OS EFEITOS CRÔNICOS OBTIDOS NO TREINAMENTO RESISTIDO NO TRATAMENTO CONTRA ALZHEIMER EM IDOSOS

CHRONIC EFFECTS OBTAINED FROM RESISTANCE TRAINING IN THE TREATMENT OF ALZHEIMER’S IN ELDERLY PEOPLE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202510111427


Leonardo Augusto Cunha dos Santos1
Marçal Guerreiro Filho2


Resumo

O envelhecimento populacional tem ampliado a incidência de doenças neurodegenerativas e entre estas a Doença de Alzheimer (DA) se destaca por comprometer memória, autonomia e qualidade de vida dos idosos. Frente à ausência de cura definitiva, estratégias não farmacológicas, como o treinamento resistido (TR), têm sido investigadas como alternativas terapêuticas. Este estudo, de caráter exploratório e descritivo, consistiu em uma revisão de literatura com abordagem qualitativa, baseada na análise de artigos publicados entre 2013 e 2024 em bases de dados reconhecidas. Os critérios de inclusão consideraram intervenções com TR aplicadas a idosos diagnosticados com DA, com avaliação de variáveis cognitivas, funcionais e comportamentais. Os resultados apontaram que o TR promove benefícios relevantes, incluindo aumento da força muscular, preservação da independência funcional, melhora da memória e da atenção, bem como redução de sintomas como apatia, ansiedade e depressão. Evidências indicam que a prática regular do TR, realizada de duas a três vezes por semana, em intensidades entre 50% e 85% de 1RM e duração de 12 a 24 semanas, pode modular biomarcadores neurobiológicos (BDNF, IGF-1), reduzir a deposição de placas β-amiloides e exercer efeitos neuroprotetores. Protocolos supervisionados e adaptados à condição clínica dos pacientes se mostraram especialmente eficazes, reforçando a necessidade de personalização da intervenção. Conclui-se que o TR configura-se como uma intervenção segura e promissora no manejo da Doença de Alzheimer em idosos, atuando não apenas no escopo físico, mas também nos domínios cognitivo, emocional e social. Apesar dos resultados positivos, destaca-se a necessidade de ensaios clínicos mais robustos, com maior padronização metodológica, a fim de consolidar diretrizes práticas para sua aplicação e ampliar seu impacto no âmbito clínico e em políticas públicas de saúde.

Palavras-chave: DA; Neuroplasticidade; Exercício Físico; Idade Avançada

1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que resultou em um aumento significativo da prevalência de doenças neurodegenerativas, e dentre elas destaca-se a doença de Alzheimer (DA), que tem como característica o declínio progressivo das funções cognitivas. Esta doença afeta diretamente a memória, o comportamento e a autonomia dos indivíduos idosos, impactando também seus familiares e cuidadores. Diante desse cenário, estratégias terapêuticas não farmacológicas vêm sendo exploradas como complementares ao tratamento tradicional, com destaque para o treinamento resistido (TR) o qual é uma modalidade de exercício físico que promove ganhos funcionais e neurológicos, além de melhorias na qualidade de vida (Cassilhas et al., 2012; Broadhouse et al., 2020; Ribeiro et al., 2025). 

O aumento da população com mais de 60 anos ocorre de forma acelerada, especialmente no Brasil, onde a proporção de pessoas com 60 anos ou mais dobrou nas últimas décadas (Silva et al., 2018). Esse aumento expressivo desta população está diretamente associado ao crescimento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre elas, as demências, com destaque para a DA, responsável por cerca de 60% dos casos (Alzheimer’s Association, 2020).

A DA é um transtorno neurodegenerativo progressivo caracterizado por deterioração da memória, além das funções cognitivas e alterações comportamentais, comprometendo significativamente a autonomia e a qualidade de vida dos idosos (Gonçalves et al., 2020). A doença ainda impõe uma sobrecarga emocional e econômica substancial às famílias e aos sistemas de saúde, sendo considerada um dos principais desafios de saúde pública do século XXI (Revista Lancet, 2015).

