PRÓTESE SOBRE IMPLANTE EM PACIENTES COM BRUXISMO: UMA REVISÃO DE LITERATURA

IMPLANT-SUPPORTED PROSTHESIS IN PATIENTS WITH BRUXISM : A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202510311042


Ariane Souza Pereira¹
Murillo Matos²
Antônio Henrique Braitt³


RESUMO

O bruxismo é uma atividade parafuncional dos músculos mastigatórios caracterizada pelo apertamento ou ranger dos dentes, capaz de gerar sobrecarga nos implantes dentários e comprometer a longevidade das próteses implantossuportadas. Essa condição multifatorial pode resultar em falhas biomecânicas, fraturas e reabsorção óssea peri-implantar. Este estudo tem como objetivo revisar a literatura científica sobre a durabilidade das próteses sobre implantes em pacientes bruxômanos, abordando os materiais protéticos mais indicados e as estratégias clínicas de controle. Trata-se de uma revisão de literatura qualitativa e exploratória, com busca em bases como PubMed, SciELO, Google Scholar e BVS, abrangendo publicações de 2013 a 2024. Os resultados apontam que o uso de materiais de alta resistência, como zircônia e ligas metálicas, associado a guias oclusais bem planejadas e ao uso de placas miorrelaxantes, contribui para reduzir complicações. Conclui-se que o manejo clínico adequado do bruxismo é fundamental para garantir longevidade e sucesso nas reabilitações implantossuportadas.

Palavras-chave: Bruxismo. Implantes dentários. Prótese sobre implante. Falhas protéticas. Reabilitação oral.

ABSTRACT

Implant-Supported Prosthesis in Patients with Bruxism: A Literature Review Bruxism is a parafunctional activity of the masticatory muscles characterized by teeth clenching or grinding, which may overload dental implants and compromise the longevity of implant-supported prostheses. This multifactorial condition can lead to biomechanical failures, fractures, and peri-implant bone resorption. This study aims to review the literature on the durability of implant-supported prostheses in bruxer patients, addressing the most suitable prosthetic materials and clinical management strategies. This is a qualitative and exploratory literature review based on publications from 2013 to 2024 available in PubMed, SciELO, Google Scholar, and the Virtual Health Library (BVS). The findings suggest that using high-resistance materials, such as zirconia and metal alloys, combined with adequate occlusal guides and occlusal splints, helps reduce complications. It is concluded that appropriate clinical management of bruxism is essential to ensure the predictability and longevity of implant-supported rehabilitations.

Keywords: Bruxism. Dental implants. Implant-supported prosthesis. Prosthetic failures. Oral rehabilitation.

1. INTRODUÇÃO

O bruxismo é uma atividade muscular repetitiva e involuntária dos músculos mastigatórios, caracterizada pelo ranger ou apertar dos dentes. Pode ocorrer tanto durante o sono (bruxismo do sono) quanto em vigília (bruxismo em vigília) e tem origem multifatorial, envolvendo aspectos neuromusculares, psicológicos, genéticos e oclusais (LOBBEZOO et al., 2018).

Em pacientes reabilitados com implantes dentários, o bruxismo representa um fator de risco relevante, pois os implantes não possuem ligamento periodontal, responsável pela absorção de forças mastigatórias. Dessa forma, as cargas geradas são transmitidas diretamente ao osso e às estruturas protéticas, podendo causar fraturas, afrouxamento de parafusos, desgaste de componentes e reabsorção óssea peri-implantar (ROOS-JANSSEN et al., 2018; MANFREDINI et al., 2012).

Estudos indicam que pacientes com bruxismo apresentam uma taxa aumentada de falhas implantossuportadas em comparação com indivíduos sem essa condição. Roos-Janssen et al.(2018) destacam que a sobrecarga gerada pelo bruxismo pode comprometer a osseointegração e a estabilidade a longo prazo dos implantes, aumentando a incidência de complicações biomecânicas e biológicas. Além disso, pesquisas recentes sugerem que a qualidade do osso peri-implantar também pode ser afetada pela presença de microtraumas repetitivos, levando a reabsorção óssea e possíveis perdas implantarias (Schwartz-Dabney; Dechow, 2020).  

