O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA SÍFILIS CONGÊNITA NO ESTADO DO TOCANTINS DE 2018 À 2023

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202504291150


Elaíne Kellen Nogueira Da Conceição,
Maria Luíza Pereira Lisbôa,
Hérika Lopes De Oliveira,
Orientador: Ma. Taynara Augusta Fernandes


RESUMO

INTRODUÇÃO: A sífilis congênita é uma IST que causa grande impacto na saúde dos neonatos, quando não tratada de forma adequada durante a gestação, leva a resultados adversos para o feto como: aborto, baixo peso ao nascer, má formação anatômica, dentre outros fatores associados. OBJETIVO: Compreender o perfil epidemiológico da sífilis congênita no estado do Tocantins entre os anos de 2018 à 2023. METODOLOGIA: Este trabalho contempla uma abordagem epidemiológica de natureza observadora e analítica, utilizando dados fornecidos pela plataforma DATHI de indicadores de sífilis populacional. RESULTADOS: Foi quantificado através deste estudo o perfil epidemiológico da sífilis congênita no Tocantins entre os respectivos anos supracitados e avaliado a incidência da doença.

Palavras-chave:  Epidemiologia. Gestação. Sífilis Congênita.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Congenital syphilis is an STI that has a major impact on the health of newborns. When not treated appropriately during pregnancy, it leads to adverse outcomes for the fetus such as: miscarriage, low birth weight, anatomical malformation, among other factors. associates. OBJECTIVE: To understand the epidemiological profile of congenital syphilis in the state of Tocantins between 2018 and 2023. METHODOLOGY: This work includes an epidemiological approach of an observational and analytical nature, using data provided by the DATHI platform of population syphilis indicators. EXPECTED RESULTS: It is expected to quantify through this study the epidemiological profile of congenital syphilis in Tocantins between the respective years mentioned above and evaluate the incidence of the disease.

Keywords: Epidemiology. Gestation. Congenital syphilis.

INTRODUÇÃO

Sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), infectocontagiosa causada pela bactéria Treponema pallidium, podendo evoluir por vários estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária). Nos estágios primários e secundários a transmissão pode ser mais frequente (Brasil, 2022).  É transmitida de forma sexual, vertical e com menos frequência sanguínea, com o sinal típico de úlcera indolor na região genital. 

De acordo com o sistema de agravo e notificação SINAN (2022), os quadros de sintomas mais marcantes ocorrem nas duas primeiras fases, períodos em que a doença é mais contagiosa. No terceiro estágio a patologia  pode se apresentar de forma assintomática e gerar a falsa impressão de cura da mesma. Possui grande importância epidemiológica entre as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), devido ao grande impacto na saúde das gestantes e dos neonatos com a elevação dos casos de sífilis congênita (Silva et al., 2017).

A sífilis é uma doença de notificação compulsória, o aumento do número de casos está relacionado ao baixo nível socioeconômico associado ao baixo índice de escolaridade, causando assim uma falta de entendimento sobre as IST´s,  sintomatologia e os cuidados a serem tomados no pré-natal. Pode-se incluir também a falta da realização de exames diagnósticos, o pouco conhecimento  a respeito dos  sinais  e  sintomas  da  doença  ainda  no início, bem  como  o  erro  na  interpretação  de  sorologias  e testes  rápidos, na dificuldade do  tratamento  da  mãe  e  do parceiro, realização do tratamento incompleto, além de um pré-natal inadequado (Guanabara et al., 2017).

A infecção vertical afeta o feto por via transplacentária durante a gestação ou no momento do parto, sendo denominada de sífilis congênita. A infecção durante o período gestacional pode resultar em várias complicações, como feto natimorto, parto prematuro, anormalidades anatômicas, baixo peso ao nascer e um amplo espectro de lesões do bebê. Neonatos que sobrevivem à sífilis congênita, podem apresentar diversas consequências permanentes que podem ser divididas em sinais precoces (icterícia, anemia, hepatoesplenomegalia, alterações ósseas, que ocorrem até 2 anos de idade) e tardios (fronte olímpica, mandíbula curva, perfuração do palato, nariz em cela e surdez) (Almeida et al., 2021).