Apesar dos avanços nas pesquisas biomédicas, ainda não existe uma cura definitiva para a DA. Diante disso, estratégias terapêuticas não farmacológicas vêm ganhando destaque, especialmente aquelas que envolvem a prática de exercícios físicos. Estudos mostram que o exercício físico regular, incluindo o treinamento resistido (TR), pode modular mecanismos neurobiológicos importantes, como a redução do acúmulo de beta-amilóide, a liberação do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), e o controle do estresse oxidativo, promovendo efeitos neuroprotetores (Freitas et al., 2020; Yu et al., 2021; Sepúlveda-Lara, Sepúlveda, Marzuca-Nassr, 2024.; Zhang et al., 2023). 

Dentre as modalidades de exercício, o TR tem se mostrado promissor na preservação da função cognitiva, força muscular e equilíbrio em idosos com DA. Evidências apontam que essa intervenção pode melhorar a plasticidade cerebral, reduzir a inflamação sistêmica e contribuir para a autonomia nas atividades de vida diária (Barbosa & Agner, 2016; Gomes, 2025).

Nesse contexto, surge a seguinte questão norteadora: quais são os efeitos crônicos do TR no tratamento da Doença de Alzheimer em idosos? A presente pesquisa tem como objetivo investigar essa problemática à luz das evidências científicas mais recentes, analisando os potenciais benefícios do TR como estratégia complementar no manejo clínico da DA.

Deste modo, este estudo se propõe a contribuir para o avanço do conhecimento sobre abordagens não farmacológicas, fornecendo subsídios para práticas terapêuticas mais eficazes e acessíveis. Além de beneficiar diretamente os pacientes e seus cuidadores, os achados poderão também fundamentar políticas públicas voltadas ao envelhecimento saudável e à promoção da funcionalidade e bem-estar cognitivo na terceira idade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

2.1 ENVELHECIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES

O envelhecimento é um processo fisiológico, progressivo e irreversível, caracterizado por alterações morfofuncionais que ocorrem ao longo do tempo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2020), a população idosa está em constante crescimento, e estima-se que até 2050 o número de pessoas com 60 anos ou mais dobre em relação aos dados de 2020. Esse fenômeno demográfico impõe desafios significativos aos sistemas de saúde, sobretudo quanto à prevalência de doenças crônicas e degenerativas.

Entre as enfermidades comuns na senescência, destacam-se a hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, osteoporose, depressão e, especialmente, os transtornos neurodegenerativos, como a Doença de Alzheimer (DA). Essa condição compromete progressivamente funções cognitivas como memória, linguagem e orientação espacial, impactando de forma direta a autonomia e a qualidade de vida dos idosos.

2.2 DOENÇA DE ALZHEIMER: CARACTERÍSTICAS E PROGRESSÃO

A Doença de Alzheimer é uma enfermidade neurodegenerativa crônica e progressiva, sendo a forma mais comum de demência entre idosos. Sua etiologia está associada ao acúmulo de placas beta-amiloides e emaranhados neurofibrilares de proteína tau no cérebro, o que ocasiona a morte neuronal e a perda sináptica. Os sintomas iniciais envolvem prejuízos sutis de memória, evoluindo para déficits amplos que comprometem as atividades da vida diária.

Atualmente, não há cura para a DA. O tratamento baseia-se na tentativa de retardar a progressão da doença e amenizar seus sintomas. Nesse cenário, as abordagens não medicamentosas ganham relevância por sua contribuição na preservação das capacidades cognitivas e funcionais dos indivíduos acometidos.

2.3 ABORDAGENS NÃO MEDICAMENTOSAS NO TRATAMENTO DA DA

As intervenções não medicamentosas têm sido reconhecidas como recursos terapêuticos complementares eficazes na melhora da qualidade de vida de indivíduos com Alzheimer. Dentre essas estratégias, destacam-se terapias cognitivas, suporte psicossocial e, especialmente, a prática de exercício físico regular. O exercício físico atua na modulação de mecanismos neurobiológicos, estimulando a neurogênese, a plasticidade neural e a perfusão cerebral.

Estudos demonstram que a prática regular de atividade física está associada à redução do risco de desenvolvimento de demência, além de melhorar funções cognitivas e retardar o declínio em indivíduos já diagnosticados com Alzheimer. Esses efeitos benéficos estão ligados ao aumento de fatores neurotróficos, como o BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), à redução da inflamação sistêmica e à melhora da vascularização cerebral.