A escolha dos materiais protéticos desempenha um papel crucial na reabilitação de pacientes bruxômanos. Estudos sugerem que o uso de materiais resilientes e de alta resistência, como as cerâmicas reforçadas por zircônia e estruturas metálicas fundidas, pode reduzir a incidência de fraturas e desgastes precoces (Silva et al., 2021).  Além disso, o desenho oclusal da prótese deve ser cuidadosamente planejado, priorizando contatos oclusais bem distribuídos, guias funcionais adequadas e ajuste preciso da dimensão vertical de oclusão, reduzindo assim os impactos das forças parafuncionais sobre os implantes (Medeiros et al., 2019). 

Outro aspecto fundamental na abordagem clínica desses pacientes é o uso de dispositivos de proteção, como placas oclusais miorrelaxantes. Segundo Lobbezzoo et al. (2018) as placas oclusais são eficazes na redistribuição das forças mastigatórias e na proteção das estruturas protéticas e implantossuportadas. Além disso, um acompanhamento clínico rigoroso, incluindo ajustes periódicos da prótese e exames radiográficos de controle, é essencial para monitorar a integridade dos implantes e evitar complicações tardias (Gagné et al., 2022). 

Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de avaliar a longevidade das próteses sobre implantes em pacientes com bruxismo, analisando sua durabilidade, funcionalidade e impacto na qualidade de vida. Especificamente, pretende-se investigar a taxa de falhas dessas reabilitações, comparar a resistência de diferentes materiais protéticos e avaliar a percepção dos pacientes em relação ao conforto proporcionado pelas próteses.  

Este trabalho visa avaliar a longevidade das próteses sobre implantes em pacientes com bruxismo, analisando sua durabilidade, funcionalidade e impacto na qualidade de vida dos pacientes. Também visa investigar a taxa de falhas ou complicações em próteses sobre implantes em pacientes com bruxismo, comparar a resistência de diferentes materiais protéticos utilizados em pacientes com bruxismo, avaliar a percepção dos pacientes sobre conforto, adaptação e qualidade de vida após a reabilitação protética.

A reabilitação com implantes dentários têm se consolidado como uma solução eficaz para pacientes edêntulos, proporcionando ganhos funcionais e estéticos. No entanto, em pacientes bruxômanos, a presença de forças parafuncionais representa um fator de risco significativo para falhas implantossuportadas, comprometendo a longevidade do tratamento. 

Estudos demonstram que o bruxismo pode levar à sobrecarga dos implantes, resultando em complicações mecânicas, como fraturas de componentes protéticos, soltura de parafusos e reabsorção óssea peri-implantar.  

Diante desse cenário, torna-se essencial investigar estratégias que minimizem esses impactos e garantam maior previsibilidade aos tratamentos implantodônticos em pacientes bruxômanos. A escolha adequada dos materiais, o planejamento criterioso da oclusão e o uso de dispositivos protetores, como placas oclusais, são medidas frequentemente citadas na literatura, mas ainda existem lacunas sobre sua real eficácia e aplicabilidade clínica.  

Assim, este estudo se justifica pela necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a influência do bruxismo na implantodontia e identificar condutas mais seguras e eficientes para esse grupo de pacientes. Os resultados poderão contribuir para protocolos clínicos mais precisos, reduzindo complicações e melhorando o prognóstico dos tratamentos implantossuportados, beneficiando tanto os profissionais da área quanto os pacientes que necessitam dessas reabilitações. 

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O bruxismo é uma atividade parafuncional caracterizada pelo apertamento ou ranger dos dentes, podendo ocorrer durante o sono (bruxismo do sono – BS) ou em vigília (bruxismo em vigília – BV). De acordo com (Lobbezoo et al.,2018), sua etiologia é multifatorial e envolve fatores neuromusculares, psicológicos, genéticos e oclusais.   

A etiologia do bruxismo é complexa e envolve o controle do sistema nervoso central (SNC), com participação de neurotransmissores como dopamina e serotonina(Lobbezoo et al., 2018). A hiperatividade dos músculos mastigatórios contribui para a sobrecarga nas estruturas orais (Manfredini et al., 2012). 

Estresse e ansiedade são grandes desencadeadores do bruxismo, especialmente do bruxismo em vigília(Medeiros et al., 2019). 

Distúrbios emocionais aumentam a atividade muscular involuntária, resultando em micro traumas na dentição natural e nos implantes(Silva et al., 2021). 

