REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202508161253
Siluane Barbosa Azevedo¹
Maria de Fátima de Sousa Gomes¹
Elisângela Leitão de Oliveira²
RESUMO
A síndrome de Burnout, também conhecida como estresse crônico ou esgotamento profissional, decorre de um estresse prolongado no ambiente de trabalho e faz parte da realidade de muitos profissionais da área contábil. Trata-se de uma síndrome que se desenvolve de maneira distinta em cada indivíduo, dependendo de fatores como o ambiente de trabalho, o clima organizacional, as realizações pessoais e os projetos que o profissional busca, bem como das suas atividades laborais. A presente pesquisa tem como objetivo realizar uma revisão sistemática sobre a prevalência da síndrome de Burnout diante das funções e exigências dos contadores, por meio da análise de artigos científicos publicados entre os anos de 2020 e 2025. A partir da pesquisa realizada, observou-se que muitos profissionais apresentam sintomas da síndrome, o que afeta diretamente o desempenho de suas atividades. Diante disso, torna-se necessária a atuação de profissionais da área de gestão. Recomenda-se que as empresas implementem programas de prevenção, tratamento e controle do estresse no trabalho, utilizando técnicas de relaxamento, promovendo seminários sobre a importância do combate ao estresse, entre outras ações que contribuam para a saúde dos colaboradores. Essas medidas visam proporcionar uma melhor qualidade de vida no ambiente de trabalho e evitar o desenvolvimento de quadros de estresse.
Palavras-chave: Saúde Mental. Ambiente contábil. Estresse. Burnout.
ABSTRACT
Burnout syndrome, also known as chronic stress or professional exhaustion, results from prolonged stress in the workplace and is part of the reality for many professionals in the accounting field. It is a syndrome that develops differently in each individual, depending greatly on the work environment, organizational climate, personal achievements, and the projects the individual pursues, as well as their professional activities. This research aims to conduct a systematic review on the prevalence of burnout syndrome among accountants, based on scientific articles published between 2020 and 2025. Through the research conducted, it was observed that many professionals suffer from this syndrome, which affects the performance of their tasks, making the support of management professionals necessary. It is recommended that companies implement programs for the prevention, treatment, and control of workplace stress, using relaxation techniques, seminars addressing the importance of combating stress, and other activities that promote employee health. These measures contribute to better quality of life at work and help prevent the development of stress-related conditions.
Keywords: Mental Health. Accounting Environment. Stress. Burnout.
1. INTRODUÇÃO
Embora o burnout tenha sido tradicionalmente associado aos profissionais de saúde e educadores, pesquisas emergentes indicam que essa síndrome afeta indivíduos em várias profissões e até mesmo aqueles que não estão envolvidos em empregos formais. Fatores como demandas de trabalho elevadas, autonomia diminuída e remuneração inadequada estão fortemente associados ao burnout em uma variedade de contextos profissionais (Vnuková et al. 2023). Além disso, a ocorrência de burnout na população em geral também tem sido associada a uma infinidade de fatores sociais e psicológicos.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2020), a Síndrome de Burnout (SB), termo de origem inglesa — “burn” (queimar) e “out” (estar do lado de fora) — é uma condição relacionada principalmente ao ambiente de trabalho. Ela ocorre com frequência quando os profissionais estão envolvidos em metas excessivamente desafiadoras, para as quais, por diversos motivos, podem não estar suficientemente preparados ou qualificados. No entanto, para que se caracterize como SB, é necessário considerar também fatores físicos e psíquicos.
Essa síndrome é caracterizada por três dimensões principais: exaustão emocional, despersonalização ou cinismo e uma sensação reduzida de realização pessoal. Esses sintomas são frequentemente relatados por profissionais que atuam em áreas com alta demanda de interação interpessoal e cuidado com o outro (Magalhães et al., 2025).