2.4 EXERCÍCIO FÍSICO COMO INTERVENÇÃO: ÊNFASE NO TREINAMENTO RESISTIDO

Dentre os diversos tipos de exercício físico, o treinamento resistido — também conhecido como musculação — destaca-se por promover ganhos significativos em força muscular, densidade mineral óssea, equilíbrio postural e autonomia funcional. Tais adaptações são fundamentais para a prevenção de quedas e para a manutenção da independência do idoso.

Além dos benefícios físicos, o treinamento resistido também apresenta efeitos positivos sobre a cognição. A prática sistemática dessa modalidade está associada à melhora na memória operacional, na atenção e na velocidade de processamento em idosos, inclusive em fases iniciais de demência. Liu-Ambrose et al. (2010) observaram que a realização do treinamento resistido duas vezes por semana, durante 12 meses, proporcionou melhorias significativas em funções cognitivas como atenção seletiva e inibição de respostas, além do aumento do volume do córtex cingulado anterior — área cerebral associada ao controle cognitivo.

2.5 INTERAÇÃO ENTRE TREINAMENTO RESISTIDO E DOENÇA DE ALZHEIMER

A associação entre Doença de Alzheimer e treinamento resistido configura uma área promissora no campo da neurociência do exercício. Evidências científicas apontam que a musculação pode atenuar os sintomas da DA ao induzir adaptações estruturais e funcionais no sistema nervoso central. Os mecanismos propostos incluem o aumento da perfusão cerebral, a modulação de neurotransmissores e o estímulo à neuroplasticidade.

Cassilhas et al. (2007) demonstraram que o treinamento resistido, realizado com intensidade moderada a alta, promove elevação dos níveis de IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1), substância com propriedades neuroprotetoras, associada à diferenciação e sobrevivência neuronal. Esses achados reforçam a importância da prescrição adequada dessa modalidade como estratégia complementar no tratamento da DA.

Além disso, os benefícios psicossociais proporcionados pelo exercício, como melhora da autoestima e redução da apatia, colaboram para a diminuição de sintomas depressivos frequentemente associados à Doença de Alzheimer, evidenciando que os efeitos do treinamento resistido extrapolam o domínio físico e cognitivo, alcançando também o bem-estar emocional do idoso.

3 METODOLOGIA 

Esta pesquisa caracteriza-se como uma revisão de literatura de natureza exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, tendo como objetivo analisar os efeitos crônicos do TR no tratamento da Doença de Alzheimer em idosos. O estudo foi conduzido por meio da coleta, seleção e análise de artigos científicos publicados em bases de dados reconhecidas, onde buscaram reunir evidências que relacionem a prática do exercício resistido com a melhora das funções cognitivas e da qualidade de vida de pacientes idosos diagnosticados com Alzheimer.

A coleta de dados foi realizada por meio de pesquisa bibliográfica em plataformas acadêmicas como PubMed, SciELO, LILACS, Google Scholar e BIREME, utilizando descritores como “Doença de Alzheimer”, “treinamento resistido”, “idosos”, “exercício físico” e “função cognitiva”. Foram considerados os artigos publicados entre os anos de 2013 e 2024, escritos nos idiomas português, inglês e espanhol, com acesso ao texto completo. Os critérios de inclusão foram: estudos que abordem intervenções com treinamento resistido em idosos diagnosticados com DA, que apresentaram resultados sobre variáveis cognitivas, funcionais ou comportamentais. Foram excluídos artigos duplicados, estudos com animais ou com populações não idosas, bem como revisões que não apresentaram dados empíricos.

A análise dos dados foi feita por meio de leitura crítica e categorização temática dos resultados encontrados nos artigos selecionados, identificando as principais conclusões de cada estudo, os tipos de protocolos utilizados (frequência, intensidade, volume, duração), e os efeitos observados nas diferentes variáveis estudadas. A interpretação foi feita pela técnica de análise de conteúdo, permitindo a identificação de padrões, tendências e lacunas existentes na literatura. Os dados foram organizados em quadros e tabelas para facilitar a visualização dos principais achados e comparações entre os estudos.