Desde que diagnosticada e tratada a tempo a sífilis congênita é uma patologia evitável. No entanto, ainda é um problema de saúde pública significativo. A maioria dos casos de sífilis congênita é resultado da ausência de tratamento de sífilis materna e pré-natal ou tratamento inadequado. A patologia é resultado da disseminação hematogênica do Treponema pallidum de mulheres grávidas não tratadas ou tratadas de maneira inadequada para o feto. Além disso, a doença pode ser transmitida no nascimento através do contato direto do bebê com lesões de sífilis no canal do parto (Domingues et al., 2021). 

O Treponema pallidum atinge o feto em qualquer momento da gestação e os sinais e sintomas da sífilis congênita estão relacionados ao tempo da contaminação materna, ao grau de imunidade adquirida pela gestante, quantidade e virulência dos treponemas, além do momento em que ocorreu a transmissão da infecção ao concepto (Fernandes et al., 2018).

Os sinais e sintomas da sífilis congênita podem estar ausentes no momento do nascimento do bebê ou podem surgir de dias a anos após o parto. Em gestações em que a patologia não foi tratada, acontece o óbito fetal ou morte neonatal precoce, além de várias alterações anatômicas no concepto. Em relação ao feto, o treponema inicialmente ataca o fígado, seguindo para a pele, mucosas, ossos, pulmões e sistema nervoso central (Fernandes et al., 2018).

A prestação da assistência em saúde através do pré-natal durante o período gestacional e puerpério é a melhor forma de amenizar os casos de transmissão vertical da sífilis. O pré-natal é uma assistência que visa melhoria na qualidade de vida materna fetal, sendo essencial para a detecção de sífilis gestacional (SG) e prevenção da sífilis congênita (SC)  (Benzaken et al., 2020).

Dessa forma, entende-se que intervenções eficazes como a testagem precoce, tratamento adequado e acompanhamento cuidadoso durante o período gestacional podem reduzir drasticamente a transmissão vertical da sífilis. Assim, o objetivo deste trabalho é compreender o perfil epidemiológico da sífilis congênita no estado do Tocantins entre os anos de 2018 à 2023.

METODOLOGIA 

Este estudo adota uma abordagem epidemiológica de natureza observacional e analítica, utilizando dados populacionais fornecidos pela plataforma Indicadores Sífilis: DATHI (Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis). O método empregado é de caráter ecológico, visando analisar quantitativamente a incidência da sífilis congênita no Tocantins, no período compreendido entre 2018 a 2023. A pesquisa foi realizada por meio da plataforma DATHI e a coleta de dados aconteceu no primeiro semestre de 2025 e compreendeu o período de 2018 à 2023.

A população alvo deste estudo compreende todos os casos de sífilis congênita registrados no período de 2018 à 2023. Dado o caráter do estudo ecológico adotado, não há uma amostra específica delimitada, uma vez que foram utilizadas bases de dados populacionais para análise. Neste estudo, os critérios de inclusão abrangem os nascidos vivos diagnosticados com sífilis congênita, cuja notificação foi realizada.

Os dados para este estudo foram coletados a partir de fontes públicas, com ênfase na utilização da plataforma Indicadores Sífilis: DATHI. Dada a natureza pública desses dados, sem a necessidade de prerrogativas para seu acesso, foi possível utilizá-los integralmente para a realização deste trabalho. A fim de facilitar a análise quantitativa, os dados foram tabulados em planilhas eletrônicas.

Depois de organizados, os dados foram examinados cuidadosamente para identificar padrões e mudanças ao longo do período de análise. Essas descobertas foram comunicadas de maneira clara e compreensível, por meio de  gráficos e tabelas,  facilitando a visualização e interpretação dos resultados.

Os resultados foram apresentados de forma elucidativa e acessível, acompanhados por uma narrativa que contextualiza os achados, destacando as implicações para a saúde pública.