Há evidências de predisposição genética, pois o bruxismo é frequentemente observado em famílias (Roos-Janssen et al., 2018).  Embora o desajuste oclusal tenha sido historicamente considerado um fator causal, atualmente sabe-se que não é um fator determinante (Manfredini et al., 2012). 

Consumo excessivo de cafeína, álcool e tabaco pode aumentar a incidência do bruxismo. Distúrbios do sono, como apneia obstrutiva, estão associados ao bruxismo do sono (Schwartz-Dabney e Dechow, 2020). 

O controle do bruxismo não visa uma cura definitiva, uma vez que essa disfunção é considerada uma atividade motora central do sistema nervoso, e não apenas um hábito periférico (SATO et al., 2020). O principal objetivo do tratamento é a redução dos sintomas clínicos e a prevenção de danos estruturais aos dentes, músculos mastigatórios e próteses, especialmente em pacientes reabilitados com implantes osseointegrados, que estão mais suscetíveis a sobrecargas oclusais (OKESON, 2020; KATO; KANZAWA, 2019). 

As placas oclusais representam o método mais amplamente utilizado no manejo clínico do bruxismo, especialmente o do sono, devido à sua eficácia na proteção das estruturas dentárias e próteses e à redução das forças oclusais excessivas (OKESON, 2020). Essas placas são confeccionadas sob medida, geralmente em resina acrílica rígida, e ajustadas para estabelecer uma relação ortopédica estável entre a mandíbula e o crânio, favorecendo o relaxamento muscular e a estabilidade articular (DE LEEUW; KLASSER, 2018).

Estudos demonstram que o uso regular da placa miorrelaxante durante o sono reduz significativamente a frequência de micro traumas e evita fraturas de componentes protéticos e parafusos (Lobbezoo et al., 2018; Okeson, 2019). Em pacientes com implantes, o uso de placas é fundamental, pois a ausência de ligamento periodontal nos implantes impossibilita a absorção fisiológica de forças, tornando essas estruturas mais vulneráveis à sobrecarga. 

Além disso, a placa pode induzir o relaxamento muscular, diminuir a hiperatividade dos músculos mastigatórios e prevenir lesões na articulação temporomandibular (ATM), sobretudo em pacientes com histórico de disfunção temporomandibular concomitante ao bruxismo (Manfredini et al., 2015). 

Também distribuem melhor as forças mastigatórias e protegem os dentes e implantes (Lobbezoo et al., 2018).   

Métodos de relaxamento e terapia cognitivo-comportamental ajudam a reduzir a frequência do bruxismo em vigília (Medeiros et al., 2019). A TCC é uma ferramenta terapêutica eficaz no controle do bruxismo em vigília, cujo fator etiológico predominante são os estímulos emocionais e o estresse crônico. Essa modalidade terapêutica visa identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais e comportamentos parafuncionais, como o apertamento consciente dos dentes.  

O treinamento de autoconsciência corporal, o uso de lembretes visuais (como post-its ou aplicativos de notificação) e técnicas de relaxamento muscular são estratégias frequentemente utilizadas. A literatura mostra que pacientes que se submetem à TCC apresentam redução significativa dos episódios de bruxismo durante o dia (Moscovitch et al., 2021; Medeiros et al., 2019). Esse resultado é essencial para proteger tanto dentes naturais quanto componentes protéticos em pacientes reabilitados.  

O uso de materiais como zircônia e ligas metálicas pode aumentar a longevidade das próteses em pacientes bruxômanos (Silva et al., 2021).     

Embora o bruxismo não seja causado diretamente por desajustes oclusais, a presença de interferências excêntricas pode agravar seus efeitos. Ajustes oclusais seletivos são importantes para promover uma distribuição equilibrada das forças mastigatórias e eliminar contatos prematuros que possam desencadear hiperatividade muscular. Além disso, a escolha dos materiais protéticos é fundamental. Em pacientes bruxômanos, indica-se o uso de zircônia monolítica, material cerâmico altamente resistente à fratura, indicado para coroas e próteses sobre implantes por sua excelente estabilidade mecânica e biocompatibilidade (Silva et al., 2021); Ligas metálicas: amplamente utilizadas como estrutura de reforço em próteses híbridas, proporcionando resistência superior à fadiga mecânica. Resinas compostas reforçadas com partículas cerâmicas: indicadas quando se busca alguma absorção de impacto e menor abrasividade aos antagonistas.  

