REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202406211057
Yuri Arsénio de Matos1
Resumo
Este estudo tem como objetivo analisar a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no contexto do ensino superior, com foco no Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU), em Angola. Diante da crescente digitalização da educação e das exigências impostas pelo contexto pandêmico, as instituições de ensino superior enfrentam o desafio de integrar as TIC de forma eficaz ao processo pedagógico. A pesquisa adotou uma abordagem quantitativa e descritiva, aplicando um questionário estruturado a 54 docentes da instituição, abrangendo aspectos como perfil dos respondentes, competências em TIC, frequência de uso, ferramentas utilizadas e percepções sobre impacto e desafios.
Os resultados revelaram que a maioria dos docentes possui um conhecimento intermediário ou avançado sobre TIC e as utiliza regularmente em suas práticas pedagógicas, com ênfase no planejamento de aulas, comunicação com alunos e avaliação. Contudo, persistem desafios relacionados à infraestrutura deficiente, instabilidade da internet, escassez de equipamentos e necessidade de capacitação contínua. A percepção geral sobre o impacto das TIC no ensino é positiva, mas a adoção ainda depende de políticas institucionais de incentivo, apoio técnico e investimentos em conectividade e formação.
Conclui-se que as TIC representam uma oportunidade estratégica para a modernização do ensino no ISPPU, sendo essencial superar os entraves técnicos e formativos para garantir sua integração plena. Recomenda-se a ampliação das ações formativas, melhorias na infraestrutura tecnológica e o fortalecimento da cultura digital institucional, além de estudos futuros que incluam a percepção dos estudantes e gestores.
Palavras-chave: Tecnologias de Informação e Comunicação, Ensino Superior, Educação Digital, Formação Docente, ISPPU.
Abstract
This study aims to analyze the use of Information and Communication Technologies (ICT) in higher education, focusing on the Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU), in Angola. Given the growing digitalization of education and the challenges brought by the pandemic context, higher education institutions face the need to effectively integrate ICT into the teaching-learning process. The research adopted a quantitative and descriptive approach, applying a structured questionnaire to 54 faculty members, covering topics such as respondent profile, ICT competencies, usage frequency, tools used, and perceptions about impact and challenges.
The findings show that most teachers have intermediate or advanced ICT knowledge and regularly apply these technologies in their academic practices, especially for lesson planning, student communication, and assessment. However, challenges persist, particularly regarding inadequate infrastructure, unstable internet connection, lack of digital equipment, and the need for continuous training. The overall perception of the impact of ICT on teaching is positive, yet its full adoption still depends on institutional support policies, technical assistance, and investments in connectivity and professional development.
It is concluded that ICT represents a strategic opportunity for the modernization of teaching at ISPPU. Overcoming technical and pedagogical barriers is essential for the successful integration of these technologies. The study recommends expanding training initiatives, improving digital infrastructure, and strengthening institutional digital culture. Future research should include the perspectives of students and academic managers to achieve a broader understanding of the digital transformation in higher education within the Angolan context.
Keywords: Information and Communication Technologies, Higher Education, Digital Education, Teacher Training, ISPPU.
Introdução
O avanço acelerado das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) tem provocado transformações significativas nos mais diversos setores da sociedade contemporânea, especialmente na educação. No contexto do ensino superior, as TIC passaram a ocupar um papel estratégico no processo de modernização institucional, oferecendo recursos que favorecem a inovação pedagógica, a flexibilização dos métodos de ensino e o aumento do alcance educacional. O uso dessas tecnologias vai além da simples digitalização de conteúdos: ele representa uma mudança paradigmática no modo de ensinar, aprender, comunicar e gerir o conhecimento.
A emergência da sociedade da informação e do conhecimento impõe às instituições de ensino superior (IES) o desafio de repensar suas práticas educacionais. O ensino presencial tradicional, baseado na transmissão vertical do saber, dá lugar a metodologias mais dinâmicas, colaborativas e centradas no estudante, apoiadas por plataformas virtuais de aprendizagem, ambientes interativos, recursos multimídia, inteligência artificial e gamificação. Nesse cenário, a integração eficaz das TIC pode potencializar a aprendizagem, tornando-a mais significativa, personalizada e adaptada às necessidades do estudante contemporâneo.
