NUTRIÇÃO E ESTILO DE VIDA COMO FATORES DE PREVENÇÃO E CONTROLE DA DOENÇA DE ALZHEIMER: UMA REVISÃO NARRATIVA 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202511051341


João Pedro Wanderley Carneiro Campos, Maria Luiza Correia de Farias, Maria Paula Pereira de Souza, Juliana de França Cavalcanti Leite Valença, Ramona Pierre de Montenegro Vieira Lima, Beatriz Freitas Seabra, Orientador: Prof. Wagner Gonçalves Horta


RESUMO 

O trabalho é uma revisão narrativa que tem como objetivo analisar a influência da nutrição e estilo de vida na prevenção e controle da progressão da doença de Alzheimer. Como base de dados, foram utilizados o Pubmed e Scielo, incluindo artigos dos últimos 5 anos. Percebeu-se que a dieta mediterrânea, caracterizada pela redução no consumo de carnes vermelhas e ávido consumo de alimentos antioxidantes, como frutas, verduras, oleaginosas e azeite de oliva, influencia de forma positiva a progressão da doença de Alzheimer. Contudo, ainda há uma defasagem na quantidade e qualidade de estudos que analisem a nutrição de forma isolada no Alzheimer. Portanto, esse presente estudo afirma a necessidade de maiores pesquisas comparando a influência da dieta e hábitos de vida na prevenção e controle da progressão da DA.  

Palavras chave: Doença de Alzheimer, Prevenção, Progressão, Nutrição e estilo de vida.  

ABSTRACT 

This is a narrative review that aims to analyze the influence of nutrition and lifestyle on prevention and control of Alzheimer’s disease progression. PubMed and SciELO were used as databases, and included articles published between 2020 and 2025. The article type chosen for the review was Meta-Analysis, Randomized Controlled Trial and Observational studies. It was found that the Mediterranean diet — characterized by reduced consumption of red meat and high intake of antioxidant-rich foods, like fruits, vegetables, nuts and olive oil, has a positive influence on the progression of Alzheimer’s disease. However, there is a lag in the quality and quantity of studies that analyses nutrition as an isolated factor in Alzheimer’s disease. Therefore, this present study affirms the need for a wider content, with more research comparing the influence of diet and lifestyle on the control and prevention of Alzheimer’s disease progression.  

Keywords: Alzheimer’s disease, Prevention, Progression, Nutrition and Lifestyle. 

1 TEMA  

NUTRIÇÃO E ESTILO DE VIDA COMO FATORES DE PREVENÇÃO E CONTROLE DA PROGRESSÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER, UMA REVISÃO NARRATIVA 

2 PERGUNTA CONDUTORA  

De que forma o estilo de vida e nutrição podem impactar na prevenção de indivíduos geneticamente predispostos à Doença de Alzheimer e controle da progressão de portadores da Doença de Alzheimer? 

3 OBJETIVOS  
3.1 Objetivo Geral  

Analisar a influência padrões nutricionais e de estilo de vida na prevenção e controle da Doença de Alzheimer 

3.2 Objetivos Específicos  

– Avaliar a influência de hábitos de vida e padrões nutricionais na redução do risco de Doença de Alzheimer em indivíduos geneticamente predispostos; 
– Relacionar intervenções nutricionais e de hábitos de vida que impactam na progressão clínica em indivíduos com a  Doença de Alzheimer;
– Descrever mecanismos fisiológicos que relacionam estilo de vida e padrão nutricional com a modulação da progressão da Doença de Alzheimer e risco de desenvolvimento da doença.  

4 INTRODUÇÃO 

A doença de Alzheimer foi primeiro descrita pelo psiquiatra Alois Alzheimer, que inicialmente registrou o caso da paciente Auguste Deter. Durante sua observação clínica, foi descoberta a presença de placas neurolíticas, ou senis, e os emaranhados neurofibrilares, que caracterizam a doença. As placas neurolíticas são formações extracelulares compostas por proteínas, sendo a Beta-amiloide em maior destaque. Os emaranhados neurofibrilares são formações intracelulares que contém Tau hiperfosforilado, uma proteína relacionada à desestabilização dos microtúbulos carióticos, que futuramente impede a condução de sinapses e promove neurotoxicidade. A etiologia da doença ainda há de ser elucidada, porém a presença de placas neurolíticas e emaranhados neurofibrilares parece estar intimamente relacionado à doença (Greenberg, 2014).  

