O PAPEL DO ENFERMEIRO NOS CUIDADOS PALIATIVOS PRESTADOS A PACIENTES TERMINAIS:  DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA UMA ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

THE ROLE OF NURSES IN PALLIATIVE CARE PROVIDED TO TERMINALLY ILL PATIENTS: CHALLENGES AND STRATEGIES FOR HUMANIZED CARE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506270721


João Victor Bezerra¹
Luciana Silva De Assis²
Iane Brito Leal³


RESUMO

Objetivos: identificar o papel do enfermeiro nos cuidados paliativos prestados a pacientes terminais, com foco nos desafios e nas estratégias para uma assistência humanizada. Metodologia: trata-se de uma revisão de escopo, elaborada com base nas diretrizes da extensão PRISMA. A identificação e a seleção dos estudos foram realizadas entre Maio de 2024 e Abril de 2025 na base de dados Pubmed. Resultados: a busca resultou em 873 artigos, dos quais 10 atenderam aos critérios de inclusão. Discussão: Os estudos apontam que a principal dificuldade da enfermagem nos cuidados paliativos a pacientes terminais é a falta de preparo e capacitação específica, além de desafios na compreensão das necessidades físicas, emocionais e psicológicas desses pacientes. A escassez de profissionais qualificados e o apoio especializado também são apontados como fatores que dificultam a assistência adequada. Ressalta-se a necessidade de investimentos em formação contínua da equipe, de modo que os enfermeiros adquiram habilidades para lidar com o sofrimento e as complexas condições dos pacientes em fase terminal. Conclusão: O cuidado de enfermagem em pacientes terminais exige uma abordagem holística, sensível e individualizada, considerando tanto as necessidades físicas quanto emocionais dos pacientes e de suas famílias. Destaca-se a importância de incluir conteúdos específicos sobre cuidados paliativos na formação em enfermagem, com ênfase em práticas simuladas que desenvolvam as habilidades técnicas e emocionais necessárias para o manejo de pacientes terminais. A atuação eficaz do enfermeiro nos cuidados paliativos envolve uma escuta ativa, empatia, e o desenvolvimento de competências para detectar e aliviar o sofrimento, promovendo a dignidade e o conforto do paciente em seus últimos momentos de vida.

Palavras-chave: Cuidados paliativos, Enfermagem, Paciente terminal, Humanização da saúde, Qualidade de vida.

ABSTRACT 

Objectives: to identify the role of nurses in palliative care provided to terminally ill patients, focusing on the challenges and strategies for humanized care. Methodology: this is a scoping review, prepared based on the PRISMA extension guidelines. The identification and selection of studies were carried out between May 2024 and April 2025 in the Pubmed database. Results: the search resulted in 873 articles, of which 10 met the inclusion criteria. Discussion: The studies indicate that the main difficulty of nursing in palliative care for terminally ill patients is the lack of specific preparation and training, in addition to challenges in understanding the physical, emotional, and psychological needs of these patients. The shortage of qualified professionals and specialized support are also pointed out as factors that hinder adequate care. The need for investment in continuous training of the team is emphasized, so that nurses acquire skills to deal with the suffering and complex conditions of terminally ill patients. Conclusion: Nursing care for terminally ill patients requires a holistic, sensitive, and individualized approach, considering both the physical and emotional needs of patients and their families. The importance of including specific content on palliative care in nursing training is highlighted, with an emphasis on simulated practices that develop the technical and emotional skills necessary for the management of terminally ill patients. The effective performance of nurses in palliative care involves active listening, empathy, and the development of skills to detect and alleviate suffering, promoting the dignity and comfort of patients in their final moments of life.

Keywords: Palliative care, Nursing, Terminally ill patient, Humanization of health, Quality of life.

INTRODUÇÃO

Os cuidados paliativos são fundamentais na assistência a pacientes terminais, proporcionando alívio da dor, controle dos sintomas, conforto e suporte emocional tanto para os pacientes quanto para seus familiares. O enfermeiro, como membro essencial da equipe multiprofissional, desempenha um papel central na promoção de um cuidado humanizado, baseado no respeito à dignidade e na melhoria da qualidade de vida até o final da jornada.