Além disso, o Burnout tem sido associado a diversos problemas de saúde física e mental, como depressão, transtornos de ansiedade, doenças cardiovasculares e um risco aumentado de suicídio. Nesse contexto, a investigação sobre a prevalência da Síndrome de Burnout e seus determinantes assume um papel fundamental, fornecendo subsídios para a formulação de estratégias que promovam a saúde mental e o bem-estar ocupacional (Salvagioni et al., 2021).
Segundo Treter (2020), em um relato publicado pelo Conselho Federal de Contabilidade, os contadores estão entre os profissionais mais propensos à depressão e ao estresse, devido a diversos fatores, como a constante necessidade de atenção e concentração, além da alta pressão para o cumprimento de prazos. O profissional da contabilidade exerce um papel fundamental nas instituições, estando diretamente envolvido com informações orçamentárias, financeiras e patrimoniais, além de ser um elo importante no processo de prestação de contas e tomada de decisões.
O entendimento desse tema é de grande relevância para a área de gestão, uma vez que os fatores de pressão no trabalho, quando identificados e correlacionados com a satisfação e a qualidade de vida no ambiente laboral, influenciam diretamente na efetividade e produtividade. Diante desse contexto, este estudo tem como objetivo descrever as principais causas potenciais de estresse crônico denominado Síndrome de Burnout no trabalho de contadores, diante das funções e exigências exigidas nestas atribuições.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Síndrome de Burnout
Derivado do inglês “to burn out” (“queimar-se, consumir-se” em português), o termo Síndrome de Burnout foi usado por primeira vez, em 1974, pelo psicanalista Herbert Freudenberger ao observar que seu trabalho não lhe trazia o mesmo prazer de outrora, relacionando a sensação de esgotamento à falta de estímulo originado da escassez de energia emocional. Além desses sintomas, Freudenberger incluiu fadiga, depressão, irritação e inflexibilidade como pertencentes ao quadro sintomatológico da síndrome de Burnout (Rankings, 2020).
Para avaliar a síndrome de Burnout, o instrumento mais utilizado é o Maslach Burnout Inventory (MBI) criado por Maslach e Jackson, sendo considerado o mais fidedigno, pois avalia diferentes subitens em comparação com os outros questionários que analisam apenas um (Rankings, 2020).
Trata-se de um questionário com 22 questões a serem respondidas sobre sentimento em relação ao trabalho e à frequência dos sintomas, pontuando os resultados. Para os subitens que compõem a síndrome (exaustão emocional – EE, despersonalização – DP e realização profissional – RP), há 9, 5 e 8 questões, respectivamente. Cada subitem é avaliado em baixo, médio e alto (Rankings, 2020).
Em relação à EE, uma pontuação baixa é aquela ≤ 14; um score médio é aquele compreendido entre 15 e 24; e alto com resultados ≥ 25. Para o subitem DP, a pontuação ≤ 3 significa baixo índice, entre 4 a 9 é médio e ≥ 10, alto. Por fim, para RP, pontuações ≥ 40 indicam baixo índice (pois a escala é inversa às demais), entre 33 e 39 pontos é um índice médio e ≤ 32 é alto). Alta pontuação nos subitens desgaste emocional e despersonalização, e baixa pontuação no subitem realização profissional, é classificado como alto índice (Rankings, 2020).
O desenvolvimento da síndrome ocorre por meio de um processo dinâmico que envolve os três subitens EE, DP e RP, em que inicialmente ocorre uma elevação dos três e, em sequência, há redução da EE e progressão para os níveis graves de DP e RP. Porém, um item alterado isoladamente não é suficiente para definir a síndrome de Burnout (Rankings, 2020).
A síndrome de Burnout, agora classificada na CID-11 sob o código QD85, é reconhecida como uma preocupação ocupacional, sendo associada ao estresse no ambiente de trabalho que não foi adequadamente gerido. Conforme a Organização Internacional do Trabalho (2021), o estresse ocupacional pode trazer sérias consequências para a saúde mental e física dos trabalhadores, impactando também a produtividade das empresas. A síndrome de Burnout é caracterizada pela exaustão emocional e física, sendo um dos principais transtornos relacionados ao estresse no contexto profissional.
