SEMAGLUTIDA: OS IMPACTOS DO USO INADEQUADO DE EMAGRECEDORES

SEMAGLUTIDE: THE IMPACTS OF THE INAPPROPRIATE USE OF WEIGHT LOSS DRUGS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202512192340


Mayra Sena Carvalho Gomes1
Gilvana Ribeiro Quaresma2
Valéria da Silva Teixeira3
Manoel Guacelis de Sena Dias Junior4


Resumo

A obesidade constitui um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, estando associada ao aumento da incidência de doenças crônicas não transmissíveis, especialmente o diabetes mellitus tipo 2. Diante desse cenário, fármacos originalmente desenvolvidos para o controle glicêmico, como a semaglutida (Ozempic®), passaram a ser amplamente utilizados de forma off-label com a finalidade de emagrecimento, impulsionados pela pressão estética contemporânea, pela influência da mídia e pela busca por resultados rápidos na perda de peso. O presente trabalho tem como objetivo analisar os perigos e as consequências do uso indiscriminado do Ozempic no emagrecimento, destacando os riscos à saúde e a relevância da atuação multiprofissional, em especial do farmacêutico, no uso racional de medicamentos. Trata-se de uma revisão de literatura, elaborada a partir da análise de artigos científicos, revisões sistemáticas e integrativas, documentos institucionais, bulas medicamentosas e publicações indexadas em bases de dados nacionais e internacionais. Os achados da literatura demonstram que, embora a semaglutida apresente eficácia significativa na redução do peso corporal e no controle metabólico em pacientes com indicação clínica adequada, seu uso sem acompanhamento profissional pode ocasionar efeitos adversos relevantes, como náuseas, vômitos, diarreia, hipoglicemia, perda de massa muscular, alterações gastrointestinais persistentes e impactos psicológicos relacionados à imagem corporal. Além disso, o uso indiscriminado pode comprometer a segurança do tratamento, favorecer a automedicação e desviar o foco de estratégias terapêuticas mais sustentáveis, como mudanças no estilo de vida e intervenções não farmacológicas. Observa-se ainda que a banalização do uso do Ozempic para fins estéticos reforça práticas inadequadas de prescrição e consumo de medicamentos. Conclui-se que o uso indiscriminado da semaglutida para emagrecimento representa um risco significativo à saúde individual e coletiva, sendo imprescindível o fortalecimento da prescrição racional, do acompanhamento multiprofissional e de ações educativas que promovam o uso seguro e consciente de medicamentos.

Palavras-chave: Semaglutida; Ozempic; Emagrecimento; Uso indiscriminado; Atenção farmacêutica.

1  INTRODUÇÃO

A obesidade é uma condição médica caracterizada pelo excesso de gordura, que pode ter efeitos negativos na saúde. Algumas das principais causas da obesidade são: consumo excessivo de calorias, falta de atividade física, fatores genéticos, fatores metabólicos. A obesidade é entendida como uma condição crônica, complexa, causada por muitos fatores e necessita acompanhamento e tratamento ao longo da vida do indivíduo. (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2022).

O diabetes tipo 2 é uma das principais doenças crônicas associadas à obesidade. A contínua produção de insulina pelo pâncreas e a diminuição na secreção da insulina, são os dois mecanismos envolvidos no desenvolvimento do diabetes tipo2. A resistência à insulina provocada pelo sobrepeso e a obesidade diminuem a capacidade do corpo usar a insulina para o controle adequado dos níveis de açúcar no sangue, tornando os pacientes com excesso de peso mais vulneráveis ao diabetes. Quando a obesidade se prolonga, essa alteração metabólica pode levar à falência das células do pâncreas e, consequentemente, diminuir a produção de insulina, aumentando continuamente a glicose no sangue, causando assim o DMT2. (INSTITUTO BAIANO DE OBESIDADE, 2022). 

Semaglutida é indicado no tratamento de adultos com diabetes mellitus tipo 2 insuficientemente controlada, como adjuvante à dieta e exercício. Semaglutida deve ser administrado uma vez por semana a qualquer hora do dia, com ou sem refeições. Deve ser injetado por via subcutânea no abdómen, na coxa ou no braço. Não são recomendadas doses semanais superiores a 1mg. (OZEMPIC, BULA, 2024).

Medicamentos usados no tratamento da diabetes, Análogos do péptido-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), a Semaglutida é um análogo do GLP-1 com uma sequência de homologia de 94% relativamente ao GLP-1 humano, ela atua como agonista dos receptores de GLP-1 que se liga seletivamente e ativa o receptor de GLP-1, o alvo para GLP-1 nativo. O GLP-1 é uma hormona fisiológica que tem múltiplas ações na regulação do apetite e da glicose, bem como no sistema cardiovascular. Os efeitos no apetite e na glicose são especificamente mediados pelos receptores do GLP-1 no pâncreas e no cérebro. (OZEMPIC, BULA, 2024).

O fármaco reduz a glicose sanguínea de uma forma dependente da glicose, estimulando a secreção da insulina e reduzindo a secreção de glucagon quando a glicose sanguínea está elevada. O mecanismo de redução da glicose sanguínea também envolve um ligeiro atraso do esvaziamento gástrico na fase pós-prandial precoce, durante a hipoglicemia, a Semaglutida diminui a secreção de insulina e não inviabiliza a secreção de glucagon.