Segundo Bertachini, Pessini e Silva (2017), os cuidados paliativos vão além do controle de sintomas físicos, abrangendo também as dimensões emocionais, sociais e espirituais, sendo indispensáveis para uma assistência integral. Para Lima, Moritz e Andrade (2020), a atuação do enfermeiro inclui não apenas a assistência técnica, mas também a comunicação efetiva com o paciente e seus familiares, facilitando a tomada de decisões sobre o plano terapêutico.

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020) reforça que a incorporação dos cuidados paliativos deve ser uma prioridade nos sistemas de saúde, contribuindo para a redução do sofrimento e a melhoria da experiência dos pacientes com doenças incuráveis. No entanto, desafios persistem, como a necessidade de capacitação dos profissionais, escassez de recursos e a baixa oferta de serviços especializados, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2019).

Menezes e Lopes (2018) destacam que enfermeiros capacitados nessa área desenvolvem maior segurança no manejo de sintomas como dor, dispneia e ansiedade, além de oferecerem suporte emocional adequado às famílias. A formação acadêmica ainda é considerada insuficiente, e a inclusão dos cuidados paliativos no currículo dos cursos de enfermagem se mostra essencial para qualificar a assistência (Santos; Oliveira, 2021).

A humanização do cuidado é outro aspecto central. Conforme Silva e Cardoso (2022), o vínculo construído entre enfermeiro, paciente e família impacta positivamente a experiência do adoecimento, tornando a comunicação empática e o acolhimento elementos indispensáveis para um cuidado eficaz.

Nesse contexto, fortalecer a atuação dos enfermeiros nos cuidados paliativos é essencial para garantir que pacientes terminais recebam uma assistência digna, centrada nas suas necessidades. Como reforçam Costa, Lima e Rodrigues (2023), investir na formação profissional e na expansão dos serviços de cuidados paliativos é uma estratégia fundamental para melhorar a qualidade da assistência.

Diante disso, este estudo tem como objetivo identificar o papel do enfermeiro nos cuidados paliativos prestados a pacientes terminais, com foco nos desafios e nas estratégias para uma assistência humanizada.

METODOLOGIA

Esta é uma revisão de escopo elaborada com base nas diretrizes da extensão PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) para revisões de escopo.

Foi utilizada a estratégia PCC, onde o P significa “população”, o C “conceito” e o C “contexto”. O foco do P foi “Pacientes terminais”, o C “Cuidados paliativos; papel do enfermeiro; humanização da assistência” e o último C “Unidades hospitalares, atenção domiciliar, centros de cuidados paliativos”. Na elaboração deste estudo, formou a seguinte questão norteadora: “Qual é o papel do enfermeiro nos cuidados paliativos prestados a pacientes terminais? Quais são os desafios e as estratégias adotadas para promover uma assistência humanizada?”

A identificação e a seleção dos estudos foram realizadas entre maio 2025 e junho de 2025, nas bases de dados em saúde Pubmed e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). 

Utilizaram-se os seguintes descritores, de acordo com o vocabulário controlado de cada base de dados: “Palliative Care”, “Nursing”, “Humanization of Assistance”, “Humanized Care”, “Empathy”, “Holistic Nursing” e “Terminally Ill”. Para conectar osdescritores foram utilizados os operadores booleanos como “OR” e “AND”.

Foram incluídos artigos disponíveis na íntegra, com acesso gratuito, nos últimos 10 anos (2015 a 2025), que abordassem o papel do enfermeiro nos cuidados paliativos e/ou humanização da assistência a pacientes terminais ou que descrevessem estratégias de cuidado ou desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem. Foram excluídos os trabalhos duplicados nas bases de dados, cartas ao editor, editoriais, comentários, resumos de congresso e estudos com foco exclusivo em intervenções médicas ou farmacológicas sem menção à enfermagem.

O processo de revisão consistiu em dois níveis de triagem, a revisão de título e resumo e a revisão do texto na íntegra.  Para o primeiro, os títulos e resumos foram lidos e analisados para identificar artigos potencialmente elegíveis. Na segunda etapa, os artigos foram lidos na íntegra para determinar se atendem aos critérios de elegibilidade.

Para extração dos dados dos artigos selecionados foi elaborada uma ficha padrão com campos para coleta dos dados como, autor (ano), tipo de estudo, objetivo, papel do enfermeiro desafios, estratégias humanizadas e principais conclusões.

RESULTADOS  

Inicialmente, foram identificados 225 estudos que ao aplicar o filtro de trabalhos publicados nos últimos 10 anos, totalizou 158 e dentre estes, que tiveram o texto disponível na íntegra restou 16 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, 46 foram removidos por não contemplarem os critérios de inclusão. Ao final, 16 artigos foram lidos na íntegra; desses, 10 foram considerados elegíveis (figura 1).

