TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA DO RECÉM-NASCIDO: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202512101422


Cadma da Silva Pereira; Cristhiane Taimara Haito; Denise Cristina Vargas Albuquerque; Daniela Falcão Nobre; Rafaela Rodrigues Gomes Alencar; Jessica Ribeiro Martins Lanis; Marcela Cristina Borges dos Santos; Márcia Viana Carlos Cardoso do Canto


RESUMO

A taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN) é uma doença respiratória tipicamente comum e autolimitada que afeta principalmente recém-nascidos a termo e pré-termo tardios no mundo todo, geralmente manifestando-se nas primeiras  horas de vida. A TTRN resulta da eliminação tardia do líquido pulmonar fetal, levando à diminuição da complacência pulmonar e comprometimento das trocas gasosas pulmonares. Os recém-nascidos afetados apresentam desconforto respiratório leve a moderado, incluindo taquipneia, batimento de asa do nariz, retrações leves e gemido ocasional, geralmente sem hipoxemia grave. Os fatores de risco incluem parto cesáreo sem trabalho de parto, prematuridade e diabetes materna. O diagnóstico é clínico e soberano, baseado nos sintomas característicos e na exclusão de condições mais graves, como síndrome do desconforto respiratório, pneumonia ou sepse neonatal. Exames de imagem, como radiografia de tórax e ultrassonografia pulmonar, auxiliam na diferenciação da TTRN de outras causas. O tratamento é basicamente de suporte, frequentemente exigindo oxigênio suplementar e monitoramento rigoroso do RN. A maioria dos recém-nascidos se recupera em 24 a 72 horas sem consequências a longo prazo, embora alguns possam apresentar maior pré-disposição de sibilância ou asma na infância.

Palavras-chave: Taquipneia transitória do RN, taquipneia transitória, taquipneia,  Taquipneia do Recém-nascido.

ABSTRACT

Transient tachypnea of the newborn (TTN) is a typically common and self-limiting respiratory illness that primarily affects term and late preterm newborns worldwide, usually manifesting within the first few hours of life. TTN results from the delayed clearance of fetal lung fluid, leading to decreased lung compliance and impaired pulmonary gas exchange. Affected newborns present with mild to moderate respiratory distress, including tachypnea, nasal flaring, mild retractions, and occasional grunting, generally without severe hypoxemia. Risk factors include cesarean delivery without labor, prematurity, and maternal diabetes. Diagnosis is clinical and paramount, based on characteristic symptoms and exclusion of more serious conditions such as respiratory distress syndrome, pneumonia, or neonatal sepsis. Imaging studies, such as chest radiography and lung ultrasound, aid in differentiating TTN from other causes. Treatment is primarily supportive, often requiring supplemental oxygen and close monitoring of the newborn. Most newborns recover within 24 to 72 hours without long-term consequences, although some may have a greater predisposition to wheezing or asthma in childhood.

Keywords: Transient tachypnea of the newborn, transient tachypnea, tachypnea, newborn tachypnea.

INDRODUÇÃO

A taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN) é uma doença respiratória tipicamente comum e autolimitada que afeta principalmente recém-nascidos a termo e pré-termo tardios no mundo todo, geralmente manifestando-se nas primeiras  horas de vida. A TTRN resulta da eliminação tardia do líquido pulmonar fetal, levando à diminuição da complacência pulmonar e comprometimento das trocas gasosas pulmonares. Os recém-nascidos afetados apresentam desconforto respiratório leve a moderado, incluindo taquipneia, batimento de asa do nariz, retrações leves e gemido ocasional, geralmente sem hipoxemia grave. Os fatores de risco incluem parto cesáreo sem trabalho de parto, prematuridade e diabetes materna. O diagnóstico é clínico e soberano, baseado nos sintomas característicos e na exclusão de condições mais graves, como síndrome do desconforto respiratório, pneumonia ou sepse neonatal. 

“O diagnóstico é principalmente clínico, baseado na exclusão de outras causas de desconforto respiratório neonatal. A taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN) é distinta da condição conhecida como “transição tardia”, um breve período de desconforto respiratório que ocorre no período pós-natal imediato e que normalmente se resolve nas primeiras 6 horas sem intervenção. A transição tardia é considerada uma variação normal da adaptação à vida extrauterina. A TTRN, por outro lado, é caracterizada por taquipneia e desconforto respiratório com duração superior a 6 horas, e frequentemente requer monitoramento e cuidados de suporte. Ambas as condições estão associadas à eliminação tardia do líquido pulmonar fetal, mas a TTRN representa um comprometimento mais significativo e prolongado desse processo”. Conforme, Hermansen CL, 2015 Dez 01; 92 (11):994-1002. (negrito nosso).