Os resultados que foram obtidos, ao final da análise, foram sistematizados e apresentados de forma descritiva, com base nas evidências mais relevantes e atuais. Esperandose, assim, contribuir para o aprofundamento do conhecimento técnico-científico sobre a efetividade do treinamento resistido como estratégia terapêutica complementar no tratamento da Doença de Alzheimer em idosos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

O Alzheimer é uma condição neurodegenerativa progressiva, caracterizada por um declínio cognitivo que compromete memória, linguagem, atenção e funções executivas, sendo considerada a principal causa de demência no mundo. Estima-se que ela represente cerca de 60% dos casos de demência, com tendência de aumento devido ao envelhecimento populacional (Alzheimer’s Association, 2020). O impacto da DA vai além do paciente, alcançando familiares e sistemas de saúde pública, especialmente diante da ausência de terapias curativas eficazes. Nesse cenário, destaca-se a importância de intervenções não farmacológicas, como o exercício físico, no manejo da doença (Gomes, 2025; Freitas et al., 2020).

A prática regular de exercícios físicos, em especial o treinamento resistido, tem demonstrado benefícios substanciais para indivíduos com DA, tais como a melhora da função cardiovascular, redução de processos inflamatórios sistêmicos e o aumento da liberação de fatores neurotróficos que estimulam a plasticidade neural. Além disso, há redução da deposição de placas β-amiloides, da proteína tau hiperfosforilada e da neuroinflamação mediada por citocinas pró-inflamatórias (como IL-1β, IL-6 e TNF-α) biomarcadores centrais na fisiopatologia da Doença de Alzheimer, Sant’Ana et al., 2024; ZHAO 2024; SEPÚLVEDALARA 2024).

Entretanto, a adesão a programas de exercícios pode ser comprometida por fatores como depressão, ansiedade e dificuldades de compreensão, comuns entre pacientes com Alzheimer, os quais são os principais obstáculos para a continuidade das práticas físicas e para o desenvolvimento perceptivo-motor. Assim, a personalização dos protocolos, levando em consideração o estágio da doença e as condições cognitivas do paciente, é essencial para a efetividade da intervenção (Andrade et al., 2024).

O exercício físico tem se consolidado como uma das principais estratégias não farmacológicas no manejo da Doença de Alzheimer (DA), especialmente em seus estágios leve e moderado — fases nas quais ainda há preservação parcial das funções cognitivas e maior capacidade de resposta a intervenções terapêuticas (McKhann et al., 2011; Alzheimer’s Association, 2020). Destaca os efeitos positivos do exercício sobre funções cognitivas, humor, equilíbrio funcional e qualidade de vida de idosos acometidos pela doença, reforçando seu papel como ferramenta complementar ao tratamento clínico (Gomes, 2025; Freitas et al., 2020).

Ainda que existam variações metodológicas entre os estudos, com relação à frequência, intensidade e duração das sessões, bem como sobre os instrumentos de avaliação, há consenso de que o exercício físico desempenhe papel preventivo e terapêutico importante na DA. 

O TR, em particular, promove adaptações musculares e neurológicas que contribuem para a manutenção da independência funcional, da neuroplasticidade e da saúde cerebral (BARBOSA; AGNER, 2016; GOMES, 2025; YU et al., 2021). A prática regular de exercícios físicos, sobretudo o treinamento resistido, tem demonstrado benefícios substanciais para indivíduos com DA, tais como a melhora da função cardiovascular, redução de processos inflamatórios sistêmicos e o aumento da liberação de fatores neurotróficos que estimulam a plasticidade neural. Além disso, há redução da deposição de placas β-amiloides, da proteína tau hiperfosforilada e da neuroinflamação mediada por citocinas pró-inflamatórias (como IL-1β, IL-6 e TNF-α), biomarcadores centrais na fisiopatologia da Doença de Alzheimer (Sant’Ana et al., 2024; ZHAO, 2024; SEPÚLVEDA-LARA, 2024).

Tem se destacado a necessidade de mais ensaios clínicos randomizados, com amostras maiores e maior controle metodológico, para definir os parâmetros ideais de intervenção (frequência, intensidade, duração e tipo de exercício) e expandir a aplicabilidade clínica das evidências (BRAGA et al., 2021; RODRIGUEZ-CORRÊA et al., 2024).