Diante do aumento no uso off-label desse fármaco por indivíduos buscando emagrecimento, emerge a urgência de uma investigação criteriosa sobre este fenômeno. A crescente tendência de recorrer a medicamentos inicialmente desenvolvidos para outras condições, como o diabetes tipo 2, para a perda de peso, destaca a necessidade de uma análise profunda sobre as implicações dessa prática. Assim, este estudo tem como objetivo avaliar os perigos e consequências associados ao uso dessa medicação para emagrecer, buscando uma compreensão abrangente dos riscos envolvidos e das repercussões para a saúde dos usuários (Denge et al., 2022; Gao et al., 2022).

Nesse contexto, de insegurança na realização dos serviços de saúde principalmente no âmbito hospitalar ressalta-se a importância da atuação do farmacêutico clínico o qual deve compor a equipe multiprofissional sendo assim o presente estudo se justifica a medida do qual o importante é enfatizar a importância da atuação do farmacêutico clínico no âmbito hospitalar no sentido que o profissional garantir medidas as com as minimizar os riscos relacionados assistência saúde (Oliveira, 2014).

2  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

No Brasil, Schilder (1999) concebe a imagem corporal como um fenômeno social, em que as emoções se dirigem aos outros e são sempre sociais. Para se chegar à análise consistente da imagem corporal sob o ponto de vista sociológico, se faz necessário o entendimento da formação da identidade corporal. 

É possível perceber que a formação de uma identidade corporal nasce da intercomunicação e das trocas sociais entre os indivíduos. O “eu” é uma estrutura social que se desenvolve inteiramente numa experiência de comunicação. Num contexto existencial, a autora visualiza a imagem corporal como a revelação de uma identidade, de um sujeito na história e de suas relações concretas (Giordani, 2006).

O estigma criado na sociedade contemporânea em relação às pessoas obesas, têm resultado em graves danos de ordem física e psicossocial. Assim, se tornou uma ferramenta para descriminar e excluir o indivíduo, além de colaborar no surgimento de problemas como bullying, depressão, suicídio, abuso de anorexígenos, cirurgias plásticas, distorção da própria imagem, entre outros (Porto et al., 2019; Costa et al., 2021).

Alberto (2007) faz algumas ressalvas, indicando que emoções, pensamentos e determinadas atitudes estão sempre respaldadas por um aparato social, que dita regras. O afastamento social vivido pelos obesos dificulta sobremaneira a progressão de sua imagem corporal.

Segundo Barros (1990 apud Morais et al., 2002), a pessoa com obesidade não sofre tanto a dor física, mas a dor pelo desejo de um corpo magro. Ela sente que seu corpo é grotesco e sofre por ser vista pelos demais com hostilidade.

A obesidade, por sua vez, é um problema de saúde pública global com taxas alarmantes de crescimento. Associada a vários distúrbios metabólicos, como a síndrome metabólica, hipertensão, dislipidemia e resistência à insulina, a obesidade tem repercussões dramáticas, não só no desenvolvimento do DM2, mas também em uma série de outras condições crônicas, como doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer (Rosen et al., 2022).

A definição de obesidade é entendida como o acúmulo excessivo de gordura corporal (World Health Organization, 1998). Em um cenário global onde a prevalência de DM2 e obesidade continua a aumentar, torna-se urgente que os profissionais de saúde busquem estratégias eficazes que integrem abordagens farmacológicas e não farmacológicas para o manejo dessas condições. Embora os tratamentos farmacológicos sejam essenciais, a incorporação de terapias não farmacológicas é crucial para a promoção da saúde e a prevenção de complicações a longo prazo (Bray et al., 2018).

O diabetes mellitus (DM) compreende um grupo de distúrbios metabólicos caracterizados pelo aumento da glicose plasmática (hiperglicemia crônica), associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos. Pode resultar de defeitos na secreção e/ou ação da insulina, envolvendo processos patogênicos específicos, como a destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros (BRASIL, 2006; PARANÁ, 2018; REGULASUS, 2016). 

A Diabetes Mellitus tipo 2, representa uma crescente preocupação global devido ao seu impacto em constante crescimento. Esta condição está associada a uma maior resistência à insulina e disfunção secretória das células β do pâncreas sua origem dessa resistência e disfunção pode ser atribuída a fatores genéticos e ambientais. Além disso, a DM2 contribui significativamente para o número de óbitos, sendo responsável por cerca de 4,2 milhões de mortes em 2019. A prevalência da DM2 é mais alta na faixa etária entre 40 e 59 anos (GALICIA-GARCIA et al.,2020).

A crescente demanda por medicamentos para emagrecimento, impulsionada pela por soluções rápidas e eficazes para o controle de peso, representa um dos principais desafios na prevenção do uso indiscriminado da Semaglutida. A busca falta de conhecimento adequado sobre o medicamento, especialmente fora do contexto de tratamento do diabetes tipo 2, também dificulta a identificação precoce de efeitos adversos e o manejo adequado (Lima, Rinald e Andrade, 2024).

O tratamento, a prevenção e mudanças no estilo de vida por meio de intervenção dietética e atividade física muitas das vezes é ineficaz. Neste cenário, o tratamento farmacológico se faz necessário no combate à obesidade, pois o paciente deve ser submetido a um tratamento medicamentoso, prescrito por médico, para atingir melhores resultados, associado a um tratamento não medicamentoso como reeducação alimentar e exercícios físicos frequentes para manter resultados em longo prazo (Kushner et al., 2020).