Nesse contexto, a síndrome de Burnout é um problema de saúde pública que pode acarretar ausência no trabalho e licença por doença, gerando despesa para a organização empregadora, além de afetar a qualidade do serviço oferecido, a produtividade e o lucro (Salomão, 2025).
Profissões que demandam alto nível de stress no dia a dia são mais susceptíveis à síndrome de Burnout, particularmente nos profissionais que têm pressões em relação ao resultado e muitas das vezes ficam trancados em escritórios, como os profissionais dos escritórios de contabilidade.
2.2 Profissionais de contabilidade
O delinear da carreira em contabilidade pode ser observado e interpretado a partir de diferentes abordagens. Inicialmente, discute-se a construção de carreira, em termos de preferências de atuação, motivações e priorização de elementos, a partir de atributos técnicos e impessoais, sem a consideração do background de vida, características cognitivas, traços deposicionais e geração destes indivíduos (Lopes et al., 2024).
A carreira contábil é discutida sob um caráter tecnicista e impessoal, que envolve o indivíduo apenas como objeto da pesquisa (Coelho et al., 2021). Entretanto, percebe-se um crescente movimento que questiona a impessoalidade das práticas contábeis, insurgindo questionamentos acerca do papel social ocupado pelos profissionais contábeis (Sauerbronn et al., 2023).
Argumenta-se que as escolhas de carreira dos indivíduos são realizadas com base em aspectos intrínsecos e extrínsecos (Marçal et al., 2020), que alinham os elementos comportamentais dos indivíduos aos aspectos geográficos, políticos, econômicos, psicológicos, sociais, familiares e educacionais (Machado; Brunozi, 2021; Magalhães et al., 2022). Logo, a carreira contábil, dentro desse espectro formal de entrar e permanecer na área, pode ser discutida não somente sobre o comportamento de um indivíduo, mas também revisitando elementos socioeconômicos que desencadeiam o sentimento e a motivação de continuar investindo nessa carreira.
Contabilistas que trabalham em escritórios possuem uma rotina bastante corrida, isso porque geralmente os escritórios têm muitos clientes de diferentes segmentos, com diferentes prazos em diferentes cidades e às vezes em diferentes países (Machado, 2021). O que muitas das vezes os deixam sobrecarregados com as atividades do dia a dia.
O dia a dia do contador é repleto de prazos apertados, legislação complexa e em constante mudança. Além disso, tem a responsabilidade de garantir a conformidade fiscal e financeira de empresas e pessoas. Essa combinação pode levar a altos níveis de pressão e, consequentemente, desenvolver a síndrome de Burnout. No entanto, existem estratégias eficazes para gerenciar essa tensão e promover um ambiente de trabalho mais saudável.
2.3 Estratégias para evitar a síndrome de Burnout no escritório de contabilidade
Silva (2021) destaca que a gestão de pessoas é fundamental para o sucesso e sustentabilidade das organizações, desempenhando um papel estratégico que vai além da simples administração de recursos humanos.
Oliveira (2020) afirma que “um ambiente de trabalho que equilibre a vida pessoal e profissional é fundamental para o bem-estar dos funcionários, o que, por sua vez, se reflete diretamente na produtividade”. Essa visão está alinhada com a ideia de que uma gestão de pessoas eficaz está diretamente relacionada à criação de uma cultura organizacional positiva, onde a comunicação clara e o respeito mútuo são essenciais para fomentar a colaboração e a inovação. Dessa forma, organizações que investem em uma gestão estratégica de pessoas, promovendo o desenvolvimento contínuo dos colaboradores e criando um ambiente de respeito e valorização, são capazes de reter talentos e garantir um desempenho sustentável a longo prazo.