Figura 1. Diagrama de fluxo Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA) para o processo de revisão de escopo.
Fonte: próprios autores, 2025.
Identificação de conteúdo, excel 2025

A seguir, o quadro apresenta uma síntese de estudos recentes que abordam o papel do enfermeiro nos cuidados paliativos, destacando seus objetivos, desafios enfrentados, estratégias humanizadas adotadas e principais conclusões. Todos os estudos são do tipo revisão integrativa, e evidenciam a importância da atuação humanizada, da comunicação empática e da formação contínua para oferecer um cuidado qualificado e centrado no paciente em fim de vida.

Autor (ano)Tipo de estudoObjetivoPapel do enfermeiroDesafiosEstratégias humanizadasPrincipais conclusões
Francisco denes viana Vasconcelos, Rômulo De Souza Araújo, José Edivan Silva Neco, Raylane Gomes Sampaio, Thais Venâncio De Paiva, Yara Pessoa Soares (2019)Revisão IntegrativaAnalisar o papel do enfermeiro na assistência paliativa ao paciente  oncológico em fase terminal, destacando suas responsabilidades e desafios.O enfermeiro atua no controle da dor e dos sintomas, oferece suporte emocional ao paciente e à família, promovendo conforto e qualidade de vida juntamente com um cuidado humanizado e digno no fim da vida.Lidar com o sofrimento emocional do paciente e da família, mantendo empatia sem se sobrecarregar.Escuta ativa, ela consiste em ouvir o paciente com atenção, acolher suas angústias, medos e desejos, sem julgamentos, demonstrando empatia e respeito.O enfermeiro tem papel essencial na assistência paliativa ao paciente oncológico em fase terminal, promovendo alívio da dor, conforto, apoio emocional e dignidade.
Costa, Jheniffer Otilia; dos Santos, Fernanda; Lohmann, Paula Michele; Bernardes, CarolineRevisão IntegrativaIdentificar e sintetizar as evidências científicas sobre  os cuidados paliativos em enfermagem, com foco na atuação do enfermeiro.O enfermeiro tem a função de controlar a dor e os sintomas, prestar suporte emocional, proporcionar conforto, acolher o paciente e seus familiares, assegurando um cuidado humanizado.Esses desafios exigem preparo técnico, emocional e ético por parte do enfermeiro.Uma estratégia humanizada eficaz é o acolhimento, que consiste em receber o paciente e seus familiares com empatia.Estratégias humanizadas, como o acolhimento, fortalecem o cuidado e garantem dignidade ao paciente.
de Souza, Tony José; Coelho, Amanda Gabrielly Machão dos Santos; Lima, Laiane Luzia Correia de; Assis, Júlia Maria Vicente deRevisão IntegrativaExplorar a importância da comunicação eficaz na assistência de enfermagem em  cuidados paliativos, destacando suas implicações para a qualidade de vida do paciente.O enfermeiro deve ter uma comunicação clara e acolhedora, facilitando o entendimento do paciente e da família, promovendo segurança, alívio emocional e contribuindo diretamente para a qualidade de vida no cuidado paliativo.Transmitir más notícias de forma sensível e compreensível.Uso de linguagem simples evitar jargões médicos e explicar de forma clara o que está acontecendo, respeitando o nível de compreensão do paciente e da família.O enfermeiro desempenha um papel fundamental ao estabelecer um diálogo claro, empático e acolhedor, facilitando o entendimento e o alívio emocional.
Dias, Geyse Aline Rodrigues; Ferreira, Viviane Ferraz; Lopes, Márcia Maria Bragança; Cascais, Jéssica Cardoso; Lima, Paula Daely CampeloRevisão IntegrativaDiscutir a abordagem multidimensional do enfermeiro no alívio da dor em cuidados  paliativos, considerando aspectos físicos, psicológicos e espirituais.O enfermeiro atua no alívio da dor de forma multidimensional, abordando não apenas os aspectos físicos, com controle da dor e sintomas, mas também os aspectos psicológicos e espirituais.Avaliação precisa da dor e identificar corretamente a intensidade e a natureza da dor, considerando a variabilidade entre os pacientes.No alívio da dor em cuidados paliativos, as estratégias humanizadas envolvem uma escuta empática, onde o enfermeiro valida os sentimentos do paciente e oferece espaço para que ele se expresse.O enfermeiro tem um papel crucial no alívio da dor em cuidados paliativos, abordando a dor de forma física, emocional e espiritual. 
Molina Filho, Ênio Teixeira; Olivero, Aline Augusto; Gurgel, Sanderland José Tavares; Gil, Nelly Lopes de Moraes; Sanches, Rafaely de Cássia Nogueira; Sanches, Mário Antônio; Souza, WaldirRevisão IntegrativaAnalisar o papel do enfermeiro na assistência à família em cuidados  paliativos, destacando a importância do suporte emocional e informativo.O enfermeiro oferece suporte emocional e informativo à família, auxiliando na compreensão do processo de fim de vida, e oferecendo apoio contínuo para lidar com o luto e o sofrimento.Conciliar as expectativas da família com a realidade do cuidado paliativo, respeitando as decisões e preferências familiares.Suporte à família em cuidados paliativos envolvem escuta ativa, onde o enfermeiro acolhe as angústias e preocupações dos familiares com empatia, validando seus sentimentos. O enfermeiro tem um papel fundamental em oferecer apoio emocional e informações à família durante os cuidados paliativos.