Com a finalidade de buscar terapias farmacológicas para o tratamento da obesidade, que já possui a terapêutica de mudanças de hábitos de vida, como aumentar a prática de exercícios físicos e fazer a implementação de uma dieta menos calórica, foi que se surgiu os medicamentos agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon (AR GLP-1), como a semaglutida. A semaglutida, um fármaco que ainda é novo no mercado, foi marcado por um bom desempenho no tratamento da obesidade, principalmente por inibir o apetite, foi observado que a associação entre semaglutida e mudanças de hábitos de vida contribuíram para uma perda de peso significativa nos pacientes em comparação com o placebo (Singh, et al. 2022).

Semaglutida, um agonista do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) mais recente, desenvolvido pela Novo Nordisk para o tratamento do diabetes tipo 2. O medicamento foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para injeção subcutânea (Ozempic) em 5 de dezembro de 2017 e para comprimidos orais (Rybelsus) em setembro de 2019 como adjuvante à dieta e exercícios para melhorar o controle glicêmico. (Rai AK et al., 2021).

Os peptídeos de incretina (peptíddeo-1 semelhante ao glucagon [GLP-1] e polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose, também chamado de polipeptídeo inibitório gástrico [GIP]) são peptídeos gastrointestinais que estimulam a secreção de insulina dependente de glicose. O GLP-1 também inibe a liberacão de glucagon e o esvaziamento gástrico. Os agonistas do receptor de GLP-1 ligam-se ao receptor de GLP-1 e estimulam a liberaçãoo de insulina dependente de glicose das ilhotas pancreáticas. Eles são usados em combinação com metformina ou outro agente oral para pacientes com diabetes tipo 2 que falham na terapia inicial com um ou dois agentes orais, particularmente quando a perda de peso é uma consideração primária, a perda de peso é comum com agonistas do receptor de GLP-1. (DE PAULO, et al., 2021).

A semaglutida é um análogo de GLP-1 com 94% de homologia sequencial ao GLP-1 humano. A semaglutida age como um agonista do receptor de GLP-1 que se liga seletivamente e ativa o receptor de GLP-1, o alvo do GLP-1 endógeno, o GLP-1 é um hormônio fisiológico que possui múltiplas ações na glicemia, na regulação do apetite e no sistema cardiovascular, ação na glicemia e os efeitos no apetite são mediados especificamente pelos receptores de GLP1 no pâncreas e no cérebro. A semaglutida reduz a glicemia de uma forma dependente da glicose, estimulando a secreção de insulina e diminuindo a secreção de glucagon quando a glicemia é alta. O mecanismo de redução da glicemia também envolve um pequeno atraso no esvaziamento gástrico na fase pós-prandial precoce. Durante a hipoglicemia, a semaglutida diminui a secreção de insulina e não prejudica a secreção de glucagon. (Ozempic. BULA PROFISSIONAL 2025).

O sucesso do uso de miméticos do GLP-1 no tratamento do DM2 trouxe atenção ao seu potencial no tratamento da obesidade devido principalmente aos seus efeitos supressores do apetite. Uma das formas comerciais de semaglutida, é a injeção subcutânea, recomenda-se aplicação semanal de 0,25 mg nas primeiras quatro semanas. Na sequência a dose deve ser aumentada para 0,5 mg por quatro semanas e posterior ao segundo ciclo a dosagem pode ser aumentada para 1,0 mg dependendo da necessidade do paciente. Vem sendo investigado sobre a eficácia da semaglutida subcutânea em dose única semanal de 2,4 mg. (PIRES WEBER, et al., 2023).

Por outro lado, Oliveira (2023) explica que, embora a semaglutida tenha sua indicação clínica para o tratamento do diabetes mellitus tipo II, o uso desse medicamento para o emagrecimento ainda gera muitas controvérsias, principalmente porque sua indicação não é aprovada, explicitamente, para obesidade. No entanto, estudos já asseguram sua eficácia na perda de peso mesmo sendo ainda um tratamento que ainda está passando por estudos científicos para comprovar a eficácia, em relação ao uso para emagrecimento (Silva; Rosa, 2023).

Nesse contexto, Andrade (2024) conclui que várias classes farmacológicas de antidiabéticos interferem no peso corporal, em algumas delas ocorrendo aumento de peso, como nos casos das sulfonilureias, meglitinidas e as glitazonas, e e outras, redução do peso, como por exemplo, as biguanidas, inibidores da alfa-glicosidade, análogos das incretinas, análogos da amilina e os inibidores do cotransporte de sódio e glicose intestinal, sendo essas últimas preferíveis nos pacientes que tem diabetes e sobrepeso ou obesidade. Todavia, o autor ressalta que o acompanhamento médico, nutricional e farmacêutico adequado são fundamentais, pois algumas dessas medicações não possuem indicação terapêutica com finalidade de emagrecimento.