No entanto, essa realidade ainda se apresenta de forma desigual, especialmente nos países em desenvolvimento, onde fatores como infraestrutura deficiente, baixo acesso à internet, escassez de formação docente e resistência institucional dificultam a consolidação de uma cultura digital na educação superior. Em Angola, esse desafio é particularmente relevante, considerando o processo de expansão do ensino superior e as demandas por qualidade, inclusão e modernização do sistema educacional.
É nesse contexto que se insere o presente estudo, cujo foco é o Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU). A instituição, situada na província do Uíge, tem se empenhado na adoção de recursos tecnológicos para aprimorar seu processo de ensino-aprendizagem, especialmente diante das exigências trazidas pelo contexto pandêmico e pós-pandêmico. Contudo, ainda são escassos os estudos que avaliem, de forma sistemática, como as TIC estão sendo utilizadas no cotidiano pedagógico do ISPPU, quais seus impactos efetivos, desafios enfrentados e oportunidades de aprimoramento.
Diante disso, este artigo tem como objetivo principal analisar o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no ensino superior a partir da realidade do ISPPU. Especificamente, busca-se compreender: (1) como os docentes da instituição utilizam as TIC em suas práticas pedagógicas; (2) quais são os principais benefícios percebidos no processo de ensino-aprendizagem; (3) quais são os obstáculos técnicos, formativos e institucionais enfrentados; e (4) quais estratégias podem ser adotadas para potencializar o uso dessas tecnologias em prol de uma educação superior mais inovadora e inclusiva.
A justificativa deste estudo reside na necessidade de fortalecer políticas institucionais voltadas à transformação digital, ampliando a eficácia pedagógica e a qualidade dos serviços educacionais oferecidos. Ao investigar o caso do ISPPU, espera-se contribuir para o debate acadêmico e institucional sobre a modernização da educação superior em Angola, promovendo reflexões e propostas que possam ser replicadas em outras realidades educacionais similares.
Este artigo está estruturado em cinco seções principais. Após esta introdução, o segundo capítulo apresenta o referencial teórico sobre TICs no ensino superior. Em seguida, a metodologia utilizada é detalhada, seguida pela análise dos resultados e discussões. Por fim, são apresentadas as conclusões e recomendações finais.
Referencial Teórico
Conceito e Evolução das TIC no Ensino Superior
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) constituem um conjunto de recursos tecnológicos utilizados para processar, armazenar, transmitir e compartilhar informações por meios digitais. No âmbito educacional, essas tecnologias têm se tornado ferramentas fundamentais para a modernização dos métodos de ensino, oferecendo possibilidades antes inexistentes de acesso ao conhecimento, interação e construção coletiva da aprendizagem. Sua aplicação abrange desde o uso de computadores e internet até sistemas de gestão de aprendizagem (como Moodle, Google Classroom e Canvas), plataformas de videoconferência, aplicativos educacionais, recursos multimídia e, mais recentemente, ferramentas baseadas em inteligência artificial e realidade aumentada.
O conceito de TIC na educação está associado à transformação dos ambientes de aprendizagem e ao surgimento de novas práticas pedagógicas. De acordo com Kenski (2012), as TIC não apenas complementam os métodos tradicionais, mas propõem uma nova lógica de construção do conhecimento, mais interativa, colaborativa e centrada no estudante. Nesse sentido, seu uso promove mudanças significativas no papel do professor, que deixa de ser o detentor exclusivo do saber para atuar como mediador, orientador e facilitador do processo educativo.