O cuidado com os funcionários é essencial para qualquer organização que busca sustentabilidade e competitividade a longo prazo. Almeida (2022) enfatiza que os colaboradores devem ser vistos como seres humanos com limitações e expectativas, e não apenas como recursos. O reconhecimento dessa dimensão humana é fundamental para criar um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
Estratégias que promovem um equilíbrio entre vida profissional e pessoal, programas de bem-estar e saúde mental, e políticas de reconhecimento e recompensa justa são fundamentais para prevenir o Burnout. Lima (2021) argumenta que o desenvolvimento de programas que abordem o bem-estar dos funcionários e políticas de reconhecimento ajuda a manter a motivação e o engajamento, reduzindo o risco de esgotamento.
Portanto, uma gestão de pessoas eficaz deve ser voltada para a criação de um ambiente que equilibre as demandas organizacionais com o bem-estar dos colaboradores, assegurando a sustentabilidade tanto da saúde individual quanto do desempenho empresarial, principalmente para aqueles que ficam apenas em uma sala, escritório, com pressão e responsabilidade para entregar os resultados solicitados.
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura realizada com base em artigos científicos selecionados conforme o estudo. O processo de elaboração desta revisão foi iniciado com a formulação da questão de pesquisa relevante para a saúde dos trabalhadores da área contábil: Qual é a prevalência da síndrome de Burnout diante das funções e exigências dos escritórios de contabilidade?
As buscas foram realizadas em bases de dados de revistas científicas, conduzidas pelo tema, a fim de garantir a conferência das informações coletadas em todas as etapas. As pesquisas ocorreram em bases de dados eletrônicas reconhecidas pela comunidade científica, como PubMed, Scopus,Web of Science e SciELO. Para a realização da busca, foram utilizados os seguintes descritores: “Burnout”, “síndrome de Burnout”, “esgotamento”, “agotamiento”, “profissionais”, “contadores” e “estresse crônico”.
Como critérios de inclusão, consideraram-se: artigos originais desenvolvidos com profissionais da área contábil; estudos com abordagem quantitativa e descrição clara das análises estatísticas realizadas; publicações no período de 2020 a 2025, nos idiomas português, inglês ou espanhol; e disponibilidade do texto completo em meio eletrônico.
Foram excluídos relatórios técnicos, teses, dissertações e estudos duplicados ou conduzidos com a mesma população. Após a definição das estratégias de busca, as pesquisas foram executadas.
Inicialmente, os artigos foram submetidos aos critérios de inclusão, resultando na identificação de 73 trabalhos. Em seguida, realizou-se a seleção por meio da leitura exploratória dos títulos e resumos. Em alguns casos, optou-se pela leitura integral do artigo para melhor definição quanto à inclusão ou exclusão. Nessa etapa, 59 artigos (80,8%) foram excluídos por duplicidade e/ou por não atenderem estritamente à temática ou ao desenho metodológico proposto. Dos 14 artigos restantes, todos foram lidos na íntegra. Destes, 8 foram excluídos por não utilizarem o MBI-SS como instrumento padrão-ouro e/ou por não apresentarem descrição das análises estatísticas. Dessa forma, a amostra final desta revisão sistemática foi composta por 6 artigos.
4. RESULTADOS
Em relação a busca dos seguintes descritores: Burnout, síndrome de Burnout, esgotamento, agotamiento, profissionais, contadores e estresse crônico durante a pesquisa foram encontrados 153 trabalhos na base científica. Sendo, 43 Burnout, 35 síndromes de Burnout, 15 agotamiento, 10 profissionais, 25 contadores e 25 estresses crônicos. No entanto, apenas 73 artigos estavam citando os profissionais da área contábil.
Ainda não há um consenso na literatura acerca da interpretação do MBI para caracterizar a síndrome de Burnout, no entanto, a seleção dos artigos científicos foi baseada naqueles que possuíam esta interpretação. Entretanto, há autores que definem a presença da doença pelo critério dos três itens ao nível grave, enquanto outros acreditam que uma dimensão ao nível grave, independente de qual seja, é suficiente para diagnosticá-la.