RESULTADOS
Casos de Sífilis Congênita em Menores de um Ano (2018-2023)

Os dados indicam um aumento expressivo no número de casos em 2023,  em relação aos anos anteriores, com 413 registros e uma taxa de detecção de 17,8 por 1.000 nascidos vivos, o maior índice da série analisada (Tabela 1). Esse crescimento pode estar associado a falhas na triagem pré-natal, redução da cobertura de testagem ou outros fatores sociais e de saúde pública. 

Tabela 1. Casos de Sífilis Congênita em Menores de um Ano (2018-2023)

Fonte: DATHI

Ao analisar a distribuição dos casos ao longo dos anos utilizando cálculos estatísticos, verificou-se que a média ponderada do número de casos de sífilis congênita no período de 2013 a 2023 foi de 299,17. Esse valor representa uma tendência média do número de casos ao longo da última década, ponderando adequadamente a importância de cada ano na série histórica.

Além disso, a variabilidade dos dados foi avaliada por meio do cálculo da variância amostral e do desvio padrão, que são medidas essenciais para entender a dispersão dos registros ao longo dos anos. A variância amostral encontrada foi de 33.829,61, o que indica que os valores individuais diferem significativamente da média. O desvio padrão calculado foi de 183,93, um valor considerável, evidenciando uma alta dispersão nos registros anuais. Em termos práticos, isso significa que os números de casos flutuam de maneira expressiva de um ano para outro, refletindo a instabilidade da incidência da sífilis congênita na população analisada. Essa variação pode estar relacionada a mudanças na política de saúde pública, no acesso ao pré-natal, nas estratégias de diagnóstico e nos fatores socioeconômicos que influenciam a transmissão vertical da infecção.

Além da análise do número absoluto de casos, também foi calculada a média das taxas de detecção da sífilis congênita por 1.000 nascidos vivos. A média obtida foi de 10,38, com uma variância amostral de 9,99 e um desvio padrão de 3,16. Isso demonstra que as taxas de detecção apresentaram variações expressivas ao longo dos anos, o que reforça a necessidade de ações contínuas para estabilizar e reduzir esses índices.

A análise sugere que esse aumento pode estar relacionado a múltiplos fatores, como a redução na adesão ao pré-natal, o crescimento da prevalência da sífilis na população geral e dificuldades no acesso a testes e tratamento durante a gestação. Esses dados oferecem uma visão abrangente da evolução da sífilis congênita no Estado do Tocantins nos últimos anos, possibilitando a identificação de tendências e áreas prioritárias para intervenção. A elevada variabilidade no número total de casos ao longo dos anos, conforme evidenciado pelo desvio padrão de 183,93, reforça a necessidade de aprimorar o rastreamento e a testagem precoce. O aumento expressivo em 2023 sugere que estratégias preventivas podem não estar sendo suficientemente eficazes para evitar a transmissão vertical da sífilis.

Casos de Sífilis Congênita Segundo Idade da Criança (2018-2023)

Ao considerar a distribuição dos casos por idade da criança, a variação na incidência anual também pode ser analisada à luz dos cálculos estatísticos já mencionados. A maioria dos casos ocorre em crianças com menos de sete dias de vida. O ano de 2023 apresenta o maior número total de casos (403 nessa faixa etária), reforçando que a transmissão vertical ocorre ainda no período intrauterino. Casos diagnosticados após o primeiro mês de vida são raros, mas houve um ligeiro aumento em 2023, incluindo um caso em uma criança entre 2 e 4 anos, o que pode indicar falhas no rastreamento neonatal (Tabela 2).

Tabela 2. Casos de Sífilis Congênita Segundo Idade da Criança (2018-2023)

Idade da Criança201820192020202120222023
Menos de 7 dias274231216254252403
7 a 27 dias52311
28 a 364 dias524232
1 ano1
2 a 4 anos11
5 a 12 anos
Ignorado
Fonte: DATHI
Casos de Sífilis Congênita Segundo Diagnóstico Final (2018-2023)

O aumento da incidência em recém-nascidos reflete a importância de aprimorar as estratégias de rastreamento e tratamento da sífilis materna. Além disso, os casos de natimortalidade associada à sífilis oscilaram ao longo dos anos, atingindo um pico em 2022, com seis registros (Tabela 3). Esse dado reforça a necessidade de monitoramento contínuo e melhorias nos protocolos de detecção e manejo da infecção durante a gestação. 