 Nascimento, Maria de Fátima Silva; da Silva, Liniker Scolfild Rodrigues; Soares, Luzeni Maria; dos Santos, Alyne Silva; Tavares, Rayssa Sydnara Angelo; da Silva, Daniela VieiraRevisão IntegrativaExplorar a visão do enfermeiro sobre a relação entre cuidados paliativos e  espiritualidade, destacando a importância do suporte espiritual ao pacienteO enfermeiro reconhece a importância da espiritualidade no cuidado paliativo, oferecendo suporte espiritual ao paciente, respeitando suas crenças e proporcionando um ambiente de acolhimento.Respeitar as crenças e valores espirituais do paciente, sem impor suas próprias crenças.Suporte espiritual em cuidados paliativos envolvem, primeiramente, a escuta efetiva para compreender as crenças e necessidades espirituais do paciente, sem julgamentos. O profissional tem um papel fundamental no suporte espiritual em cuidados paliativos, oferecendo um cuidado integral que respeita as crenças e necessidades espirituais do paciente.
Oliveira, Luana Gomes de; Luz, LarissaRevisão IntegrativaDiscutir o papel do enfermeiro na tomada de decisões em cuidados paliativos,  enfatizando a importância da autonomia do paciente e do respeito à dignidade.O enfermeiro apoia a tomada de decisões em cuidados paliativos, garantindo que o paciente tenha autonomia para expressar suas preferências e desejos. Equilibrar a autonomia do paciente com as recomendações médicas, garantindo que o paciente tenha voz ativa nas decisões.Tomada de decisões em cuidados paliativos envolvem garantir que o paciente se sinta ouvido e respeitado, fornecendo informações claras e acessíveis para que ele possa tomar decisões informadas sobre seu cuidado.o enfermeiro desempenha um papel crucial na tomada de decisões em cuidados paliativos, garantindo que o paciente tenha autonomia e seja respeitado em suas escolhas. 
Ribeiro, Kaiomakx Renato Assunção; Costa Medrado, Dayane Machado da; Gonçalves, Fernanda Alves Ferreira; Ferreira, Bruna Alves da Silva; Paes, Vinicius Lúcio; Abreu, Edivalda Pereira deRevisão IntegrativaAnalisar a importância da educação em cuidados paliativos para enfermeiros,  destacando a necessidade de formação contínua e especializada.O enfermeiro deve buscar formação contínua e especializada em cuidados paliativos para oferecer uma assistência qualificada, humanizada e centrada nas necessidades físicas.Falta de capacitação específica durante a formação acadêmica.Formação em cuidados paliativos envolvem oferecer ao enfermeiro uma educação que vá além da técnica, incluindo aspectos emocionais, éticos e comunicacionais do cuidado.A educação em cuidados paliativos é fundamental para que o enfermeiro ofereça uma assistência qualificada, sensível e centrada no paciente. 
Santos, Fernando Ribeiro dos; Santos Júnior, Aires Garcia dos; Pessalacia, Juliana Dias ReisRevisão IntegrativaDiscutir a abordagem baseada em evidências do enfermeiro no controle de sintomas em  cuidados paliativos, destacando a importância da avaliação e do tratamento eficazes.O enfermeiro utiliza práticas baseadas em evidências para avaliar e controlar os sintomas, oferecendo cuidados seguros e eficazes que garantem conforto e qualidade de vida ao paciente.Falta de tempo e sobrecarga de trabalho, dificultando a aplicação das evidências na prática diária.O enfermeiro deve unir o conhecimento científico às necessidades individuais, adaptando as intervenções com empatia e sensibilidade. Discutir a abordagem baseada em evidências do enfermeiro no controle de sintomas em cuidados paliativos, destacando a importância da avaliação e do tratamento eficazes.
Alves, Elisângela Gasparim; Feijó, Fernanda Brito; Gaioski Leal, Giseli Campos; Mazur, Cintia da Silva; Brandão, Marlise LimaRevisão Integrativa  Analisar o papel do enfermeiro na promoção do conforto em cuidados paliativos, destacando a importância do alívio do sofrimento físico e emocional.O enfermeiro promove o conforto do paciente, aliviando o sofrimento físico e emocional com cuidado eficaz, humanizado e respeitoso.Reconhecer e tratar sintomas complexos, Lidar com limitações de recursos, Equilibrar demandas emocionais.Promover o conforto em cuidados paliativos envolvem a escuta ativa e empática, permitindo que o paciente expresse suas necessidades e sentimentos.As principais conclusões mostram que o enfermeiro desempenha uma função crucial na promoção do conforto em cuidados paliativos, focando no alívio tanto do sofrimento físico quanto emocional do paciente.