Neste estudo, foi considerada a presença dos três itens ao nível severo para o diagnóstico da doença, pois, conforme a literatura, é necessário que as três dimensões sejam afetadas para conferir maior fidedignidade ao real diagnóstico dessa doença.
Nos âmbitos profissional e pessoal, o fato de não estar com a saúde mental em equilíbrio, estando submetido a estresse e tristeza, pode levar o indivíduo a desenvolver diversas doenças, entre elas a depressão e a ansiedade (Salomão, 2025). Que é um dos itens na interpretação do MBI.
A avaliação dos aspectos relacionados à dimensão psicossocial do trabalho tem sido objeto de estudos recentes em saúde do trabalhador (Gherardi-Donato; Luis; Corradi-Webster, 2022). Isso se deve ao número crescente de transtornos mentais e comportamentais associados ao trabalho, evidenciados nas estatísticas oficiais e não oficiais.
No Brasil, segundo estatísticas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), considerando apenas trabalhadores com registro formal, os transtornos mentais ocupam o terceiro lugar entre as causas de concessão de benefícios previdenciários, como auxílio-doença, afastamento por mais de quinze dias e aposentadorias por invalidez (BRASIL, 2020).
Conforme o Ministério da Saúde, o desenvolvimento de transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho está associado ao contexto laboral e à interação com o corpo e o aparato psíquico dos trabalhadores. Entre os fatores geradores de sofrimento estão: a falta de trabalho ou ameaça de perda do emprego; o trabalho desprovido de significação; situações de fracasso; ambientes que inibem a comunicação espontânea; fatores relacionados ao tempo (ritmo, turno de trabalho, jornadas longas); pressão por produtividade; intensidade ou monotonia do trabalho executado; e a vivência de acidentes de trabalho traumáticos (BRASIL, 2020).
A Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional (SEP), foi um termo utilizado pela primeira vez em 1974 por Freundenberger, psicanalista americano, ao publicar um artigo no periódico Journal of Social Issues. Ele concluiu tratar-se de um processo de desgaste emocional e/ou desmotivação, que ocorre de forma gradual e geralmente dura cerca de um ano, sendo acompanhado de sintomas físicos e psíquicos que denotam um estado particular de “exaustão”.
Podemos dizer que a síndrome de Burnout é uma mudança que se inicia gradualmente no organismo, em fases que variam conforme o indivíduo, podendo ser mais lentas ou rápidas. Ela se agrava aos poucos, provocando sensações que, embora pareçam normais para muitos, não são, como: intensificação do cansaço, falta de energia, esgotamento extremo, pensamentos negativos, sofrimento por antecipação, entre outros.
Os profissionais da contabilidade não estão alheios a essa realidade, pois lidam diretamente com seus clientes e, consequentemente, com seus problemas. O interesse em manter a excelência nos serviços oferecidos leva muitos profissionais a exercerem exigências e cobranças pessoais exacerbadas (Medeiros et al., 2022).
Segundo Salomão (2025), para prevenir o Burnout, as organizações devem: monitorar indicadores de exaustão entre os colaboradores; estabelecer uma cultura de suporte e acolhimento; oferecer programas de gestão do estresse; e promover uma distribuição equilibrada de tarefas e responsabilidades. A identificação precoce de sintomas como fadiga extrema, irritabilidade e baixa produtividade é essencial para evitar impactos negativos no desempenho organizacional.
Medeiros e colaboradores (2022) pesquisaram a relação entre o esgotamento profissional e a atuação dos profissionais contábeis no Estado do Pará. Os resultados demonstram que, devido à intensa carga de trabalho e ao excesso de atividades, os profissionais apresentaram certo grau de exaustão, o que pode prejudicar suas atividades laborais e, por conseguinte, desencadear doenças ocupacionais.
