora não tenha sido possível estabelecer uma relação causal entre o uso do gel e o surgimento do sintoma. A eficácia do gel foi restrita, especialmente considerando a fase involutiva do hemangioma, onde o processo de auto resolução pode mascarar os efeitos do medicamento. No entanto, observou-se uma redução na ansiedade dos pais, o que sugere uma vantagem no manejo emocional dos familiares, além de boa adesão ao tratamento, dado o formato de aplicação duas vezes ao dia (Rikihisa et al., 2022).
Já na pesquisa de Nagata et al. (2022), o propranolol tópico a 5% mostrou-se eficaz no tratamento de HIs, com uma taxa de eficácia de 68,8% após 24 semanas. A eficácia foi observada pela redução na área da lesão, diâmetro máximo e intensidade da cor. O tratamento foi seguro, sem efeitos adversos graves como hipotensão ou bradicardia, comuns no uso sistêmico. A baixa concentração plasmática sugere um efeito local, com poucos efeitos colaterais. Embora promissor, o estudo teve limitações, como o tamanho reduzido da amostra e a duração curta da observação.
Durante o tratamento do estudo de Bessar et al. (2022), foi identificada uma redução nos níveis de angiopoietina 2 (Ang2), um marcador importante na formação de novos vasos sanguíneos, sugerindo que o propranolol exerce um efeito antiangiogênico. Embora o estudo não tenha abordado em detalhes os efeitos adversos, a comparação com o itraconazol, um outro fármaco investigado, indicou que o propranolol poderia ser superado em termos de segurança e duração do tratamento. No entanto, o propranolol continua a ser uma opção válida para o manejo dos HIs, especialmente considerando sua eficácia clínica demonstrada.
O propranolol atua na inibição da proliferação de células endoteliais e induz a apoptose, o que pode reduzir a fase de proliferação dos hemangiomas. Apesar desses benefícios, o tratamento com propranolol pode resultar em crescimento de rebote após a interrupção do uso, com uma incidência média de 22,2%, semelhante à observada com o atenolol. Além disso, a duração do tratamento com propranolol foi associada a um risco maior de recrescimento, sugerindo que tratamentos mais longos podem não ser benéficos (Baruch; Ben Amitai; Friedland, 2024).
Portanto, o propranolol é considerado o tratamento de primeira linha para HIs, demonstrando grande eficácia na redução e eliminação das lesões. Ele atua principalmente por meio da vasoconstrição, inibição da angiogênese, e indução da apoptose das células endoteliais, fatores que contribuem para a regressão do hemangioma. Contudo, pode causar efeitos adversos, como hipoglicemia, bradicardia, hipotensão e distúrbios do sono, especialmente em crianças com comorbidades. O tratamento deve ser iniciado entre 5 semanas e 5 meses de idade, com monitoramento constante dos sinais vitais. A duração recomendada do tratamento é de seis meses, período no qual se observa boa resposta terapêutica. A segurança do medicamento é geralmente boa, desde que monitorado adequadamente (Kardasevic; Dinarevic, 2021).
CONCLUSÃO
O propranolol se apresenta como uma opção altamente eficaz para o tratamento de HIs, demonstrando uma resposta positiva significativa em curto e longo prazos. Embora o medicamento seja geralmente bem tolerado, efeitos adversos como dificuldades respiratórias, distúrbios do sono e hipoglicemia podem ocorrer, sendo gerenciáveis com ajustes na dose. Comparado a outros tratamentos, o propranolol possui uma eficácia superior, mas também pode acarretar efeitos colaterais mais frequentes. A versão tópica, embora tenha apresentado algum benefício, mostrou resultados limitados na redução das lesões. Apesar de potenciais recrescimentos após a suspensão, o propranolol segue sendo a terapia preferencial devido à sua comprovada eficácia.
REFERÊNCIAS
BARUCH, Shoham; BEN AMITAI, Dan; FRIEDLAND, Rivka. Rebound Growth of Infantile Hemangiomas after Propranolol versus Atenolol Treatment: A Retrospective Study. Dermatology, v. 240, n. 5-6, p. 879-884, 2024.
BESSAR, Hagar et al. Itraconazole versus propranolol: therapeutic and pharmacologic effect on serum angiopoietin-2 in patients with infantile hemangioma. Journal of Dermatological Treatment, v. 33, n. 1, p. 105-110, 2022.
GIACHETTI, Ana et al. Early propranolol treatment of infantile hemangiomas improves outcome. Anais brasileiros de dermatologia, v. 98, n. 3, p. 310-315, 2023.
JI, Yi et al. Efficacy and safety of propranolol vs atenolol in infants with problematic infantile hemangiomas: a randomized clinical trial. JAMA Otolaryngology–Head & Neck Surgery, v. 147, n. 7, p. 599-607, 2021.
KARDASEVIC, Mediha; DINAREVIC, Senka Mesihovic. Infantile sacral region hemangioma and combination treatment with propranolol and topical timolol: case review and reference review. Medical Archives, v. 75, n. 2, p. 158, 2021.
NAGATA, Eiko et al. Efficacy and safety of propranolol cream in infantile hemangioma: a prospective pilot study. Journal of Pharmacological Sciences, v. 149, n. 2, p. 60-65, 2022.
POPE, Elena et al. Noninferiority and safety of nadolol vs propranolol in infants with infantile hemangioma: a randomized clinical trial. JAMA pediatrics, v. 176, n. 1, p. 34-41, 2022.
RIKIHISA, Naoaki et al. Efficacy and safety of propranolol gel for infantile hemangioma: A randomized, double-blind study. Biological and Pharmaceutical Bulletin, v. 45, n. 1, p. 42-50, 2022.
1Médica pela Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE, Jaú, São Paulo, Brasil. E-mail: maria_beatriztv@hotmail.com