Na revisão conduzida por Bezerra et al., 2024 ressalta que todo medicamento gera algum tipo de efeito colateral no organismo. Não é diferente no uso da semaglutida, onde os efeitos mais comuns ao uso desse medicamento são incômodos no sistema gastrointestinal, seguidos de náuseas, vômitos, diarreia e, em casos de uso em conjunto com sulfonilureias ou insulinas, podem ocorrer uma redução na glicose. É importante ressaltar que este medicamento não é recomendado para mulheres grávidas, assim como para pessoas com histórico familiar de carcinoma medular da tireoide, neoplasia endócrina ou pancreatite, seja ela aguda ou crônica, e também para aqueles que possuem diabetes tipo 1.

A semaglutida lançada no Brasil em 2018 para o tratamento de diabetes tem demonstrado grande eficácia na redução de gordura uma vez que seu uso está associado a um melhor controle da alimentação, tornando-se necessário um levantamento baseado em conteúdos científicos atualizados sobre o uso desse fármaco na redução de peso chamando a atenção quanto ao seu uso indiscriminado, o que requer atenção dos profissionais de saúde em especial os farmacêuticos no controle do seu uso sem orientação médica (MEDEIROS, 2021).

O uso off-label se dá quando um medicamento é utilizado fora dos limites de sua autorização de comercialização ou registro no caso do Brasil, ou seja, numa dosagem, posologia ou via de administração diferente, ou em uma indicação ou grupo de pacientes não aprovado pela autoridade sanitária. O entendimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), é o de que o uso off-label pode ser definido como o uso em situações diferentes da bula de um medicamento registrado, isto é, diferente indicação, faixa etária ou peso, dose,frequência, via de administração ou apresentação farmacotécnica, além disso, pode eventualmente vir a caracterizar erro médico (ANICETO, 2019).

Vale ressaltar que esse fármaco é para Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) e não para pacientes em tratamento para obesidade ou sobrepeso. Pesquisadores afirmam que há eficiência na perda de peso a depender da dosagem para cada paciente, porém há riscos associados a este medicamento (CONCEIÇÃO et al., 2023). Segundo Ferreira et al., (2023), por conta do benefício da redução do peso corporal, este fármaco tem sido utilizado também para o tratamento da obesidade.

Em março de 2023, a ABESO (Associação Brasileira para estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) lançaram, em conjunto, uma nota oficial que visava esclarecer a indicação terapêutica da semaglutida e desaconselhava o uso off label para perda de peso, bem como criticava a banalização do tratamento sério e com indicação médica da obesidade. O uso indiscriminado, e possivelmente indevido, da semaglutida já causou o desabastecimento desse medicamento no mercado brasileiro e estadunidense, devido ao aumento da demanda, prejudicando os pacientes que realmente necessitam do tratamento farmacológico para diabetes (FANTAUS, 2023).

Em junho de 2025 o CFF (Conselho Federal de Farmácia) publicou a nova regra para dispensação de medicamentos sujeitos à retenção da receita, destaca-se que. Substâncias utilizadas no tratamento de diabetes tipo 2 e da obesidade, incluindo a semaglutida e outros medicamentos agonistas do receptor de GLP-1, como Ozempic e Wegovy, deverão ser dispensadas com a retenção da receita a partir de 23 de junho. A regra está prevista na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 973/2025 e na Instrução Normativa (IN) nº 360/2025, publicadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 24 de abril. (CFF, 2025).

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) evidencia que é importante que os profissionais de saúde reconheçam o indivíduo como um todo e de acordo com o perfil do paciente é possível traçar o tipo de abordagem mais adequada. Com relação ao tratamento farmacológico, o profissional farmacêutico deve repassar orientações objetivas como dose, horário, tempo de tratamento, riscos, benefícios e esclarecer qualquer dúvida que possa surgir durante o atendimento (CFF, 2022). As intervenções farmacêuticas colaboram com o uso correto de medicamentos. 

Porém o profissional farmacêutico enfrenta dificuldades de aceitação, em grande parte pela própria equipe multiprofissional. Essa realidade foi observada por Silva et al., (2023), tendo em vista que as intervenções clínicas realizadas pelo farmacêutico tiveram menor adesão. A implantação do cuidado farmacêutico na equipe de saúde observada por Arnaud (2024), foi considerada uma experiência exitosa. Destacando que o trabalho de uma equipe multiprofissional favorece o paciente, pois abrange áreas distintas fazendo com que os cuidados em saúde sejam mais humanizados e completos.

O cuidado farmacêutico engloba tanto a dispensação quanto a orientação do paciente em relação a eventos adversos e possíveis interações medicamentosas. Além disso, fornece aconselhamento sobre as instruções de administração, expectativas terapêuticas e potenciais efeitos colaterais. Essa abordagem assegura uma resposta terapêutica mais eficaz e promove a continuidade do tratamento por meio de intervenções educacionais (Silva; Rosa, 2023).

No que tange ao uso da semaglutida, destaca-se a importância da atuação do farmacêutico em proporcionar benefícios diretos aos pacientes por meio da identificação, prevenção e resolução de problemas relacionados aos medicamentos. O farmacêutico desempenha um papel essencial ao realizar um acompanhamento farmacológico de qualidade. A Atenção Farmacêutica surge como uma ferramenta eficiente não apenas para aprimorar o tratamento farmacológico, mas também para incentivar os pacientes, considerando suas particularidades diante dos desafios impostos por doenças, como o diabetes (Santos; Deuner, 2024).