Essa desordem neurodegenerativa tem interação de fatores ambientais e predisposição genética, sendo o gene da Apolipoproteína E (APOE), o fator de risco mais ligado ao desenvolvimento da doença. O gene APOE está envolvido no processo de transporte e metabolismo lipídico, quando defeitos ocorrem nesse processo há uma grande contribuição para a doença de Alzheimer. Destacamos três alelos desse gene com maior relevância: APOE e2, e3 e e4, sendo o APOE e4 mais associado ao surgimento da doença em idade precoce, é estimado que 15 a 25% das pessoas carreguem este alelo (NATIONAL INSTITUTE ON AGING, 2023). Outros fatores genéticos conhecidos são a Proteína Precursora de Amilóide (APP) e as PSEN1 e PSNE2 (Presenilinas 1 e 2), que resultam na produção anômala das placas amiloides. Assim, fica claro o papel central das vias de processamento amilóide e da inflamação da microglia na patogênese da doença de Alzheimer.  

A doença de Alzheimer progride em três fases: inicial, moderada e avançada. Inicialmente, o portador da doença pode apresentar comprometimento cognitivo leve e queixas de perda de memória. Conforme o avançar da doença, os sintomas se tornam mais evidentes, a memória de eventos recentes piora de forma drástica, o paciente tem dificuldade para executar suas tarefas habituais, além de apresentar mudanças súbitas de humor. Por fim, na fase tardia os danos no sistema nervoso são imutáveis, o indivíduo perde a capacidade de comunicação, reconhecimento de ambientes e familiares, de realizar movimentos simples, nesse estágio da doença o paciente necessita de assistência completa. 

O tratamento da doença de Alzheimer consiste nas medidas de segurança e apoio e na abordagem farmacológica. Dentre as medidas farmacológicas, as mais utilizadas são os inibidores da colinesterase e terapia com anticorpos monoclonais anti amiloides. Os inibidores da colinesterase aumentam o nível de acetilcolina no cérebro, que pode mitigar a sintomatologia de forma temporária, sendo mais eficaz em estágios de leve a moderado. Já a terapia com anticorpos pode ajudar no retardo da progressão da doença, combatendo a formação de placas amiloides. Apesar do grande avanço farmacológico, medidas adjacentes são fundamentais para o controle dessa enfermidade.  

Assim, entendeu-se a importância da nutrição na prevenção e prognóstico de diversas doenças, especialmente as de caráter neurológico e cardiovascular. Segundo Kurowska et al., uma dieta rica em frutas, verduras, oleaginosas, ervas, especiarias, leguminosas e fontes de elementos anti-inflamatórios juntamente à restrição de alimentos que promovem a inflamação, está associada à redução do risco de doenças neurológicas.  

5 METODOLOGIA  

Este estudo trata-se de uma revisão narrativa da literatura, cujo objetivo é sintetizar e discutir criticamente as evidências disponíveis sobre o impacto do estilo de vida e padrão nutricional na prevenção e controle da progressão em indivíduos geneticamente predispostos e portadores de Doença de Alzheimer. Como base de dados, foi utilizado o PubMed e Scielo. Para buscar artigos em concordância com os objetivos propostos nesta Revisão Narrativa, foram utilizadas as palavras chave indexadas aos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS): (“DIET, FOOD AND NUTRITION”), (“ALZHEIMER DISEASE”), (“PREVENTION”), (“DISEASE PROGRESSION”). Os descritores foram combinados entre si pelo operador booleano “AND” e “OR”. Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos em Língua Portuguesa, Inglesa e Espanhola, publicados entre 2020 e 2025; textos completos e disponíveis gratuitamente e que abordassem os descritores escolhidos. Foram incluídos no estudo meta-análises, ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais. Foram após a leitura integral, foram excluídos artigos que não abordaram diretamente o tema proposto.  

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Tabela 1 – Estudos selecionados para o trabalho. 