O treinamento resistido realizado com intensidades entre 50 e 80% de 1RM (2 séries de 8 a 12 repetições), resultou em uma elevação significativa de IGF-1 e melhora nas funções cognitivas (memória e atenção) em idosos (CASSILHAS et al., 2012), enquanto no estudo de Smolarek et al (2018), também foi obtido aumento significativo no aspecto cognitivo realizando o TR com intensidade entre 60 e 75% de 1RM, realizando-se 3 séries de 10 repetições. Com base nestas informações verifica-se que o TR resistido realizado em nestas intensidades e volume resultam em adaptações positivas no que se refere às funções cognitivas

O método de treinamento realizado no estudo de Broadhouse et al. (2020), com duração de 24 semanas, composto por sessões supervisionadas de aproximadamente 90 minutos, realizadas de duas a três vezes por semana e com aumento gradual da carga, resultou na preservação estrutural do hipocampo e do precuneus, regiões associadas à memória e orientação espacial, com manutenção dos efeitos neuroprotetores até um ano após o término da intervenção. Já no estudo de Ribeiro et al. (2025), também com 24 semanas de duração, o protocolo foi aplicado em duas sessões supervisionadas semanais, com foco nos principais grupos musculares, progressão gradual e intensidade individualizada entre moderada e intensa, priorizando a segurança dos participantes com comprometimento cognitivo leve e constatou-se resultados positivos quanto à viabilidade e aplicação prática.

A prática regular de treinamento resistido em idosos com Doença de Alzheimer, realizada de duas a três vezes por semana, durante 12 a 24 semanas, com sessões supervisionadas compostas por exercícios multiarticulares para os principais grupos musculares, utilizando três séries de 8 a 12 repetições com progressão de carga, foi associada à diminuição da apatia, da ansiedade e dos episódios depressivos, além de promover melhora do humor, bem-estar emocional e função cognitiva, criando um ciclo positivo entre engajamento e autoestima (Gomes, 2025; Zhang et al., 2023). Segundo Barbosa e Agner (2016) e De La Rosa et al (2020) a realização do TR resultou na preservação da independência e da autonomia funcional de atividades da vida diária em idosos com Alzheimer.

Em síntese, os resultados demonstram que o treinamento resistido é uma ferramenta poderosa no enfrentamento dos múltiplos desafios impostos pela Doença de Alzheimer. Seus efeitos não se limitam à melhora da força muscular, mas abrangem dimensões cognitivas, emocionais, funcionais e estruturais do organismo, promovendo um estado de saúde mais integrado e resiliente. A prática regular, estruturada e personalizada desse tipo de exercício representa, portanto, uma intervenção de alto valor terapêutico, capaz de modificar positivamente o curso da doença, ampliar a qualidade de vida dos idosos e oferecer uma alternativa complementar às estratégias farmacológicas atuais (Freitas et al., 2020; Almeida et al., 2022; Sant’Ana et al., 2024).

Programas de treinamento resistido aplicados a idosos com Doença de Alzheimer, com duração variando de 12 semanas a 12 meses, frequência de duas a cinco sessões semanais, utilizando exercícios como agachamento, extensão de joelhos, puxar e empurrar com elásticos ou máquinas, e intensidades entre 50% e 85% de 1RM, resultaram em melhora da força muscular, equilíbrio, função física e cognitiva, além de relatos de manutenção ou retardamento do declínio cognitivo, embora ainda se destaque a necessidade de padronização de protocolos e maior rigor metodológico (Barbosa; Agner, 2016). De forma semelhante, Andrade et al. (2024) observaram que protocolos de treinamento de força realizados de duas a três vezes por semana, com intensidade entre 60% e 80% de 1RM, por períodos de 8 a 24 semanas, utilizando pesos, máquinas ou elásticos, promovem ganhos de força muscular, melhorias cognitivas, aumento da independência funcional e possível redução da progressão dos déficits neurodegenerativos. Com base nestas evidências, verifica-se que o treinamento resistido, quando supervisionado e bem estruturado, representa uma intervenção eficaz e promissora no manejo dos sintomas e na preservação da funcionalidade de idosos com Doença de Alzheimer.