A seleção cuidadosa desses materiais visa maximizar a longevidade das reabilitações implantossuportadas e reduzir o risco de fraturas por fadiga.  

Relaxantes musculares e ansiolíticos podem ser prescritos em casos graves, mas não são recomendados para uso prolongado devido aos efeitos colaterais (Manfredini et al., 2012). 

O uso de medicamentos é reservado a casos específicos, principalmente nos quais há dor muscular intensa, distúrbios do sono e bruxismo refratário às abordagens convencionais. Relaxantes musculares como o ciclobenzaprina e ansiolíticos benzodiazepínicos, como o clonazepam, podem ser prescritos por curtos períodos (Manfredini et al., 2012).  No entanto, seu uso prolongado é desaconselhado devido ao risco de dependência e efeitos colaterais. 

A toxina botulínica tipo A (BoNT-A) tem sido amplamente utilizada como terapia adjuvante no controle do bruxismo, principalmente em casos severos e refratários às abordagens convencionais, como o uso de placas oclusais e terapias comportamentais (GUARDA-NARDINI et al., 2008; MANFREDINI et al., 2015). Seu mecanismo de ação baseia-se na inibição da liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, promovendo uma redução temporária da contração dos músculos mastigatórios, especialmente masseter e temporal (LEE et al., 2020).

Apesar de sua eficácia na diminuição da dor e na redução da força de apertamento, diversos autores relatam efeitos adversos e complicações associadas ao uso da toxina, que devem ser considerados no planejamento terapêutico. Entre as principais complicações descritas estão:

1. Fraqueza muscular excessiva, resultando em dificuldade mastigatória temporária e redução da eficiência funcional (FERNANDES et al., 2020);

2. Assimetria facial e alterações estéticas, decorrentes de aplicações incorretas ou doses excessivas, podendo comprometer a harmonia muscular (GUARDA-NARDINI et al., 2008);

3. Reabsorção óssea mandibular localizada, associada à redução crônica da carga funcional mastigatória, como observado em estudos histológicos e de imagem (LEE et al., 2020; HUANG et al., 2021);

4. Diminuição do volume muscular (atrofia) após aplicações repetidas, o que pode alterar o contorno facial e exigir intervalos maiores entre as reaplicações (FERNANDES et al., 2020);

5. Efeitos transitórios não desejados, como dor local, hematoma e edema na região de aplicação, que geralmente desaparecem em poucos dias (MANFREDINI et al., 2015).

Segundo Huang et al. (2021), a redução da força mastigatória induzida pela toxina pode levar a uma diminuição de até 20% da densidade óssea alveolar, especialmente após múltiplas aplicações, o que suscita preocupação em pacientes reabilitados com implantes dentários. Assim, recomenda-se cautela em seu uso prolongado, priorizando doses mínimas eficazes e reavaliações periódicas.

Além disso, o uso da toxina botulínica não trata a causa primária do bruxismo, mas apenas seus sintomas musculares. Portanto, deve ser considerada uma terapia complementar, e não substitutiva, às abordagens comportamentais, fisioterápicas e oclusais (LOBBEZOO et al., 2018).

Em síntese, embora a toxina botulínica tipo A apresente resultados clínicos positivos no controle da dor e na redução da atividade muscular, suas complicações potenciais — especialmente a perda óssea e a atrofia muscular — exige avaliação criteriosa e acompanhamento multidisciplinar para evitar danos funcionais e estéticos a longo prazo (LEE et al., 2020; HUANG et al., 2021; FERNANDES et al., 2020).

Outra opção é o biofeedback eletromiográfico que é uma tecnologia que permite ao paciente tomar consciência da atividade dos músculos mastigatórios, por meio de sinais visuais ou sonoros emitidos por sensores. Essa técnica tem eficácia comprovada especialmente no bruxismo em vigília, favorecendo a reeducação neuromuscular (Koyano et al., 2008).  

Além das terapias convencionais, abordagens complementares como acupuntura, fisioterapia miofuncional e laserterapia de baixa intensidade vêm sendo utilizadas como alternativas auxiliares no controle do bruxismo e de suas manifestações dolorosas. Essas modalidades visam principalmente a redução da dor muscular, o equilíbrio do tônus miofascial e a diminuição da hiperatividade dos músculos mastigatórios, favorecendo o conforto e a função orofacial (MOTA et al., 2020; MANFREDINI; LOBBEZOO, 2021).