OBJETIVO GERAL  

O presente trabalho tem por objetivo relatar o impacto do uso indiscriminado da semaglutida, como forma de emagrecedor sem acompanhamento profissional.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

  • Elucidar sobre a resultância do uso indiscriminado da semaglutida;
  • Enumerar dos efeitos colaterais e eventos adversos;
  • Conceituar sobre a importância do acompanhamento farmacoterapêutico e multiprofissional.

3  METODOLOGIA 

Esta pesquisa se qualifica como uma revisão sistemática da literatura, visto que esse tipo de pesquisa possui um método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática, pois trata-se de um estudo realizado por meio de levantamentos bibliográficos.

De acordo com Gil (2022), as pesquisas descritivas buscam descrever e caracterizar uma população, fenômeno ou experiência, permitindo compreender como determinados aspectos se apresentam na realidade estudada. De maneira semelhante, Vergara (2019) conceitua a pesquisa descritiva como um processo de caracterização de fenômenos e possíveis relações entre variáveis, ainda que não haja o compromisso de explicá-las de forma conclusiva. Assim, considera-se que o presente estudo se enquadra como uma pesquisa descritiva, voltada para a caracterização dos impactos associados ao uso inadequado da semaglutida como medicamento emagrecedor.

Nesse sentido, este projeto será desenvolvido como uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), de caráter exploratório e com abordagem qualitativa, com o objetivo de identificar, analisar e sintetizar as evidências científicas disponíveis na literatura nacional e internacional sobre os riscos, efeitos adversos e impactos decorrentes do uso inadequado da semaglutida com finlidades estéticos.

A revisão integrativa possui a finalidade de reunir e resumir o conhecimento científico previamente produzido sobre o tema investigado. Mendes, Silveira e Galvão (2008) destacam que esse tipo de revisão permite a avaliação, a síntese e a identificação de lacunas nas evidências disponíveis, contribuindo para o avanço e aprofundamento da temática pesquisada.

Para a condução do estudo, serão utilizadas as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), bem como o modelo de revisão em seis etapas: (a) elaboração da pergunta norteadora; (b) busca e amostragem na literatura; (c) coleta dos dados; (d) análise crítica dos estudos incluídos; (e) discussão dos resultados; e (f) apresentação da revisão integrativa (Botelho; Cunha; Macedo, 2011). Assim, o desenvolvimento do estudo seguirá as seis etapas propostas por Mendes, Silveira e Galvão (2008):

FIGURA 1: Etapas da Revisão Integrativa da literatura. 

Fonte: Adaptado de Mendes; Silveira; Galvão (2008)

Com base nessa perspectiva, será realizada uma análise descritiva e temática das evidências científicas identificadas sobre a semaglutida, seu uso clínico, seu uso inadequado como agente emagrecedor e os efeitos adversos associados a essa prática.

As buscas serão realizadas nas bases de dados SciELO, LILACS, BVS, PubMed e Google Scholar, utilizando os seguintes descritores e combinações booleanas: “semaglutida”, “uso inadequado”, “emagrecedores”, “efeitos adversos”, “risco”, “GLP-1 agonista” e “obesidade”. Serão incluídos estudos publicados entre 2019 e 2024, período que compreende a expansão do uso da semaglutida na prática clínica e estética.

Serão excluídos textos incompletos ou duplicados; resumos simples; trabalhos acadêmicos (TCC, dissertações e teses); artigos que não tratem especificamente da semaglutida ou do uso inadequado de emagrecedores.

Os dados serão organizados conforme Yin (2015), que recomenda a classificação por categorias temáticas, facilitando a apresentação e posterior comparação com o referencial teórico. Dessa forma, os resultados serão interpretados à luz da literatura selecionada.

Após a seleção inicial dos estudos, será realizada leitura minuciosa dos títulos, resumos e, posteriormente, dos textos completos. Em seguida, proceder-se-á à leitura crítica interpretativa, buscando identificar resultados e conclusões relevantes para o tema. A análise final dos dados será conduzida por meio da Análise de Conteúdo, que consiste em procedimentos sistemáticos de categorização e interpretação das mensagens.

Por fim, todos os conteúdos utilizados serão devidamente referenciados, respeitando a Lei nº 9.610/1998, referente aos Direitos Autorais, e a NBR 10520/2002, que estabelece as normas para citações em documentos acadêmicos, garantindo a integridade e originalidade da pesquisa

4  RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Foram selecionados inicialmente 48 artigos para revisão, após as a análises dos critérios de inclusão e exclusão foram excluídos 38 onde foram selecionados 10 artigos (Quadro 1) nos quais atendem aos critérios de inclusão estabelecidos e inclusos na tabela descrita abaixo para visualização de diferentes abordagens científicas para relevância do tema.

Quadro 1: Artigos selecionados.