Exames de imagem, como radiografia de tórax e ultrassonografia pulmonar, auxiliam na diferenciação da TTRN de outras causas. O tratamento é basicamente de suporte, frequentemente exigindo oxigênio suplementar e monitoramento rigoroso do RN. A maioria dos recém-nascidos se recupera em 24 a 72 horas sem consequências a longo prazo, embora alguns possam apresentar maior prédisposição de sibilância ou asma na infância. Palavras-chave:Taquipneia transitória do RN, taquipneia transitória, taquipneia,  Taquipneia do Recém-nascido.

FISIOPATOLOGIA

A fim de acomodar a transição para a respiração de ar ambiente ao nascimento, os pulmões precisam passar do modo secretório, que fornece ao pulmão fetal o líquido necessário para seu crescimento e desenvolvimento intrauterino normal, ao modo absortivo. Acredita-se que essa transição é facilitada por mudanças hormonais no ambiente maternofetal, incluindo um pulso de glicocorticoides e catecolaminas, associado a eventos fisiológicos que ocorrem próximo do final da gestação e durante o parto espontâneo. Canais de sódio sensíveis à amilorida, expressados na membrana apical do epitélio alveolar, desempenham um papel importante na eliminação do líquido pulmonar. 

A estimulação adrenérgica e outras alterações que ocorrem próximo do nascimento levam ao transporte passivo de sódio por meio dos canais de sódio epiteliais, seguido pelo transporte para o interstício via Na+/K+–ATPase basolateral e o movimento passivo de cloreto e água por meio das vias paracelular e intracelular. O líquido intersticial pulmonar se acumula nas bainhas perivasculares de tecido e nas fissuras interlobares, sendo liberado para os capilares e vasos linfáticos pulmonares. 

A interrupção ou o atraso na remoção do líquido dos pulmões fetais resulta no edema pulmonar transitório, que caracteriza a TTRN. A compressão das vias respiratórias complacentes pelo líquido acumulado no interstício pode levar a obstrução das vias respiratórias, retenção de ar e desequilíbrio ventilação-perfusão. Como os recém-nascidos geralmente se recuperam, não há uma definição patológica precisa do que ocorre.

“Alguns dias antes do início do trabalho de parto espontâneo, a produção de líquido pulmonar fetal diminui. Durante o trabalho de parto, um aumento materno de catecolaminas e glicocorticoides estimula a eliminação de fluidos pela ativação dos canais de sódio epiteliais (ENaC) nas membranas das células alveolares.  O sódio é absorvido através do ENaC e transportado para o interstício pulmonar, criando um gradiente osmótico que permite que o cloreto e a água o acompanhem e entrem nas circulações pulmonar e linfática.   Esse mecanismo de transporte é o principal meio de eliminação do líquido pulmonar fetal. Embora fatores mecânicos, como as forças de Starling e a compressão torácica durante o parto vaginal, possam auxiliar na expulsão do fluido, eles provavelmente desempenham um papel menor do que a absorção mediada por hormônios.   A taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN) ocorre quando a transição da secreção de cloreto para a reabsorção de sódio, via ENaC ativado, é tardia ou imatura, resultando na falha em eliminar o fluido alveolar. O excesso de fluido remanescente nos alvéolos causa diminuição da complacência pulmonar e comprometimento das trocas gasosas, levando a sinais de desconforto respiratório”.De acordo com, (Yeganegi M, Cesariana e distúrbios do sistema respiratório em recém-nascidos. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol X. 2024 setembro; 23 :100336). (negrito nosso)

EPIDEMIOLOGIA 

Importante, deixar claro que os fatores de risco para TTRN incluem o nascimento por cesariana com ou sem trabalho de parto, parto acelerado e parto pré-termo. Estes têm sido atribuídos à remoção tardia ou anormal do líquido pulmonar fetal, devido à ausência das alterações hormonais que acompanham o trabalho de parto espontâneo. Por sua vez, aqueles nascidos por cesariana eletiva, a ocorrência do trabalho de parto e a idade gestacional no momento do nascimento impactam o risco de complicações respiratórias, com o início do trabalho de parto e a gestação a termo conferindo algum grau de proteção. O parto em idades gestacionais menores, incluindo o parto pré-termo tardio, aumenta o risco de TTRN. O diagnóstico em gestações anteriores é complicado pela existência de outras condições associadas, como a síndrome de angústia respiratória do recém-nascido (SARRN). Outros fatores de risco incluem sexo masculino e história familiar de asma brônquica (especialmente materna). 