O treinamento resistido aplicado em pacientes com Doença de Alzheimer, como no estudo de GARUFFI et al. (2012), realizado com 34 participantes divididos igualmente entre um grupo de treinamento resistido (TG) e um grupo de convivência social (SGG), consistiu em 16 semanas de intervenção, com três sessões semanais não consecutivas, cada uma composta por cinco exercícios para grandes grupos musculares, executados em três séries de 8 a 12 repetições a 85% da carga previamente determinada, com intervalos de dois minutos e ajustes periódicos de carga a cada 15 dias. Os resultados mostraram melhorias significativas na força de membros inferiores, equilíbrio dinâmico e flexibilidade, evidenciadas em testes funcionais, enquanto o grupo de convivência apresentou ganho apenas na agilidade doméstica. Da mesma forma, FONTES et al (2022), analisaram idosos em estágios leve a moderado de Alzheimer, também divididos em grupo de treinamento resistido e grupo de encontro social, aplicando protocolo de 16 semanas com três sessões semanais, incluindo exercícios como Pec Deck, Pull Down, Leg Press, rosca direta com barra apoiada e tríceps Pulley, ajustados conforme a capacidade individual. Os achados apontaram melhora significativa na força de membros inferiores, equilíbrio, flexibilidade e agilidade no grupo de treinamento, enquanto o grupo de convivência apresentou melhora apenas na agilidade. Com base nestas evidências, verifica-se que o treinamento resistido estruturado e supervisionado, realizado três vezes por semana por 16 semanas, promove benefícios expressivos na força, equilíbrio, flexibilidade e desempenho funcional de idosos com Doença de Alzheimer, superando os efeitos de intervenções não físicas.

Tabela 1 – Estudos sobre treinamento resistido em idosos com Alzheimer.

TÍTULOAUTORES/ ANOMETODOLO- GIAPROTOCOLORESULTADOS
Efeitos de Diferentes Intensidades de Treinamento Resistido em IdososCassilhas et al.2012Treinamento resistido de alta e moderada intensidade2 séries / 8-12 repetições / 50%-80% 1RMElevação de IGF- 1, melhora de memória e atenção
Impactos do Treinamento Resistido na Função Cognitiva de Idosos Smolarek et al., 2018Treinamento resistido intensidade moderada3 séries / 10 repetições / 60%-75% 1RMAumento da força muscular e melhora cognitiva
Treinamento Resistido Progressivo e Estrutural em Indivíduos com Comprometimento Cognitivo LeveBroadhouse et al.2020Treinamento resistido progressivoSessões de 90 min / 2-3x semana / carga progressivaProteção contra atrofia do hipocampo e precuneus; efeitos mantidos por 1 ano
Protocolo de Treinamento Resistido Adaptativo para Idosos com Alzheimer Ribeiro et al. 2025Treinamento resistido progressivo2 sessões semanais / pro- gressão gradual / intensidade moderada a altaMelhora de força muscular e funções cognitivas; ambiente seguro e supervisionado
Efeitos Psicossociais do Treinamento Resistido em Idosos com Alzheimer Gomes; Zhang et al. 2025Treinamento resistido supervisionado3 séries / 8-12 repetições / 2-3x semana / progressão de cargaDiminuição de apatia, ansiedade e depressão; melhora do bem-estar e função cognitiva
Treinamento Resistido e Manutenção da Autonomia Funcional em Idosos com DABarbosa, Agner; De la Rosa et al. 2016; 2020Treinamento resistido para fortalecimento muscularProtocolo voltado a grandes grupos musculares / carga progressivaManutenção da autonomia funcional e redução da necessidade de institucionalização
Revisão sistemática sobre treinamento resistido em idosos com Doença de Alzheimer Barbosa, Agner, 2016Exercícios como agachamento, elevação de pernas, puxar e empurrar com elásticos ou máquinas.50% a 85% de 1RM, 2 a 5 sessões sema- nais, duração de 12 semanas a 12 meses.Melhora da força muscular, equilíbrio, função física e cognitiva; manutenção ou retardamento do declínio cognitivo.
Revisão sistemática sobre efeitos do treinamento de força em idosos com AlzheimerAndrade et al. 2024Exercícios com pesos, máquinas ou elásticos.60% a 80% de 1RM, 2 a 3 sessões semanais, duração de 8 a 24 semanas.Melhorias cognitivas, maior independência funcional e possível redução da progressão dos déficits neurodegenerativos.
Effects of resistance training on the performance of activities of daily living in patients with Alzheimer’s disease (2012)Garuffi et al.  2022Cinco exercícios para grandes grupos musculares.3 séries de 20 repetições a 85% da carga, 3x semana, duração de 16 semanas, ajuste a cada 15 dias.Melhoria significativa na força de membros inferiores, equilíbrio dinâmico e flexibilidade; melhora em testes funcionais.
Efeitos do exercício resistido em portadores de Alzheimer para melhora da cognição e força muscularFontes et al., 2022Pec Deck, Pull Down, Leg Press, rosca direta com barra apoiada e Tríceps Pulley.3x semana, 16 semanas, ajustado conforme capacidade individual.Melhora significativa na força de membros inferi- ores, equilíbrio e flexibilidade; aumento da agilidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão de literatura evidenciou que o treinamento resistido (TR), enquanto intervenção terapêutica não farmacológica, desempenha um papel multifatorial e altamente relevante no enfrentamento da Doença de Alzheimer (DA) em idosos. Frente ao cenário alarmante de crescimento exponencial da população geriátrica e da incidência de doenças neurodegenerativas, torna-se essencial promover estratégias que transcendam o modelo biomédico tradicional e valorizem abordagens integrativas, capazes de preservar a funcionalidade, a autonomia e a dignidade dos sujeitos acometidos.