A evolução das TIC no ensino superior é marcada por diferentes fases. Inicialmente, seu uso estava restrito à informatização de processos administrativos e ao apoio pontual ao ensino, com o uso de projetores, CDs interativos e laboratórios de informática. Com o avanço da internet na década de 1990, surgiram os primeiros ambientes virtuais de aprendizagem, permitindo a oferta de cursos a distância e o início do ensino online. Nos anos 2000, o ensino híbrido (blended learning) começou a se consolidar, combinando aulas presenciais com conteúdos digitais, aumentando a flexibilidade para estudantes e docentes.
Nos últimos anos, impulsionado sobretudo pela pandemia da COVID-19, o uso das TIC nas instituições de ensino superior passou a ser não apenas uma alternativa, mas uma necessidade. A transição abrupta para o ensino remoto evidenciou tanto as potencialidades quanto às fragilidades das IES em relação à infraestrutura tecnológica, à formação docente e à gestão de ambientes virtuais. Ao mesmo tempo, abriu caminhos para a consolidação de práticas pedagógicas mais inovadoras e eficientes, como a sala de aula invertida, o uso de podcasts e vídeos didáticos, fóruns de discussão, quizzes interativos, bem como a personalização da aprendizagem por meio de algoritmos.
Autores como Moran (2019) e Carvalho Neto (2022) apontam que a integração das TIC não pode ser vista apenas como uma questão técnica, mas como uma transformação cultural e pedagógica. Trata-se de repensar os modelos tradicionais de ensino e aprendizagem à luz das possibilidades digitais, ampliando o protagonismo do estudante e favorecendo a formação de competências para o século XXI.
Assim, a evolução das TIC no ensino superior deve ser entendida como um processo contínuo de adaptação e inovação, no qual as instituições precisam desenvolver políticas e estratégias consistentes que garantam não apenas o acesso às tecnologias, mas sua integração efetiva nos projetos pedagógicos. No contexto do ISPPU, compreender essa evolução é essencial para identificar o estágio atual da instituição em relação à transformação digital e propor caminhos para o fortalecimento de uma cultura educacional mais tecnológica, inclusiva e conectada com os desafios contemporâneos.
Benefícios das TIC no Ensino Superior
A incorporação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no ensino superior tem proporcionado transformações profundas no modo como o conhecimento é produzido, compartilhado e assimilado. Quando bem integradas ao processo pedagógico, as TIC ampliam o alcance e a qualidade da educação, promovendo ambientes de aprendizagem mais flexíveis, interativos e centrados no estudante. Os benefícios dessas tecnologias não se limitam apenas à dimensão técnica ou estrutural, mas envolvem também aspectos pedagógicos, sociais e cognitivos.
Um dos principais benefícios das TIC no ensino superior é a ampliação da acessibilidade ao conhecimento. Por meio de plataformas digitais e recursos online, estudantes de diferentes regiões, inclusive de áreas remotas ou com limitações de mobilidade, podem participar de atividades educacionais em tempo real ou de forma assíncrona. A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), como o Moodle e o Google Classroom, permite que conteúdos sejam disponibilizados continuamente, democratizando o acesso à informação e reduzindo barreiras geográficas e temporais.
Outro aspecto relevante é a possibilidade de personalização da aprendizagem, tornando o processo mais adaptado ao ritmo, estilo e necessidades individuais dos estudantes. Ferramentas digitais como vídeos interativos, simulações, quizzes, podcasts e softwares educativos possibilitam múltiplas formas de aprender, promovendo maior engajamento e autonomia. A personalização também é viabilizada por tecnologias baseadas em inteligência artificial, que podem sugerir conteúdos e atividades específicas para cada perfil de aluno, otimizando o desempenho e a retenção do conhecimento.
As TIC também favorecem o desenvolvimento de competências digitais e habilidades do século XXI, como o pensamento crítico, a criatividade, a comunicação, a colaboração e a resolução de problemas. Ao interagirem com plataformas digitais, os estudantes aprendem a pesquisar, selecionar e validar informações de forma autônoma, além de produzir conteúdos multimodais e participar de atividades colaborativas em rede. Essas habilidades são essenciais para a inserção no mercado de trabalho e para a cidadania em uma sociedade cada vez mais digitalizada.