Em casos de apneia obstrutiva, dispositivos intraorais ou CPAP podem ser indicados (Roos-Janssen et al., 2018).   

O bruxismo do sono pode coexistir com distúrbios respiratórios como a apneia obstrutiva do sono (AOS), sendo necessário um diagnóstico diferencial preciso por meio de polissonografia. Em pacientes com AOS associada ao bruxismo, o uso de dispositivos intraorais de avanço mandibular ou CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) pode contribuir significativamente para a redução dos episódios bruxistas e melhora na qualidade do sono (Gagné et al., 2022; Manfredini et al., 2015). 

Pacientes com bruxismo apresentam maior risco de falha em reabilitações implantossuportadas devido à sobrecarga mecânica. Os principais desafios incluem desgaste prematuro dos materiais protéticos (Manfredini et al., 2012), fraturas de componentes protéticos e parafusos de retenção, reabsorção óssea peri-implantar devido à sobrecarga oclusal crônica (Roos-Janssen et al., 2018). 

Em pacientes portadores de bruxismo, a aplicação de estratégias preventivas é fundamental para minimizar os riscos de fraturas dentárias, falhas em próteses e sobrecarga sobre implantes. Dentre essas estratégias, destacam-se o uso de materiais restauradores e protéticos de alta resistência e o planejamento de guias oclusais adequadas, que distribuem corretamente as forças mastigatórias e reduzem os impactos sobre as estruturas de suporte (MANFREDINI;LOBBEZOO, 2021).

2.1 Materiais Utilizados nas Próteses sobre Implantes  

A seleção dos materiais protéticos em reabilitações implantossuportadas é um fator determinante para o sucesso clínico, especialmente em pacientes com hábitos parafuncionais, como o bruxismo. A resistência ao desgaste, a dissipação de forças oclusais e a estética são critérios fundamentais nessa escolha. A seguir, são discutidos os principais materiais utilizados, com base em evidências da literatura. 

2.1.1 Zircônia  

A zircônia (óxido de zircônio tetragonal policristalino estabilizado com ítria – Y-TZP) é amplamente utilizada na confecção de próteses devido à sua excelente resistência mecânica, alta tenacidade à fratura e boa biocompatibilidade. Estudos demonstram que a zircônia possui resistência à flexão superior a 900 MPa, tornando-se uma escolha adequada para pacientes bruxômanos, que exercem forças oclusais intensas (Silva et al., 2021). Contudo, a sua baixa capacidade de absorção de impacto pode levar à maior transferência de cargas para os componentes do implante, exigindo um cuidadoso planejamento oclusal. 

2.1.2 Ligas Metálicas  

As ligas metálicas, como as de cobalto-cromo e titânio, apresentam elevada durabilidade e resistência mecânica, sendo indicadas principalmente como infraestrutura em próteses híbridas. Apesar de seu desempenho estrutural, esses materiais possuem desvantagens estéticas quando comparados aos cerâmicos. Segundo Costa et al. (2020), as ligas metálicas proporcionam rigidez suficiente para suportar grandes cargas mastigatórias, sendo vantajosas em reabilitações complexas e em pacientes com bruxismo severo. 

2.1.3 Resina Composta  

As resinas compostas são materiais de menor rigidez quando comparadas à cerâmica e ao metal, o que lhes confere uma certa elasticidade benéfica na absorção de forças mastigatórias. Essa flexibilidade permite a dissipação do estresse oclusal, reduzindo o risco de sobrecarga nos implantes (Medeiros et al., 2019). Além disso, são de fácil reparo e apresentam custo mais acessível. No entanto, apresentam maior desgaste ao longo do tempo e menor longevidade clínica, sendo mais indicadas para próteses provisórias ou em casos onde o controle do bruxismo está em andamento. 

2.2 Longevidade das Próteses sobre Implantes em Pacientes Bruxômanos  

A longevidade das próteses sobre implantes em pacientes com bruxismo é um tema amplamente discutido, considerando-se a complexidade biomecânica e o impacto das forças parafuncionais sobre os componentes implantossuportados. As cargas excessivas geradas pelo apertamento e ranger dos dentes podem comprometer a osseointegração e reduzir a durabilidade do conjunto implante-prótese (LOBBEZOO et al., 2018; MANFREDINI et al., 2015).