Referência AnoTipo de estudoPrincipais conclusões
RODRIGUES, et al . O uso off-label da semaglutida (Ozempic®) para emagrecimento e a atenção farmacêutica na dispensação2025Revisão de literatura Os resultados da pesquisa revelaram que a maioria dos entrevistados utilizou a semaglutida offlabel com o objetivo de emagrecer, e muitos obtiveram resultados positivos, embora tenham sido relatados alguns efeitos colaterais.
YANG, et al. Farmacocinética clínica Semaglutida: Uma revisão sistemática2025Revisão Sistemática A semaglutida apresenta um perfil farmacocinético previsível, com uma meia-vida (t1/2) longa que permite a administração subcutânea uma vez por semana. A absorção oral da semaglutida é significativamente mais rápida do que a administração subcutânea. A fase de eliminação da semaglutida subcutânea e oral é semelhante. A biodisponibilidade da semaglutida oral é muito baixa.
BEZERRA et al, Perigos e consequências do uso indiscriminado de ozempic no emagrecimento.2024Revisão de literatura Elucidar sobre os perigos e consequências do uso indiscriminado e offlabel do Ozempic por indivíduos que buscam emagrecimento. Ao final mostrou que os efeitos adversos e o uso indiscriminado necessitam de uma gestão cuidadosa, abordagem multidisciplinar e diretrizes baseadas em evidências, para uso ético e eficaz da semaglutida maximizando riscos.
JUNIOR, et al. Compreensão dos riscos associados ao uso indiscriminado de Ozempic (Semaglutida) e a importância do acompanhamento Multiprofissional.2025Artigo de revisão O uso indevido de Ozempic pode causar complicações graves, como problemas gastrointestinais e hipoglicemia, especialmente sem supervisão médica. A intervenção de uma equipe multiprofissional é crucial para ajustar doses e prevenir complicações  
LOPES,  et al., Potenciais efeitos colaterais de Ozempic®, Mounjaro® e outros emagrecedores na cavidade oral: Revisão de literatura2025Revisão Integrativa Conclui-se que o uso de tais medicamentos têm reflexo possivelmente comprometedor à saúde bucal de seus usuários causando quadros de xerostomia, lesões cariosas, erosões dentárias, hipersensibilidade, halitose, disgeusia, eructação e alterações do fluxo salivar.
ARLOTA et al.. Efeitos da semaglutidana perda de gordura e massa muscular2024Revisão de Narrativa Elucidar os potenciais efeitos dessa medicação na perda de gordura e de massa muscular e agregar conhecimento como base para a prescrição consciente, uso adequado e acompanhamento dos possíveis efeitos adversos. O estudo demonstrou que a semaglutida tem se mostrado uma aliada no processo de perda de gordura corporal, porém muitos pacientes têm perda importante de massa muscular flacidez cutânea e prejuízos estéticos durante e após o tratamento
FARIAS,. et al. O USO INDISCRIMINADO DE SEMAGLUTIDA (OZEMPIC) PARA EMAGRECER2025Revisão de literatura Conclui-se que embora  ofereça  benefícios  significativos  na  perda  de  peso  e  melhoria  de  parâmetros metabólicos, existem riscos e desafios, especialmente quando usado sem supervisão médica
RODRIGUES  ,. et al, . Ouso indiscriminado do Ozempic® para fins estéticos: uma revisão de literatura.2024Revisão de literatura O uso off-label do Ozempic para perda de peso estética cresce nas redes sociais, mas com pouca conscientização sobre os riscos à saúde.  
RIBEIRO , et al,. Semaglutida: Uma análise dos efeitos do uso no combate à obesidade. 2024Revisão bibliográfica foram encontrados como resultados positivos a perda significativa de peso corporal, redução da glicemia plasmática e redução de risco de acidentes cardiovasculares. Em contrapartida, os principais efeitos adversos relatados foram alterações gastrointestinais, náuseas, tumores de tireoide, distúrbios psicológicos e reganho significativo de peso após a suspensão do tratamento.

Fonte: Autoria própria, 2025.

A obesidade e o sobrepeso, têm se mostrado presentes no uso de medicamentos offlabel, porém a semaglutida não é adequada para esta finalidade e pode causar alguns efeitos colaterais se utilizado de forma descontrolada (ZIMMERER et al., 2023). O tratamento para perda de peso deve ser feito sob orientação de profissional habilitado, que possa avaliar, prescrever e monitorar o uso deste medicamento. Uma equipe multidisciplinar, com foco na experiência farmacêutica, deve desempenhar um papel integral na orientação dos pacientes sobre os perigos potenciais associados ao uso de medicamentos. A equipe também é crucial para garantir que a farmacoterapia seja eficaz para as necessidades do paciente (ZIMMERER et al., 2023).

No estudo apresentado por YANG, et al., 2024, destaca-se que a Semaglutida tem um perfil farmacocinético previsível com uma meia-vida longa que permite aplicação por via subcutânea uma vez por semana, onde se conclui que a administração oral é mais rápida do que a administração subcutânea. Por outro lado, na fase de eliminação do fármaco ambas das vias de administração são semelhantes, porém quando se refere a biodisponibilidade, a via de administração oral é relativamente baixa.