A interatividade e a motivação no processo educativo são outros pontos favorecidos pelas TIC. O uso de metodologias ativas, como a sala de aula invertida, a gamificação e os fóruns de discussão, possibilita a construção coletiva do conhecimento, promove a participação dos alunos e estimula o diálogo entre docentes e discentes. A gamificação, por exemplo, tem se mostrado eficaz no aumento da motivação e do desempenho, ao incorporar elementos de jogos – como desafios, recompensas e rankings – no contexto pedagógico.
Além disso, as TIC contribuem significativamente para a gestão acadêmica e o acompanhamento do processo de aprendizagem. Plataformas educacionais permitem o registro e a análise de dados sobre o desempenho dos estudantes, possibilitando intervenções pedagógicas mais precisas. Essa prática, conhecida como learning analytics, tem sido cada vez mais utilizada pelas instituições para identificar dificuldades, orientar o planejamento de aulas e melhorar a tomada de decisões pedagógicas e administrativas.
Em síntese, os benefícios das TIC no ensino superior vão muito além do suporte tecnológico. Elas criam possibilidades para uma educação mais acessível, inclusiva, dinâmica e eficaz, alinhada às exigências de uma sociedade em constante transformação. No contexto do Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU), esses benefícios representam uma oportunidade estratégica para a modernização institucional e a promoção da qualidade do ensino.
Desafios e Barreiras
Apesar dos diversos benefícios proporcionados pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no ensino superior, sua implementação eficaz ainda enfrenta inúmeras barreiras, sobretudo em países em desenvolvimento. Os desafios não se restringem ao aspecto técnico, mas envolvem também questões pedagógicas, institucionais, culturais e sociais, exigindo uma abordagem integrada e estratégica por parte das instituições de ensino.
Um dos obstáculos mais evidentes é a infraestrutura tecnológica limitada, que afeta tanto as instituições quanto os estudantes. Em muitos contextos, especialmente fora dos grandes centros urbanos, o acesso à internet de qualidade é irregular ou inexistente, comprometendo o uso de plataformas digitais, videoconferências e outros recursos essenciais para o ensino remoto e híbrido. A carência de equipamentos adequados – como computadores, projetores, servidores e sistemas atualizados – também impede a integração efetiva das TIC nas práticas pedagógicas. No caso do ISPPU, por exemplo, a ausência de laboratórios de informática amplamente equipados ou de conexões estáveis pode limitar significativamente a adoção de soluções educacionais digitais.
Outro desafio fundamental está relacionado à capacitação docente. A simples disponibilização de ferramentas tecnológicas não garante sua utilização pedagógica eficaz. Muitos professores não possuem formação adequada para integrar as TIC às suas metodologias de ensino, o que resulta em um uso restrito ou inadequado dessas tecnologias. Além disso, há um déficit de programas de desenvolvimento profissional continuado voltados para a alfabetização digital dos docentes e para a exploração de metodologias ativas e inovadoras. Essa lacuna compromete o potencial transformador das TIC no ensino superior, pois o protagonismo do professor como agente de inovação é indispensável.
A resistência à mudança também se configura como uma barreira relevante. Muitos docentes e gestores ainda percebem as TIC como ameaças à pedagogia tradicional, temendo a desumanização do ensino, a substituição do trabalho docente por máquinas ou a complexidade no manuseio das ferramentas. Essa resistência pode ser alimentada por experiências negativas anteriores, por falta de apoio técnico ou por uma cultura institucional conservadora que valoriza métodos mais tradicionais de ensino.
Além disso, as instituições de ensino superior frequentemente carecem de políticas institucionais claras para a integração das TIC. A ausência de planejamento estratégico, de normativas específicas e de recursos financeiros destinados à inovação tecnológica compromete a sustentabilidade das iniciativas digitais. Sem uma visão sistêmica, o uso das TIC tende a ser pontual e fragmentado, sem articulação com o projeto pedagógico institucional ou com os objetivos de aprendizagem.