Estudos clínicos demonstram que pacientes bruxômanos apresentam taxas de falha de implantes entre 6% e 14%, superiores às observadas em indivíduos sem bruxismo (2% a 5%) (CHRCANOVIC et al., 2017; GAGNÉ et al., 2022). As complicações mais frequentes incluem fraturas de componentes protéticos, afrouxamento de parafusos, desgaste prematuro dos materiais restauradores e reabsorção óssea peri-implantar, decorrentes da sobrecarga cíclica e da ausência de ligamento periodontal nos implantes (ROOS-JANSSEN et al., 2018).

A longevidade média de próteses fixas sobre implantes em pacientes com bruxismo varia de sete a dez anos, sendo inferior à observada em pacientes sem o hábito parafuncional (ABDUO; LYONS, 2012; CHRCANOVIC et al., 2017). Materiais como zircônia monolítica e ligas metálicas são considerados mais resistentes à fratura e à fadiga mecânica, demonstrando melhor desempenho sob forças excêntricas intensas (SILVA et al., 2021; WISMEIJER et al., 2020). Já as resinas compostas, embora apresentem menor rigidez, possuem maior capacidade de absorção de impacto, o que protege parcialmente o implante, porém exige manutenção mais frequente devido ao desgaste e à perda de brilho superficial (MEDEIROS et al., 2019).

O planejamento oclusal e o uso de placas oclusais miorrelaxantes têm papel essencial na preservação da longevidade protética. Segundo Lobbezoo et al. (2018) e Okeson (2019), o uso de placas noturnas é eficaz na redistribuição das forças mastigatórias, reduzindo a incidência de microfraturas e falhas biomecânicas. Em revisão sistemática, Koyano, Endo e Lobbezoo (2021) destacam que o uso contínuo desses dispositivos pode aumentar em até 40% a sobrevida dos implantes em pacientes bruxômanos.

Além disso, o acompanhamento clínico periódico é indispensável. Manfredini et al. (2015) e Wismeijer et al. (2020) ressaltam que consultas semestrais, associadas a exames radiográficos de controle e ajustes oclusais seletivos, permitem identificar precocemente sinais de sobrecarga e prevenir falhas maiores.

Portanto, a longevidade das próteses sobre implantes em pacientes com bruxismo depende de uma abordagem multifatorial, que inclui:

• seleção criteriosa de materiais de alta resistência;
• utilização de dispositivos protetores oclusais;
• controle clínico regular; e
• manejo comportamental e farmacológico do bruxismo.

Assim, embora o bruxismo seja considerado um fator de risco relevante, a adoção de protocolos clínicos preventivos e individualizados pode proporcionar resultados previsíveis e longevidade semelhante à observada em pacientes não bruxômanos (GAGNÉ et al., 2022; WISMEIJER et al., 2020).

3. METODOLOGIA  

3.1 Quanto ao tipo de pesquisa e forma de abordagem 

A presente pesquisa caracteriza-se como uma revisão de literatura, de natureza qualitativa e exploratória, com abordagem indutiva. A escolha da revisão de literatura se justifica pela necessidade de reunir e analisar criticamente estudos já publicados sobre os impactos do bruxismo na durabilidade e sucesso das próteses sobre implantes. A abordagem qualitativa permitirá uma compreensão aprofundada das evidências científicas disponíveis, considerando os aspectos clínicos, materiais utilizados e estratégias terapêuticas relatadas. 

3.2 Definição da população e amostra (ou área de estudo) 

Por se tratar de uma revisão de literatura, não há população e amostra no sentido tradicional da pesquisa empírica. O universo deste estudo corresponde ao conjunto de artigos científicos, dissertações, teses e livros publicados nos últimos 10 anos, disponíveis em bases de dados eletrônicas como PubMed, Scielo, Google Scholar e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que abordem a temática da prótese sobre implante em pacientes com bruxismo. 