Tabela 3. Casos de sífilis congênita segundo diagnóstico final – 2018 a 2023

Diagnóstico Final201820192020202120222023
Sífilis congênita recente282235223256256406
Sífilis congênita tardia112
Aborto por sífilis111
Natimorto por sífilis234264
Fonte: DATHI

A relação entre os casos de natimortalidade e a sífilis congênita deve ser analisada com cautela, visto que os cálculos realizados mostram uma dispersão significativa dos casos ao longo dos anos. O desvio padrão de aproximadamente 1,52 nos casos de natimortos por sífilis entre 2018 e 2023 sugere que houve uma variação relativamente baixa no número de ocorrências ao longo dos anos. Isso indica uma certa estabilidade nos dados, com os valores se mantendo próximos da média anual de 3,5 casos. A ausência de flutuações extremas aponta para um padrão consistente, o que pode facilitar o planejamento e a execução de ações de saúde pública voltadas à prevenção e ao monitoramento da sífilis congênita. Embora o número de casos ainda represente um problema de saúde, essa constância sugere que não houve surtos abruptos ou picos inesperados de natimortalidade por essa causa no período analisado.

A sífilis congênita recente representa a maior parcela dos casos. O ano de 2023 também se destaca pelo aumento expressivo de casos (406), além da presença de dois casos de sífilis congênita tardia, ausentes nos anos anteriores. O crescimento nos casos de sífilis congênita tardia em 2023, uma categoria que anteriormente apresentava números insignificantes, pode estar relacionado a possíveis mudanças nos protocolos de testagem e tratamento, afetando diretamente o controle da infecção.

É fundamental aprofundar a análise sobre a correlação entre o crescimento dos casos e aspectos socioeconômicos, bem como investigar a eficácia do rastreamento neonatal. Este estudo demonstra que a incidência da sífilis congênita não segue um padrão estável, demandando políticas públicas mais consistentes e adaptáveis às variações anuais. Essas investigações são essenciais para embasar estratégias mais eficazes no enfrentamento da sífilis congênita e na formulação de políticas públicas voltadas à sua prevenção e controle.

DISCUSSÕES

Conforme resultados encontrados neste estudo, baseado nas informações obtidas através da plataforma DATHI, observa-se o um aumento da incidência de casos de sífilis congênita no Estado do Tocantins nos últimos anos. As falhas das triagens pré natais e início tardio, a cobertura das testagem e realização de exames, mudanças na política de saúde pública e fatores socioeconômicos implicam no aumento dos casos de sífilis congênita, sugerindo a necessidade de intensificar ações educativas e de conscientização sobre a importância do acompanhamento durante a gestação realizado através do pré-natal e dos tratamentos adequados para as comorbidades das gestantes.

Baseado nos índices apresentados entre 2018-2023, houve oscilações entre a quantidade de casos notificados  em menores de 1 ano, em 2018 a taxa de detecção foi de 11,1% havendo uma recaídas nos demais anos seguintes, enquanto que em 2023 esse percentual voltou a aumentar para a detecção de 17,8%. Essa taxa de identificação de novos casos de sífilis congênita são registradas durante os primeiros dias ao primeiro ano de vida, sendo a maioria dos casos descobertos durante a gestação ou logo após o parto.

Pode-se notar também que o diagnóstico recente dos casos de sífilis congênita  é bem mais prevalente do que o tardio. No diagnóstico final percebe-se que o número de casos entre 2018-2023 dobrou de valor, sendo esse um ponto importante para tratamento e acompanhamento das crianças afetadas.