Por fim, destacam-se as desigualdades sociais e econômicas que impactam o acesso e a permanência dos estudantes em ambientes virtuais de aprendizagem. Muitos alunos não dispõem de equipamentos próprios, nem de ambientes domiciliares adequados para o estudo, o que dificulta sua participação plena nas atividades educacionais digitais. Esse fator pode acentuar a exclusão digital e comprometer a equidade educacional, um dos pilares fundamentais da democratização do ensino superior.
Em resumo, a superação desses desafios exige um esforço conjunto entre gestores, docentes e formuladores de políticas educacionais. No contexto do ISPPU, é fundamental investir na infraestrutura, na formação contínua dos professores, no desenvolvimento de uma cultura institucional de inovação e em estratégias que garantam o acesso equitativo às TIC, como condição indispensável para uma educação superior mais moderna, eficaz e inclusiva.
Metodologia
Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de analisar o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no contexto do ensino superior, tomando como base o Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU). A pesquisa adotou uma abordagem quantitativa e descritiva, adequada para captar percepções, comportamentos e padrões relacionados ao uso das TIC entre os docentes da instituição. Essa abordagem permite a sistematização de dados objetivos, facilitando a análise estatística e a construção de inferências baseadas em evidências empíricas.
A população-alvo da pesquisa foi composta por todos os docentes efetivos e colaboradores do ISPPU, totalizando 216 professores atuantes em diferentes áreas do conhecimento, incluindo ciências sociais e humanas, Gestão, Ciências da Educação, tecnológicas e da saúde. Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário estruturado, elaborado com base em estudos recentes sobre o uso das TIC na educação superior (Moran, 2019; Carvalho Neto, 2022). O questionário contemplou questões fechadas de múltipla escolha e escalas de concordância do tipo Likert, distribuídas em blocos temáticos como: (1) acesso às TIC, (2) frequência e tipo de uso, (3) percepções sobre os benefícios das TIC e (4) dificuldades enfrentadas na utilização dessas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.
A aplicação dos questionários ocorreu entre novembro de 2024 e Abril de 2025, por meio de formulários impressos e versões digitais (Google Forms), visando facilitar o acesso e aumentar a taxa de retorno. Ao final do processo, 54 docentes preencheram e devolveram os questionários corretamente, representando uma amostra equivalente a 25% da população total. Esta amostragem, embora não probabilística, é considerada significativa para fins exploratórios e descritivos, dado o caráter institucional e o foco específico do estudo.
A seleção dos participantes seguiu critérios de disponibilidade e interesse, respeitando o caráter voluntário da participação. Foram garantidos o anonimato dos respondentes e a confidencialidade das informações, conforme os princípios éticos da pesquisa científica. Antes da aplicação, o questionário foi submetido a um pré-teste com cinco docentes, para garantir a clareza das perguntas e a consistência dos itens.
Os dados coletados foram organizados em tabelas e processados com o auxílio do Microsoft Excel, sendo analisados por meio de estatísticas descritivas, tais como frequências absolutas, relativas e medidas de tendência central (média e moda). A análise buscou identificar padrões no uso das TIC, bem como a correlação entre variáveis como tempo de serviço, área de atuação e percepção dos benefícios e desafios tecnológicos.
Os resultados obtidos foram interpretados à luz do referencial teórico adotado e apresentados na seção seguinte, com o objetivo de subsidiar reflexões sobre a realidade institucional do ISPPU, contribuindo para o aprimoramento de estratégias de formação docente, investimentos em infraestrutura e promoção de práticas pedagógicas inovadoras com o uso de tecnologias digitais.
Resultados e Discussão
Perfil dos Respondentes
A análise do perfil dos docentes participantes do estudo revela informações relevantes sobre a composição do corpo docente do Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU), especialmente no que se refere às variáveis sexo, faixa etária, área de atuação, tempo de experiência profissional e nível de escolaridade.
Em relação ao sexo, observa-se uma predominância marcante do gênero masculino, com 93% dos respondentes (50 docentes), enquanto o feminino representa apenas 7% (4 docentes). Essa disparidade pode refletir um padrão estrutural na composição do corpo docente da instituição ou da região, indicando a necessidade de políticas de incentivo à equidade de gênero no ambiente acadêmico.