RODRIGUES et al, 2025, destacou em seus resultados que o uso da semaglutida para emagrecimento teve uma positividade significativamente grande, com muitos resultados positivos, embora tenham tido relatos sobre efeitos colaterais. No entanto, tal prática pode acarretar sérios problemas em pacientes não diabéticos, o que requer atenção e monitoramento cuidadoso. Embora a semaglutida tenha demonstrado eficácia no controle glicêmico e na redução de peso em estudos clínicos, a dosagem adequada e os efeitos a longo prazo ainda estão sendo investigados (Sagratzki et al., 2023)

A revisão conduzida por ARLOTA et al., 2024, conclui que a semaglutida têm demonstrado eficácia no processo de perda de peso e na perda de gordura corporal, contudo, muitos pacientes têm apresentado uma perda significativa de massa magra, flacidez cutânea e alterações estéticas desfavoráveis ao longo e após o tratamento. Os principais efeitos colaterais da droga são gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia, além do efeito platô e risco de sarcopenia e podem ocorrer prejuízos como perda de contorno do submento causadas por adiposidade localizada, flacidez cutânea e perda de suporte ósseo. Destaca-se ainda que é essencial a associação medicamentosa à mudança de hábitos do paciente, como a melhora da ingestão dietética e a prática regular de exercícios físicos, a fim de garantir o sucesso do tratamento a longo prazo. Os efeitos positivos da semaglutida na perda de peso e no controle glicêmico parece variar de acordo com a dose semanal recebida e o tempo de uso (ARLOTA et al.,2024) 

BEZERRA et al., 2024, Elucida sobre os perigos e consequências do uso indiscriminado da Semaglutida em busca de emagrecimento, ao findar concluiu-se que os efeitos adversos e o uso indiscriminado necessitam de uma gestão cuidadosa, abordagem multidisciplinar e diretrizes baseadas em evidências, para uso ético e eficaz da semaglutida maximizando riscos. Portanto a participação de uma equipe multiprofissional é essencial para prevenir e mitigar os riscos do uso indevido da Semaglutida, por meio da educação em saúde, monitoramento contínuo e estratégias de manejo personalizado, profissionais como médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e outros, devem trabalhar em conjunto para garantir que os pacientes compreendam os riscos e benefícios do medicamento, assegurando a administração adequada, ajustes de dosagem e vigilância quanto aos efeitos adversos (Weber et al., 2023; Costa et al., 2024). 

JÚNIOR et al,. 2025. Ressalta que o uso indiscriminado da semaglutida causa diversos efeitos colaterais tais como problemas gastrointestinais e hipoglicemia, especialmente sem supervisão médica.

Em decorrência dos casos de hipoglicemia, diversos autores elucidam sobre efeitos incomuns de hipoglicemia (queda nas taxas de açúcares no sangue) foi tida como um efeito atípico nos pacientes que utilizaram semaglutida. Os autores constataram que a baixa da glicose pode acontecer caso ela seja administrada com insulina ou sulfoniluréias (remédio para tratamento de diabetes tipo 2), cujo sinais já são corriqueiros. (SMITS E VAN,2021., PETER e BAIN, 2020).

Outros efeitos foram relatados pelos pacientes, entre eles: cefaleia, nasofaringite (hipertermia, obstrução nasal, tosse, vômitos e/ou diarreia), e aumento da enzima lipase, encarregada pela quebra de lipídios, foram descritos em pacientes tratados com o fármaco (CHISTOU et al., 2019). 

Todos estes efeitos ocorreram em uma pequena parcela dos pacientes, sendo de fato, os maiores problemas associados a distúrbios gastrointestinais (CHISTOU et al., 2019). SMITS e VAN,2021, também descreveram essas complicações nos pacientes, porém, enfatizam que os sinais de mal-estar vão suavizando no decorrer da intervenção terapêutica. 

LOPES et al,. Em seu estudo conclui que o uso de tais medicamentos têm reflexo possivelmente comprometedor à saúde bucal de seus usuários causando quadros de xerostomia, lesões cariosas, erosões dentárias, hipersensibilidade, halitose, disgeusia, eructação e alterações do fluxo salivar. A xerostomia, ou boca seca, é um dos efeitos adversos mais comuns associados ao uso da semaglutida, podendo levar à halitose, popularmente conhecida como “hálito Ozempic”. Além disso, a disgeusia, caracterizada por uma alteração no paladar frequentemente descrita como um gosto doce persistente na boca, tem sido referida como “língua Ozempic®” e pode surgir até duas semanas após o início do tratamento, afetando cerca de 6% dos pacientes. Curiosamente, essa modificação no paladar tem sido associada à redução do desejo por alimentos doces, o que pode contribuir para o controle do peso, considerando que a semaglutida influencia nos centros de recompensa cerebral. (BANDO et al., 2024). Além dessas alterações sensoriais, outros efeitos adversos bucais, como eructação (arroto), podem contribuir para o desenvolvimento da halitose, reforçando a importância do acompanhamento odontológico durante o tratamento com agonistas do receptor GLP-1. (BANDO et al., 2024).

O uso indiscriminado semaglutida para perda de peso estética cresce nas redes sociais, mas com pouca conscientização sobre os riscos à saúde. (RODRIGUES et al., 2024). O farmacêutico, como parte da equipe multiprofissional que atua no tratamento da obesidade deve primar para a compreensão de que o uso da medicação vai além da ideia de redução de peso. Mostra-se primordial explicar ao paciente que a obesidade constitui uma doença crônica multifatorial e deve ser tratada de maneira individual, considerando os inúmeros fatores que favoreceram o ganho de peso, conscientizando-o da necessidade e importância de um tratamento completo, que contemple sua saúde mental, física e emocional, influenciando na sua cultura de autocuidado (SANTOS et al., 2022; WEBER et al., 2023).