O mecanismo subjacente aos riscos associado à asma e ao gênero não é claro, mas pode estar relacionado com a sensibilidade alterada às catecolaminas, que atuam na eliminação do líquido do pulmão. Os polimorfismos genéticos nos receptores betaadrenérgicos das células alveolares tipo II foram associados à TTRN e podem influenciar na eliminação do líquido pulmonar por meio da regulação da expressão do canal de sódio epitelial.

“O parto cesáreo, particularmente quando realizado antes do início do trabalho de parto, é um fator predisponente bem estabelecido para a taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN). O risco é atribuído principalmente à ausência de alterações hormonais e fisiológicas associadas ao trabalho de parto, principalmente o aumento de catecolaminas, que facilita a absorção do fluido alveolar pelos sistemas linfático e vascular.  Embora a compressão torácica durante o parto vaginal também possa auxiliar na expulsão de algum fluido alveolar, esse mecanismo provavelmente desempenha um papel secundário em comparação com a depuração hormonal. Refletindo essas preocupações, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) publicou diretrizes em 2013 desaconselhando cesarianas não indicadas clinicamente antes de 39 semanas de gestação, em parte para reduzir a morbidade respiratória, incluindo a TTRN. Outros fatores de risco para TTRN incluem obesidade materna, diabetes materna, sexo masculino do feto e baixo ou grande para a idade gestacional”.Conforme, (Alhassen Z, Avanços recentes na fisiopatologia e no manejo da taquipneia transitória do recém-nascido. J Perinatol. 2021 Jan; 41 (1):6-16). (negrito nosso)

Macrossomia, diabetes melito materno e gestações múltiplas também aumentam o risco de TTRN.

As associações entre a TTRN e outros fatores obstétricos, como sedação materna excessiva, trabalho de parto prolongado e volume de líquido intravenoso infundido na mãe, têm sido menos consistentes.

MANIFESTAÇÃO CLÍNICA 

Os recém-nascidos pré-termo tardios ou a termo afetados geralmente apresentam taquipneia nas primeiras 6 horas de vida; a frequência respiratória varia tipicamente entre 60 e 120 incursões respiratórias por minuto. A taquipneia pode estar associada à dificuldade respiratória leve a moderada, com retrações intercostais, grunhidos, batimento de asas de nariz e/ou cianose discreta que geralmente respondem à suplementação de oxigênio a uma FiO2 < 0,40.

A insuficiência respiratória e o uso de ventilação mecânica são raros. Os recémnascidos podem apresentar aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em forma de barril) devido à hiperinsuflação, que pode também empurrar o fígado e o baço para baixo, tornando-os palpáveis.

A ausculta geralmente revela boa entrada de ar, podendo ou não ser auscultadas crepitações. Os sinais de TTRN geralmente persistem por 12 a 24 horas em casos de doença leve, mas podem perdurar até 72 horas em casos mais graves.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

 O diagnóstico de TTRN exige a exclusão de outras etiologias potenciais de angústia respiratória leve a moderada nas primeiras 6 horas de idade. O diagnóstico diferencial inclui pneumonia/sepse, SARRN, hipertensão pulmonar, aspiração de mecônio, cardiopatia congênita cianótica, malformações congênitas (p. ex., hérnia diafragmática congênita, malformações adenomatoides císticas), lesões do sistema nervoso central (SNC) (hemorragia subaracnóidea, encefalopatia hipóxicoisquêmica) que causam hiperventilação central, pneumotórax, policitemia e acidose metabólica.

AVALIAÇÃO

Anamnese e exame físico. 

Uma anamnese cuidadosa sem sombra de duvidas, identifica elementos (como prematuridade, fatores de risco infecciosos, mecônio ou depressão perinatal) que podem ajudar no direcionamento da avaliação. Do mesmo modo, os achados do exame físico realizado (como anormalidades cardíacas ou neurológicas) podem levar a uma investigação mais orientada.

Avaliação radiográfica. 

Com relação aos exames complementares, a radiografia de tórax do recém-nascido com TTRN é consistente com retenção do líquido pulmonar fetal, indicando faixas peri-hilares proeminentes características (padrão de sol nascente) devido ao ingurgitamento dos vasos linfáticos periarteriais que participam da remoção do líquido alveolar. Densidades grosseiras “em algodão” podem refletir edema alveolar. Podendo ainda, ser observada hiperaeração com alargamento dos espaços intercostais, cardiomegalia leve, fissura interlobar alargada e cheia de líquido e derrames pleurais leves. Os achados radiográficos na TTRN geralmente melhoram em 12 a 18 horas e desaparecem em até 48 a 72 horas. Essa resolução rápida ajuda a distinguir o processo de uma pneumonia ou aspiração de mecônio. 