3.3 Instrumento e técnicas para coleta de dados 

A coleta de dados foi realizada por meio de pesquisa bibliográfica sistematizada. Foram utilizadas palavras-chave como “bruxismo”, “prótese sobre implante”, “falhas protéticas”, “materiais odontológicos” e “reabilitação oral”, isoladas e combinadas entre si. Os critérios de inclusão envolveram publicações em português, inglês ou espanhol, com texto completo disponível, publicadas entre 2013 e 2024, e que tratassem especificamente da relação entre bruxismo e desempenho de próteses implantossuportadas. Foram excluídos trabalhos duplicados, resumos, opiniões de especialistas sem respaldo metodológico e artigos com foco exclusivo em dentição natural.  

3.4 Tabulação e análise dos dados 

Os dados foram organizados em quadros sinóticos, nos quais foram descritos: autores, ano de publicação, objetivo do estudo, tipo de estudo, materiais utilizados, principais resultados e conclusões. A análise dos dados seguiu uma abordagem qualitativa, comparativa e interpretativa, buscando identificar padrões, lacunas e recomendações relevantes nos estudos selecionados. As informações coletadas serão discutidas à luz dos objetivos específicos da pesquisa.   

3.5 Limites do projeto 

Entre as limitações deste estudo, destaca-se a restrição temporal das publicações analisadas e a limitação a textos com acesso gratuito. Além disso, por se tratar de uma revisão de literatura, não será possível verificar diretamente os dados clínicos, dependendo-se exclusivamente das informações disponibilizadas pelos autores dos estudos consultados.  

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Espera-se que essa revisão de literatura, por meio da análise crítica da literatura existente, contribua para o aprofundamento do conhecimento sobre os efeitos do bruxismo na longevidade das próteses sobre implantes. Os resultados deverão identificar os principais fatores de risco associados às falhas protéticas em pacientes bruxômanos, bem como destacar os materiais protéticos mais indicados para esse perfil de paciente, considerando sua resistência, durabilidade e adaptação clínica.  

Além disso, pretende-se reunir evidências que reforcem a importância de estratégias preventivas, como o uso de placas oclusais miorrelaxantes, ajuste oclusal adequado e acompanhamento clínico periódico, como forma de reduzir as complicações biomecânicas e biológicas em reabilitações implantossuportadas.  

A aplicabilidade prática desta revisão de literatura está na possibilidade de auxiliar cirurgiões-dentistas no processo de planejamento e tomada de decisão clínica em casos que envolvam pacientes com bruxismo, promovendo maior segurança, previsibilidade e sucesso nos tratamentos. Os achados poderão, ainda, fundamentar a elaboração de protocolos clínicos mais específicos e contribuir para a formação acadêmica e continuada de profissionais da odontologia.  

5. CONCLUSÃO

A reabilitação com próteses sobre implantes em pacientes portadores de bruxismo representa um desafio clínico relevante, uma vez que as forças parafuncionais características dessa condição podem comprometer a longevidade e o sucesso do tratamento. A literatura evidencia que a sobrecarga oclusal está diretamente associada a falhas biomecânicas e biológicas, como fraturas de componentes, soltura de parafusos e reabsorção óssea peri-implantar.

Diante desse cenário, a seleção criteriosa dos materiais protéticos, o planejamento adequado da oclusão e a adoção de medidas preventivas, como o uso de placas oclusais miorrelaxantes e acompanhamento clínico periódico, constituem estratégias fundamentais para reduzir complicações. Além disso, terapias complementares, como intervenções comportamentais e farmacológicas, podem auxiliar no controle dos sintomas e favorecer maior previsibilidade dos resultados.

Portanto, a abordagem do paciente bruxômano requer uma visão multidisciplinar, unindo conhecimento científico, habilidade técnica e monitoramento contínuo. A aplicação de protocolos clínicos bem estruturados possibilita maior segurança para o cirurgião-dentista e melhor qualidade de vida para o paciente, reforçando a importância de pesquisas futuras que aprofundem a eficácia das diferentes estratégias de manejo nessa população.

REFERÊNCIAS   

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¹Discente do Curso de Odontologia da Faculdade de Ilhéus – Centro de Ensino Superior. E-mail: aryanessouza663@gmail.com
²Docente do Curso de Odontologia da Faculdade de Ilhéus – Centro de Ensino Superior. E-mail: murillofmatos@hotmail.com
³Docente do Curso de Odontologia da Faculdade de Ilhéus – Centro de Ensino Superior. E-mail: antoniohenriquebraitt@gmail.com

Autor Correspondente:
Ariane Souza Pereira
Av. Nossa senhora aparecida
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E-mail: aryanessouza663@gmail.com