Tabela 1. Estudos incluídos na revisão segundo autor/ano, tipo de estudo, objetivo, papel do enfermeiro, desafios, estratégias humanizadas e principais conclusões

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Vasconcelos et al. (2019); Costa et al.; de Souza et al.; Dias et al.; Molina Filho et al.; Nascimento et al.; Oliveira e Luz; Ribeiro et al.; Santos et al.; Alves et al.

DISCUSSÃO  

Os cuidados paliativos são um componente essencial da assistência à saúde de pacientes com doenças terminais, com foco não apenas no alívio da dor e no controle de sintomas, mas também no conforto emocional, espiritual e psicológico dos pacientes e de suas famílias. Trata-se de uma abordagem integral que visa melhorar a qualidade de vida até o final da jornada do paciente. Na minha visão, os cuidados paliativos não devem ser encarados apenas como uma forma de diminuir o sofrimento físico, mas como um processo holístico que envolve todas as esferas do ser humano – física, emocional, social e espiritual. Essa abordagem de cuidado integral é fundamental para garantir que os pacientes morram com dignidade, sem sofrimento desnecessário e em um ambiente onde suas necessidades sejam respeitadas, conforme defendem Bertachini, Pessini e Silva (2017).

O papel do enfermeiro nesse contexto é crucial. O enfermeiro não é apenas um executor de tarefas técnicas, mas um facilitador do cuidado, atuando de maneira a proporcionar o máximo de conforto e qualidade de vida ao paciente terminal. Segundo Lima, Moritz e Andrade (2020), o enfermeiro desempenha múltiplas funções, que vão desde a gestão técnica dos sintomas até o apoio psicológico e emocional à família. Ele precisa ser sensível às necessidades do paciente e saber como comunicar-se de forma eficaz com a família, muitas vezes diante de decisões difíceis sobre o plano terapêutico. Então se torna de suma importância, a comunicação eficaz é um dos maiores desafios para os profissionais de saúde em geral, especialmente em cuidados paliativos, pois envolve não apenas o aspecto técnico de transmitir informações, mas também a capacidade de acolher o sofrimento e a angústia dos envolvidos, transmitindo confiança e empatia.

Abordagem Multidimensional: A Inclusão das Dimensões Espirituais e Sociais

A pesquisa de Silva e Cardoso (2022) destaca que a construção de um vínculo sólido entre enfermeiro, paciente e família tem um impacto direto na experiência do adoecimento. O vínculo é a base sobre a qual se constrói a confiança, e é ele que permite ao enfermeiro entender melhor as necessidades do paciente e oferecer cuidados mais personalizados. A empatia e o acolhimento, como afirmam os autores, são essenciais para que o cuidado paliativo não seja visto apenas como uma intervenção técnica, mas como um processo de comunicação e suporte contínuo. Acredito que o enfermeiro, ao criar um vínculo com o paciente e seus familiares, também facilita a comunicação sobre a morte e o processo de luto, o que é essencial para proporcionar uma experiência mais tranquila e menos traumática para todos.