“A ultrassonografia pulmonar (US) é cada vez mais utilizada para diagnosticar a taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN). A Academia Americana de Pediatria afirma que essa modalidade é segura, altamente sensível e específica para identificar a TTRN, ajudando a diferenciá-la da síndrome do desconforto respiratório (SDR) e da pneumonia. A obtenção de uma ultrassonografia à beira do leito (POCUS) pode reduzir o tempo para o diagnóstico em comparação com a realização de uma radiografia de tórax e evitar a exposição à radiação ionizante. Unidades neonatais em ambientes acadêmicos e de atendimento terciário frequentemente utilizam a POCUS como modalidade de imagem de primeira linha; no entanto, as radiografias de tórax permanecem mais acessíveis e confiáveis em unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN) de nível 1, que geralmente não possuem os equipamentos e a expertise necessários para realizar e interpretar os resultados da ultrassonografia”.Conforme, (Stewart DL,  COMITÊ DE FETO E RECÉM-NASCIDO E SEÇÃO DE RADIOLOGIA. Comitê Executivo da Seção de Radiologia, 2021–2022. Uso da ultrassonografia à beira do leito na UTI neonatal para fins diagnósticos e de procedimentos. Pediatrics. 2022 Dez 01; 150 (6). (negrito nosso).

A radiografia do tórax também pode ser usada para excluir outros diagnósticos, como pneumotórax, SARRN e malformações congênitas. É importante lembrar que o aumento da vascularidade pulmonar na ausência de cardiomegalia pode representar retorno venoso pulmonar anômalo total.

EXAMES LABORATORIAIS

O profissional, pode lançar mão de um hemograma completo e culturas apropriadas podem fornecer informações a respeito de uma possível pneumonia ou sepse. Se os fatores de risco ou dados laboratoriais sugerirem uma infecção ou se a angústia respiratória não melhorar, devem ser prescritos antibióticos de amplo espectro. Pode-se usar uma gasometria arterial para determinar o grau de hipoxemia e a adequação da ventilação.

Os recém-nascidos com taquipneia transitória podem ter hipoxemia leve e acidose respiratória discreta no caso concreto, que normalmente se resolve em 24 horas. Em caso de hipoxemia persistente ou grave, deve-se considerar a realização de avaliação cardíaca. Por sua vez, a alcalose respiratória pode refletir hiperventilação central decorrente de doença do SNC.

TRATAMENTO 

O tratamento rotineiro mundo a fora, é majoritariamente de suporte, com fornecimento de oxigênio suplementar, conforme o necessário. Casos mais graves podem responder à pressão positiva contínua nas vias respiratórias, como por exemplo o (CPAP) para melhorar o recrutamento alveolar. Os recém-nascidos muitas vezes são submetidos à pesquisa de infecções e tratados com antibióticos por 24 a 48 horas, até que os resultados da hemocultura sejam negativos. Se a taquipneia persistir e estiver associada a aumento do trabalho respiratório, pode ser necessária alimentação por gavagem ou líquidos intravenosos. 

“Quando os bebês não melhoram, pioram ou necessitam de uma fração inspirada de oxigênio superior a 0,40, os médicos devem considerar a transferência para uma unidade que ofereça um nível mais elevado de cuidados neonatais. O suporte de rotina inclui monitoramento cardiopulmonar contínuo, manutenção de um ambiente térmico neutro, manutenção do equilíbrio hídrico, obtenção de níveis de glicose no sangue, obtenção de acesso intravenoso (IV) e monitoramento de sinais de infecção. Como a taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN) pode ser difícil de distinguir da pneumonia e da sepse precoce, os médicos devem considerar o uso de antibioticoterapia empírica (por exemplo, ampicilina e gentamicina) enquanto aguardam os resultados das hemoculturas”.De acordo com, (Hein HA, Ely JW, Lofgren MA. Dificuldade respiratória neonatal no hospital comunitário: quando transportar, quando manter. J Fam Pract. 1998 Abr; 46 (4):284-9.(negrito nosso).

Merece ser dito, que as estratégias destinadas a facilitar a absorção dos líquidos do pulmão do RN, não mostraram eficácia clínica. A furosemida oral não mostrou melhorar a duração da taquipneia nem o tempo de internação. 