A sífilis congênita persiste como um desafio crítico para a saúde pública no Brasil, com desigualdades regionais evidentes, especialmente no Tocantins. Dados do Boletim Epidemiológico de Sífilis 2022 do Ministério da Saúde apontam que o estado registrou uma taxa de detecção de 8,5 casos por 1.000 nascidos vivos em 2021, superior à média nacional (7,6/1.000), posicionando-o entre as unidades federativas com maior vulnerabilidade socioeconômica e geográfica. Essa realidade ecoa a de estados vizinhos, como Maranhão (9,2/1.000) e Pará (8,9/1.000), onde a baixa cobertura de pré-natal e a fragilidade da infraestrutura sanitária perpetuam a transmissão vertical (BRASIL, 2022).

Nos últimos anos, tem-se registrado um aumento significativo nos casos de sífilis no Brasil, especialmente nas formas primária e secundária, afetando mulheres em idade fértil. Embora os números de sífilis gestacional (SG) notificados tenham aumentado, esses dados ainda não refletem a realidade, uma vez que muitos casos não são diagnosticados ou notificados adequadamente. Esse cenário tem levado ao crescimento contínuo na taxa de incidência de sífilis congênita (SC) nos últimos 10 anos, com a taxa atingindo 9,0 casos por mil nascidos vivos (NV) em 2018 (BRASIL, 2019a), um número 18 vezes superior à meta estabelecida para a eliminação da SC como problema de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera como aceitável taxas inferiores a 0,5 casos por 1.000 NV. Entre 2010 e 2015, a frequência de SC quase duplicou no Brasil, sendo uma das principais causas da alta taxa de incidência registrada em toda a América Latina. 

O Ministério da Saúde identificou três fatores principais para esse aumento: o maior número de exames de rastreamento para sífilis, refletindo uma melhora no acompanhamento pré-natal e detectando mais casos positivos; a falta de penicilina disponível para o tratamento; e a insuficiência de unidades de saúde na Atenção Básica, que frequentemente não tratam os pacientes com sífilis e os encaminham para a atenção secundária, o que resulta em perda de acompanhamento dos casos (OPAS, 2017).

As maiores taxas de incidência de SC nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, contrastando com as taxas mais baixas no Nordeste, podem estar relacionadas à subnotificação de casos, e não necessariamente ao menor número de ocorrências nesta última região. Um indicativo importante dessa hipótese é a alta taxa de mortalidade por SC observada no Nordeste, o que sugere que o fenômeno da subnotificação pode mascarar a real prevalência da doença. É amplamente reconhecido que a SC é um indicador da qualidade da assistência pré-natal, sendo uma condição evitável e curável com o uso de tecnologias de diagnóstico e tratamento que são, em grande parte, acessíveis e eficazes para as gestantes (COUTINHO, 2010; DOMINGUES et al., 2015; BRASIL, 2015). 

Quando uma gestante não recebe tratamento adequado ou não é tratada a tempo, o risco de morte é elevado, atingindo até 40% dos casos de SC. Além disso, as estratégias de vigilância, que incluem a notificação rigorosa de casos, estão intrinsecamente associadas à qualidade do atendimento prestado, sendo um fator determinante na prevenção e controle da doença (GOMEZ et al., 2013). Para validar essa análise e aprimorar o entendimento sobre as disparidades regionais, são necessários estudos locais que investiguem mais profundamente as causas subjacentes à alta mortalidade e à possível subnotificação de casos no Nordeste.

O aumento da prevalência de SC tem sido observado de forma semelhante em diferentes municípios do estado, como é o caso de Canoas/RS, onde pesquisas realizadas entre 2013 e 2014 mostraram que 2014 teve o maior número de casos de sífilis gestacional (SG) notificados, com uma taxa de 22,9 casos por 1.000 nascidos vivos. Dentre as gestantes diagnosticadas com sífilis, 52,3% tinham idades entre 20 e 29 anos, e 43,2% realizaram seis ou mais consultas pré-natais. Em outro estudo conduzido por Silva Neto et al. (2018) em Itapeva/SP, entre 2010 e 2014, foram diagnosticados 149 casos de SG e 103 casos de SC, com uma taxa de transmissão vertical de 69,1%. 