Autor, ano  AnoDesenho do EstudoPrincipais desfechos  
Nucci et al. 2024 Revisão sistemática e meta-análise Indivíduos com maior adesão à dieta mediterrânea tem menor risco de Alzheimer
Jones et al. 2024 Síntese de revisões e meta-análises Os principais fatores de melhora para DA são atividade física, controle de pressão e alimentação 
Fekete et al.  2025 Meta-análise Indivíduos com maior adesão à dieta mediterrânea tem menor risco de 
comprometimento cognitivo 
Lin et al. 2021 Ensaio clínico randomizado Pacientes que realizaram suplementação de folato e B12 apresentaram melhora cognitiva 
Thunborg et al. 2024 Ensaio de viabilidade randomizado Demonstra sinais de melhora em pacientes submetidos a programa de nutrição, exercício, sono e cognição 
Rosenberg et al. 2024 Ensaio de viabilidade randomizado Demonstra sinais de melhora em pacientes submetidos a programa de nutrição, exercício, sono e cognição 
Clark et al. 2025 Estudo de viabilidade Populações com baixa escolaridade devem ser incluídas em programas de intervenção alimentar e de estímulo à cognição 
Ragmani et al. 2023 Estudo clínico randomizado  A dieta hipocalórica aumentou o volume cortical e reduziu neuroinflamação  
Chatzikostopoulos et al. 2024 Ensaio clínico  Pacientes com suplementação de óleo de romã apresentaram melhores resultados em testes cognitivos 
Liu et al. 2021 Análise observacional Níveis séricos de alfa caroteno se associam a melhor desempenho 
cognitivo 
Fonte: Autores, 2025 

Após aplicação de descritores e elementos de inclusão, foram achados 23 artigos no PubMed e nenhum no Scielo. Dos 23 artigos, 12 foram excluídos após leitura integral. Dessa forma, a discussão foi realizada com base em 11 artigos.  

A progressão da doença de Alzheimer (DA) é multifatorial, porém se associa com estresse oxidativo, inflamação crônica, disfunções vasculares (como hipertensão, dislipidemia e resistência insulínica) (Miranda, Gómez-Gaete e Mennickent, 2017). O objetivo deste estudo é avaliar como intervenções nutricionais podem impactar em tais mecanismos. As principais maneiras não farmacológicas de prevenção ou impedimento de progressão são alimentação, atividade física e controle das disfunções vasculares (Jones et al., 2024) 

Os estudos de Thunborg et al. e Rosenberg et al. testaram intervenções combinadas compostas por dieta, exercício, atividades que estimulam o cérebro e sono para controle do Alzheimer associado ao tratamento medicamentoso clássico. Ambos estudos tiveram como resultado melhora comportamental e indícios de benefícios de marcadores cognitivos. O estudo de Thunborg é limitado pela amostra pequena e o de Rosenberg segue em andamento.  

O estudo de Clark et al. ressalta a importância da aplicação de intervenções multifatoriais em populações com baixa escolaridade (menos de 12 anos de estudos), que são mais propensas a ter um comprometimento cognitivo precoce e costumam ser subrepresentadas em pesquisas. O desfecho encontrado é que intervenções alimentares e de estímulo cognitivo apresentam melhora no escore cognitivo. A principal limitação do estudo foi o tempo curto de intervenção (6 meses), porém foi importante para mostrar que tais mudanças são benéficas em todos os grupos.  

As meta-análises de Fekete et al. e de Nucci et al. se baseiam na adesão à dieta mediterrânea, que consiste em limitação do consumo de carne vermelha e alimentos processados, focando em frutas, grãos, peixes e aves. A dieta é conhecida por controle de peso e diminuição do risco cardiovascular, além de ter efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes. O estudo de Fakete et al. aponta redução de 11% a 30% no risco de distúrbios cognitivos relacionados à idade e o de Nucci et al., apesar de não estabelecer relação causal, aponta redução cerca de 27% de redução do risco de Alzheimer.  

Em relação à dieta mediterrânea, dois estudos sugeriram complementos. O estudo de Chatzikostopoulos et al. associou 5 gotas de romã à dieta mediterrânea em 40 participantes, que, em comparação aos outros 40 do grupo controle, apresentaram melhora na cognição global e na memória episódica verbal. A melhora provavelmente se associa às propriedades antioxidantes e antiinflamatórias do romã, porém não ficou completamente elucidado se a melhoria das capacidades se associam ao romã em si ou a associação à dieta mediterrânea. O ensaio de Liu et al. aponta que níveis elevados de alfa caroteno se associam com melhor cognição global e memória, e dietas ricas em vegetais amarelos, laranjas e verde-escuros estão associadas a melhora do quadro de DA. A dieta proposta é a MIND, que associa a dieta mediterrânea com a DASH (dieta preventiva de hipertensão).  

O ensaio clínico de Ragmani et al. teve como intervenção uma dieta intermitente de restrição calórica em pacientes com esclerose múltipla (ES) teve como resultado efeitos neuroprotetores como aumento do volume cortical e diminuição da neuroinflamação. Apesar de não se tratar diretamente de pacientes com DA, as duas doenças têm mecanismos comuns como inflamação crônica e atrofia cortical, que apresentou melhoras com a intervenção de limitação calórica. Dessa forma, a dieta com redução calórica aparece como uma alternativa não farmacológica promissora na prevenção do Alzheimer. Porém, estudos maiores precisam ser realizados uma vez que este ensaio clínico foi realizado com apenas 10 pacientes.  