No que se refere à faixa etária, a maioria dos docentes encontra-se entre 30 e 40 anos (59%), seguida por 22% na faixa de 41 a 50 anos e 13% com mais de 50 anos. Apenas 6% possuem menos de 30 anos. Esses dados sugerem que o ISPPU conta com um corpo docente predominantemente maduro, com possível estabilidade profissional e experiência consolidada, o que pode ser um fator positivo para a qualidade do ensino. No entanto, a baixa presença de jovens docentes pode indicar uma limitação na renovação geracional e na incorporação de novas práticas pedagógicas digitais.
Quanto ao tempo de experiência docente, destaca-se que 35% dos professores têm entre 1 a 5 anos de atuação, 28% possuem 6 a 10 anos, e 33% estão na atividade há mais de 10 anos, enquanto apenas 4% estão em início de carreira. Esses números reforçam a predominância de profissionais com significativa vivência no magistério superior.
Em termos de formação acadêmica, mais da metade dos respondentes possui licenciatura (52%), enquanto 43% têm mestrado e apenas 6% possuem título de doutor. Isso evidencia uma formação sólida em nível de graduação e pós-graduação, mas ainda com baixa titulação em nível doutoral, o que representa um desafio para a consolidação da pesquisa e inovação tecnológica no ensino superior da instituição.
De forma geral, o perfil dos respondentes sugere um corpo docente relativamente experiente, com boa base formativa, mas que pode se beneficiar de políticas voltadas à qualificação contínua, especialmente em nível de doutorado e na atualização para uso pedagógico das TIC.
Competências e Formação em TIC
A análise das competências e da formação dos docentes em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) evidencia a diversidade de níveis de familiaridade e preparação para o uso dessas ferramentas no processo de ensino-aprendizagem no ISPPU. Os dados revelam um panorama que mescla avanços significativos com lacunas ainda a serem superadas, especialmente no que se refere à qualificação continuada e à ampliação do domínio técnico-pedagógico das TIC.
No que se refere ao nível de conhecimento dos docentes sobre TIC aplicadas ao ensino, observa-se que a maioria dos participantes declarou possuir conhecimentos em níveis intermediário (48%) e avançado (22%), somando um total de 70% de docentes com domínio considerável das tecnologias digitais. Isso indica que, de modo geral, há uma base sólida para a incorporação de recursos tecnológicos nas práticas pedagógicas. Por outro lado, 24% dos docentes declararam possuir apenas um conhecimento básico, e 6% afirmaram não possuir nenhum conhecimento em TIC. Esses dados apontam para a existência de um grupo que requer apoio mais intenso para desenvolver competências digitais essenciais, o que pode comprometer a equidade na implementação de metodologias inovadoras.
Quanto à participação em capacitações específicas para o uso das TIC, 67% dos docentes relataram ter participado de algum tipo de formação, enquanto 33% não tiveram essa oportunidade. A maioria das formações ocorreu por meio de formação acadêmica formal (43%), seguida por oficinas ou workshops (28%) e cursos online (20%). Apenas 9% mencionaram outras formas de capacitação. Isso demonstra que, embora uma parcela significativa dos docentes tenha buscado se atualizar, ainda existe um terço do corpo docente que carece de formação específica para lidar com as exigências do ensino digital.
Os dados reforçam a importância de políticas institucionais que promovam o acesso contínuo à formação em TIC, adaptada à realidade local e às necessidades pedagógicas dos docentes. A valorização da formação técnica, aliada à orientação metodológica, é fundamental para garantir a utilização crítica, criativa e eficaz das tecnologias no ensino superior.
Utilização das TIC no Ensino
A análise sobre a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nas práticas docentes do ISPPU permite compreender o grau de integração das ferramentas digitais no cotidiano acadêmico e suas múltiplas finalidades no processo de ensino-aprendizagem. Os dados revelam que, embora ainda existam limitações, a maioria dos docentes demonstra envolvimento frequente com o uso das TIC em suas atividades pedagógicas.