De forma semelhante, um estudo de Souza et al. (2019) na região de Pontal do Paranapanema/SP, realizado de 2007 a 2013, identificou 80 casos de SG e 61 casos de SC, com uma taxa de transmissão de 76,2%. Um estudo conduzido por Lafetá et al. (2020) em Montes Claros/MG, entre 2007 e 2013, revelou 93 casos de SG e 54 casos de SC, com uma taxa de transmissão vertical de 58,1%. Algumas deficiências na assistência pré-natal merecem destaque, mesmo que ultrapassem os limites deste estudo, como o elevado percentual de gestantes (30,8%) e de parceiros sexuais (75,9%) não tratados. 

Esse último aspecto é frequentemente identificado por diversos autores como um dos principais obstáculos para o controle da sífilis congênita (LIMA et al., 2013; SOEIRO et al., 2014; COSTA et al., 2013; MAGALHÃES, 2013; ALMEIDA, 2015). Além disso, observou-se, assim como em outros estudos (OLIVEIRA et al., 2014; LAFETÁ, 2016), uma considerável subnotificação de casos de sífilis em gestantes (72,9%), o que compromete o planejamento e a eficácia das ações de controle implementadas pelo sistema de saúde (BRASIL, 2015).

Quando a Rede de Atenção Básica à Saúde (ABS) falha no diagnóstico ou tratamento da sífilis em gestantes, a hospitalização pode se tornar uma nova oportunidade para identificar e tratar a infecção. Nesse contexto, os hospitais assumem um papel estratégico, atuando como unidades sentinelas na detecção de casos não diagnosticados ou negligenciados durante o pré-natal (DONALÍSIO; FREIRE; MENDES, 2007; TEIXEIRA et al., 2003). Além do tratamento hospitalar, é essencial que essas mulheres recebam orientações adequadas dos profissionais de saúde e sejam encaminhadas, após a alta, para acompanhamento ambulatorial, visando o controle de cura ou a conclusão do tratamento, conforme a situação de cada paciente (BRASIL, 2015).

CONCLUSÃO

Uma vez analisados os aspectos transmissionais, conclui-se que no Brasil a prevalência da conversão entre sífilis gestacional e sífilis congênita supera os valores minimamente aceitáveis de acordo com a OMS, isto posto, no Estado do Tocantins esses valores se mantém aumentados, podendo estar associado a falhas na triagem pré-natal, bem como à falta de medicações de primeira escolha para o tratamento gestacional na janela oportuna. À vista disso, dá-se destaque à subnotificação da sífilis no estado tocantinense, evidência que contribui para os altos números de transmissão. Além disso, deficiências no tratamento como: falhas no tratamento da sífilis gestacional e no tratamento do parceiro sexual, são contribuintes para o infortúnio da doença congênita. 

Destarte, o período avaliado se demonstra instável com relação à incidência de SG, todavia, a partir da série 2019-2020 há uma estabilidade crescente nas notificações dos casos de sífilis gestacional, com um aumento significativo em 2023, e diminuição paralela de ocorrências congênitas, evento em que é presumível a relação da pandemia de COVID-19 com o baixo enfrentamento à sífilis, uma vez que os esforços sanitários se voltaram para o combate à doença pandêmica, sobretudo no período 2020-2022, e em 2023 houve o fim oficial do status emergencial do ocorrido. 

Portanto, os dados analisados evidenciam que o protocolo de enfrentamento à sífilis congênita apresenta eficácia quando devidamente sustentado por uma base sanitária sólida e contínua. Observa-se que, nos períodos em que houve redução na cobertura de testagens e fragilidade nas ações de vigilância em saúde, houve um aumento proporcional no número de casos registrados, demonstrando a sensibilidade do controle da doença à disponibilidade e regularidade das intervenções. Diante disso, conclui-se que a eficácia das medidas de controle está diretamente condicionada ao investimento em recursos financeiros e logísticos.

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