A análise sistemática dos estudos revela que o TR, quando conduzido de forma supervisionada, segura e adaptada à condição clínica do paciente, promove uma série de adaptações fisiológicas e neurológicas altamente benéficas. Tais benefícios incluem o aumento da força muscular e da capacidade funcional, a modulação positiva de biomarcadores neuroinflamatórios, a elevação da expressão de fatores neurotróficos como o BDNF e o IGF-1, bem como a redução da deposição de placas β-amiloides e da proteína tau hiperfosforilada — elementos centrais na fisiopatologia da DA. Adicionalmente, os protocolos analisados demonstraram impacto positivo sobre aspectos comportamentais e emocionais, como a redução de sintomas depressivos, da apatia e da ansiedade, ao mesmo tempo em que potencializam o bem-estar, a autoestima e o engajamento social dos participantes.

A convergência das evidências científicas reforça que o TR não se restringe ao escopo da reabilitação física, mas constitui uma estratégia terapêutica integrativa, com potencial para atenuar o declínio cognitivo, retardar a progressão dos déficits neurodegenerativos e ampliar a reserva funcional do cérebro. Programas com frequência de duas a três sessões semanais, duração de 12 a 24 semanas, intensidade entre 50% e 85% de 1RM, focados em exercícios multiarticulares e carga progressiva, demonstraram-se especialmente eficazes nesse contexto. No entanto, ainda há uma lacuna considerável na padronização dos protocolos e na condução de estudos com elevado rigor metodológico, o que limita a generalização dos resultados e demanda investigações futuras mais robustas.

Dessa forma, conclui-se que o treinamento resistido representa uma ferramenta terapêutica promissora, segura e acessível, com capacidade de gerar efeitos crônicos positivos sobre os sistemas cognitivo, motor, emocional e funcional de idosos com DA. Ao integrar-se aos cuidados multidisciplinares no tratamento da doença, o TR amplia as possibilidades de intervenção clínica, contribuindo de forma significativa para a promoção de um envelhecimento ativo, saudável e socialmente participativo. Sua incorporação nas políticas públicas e nos programas de saúde voltados à terceira idade deve, portanto, ser incentivada, visando não apenas o alívio dos sintomas, mas a construção de uma trajetória de vida mais funcional, autônoma e humanizada para os idosos com Alzheimer.  

REFERÊNCIAS

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1Leonardo Augusto Cunha dos Santos do Curso Superior de Educação Física do Instituto Cristo Rei Campus FACCREI e-mail: laugusto699gohan@gmail.com  

2Marçal Guerreiro Filho do Curso Superior de Educação Física do Instituto Cristo Rei Campus FACCREI. Mestre em Educação Física (UEL/PR). e-mail: guerreiro@faccrei.edu.br