As empresas estão inseridas em um mercado altamente competitivo, devido a inúmeros fatores, entre eles: a abundância de informações, a crescente necessidade de inovação e o aprimoramento das técnicas de gerenciamento para adaptação a eventos mais complexos. O ambiente organizacional agitado, a pressão e a incoerência de normas no trabalho, a sobrecarga de atividades, a vida pessoal e a saúde mental e física colocadas em segundo plano têm efeitos diretos nos funcionários e podem ocasionar perdas nos resultados.
Essa sobrecarga, além de diminuir o ritmo e a qualidade do trabalho, torna o estresse parte do cotidiano das empresas. Embora não seja fácil defini-lo, o estresse possui lados positivo e negativo. Quando controlado, pode tornar os colaboradores mais ativos; porém, quando não controlado, pode causar diversos distúrbios físicos e emocionais (Santos, 2023).
A crescente exigência por produtividade e o alto desempenho têm impactado significativamente a saúde mental dos trabalhadores. O Burnout é um desafio crescente que afeta não apenas a qualidade de vida dos colaboradores, mas também o desempenho das organizações. Dessa forma, as empresas precisam adotar estratégias que promovam o bem-estar e a saúde mental no ambiente de trabalho, garantindo um ambiente mais equilibrado e produtivo.
A contabilidade tem papel fundamental nas tomadas de decisão das empresas, pois, por meio de suas demonstrações, as organizações podem mensurar o estado de suas riquezas e patrimônio.
O profissional de contabilidade precisa estar constantemente atualizado em relação às suas habilidades e aos seus colegas de trabalho. Por esse motivo, muitos desses profissionais abrem mão do lazer, descanso e outras atividades que proporcionam bem-estar, a fim de garantir essa vantagem competitiva (Santos, 2023).
O trabalho de um contador envolve a análise de documentos, cumprimento de metas e prazos, exigindo atenção e critério nas análises. Cabe ao contador organizar e executar serviços contábeis, em geral, realizar a escrituração dos livros obrigatórios, organizar e levantar os respectivos balanços, entre outras atribuições (Medeiros et al., 2022).
As empresas contábeis precisam reavaliar sua administração, especialmente no que diz respeito à gestão de pessoas, tratando os colaboradores de forma integral, visando identificar falhas, antecipar problemas e tomar iniciativas inovadoras que reduzam os fatores causadores de estresse no trabalho.
Desgastes em relacionamentos profissionais, erros provocados por esquecimento ou outros fatores podem causar impactos expressivos na qualidade da informação disponibilizada pelo profissional, gerando multas ou erros em relatórios, podendo até levar instituições à falência, conforme a gravidade (Oliveira, 2025).
Dessa forma, as empresas devem investir na capacitação de seus profissionais para alcançar seus padrões e objetivos. Os colaboradores devem ser treinados, motivados e integrados ao trabalho, como forma de reduzir ou eliminar o estresse (Oliveira, 2025).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O levantamento dos aspectos que impactam a saúde mental nesta pesquisa mostra-se de grande importância para o entendimento de como identificar possíveis doenças na rotina de trabalho. Dessa maneira, se não tratadas adequadamente, podem se constituir em riscos psicossociais, com consequências danosas para a saúde dos trabalhadores. Além de afetar o lado profissional, baixo desempenho, afetando toda a cadeia produtiva. Recomenda-se às empresas a implementação de um programa de prevenção, tratamento e controle do estresse no trabalho, utilizando técnicas de relaxamento, seminários abordando a importância do combate ao estresse, entre outras atividades que venham proporcionar saúde aos colaboradores e, consequentemente, melhor qualidade de vida no trabalho, evitando que desenvolvam um quadro de estresse.
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1Pós-Graduandas do curso de pós-graduação lato sensu, MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Universidade do Estado do Amazonas – UEA.
2Professora Universitária. Universidade do Estado do Amazonas – UEA.