RIBEIRO et al., 2024. Concluiu em estudo que foram encontrados como resultados positivos a perda significativa de peso corporal, redução da glicemia plasmática e redução de risco de acidentes cardiovasculares. Em contrapartida, os principais efeitos adversos relatados foram alterações gastrointestinais, náuseas, tumores de tireoide, distúrbios psicológicos e reganho significativo de peso após a suspensão do tratamento.

O uso de Ozempic sem a devida orientação médica e supervisão traz riscos significativos. A automedicação ou a prescrição inadequada podem levar a efeitos colaterais adversos, interações medicamentosas perigosas e, potencialmente, a uma eficácia reduzida do tratamento a longo prazo. Além disso, o uso não direcionado pode desviar recursos de pacientes que podem se beneficiar mais claramente de seu uso, como aqueles com diabetes tipo 2 não controlada (Valerio, 2023). O aumento no uso indiscriminado de Ozempic também levanta questões sobre a sustentabilidade dos sistemas de saúde e a equidade no acesso a tratamentos inovadores. À medida que a demanda pelo medicamento cresce, os custos associados podem se tornar uma barreira para pacientes que realmente precisam da medicação para o manejo do diabetes, exacerbando as disparidades de saúde (Andrade et al., 2023, Kennedy et al., 2023).

As autoridades de saúde e os profissionais médicos estão enfrentando o desafio de equilibrar a promoção do acesso a terapias eficazes com a necessidade de garantir o uso responsável de medicamentos. Isso inclui esforços para educar o público sobre os riscos do uso não regulamentado de medicamentos prescritos e o desenvolvimento de diretrizes para orientar os profissionais de saúde na prescrição apropriada do Ozempic (Oliveira, 2022).

5  CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho constituiu-se que a obesidade configura-se como uma condição crônica, multifatorial e de elevada complexidade, associada a importantes repercussões metabólicas, físicas, psicológicas e sociais, destacando-se sua estreita relação com o desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2. Nesse contexto, a semaglutida surge como um fármaco eficaz e seguro quando utilizada conforme sua indicação clínica, demonstrando benefícios relevantes no controle glicêmico e, secundariamente, na redução do peso corporal em pacientes diabéticos.

Entretanto, os achados desta revisão integrativa evidenciam que o uso indiscriminado da semaglutida com finalidade estética tem se tornado uma prática crescente, impulsionada por padrões corporais socialmente impostos, desinformação e busca por soluções rápidas para o emagrecimento. Outro aspecto relevante identificado diz respeito às implicações éticas e sociais do uso indevido da semaglutida. O aumento expressivo da demanda motivada pelo emagrecimento estético tem ocasionado desabastecimento do medicamento, prejudicando pacientes que realmente necessitam da terapia para o controle do diabetes mellitus tipo 2. 

Tal cenário reforça a necessidade de políticas públicas eficazes, regulamentações sanitárias rigorosas e ações educativas voltadas ao uso racional de medicamentos, como as recentes normativas da ANVISA e do Conselho Federal de Farmácia. Tal prática expõe os indivíduos a riscos significativos, incluindo efeitos adversos gastrointestinais, hipoglicemia, alterações psicológicas, perda de massa muscular, prejuízos estéticos, alterações bucais e potenciais complicações endócrinas, especialmente quando não há acompanhamento profissional adequado.

Os estudos analisados reforçam que, apesar dos resultados positivos observados na perda de peso, a utilização da semaglutida fora de sua indicação terapêutica necessita de evidências robustas quanto à segurança em longo prazo, sobretudo em indivíduos não diabéticos. Além disso, o uso inadequado pode comprometer o acesso ao medicamento por pacientes que realmente necessitam do tratamento para o controle do diabetes mellitus tipo 2, gerando impactos negativos nos sistemas de saúde e na equidade do cuidado.   Diante desse cenário, destaca-se a importância fundamental do acompanhamento farmacoterapêutico e da atuação multiprofissional no manejo da obesidade e do diabetes. O farmacêutico, integrado à equipe de saúde, desempenha papel essencial na orientação quanto ao uso racional de medicamentos, identificação e prevenção de eventos adversos, promoção da adesão terapêutica e educação em saúde, contribuindo para um tratamento mais seguro, ético e eficaz. Portanto, é importante ressaltar que esse fármaco é indicado para Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) e não para pacientes em tratamento exclusivo para obesidade ou sobrepeso.

Portanto, conclui-se que a semaglutida não deve ser utilizada de forma irregular ou indiscriminada como estratégia isolada para emagrecimento. Seu uso deve ser criteriosamente avaliado, restrito às indicações clínicas apropriadas e sempre acompanhado por profissionais capacitados. A conscientização da população sobre os riscos do uso inadequado, aliada à valorização de estratégias terapêuticas seguras e sustentáveis, é indispensável para a promoção da saúde, prevenção de danos e garantia de um cuidado ético e responsável no enfrentamento da obesidade e do diabetes mellitus tipo 2.

REFERÊNCIAS

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1 Discente de Farmácia pela Faculdade de Educação e Tecnologia da Amazônia.e-mail: mayrasena8@gmail.com
2 Discente de Farmácia pela Faculdade de Educação e Tecnologia da Amazônia. e-mail: gilvanaquaresma233@gmail.com
3 Discente de Farmácia pela Faculdade de Educação e Tecnologia da Amazônia e-mail: Valeria098pires@gmail.com
4 Mestre em Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Pará. e-mail: guacelisjr2@gmail.com