O cuidado espiritual, que, segundo Menezes e Lopes (2018), é um aspecto muitas vezes negligenciado nos cursos de formação de enfermeiros. No entanto, como apontado por Silva e Cardoso (2022), o cuidado espiritual deve ser considerado um componente indispensável no cuidado paliativo. Quando falamos de pacientes terminais, o sofrimento não é apenas físico, mas frequentemente também espiritual. Isso é algo com o qual, em minha opinião, os profissionais de saúde devem se preocupar cada vez mais. O paciente em fim de vida pode ter questões espirituais ou existenciais profundas que não são tratadas adequadamente, o que pode gerar sofrimento adicional. O enfermeiro, muitas vezes, é a única pessoa com quem o paciente pode compartilhar essas questões. Portanto, a capacitação dos enfermeiros deve incluir uma compreensão das diversas crenças e práticas espirituais, para que possam prestar esse tipo de cuidado com respeito e eficácia.

Conforme Lima, Moritz e Andrade (2020), a comunicação eficaz entre os enfermeiros, o paciente e a família é de extrema relevância. Essa comunicação precisa ser clara, sensível e respeitosa, especialmente no momento de tomada de decisões sobre o plano terapêutico. Quando o paciente está em uma fase terminal, ele e sua família se encontram diante de escolhas difíceis, como a interrupção de tratamentos agressivos e a priorização de cuidados paliativos. O enfermeiro, como elo entre o paciente e a equipe médica, tem a responsabilidade de explicar as opções de forma acessível e empática, facilitando a compreensão e a escolha consciente. Em minha opinião, essa transparência é essencial para garantir que as decisões sejam tomadas com base no desejo do paciente, respeitando sua autonomia.

No contexto das decisões terapêuticas, um ponto frequentemente discutido na literatura é a autonomia do paciente, que deve ser respeitada de forma intransigente, mesmo em casos de doença terminal. A autonomia no processo de cuidados paliativos é uma forma de respeito à dignidade humana, permitindo que o paciente tenha o controle sobre o seu próprio cuidado até o final da sua vida. Isso é algo que deve ser enfatizado em toda a formação e prática dos enfermeiros. O enfermeiro deve estar capacitado para apoiar o paciente e seus familiares na compreensão de suas escolhas, sem impô-las, mas garantindo que o paciente se sinta à vontade para decidir como deseja viver seus últimos momentos.

Desafios no Sistema Único de Saúde (SUS) e Capacitação Profissional

A expansão dos cuidados paliativos no SUS, como apontado por Costa, Lima e Rodrigues (2023), é um dos maiores desafios enfrentados no Brasil. O acesso a serviços especializados em cuidados paliativos é limitado, o que compromete a qualidade do atendimento oferecido aos pacientes terminais. Para que os cuidados paliativos possam ser universalizados, é fundamental que se invista na criação de serviços especializados, no fortalecimento de equipes multiprofissionais e na capacitação contínua dos profissionais, especialmente enfermeiros, que desempenham papel central nesse processo. Em minha opinião, é necessário que o governo brasileiro priorize a formação de profissionais capacitados, para que possam atender a essa demanda crescente de forma humanizada e competente.

Além disso, a falta de formação acadêmica específica em cuidados paliativos é uma questão central. De acordo com Santos e Oliveira (2021), a formação dos enfermeiros no Brasil ainda é insuficiente para lidar com a complexidade do cuidado paliativo. Muitos cursos de enfermagem ainda não abordam o tema de forma profunda, o que faz com que os profissionais se sintam despreparados para lidar com as nuances desse tipo de cuidado. Em minha opinião, é urgente que as escolas de enfermagem adotem uma formação mais robusta nessa área, com disciplinas dedicadas aos cuidados paliativos, que preparem os futuros profissionais para lidar com os aspectos técnicos e emocionais dessa prática tão delicada.