Em relação à frequência de uso das TIC, 37% dos docentes afirmaram utilizá-las frequentemente e 26% disseram que fazem uso sempre, totalizando 63% dos respondentes que integram as tecnologias de forma consistente em sua prática. Outros 31% utilizam algumas vezes, enquanto apenas 6% relataram usá-las raramente ou nunca. Esses resultados indicam que, mesmo com desafios estruturais, a maior parte dos professores está engajada na adoção de recursos digitais em sala de aula.
Sobre as principais ferramentas tecnológicas utilizadas, o computador aparece como o dispositivo mais comum (36%), seguido por aplicativos de comunicação como WhatsApp e Telegram (23%), que são amplamente utilizados para manter contato com os alunos. Outros recursos incluem o projetor multimídia (15%), plataformas online como Moodle ou Google Classroom (11%), e ferramentas de videoconferência como Zoom ou Google Meet (10%). O uso do quadro interativo ainda é restrito (4%), e apenas 1% mencionou utilizar outras ferramentas. Essa distribuição mostra uma preferência por recursos acessíveis e de fácil uso, embora ainda haja espaço para ampliação da variedade e sofisticação das ferramentas aplicadas.
Quanto à finalidade do uso das TIC, destaca-se o planejamento de aulas (25%) como principal aplicação, seguido por comunicação com os alunos (22%), compartilhamento de materiais (21%) e apresentações em sala de aula (17%). As TIC também são utilizadas em atividades avaliativas (13%), evidenciando sua inserção em diversas etapas do processo pedagógico. Esse cenário demonstra que as tecnologias não estão restritas a momentos expositivos, mas também cumprem funções organizacionais, interativas e avaliativas.
De modo geral, os dados revelam que os docentes do ISPPU têm integrado progressivamente as TIC às suas práticas educacionais, com ênfase em funcionalidades que favorecem a comunicação, a organização e o suporte didático. Para o avanço dessa integração, é necessário fortalecer o suporte técnico, ampliar o acesso a plataformas mais robustas e promover a diversificação metodológica com base nas tecnologias disponíveis.
Impacto e Desafios na Implementação das TIC
A implementação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no ensino superior não se resume à introdução de equipamentos ou plataformas, mas envolve um processo de adaptação pedagógica, institucional e tecnológica. A percepção dos docentes do ISPPU sobre o impacto das TIC no processo de ensino-aprendizagem revela, de forma clara, o reconhecimento de seu potencial transformador, ao mesmo tempo em que destaca os obstáculos que ainda dificultam sua adoção plena.
Com relação à percepção dos docentes sobre o impacto das TIC, a maioria avalia esse impacto como positivo (30%) ou muito positivo (63%), totalizando 93% dos respondentes com avaliação favorável. Apenas uma pequena parcela considera o impacto neutro (4%) ou negativo (4%), e nenhum docente apontou percepção muito negativa. Esses dados reforçam a ideia de que os professores reconhecem as TIC como aliadas no aprimoramento do ensino, contribuindo para maior dinamismo, interatividade e acesso ao conhecimento.
Contudo, a implementação das TIC enfrenta desafios estruturais significativos. O principal entrave apontado pelos docentes é a internet instável (41%), seguida de infraestrutura inadequada (40%), o que evidencia a limitação tecnológica da instituição, especialmente no que diz respeito à conectividade e aos equipamentos disponíveis. Além disso, 12% dos professores mencionaram a falta de capacitação como desafio, enquanto 4% apontaram a falta de tempo e 3% indicaram resistência à tecnologia. Esses dados revelam que, embora o corpo docente esteja em grande parte disposto a utilizar as TIC, enfrenta barreiras técnicas e formativas que dificultam a integração efetiva das tecnologias ao cotidiano pedagógico.