Em um estudo baseado na hipótese de que os recém-nascidos com taquipneia transitória têm níveis relativamente baixos de catecolaminas (que facilitam a absorção de líquido do pulmão fetal), o tratamento com epinefrina racêmica não alterou a incidência de resolução da taquipneia em comparação com o placebo.

COMPLICAÇÕES

Apesar de a TTRN seja um processo autolimitado, a terapia de suporte pode ser acompanhada por complicações no RN. A instituição de CPAP está associada a risco aumentado de extravasamento de ar. O atraso no início da alimentação oral pode interferir no vínculo com os pais e no estabelecimento da amamentação, e pode prolongar a internação hospitalar.

“As complicações mais comuns da taquipneia transitória do recémnascido (TTRN) são de curto prazo e relacionadas à necessidade de cuidados de suporte. Estas incluem hospitalização prolongada e transferência para uma unidade neonatal, com subsequente separação materno-infantil, o que contribui para o atraso no início da amamentação e pode interferir no vínculo inicial.  Os bebês podem ser expostos a antibióticos intravenosos enquanto aguardam os resultados da hemocultura. Raramente, a TTRN progride para hipoxemia grave, necessitando de ventilação mecânica, com risco de escape de ar e pneumotórax”. De acordo com, (Birnkrant DJ, Associação entre taquipneia transitória do recém-nascido e asma na infância. Pediatr Pulmonol. 2006 out; 41 (10):978-84). (negrito nosso)

PROGNÓSTICO 

Importante frisar, que a TTRN é um processo clinico autolimitado, sem risco de recidiva e seu prognóstico é na maioria das vezes excelente. Em geral, não há efeitos residuais significativos a longo prazo. No entanto, há cada vez mais evidências na literatura que descreve uma possível ligação entre a TTRN e a doença reativa das vias respiratórias apresentadas na infância. Tal correlação ainda precisa ser confirmada.

“Complicações são raras; no entanto, relatos de casos descrevem uma forma de taquipneia transitória do recém-nascido “maligna”, na qual os neonatos afetados desenvolvem hipertensão pulmonar persistente, possivelmente relacionada à resistência vascular pulmonar elevada secundária à retenção de líquido nos pulmões.  Embora algumas evidências sugiram um risco aumentado de sibilos ou asma mais tarde na infância, a grande maioria dos neonatos com TTN apresenta resolução completa dos sintomas e função pulmonar normal a longo prazo”. De acordo com, (Birnkrant DJ, Associação entre taquipneia transitória do recémnascido e asma na infância. Pediatr Pulmonol. 2006 out; 41 (10):978-84). (negrito nosso)

Conforme dito, apesar de ser uma patologia sem gravidade, excepcionalmente se não diagnosticado precocemente, bem como não tratado adequadamente, pode levar a complicações severas.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão narrativa sobre os aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos e clínicos sobre a enterocolite necrosante. Para tal fim, realizou-se um levantamento bibliográfico a partir da base de dados “Pub Med”, sendo incluídos os seguintes termos para direcionar a pesquisa: “Taquipneia transitória do RN, taquipneia transitória, taquipneia,  Taquipneia do Recém-nascido”.

Os critérios de inclusão para a seleção dos estudos, adotaram-se: (a) artigos nos idiomas português, espanhol e inglês; (b) estudos de revisão de literatura ou de revisão sistemática; (c) ano de publicação de janeiro de 2002 a dezembro de 2025; (d) relevância do estudo; (e) presença dos termos “Taquipneia transitória do RN, taquipneia transitória, taquipneia,  Taquipneia do Recém-nascido”, título e/ou resumo cientifico. Com relação aos critérios de exclusão, foram levados em consideração: (a) estudos não relacionados ao tema; (b) artigos publicados anteriormente ao ano de 2007; (c) artigos que não contemplem os demais critérios de inclusão. Assim, foram levantados quarenta artigos, restando apenas vinte e cinco selecionados para esta revisão de literatura após a utilização dos critérios de elegibilidade descritos.

DISCUSSÃO

Conforme pode ser analisado a taquipneia transitória do recém-nascido, é uma patologia normalmente com apresentação clinica de baixo risco, entretanto, o profissional que atua na área neonatal deve estar atento nas primeiras horas de vida do RN, isso porque, a patologia é facilmente diagnosticada, com tratamento simples de suporte, porém, apesar da baixa gravidade, se não diagnosticada logo e tratada pode vir a complicar o quadro clinico, podendo levar o RN a piora em poucas horas, diante disso, o profissional não deve subestimar a patologia, evitando assim, qualquer desfecho clinico desfavorável.

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