Humanização no Atendimento: O Cuidado Como Elemento Essencial

A humanização do cuidado é outro aspecto fundamental nos cuidados paliativos. Conforme Silva e Cardoso (2022), o vínculo entre enfermeiro, paciente e família deve ser construído com base na empatia, acolhimento e respeito. Ao proporcionar um cuidado que leve em consideração as emoções, as crenças e as necessidades do paciente e de sua família, o enfermeiro contribui para a criação de um ambiente que minimiza o sofrimento e promove a paz e a serenidade durante o processo de adoecimento. Na minha visão, a humanização do cuidado em cuidados paliativos vai além da técnica. Ela envolve a escuta atenta, a comunicação respeitosa e o apoio emocional contínuo, não apenas ao paciente, mas também à sua família, que muitas vezes é negligenciada no processo.

CONCLUSÃO    

Os cuidados paliativos representam uma abordagem essencial na assistência a pacientes em fase terminal, com um enfoque holístico que não se limita ao alívio da dor, mas também envolve o controle de sintomas, o conforto emocional e o suporte psicológico e espiritual tanto para os pacientes quanto para suas famílias. A prática de cuidados paliativos busca garantir uma qualidade de vida digna até o fim da jornada do paciente, respeitando suas preferências e necessidades, e oferecendo o suporte necessário para uma morte tranquila e sem sofrimento desnecessário.

No entanto, a implementação dos cuidados paliativos ainda enfrenta desafios significativos, especialmente no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). A falta de recursos especializados, a escassez de formação acadêmica específica na área e a resistência à mudança no modelo de cuidado tradicional dificultam a efetiva expansão dos cuidados paliativos no país. Esses desafios exigem uma ação mais incisiva por parte dos gestores de saúde, para que possam garantir que os cuidados paliativos sejam acessíveis e oferecidos de forma adequada a todos os pacientes que necessitam desse cuidado especializado.

A capacitação profissional, em especial a formação contínua dos enfermeiros, é uma das principais estratégias para superar essas dificuldades. O fortalecimento da formação acadêmica e a inclusão dos cuidados paliativos no currículo de enfermagem são passos fundamentais para garantir que os profissionais de saúde tenham a competência necessária para lidar com as complexidades desse tipo de cuidado. Além disso, a criação de programas de capacitação e atualização contínua para os profissionais em exercício também é essencial para garantir que a assistência prestada seja sempre baseada nas melhores evidências científicas e nas necessidades reais dos pacientes.

Neste contexto, o papel do enfermeiro se destaca como central, uma vez que, além de realizar o manejo técnico dos sintomas, o profissional de enfermagem também atua de maneira integrada no cuidado emocional, psicológico e espiritual do paciente e de sua família. A comunicação eficaz e a construção de um vínculo empático com o paciente são fundamentais para que o cuidado seja humanizado e respeite as decisões do paciente em relação ao seu tratamento, conforme a filosofia dos cuidados paliativos. Como foi evidenciado por diversos autores, como Lima, Moritz e Andrade (2020), a capacidade do enfermeiro de se comunicar de forma clara, acolhedora e respeitosa com o paciente e sua família é imprescindível para o sucesso da assistência paliativa.

A humanização do cuidado, por sua vez, deve ser o pilar sobre o qual todo o processo de cuidados paliativos se baseia. O vínculo afetivo estabelecido entre enfermeiro, paciente e família, a empatia e o acolhimento são elementos essenciais para proporcionar uma experiência de fim de vida mais tranquila e menos dolorosa, não só fisicamente, mas também emocionalmente e espiritualmente. O enfermeiro, ao se aproximar do paciente de forma sensível e respeitosa, tem o poder de transformar o processo de adoecimento em uma vivência mais digna e menos angustiante, tanto para o paciente quanto para os familiares.

Portanto, este estudo reforça a necessidade urgente de uma transformação na abordagem do cuidado à pessoa terminal, com investimentos no fortalecimento dos serviços de cuidados paliativos, na formação contínua dos profissionais de saúde e na disseminação do conhecimento sobre a importância da assistência integral ao paciente. A adoção de uma postura mais humanizada e a valorização do trabalho do enfermeiro nesse contexto são cruciais para garantir que os pacientes em fim de vida recebam uma assistência respeitosa, de qualidade e centrada nas suas necessidades.

Em última análise, é preciso reconhecer que a morte, assim como a vida, é um processo natural e inevitável. E, por isso, deve ser tratada com a mesma dignidade, compaixão e respeito que a vida merece. A implementação eficaz dos cuidados paliativos, com a participação ativa e bem treinada do enfermeiro, é um passo fundamental para garantir que as pessoas possam viver seus últimos dias com conforto e tranquilidade, cercadas por amor, compreensão e apoio.

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Currículo do autor