Quanto aos fatores que poderiam incentivar o uso mais amplo das TIC, os docentes destacaram principalmente a melhoria da internet (24%), melhor acesso a equipamentos (23%), políticas institucionais de incentivo (23%) e formações continuadas (21%). Apenas 8% mencionaram a necessidade de suporte técnico especializado. Esses resultados apontam para a necessidade de investimentos estratégicos em infraestrutura, capacitação e gestão institucional voltada à inovação educacional.
Em síntese, os docentes do ISPPU reconhecem o valor das TIC no ensino, mas identificam limitações práticas que exigem ação institucional coordenada para garantir a efetiva transformação digital no ensino superior.
Conclusão e Recomendações
Os resultados desta pesquisa evidenciam que o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU) vem crescendo de forma significativa, ainda que enfrentando diversos desafios estruturais e institucionais. A análise dos dados obtidos por meio dos questionários aplicados aos docentes da instituição permitiu identificar que há uma percepção majoritariamente positiva sobre o impacto das TIC no ensino-aprendizagem, com ampla adesão às ferramentas digitais em diferentes dimensões do trabalho pedagógico.
O perfil dos docentes revelou uma maioria com formação em nível de licenciatura e mestrado, além de uma experiência profissional consolidada. A maior parte dos professores declarou possuir conhecimentos intermediários ou avançados em TIC, o que sinaliza uma base promissora para a expansão de práticas pedagógicas inovadoras. Entretanto, ainda existem professores com domínio básico ou inexistente dessas tecnologias, demonstrando a necessidade de ações contínuas de formação técnica e metodológica.
A utilização das TIC é recorrente em atividades como planejamento de aulas, comunicação com alunos, avaliações e compartilhamento de conteúdos, com destaque para o uso de computadores, aplicativos de comunicação e plataformas online. Contudo, os dados também evidenciam que o uso é mais centrado em funcionalidades administrativas e de suporte, enquanto o uso pedagógico crítico e criativo ainda demanda incentivo e capacitação específica.
Entre os principais desafios enfrentados destacam-se a infraestrutura tecnológica inadequada, a internet instável e a carência de políticas institucionais claras que incentivem a inovação digital. Além disso, a falta de capacitação permanente e o suporte técnico limitado dificultam a implementação plena das TIC no ensino superior.
Diante desse panorama, as seguintes recomendações são propostas:
- Investimento em infraestrutura digital: melhorias na qualidade da conexão à internet, aquisição de equipamentos atualizados e criação de laboratórios de informática funcionais.
- Capacitação contínua dos docentes: promoção de oficinas, cursos online, programas de formação formal e incentivo à prática de metodologias ativas apoiadas por TIC.
- Criação de políticas institucionais claras: elaboração de planos estratégicos voltados à integração das TIC nos currículos dos cursos e no cotidiano pedagógico da instituição.
- Oferta de suporte técnico especializado: disponibilização de equipes responsáveis por orientar e apoiar docentes na utilização de ferramentas digitais.
- Estímulo à inovação pedagógica: reconhecimento de boas práticas e incentivo a projetos experimentais que envolvam o uso de tecnologias emergentes, como inteligência artificial, realidade aumentada e gamificação.
Por fim, recomenda-se que pesquisas futuras ampliem a amostra, incluindo também a percepção dos estudantes e gestores acadêmicos, de modo a obter uma compreensão mais ampla da cultura digital institucional. Estudos qualitativos com entrevistas e observações em sala de aula também poderiam aprofundar a análise das práticas pedagógicas mediadas por TIC no contexto angolano. Além disso, investigações comparativas com outras instituições de ensino superior da região ou de países africanos lusófonos poderiam enriquecer o debate sobre a inclusão digital e a modernização educacional no ensino superior africano.
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1Doutorando em Projecto na Especialidade em Tecnologia de Informação e Comunicação -Unini México., Mestre em Direcção Estratégica em Engenharia de Software, Uneatlantico-Espanha., Licenciado em Engenharia Informática. E.S.P. da Universidade Kimpa Vita – Angola., Pesquisador da Universidade Internacional do Cuanza – UNIC Angola., Docente e Pesquisador no Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU) – Angola