Acerca de suplementos, o estudo randomizado de Lin et al. acompanhou por 6 meses um grupo placebo e um grupo com ácido fólico e B12, que apresentou melhora estatística de cognição em comparação. A melhora se associa com a diminuição dos níveis de homocisteína no sangue, que diminui o fluxo sanguíneo, aumenta o estresse oxidativo e tem efeito inflamatório.  

8 CONCLUSÃO 

Frente ao exposto, pode-se inferir que dietas com resultados antiinflamatórios e antioxidantes têm potencial de prevenção e controle de progressão da doença de Alzheimer. Porém, as evidências são limitadas pela ausência de estudos com intervenção isolada de nutrição. 

9 REFERÊNCIAS  
  1. GREENBERG, D. A. et al. Neurologia clínica. Milano: Mcgraw-Hill, 2004. 
  2. NATIONAL INSTITUTE ON AGING (NIA). Alzheimer’s Disease Genetics Fact Sheet. [S. l.]: National Institutes of Health, 2023. Disponível em: <https://www.nia.nih.gov/health/alzheimers-causes-and-risk-factors/alzheimers-disea se-genetics-fact-sheet> 
  3. KUROWSKA, A. et al. The Role of Diet as a Modulator of the Inflammatory Process in the Neurological Diseases. Nutrients, v. 15, n. 6, p. 1436–1436, 16 mar. 2023. 
  4. MIRANDA, A.; GÓMEZ-GAETE, C.; MENNICKENT, S. Dieta mediterránea y sus efectos benéficos en la prevención de la enfermedad de Alzheimer. Revista médica de Chile, v. 145, n. 4, p. 501–507, abr. 2017. 
  5. NUCCI, D. et al. Association between Mediterranean diet and dementia and Alzheimer disease: a systematic review with meta-analysis. Aging Clinical and Experimental Research, v. 36, n. 1, 22 mar. 2024. 
  6. JONES, A. et al. Potentially modifiable risk factors for dementia and mild cognitive impairment: an umbrella review and meta-analysis. Dementia and Geriatric Cognitive Disorders, v. 53, n. 2, 12 fev. 2024. 
  7. FEKETE, M. et al. The role of the Mediterranean diet in reducing the risk of cognitive impairement, dementia, and Alzheimer’s disease: a meta-analysis. GeroScience, 11 jan. 2025. 
  8. CHEN, H. et al. Effects of Folic Acid and Vitamin B12 Supplementation on Cognitive Impairment and Inflammation in Patients with Alzheimer’s Disease: A Randomized, Single-Blinded, Placebo-Controlled Trial. The Journal Of Prevention of Alzheimer’s Disease, v. 8, n. 3, p. 1–8, 2021. 
  9. CHARLOTTA THUNBORG et al. Integrating a multimodal lifestyle intervention with medical food in prodromal Alzheimer’s disease: the MIND-ADmini randomized controlled trial. Alzheimer s Research & Therapy, v. 16, n. 1, 30 maio 2024. 
  10. ROSENBERG, A. et al. A digitally supported multimodal lifestyle program to promote brain health among older adults (the LETHE randomized controlled feasibility trial): study design, progress, and first results. Alzheimer’s Research & Therapy, v. 16, n. 1, 21 nov. 2024. 
  11. CLARK, D. O. et al. Feasibility of lifestyle interventions for cognition in adults with low education. Alzheimer’s & Dementia, v. 21, n. 5, maio 2025. 
  12. RAHMANI, F. et al. Twelve Weeks of Intermittent Caloric Restriction Diet Mitigates Neuroinflammation in Midlife Individuals with Multiple Sclerosis: A Pilot Study with Implications for Prevention of Alzheimer’s Disease. Journal of Alzheimer’s Disease, v. 93, n. 1, p. 263–273, 2 maio 2023. 
  13. THANOS CHATZIKOSTOPOULOS et al. The Effects of Pomegranate Seed Oil on Mild Cognitive Impairment. Journal of Alzheimer’s disease, v. 97, n. 4, p. 1961–1970, 13 fev. 2024. 
  14. LIU, X. et al. Higher circulating α-carotene was associated with better cognitive function: an evaluation among the MIND trial participants. Journal of Nutritional Science, v. 10, 2021.